Memórias do Comércio de São José do Rio Preto - 2020 / 2021
Entrevista de Selma Sueli Ferrassoli Mantovan
Entrevistada por Claudia Leonor Oilveira e Luís Paulo Domingues
São José do Rio Preto, 31 de maio de 2021
História de Vida: MC_HV088
Transcrito por Selma Paiva
(01:15) P1 - Se...Continuar leitura
Memórias do Comércio de São José do Rio Preto -
2020 / 2021
Entrevista de Selma Sueli Ferrassoli Mantovan
Entrevistada por Claudia Leonor Oilveira e Luís Paulo Domingues
São José do Rio Preto, 31 de maio de 2021
História de Vida: MC_HV088
Transcrito por Selma Paiva
(01:15) P1 - Selma, para começar eu gostaria que você falasse o seu nome completo, a data de nascimento e o local que você nasceu.
R1 – Selma Sueli Ferrassoli Mantovan, eu nasci dia 20 de agosto de 1965, em Tanabi, que é uma cidadezinha próxima a Rio Preto mesmo.
(01:36) P1 – Sim. E qual que é o nome do seu pai e da sua mãe?
R1 – Meu pai é Juvenal Ferrassoli, já falecido e minha mãe Maria Dirce Pasqualotto Ferrassoli.
(01:48) P1 – Legal, e seus avós, você teve contato com seus avós?
R1 – É, a minha avó faleceu recentemente, com 89 anos, né? Eleonora Grili Pasqualotto, faleceu recentemente e meu avô já faleceu há um tempo um pouco maior, mas a gente teve contato com todos eles, sim.
(02:08) P1 – Sim. Você sabe a origem da família, como que eles foram... chegaram nessa região? Eles vieram... sobrenome...
R1 – É, meu avô paterno veio da Itália, né?
(02:19) P1 – Itália. E os outros?
R1 – O meu avô paterno veio da Itália ainda criança e morou aqui em Guapiaçu, que é a região de São José do Rio Preto também, depois foi para a capital e retornou para São José do Rio Preto. Agora, o pai do meu pai faleceu muito jovem também, mas é de origem italiana também.
(02:39) P1 – Sim. Você teve, na sua infância ou na adolescência, tradições que vieram dessa origem italiana, assim, comida na sua casa, italiana, dança, música? Alguma coisa, festas...
R1 – Não, não. A gente foi criado assim... a gente morava em sítio, né, na região de Tanabi e os meus pais se separaram muito cedo, a gente foi... precisou trabalhar cedo, eu comecei a trabalhar ainda criança. (risos)
(03:07) P1 – Ah, entendi. E seu pai e sua mãe trabalhavam com o quê?
R1 – A minha mãe e meu pai tinham um sítio, né? Eles trabalhavam com colheita de café, eles plantavam e colhiam, para vender na cidade, né?
(03:23) P1 – Certo.
R1 – A gente era tudo criança, a minha mãe teve... casou muito jovem, com 15 anos e com 23 anos ela já tinha os cinco filhos e já estavam se separando. (risos) Então, a vida foi muito difícil. Aí a gente mudou para a cidade pequena, em Tanabi e depois para Rio Preto.
(03:39) P1 – Selma, da sua infância você lembra... você nasceu nesse sítio ou na cidade de Tanabi?
R1 – Nasci no sítio em Ibiporanga. Ibiporanga é uma cidadezinha bem próxima à Tanabi.
(03:53) P1 – Certo. E você lembra... o que você lembra das suas lembranças, suas memórias de infância nesse sítio, assim? Você consegue descrever, assim, mais ou menos como é que era, as coisas que você fazia, as brincadeiras?
R1 – É a gente subia em árvore, né, apanhava goiaba, manga, tudo nas árvores, a gente subia nas árvores, jaboticaba, já cai de cima do pé de goiaba, fiquei pendurada na cerca de arame farpado (risos) e a gente fazia as festinhas no sítio, que era boa festa de São João e os aniversários eram os bolos imensos, do tamanho da mesa, colorido, né? Eles eram azul ou cor-de-rosa, com aqueles chumbinhos coloridos e as mães dos sítios lá faziam doce de leite, doce de goiaba, aquele monte de doce, né, que era doce tudo caseiro e a gente só tinha... aquele bolo enorme, né, que eles faziam no sítio mesmo ou de vez em quando juntava o pessoal dos sítios da região, para fazer pamonha para festa junina, que faziam os docinhos tudo nas peneiras, que falavam, né, de enfeite e punha o mastro lá de São Pedro ou São João. Eram essas lembranças de criança que a gente tem, porque a vida da gente era um pouco difícil, né, quando a gente era criança, mas essa parte era boa.
(05:10) P1 – Era boa.
R1 – É.
(05:11) P1 – E depois, quando você foi para a cidade? Mudou para a cidade.
R1 – Eu fui para a cidade de Tanabi com sete anos de idade, na primeira série do primeiro ano, né, na primeira série, que antigamente falava primeira série, aí eu já fui para Tanabi. Aos oito, nove, eu já comecei trabalhar numa... de empregada doméstica, para ajudar minha mãe, que já estava separada do meu pai e aí trabalhava numa livraria que tinha que subir num caixote para alcançar o balcão, porque eu era bem pequenininha, né?
(05:40) P1 – Sim.
R1 – E, trabalhando com essa senhora até os 12 anos de idade e depois eu mudei para Santo André. Fiquei em Santo André até os 15 anos, trabalhando num boteco, que a minha mãe comprou um bar. A gente tinha as feiras que passavam na lateral. Então, a gente levantava às três horas da manhã, para servir os feirantes com comida, né? Fazia carne de panela, pão, essas coisas, eles já comiam de madrugada. Eu era boa na conta, minha mãe me deixava para fazer as contas, porque eu era boa na conta, na matemática e aos 15 anos nós voltamos para São José do Rio Preto, estamos aqui.
(06:14) P1 – Certo. Selma, o que você lembra da escola? Como foi a sua... é porque você mudou várias vezes, né, como você está contando, né? Mas como... o que você gostou da escola? Conta um pouco da sua vida escolar.
R1 – A escola na época de criança era muito boa, depois na época já da juventude é um pouco mais complicado, um pouco mais difícil, porque a gente trabalhava durante o dia para se estudar, desde a quinta série a gente estudava à noite, né, para poder ajudá-los... a mãe durante o dia. Então, a vida já era mais corrida, né? Depois que eu... aos meus 16 para 17 anos, que eu já entrei na Casas Pernambucanas, então, a gente trabalhava até às 18, 18 e vinte, saía correndo para entrar sete e vinte na escola. Então, a vida era muito corrida da gente, mas a gente tem os amigos, os paqueras, aquelas coisas gostosas de época de escola, em festa junina aqueles “correio elegante” que a gente fazia. Então, sempre isso teve na escola, nos tempos um pouco mais atrás ainda melhor que hoje, né? Porque hoje eles ficaram um pouco mais distantes, né? E na época eram muito boas as festas juninas, feira de ciências que a gente... trabalhos em grupos, isso era muito bom na nossa época aí, de adolescente.
(07:32) P1 – Certo. Selma, você lembra do seu primeiro salário que você ganhou?
