IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Wallace Byll Pinto Monteiro. Nasci em Manaus em 2 de janeiro de 1963. INGRESSO NA PETROBRAS Ingressei em 1987, através de um concurso público. Entrei na Petrobras para ser auxiliar de escritório. Em 1989, através de um outro concurso público, passei a s...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Wallace Byll Pinto Monteiro. Nasci em Manaus em 2
de janeiro de 1963.
INGRESSO NA PETROBRAS Ingressei em 1987, através de um concurso público. Entrei na Petrobras para ser auxiliar de escritório. Em 1989, através de um outro concurso público, passei a ser operador de transferência e estocagem, que era a função da época. Hoje se chama operador 1.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Para ser operador, passa por um curso de formação, seis meses de curso de formação. Primeiro, um curso de nivelamento de conhecimentos gerais e, depois, específico para a área que se vai atuar. Um curso feito, na época, numa escola que aqui em Manaus, chamava-se Escola da Mineração. Num projeto com a Empresa Paranapanema, que a Petrobras, através de um convênio, usou as instalações para fazer o curso. Ficamos durante um pouco mais de um mês e meio, especificamente dentro da refinaria, já como se fosse um estágio.
MIGRAÇÃO Morei 4 anos em Brasília. Eu estudei na UnB, antes de ingressar na Petrobras. Minha formação acadêmica, sou engenheiro civil e também advogado. Morei em Brasília de 1983 até 1986, final de 1986, começo de 1987.
CIDADE Manaus mudou muito. Era uma cidade muito pequena, basicamente, vivendo do comércio da Zona Franca, então com muitos turistas. Era pobre, uma cidade pobre, apesar da riqueza, que era gerada em função da Zona Franca. O boom da Zona Franca de Manaus, com a instalação de empresas. Foi vendido para os moradores do interior, que Manaus era um paraíso, que deveriam abandonar as suas casas do interior e vir morar em Manaus. A cidade passou de 500 e poucos mil habitantes para cerca de 1 milhão e 800, que é o que a gente tem hoje.
Isso faz com que a cidade tenha, num determinado momento, ficado muito desorganizada. Muitas invasões de terra, muita pobreza e todas as conseqüências sociais, desse processo migratório. Os últimos governos, na prefeitura e no governo do Estado, têm procurado passar uma imagem de uma cidade bonita. Efetivamente, perto do que era Manaus, há 15 anos, a cidade está bem mais bonita. Isso é visível para o turista que chega em Manaus, apesar de ter, como toda grande metrópole, seus bolsões de pobreza, situados na periferia.
SINDICATO -
SINDIPETRO AMAZONAS - TRAJETÓRIA SINDICAL Nosso sindicato tem uma diretoria colegiada. Se fosse um presidencialismo eu seria o presidente, nós trabalhamos num sistema parlamentarista, então existe uma diretoria colegiada e eu sou o coordenador dessa diretoria, desde 1995. Fomos eleitos em outubro de 1995, para um mandato de 3 anos. Em 1998, fomos reeleitos e, em 2001, novamente eleitos para o mandato, que termina em outubro do ano que vem.
Antes de ir ao sindicato, passei pela Associação dos Empregados da Petrobras, hoje o Clube dos Empregados. Fui tesoureiro e o trabalho que a gente fez, na tesouraria do clube, deu uma visibilidade, deu credibilidade.Em 1995, logo depois da greve, o marco nosso é a greve de 1995, não estávamos no sindicato ainda, mas tínhamos alguma liderança no setor em que trabalhávamos. Isso fez com que pudéssemos, ajudar a direção do sindicato, a coordenar a greve, em 1995. Logo após o término da greve, o sindicato, como todos os sindicatos do Brasil, passava por enormes dificuldades financeiras.
Nosso sindicato, além das dificuldades financeiras, tinha uma dificuldade de ter a diretoria trabalhando. Muitos diretores começaram a se afastar do sindicato e o coordenador, da época, ficou numa situação bem complicada. A diretoria dele teve que renunciar um ano de mandato, para chamar eleições e nós fazermos um grupo para dirigir o sindicato. Então cheguei, logo após a greve, em função das dificuldades que havia, aqui na região, no Sindicato dos Petroleiros do Amazonas.
