Quando eu estava na pré-escola (hoje em dia etapa) eu sempre fui uma criança muito isolada, tinha bastante dificuldade de socialização, o que acabou se agravando devido a minha falta de controle na urina.
Eu estudava nesta época no período da manhã, o que gerava uma guerra diária para me fa...Continuar leitura
Quando eu estava na pré-escola (hoje em dia etapa) eu sempre fui uma criança muito isolada, tinha bastante dificuldade de socialização, o que acabou se agravando devido a minha falta de controle na urina.
Eu estudava nesta época no período da manhã, o que gerava uma guerra diária para me fazer acordar e ir para a escola de manhã. De fato, desde cedo eu já era preguiçoso.
Minha mãe vendo o sofrimento diário que era me acordar, me mudou de escola.
Na nova escola, próxima de casa e pequena, eu estava no paraíso... ou nem tanto. Após algum tempo consegui fazer algumas amizades, conheci o ambiente da escola facilmente mas havia um problema, a professora.
Desde os primeiros dias já não gostava dela, afinal eu tinha uma professora muito dinâmica, que brincava bastante com a turma e passei para uma professora mais idosa que tinha uma didática mais antiquada (e acho q ela percebeu isso, afinal eu nunca disfarcei muito bem o que eu não gosto).
Neste ambiente novo eu me vi em uma das minhas fases mais desordeiro, questionando tudo que os outros falavam entre outras coisas da idade. A professora sempre fazia questão de reforçar o fato de que não se deve conversar enquanto outra pessoa está falando. Até hoje não entendo o porquê de ter ido para a direção após eu ter questionado a professora por ela ter interrompido a minha conversa com os colegas para dar aula, afinal, se nós não poderíamos conversar enquanto ela falava, por que ela poderia?
Em outro momento (no qual eu já tinha quase certeza da implicância dela comigo), durante o almoço, em um dia do meu prato favorito da escola, arroz com salsicha, que aliás eu gostava do molho da salsicha com o arroz e não da salsicha em si, a professora me expôs no meio das salas dizendo que eu não poderia comer a mistura antes do arroz. Por mais que talvez não
Após ter sobrevivido à minha última professora da pré-escola, me sentia o máximo no meu primeiro dia de aula da 1ª série, afinal, eu estava ficando mais velho, criando mais responsabilidades, tendo uma outra professora, enfim, crescendo.
A ansiedade era tão grande que eu esqueci de ir no banheiro, aí vocês já sabem o que aconteceu né? Eu tive que pedir pra professora pra sair no meio da aula (aposto que você pensou que eu tinha feito xixi na roupa). Como eu estava em uma escola nova e grande, eu não sabia onde ficava o banheiro ou o bebedouro. Perguntei pra professora e ela pacientemente me explicou. Eu entendi menos da metade do que ela falou e só encontrei o banheiro.
No retorno à sala de aula, pensando já ter atrapalhado de mais a aula eu entrei e fui direto até o meu lugar. Assim que eu cheguei no que supostamente seria o meu lugar encontro ali sentada uma garota que eu nunca havia visto. Prestando um pouco mais de atenção eu percebo que aqueles não eram meus colegas nem aquela minha professora, ou minha sala. Naquele momento percebi mais uma coisa terrível, meu lugar era do outro lado da sala.
Em silêncio, igualmente todo o restante da sala, saí pelo mesmo caminho que entrei, me esforçando apenas para não chorar no primeiro dia de aula. Ao sair percebo que minha sala é a do lado e logo eu entro nela. A professora percebendo meu estado de quase choro pergunta se está tudo bem. “Não professora, eu errei a sala” ou simplesmente começar a chorar seriam respostas aceitável naquele momento, mas eu resisti, apenas consenti para a professora e fui ao meu lugar, do qual eu não tive coragem de sair por um bom e longo tempo.
Após um tempo, superada a péssima primeira impressão, percebo que a minha professora novamente era carrasca, e eu novamente estava aprontando em sala de aula (em minha defesa eu nunca deixei de fazer a lição, mas nunca fiquei no restante do tempo comportado). Eu adorava ouvir histórias na aula, porém treinar o jeito correto de se andar para fugir da loira do banheiro em sala de aula não era menos importante.