R1 – Então, quando criança a gente não pegava salário, quem pegava era a mãe, né? (riso) Quando aí eu tinha uns nove, dez anos de idade, quem pegava era a mãe. A gente vivia numa situação muito difícil. Depois que a gente comprou o bar, foi para Santo André, as coisas foram melhorando. Eu me lembro do meu primeiro salário já registrado na Pernambucanas, que isso foi muito bom. Eu soube que eles estavam contratando e eu trabalhava na rua de vender... nas cidadezinhas pequenas, a gente ia de casa em casa oferecer as fotos das crianças, tirava foto e vendia para as famílias e eu não era registrada, né? O cara passava, a gente ia e eu queria um serviço registrado, aí foi o dia que eu fui na Pernambucanas e o gerente falou que eu era muito jovem, para ser vendedora precisava ter 18 anos, eu disse que eu precisava do trabalho e que ele fizesse um teste comigo, até que ele concordou em fazer um teste e me receber, aí eu falei: “Não, eu provo que eu sou boa nisso e você me dá uma experiência de sessenta dias”. Aí ele, então, me contratou para sessenta dias, para ver se eu dava certo. A gente... (08:45) 23 vendedores da Pernambucanas, uma loja de esquina com 23 vendedores tudo de trinta anos, vinte e cinco anos de empresa, estou lá eu entrando, menor ainda, para concorrer com esses vendedores que já eram, de fato, muito bons, né? Só que eu entrei com muita sede de vontade de vender, eu sempre gostei muito de vender e a minha sede era tão grande de vender, que eu fiquei em primeiro lugar nas vendas logo no primeiro mês e aí meu salário foi muito bom, porque a Pernambucanas vendiam muito bem. Eu recebi, assim, um salário que eu nunca tinha visto na minha vida, tipo hoje como se fosse 15, 14 salários-mínimos na época e o que eu ia fazer com tanto dinheiro, né, com a minha mãe na situação que a gente vivenciava? Então, foi mês de comprar geladeira, de comprar televisão para minha mãe, de comprar roupa, roupa de cama, a minha mãe... de comprar um monte de coisas, né? E primeiro mês, segundo mês eu achei assim... cheguei em casa e falei assim: “Mãe, tenho tudo isso de dinheiro”. Então, era muito dinheiro para mim, né?
(09:41) P1 – Sim.
R1 – Realmente era dinheiro, bastante dinheiro na época, dos assalariados, né? Porque a Pernambucanas a gente atendia hotéis, a gente atendia... que é diferente de hoje. Os hotéis compravam na Pernambucanas, os motéis compravam na Pernambucanas, aquele monte de lençol, aquele monte de toalha. Então, a gente vendia muito bem e ganhávamos comissão, que hoje já não ganha mais. Eu entrei, fui registrada na Pernambucanas no dia um de março de 1983. Então, já faz algum tempo que eu sou registrada lá, acredito eu que por volta de 38 anos (risos).
(10:13) P2 – Selma, e por que você escolheu a Pernambucanas?
R1 – Na realidade as cidades pequenas todas tinham Pernambucanas, né? É como diz, assim: ou você trabalha na Pernambucanas ou você trabalha no Bradesco, que você vai ter, né... conhecimento, a gente vislumbrava aquilo como grande emprego, de Pernambucanas ou Bradesco. Como eu não podia entrar no Bradesco, então eu optei por entrar na Pernambucanas e gostava muito da área de venda, de atender o cliente. Eu gosto ainda de atender o cliente, de estar com o cliente. Não gosto muito de computador, eu não gosto muito... eu gosto de ver gente, conversar com gente, lidar com vendas, de propaganda, essa coisa sempre gostei muito e eu me dei bem. E eu comecei a namorar meu marido, na época, na Pernambucanas, né? Eu com 17, ele com 14. (risos) Nós dois trabalhávamos...
(11:04) P1 – Sério?
R1 – ... na Pernambucanas. E ele, aos 18, fazendo tiro de guerra, foi para o Bradesco (risos) e eu fiquei na Pernambucanas. (risos) Quando eu tive meu filho pequeno, ele falava assim: “Ou vou trabalhar na Pernambucanas ou vou trabalhar no Bradesco”. (risos) Era a história que ele tinha, né, ou a Pernambucanas ou o Bradesco. E, realmente, na nossa época de jovem, as cidades, todas as cidades tinham Pernambucanas e tinha Bradesco. Hoje já não é mais assim, porque a Pernambucanas caiu muito do que era antigamente, porque houve também uma concorrência grande aí de Magazine Luiza, de outros, né, Walmart, de outras coisas, Carrefour, de outros grupos, né? E a administração da Pernambucanas, que aí a proprietária Helena Lundgren faleceu, deu uma regredida, ao invés de ter subido, né? Mas, para mim, ela foi uma grande escola, tá? Para mim e para meu marido foi uma grande escola, tudo que eu aprendi, aprendi lá, tudo que tenho, graças a Pernambucanas.
(12:04) P1 – Selma, essa Pernambucanas que você começou a trabalhar já era em Rio Preto?
R1 – Sim, em São José do Rio Preto, ela...
(12:12) P1 – Sim.
R1 – Na época era uma única filial, né, que depois abriu uma no shopping, na região norte, abriu uma outra na mesma... na rua de baixo, em outro lugar, que é uma loja maior e essa pequenininha que eu trabalhei fechou, eu fui transferida para debaixo, para outra rua e ela se encontra na loja até hoje, no piso... uma loja grande, um piso grande, mas, assim, quando me afastei pelo sindicato, a gente tinha uns cento e trinta funcionários e hoje ela está, assim, com bem pouco funcionário do que era na minha época. Hoje ela deve estar com uns 35 funcionários. Mas é uma grande empresa.
(12:53) P1 – Sim. Oficialmente, então, você ainda é uma funcionária da Pernambucanas?
R1 – Sim, sim, eu sou Arthur Lundgren Tecidos S/A. Não fiz um acerto ainda, né, sou registrada lá, ainda não deu baixa na minha carteira. Quando eu me licenciei pelo sindicato, que eles cortaram a comissão dos vendedores e me deu essa opção do licenciamento para o sindicato, com remuneração pela loja, né, porque eles estavam cortando as comissões e eu, como gostava de vender, gostava de fazer o meu salário, não concordei com ganhar um salário fixo bem menor do que eu ganhava, né? E aí eles me licenciaram pelo sindicato, eu sou licenciada, porém eu ainda recebo pela Pernambucanas. Até eles não me chamarem para fazer um acordo eu vou ficar, né? (risos)
(13:41) P2 – (risos) Está certo.
R1 – Eu gosto da Pernambucanas, para mim foi uma escola... a vida inteira, né, de Pernambucanas, para mim foi, assim, a minha vida, né? Porque eu comecei namorar lá, casei lá, tive filho lá, né? Tive um filho só, tive um filho lá. Então, para mim foi a minha vida inteira. A gente gostava de festa, de reuniões, quando reunia a turma, aniversariantes do mês, aniversário da semana, festa de final de ano, confraternização, eu tudo... ajudava, tudo eu estava dentro dessas reuniões, que eu gostava muito e faz parte da minha vida.
(14:17) P2 – Selma, você caracterizou bem que quase toda cidade tinha o Bradesco e a Pernambucanas, né?
R1 – Sim.
(14:25) P2 – Assim, já que é uma entrevista histórica, descreve para a gente, assim, o que significava ter uma Pernambucanas, a cor da logomarca, que tipo de produto vendia, assim, como que era: feminino, masculino? Explica para a gente como é que era a loja.
R1 – Essa loja que eu entrei era uma das primeiras lojas que foi fundada aqui, a Pernambucanas tem aí 105, 106 anos e essa loja teve ali uns noventa anos. Na frente dela ela era ainda em branco e preto. Quando eu estava entrando eles estavam reestruturando, que na frente era uma rua de terra, que amarrava cavalo de gerentes ainda na...
(15:04) P2 – Ah!
