PESSOAL Nome e nascimento Meu nome é Wagner José Carrijo Borges, nasci em Uberlândia, no dia 11 de abril de 1953. Pais Celso Borges e Elveda Carrijo Borges. Meu pai era mecânico com especialização em moto e minha mãe iniciou a carreira como professora, mas a vida dela toda de casada foi dom...Continuar leitura
PESSOAL Nome e nascimento
Meu nome é Wagner José Carrijo Borges, nasci em Uberlândia, no dia 11 de abril de 1953.
Pais Celso Borges e Elveda Carrijo Borges. Meu pai era mecânico com especialização em moto e minha mãe iniciou a carreira como professora, mas a vida dela toda de casada foi doméstica. Meu pai iniciou na profissão de mecânico de moto, isso ainda na juventude dele, quando ele comprou uma. Na realidade, antes disso, ele trabalhava em uma oficina mecânica de automóveis em Uberlândia, era empregado em uma oficina da Ford na época. Aí, ele se desentendeu nessa oficina, pediu para sair e comprou uma motocicleta que veio toda desmontada dentro de um saco de linho. Ele reformou essa moto inteira e montou a moto. Foi a primeira moto que ele montou na vida dele. Gostou, pegou paixão pela coisa, e começou a consertar motos dos amigos. Aí foi ampliando a clientela, e montou uma oficina realmente de moto. Era uma oficina muito tradicional em Uberlândia. Inclusive, um dos grandes fregueses dele era o próprio Luiz Alberto Garcia e o irmão dele, o Walter. Eles eram os melhores clientes dele. Ele foi se aperfeiçoando e se especializou em retífica de moto, que é um serviço de alta precisão. Então, ele começou a abandonar a parte, vamos dizer, mais suja, mais mecânica da moto, e começou a trabalhar na especialização da moto, que é a parte de retífica, a parte de recondicionamento de bielas e do motor em si. Ele recuperava essa parte, entregava isso para as oficinas, as oficinas montavam, acabavam de montar a moto e testavam. Ele trabalhou no conserto de motos eu acredito que até por volta de 1970, mais ou menos, e a partir daí ele se especializou no serviço mais delicado, no serviço que exigia maior precisão, que é a parte de retífica e recondicionamento de peças e assim por diante.
Não havia quase nenhuma assistência técnica local. A maioria, a maioria não, as motos na sua totalidade eram importadas. Realmente havia uma dificuldade muito grande de manutenção especializada e de peças. Ele tinha que, muitas vezes, recondicionar peças, fazer, fabricar peças. Quantas vezes ele fabricou biela de moto... Às vezes, o motor da moto era todo recondicionado. Eles chamavam encamisamento, era encamisado. Tudo era feito por ele. E também nesse tempo ele começou a se especializar em consertos de máquinas, tanto de escrever como máquinas de calcular na época. Aí foi ampliando. Ele foi o assistente técnico do Banco do Brasil, acredito, por, no mínimo, uns 20 anos. Ele dava manutenção em todas as máquinas do Banco do Brasil desde a época em que o Banco do Brasil tinha uma agência próxima à prefeitura, onde hoje é a nossa biblioteca, até ser transferido para a agência atual. Esse era o grande cliente dele com relação a máquinas de escrever e máquinas de calcular.
Avós Eu conheci meus avós maternos e minha avó paterna. Os meus avós paternos são Belchior Borges e Custódia Borges, e os maternos, Vital José Carrijo e Ana Luiza Carrijo. Os meus avós maternos são da família Carrijo, que é uma família tradicional em Uberlândia. Os antepassados deles foram os fundadores da cidade. O Felisberto Alves Carrijo, que é o fundador da cidade de Uberlândia. O meu avô paterno é daqui de Uberlândia mesmo e minha avó, se não me engano, é de Sacramento, uma região próxima a Uberlândia.
Irmãos Eu sou o terceiro filho. Eu tenho dois irmãos mais velhos e, abaixo de mim, tem mais três. Tenho duas irmãs e cinco irmãos.
Casamento Eu sou casado desde 1989 com Rosilene e tenho 3 filhos. O mais velho chama-se Marcelo, o do meio, Daniel, e o caçula, João Paulo. O Marcelo está com 11 anos, o Daniel vai fazer 8 agora em maio e o João Paulo está com 5 anos.
Casa de Infância Nossa primeira casa foi próxima de onde é hoje a Feniub. Meu pai construiu lá. Se não me engano, ele terminou a construção acho que em 1951. Vivemos lá até, por volta de, por volta não, até 1959, quando ele comprou uma casa aqui na Rio Branco, entre a Machado de Assis e a Quintino Bocaiúva, onde nós vivemos toda a nossa vida. Só agora, ultimamente, depois que ele morreu e a casa ficou muito grande, é que a gente alugou a casa e a minha mãe veio morar em um apartamento aqui próximo. Era uma casa bastante grande, porque nós somos em 7 irmãos. Então era (inclui) uma casa com mais de 16 cômodos. Ela tem uma parte de cima onde está a sala, os quartos de dormir e a cozinha. Embaixo, tinha uma área com uma lavanderia, um quintal muito grande e alguns quartos onde era a nossa despensa, onde eram guardados alguns móveis, algumas coisas que não estavam sendo usadas. Tinha mais dois ou três quartos na parte de baixo.
Primeira infância Uma casa com sete irmãos, se ficar só por conta da mãe, ela ia ficar louca. Então, cada um tinha as suas responsabilidades, cuidava da sua roupa, cuidava do seu sapato, ajudava em casa quando necessário. E cada um tinha a sua responsabilidade escolar. Nas férias, meu pai dava um alívio para a minha mãe, e tirava uma parte de dentro de casa e levava para trabalhar com ele lá na oficina.