Minhas memórias da 1ª e 2ª série se confundem um pouco por terem sidos dois anos bastante parados e na mesma escola, mas me lembro de uma vez que eu tentei cegar um aluno de outra sala. Todos os dias ele queria trocar figurinhas comigo mas eu não queria trocar com ele, então no intervalo ele me perseguia e me empurrava. Um dia eu estava próximo à arquibancada da quadra quando ele fez isto, e, se não fosse por um amigo meu ter me segurado, eu provavelmente teria caído.
Após ter falado com a direção, monitoras e com quem quer que eu encontrasse da equipe escolar e o problema não ter resolvido, eu cheguei à uma conclusão: se ele estivesse cego, não mais me encontraria no intervalo. No dia seguinte eu o esperei próximo às escadas da escola, quando ele veio atrás de mim eu o joguei na escada e tentei furar seus olhos com o dedo. Felizmente para ele as inspetoras me pararam a tempo. Bem, ele, pelo menos, nunca mais me incomodou no intervalo.
Na passagem da 2ª para a 3ª série mudei de escola novamente, pois estava estudando muito longe de casa e nesta escola reencontrei vários colegas da pré-escola, com os quais, neste ponto, fiz mais amizade. Porém esta mudança de escola também trouxe alguns dos piores momentos da minha infância.
Desde muito pequeno sempre tive facilidade com as matérias, o que gerava muitas vezes inveja nos outros e isso fez com que durante um bom tempo eu fosse perseguido na escola. Nesta fase da minha vida me via quase diariamente na direção, num geral por ter apanhado, as professoras ignoravam o fato e enquanto isso eu continuava sofrendo na mão dos, que hoje seriam considerados bullyes.
Mas além desses momentos eu tive alguns bons, direto no intervalo, claramente contrariando todas as ordens das inspetoras, eu com os poucos amigos que tinha brincávamos de pega-pega. Um dia, numa infeliz coincidência o chão estava molhado por ter sido lavado a pouco tempo e eu estava com chinelo sem muita aderência, ao não conseguir parar bati em um vaso grande que havia na escola.
Num primeiro momento apenas fiz um galo e estava tudo bem, até que, pouco tempo depois comecei a vomitar na sala de aula e estava quase desmaiando. Lembro-me de que me mantiveram acordado até eu ir pro médico mas não me lembro de muitos detalhes. Claro que eu não aprendi nada com a experiência e continuei correndo no intervalo, igual sempre fazia.
Na 4ª série eu atingi um rank criado e conhecido exclusivamente por mim na sala de aula: eu fui o aluno que mais se machucou durante o ano, contando principalmente uma queda de bicicleta por ter puxado o freio da frente em uma decida e do desmoronamento de um morro o qual eu estava escalando.
Nesta época eu também fiz uma visita ao Bosque do Saber com a minha turma, fizemos piquenique lá e foi um dia maravilhoso, tirando o fato que o meu problema com o xixi voltou a aparecer.
No dia eu estava tão empolgado com a visita que não queria “perder” tempo indo no banheiro.
No dia eu estava com uma blusa, logo pensei na melhor estratégia para não ser percebido: amarrei a blusa na cintura com as costas viradas para frente. Aparentemente ninguém percebeu nada... pelo menos até voltar para a sala de aula, onde a professora pediu para que eu me levantasse e explicasse o porquê da blusa na frente. Consegui me safar dizendo que era um “avental”, nada que tivesse sido muito convincente mas o suficiente para parar com os questionamentos.
Durante este ano, pela primeira vez minha mãe me deixava ir para casa apenas com amigos, o que para mim era um voto de confiança muito grande, mesmo que sempre voltasse acompanhado. Nesta época fiz alguns amigos dos quais infelizmente não me lembro mais o nome e não tenho mais contato, mas gostaria muito de reencontrá-los um dia. Conseguir a lista de chamada da época que eu estudava naquela escola é atualmente um de meus objetivos.