R1 – Um pouco antes de eu entrar, né? Então, tinha lá histórias, os quadros, que ela tinha uma lateral de terra ainda, a rua, que depois que foram colocando paralelepípedo para reestruturar a frente e aí foi mudando, né, que ela era em branco e preto, aí que ela passou a ser amarela e azul, porque ela era bem amarelona. E, quando eu entrei na Pernambucanas, o meu sogro, hoje o meu sogro, havia trabalhado muitos anos na Pernambucanas e um tio montou uma Embalagens e o levou para trabalhar na Embalagens e meu sogro trabalhava com a perua amarela nos sítios, pintava as porteiras de “Casas Pernambucanas, onde todos compram”, né? Casas Pernambucanas, onde o tecido era o melhor que tinha, né, na época a gente trabalhava muito com tecido, né, que eles tinham, usavam que os olhos da Pernambucanas não desbotava nunca, o tecido, né? Então: “Quem bate? É o frio. Não adianta você bater, que eu não deixo você entrar” e essas coisas, eles usavam muito essa logomarca e eles pintavam todas as porteiras dos sítios da região aqui de Bonifácio, Mendonça, de toda nossa região: Tanabi, Mirassol, eles pintavam todas as porteiras de amarelo Pernambucanas e a perua que ia fazer esse trabalho é a que meu sogro dirigia e ele buscava os gerentes na região. Meu sogro deve ter trabalhado em torno de uns 15 anos, mais ou menos, inclusive ele trabalhou com o presidente da federação muito antigo, que era o Paulo Lucania, Doutor Paulo Lucania que todo mundo conhecia, ele também era de Bonifácio, trabalhou na Pernambucanas na mesma época que meu sogro, aí ele saiu para ser presidente do sindicato e depois assumiu a federação de São Paulo e, na mesma época, meu sogro trabalhou com ele. Quando meu sogro saiu da Pernambucanas, ele colocou meu marido no lugar dele, aí meu marido entrou na Pernambucanas, acho que com 12 para 13 anos de idade e, naquela época, os meninos do pacote usavam gravatas, tinham que cortar o cabelo curto, usavam camisas de manga comprida, sapato e a molecada não gostava, eles gostavam de cabelo comprido, né? E aquilo, usar gravata, para eles, para trabalhar no pacote, era um sufoco, né, mas tinha que usar, não tinha outro jeito. Eles tinham um pacote, porque as notinhas não eram por computador, né, era notinha manual, então eles tinham que ticar as mercadorias que passavam pelo caixa. Então, tinham dez meninos no pacote que ticavam, inclusive meu marido ticava as notinhas que a gente vendia, no pacote. A gente tinha aquelas bancas enormes de retalho na Pernambucanas, que quem vendesse os retalhos ganhava prêmio. A gente colava as etiquetas no papel, para ganhar os prêmios no final de semana, né? E eles tinham uma tradição em vender retalhos, a Pernambucanas e os vendedores antigos não gostavam muito. Então, a gente, como era nova, acabava pegando e vendendo. Então, toda semana você recebia lá, não eram trezentos reais, né, mas era como se fosse trezentos cruzeiros, sei lá que dinheiro era aquele, mas a gente ganhava graninha que dava para semana, vendendo esses retalhos na Pernambucanas. Eles usavam logotipos que não desbotavam nunca, né, o tecido era o melhor que tinha e realmente a Pernambucanas tinha um cliente fiel. O do sítio, por exemplo, que chegava para fazer enxoval, eles compravam enxoval. Eles compravam aquelas camisas de mescla para usar na roça, aquelas calças jeans, que era US Top, quando saiu, né, logo que saiu que era...
(18:37) P2 – Ah, US Top!
R1 – ... o jeans tradicional US Top. É, era US Top, né, que era um jeans bem seco e aquelas camisas de mescla para eles usarem na roça. Aí o pessoal vinha de sítio, parava lá aquelas caminhonetes velhas ou então o carro lá, eles compravam duas dúzias de lençóis prata, ouro, aqueles lençóis bons, toalha boa, que a Pernambucanas tinha muito isso. Eles compravam duas, três dúzias de camisas de mescla, as calças US Top para trabalhar ou pra passear, sei lá. A Pernambucanas tinha essa tradição de clientes e os clientes são muito fiéis. Eu tenho cliente que me cumprimenta ou que fala comigo por Facebook até hoje! Que há muitos anos comprava comigo lá, quando eu era criança ainda e eu tenho contato com eles ainda ou quando eles me encontram, ainda, a gente ainda conversa. Então, eles eram muito, o cliente Pernambucanas era muito fiel. Hoje não existe mais isso, porque hoje não tem mais aquela qualidade no atendimento, que nem tinha antigamente. Era fidelidade, a Pernambucanas tinha muita fidelidade do cliente, ele não comprava em outro lugar, ele comprava na Pernambucanas, ele vinha uma vez por ano, duas vezes por ano, mas ele comprava na Pernambucanas.
(19:51) P2 – Selma...
R1 – Isso era muito bom para nós, que ganhávamos comissão.
(19:54) P2 – E eles procuravam, assim, o vendedor que gostava, que tinha afinidade?
R1 – Sim, sim, com certeza, esperava, se a gente estivesse almoçando, se a gente estivesse em horário de almoço, eles sentavam e esperavam ou então eles iam fazer outra coisa e voltavam, para esperar o vendedor que eles tinham preferência. E quando a Pernambucanas começou a departamentalizar, eles não gostaram, porque o cliente entrava na loja, eu o atendia em todos os departamentos, tudo que eles queriam comprar. Quem vinha fazer enxoval, por exemplo, faziam o enxoval, era aquelas caixas de enxoval que compravam. Hoje não, ele compra dois jogos de toalha e dois de lençol, né? Mas eles compravam desde meia dúzia de jogo de camisola, uma dúzia de jogo de lençol, uma dúzia de jogo de toalha. Então, quando você pegava o enxoval era fantástico, a comissão era gorda (risos), era muito boa. E hoje não, hoje quem faz enxoval é o básico e a própria pessoa que faz, não são mais os pais, né? Eles compram dois lençóis, duas toalhas e está bom. Antigamente não, eles eram muito... o cliente da Pernambucanas era muito fiel. Até que eu desci para a outra loja, departamentalizou, fiquei no departamento só de eletros, assim mesmo eu tinha bastante cliente fiel, até os últimos tempos eu ainda tive bastante cliente que me procurava, que esperava, que me ligava, se eu ia estar na loja, para poder comprar. Então, isso é muito bacana de você ter, essa fidelidade do cliente. Hoje já quase não existe mais, eles não são mais fiéis.
(21:26) P1 – Selma, essa característica era uma coisa muito comum, né, nos anos cinquenta, sessenta, setenta...
R1 – Sim.
(21:33) P1 – Acho que até o comecinho dos oitenta, né? Do cliente conhecer o vendedor pelo nome e fazer questão de comprar com ele, né? Os comércios mais antigos tinham essa tradição. E, por que será que acabou isso?
R1 – Sim, eles iam comprar na loja no final do ano, a gente ganhava leitoa, limão, cacho de banana, sacolas de manga. Quantas vezes eles chegavam com... era um carinho que eles faziam, né? Até com leitoa a gente ganhava, até garrafão de vinho. Então, eles tinham aquele apego com o vendedor que o atendia, ele falava que atendia praticamente o ano inteiro, né, mas eles não vinham tanto na loja, mas quando eles vinham, eles gastavam bastante e eram bastante fiéis. A Pernambucanas eu acho que, no atacado e varejo, lá atrás, lá atrás, bem lá atrás, na década de sessenta, setenta, oitenta, eu acho que era uma das únicas empresas que tinha essa fidelidade, porque ela vendia desde máquina de costura lá, em 24 pagamentos, para o cliente, né, até o retalho, até uma toalhinha, qualquer coisa ela atendia o cliente de uma certa forma, no todo, né?
(22:47) P1 – Sim, sim.
(22:48) P2 – Selma, e essa 24 vezes era o quê? Crediário, era cheque pré-datado?
R1 – Não.
(22:54) P2 – O que era?
R1 – Não existia cheque, não tinha cheque, era um carnezinho que se fazia, que vinha o olho da Pernambucanas lá, era um carnezinho e eles adoravam esse carnê Pernambucanas. Era o carnê Pernambucanas bem, bem antigo, depois que foi pondo cartão de crédito, foi pondo outras coisas, mas na nossa... nessa época nem existiam os cheques ainda, era só... nem boleto, nada disso, era só carnê mesmo. Elas vinham, faziam o carnê, aí depois elas remontavam, faziam outro carnê, outro carnê, tinha gente que vinha com três, quatro, vinha pagar um carnê e fazia outro carnê, era assim que eles vendiam antigamente.
(23:28) P2 – Fazia outra compra... ia pagar o carnê e já fazia outra compra.
R1 – Sim, com certeza.
(23:35) P1 – Selma...
(23:35) P2 – Era uma forma de fidelizar também, né?
R1 – Sim.
(23:39) P1 – Sim. Você acha que, com relação ao comerciário, a pessoa que trabalha no comércio, essa época que você está contando para a gente era mais vantajoso você trabalhar no comércio naquela época, do que hoje?
R1 – Sim, com certeza, muito vantajoso, porque primeiro que você tinha o cliente que era fiel a você e que isso hoje não tem, né? Segundo que você ganhava comissão. Hoje a maioria das lojas tiraram a comissão. Umas trabalham por produtividade, outras por autosserviço e atendimento.
(24:18) P1 – Sim.