GREVE 1995 A greve de 1995, para nós aqui, foi muito significativa e marcante. Primeiro, por conta do período. 32 dias de greve, com toda imprensa, toda a mídia falando muito mal dos petroleiros. Todos os dias, em todos os órgãos de comunicação,
inventando fatos. Alguns dirigentes sindicais foram, inclusive, processados depois do término da greve, por supostamente terem agredido, um repórter da Rede Globo. Completa inverdade, criada pelos gerentes da época da refinaria, para que, esses petroleiros fossem punidos e demitidos, por justa causa.
Só que, por ocasião da instrução de um processo trabalhista, que cada um moveu, o próprio repórter, supostamente agredido, confirmou em juízo, que não tinha sido agredido coisa nenhuma. Que aquilo era uma armação da Petrobras, em conjunto com a Rede Globo, com a filiada da Rede Globo, aqui em Manaus, para prejudicar determinadas pessoas. Eu era uma dessas pessoas. Então, o processo não tinha outra conseqüência que não, anular a punição. Os petroleiros foram absolvidos, responderam ainda um processo judicial na Polícia Federal, mas todos absolvidos, até por decurso de prazo. A greve de 1995 foi tão marcante, que criou dois campos bem nítidos. Quem estava com os trabalhadores, quem fazia os movimentos e quem não fazia os movimentos, apoiados pela Petrobras. Aconteceu não só aqui, na Remam, mas em praticamente todo Brasil. Quem não fez a greve, teve uma ascensão funcional bastante visível. Quem participou da greve ficou perseguido, marcando passo. sem ter possibilidade de ascensão profissional. Algumas pessoas responderam a processos e estão, ainda hoje, com conseqüências nas suas carreiras, por terem feito aquele movimento.
Nós vemos aquele movimento, até hoje, como correto. Aquilo era para cumprir um acordo coletivo. O presidente Itamar Franco havia firmado um pacto, com os trabalhadores. A mais alta autoridade, do País, determinou que fosse cumprido um acordo coletivo e, a gerência da Petrobras, não cumpriu. Quando o Fernando Henrique assumiu, é que deixou de cumprir mesmo.
Então, criaram-se, na Refinaria de Manaus, dois grupos. Esses grupos que eu falei. Um ligado ao sindicato, que não tem nenhuma possibilidade de ascensão profissional, e um grupo, que cresceu muito rapidamente, sem, às vezes, ter qualificações profissionais, que os cargos exigiam. Mas, apenas por não estarem olhando, conforme olhavam os dirigentes sindicais, tiveram ascensão profissional. Os boletins, nossos, eram todos recebidos via fax e aqui, reproduzíamos com uma copiadora, ou via telefone. Na época, as nossas comunicações eram muito incipientes. O computador, que o sindicato tinha era muito ruim, perto dos padrões, dos atrasados para hoje. A comunicação se dava dessa forma Muito telefone - as contas de telefone, com certeza eram elevadíssimas - e por fax. Os boletins nacionais chegavam via fax, nós reproduzíamos e entregávamos à categoria. Bem marcante a adesão dos companheiros de regime de turno. Quem trabalha em turno, normalmente, participa bem mais do movimento. Nós podemos dizer, que 70%, 80% de trabalhadores em regime de turno, que fazem a unidade funcionar, participaram da greve. O administrativo sempre foi mais fraco, sempre participou com 50%. Nessa greve, eu creio que até menos, uns 40%, 35% do administrativo. A ponto de, num determinado momento da greve, o superintendente da época dizer, que não precisava daquele contingente do administrativo, aqui, que eles poderiam sair.
Mas, efetivamente, eles não aderiram ao movimento, porque é muito difícil, quem trabalha em regime administrativo, participar dos movimentos. As funções são de reposição fácil, mais ou menos fácil. Abre-se inscrição para um concurso na Petrobras, para auxiliar de escritório, você vai ter na porta da refinaria aí cinco, sete, oito mil pessoas, para fazer a inscrição. Então a reposição é bem fácil. Nós estávamos caminhando para o trigésimo dia de greve, quando poderia ser caracterizado abandono de emprego, então efetivamente a participação do administrativo foi mais fraca.