O quintal era uma área enorme onde a gente brincava na infância. Quando criança, a gente brincava muito de carrinho, brincava um irmão com o outro, subia em árvore, assim, aquelas brincadeiras de criança. Na medida em que fomos crescendo, nós pegamos gosto por bola, por futebol, apesar de meu pai detestar, e praticamente termos que jogar escondido. Mas a gente adorava, a gente jogava. Devido à plantação, não tinha muito espaço para jogar dentro de casa, então a gente jogava na rua. E a época possibilitava isso. A rua era toda de paralelepípedo e a gente jogava na rua, fazia os gols na rua e brincava com a molecada, com os vizinhos na rua. Quer dizer, essas eram as nossas maiores diversões, porque a gente não tinha muita oportunidade de freqüentar clube, não tinha muita opção. Meu pai gostava muito de mato, de natureza. Quase todo final de semana a gente ia para a fazenda, ia para beira de rio, a gente fazia acampamento, meu pai gostava muito de acampar em beira de rio. Levava a família inteira, desde o bebê ao mais velho.
EDUCAÇÃO Primeira escola
A minha primeira escola chamava-se Externato Santa Inês, cuja dona é irmã do meu pai. Ela montou essa escola, onde tinha até o curso primário. Então eu estudei do primeiro ao quarto ano primário nessa escola. Apesar de não ter sido minha professora direta, minha tia tinha uma presença muito grande na escola, era uma verdadeira líder. Então, isso realmente me marcou. Meu pai trazia a gente para a escola, mas era ela quem levava todos os dias. Todo fim de tarde ela nos pegava e levava para casa. Ela acompanhava, ela tinha um carinho todo especial com a gente, tinha um acompanhamento diário do nosso desenvolvimento dentro da escola. Então realmente ela foi a pessoa que mais me marcou.
Formação escolar O ginásio eu fiz no Colégio Salesiano. Todo o meu ginásio foi feito lá. E, depois, o meu colegial eu fiz em um colégio estadual. Esse colégio aqui da praça, o Colégio Bueno Brandão. Na realidade, na época, chamava Colégio Estadual de Uberlândia. Os 3 anos colegiais eu fiz lá, e no terceiro ano, eu fui para um cursinho, onde eu me preparei para o vestibular.
Na época de ginásio eu não tinha a menor idéia sobre profissão. No colegial eu tinha uma certa facilidade para a área de exatas, foi quando eu achei que me encaixaria melhor na engenharia. Mas eu tive certeza realmente do que eu queria quando eu comecei a estagiar na CTBC. Mas aí eu já estava iniciando a faculdade, e eu tive certeza que eu gostaria de me especializar na área de telecomunicações.
A gente não tinha muita opção. Primeiro, se eu passasse em uma escola particular, meu pai não tinha recursos para manter a gente fora, mesmo porque tinha outros irmãos estudando também na mesma condição. Então era fundamental que a gente passasse em uma escola federal, que não fosse paga e, de preferência, dentro de Uberlândia para não ter as despesas do custo fora de Uberlândia. Então, era um objetivo nosso passar, mas passar aqui em Uberlândia, em uma escola federal. No primeiro vestibular eu fazia exército também, então eu não consegui estudar, fazer exército e passar no vestibular. Eu fazia o terceiro, o exército e tinha que me preparar para o vestibular no início do ano seguinte. Então, eu prestei, mas não consegui passar. Eu passei na segunda tentativa. Nesse intervalo, eu fiz cursinho. E trabalhando, mesma coisa, com o meu pai. Eu entrei na faculdade em 1975.
CORPORATIVO Primeiro emprego
Ficávamos chateados de perder as férias e ter que trabalhar na oficina do pai, mas, por outro lado, a gente entendia. Com certeza a gente não ia de muito bom grado, não é? Porque realmente o serviço era um serviço pesado, a gente fazia muita limpeza, muito serviço, vamos dizer, que exigia uma mão de obra menos especializada. No começo, eu fazia muita limpeza de peça, ajudava ele na limpeza da oficina. Meu pai era muito exigente com relação à qualidade das ferramentas, da limpeza do ambiente de trabalho. Isso exigia muito da gente. Não era um serviço muito agradável de se fazer. Aí eu comecei a me dedicar mais a essa parte contábil. Eu gostava de ajudar o contador, de entender da parte de leis, de fiscalização. Eu comecei a apanhar realmente um gosto por aquilo que eu fazia. E meu pai, vamos dizer, dava muita liberdade de ação, então a gente tinha muita liberdade para agir, fazer aquilo que era correto, mesmo porque ele não entendia muito dessa parte. Então, à medida em que você ia estudando, à medida em que você ia conhecendo, a gente podia dar um nível de contribuição melhor. Ele percebia isso, tanto é que, por fim, toda a responsabilidade da parte fiscal, contábil e financeira era comigo. Eu que ia com o gerente negociar um empréstimo, negociar um financiamento. Eu que controlava todo o saldo. Ele não sabia o que tinha na conta, o que não tinha. Era tudo feito por mim. Essa atividade nas férias perdurou basicamente até o ginásio, segundo, terceiro ano, se não me engano. A partir daí, um período eu estudava, o outro eu trabalhava. À noite eu fazia as minhas tarefas de casa. Meu colegial foi todo assim, e mesmo na faculdade, a faculdade era durante o dia, mas não me tomava o tempo integral. Então eu me dividia. Meu primeiro emprego realmente foi com ele e o meu segundo emprego foi dentro da CTBC.
Ingresso na CTBC Quando eu estava cursando o terceiro ano de engenharia, eu já tinha feito opção para engenharia elétrica. Eu tive um professor que se chamava Tarcísio. Ele era uma pessoa com um conhecimento muito grande, era um engenheiro formado pelo ITA, que o Dr. Luiz na época contratou para trabalhar na CTBC. Mas como a CTBC não podia pagar para ele um salário que justificasse a competência dele, o Dr. Luiz deu a ele a opção de dar aula em um período e trabalhar para a CTBC no outro período. Então, ele unia os dois trabalhos para poder ter um nível razoável de salário. E ele foi meu professor, ele dava Eletrônica I, e eu me saí relativamente bem na matéria dele. Eu acho que foi por isso que ele me convidou para estagiar com ele. Na época, ele coordenava o Departamento de Projetos de Transmissão na CTBC. Aí eu fui trabalhar com ele como estagiário. Isso em 1977.