R1 – Então, o colaborador tem um salário fixo, às vezes uma gratificação, em algumas lojas, outras nem isso. Eu conheço, por exemplo, pessoas que entraram no comércio, que trabalham no comércio o tempo todo, aí, por exemplo: dezembro, o dezembro nosso a gente recebia três salários de outro mês, quatro salários e hoje eles só trabalham mais, eles ganham até menos, porque o cliente circula, circula e compra onde ele bem entender e não tem mais a comissão. Começou, se não me engano, com a Riachuelo, que começou o autosserviço primeiro, né? Ela começou o autosserviço primeiro, aí a Pernambucanas copiou, aí veio Renner, veio Havan, vieram outras lojas, tudo com produtividade ou então tudo com autoatendimento e foram cortando as comissões, né? Hoje bem poucas empresas pagam comissões e o vendedor que ganha comissão, ele é mais satisfeito, porque cada cliente que ele atende, vai um pouquinho para o bolso dele, ele tem ciência disso. Então, para o colaborador, para o vendedor, a comissão é muito importante, para empresa também, é que a empresa não tem essa visão, se ela tivesse essa visão... porque o último mês que eu trabalhei na Pernambucanas, eu até falei com diretor de Recursos Humanos: “Roosevelt, você me deu uma cota de noventa e três mil reais, eu vendi duzentos e quarenta oito mil e quinhentos, eu dei prejuízo para a empresa? Não, eu dei lucro para a empresa, eu dei muito lucro para a empresa, você não me pagou um centavo a mais”, mas até aí eles entenderem uma administração que mudou, né? A cabeça deles entender que, com o meu salário, ele ia contratar dez Valérias para pôr no departamento, mas ele precisava de dez Valérias para vender o que eu vendia, mas ele achava viável ter dez Valérias. Então, fica difícil, né? Mas eu acho que o empresário que pensa no colaborador, o colaborador trabalhar também com garra, determinação, com vontade de atender o cliente, porque hoje você vê a maioria das empresas não tem mais aquele vendedor que tem vontade de atender o cliente. Se ele comprar tudo bem, se ele não comprar é um favor, porque ele não vai ter que separar a mercadoria para entregar, ele não vai ter o desgaste do pós-venda. Então, tudo bem para ele, se ele não comprar, ele vai ganhar a mesma coisa. Então, para a empresa não é assim, você ter um vendedor, um bom vendedor treinado, que gosta daquilo que faz e que vende bem, para ele é interessante, porque ele vai pagar a comissão para aquele vendedor, vai valorizar aquele vendedor, por contrapartida o vendedor está pondo a empresa lá em cima, né?
(26:51) P1 – Certo.
R1 – Mas alguns não pensam assim.
(26:54) P1 – Selma, e é possível, você dentro do sindicato, o sindicato conseguir, vamos dizer assim, uma volta à essa época, no sentido do trabalhador ser mais valorizado, conseguir ganhar a comissão de novo, é possível o sindicato pressionar as lojas a fazerem isso de novo ou não é o papel?
R1 – É, já teve uma época que a gente tentou falar com alguns empresários, né, da dificuldade do vendedor, né, porque, assim, você vai nas lojas hoje, você não é mais bem atendida. Então, mostrar isso para a empresa, mas eles dizem para a gente que os tempos mudaram e que hoje as pessoas procuram os autosserviços, né? Ser mais rápido, mais prático, não precisa pagar comissão, o vendedor... vai trocando de vendedor, né, eles não têm mais aquele vendedor também fiel na empresa. Se o vendedor está hoje trabalhando na Pernambucanas e amanhã as Casas Bahia, Riachuelo ou outra oferecer um pouquinho mais para ele, ele também vai, ele também troca. Então, não tem mais a fidelidade. Por exemplo: eu trabalhei no departamento da Pernambucanas lá, de vendas, 22 anos direto, eu trabalhei lá 22 anos direto, gostava muito do que fazia e graças a Deus eu achava que a minha remuneração era boa por aquilo que eu fazia, porque meu horário, eu entrava a sete da manhã e, se necessário, saía às sete da noite, não tinha problema nenhum, às vezes 15 minutos de almoço, que hoje as pessoas fazem duas horas, três horas, porque não ganham comissão, né? A gente comia bem rapidinho. Quando era época de saldão, de muita cliente na loja, punha uma coisa fácil dentro do bolso ou dentro da gavetinha, para comer ali mesmo, para não ter que sair do departamento, para não perder venda, para não perder cliente. Hoje ninguém faz mais isso, né? Se eles tiverem que fazer duas horas de almoço, três horas, eles vão fazer, porque não ganha nada por isso. Eu acredito que as empresas hoje não voltariam mais com a comissão, com a remuneração de premiação. Quando a gente tinha aqueles 23 vendedores, quem ficava em primeiro lugar ganhava, além do que você ganhava, ainda você ganhava mais um salário-mínimo de... por ter ficado em primeiro lugar, né? Hoje não tem mais isso. Premiação de vendas de retalho, de máquina de costura, “n”s premiações a gente tinha, de viagem. Eu fui, eu ganhei uma viagem numa promoção da CCE, que era uma marca de componentes, assim, um pouco, até não é assim, né, muito das melhores, mas a gente tinha que vender, para poder ganhar a premiação. Aí eles falaram que, quem ficasse em primeiro lugar, ganhava um carro e do segundo colocado até o décimo, até o vigésimo segundo, ia para Manaus, com cinco dias, tudo pago. Eu falei: “Opa, eu quero ir para Manaus, né? Quero ir para Manaus com tudo pago”. E batalhei para isso. A gente tinha que vender aqueles walkmans horríveis, uns amarelinhos que tinha, uns aparelhos de som, mas eu batalhei para isso e realmente eu consegui, fui para Manaus, a gente foi lá para Parintins, ficamos num hotel que já fechou em Manaus, que era no meio da floresta amazônica, chamava... Tropical, ele fechou...
(30:13) P1 – Eu vi...
R1 – Acho que há uns três, quatro anos atrás, eu até vi no Fantástico, fiquei triste demais que fechou, a gente ficou cinco dias lá com tudo pago, fizemos aquele passeio do Rio Negro para o Rio Solimões, fomos naquelas palafitas, nas casas dos índios, um passeio fantástico, com tudo pago pela CCE, fomos nas fábricas da CCE na época. Então, foi assim, a gente ganhava essas premiações, né, de TV, um monte de coisa. Tudo quanto é concurso que tinha, de vendas, a gente ganhava e isso era muito bacana. E eu fui nessa viagem, meu filho hoje tem 27, na época acho que ele tinha uns dois aninhos de idade, mas foi uma viagem inesquecível para a gente e a gente não gastou um centavo do bolso, foi fantástico. Então, hoje não tem mais nada disso...
(31:00) P1 – Sim.
R1 - Eles não fazem essas promoções, essas premiações, o vendedor tem que se fazer de _______ (31:04). Ainda entrou hoje garantia estendida, que você é obrigado a vender, a enrolar o cliente, para colocar na nota do cliente, porque tem a cobrança por trás disso. Logo que eu saí foi introduzido isso, né? Que você tinha que vender, por exemplo, um celular e esse celular têm 12 meses de garantia, por contrapartida você tinha que implorar... implorar não, praticamente colocar na venda do cliente mais uma garantia de 12 meses e ele pagava mais duzentos ou trezentos reais lá, você dividia, fazia um pacote e tentava enrolar o cliente, né? Isso eles são praticamente obrigados a fazer hoje, um vendedor de Casas Bahia, um vendedor de Magazine Luiza. A Pernambucanas não, porque ela tirou o departamento de eletro, né? Mas na época que eu me afastei ainda a gente tinha o departamento de eletro, que a gente também era obrigada a fazer isso e essas garantias estendidas que você vendia aí por trezentos reais, quatrocentos reais, duzentos reais, você ganhava uma comissão de setenta centavos, um real e vinte...
(32:05) P1 – Sei.
R1 – Então, era uma forçação de situação, né?
(32:09) P1 – Sim, sim. (risos)
R1 – Faz parte.
(32:11) P1 – Selma, e como foi a sua entrada no sindicato? Conta para a gente, assim, como você resolveu participar e ser da diretoria.
