Projeto BNDES: 50 anos de história
Depoimento de Cid Salgado de Almeida
Entrevistado por Paula Ribeiro
Rio de Janeiro, 11/04/2002
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número: BND_CB014
Transcrito por Jurema de Carvalho
Revisado por Natália Ártico Tozo
P/1 – Boa tarde, Cid! Eu gostaria de ...Continuar leitura
Projeto BNDES: 50 anos de história
Depoimento de Cid Salgado de Almeida
Entrevistado por Paula Ribeiro
Rio de Janeiro, 11/04/2002
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número: BND_CB014
Transcrito por Jurema de Carvalho
Revisado por Natália Ártico Tozo
P/1 – Boa tarde, Cid! Eu gostaria de começar nosso depoimento pedindo que o senhor nos forneça seu nome completo, local e data de nascimento, por favor.
R – Cid Salgado de Almeida, nascido aqui no Rio de Janeiro, no dia 10 de janeiro de 1933.
P/1 – Sobre sua família, seus pais, quais as origens da família, Cid?
R – A origem da família de meu pai é paulista, mas veio muito cedo para o Rio, casou-se aqui no Rio. Minha mãe era carioca. Viveram sempre no Rio de Janeiro, onde tiveram três filhos; eu sou o mais velho dos três.
P/1 – Cresceu em que bairro, Cid?
R – Eu nasci e cresci no bairro dos Pilares, hoje tem uma escola de samba famosa. Mas depois como rapazinho eu mudei para a Rua Ibituruna, próximo ao Instituto de Educação e ao Colégio Militar. Minha mãe era professora do Instituto e eu frequentava o Colégio Militar com meu irmão. Depois casei, fiquei morando no mesmo lugar; depois mudei ainda para a Tijuca e da Tijuca, por causa dos assaltos que temos aqui na cidade, eu fui expelido para a Barra da Tijuca, onde estou até hoje.
P/1 – Em termos de formação profissional, qual foi a universidade que você cursou e por que da escolha desse curso?
R – Eu, quando eu cursei o Colégio Militar, já quando eu comecei a me conhecer, eu tinha uma vontade de ser, uma vocação de ser empresário, mexer com empresa. Dentro dos cursos que eu conhecia o que mais se aproximava da vida empresarial era o curso de engenharia. Nós tínhamos duas escolas de engenharia no Rio: a nacional, a tradicional, e a católica que estava ainda começando. Então o vestibular valorizado na época era da Escola Nacional de Engenharia. Eu fiz o vestibular, passei e cursei. Terminei o curso de engenharia com especialidade em construção civil. Depois que eu terminei o curso, no ano seguinte, apareceu no currículo também a especialização em engenharia econômica e eu acabei fazendo; fui da turma do Mário Simonsen e outros colegas também. Mas no meio do curso de engenharia, com aquela vocação empresarial, eu vim a conhecer o curso de economia, vim a saber que existia um curso de economia e também fiz um vestibular e ingressei num curso de economia noturno, na Faculdade de Ciências Econômicas do Rio de Janeiro, ficava na Rua da Constituição. Essa faculdade, depois que nós viramos o Estado da Guanabara na época, ela foi absorvida, passou a constituir a Universidade do Estado da Guanabara, que veio a se transformar na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a UERJ atual. Eu tenho o meu diploma ainda de UEG [Universidade do Estado da Guanabara].
P/1 – Como que se deu então o seu ingresso no BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]?
R – Meu ingresso se deu como consequência dessa vocação, mexer com empresa, com empreendimento, com projetos econômicos, porque no curso de engenharia eu lidava muito com projetos de construção, projetos físicos. Na época do governo Getúlio Vargas, os jornais começaram a anunciar a criação do BNDES, em 1952. Em 1954 houve um concurso, o primeiro concurso para o BNDES. Até então só havia funcionários interinos. Eu ainda não estava formado nem em engenharia, nem em economia, mas entrei no concurso e me matriculei; me inscrevi, vamos dizer assim, como assistente técnico, candidato de assistente técnico de economia e de engenharia. Tive a sorte de passar nos dois, bem colocado e aí passei a escolher qual dos dois assistentes técnicos eu gostaria de ser. Então, como se tratava de banco de desenvolvimento econômico, eu preferi a área de economia. Mais tarde houve uma rearrumação administrativa no banco, aí eu já estava formado e acabei sendo readaptado como engenheiro. Me aposentei como engenheiro, na carreira de engenheiro.
P/1 – Quando você entrou, você entrou no começo do banco.
R – Sócio fundador.
P/1 – Sócio fundador. Pois é, o que te moveu como jovem profissional a entrar e fazer esse concurso para essa instituição que estava se formando?
R – Da minha parte, aquela vocação de mexer com negócio, com empresa, com projeto e externamente, vamos dizer assim, a propaganda, a divulgação da criação de um banco por um governo que estava empenhado em promover o desenvolvimento do país. Eu achava uma coisa muito atraente participar dessa etapa da história do país, trabalhar para desenvolver o país economicamente.