Tudo o que era novidade, tudo que o Dr. Luiz gostaria de ver implementado na empresa dele, ou nas empresas do grupo, era destinado a essa pessoa. Então, tudo o que era novidade, o Dr. Luiz procurava o Tarcísio dentro da CTBC. Nesse departamento a gente fazia de tudo. Eu fiz desde implantação de linha rural, transmissão rural, até mexer com implantação do primeiro sistema microprocessador, que foi feito lá. Os primeiros micros estavam surgindo ainda no Brasil e nós implementamos um sistema inteligente através de microprocessamento. Até o serviço mais rudimentar, que é elaborar placa de circuito impresso. A confecção da placa de circuito impresso nós é que fazíamos lá dentro. Era tudo no manual, na boa vontade, no querer fazer. Basicamente, eu tinha um período do dia para fazer. Um período eu ficava na escola e um período lá. Nessa fase eu já estava me desligando da oficina. Eu dava um suporte para o meu pai lá durante uma hora, ou à noite, e o restante do dia, quando eu não estava na escola, eu estava estagiando. E nas férias eu ficava período integral na CTBC. Eu me formei em 1980. Quando eu terminei meu curso de graduação, eu fui convidado de imediato para trabalhar com o Tarcísio. Na realidade, eu recebi dois convites, eu recebi do Tarcísio para ficar com ele, e recebi um convite também para ir para a área de engenharia, mas no área de energia. Aí eu fiz a opção de continuar na área de planejamento e transmissão, e eu fiquei nessa área por mais dois anos. Depois, nós passamos por uma reestruturação. O Tarcísio foi cuidar de uma empresa que o grupo tinha comprado no Rio, chamada ABC Teletra, que era uma empresa na área de transmissão, de fabricação de equipamentos de transmissão.
CTBC Expansão
Eu conhecia muito pouco da CTBC, sabe? Sabia que existia uma operadora de telefonia, mas eu não conhecia praticamente nada na área de telecomunicações ou dessa empresa. Eu conhecia muito pouco. Eu tinha telefone em casa. Pelo que eu me lembro, já era um serviço razoável. A gente tinha alguma demora com relação a ligações interurbanas, porque ainda não era um sistema automático. A gente dependia de operadora, a telefonista, como a gente denominava, mas era um serviço, para a época, razoável, bastante razoável.
Quando efetivamente eu comecei a trabalhar na empresa com carteira, como profissional de engenharia, a gente já tinha uma penetração praticamente em quase todas, pelo menos nas grandes, localidades. A gente já tinha fincado o pé nessas localidades. É lógico que em muitas delas o trabalho estava se iniciando, a gente tinha muito pouca coisa, ou tinha equipamento muito obsoleto. Ou tinha simplesmente atendimento de telefonista, não tinha uma central telefônica. Então, a partir daí, a gente começou um plano de expansão muito grande. Eu me lembro mais ou menos de cabeça. Nós tivemos um plano grande em 1981, um em 1984, 1986, nessa década foi o nosso maior plano de expansão. Quando eu digo expansão não é de mais localidades, mas sim de melhoria de qualidade, de implantação de equipamentos, de ampliação de rede nessas localidades que o grupo já tinha fincado o pé. A década de 80 foi uma década realmente em que o grupo se expandiu, não só na CTBC. Foi uma década de aquisição de várias empresas, como essa ABC Teletra, uma empresa na área de rural em Belo Horizonte e depois adquirimos uma empresa de computadores, que foi a ABC Bull e aí o grupo foi expandindo. Na área de aviação, indústria de óleo, que foi a ABC Inco. O grupo teve um crescimento muito grande nessa década, mas nós passamos por sérios problemas econômicos, muita mudança na área financeira. O Brasil passou por várias mudanças na área financeira, econômica e, na realidade, a gente cresceu em uma velocidade muito grande, muito rápida, e nós não tínhamos ainda uma estrutura adequada para assumir tudo aquilo. Então, tivemos que vender algumas empresas, tivemos algumas perdas com relação a essa velocidade de crescimento. E o Brasil não tinha uma estrutura econômica também adequada.
Na realidade, toda a empresa, a grande maioria, principalmente na área de telecomunicações, toda a grande empresa que surgiu, que nós ou adquirimos ou que surgiu, ela foi concebida dentro da CTBC. Então, com os profissionais que a gente tinha dentro da CTBC é que surgiram essas empresas ou, quando a gente adquiria, as pessoas que estavam dentro da CTBC é que assumiam a direção dessas empresas. De uma maneira ou de outra, você acabava participando do processo como um todo. E a CTBC, o grupo, sempre deu muita liberdade e oportunidade para você poder participar. Então, de uma maneira ou de outra, você acabava participando na criação, na administração, na gerência dessas empresas. A gente sempre estava dando algum tipo de apoio, de suporte a essas empresas do grupo, além do crescimento da própria CTBC.
Inspeções A gente viajava muito porque a gente tinha muita expansão da planta nas localidades. Na época, a gente já devia ter em torno de 100 localidades, e tinha obra durante o ano na maioria delas. Então, a gente sempre ia visitar essas obras, acompanhar, ver se as instalações estavam sendo feitas de acordo com o projeto e fazer testes. O fornecedor instalava o equipamento, mas nós é que fazíamos os testes. Com o Dr. Luiz a gente fazia semestralmente visitas às regionais. A CTBC era dividida em regionais, e a gente fazia visitas a todas as regionais, às sedes das regionais. Nas regionais a gente percorria algumas localidades, não dava tempo para ir em todas, mas a gente ia em algumas localidades. A gente entrava em todas as estações, entrava em câmeras. O Dr. Luiz sempre procurou entrar, se tivesse que tirar o sapato de couro alemão, ele tirava do pé, tirava a meia, entrava em um buraco. Normalmente lá estava cheio de lama, mas ele punha o pé, entrava junto, você entrava junto com ele, subia em torre, esse tipo de coisa. Então, tudo isso a gente acompanhava e fazia junto com eles. Era inspeção mesmo.