R1 – Então, na realidade, quando eu fui convidada para fazer parte da diretoria, por um presidente que já faleceu, que é o Marcos Antonio Pereira, ele esteve lá na Pernambucanas e falou: “Olha, a gente tem o sindicato, a gente precisa de pessoas que trabalham no comércio, para fazer parte dessas reuniões e tal”. Eu falei: “Ah, não, mas minha vida é muita corrida, né, não dá para eu fazer parte disso, porque eu corro para cá, corro para lá e gosto de ir na academia, sou apaixonada por academia e eu tenho que ir na academia, tem que ir na piscina no final de semana”. “Não, mas isso não vai tomar tempo seu, não, a reunião é uma vez por mês, é uma reunião depois do horário, não vai tomar seu tempo, é só para você ter ciência de tudo que acontece, tal, tal e dos eventos”. A gente teve uma gincana com o Sesc, eu participei, eles gostaram, logo o Sesc veio para Rio Preto. Aí ele falou: “Não, é só para você estar realmente colaborando”. Aí eu falei que não ia entrar, no fim ele, na segunda visita, me convenceu a fazer parte, que não ia tomar muito o meu tempo e eu acabei indo, então, fazer parte das reuniões, né, de convenção coletiva, quando se tinha alguma coisa para a gente participar da reunião ele convocava e a gente ia, mas era sempre pós o horário de trabalho da gente, não me atrapalhava e aí eu acabei fazendo parte dessa reunião e um pouco mais tarde, quando eu precisei me afastar, que eles fizeram o afastamento para eu trabalhar, me afastar, me licenciar, para eu ir para o sindicato. Na época, assim, a gente se sente muito inútil, muito assim, né? A minha vida era Pernambucanas, né, a gente, como se diz o ditado: tomava café, almoçava e jantava Pernambucanas, (risos) gostava daquilo que fazia. Então, no início, para mim, foi muito difícil, fiquei assim um pouco “deprê”, um pouco insegura, mas depois eu me habituei, me acostumei com a ideia, comecei a organizar excursões para colônia de férias para a Praia Grande, é uma coisa que eu gostava, de reunir pessoas, de turma, fazer o povo ficar feliz, né? E a gente reunia a turma, montava os ônibus, tanto para eventos das mulheres, quanto para excursão mesmo, que a gente cobra aquele valor, divide, né, loca o ônibus e faz todo o processo para... a federação tem uma colônia de férias na Praia Grande e a gente faz as excursões e aí a gente começou a montar, começou a gostar e começou a participar de outros eventos também e aí foi indo, que eu fui para o sindicato, estou aqui, gostei, gosto e faço.
(34:56) P1 – Muito bom. E quais são as outras atividades, né? Tem atividades de diversão, né, como você disse de excursões e atividades de defesa dos interesses dos comerciários, né?
R1 – Sim, sim. Quando a gente tem algum problema nas empresas, eles ligam para a gente, a gente vai fazer averiguação ou fala com o departamento jurídico, ou a gente mesmo, às vezes, vai fazer a visita na empresa, para ver se é aquilo, a gente faz assembléias com bancos de horas, com regulamento de horário, né, a gente faz a visita para... com a empresa que é o... os funcionários, às vezes, não estão de acordo com aquela exploração de horário ou alguma coisa que está irregular dentro da empresa, a gente tenta averiguar e tenta resolver a situação da melhor maneira possível, porque primeiro que a gente precisa também do empresário, né, e sem o empresário não tem o emprego. Então, a gente tenta ouvir os dois lados da situação. É óbvio que a gente sempre está ali por causa do colaborador, né, do funcionário que a gente representa, o nosso sindicato representa os funcionários, né? Então, a gente tenta, da melhor maneira possível, ajudar o colaborador, ou quando não recebeu o feriado, ou quando, então, tem um acordo de prorrogação de horário e não está sendo cumprido, a gente faz a visita, passa para o jurídico e tenta, da melhor maneira possível, estar resolvendo isso. O nosso sindicato é bem forte, bem atuante, né, a gente tem bastante benefícios, como a gente tem clube de campo; tem clube social; a gente tem aula de zumba; a gente tem escolinha de futsal, que a gente começou aí com oito, dez crianças, hoje a gente está com umas noventa crianças, né? No momento está paralisado devido a pandemia, mas as mães vão levar as crianças, enquanto as crianças fazem futebol elas fazem a zumba, a gente coloca atividades paralelas pra elas também, mas lá no prédio de benefícios a gente tem salão de cabeleireiro, a gente tem dentista que faz a limpeza, obturação, por um precinho bem simbólico, né? A gente tem o Departamento Jurídico que atende lá, a gente tem o Departamento da Secretaria, que é onde a pessoa vai nos procurar para denunciar, tanto por telefone, quanto presencialmente, né? Então, a gente... a nossa vida no cotidiano é bastante corrida. Nós tivemos uma parceria, esse mês a gente fez a campanha - acho que a Marcia deve ter comentado - da doação de sangue, né, espalhando amor... Espalhando Sangue por aí. A gente tem a campanha Espalhando Amor por aí” que é de alimentos e agora a gente fez a de sangue, que se encerra hoje, né? As pessoas que fossem comerciárias, que fossem doar o seu sangue, doaria a bolsa de sangue, que salva quatro vidas e, por conta disso, a gente também daria uma cesta básica para ele. Nós fizemos seiscentas cestas básicas, para estar distribuindo durante o mês de maio. Então, o sindicato tem sempre essas campanhas. No mês de outubro a gente faz o Mês do Comerciário, a gente faz das crianças. Então, a gente tem campanhas constantemente. A gente fez a campanha da doação de cabelo, que a gente colocou a cabeleireira cortando os cabelos, para doação para o Hospital de Barretos, a gente fez Mês do Comerciário também voltado para o câncer de mama. Então, a gente tem... nesse último ano, devido a pandemia, os nossos eventos ficaram bem baixos, né, que a gente faz café da manhã das mulheres, a gente faz das mães. Esse ano foi tudo bem restrito, né? O das mulheres a gente fez só para as colaboradoras, para as funcionárias, bem restrito, né? A gente acabou não fazendo o do comerciário. Mas a gente é um sindicato bem atuante, a gente tem eventos constantemente. A gente teve eventos em Avaré, que chegou a levar quatrocentas mulheres, no Dia da Mulher, em Avaré, onde a gente teve show do Fala Mansa, a gente... então, as a mulheres se sentem valorizadas, o Ed Buffet, que é um buffet daqui, foi lá para estar fazendo o buffet. Então, as mulheres se sentem... a palestra motivacional a gente já teve com a Nelma Penteado, que ela fala da valorização da mulher, né? Uma palestra bem bacana. Então, o sindicato com a federação, sempre faz o evento voltado para as mulheres, para os trabalhadores, no dia do comerciário, no mês do comerciário, que é no mês de outubro. Então, o sindicato é forte, é atuante. Tem sindicatos, outros sindicatos aí que não visa isso que a gente visa. A gente tem academia, que a gente trata lá o colaborador, o comerciário, que ele precisa, né, fazer uma atividade física, que hoje é muito importante, né, ainda mais nas atuais circunstâncias que nós estamos vivendo, né, com a pandemia aí, é mais importante ainda.
(39:47) P1 – Sim.
R1 – Eu prefiro levantar cinco, quatro e meia da manhã e cinco horas, cinco e pouco estar na academia, que eu já fiz hoje, já treinei (risos), já malhei, já fiz a minha parte, né? Mas eu gosto muito e...
(40:00) P1 – Sim.
R1 – Eu faço musculação há uns 36 anos, mais ou menos, direto, mas já fiz de tudo, até capoeira eu já fiz. (risos) Eu gosto muito.
(40:10) P2 – Selma, e essa atuação frente à pandemia, assim, como é que vocês se mobilizaram, assim, quais foram os desafios e aprendizados?