Ao mudar de escola na 5ª série, entrando para o fundamental II, passei a estudar muito próximo de casa. Neste ano tive várias mudanças na minha vida escolar, principalmente na questão da separação de professores por matéria e de amizades.
A professora Regina Célia, de matemática, foi uma das professoras que mais me marcou. Nas aulas dela eu sempre tive muita facilidade e ajudava os colegas a fazer as lições, o meu primeiro contato com a pedagogia.
Tive também dois outros professores que admiro muito, que foram a Profª Dalva de português e Prof. Willian de História, pois eles eram muito rígidos mas sabiam explicar muito bem a matéria, eles tinham o respeito da turma.
Neste ano tive um amigo muito próximo que entrou na metade do ano na escola pois ele morava no norte e havia se mudado para Indaiatuba a pouco tempo. Nós nos falávamos diariamente na escola, fora da escola, nos finais de semana e sempre que tínhamos possibilidade. Íamos para o Sesi juntos, principalmente frequentando a piscina na época de calar e também no frio.
Na 6ª série não houve muitas mudanças, os professores na sua maioria continuavam os mesmos, os colegas os mesmos, as idas ao Sesi quase diária as mesmas, enfim, a vida que estava boa permaneceu.
Quando o ano terminou, a 7ª série começou e tudo mudou. As professoras que eu gostava muito de matemática e português mudaram, o professor de história virou diretor, alguns alunos repetentes entraram na sala e eu me vi numa sala e período diferente deste meu amigo.
Neste ano também entrou um professor de ciências e matemática, que felizmente para minha sala ele apenas lecionava ciências, o qual decididamente não era capacitado para ser professor. Este professor ofendia os alunos e dificilmente dava alguma atividade relacionada à matéria, ele usava termos como “filho de chocadeira” se referido aos alunos ou ainda utilizava de profissões para menosprezar os alunos, com frases do tipo “você não vai ser nada além de lixeiro”; “Você não serve nem pra ser pedreiro” entre outros.
Mais uma vez eu me via perseguido em sala de aula, principalmente pelos alunos mais velhos que estavam lá, e novamente estava desamparado pelos professores, colegas e direção. Foi uma época muito difícil, mas nesta época encontrei refúgio nos jogos digitais. De fato se tornou um vício, eu ou estava na escola ou estava no computador, mas foi isso que me ajudou a superar esta fase.
Depois de um abaixo-assinado realizado entre todas as salas que tinham aula com o professor de ciências e matemática, o mesmo foi readaptado e nunca mais o vimos em sala de aula depois daquele ano.
No próximo ano a vida deu uma melhorada, os repetentes repetiram de novo, o diretor voltou a lecionar história, tive um novo professor excelente de matemática e a vida começou a melhorar. A partir deste ano tive um ótimo motivo para estudar: eu competia com um amigo para ver quem tinha as melhores notas da sala.
Algumas coisas, infelizmente, nunca mais foram as mesmas. O grande amigo que eu tive na 5ª e 6ª série, por mais que voltamos a estudar no mesmo período nunca mais nos falamos, o mundo virtual nunca mais abandonei (e não digo que isso foi negativo), entre outras coisas.
Foi um ano tranquilo, sem muita coisa de especial. No final dele eu fiz a formatura, da qual de fato me arrependi. Da 8ª série só tinha eu e mais duas colegas da sala, o restante eram todos do 3° ano, alunos que eu nem conhecia, o valor e trabalho para conseguir uma roupa apropriada para ocasião sendo tamanho GG não valeram a festa, que foi muito boa, devo dizer.
Iniciando finalmente o Ensino Médio, só mais 3 anos para estar livre da escola, acreditando que teriam grandes mudanças em relação ao ano anterior, me decepciono ao perceber que na realidade não mudou quase nada. Muitos professores eram os mesmos, matérias tinham pouca diferença, enfim, me decepcionei com as poucas mudanças em relação à muitas promessas.