SINDICATO - SINDIPETRO AMAZONAS As dificuldades financeiras, em função de não haver o repasse da mensalidade, dívidas se acumulando e nós fizemos... Em todo Brasil, havia uma orientação de se criar associações paralelas, para ter a possibilidade de arrecadar fundos. Criamos aqui, em Manaus, a Associação Recreativa Bico Seco. Porque Bico Seco, no termo regional, é o guerreiro, é o lutador, é o que não se entrega. Então, já havia, para a nossa felicidade, uma associação criada um tempo atrás por alguns companheiros, com esse nome. Era Associação Recreativa Bico Seco. Nós não tivemos a dificuldade, de criar uma nova entidade, ir buscar um CNPJ, nada disso, porque tudo já estava pronto. Então, aproveitamos a estrutura que estava pronta. Fizemos algumas assembléias, mostramos aos companheiros e companheiras a dificuldade financeira, que estávamos atravessando. Eles deram a autorização para que, todos os meses, nós fossemos na conta, fazer o desconto da mensalidade sindical. Firmamos convênios com os bancos, onde os companheiros recebiam os seus salários e, mensalmente, no dia do pagamento íamos lá e retirávamos, com autorização dos companheiros, o valor da mensalidade sindical, com o repasse mais ou menos retomado. Qual era a dificuldade à época? Conseguimos trazer para a associação, pouco mais de 40% de quem era filiado ao sindicato, 60% não veio para a associação, não permitiu o desconto. Dos 40% que permitia, muitas vezes, no dia do pagamento não tinha saldo. Eles já tinham acordos, o dinheiro já vinha descontado do saldo, pela Petros. O banco, antes de creditar, já tirava os empréstimos, que o companheiro tinha com o banco. Na hora dele receber o salário, não tinha saldo.
Então, dos 40% que vieram para o sindicato, ainda tinha mensalmente esse problema de não ter saldo. Nós fizemos uma repactuação das dívidas, cuidamos de não permitir atraso, no pagamento de salário dos funcionários. Temos quatro funcionários e eram prioridade nossa. Primeiro os funcionários, depois os encargos sociais, depois as dívidas acumuladas. Quem estava com crédito, conosco, chegou para repactuar a dívida. Nós repactuamos e conseguimos colocar a casa, em ordem. Em 1998, três anos depois de muito sufoco, uma lei, do hoje presidente José Eduardo Dutra, permitiu a anistia aos sindicatos. Aí conseguimos receber de novo os 100%, porque para não pagar, o companheiro teria que se desassociar do sindicato. Temos a felicidade, hoje, nessa categoria, de ter cerca de 70% a 80% dos trabalhadores, sindicalizados. Com certeza é um dos mais altos índices de sindicalização em todas as categorias no Brasil. Não conheço nenhuma que tenha alguma coisa próxima dos petroleiros.
Sair do sindicato é muito ruim, então os companheiros e companheiras continuaram. Aí, quem já estava vivendo com muito, começou a ter possibilidade de pagar as dívidas, num prazo muito menor do que o pactuado, porque começou a entrar um dinheiro, com o qual a gente não contava. Além disso, ainda havia algumas mensalidades, que estiveram retidas na Petrobras, e que deveriam ter sido repassadas para a Justiça do Trabalho e não foram, e que, de repente, foram liberadas.
Com esse dinheiro, fizemos uma sede nova, porque a nossa era muito velha. Ela está no Centro Histórico de Manaus, é tombada pelo Patrimônio Histórico. Ela está situada no local, onde Manaus nasceu. Hoje, só tem a fachada, que nós não podemos mexer, em função do tombamento. Era uma casa muito antiga, de madeira. Muito grande, mas com muitos problemas, madeira velha. Mudamos tudo com o dinheiro que entrou, fizemos uma sede nova.
Hoje o Sindicato dos Petroleiros tem, com muito orgulho, uma das melhores sedes dos sindicatos no Brasil, dá toda uma estrutura ao seu associado. Tem um bom auditório, várias salas, uma sala de recreação para os aposentados. Tem um grupo de aposentados, que vai diariamente ao sindicato, normalmente, para jogar dominó.
Eles estão lá todos os dias, de segunda à sexta. Chegam oito horas da manhã e cinco horas da tarde, se a gente não botar para fora, eles ficam até a noite. Por várias vezes, a vizinhança reclama: “olha, meia-noite, tem que tirar esses caras daqui, porque ninguém agüenta o barulho do dominó” Então, com o dinheiro que começou a entrar, a partir de 1998, efetivamente mudamos a cara do sindicato, muito.
Além disso, começamos a cumprir uma determinação do nosso estatuto, que diz que 20% de tudo que entra, para o sindicato, têm que ir para o nosso fundo de greve. Até 1998 não tinha mais nada, em 1995 gastou tudo. De 1995 a 1998, sobrevivemos. A partir de 1998, começamos a programar o futuro. Hoje, graças a Deus, temos um bom fundo de greve, muito bom. Capaz de, com a lição que aprendemos em 1995, enfrentar com uma tranqüilidade muito maior, um movimento como aquele que foi, em 1995.