R1 – Eu falo desde, no trabalho, né e na vida pessoal da gente, porque a gente é bastante agitada, gosta muito de evento, de festa e tudo foi cancelando, cancelando, né? Para a gente foi muito difícil. O sindicato ficou um período um pouquinho fechado, né? Salão não podia atender, academia não podia atender, mas nós da linha de frente, a gente acabava atendendo parte de telefone, as empresas que faziam o afastamento do colaborador e o colaborador tinha dúvidas, então a gente tinha que estar lá, para poder estar tirando a dúvida do colaborador. Nós tínhamos também empresas que tinham dúvidas, escritórios que tinham dúvidas de como agir, né, com a situação. Então, nós da linha de frente e mais o jurídico, ficamos de plantão, então a gente não se afastou. Algumas pessoas foram, assim, pegando, a gente teve uma morte, duas mortes: a mãe de uma colaboradora e uma ex-gerente nossa do salão, que veio a óbito também pela Covid, pessoa jovem, tinha menos de cinquenta anos. Então, a gente ficou bastante assustada. E recentemente nós tivemos as manicures, as colaboradoras que acabaram, também, pegando, porque o salão voltou a atender, né? A gente... é muita gente que lá se atende, mesmo com todo o cuidado que, né, a gente colocou todas as regrinhas lá, mas mesmo assim nós tivemos alguns casos, mas a gente sempre com bastante critério, com muito cuidado, né? Com muito cuidado em tudo, porque a gente não é mais jovem né e tem mãe, né? A minha mãe teve um infarto, então, a gente tinha muito medo, né? Não podíamos deixá-la sozinha, porque a mãe dela tinha falecido e ela falava assim: “Eu não queria ficar sozinha”. Então, os filhos tinham que ir lá vê-la, não tinha jeito. A gente falava: a gente que tomar o maior cuidado, mas tem que ver, não tem outro jeito, de pessoas que ficaram afastadas, né, a gente não tinha como ficar afastada, porque ela já mora sozinha, tinha tido um infarto recente, então a gente tinha que continuar visitando, não tinha jeito e a gente tinha que continuar trabalhando. Então, o negócio foi usar luva, máscara, álcool em gel e se cuidar muito, né, mas não teve como parar, né, a gente teve que seguir adiante. Graças a Deus eu não peguei, já tomei a primeira dose da vacina, né, tenho um probleminha de pressão alta, então, consegui tomar, né, a primeira dose, meu marido também, mas eu falo assim: “A gente teve medo, sim, muito medo, mas não deixamos de trabalhar. A gente deixou, sim, de viajar, de frequentar festas, eventos. As minhas férias de maio do ano passado eu tinha comprado uma viagem para Maceió, que mudamos para abril desse ano, abril desse ano a gente também não conseguiu, a programamos para setembro, a gente não sabe se vai ou não vai, né? Meu filho ia marcar casamento, também não marcou, ficou aí enrolado. A gente tinha quatro casamentos que éramos padrinhos, todos do ano passado mudou para esse ano e desse ano já mudou para o ano que vem”. Então, a vida foi assim, a gente foi se adequando, né? A situação que a gente vem vivenciando, que não é fácil e teve medo, teve muito medo, a gente fica com muito medo, muito angustiada e a gente não pode passar isso para as pessoas, né, de muito medo, muito pânico, muito angustiada, a gente tem que tentar se segurar um pouco mais, mas que não é fácil, não. A pandemia mexeu com todo psicológico das pessoas, todo mundo, né, que é difícil, não é fácil. Meu filho trabalha num material de construção e ele, em nenhum momento, parou de trabalhar, então, trabalhou constantemente. Ele é engenheiro civil, mas na época só fez o estágio, não conseguiu nada na área e está nesse material de construção desde jovem e está lá, vendendo. Como a mamãe dele sempre gostou de vender, então está vendendo, mas estamos aí.
(44:21) P1 – Legal. Selma, o que você gosta de fazer, quando você não está trabalhando? Sua diversão, assim, em Rio Preto, assim, o que tem de bom para fazer?
R1 – A gente gosta de festa, muita festa, muitos amigos. Se não tem festa, não tem amigos, a gente faz em casa, faz churrasco, vai para o clube e junta a turma, a gente fez o encontro das sindiquetes, a gente faz... teve o encontro das mulheres, a gente foi montando esses encontros cada vez na casa de uma, junta aí trinta, quarenta mulheres para comemorar, para fazer festa, a gente faz no clube, a gente gosta de festa, mas eu curto academia, gosto muito de fazer academia, gosto de andar de bicicleta, gosto muito de tomar sol. Tem aqui perto Thermas dos Laranjais, quando está... não está na pandemia, a gente vai muito, que é pertinho da... quarenta minutos aqui de Rio Preto. Como eu gosto muito de praia, muito de sol, muito de viajar, então, a gente acaba indo de vez em quando. Ou tem o nosso clube também, que a gente vai, mas eu gosto de família, gosto de reunião de família, gosto de amigos, eu não gosto... gosto muito de gente, muito, muito, muito, muito de gente, muito de amigos. Eu tenho amigo que é cliente, tenho amigo que é do sindicato, tenho amigo que é funcionário, tenho amigo que é amigo da minha amiga, sabe, assim? Eu vou viajar, eu... estava eu e meu marido encontrei uma amiga no lanche: “Vamos para Porto de Galinhas?” Ela falou: “Vamos! Vamos, sim, vamos?” “Vamos”. Então, no fim, ia eu e meu marido e de repente a gente estava com três, quatro casais, de uma semana para outra, a gente marcou com quatro casais e fomos para Porto de Galinhas. “Vamos para Maceió?” “Vamos”. Vamos eu e meu marido: “Ah, vou levar meu filho e minha nora”, mas assim mesmo a gente já chamou mais uns três casais de amigos. Eu gosto muito de gente, muito de gente. É por isso que eu gostava de levar as excursões para Praia Grande, porque os ônibus são de dois andares, então, são sessenta pessoas, né e daí, daquelas sessenta pessoas, sempre acaba fazendo amigos, né? Eu tenho amigas que trabalharam comigo em 1985, 1986, na Pernambucanas, que a gente é amiga até hoje, a gente faz hidro junto, vai viajar junto, vai para o rancho junto. Então, assim, eu gosto de novos amigos, mas eu adoro os amigos antigos, né, que a gente consegue preservar, né? Então, eu gosto muito de pessoas, de gente, de gente, gosto de tudo que tem gente. (risos)
(46:51) P1 – Muito bom. Selma, e quanto as perspectivas para o futuro, assim, o que você sonha para o futuro, assim, porque você vai continuar no sindicato, né? O sindicato tem uma maneira de funcionar, que vai continuar mais ou menos a mesma coisa, né? E quanto a você, assim, pessoalmente, para o futuro?
R1 – Eu pretendo continuar mais um pouquinho, porque acho que sou jovem ainda para parar de trabalhar, né? (risos) Eu pretendo continuar mais um pouquinho, aí eu falo assim: “Quando eu me aposentar de verdade...”, porque me aposentar por tempo de serviço já me aposentei, né, mas quando eu me aposentar de verdade, eu quero viajar muito, muito, muito...
(47:32) P1 – Sim.
R1 – ... conhecer muitos lugares, viajar muito, porque eu gosto de viajar muito, então...
(47:39) P1 - Sei.
R1 – Quando eu me afastar, quando eu conseguir casar meu filho, né, estou construindo a casinha dele, casá-lo e ele ficar bem, porque eu só tenho um filho, eu quero viajar muito, aproveitar muito aquilo que, quando a gente era jovem, que a gente não tinha realmente condição, né, financeira de estar fazendo isso, que hoje a gente tem uma condição um pouquinho melhor, porque a gente trabalhou bastante para isso, então eu quero passear bastante, eu pretendo passear bastante. (risos) Mas eu pretendo trabalhar mais um pouco ainda.
(48:11) P1 – Legal, muito bom. Claudia, você tem mais alguma pergunta?
(48:17) P2 – Eu tenho duas perguntas. Eu vou voltar lá na Pernambucanas ainda, né, porque além dessa venda toda, porque a gente tem alguns relatos, Selma, que essa questão além da forma de pagamento, né, que eram bem diferentes, tinha uma seção, assim, de pacote, de fazer aqueles pacotes lindos, maravilhosos, com laços, era uma arte fazer pacotes, né?