Para ser bastante sincero, a gente gostava muito. Eu sinceramente não me lembro assim de, às vezes, coincidir ter um evento ou outro, social, alguma obrigação familiar que a gente teria que deixar de fazer para ir para uma viagem dessa. Mas a gente fazia com tanto prazer e gostava tanto daquilo que a gente não sentia tanto. Sinceramente, eu não me lembro de nada que realmente me marcou ou tenha me prejudicado pessoalmente ou familiarmente.
Jornada de trabalho Normalmente as jornadas de trabalho eram previsíveis. A gente tinha um ou outro final de semana você tinha realmente que viajar ou trabalhar. Nós tínhamos trabalho à noite, por exemplo. A parte de teste tinha que ser feita à noite porque você não podia parar o equipamento durante o dia, então, a gente fazia de madrugada. Mas a gente, sei lá, a gente fazia isso com tanto prazer que não sentia tanto na pele. A CTBC hoje é muito grande, mas na época era uma empresa menor, e era como uma família. Acho que tanto fazia você estar em casa como estar dentro da CTBC. Parecia que aquele clima era o mesmo, era um clima familiar. Era super gostoso trabalhar com as pessoas, mesmo que você tivesse que varar a noite toda, trabalhar a noite toda. Era um ambiente gostoso, aquilo acabava passando e você nem sentia.
Reestruturação Nós passamos por uma situação muito difícil, principalmente a partir de 1986, quando nós tínhamos feito investimentos altíssimos sem muita estruturação, até sem muito conhecimento daquilo que a gente tinha adquirido. Foi quando nós tivemos a felicidade de contratar um executivo da mais alta competência para esse tipo de situação que a gente estava vivenciando, que é o Mário Grossi. Ele provocou uma reformulação total no grupo. Desde a adequação de pessoas, de estrutura, até a maneira de nós trabalharmos, a filosofia - o que eu queria dizer era isso - a filosofia de trabalho. Ele implementou o que nós chamamos hoje de empresa-rede. É lógico que para nós inicialmente foi um choque. Na época, era o que existia de mais moderno lá fora. Lá fora estavam começando a implementar esse tipo de filosofia de trabalho, enquanto a gente tinha toda uma estrutura bem hierarquizada. Era hierarquizada, só que a gente tinha uma liberdade de trabalho. Nas demais empresas do Brasil existia uma hierarquia, mas com muito pouca liberdade de criação, de participação. A gente tinha uma certa liberdade de participar mesmo em uma estrutura hierarquizada. Mas o que ele implantou, essa filosofia de empresa rede realmente mexeu muito com a nossa cabeça.
Imagine você sair de uma empresa, de uma filosofia de trabalho na qual tudo era hierarquizado: havia desde o presidente até o, a gente chamava de, gerente. Abaixo do gerente havia o, como é que se chamava na época? Havia os chefes, chefe de seção, chefe daquilo e, de repente, você passa a trabalhar em um estrutura, em uma filosofia... Primeiro houve uma redução: nós tínhamos cinco, seis níveis, dependendo do local de trabalho, chegava a sete, oito níveis de hierarquia e nós passamos a trabalhar com dois níveis hierárquicos, que era o diretor e o coordenador. Havia o diretor, o coordenador e, abaixo, os associados. Não havia mais nível hierárquico. E você trabalhava não mais respondendo só a um coordenador. Você tinha um coordenador, que era um coordenador administrativo. Mas quanto aos projetos, você tinha uma pessoa que era responsável, que era líder daquele projeto. Dentro dessa estrutura, você trabalhava com pessoas de várias áreas, dependendo da profundidade daquele projeto. Você podia trabalhar dentro daquele seu próprio núcleo, como você poderia trabalhar com todas as coordenações dentro da empresa. Um projeto que envolveria a parte técnica, a parte administrativa, a parte financeira, jurídica. Daí o conceito de rede, que passa a ser uma malha. Na parte de cima você tem os seus coordenadores, vamos chamar administrativos. E, na vertical, você tem os coordenadores de projetos, os líderes de projetos. E outra, uma hora você era líder, outra hora você estava subordinado a um líder daquele. Dependendo do projeto e da sua afinidade com aquele projeto, você poderia ser um líder. Dependendo da sua capacitação, você era um participante daquele grupo.
Inicialmente, para mim, essa mudança foi um choque. Esse Mario Grossi é louco, esse cara não sabe o que está fazendo, não sabe o que está falando. Nós sempre trabalhamos assim e deu resultado, agora ele vem cá e muda tudo. Houve um enxugamento, não na CTBC, mas nas demais empresas. Houve um enxugamento muito grande, ele fechou muitas empresas, contrariou muito a família, porque muitas empresas eram dirigidas pelos familiares. Ele tirou toda a família do grupo, então realmente aquilo foi um choque para nós, não é? Mas, à medida em que a coisa foi andando, a gente foi entendendo o porquê daquilo, e também foi vendo os resultados, e viu que realmente ele tinha razão. Com isso, em um primeiro instante, houve um distanciamento nosso, meu, com relação àquilo que se queria fazer, porque a gente não concordava. Mas ele fez todo um trabalho, ele procurou fazer todo um trabalho de formação. Se investiu muito dinheiro na nossa reciclagem, vamos chamar assim, e a gente começou a entender aquele processo melhor. E a gente começou a se envolver e realmente ver que ele tinha razão em muita coisa. E realmente você tinha que se envolver. Ou você se envolvia ou você pedia para sair, porque não tinha lugar para outro tipo de profissional. Ou você aceitava aquilo, assimilava aquilo e realmente admitia que aquela filosofia era a melhor maneira de o grupo trabalhar, ou você pedia para sair, porque você não suportava, porque você trabalhava em grupo. O grupo percebia que você estava alijado do grupo e te chamava: ou você participa ou se manda daqui, vai trabalhar em outra coisa. E isso aconteceu com vários profissionais, vários profissionais não suportaram aquilo e pediram para sair, ou o próprio grupo chegava a um consenso de que aquela pessoa não podia mais trabalhar na empresa.