Nós, sinceramente, esperamos que isso não aconteça, principalmente no governo dos trabalhadores. Mas estamos preparados. Nas assembléias, em que aprovamos as contas, sempre no final de novembro, aprovamos as contas e aprovamos o orçamento para o ano seguinte. Dizemos que desde 1998, é possível programar o futuro. Então, é isso que a gente está fazendo hoje. Programando, fazendo cursos, dando formação sindical, tentando resgatar o papel social de um sindicato. Na área em que o sindicato está instalado, por ser uma área portuária, era o início de Manaus, você vai encontrar a zona do baixo meretrício. Uma prostituição muito elevada, muitos menores de rua. Estamos com alguns projetos, que visam dar cidadania para essas pessoas, utilizando o espaço do sindicato. O projeto funciona, tem funcionado. Estamos tentando agora transmitir isso. Nosso mandato já vai acabar.
Ano que vem, eu devo voltar para ser operador na Refinaria de Manaus. Mas a idéia fundamental é que o grupo continue. Somos muito poucos, hoje 240 trabalhadores na Refinaria de Manaus. Temos mais alguns associados, os terceirizados e representamos, também, 220 aposentados. Então, nosso grupo fica em torno de 500 pessoas.
Não dá para nós, num grupo tão pequeno, termos várias facções, disputando o poder político. O mais correto é fazer o que nós fazemos hoje. Temos vários segmentos de pensamentos, todos representados no sindicato. As pessoas nem sempre concordam, mas quando há uma decisão, normalmente, cumprem a decisão. Mesmo que não seja a decisão, que defendem.
SINDICATO - SINDIPETRO AMAZONAS - TRAJETÓRIA SINDICAL Nós não comandamos a greve de 1995, mas comandamos várias greves, depois de 1995, porque os petroleiros não pararam de fazer greve. Os direitos dos trabalhadores estavam constantemente sendo violados, muitos trabalhadores morrendo na Empresa, a maioria, terceirizados. Fizemos duas paralisações, buscando segurança para os trabalhadores da Petrobras e terceirizados.
Então, acho que os momentos mais marcantes, não são um só. Mas, foram a cada greve que fizemos, em que podemos contar com confiança, com o respeito dos nossos associados, dos nossos trabalhadores. A ponto de não precisarmos ir buscar ninguém, para fazer o movimento. Apenas o fato, de estarmos acampados na frente da refinaria, os companheiros já mandavam o táxi ou o ônibus parar, porque eles iriam ficar conosco. Esse sentimento de confiança, que recebemos ao longo desses anos, faz com que sejam os momentos mais marcantes.
ENTREVISTA Espetacular, um projeto espetacular, acho uma idéia magnífica. É de uma importância fundamental ter memória, ter memória não só dos movimentos dos trabalhadores. O projeto traz, também, a visão de alguns trabalhadores, que nunca participaram de sindicato. Mas, que estão contando a história da Petrobras, na visão deles. Acho fantástico, o fato de nós podermos contar os 10 anos que estamos completando na federação, no ano que vem.
Estamos propondo, já no congresso desse ano, que haja um projeto para contar essa história também, dos 10 anos da FUP. Porque daqui a pouco nós vamos passar, daqui a alguns anos o Byll não é mais petroleiro, já pereceu, e essa história vai ficar marcada. Para que as pessoas, que venham depois da gente tenham o documento vivo, saber quais eram as nossas dificuldades.
Quando o projeto esteve aqui, anteriormente, levou os nossos boletins para ver. Alguns boletins feitos a mão, no mimeógrafo, a dificuldade que era fazer movimento sindical, antigamente. E daqui a alguns anos, as pessoas, com o advento do computador, não vão ter a menor idéia como era o sindicalismo, no começo da criação da Petrobras, na criação dos sindicatos.
A idéia é de uma felicidade enorme, vocês estão de parabéns. Tenho noticia de que, por onde passaram, têm feito um trabalho espetacular. Nós só temos que aplaudir. E trabalhar para manter essa memória viva. A Petrobras, o Sindicato de Petroleiros, o Museu da Pessoa, vocês todos estão de parabéns pela iniciativa, pela idéia fantástica. Eu só tenho a cumprimentá-los.Recolher