R1 – Sim, tinha sim, tanto que na época que eu entrei, eles tinham... na época que eu entrei tinham dez pacoteiros, tinham dez meninos que faziam pacotes, né? Tudo bem que as notas eram manuais, tinham que ticar, mas todo mundo que ia comprar o presente, eles queriam realmente aqueles pacotes bonitos, com laço, decorados, punha a etiquetinha da Pernambucanas lá. Então, era todo... eles queriam muito isso, qualquer presente que se comprava nas Pernambucanas, eles queriam todo aquele pacote bonito, que hoje já não tem mais nada disso, né? É um saquinho feio lá, que eles jogam dentro e tudo bem, mas na época não, era tudo embrulhado, tudo passado fita com laço, era a tradição da Pernambucanas, isso e o cliente gostava disso, então, realmente... aí foi saindo, saindo, saindo, no fim é o vendedor que, se vacilasse, tinha até que digitar no caixa e receber, não só fazer o pacote, mas ele tinha que digitar e receber. Tentaram, né? É que não deu certo, mas eles tentaram deixar o vendedor como caixa empacotador. Até que como empacotador dava, agora, como caixa não dava, porque às vezes, você entrava no caixa para digitar a sua venda nos últimos tempos, vinham mais três ou quatro clientes que queriam pagar o carnê. Como não tinha o caixa, o vendedor que estivesse, que tinha que se ferrar. Ele ganhava comissão, mas se ele pegasse cinco, seis carnezinhos para receber, ele perdia o cliente que ia comprar. Então, ficou muito difícil. Aí nós não aceitamos, né? Entramos em contato com o sindicato, que não era nosso trabalho ser caixa, né e aí a gente conseguiu que eles voltassem o caixa lá e a gente continuou só na área de vendas, porque ficava muito difícil fazer... vender, receber e empacotar, né? Porque a gente perdia o cliente, porque a gente ganhava comissão, né, então, o nosso negócio era vender, vender, vender. Eu me lembro de um saldão de eletro, um dos primeiros, que a Magazine Luiza abria às quatro da manhã, quando a Magazine Luiza veio para Rio Preto, a gente abriu às cinco, para pegar uma beirada, né, com eles, né? E aí a gente vendia o dia inteiro, então não dava tempo de você digitar as vendas que eram depósito. Então, a gente punha aquelas bolsinhas na cintura e ia enchendo lá de notinha, né, para não perder tempo, você só anotava os dados dos clientes atrás e punha tudo dentro da bolsinha e a hora que dava seis horas, seis e meia, que fechava a loja, que nós íamos digitar tudo, para separar as vendas dos clientes, para não perder tempo, porque a gente ganhava por comissão. Então, num dia desses contava muito alta venda, né, era muito boa, muito boa mesmo, era gratificante, na época de saldão da Pernambucanas. A gente vendia, em um dia de vendas, equivalia 15 dias de vendas, era muito bacana.
(51:24) P2 – E quais eram os outros dias fortes, assim, de venda, além das promoções? Essas datas tradicionais, assim, qual que é a data mais tradicional de venda?
R1 – A Pernambucanas sempre foi muito, muito, muito boa no Dia das Mães. O Dia das Mães eu acho que era o pico mais alto de vendas da Pernambucanas. Ela vendia Dia das Mães, que era maio, depois ela vendia muito bem no inverno, em junho ela já vendia para as festas juninas e no inverno ela vendia muito bem, porque vendia muito cobertor na época, quando começou o edredom. Então, fazia até fila para comprar, vendia-se muito bem. E depois, então, vinha o dezembro, né? O dezembro a gente ganhava um salário que se equivalia dois, três de outro mês, mas a gente também trabalhava muito, porque hoje não se trabalha, hoje tem banco de horas e você é obrigado a cumprir aquela hora, né, as 44 horas semanais, que na nossa época não, a gente podia entrar às sete da manhã e sair às 11 da noite, sem problema nenhum.
(52:20) P2 – Porque o horário do comércio de rua era estendido, na época do Natal?
R1 – É. Ainda é estendido, mas hoje, como eles não pagam mais comissão e nem hora extra, então se faz a carga horária. O que acontece? Ele faz duas turmas: uma turma que vai trabalhar no período da manhã e uma turma que vai trabalhar no período da tarde, fazendo as 44 horas, que na nossa época era diferente, você ganhava lá mais quatro ou cinco salários só de hora extra, que você fazia a carga horária praticamente dobrada, porque você entrava às sete da manhã e você saía da loja dez e meia, onze horas da noite, porque também ele não tinha duas turmas para fazer e como ganhava... a gente ganhava hora extra e ganhava comissão, então, para a gente era um negócio trabalhar. Hoje já o povo não quer, porque não ganha hora extra e não ganha comissão, então eles querem realmente fazer a carga horária deles, que eles estão certos, né? E na nossa época não, a gente trabalhava dobrado, porém nós também ganhávamos dobrado, para a gente era viável.
(53:16) P2 – E a outra pergunta que eu queria fazer especificamente era assim: você tinha possibilidade de crescer dentro da Pernambucanas, ser vendedor, empacotadora, vendedora, caixa, gerente? Como que era, assim, a carreira dentro da loja?
R1 – A Pernambucanas é uma empresa de carreira, portanto, ela era uma empresa de carreira bem lenta, bem lenta. Exemplo que meu gerente último, que hoje ele está em Rio Preto ainda, chama Guarizo, ficou um tempão na Pernambucanas, ele entrou com 12 anos de idade na Pernambucanas, ele era da Arprom que se fala, né? Ele entrou com 12 anos de idade, falou que lavava a loja, lavava banheiro, entregava papel na feira e aí ele foi para o pacote, do pacote ele foi para o caixa, foi para as vendas, foi para trainee e depois ele pegou a gerência, mas esse processo demora, tanto que, quando meu marido pediu demissão, ele tinha 18 anos, estava fazendo tiro de guerra e ele era do crediário e do caixa. Ele, na realidade, ficava no caixa, só que ele fazia toda a contabilidade, que era manual na época, né, para fechamento dos caixas e do crediário das vendas, tudo ele que fazia manualmente. Aí a empresa falou: “Não, mas você vai pedir demissão agora, você tem um futuro pela frente, vai sair para trainee, para gerente, tal, tal”, mas ele falou: “Mas eu quero o futuro para hoje e não pra daqui dez, vinte anos, né?” E a Pernambucanas, o processo dela era bem lento para promoção, sabe? É tanto que eles me ofereceram, sim, chefe de departamentos, trainee, mas era em outras cidades, na época meu marido trabalhava no Banco aqui, eu tinha um bebê pequeno, eles queriam me dar Campinas na época, para mim não era viável, porque eu ganhava bem na comissão e o salário de chefe de departamento, de um trainee ou de encarregada, era até um pouquinho menor que o meu, não era viável eu ficar longe da minha casa, né, para... por status. Eu nunca, assim, me vislumbrei por status, eu preferia o salário e ter a minha vida, como poder fazer uma academia, como poder fazer uma atividade física, como poder estar com a família no final de semana, né? Então, isso, para mim, sempre foi muito importante, muito mais importante do que cargos, né? Tem pessoas que vislumbram cargos.
(55:38) P2 – Aham.
R1 - Para mim, não. Quando eles tentaram a transferência eu não quis, eu não achei viável ir para Campinas, ficar longe da família, né, não sabia se meu marido ia conseguir uma transferência no Bradesco ou não, né, eu preferi ficar aqui mesmo, continuar nas vendas, que era fazer aquilo que eu gostava e eu estava satisfeita com o meu salário, então, não tinha necessidade, para mim não era importante e eles falavam que, para você seguir carreira, tinha que aceitar transferência para o Paraná, transferência para São Paulo, transferência para Campinas, né, um dia talvez voltasse para a sua cidade, mas isso não me interessava. Eu tive até dois gerentes na época, esse por último que eu fiquei, o Guarizo, ficou uns 12 anos aqui e depois que ele foi para Bauru, aí ele montou lojas perto de Campinas, Magazine Guarizo, para concorrer com a Pernambucanas, mas ele já estava aposentado e hoje ele voltou para Rio Preto, ele tem uma lotérica aqui, voltou para Rio Preto, ele está em Rio Preto, mas a gente era muito amiga dos gerentes na época, né? Hoje não. Eles comiam sábado com a gente, comia na nossa casa, a gente comia na casa deles, alugavam chácara para fazer reuniões, né, de final de semana, final de mês, atingimento de cota, que hoje não tem mais nada disso. A Pernambucanas era uma grande família. Na época eles usavam esse slogan que “A Pernambucanas era uma grande família”, era uma grande família entre colaboradores e era uma grande família entre clientes, porque os clientes eram bem fiéis, né? E a gente usava até esse slogan que “A Pernambucanas era uma grande família” e realmente ela era uma família pra gente, a gente vivia em função daquilo.