Resultados Mario Grossi começou a fazer a mudança em 1989 e os resultados começaram a aparecer a partir de 2, 3 anos. Eu falo de resultado financeiro. Os resultados financeiros a gente já começou a perceber a partir do segundo ano. No terceiro ano já mais efetivo, já era bastante claro para nós o quanto o grupo tinha melhorado nesses 2, 3 anos. E o grupo, na realidade, se profissionalizou. A gente era muito do vamos ver. A gente ia muito do espírito de empreendedorismo do Dr. Luiz, porque o Dr. Luiz via uma coisa e já queria fazer. Não interessava quando, se ia dar resultado agora ou daqui 5 anos, ele queria era fazer. E, com a reestruturação, o grupo se profissionalizou. A gente tinha todo um trabalho de planejamento, todo um trabalho de resultado, todo um business que era elaborado, que era acompanhado, e ele acompanhava isso pessoalmente. Então, os resultados para nós, inclusive, eram mais claros. Na década de 80, a gente tinha muito feeling, a gente sabia que o grupo ia bem porque tinha dinheiro para comprar, tinha dinheiro para comprar outras empresas, tinha dinheiro para ampliar. Mas a gente não tinha muita noção do longo prazo, era mais no operacional, no resultado imediato. E essa questão passou a ficar mais clara porque a gente começou a ter realmente um planejamento estratégico, que até então a gente não tinha. Então a empresa realmente se tornou muito mais profissional.
Eu acho que o grande ganho que nós tivemos com isso foi, primeiro, a agilidade. A gente conseguia implementar uma solução, um projeto, em um tempo mais curto e com um envolvimento de todas as pessoas. Ou seja, no final, você teria uma solução de um produto na qual todo mundo, todas as pessoas de todas as áreas envolvidas, todos participavam. A possibilidade de sucesso daquela solução, daquele produto, era muito maior. Você tem uma participação maior, como realização profissional, porque você opina, você decide nesse grupo, você não tem que passar por toda uma hierarquia para poder tomar uma decisão. Aquele grupo tinha um poder de decisão, então aquilo te trazia mais prazer, mais realização, mais crescimento profissional porque você estava trabalhando, você participava. Apesar de a sua especialização ser técnica, por exemplo, você participava de todas as decisões financeiras, administrativas, jurídicas. Você tinha um envolvimento no projeto como um todo, você crescia, você adquiria mais conhecimento e, para a empresa, você tinha um resultado melhor. E mais rápido. Então, vamos dizer, isso para mim foi o grande ganho que a gente teve. Inclusive, ainda está tendo, trabalhando dentro dessa nova filosofia.
Planejamento Em 1989 a área técnica era dividida em departamentos. Nós tínhamos o departamento de transmissão, o departamento de redes, o departamento de infra-estrutura e o departamento de comutação, que é onde estão as centrais telefônicas. Com essa reestruturação, acabaram os departamentos, essas igrejinhas que a gente chamava na época, e virou um núcleo único. Acabaram-se também os gerentes, não tinha mais gerentes de departamentos. Eu deixei de ser gerente, e criou-se uma coordenação da área técnica. Essas cinco áreas fundiram-se em uma só, e viraram um núcleo só, um único núcleo de resultado. Eu continuei, mas participando como um associado desse núcleo. A partir daí, nós fizemos uma reestruturação na área de cargos dentro da CTBC, para a qual nós criamos a carreira em Y, que também era uma novidade em termos de Brasil. Havia uma ou duas empresas já trabalhando com essa filosofia. Carreira em Y é uma forma de estrutura dentro da área de Recursos Humanos que possibilita você ter um crescimento dentro da área técnica no mesmo nível de uma carreira gerencial. Um especialista, por exemplo, tinha o mesmo nível de um coordenador, um consultor tinha um mesmo nível hierárquico de um diretor, e assim por diante. À medida em que fosse necessitando da especialização técnica, ele vai crescendo dentro da carreira Y. Isso também foi um grande ganho que eu considero que o grupo teve, porque, o que estava acontecendo? A hora que a pessoa queria crescer dentro da empresa, profissionalmente, financeiramente, mesmo que ele tivesse um perfil técnico, ele pulava para a carreira administrativa para poder crescer. Com isso, a gente perdia um excelente profissional técnico e ganhava um mal gerente. Isso nos possibilitou crescer. Então, eu fui, inicialmente, para essa carreira em Y, carreira técnica, me tornando um especialista na área técnica. Uma das coordenações era a coordenação de engenharia, da qual faziam parte todas essas áreas. Dentro dessa coordenação de engenharia, a gente fazia tanto engenharia como planejamento. E a gente viu a necessidade de desvincular uma coisa da outra
porque, ou você fazia engenharia ou fazia planejamento. A empresa já tinha um tamanho suficiente que justificasse isso, e nós começamos a fazer um trabalho, eu encabecei esse trabalho, de a gente criar um planejamento dentro da CTBC, um planejamento técnico da CTBC. Isso nós conseguimos fazer em 1999, conseguimos criar esse Departamento de Planejamento, essa coordenação de planejamento, e eu trabalhei nela. Agora eu assumi essa coordenação de planejamento dentro da CTBC.
A nossa responsabilidade dentro da coordenação de planejamento é cuidar de todo o planejamento, toda a topologia, o crescimento dessa planta a curto e longo prazos. Hoje também elaboramos toda a parte de especificação, o detalhamento dos produtos dentro da CTBC é feito dentro do planejamento. A partir daí, a gente transfere toda essa especificação para a engenharia , onde eles fazem toda a parte de contratação, teste e acompanhamento da implementação da solução. Hoje a nossa equipe está com 20 pessoas, porque agora, com essa última reestruturação que nós tivemos, nós, além de fazermos todo o planejamento da CTBC, tanto a Telecom como a Celular, nós fazemos o planejamento da Engeredes, que é uma empresa de backbone, e a Brasilis, que é uma empresa na área de internet, na área de soluções de dados. Temos também a Image Telecom, que é a nossa empresa de TV a cabo. Então todo o planejamento dessas empresas hoje é feito dentro dessa área.