Este ano, mais uma vez com poucos acontecimentos em seu decorrer, até o 4° bimestre. Neste final de ano teve greve e várias desistências de professores, o que gerou uma “aula de educação física mútua e diária” pois haviam várias salas de aula vaga ao mesmo tempo e os inspetores liberaram bolas pra gente ficar jogando.
Minha mãe é amiga de uma das secretárias da escola onde eu estudava, então esta secretária me deixava sair mais cedo, ao contrário do restante dos alunos, afinal a responsabilidade era da escola. Às vezes eu conseguia trazer junto comigo um ou dois colegas, mas escondido, é claro.
Após sair, eu dava a volta do lado externo da escola, ia até o portão de entrada dos alunos e passava cerca de 10 a 15 minutos só tirando sarro dos alunos que não podiam sair mais cedo e teriam que esperar sem fazer nada até 12h20.
O final do ano foi bom, mas nada produtivo, então me mudei de escola. Na nova escola comecei também a frequentar o CAMPI(Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro de Indaiatuba), uma instituição de Indaiatuba com o intuito de profissionalização dos jovens.
Na escola minha vida voltou ao inferno: eu era completamente isolado, não fiz amizade com ninguém e estava numa fase onde eu não me aceitava como homossexual, mas isso estava vindo à tona cada vez que eu parava para refletir sobre mim mesmo.
O primeiro semestre foi de muita reflexão, talvez um pouco de depressão, até, algumas vezes, pensamentos suicidas, mas, mais uma vez consegui sobreviver graças ao apoio que eu encontrava nos professores, funcionários da escola, direção, enfim, toda a equipe escolar.
No segundo semestre precisei me mudar novamente, desta vez para o período noturno devido ao início do meu estágio pelo CAMPI. Na nova escola eu estava esperando que novamente fosse ficar sozinho, estava conformado, porém não foi o que aconteceu. Na nova escola, logo que entrei, me juntei a um grupo de colegas com os quais eu tive bastante afinidade.
Pouco tempo depois este grupo brigou entre si e acabei mais uma vez apenas com um amigo, o qual marcou muito minha vida. Estive ao lado dele em momentos difíceis para ele e ele me apoiou em momentos muito difíceis para mim.
Nesta escola tive oportunidades de explorar meu lado artístico nas uniões onde a professora de artes e de inglês tinham, fazendo apresentações de grandes artistas internacionais, no caso, Michael Jackson e Elvis Presley.
Aprendi também muito sobre argumentação nas aulas de história e sociologia, onde, um momento que me marcou bastante foi um trabalho onde devia defender a escravatura contra um grupo que estava defendendo a libertação dos escravos, na qual a turma chegou a conclusão que era melhor manter a escravidão.
Nesta época também eu finalmente me assumi pela primeira vez para este amigo do qual eu era muito próximo, onde pela primeira vez eu me senti acolhido, aceito por alguém.
Depois de um tempo o contrato acabou, o primeiro semestre do 3º ano estava acabando também e eu já não conseguia mais me manter preso, viver uma mentira, então novamente me mudei de escola, pela primeira vez por minha escolha.
Saí do período noturno para ir ao período integral. Nesta nova escola tive a oportunidade de colocar o estudo no qual eu fiquei atrasado por estar no estudo noturno, tendo menos aulas e conteúdo mais limitado.
Na nova escola mais uma vez estava sozinho com um único amigo na minha sala, porém tinha muita amizade com pessoal de outras salas, professores excelente, aulas complementares e o melhor, eu era livre para finalmente dizer quem eu era.
Foi o melhor tempo que tive na escola, desde as aulas no clube, a eletiva de estudo intensivo para vestibular, as festas e apresentações, os amigos que eu tinha principalmente fora da sala, enfim, foi um ano muito bom e que me rendeu até a oportunidade de passar no vestibular da UNESP.
Por conta de problemas pessoais não pude ir, mas agora estou aqui, na MaxPlanck, dando tudo de mim para que eu possa ser o que alguns dos meus professores foram para mim: alguém onde os jovens vão poder encontrar conhecimento, conselhos e apoio nos seus momentos difíceis.Recolher