(57:18) P2 – Maravilha! E desse período, assim, que você falou assim: “Sou vendedora, eu gosto de vender”, né? Tem algum tipo de produto que você gostava mais de vender?
R1 – Olha, na época que eu trabalhei com cama, mesa e banho, que era departamento de enxoval, ele era um departamento de menos trabalho e mais rentabilidade, porque você vendia, por exemplo, para um motel, que na época tinha três, quatro hotéis bons que compravam, ele comprava, por exemplo: “Ah, você me entrega duzentos lençóis Santista ouro, Santista prata, as fronhas e cobertores”. Então, era uma venda rentável e que não dava trabalho, porque você pega um departamento de criança, por exemplo, a criança experimenta quatro, cinco, dez roupinhas e não leva nada, então, é um departamento... mulher, feminino é um departamento que dá mais trabalho, né? Então, departamento de cama, mesa e banho era um departamento rentável e não dava muito trabalho. O departamento de eletro dava um pouquinho mais de trabalho, o cliente um pouquinho mais exigente, mas era o departamento que eu mais fiquei, que eu mais me identificava com ele, né? Quando eu fui para o departamento de eletro, eu acredito que em 1989, 1990, eles falavam que não podia mulher, a Pernambucanas não... estavam implantando o departamento de eletro, porém, não poderia ser vendedora mulher, aí eu disse: “Por que não podia?”, né, eles disseram que a mulher não carregava fogão, que a mulher não carregava geladeira, que a mulher não carregava TV, que a mulher não dava conta, né? Aí eu disse para ele que a mulher usava fogão, usava máquina de lavar, usava geladeira e ela que entendia de passar isso para outra mulher ou para outro homem: o melhor fogão, a melhor máquina de lavar, então quem... a ideia de pôr a mulher no departamento é que ela entendia, porque ela usava aquilo, né? O homem não... praticamente não utiliza um fogão, na lógica, né? Exceto meu marido que cozinha, não sou eu, tá? (risos) Mas a gente entendia de máquina de lavar, de fogão. Aí eu fui a primeira vendedora mulher, nas 268 lojas que a gente tinha na época, num departamento de eletro, eu fui a primeira. E aí, o dia que a gente fez essa viagem para Manaus, eu era a única vendedora mulher, com 23 homens, porque todas as lojas só tinham vendedores homens e eu era a vendedora mulher e eu que ganhei a viagem e fui. Aí eu falei: “Gente, mas a mulher sabe tudo”. Eu consigo carregar, né, um micro-onda, uma TV, tanto que eu subia lances de escada correndo com isso. É lógico que o homem tem um pouco mais de força que a mulher, mas aí eles foram se identificando, acabaram contratando para utilidades domésticas, depois para a linha de som, depois para a linha de lavadora. No fim, hoje, você pega a Pernambucanas, Riachuelo, Magazine, eles têm meio a meio vendedores, né? Eles já têm metade mulheres, metade homens, nos departamentos. Porque a mulher sabe mais do uso do produto, né, de um liquidificador, de uma batedeira, de uma centrífuga, de qualquer utilidade, um ferro de passar, por exemplo, uma sanduicheira, uma panela elétrica. E o homem tem que ver, estudar mais, né? Mas, na época, eu fui a primeira a conquistar o espaço na Pernambucanas e depois que foi seguindo, seguindo e eles contrataram mais mulheres e viu que dava certo, né? Mas foi, assim, uma luta grande, mas a gente consegue. É igual falar assim: “Ah, a mulher não pode trabalhar no sindicato, né, tem que ser homem”, que antigamente o presidente do sindicato era homem, vereador era homem, prefeito era homem, né, e hoje as mulheres ganharam mais espaço nessa frente, né, que antigamente não tinha, tudo era homem, né? Hoje as mulheres já têm espaço. Nosso sindicato, a frente do sindicato, é liderado por mulheres.
(01:01:17) P2 – Maravilha! Selma e, assim, a gente começando a encerrar a entrevista, né, essa é uma entrevista um pouquinho diferente, você falou assim da sua infância, da sua adolescência, né, do lado pessoal, assim e deixar registrado a sua experiência como comerciária, como parte aí da diretoria do sindicato, né, você deixou sua história registrada, né, para o Memórias do Comércio, para o Museu da Pessoa e para o Sesc, nessa ideia que você está deixando a sua história registrada, o que você achou dessa experiência, assim, de falar dessa tua trajetória histórica?
R1 – Ah, é importante, porque eu acho que a gente que faz uma história no comércio, no mercado de trabalho, eu acho que é importante para a gente também, né, para a gente se sentir valorizada também. Eu, aos 25 anos de empresa, ganhei um relógio de ouro na Pernambucanas, que a Pernambucanas tinha esse sistema de todo vendedor que conseguisse ficar 25 anos, a empresa dava um relógio todo de ouro, eu ganhei um relógio de ouro da Pernambucanas quando eu fiz 25 anos de empresa e ela dava para todos os colaboradores. Hoje não mais, porque hoje não tem colaborador que fica 25 anos na empresa, né? Como não tem mais comissão, a rotatividade é muito grande, né? Antigamente os vendedores eram fiéis, trabalhavam trinta anos, quarenta anos. Quando eu entrei na Pernambucanas, todos os vendedores tinham trinta, quarenta anos de empresa e eu era menina, né, perto daquele monte de pessoas já cheio de experiência, né? Eu acho muito importante, tanto porque hoje não tem mais esse respaldo, né, de líder de venda, de gostar... eu ainda vendo hoje, até hoje eu ainda vendo um Racco, Duzani, que é uma lingerie, né? Eu ainda vendo, nas minhas horas vagas, eu ainda vendo (risos) alguma coisa, para não sair da área de vendas, né? Quando eu compro uma viagem, eu ligo para todas as minhas amigas: “Oh, vamos, o preço está bom”. Elas falam: “Selma, você não perde a mania de vender”, eu falo: “Não, eu gosto”. Pego uma rifa, por exemplo: “Está difícil de vender essa rifa” “Deixa que eu vou ajudar, né?”, porque a gente tem esse dom de gostar de vender e gostar de falar com pessoas, então, acaba se sobressaindo.
(01:03:35) P2 – Maravilha! (risos) Vai, Lu, passo para você a palavra.
(01:03:41) P1 – Selma, eu gostaria de agradecer muito a sua entrevista, foi muito legal, muito interessante, né? O nosso projeto continua. Temos um fotógrafo aí de Rio Preto, que vai entrar em contato contigo, para fazer uma sessão de fotografias aí no sindicato, com você e, se você tiver fotos antigas, de quando - lá atrás da sua infância - você começou nas Pernambucanas, ele pode copiar, para poder sair no material nosso de divulgação, tanto no site onde vai ficar sua entrevista, a gente pode compor com fotografias, quanto a exposição que vai ter no Sesc, presencial, quando acabar a pandemia e todo projeto Memórias do Comércio dá origem a um livro muito bonito da editora do Sesc, que a gente espera que saia no ano que vem, por causa da pandemia não vai dar para fazer lançamento, né?
R1 – Uhum.
(01:04:39) P1 – Mas essas fotos seriam para compor todo esse material, tá legal?
R1 – Ah, sim, sim. Eu gosto muito de foto, tenho um guarda-roupa de fotos em casa, tudo revelada.
(01:04:53) P1 – Que legal! Então, ele entra em contato com você. Muito obrigado pela entrevista, viu, Selma, um abração.
R1 – Está certo, boa semana e bom mês para vocês, tá?
(01:05:02) P2 – Obrigada, Selma, em nome do Museu da Pessoa, do Sesc a gente agradece, tá?
R1 – Um prazer. Está certo, uma boa semana para você, uma semana abençoada e cheia de luz.
(01:05:11) P2 – Amém, todos nós.
R1 – Daqui a pouco essa pandemia passa, se Deus quiser! E Ele quer.
(01:05:15) P2 – (risos) Estamos quase lá, né?
R1 - Se Deus quiser, tá? Uma boa semana para vocês, fiquem com Deus.
(01:05:21) P2 – Amém!
R1 – Até mais! Obrigada!
(01:05:26) P1 – Tchau, Claudia
(01:05:27) P2 – Tchau.
R1 – Tchau.Recolher