A Engeset fica fora disso. Foi uma decisão do grupo da Engeset, e a ACS, que é a nossa empresa de call center, também está fora dessa junção, dessa convergência de empresas. Por que se optou por isso? Porque a Engeset é uma empresa que está na área de serviço e ela presta serviço para todas as demais empresas operadoras. Então, não fica bem ela estar dentro de uma operadora, dentro de uma empresa de telecomunicações que é nossa, prestando serviço para as demais. Então, a gente achou por bem deixá-la fora, como uma empresa independente.
Fundamentalmente essa estrutura foi feita porque nós tínhamos uma empresa de TV a cabo, e nós tínhamos uma outra empresa, a NetSite, que é uma provedora de internet, e tinha uma empresa na área de dados, e a CTBC Telecom e Celular. De repente vai na tua casa um associado da CTBC Telecom te vender um aparelho fixo, de repente vai outro te vender um celular, aí vai um terceiro te vender TV a cabo, vai um quarto te vender internet e vai um quinto te vender uma solução de dados, de banda larga, coisa desse tipo. Então, o objetivo principal dessa junção dessas empresas é realmente a gente segmentar mercado, trabalhar com segmento de mercado, em que um único fornecedor vai na tua empresa ou vai na tua casa te oferecer uma gama de serviços, te proporcionar ou te oferecer uma solução completa para aquilo que você necessita. E, às vezes, até acontecia de a gente vender produtos concorrentes, a CTBC tinha um produto que era concorrente da TV a cabo, então imagina, ia vender o mesmo produto na mesma empresa, no mesmo cliente. E agilidade, não é? Você com isso ganha muito em agilidade, quer dizer, uma única pessoa vai na tua empresa, te vende uma gama de serviços, vai te deixar mais satisfeito, você vai ter uma conta única, uma única pessoa para você entrar em contato, para você negociar. Isso vai dar satisfação ao cliente, vai dar agilidade. Vai ter condição de a gente, por exemplo, trabalhar com pacotes de serviços, te dando uma melhor condição de preço, porque aí eu vou trabalhar com pacotes. Isso vai dar agilidade, vai dar maior rentabilidade, você vai ter uma estrutura mais leve, mais simples. A idéia desse trabalho surgiu dentro do grupo, dentro da área de telecomunicações, mas nós tivemos uma consultoria que deu todo um suporte para nós, que desenvolveu esse trabalho. Foi a consultoria Arthur Andersen.
Clientes Apesar de
a gente não ter um contato muito direto com o cliente, a gente tinha feedbacks dos clientes. A gente realmente surpreendia o cliente com essas inovações. O cliente tinha em casa um telefone analógico, que era uma central eletromecânica, que demorava para dar o tom de discar. De repente, ele tinha uma facilidade: mal ele tirava o fone do gancho e já tinha o tom de discar no ouvido. Antes era disco, aquilo demorava. Depois, ele já apertava uma tecla, ele acabava de discar o telefone dele e já estava chamando. Isso para ele era uma senhora evolução, não é? E ele reconhecia isso. A gente tinha vários reconhecimentos através da imprensa local, imprensa especializada, o feeback do próprio cliente. A gente tinha esse tipo de retorno constantemente.
Serviço público Quando a gente chegava em uma localidade pequena, que a gente implementava uma solução de comunicação para aquela cidade, a comunidade só faltava ajoelhar se aos teus pés e te agradecer. Eles faziam churrasco, faziam festa, chamavam bandas, vinha toda a prefeitura, prefeito com vereadores iam te receber. Era uma verdadeira festa naquele dia na comunidade. A gente era realmente muito reconhecido, vamos dizer, era louvado naquele instante. Foram várias cidades assim . Numa delas, São Simão, no estado de Goiás, quando nós implantamos um sistema de comunicação mais sofisticado, nós chegamos na cidade e a banda municipal estava nos esperando. Desfilamos pela cidade, tinha o prefeito, toda a Câmara, todos os representantes de comunidades nos esperando. Aí foi festa para tudo quanto é lado, churrasco, os caras não sabiam o que faziam com você. Realmente você era adorado. O Dr. Luiz sempre acompanhava. Isso marcava como o dono da empresa está aqui. Isso era muito importante para eles. Esse é um motivo pelo qual a marca CTBC é muito forte, tem muita presença nessas localidades. Com a abertura do mercado, a gente tem visto a dificuldade que as outras operadoras estão tendo para entrar nesses mercados, porque existe toda uma identidade da CTBC lá dentro. Para elas chegarem a tomar um cliente dizendo: deixa de ser cliente CTBC para ser meu cliente, elas teriam que ter um poder de convencimento muito grande para poder tomar esse assinante nosso, devido a todo esse trabalho que a gente fez ao longo desses quase 50 anos.
Associados O meu recado para quem quer entrar na CTBC é entrar realmente com paixão, fazer as coisas com muita paixão, com muito carinho, muita dedicação, que é um grupo que justifica isso. Profissionalmente é um grupo que te dá muitas oportunidades contínuas de crescer. Depende muito dele ou quase que totalmente dele para ele crescer aqui dentro, mas é preciso que ele realmente se dedique. A CTBC, ou o grupo, passa a fazer parte do eu dele, da família dele, é realmente uma integração, uma interação muito grande, é o eu dele que está totalmente envolvido. E o recado que eu dou é, se apaixone por aquilo que está fazendo, que ele vai ter muita recompensa, muito sucesso e vai realmente se satisfazer profissionalmente, pessoalmente, eu não tenho dúvida.
TECNOLOGIA Inovação
A CTBC hoje é reconhecida nacionalmente como uma empresa pioneira, inclusive na tecnologia. Quando eu comecei a trabalhar efetivamente com equipamentos, a gente sempre trabalhou com equipamentos, pelo menos em termos de Brasil, com o que tinha de mais moderno disponível junto aos fornecedores. O primeiro sistema computadorizado implantado no Brasil foi feito por nós dentro da CTBC. Nós tínhamos centrais eletromecânicas que não possibilitavam, por exemplo, você fazer uma discagem interurbana, pois elas não tinham processo de bilhetagem, você não conseguia bilhetar. Elas não tinham esse recurso para fazer o encaminhamento para a rede nacional, e nós, juntamente com o fornecedor, desenvolvemos um sistema que fazia toda essa inteligência, que não era possível fazer dentro da central telefônica. Esse sistema possibilitava você cobrar do assinante não por bilhetagem, mas por multimedição. O assinante fazia uma ligação interurbana e ele era multimedido. Isso ia para o contador do assinante e esse sistema era todo controlado por microprocessadores. Foi uma novidade em termos de Brasil e eu tive a possibilidade de ser uma das pessoas que encabeçaram esse projeto dentro da CTBC.