P/1 – São quase quarenta, cinquenta anos de banco. Nesse seu período de vivência no BNDES, qual o projeto que você tenha se engajado que tenha lhe marcado mais?
R – Eu tive uma vida profissional multifacetada. Eu mexi em tudo, mas dentro do banco, pouco tempo depois que eu entrei, eu fui tomar conta do orçamento de investimento do banco. Na época o BNDES era o gestor do Fundo Federal de Eletrificação, e eu passei também a tomar conta do orçamento do Fundo Federal de Eletrificação. Nessa condição eu participei muito da revisão do Fundo Federal de Eletrificação de maneira a aumentar os recursos do Fundo para investimento para energia elétrica, que o banco queria fazer o desenvolvimento do país, mas não tínhamos eletricidade porque as empresas estrangeiras do setor já se tinham desinteressado de investir em geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Então o governo teve que assumir essa tarefa, mas havia limitação de recurso, então logo em seguida foi preciso reformular a legislação e engordar, vamos dizer assim, a receita do Fundo Federal de Eletrificação até que fosse criada a Eletrobrás. Então, praticamente, a Eletrobrás nasceu em conjunto ao trabalho do BNDES, quer dizer, trabalhou-se muito no BNDES para a criação da Eletrobrás, tanto assim que vários colegas meus, eu inclusive, participamos da comissão de constituição da Eletrobrás. Esse trabalho que foi feito, o que me coube foi trabalhar na revisão do Fundo Federal de Eletrificação, mudar o imposto único sobre energia elétrica. Foi feito um projeto de lei que quase não saia porque esse trabalho ficou pronto na saída do Presidente Jânio Quadros, com a renúncia dele, teve um entretempo que isso ficou meio balançado, mas depois o Ministro que veio do governo que assumiu, tocou pra frente e acabou sendo revisto o imposto único, a legislação, foi criada a tarifa fiscal que passou a ser a base para o cálculo do imposto que deu novo alento aos recursos do Fundo pra financiamento das usinas elétricas, linhas de transmissão e a Eletrobrás, quando se criou em 1962, passou a se valer desses recursos para investimentos.
P/1 – É claro, cinquenta anos, são cinquenta anos de mudanças. Você entrou no começo, o prédio era outro, a equipe era outra, o estilo de trabalho era outro. Alguma coisa que mais tenha lhe marcado, toda a modernização... Muita coisa mudou, mas tem alguma coisa especial que tenha lhe marcado?
R – Uma coisa que marcava muito quando entrava no banco naquela época, era a alma do banco, a alma do negócio, era o entusiasmo. Todo mundo trabalhava porque amava aquele negócio, sabia que estava trabalhando por uma causa nobre, uma causa muito importante e tinha um ambiente de trabalho formidável. Os colegas todos trabalhando todos na mesma direção, era pouca gente, mas gente unida e trabalhadora e competente. O banco marcou ponto, um ______ muito grande fazendo um concurso pelo antigo DASP, Departamento Administrativo do Serviço Público, que fazia os concursos, preparava os concursos, estabelecia os critérios para o ingresso do cidadão no serviço público. Foi o DASP que organizou o primeiro concurso do BNDES, muito rigoroso, muito bem feito. Para minha categoria, por exemplo, éramos 2.200 candidatos para 33 vagas. O concurso teve que ser muito rigoroso para selecionar tão pouca gente no meio de tantos interessados. Acho que isso colaborou muito para a qualidade dos funcionários e o trabalho passou a ser feito pelo banco nos seus primeiros anos. Isso foi fundamental para consolidar o prestígio do BNDES na época.
P/1 – E o que o BNDES significa para o senhor?
R – Uma vida toda de trabalho, de vocação atendida, no sentido de dever cumprido e muitas metas alcançadas. Acho que o Brasil, nesses cinquenta anos, deu um pulo tão grande, poderia ter ido muito mais longe se o BNDES tivesse se mantido dentro da sua filosofia inicial, dentro da sua linha. Hoje ele está muito diferente, o mundo hoje mudou muito, talvez o país estivesse bem mais na frente se as condições tivessem sido outras.
P/1 – O senhor se aposentou em que ano?
R – 1986.
P/1 – Mas continua ligado ao BNDES?
R – Sem dúvida, pelo menos sentimentalmente.
P/1 – Então, para finalizar, o que achou de ter dado o depoimento para o Projeto de memória 50 anos de BNDES?
R – Muito importante e eu tenho sugestões de outros companheiros que poderão vir e prestar seu testemunho, seu depoimento também, para ajudar a reconstruir a história desse banco que é fundamental na vida do país. Enrico Carneiro Leão Teixeira Neto, os outros, muitos colegas já fizeram depoimento em épocas anteriores, nos decênios anteriores, mas agora que eu me lembro... Armando Alencar, José Clemente, acho que terá vindo, enfim, com tempo podemos fazer uma lista do tamanho de um bonde.
P/1 – Então, muito obrigada, Cid, pelo seu depoimento, pela sua participação.
R – Eu é que agradeço a oportunidade.Recolher