Outro fato marcante foi quando nós começamos a implementar as primeiras centrais digitais no Brasil. Nós fomos a segunda operadora no Brasil a implementar. Só a Telefônica, na época Telesp, é que tinha esse tipo de equipamento. São as chamadas CPAs. Nós fomos também a primeira operadora no Brasil a ter duas centrais, ter um entroncamento interligado por fibra ótica. Fomos, se não me engano, a segunda a implementar o serviço de telefonia celular no Brasil. Então, realmente a gente sempre se destacou pela inovação. Esse espírito vinha desde o nosso vice-presidente, que era o Dr. Luiz. Isso estava dentro dele, e isso era incorporado no restante da empresa, esse espírito de vanguarda, de ponta, de ter a melhor tecnologia. E a gente vem fazendo isso ao longo do tempo. Fomos a primeira operadora a ter o pré-pago no celular. Fomos a primeira a ter o pré-pago na telefonia celular.
PESSOAS Alexandrino Garcia
Ele era realmente uma pessoa que nos marcou muito, porque ele era um líder, mas um líder que pegava no dia-a-dia. Ele era uma pessoa que nem a gente. Era a pessoa que tinha a direção do grupo nas mãos, as decisões estavam nas mãos dele. Mas com a mesma simplicidade que ele dirigia, que ele comandava todo aquele império, ele entrava em um buraco junto com você, ele cavava, ele olhava se um carro estava sendo bem cuidado, se uma instalação estava sendo bem feita. Todo prédio, por exemplo, a gente construiu alguns prédios dentro de Uberlândia, ele acompanhava desde a fundação até o acabamento do último andar. Ele subia em todos os andares, todos os dias. Então era uma pessoa que realmente vivia e acompanhava o dia-a-dia da empresa. Ele vivenciava, ele participava, ele se envolvia.
Tanto esse prédio nosso aqui no centro como aquele prédio que nós temos na João Pinheiro, lá em cima, aquele mais antigo, como a gente participava do projeto, porque eram prédios para a instalação de equipamentos, a gente o acompanhava no dia-a-dia, nas visitas que ele fazia. Quando havia problemas a gente sentava, discutia junto, discutia projeto, via layout. A gente o acompanhava nessas obras todo o santo dia, era sagrado, 7:00, 7:30, no máximo, 8:00 horas ele estava na porta do prédio. A gente o acompanhava e ele subia, por exemplo, esse prédio aqui são 10 andares, ele subia os 10 andares todos os dias, ia andar por andar, via como é que estava sendo feito. E dava muito palpite, tudo ele falava, aquilo que não concordava, aquilo que não estava certo. E a gente tinha todo um trabalho de mostrar para ele se estava ou não, porque estava sendo feito daquele jeito, porque estava sendo projetado daquele jeito, e tinha realmente que convencê-lo quando ele não estava certo, porque a gente estava fazendo assim. Normalmente, muita coisa ele tinha razão. Ele tinha uma bagagem, uma experiência, ele olhava muito a economicidade do projeto, fazer da melhor maneira, mas da maneira mais econômica. Ele se preocupava com um prego que estava jogado na construção, ele ia lá, pegava, recolhia, mandava guardar.
Não era fácil convencê-lo de que ele estava errado, porque ele tinha um conhecimento prático muito grande. Quando ele falava, ele tinha um certo embasamento. Então, você tinha que estar muito bem argumentado para poder convencê-lo. E quando você conseguia convencê-lo, ele falava assim: você está certo, mas está errado assim mesmo. Ele usava muito esse termo.
Uma coisa que marcou muito, um pequeno detalhe, uma das coisas que marcam a gente são os pequenos detalhes, não é? Ele tinha uma Veraneio. Era dele, mas a empresa usava. Ele não tinha nada. Precisou pegar o carro dele para trabalhar, desde que fosse para trabalhar, a gente usava o carro dele. Um dia eu estava chegando com o carro dele na CTBC, estacionei e abri a porta. Esses carros iam para a fazenda, iam para o mato, aquelas cidades em que as rodovias não eram pavimentadas, que eram todas esburacadas, onde se pegava muita sujeira. Então, quando eu abri a porta, a porta rangeu. Eu já era engenheiro, já trabalhava lá acredito que tinha uns dois anos. Ele virou para mim, ele chamava a gente de menino: menino, você não vai olhar essa porta, essa porta precisa graxa, tem que pôr graxa, não está vendo que está rangendo a porta? Um pequeno detalhe do carro, o ranger da porta, chamou a atenção dele, e ele pediu para que a gente corrigisse. Eu fui engraxar a porta. Ai se não engraxasse. É nos pequenos detalhes que realmente você reconhece a pessoa. Uma pessoa que estava preocupado desde administrar, na época, mais de 20, 30 empresas, a um ranger de uma porta que não estava soando bem para ele. Então foi realmente uma pessoa que nos marcou muito durante toda a sua presença.
Luiz Alberto Garcia O Dr. Luiz era mais da tecnologia, ele tinha um conhecimento mais profundo, mesmo porque ele estudou, ele fez engenharia, depois ele fez alguns cursos na área de telecomunicações, estudou fora. Ele tem um conhecimento muito bom nessa área, e uma vivência muito grande. É uma pessoa que realmente contribuía muito para a solução adequada, no tempo e no investimento adequado para aquela situação, uma pessoa muito ao estilo do pai. É uma pessoa que contribuiu muito para o crescimento da CTBC e do próprio grupo.
Mario Grossi Ele era uma pessoa, e não podia ser diferente, pelo menos no começo, bastante linha dura. A decisão era dele, o poder era dele de tomar a decisão. É lógico que as decisões mais estratégicas. Ele não abria mão. Mas ele acompanhava tudo de perto, ele tinha muito estímulo, é lógico que com muito mais conhecimento, com muito mais embasamento. Ele participava desde as reuniões com os seus vice-presidentes, com os seus diretores, como participava de uma reunião de associados. E o interessante nele é que terminava a reunião, mesmo que a reunião já tivesse extrapolado o horário, ele parava e ouvia todo mundo, a opinião de cada um. Ele fazia uma avaliação da reunião com todos os participantes daquela reunião, independente do horário. Era uma pessoa super dedicada ao trabalho, uma pessoa que chegava 7:00 horas na empresa, não tinha hora para sair, nunca saiu antes das 8:00 horas da noite. Ele não saía para almoçar, ele tomava um lanchinho, pedia um lanche e tomava o lanche na mesa dele mesmo. Então, era uma pessoa de uma dedicação profissional espantosa, se envolvia com tudo. Tinha uma memória espantosa. Se você falasse um número para ele, podia esquecer, ele ia te cobrar dali a 2 anos. Ele saberia exatamente o número que você tinha falado para ele e ele diria: esse não foi esse número que você me falou. E tinha uma capacidade de assimilação, de visão, um negócio extraordinário. Você projetava um quadro para ele, um slide cheio de números, ele ia lá, olhava e levantava. Ele ia lá no número e falava: esse número aqui não está coerente. E podia ver que não estava coerente. Ele tinha uma capacidade de assimilação extraordinária. Uma pessoa que é muito admirada, tanto é que ainda está lá no Conselho do grupo até hoje. É uma pessoa que ainda participa das decisões, se envolve. Ele é muito querido no grupo. Ele realmente virou o grupo, deu uma virada de 180º. O grupo é completamente diferente, a maneira como trabalha, a maneira como é estruturado não tem nada a ver com a CTBC de 80, do grupo de 80, é completamente diferente.
LOCALIDADES Uberlândia
A cidade de Uberlândia vinha até onde é a avenida Rondon Pacheco, se limitava da Rondon para cima, e ia até onde é o Fórum Abelardo hoje. Então, a partir daí era mato, não existia praticamente nada. Isso na minha infância.
MEMÓRIA Futuro
Para mim está bem claro que todo esse histórico que a CTBC, que o grupo, não digo só a CTBC, mas hoje o grupo, de uma maneira geral, tem na região, que a gente deve fincar o pé como uma empresa regional. E quando eu digo empresa regional eu não quero dizer só ficar onde nós estamos hoje, mas ir onde a marca Algar, a marca CTBC já tem algum tipo de presença. Por exemplo, se eu chegar em Ribeirão Preto, grande parte da comunidade já conhece o grupo Algar, já conhece a CTBC, já ouviu falar da CTBC, já tem algum tipo de presença. Então, eu acredito que a gente vá crescer ao redor da nossa área de atuação hoje e crescer buscando alguns nichos de mercado nas grandes cidades em alguns pontos, mas muito pontualmente. Ou seja, se eu tenho uma empresa da minha região, quando ela tem um ponto de presença em São Paulo, no Rio, Curitiba, Brasília, eu posso fazer toda essa interligação por aí, todo esse serviço, mas aí mais pontualmente. Então, eu acho que a gente deve, estrategicamente, isso é uma opinião minha, particular, a gente deve fincar o pé como uma empresa regional, buscando crescer em volta de onde nós já temos uma presença, onde a gente já é conhecido. Não esquecendo de sempre fortalecer a nossa presença na área onde nós já estamos, buscando esses pontos mais longínquos, mas mais pontuais fora da nossa área.
Sonhos Meu projeto para o futuro é dar continuidade a esse trabalho que a gente vem fazendo dentro da CTBC ao longo desses 21 anos. A minha realização é realmente ver a CTBC cada vez maior, eu não digo em tamanho, mas cada vez mais presente, mais forte nas áreas em que ela, que o grupo, está atuando. E a minha expectativa pessoal com relação a isso é que eu ainda acredito que posso contribuir para o grupo por mais alguns anos. E quando chegar a minha aposentadoria, estar plenamente realizado com aquilo que eu pude fazer pelo grupo, e aquilo que o grupo me retribuiu na minha vida pessoal, na minha vida familiar.
CENTRO DE MEMÓRIA Memória
Emocionante, é gratificante a gente poder falar de todo esse histórico. Nosso dia-a-dia é tão corrido. Nem sempre você tem a oportunidade de fazer uma revisão do teu passado. E essa é uma boa oportunidade, uma excelente oportunidade de reviver isso, e ver o quanto você contribuiu, pôde participar e cresceu com o grupo. Então, é realmente muito gratificante despender esse tempo para deixar isso como uma história e transmitir para as pessoas. Espero ter ajudado.
Eu gostaria de aproveitar essa oportunidade e parabenizar, com mais ênfase, o Sr. Alexandrino e o próprio Dr. Luiz, por essa oportunidade que ele dá para todas as famílias, que ele tem dado para todas as famílias da região do Triângulo Mineiro, Goiás, Alto Paranaíba, de poder participar junto deles, dessa família, de poder contribuir com o crescimento do grupo, o envolvimento, a satisfação e a retribuição que em contrapartida ele nos dá, de estar trabalhando para o grupo. E o pioneirismo e o empreendimento que eles implementam, com que eles se dedicam ao grupo. Isso realmente é marcante. Veja uma pessoa que nem o Dr. Luiz, com o dinheiro que ele já tem, com o poder que ele já tem. Ele poderia abandonar, largar, vender isso para um outro, não é? Vender para essas grandes operadoras que realmente gostariam de estar aqui, gostariam de comprar a CTBC, mas ele vem aí ao longo desses quase 50 anos, primeiro contra o governo, e agora, contra as grandes multinacionais, mantendo esse patrimônio, permanecendo com esse patrimônio, dando essa oportunidade a nós, da região. Por poder participar , se envolvendo e sendo recompensados por isso, eu gostaria de parabenizar principalmente a família Garcia.Recolher