Projeto Memória Avon
Depoimento de Pedro Joaquim da Silva
Entrevistado por Laudiceia Benedito e Clarissa Batalha
São Paulo 09 de junho de 2008.
Realizado por Museu da Pessoa
Entrevista nº. AV_HV008
Transcrito por Rosângela Maria Nunes Henriques.
Revisado por Bruna Ghirardello
P/1 – Bom dia?
...Continuar leitura
Projeto Memória Avon
Depoimento de Pedro Joaquim da Silva
Entrevistado por Laudiceia Benedito e Clarissa Batalha
São Paulo 09 de junho de 2008.
Realizado por Museu da Pessoa
Entrevista nº. AV_HV008
Transcrito por Rosângela Maria Nunes Henriques.
Revisado por Bruna Ghirardello
P/1 – Bom dia?
R – Bom dia.
P/1 – Vamos começar com o senhor falando seu nome completo, o local e a data de nascimento?
R – Pedro Joaquim da Silva, nascido em 24 de novembro de 1943.
P/1 – Senhor Pedro, qual a sua atividade atual?
R – Ah, no momento eu sou aposentado, então a atividade do aposentado o que é? Já fiz o que teria que ter feito, agora é só esperar as coisas acontecerem.
P/1 – Senhor Pedro, qual o nome dos seus pais?
R – Orbino Joaquim da Silva e Marcelina Maria da Silva.
P/1 – Certo. Qual era a atividade profissional dos seus pais?
R – Olha, o meu pai ele foi criado na agricultura e minha mãe era o mesmo.
P/1 – E qual é a origem da sua família? De onde vem a sua família?
R – Olha a gente é descendente de nordestino, porque o meu pai é natural do Estado da Bahia e a minha mãe natural do Estado de Alagoas.
P/1 – O senhor tem irmãos?
R – Tenho cinco irmãos.
P/1 – Cinco irmãos? O senhor era o mais novo?
R – Não, eu sou o terceiro de baixo para cima, depois de mim tem mais dois.
P/1 – Certo. Senhor Pedro vamos falar um pouquinho da sua infância, onde o senhor morava?
R – Olha, eu fui nascido no noroeste do estado de São Paulo, quando eu falei para vocês, comarca de Lins é porque a comarca nossa ali, na época, era Lins, mas eu fui nascido no município de Vila Sabino, que é uma cidade à margem do Rio Tietê, da parte noroeste de São Paulo.
P/1 – E o senhor lembra como era a sua casa?
R – Ah, para descrever assim... Eu me lembro que assim que era uma casa de madeira bruta que era feita na... Meu pai tinha um sítio e esse sítio ele fazia fundos com o Rio Tietê o que eu posso me lembrar é isso aí. Eu tinha na época o quê? Nessa época que a minha memória me traz eu tinha uns cinco anos de idade por aí, nos anos 1940 ainda, né?
P/1 - E o senhor lembra um pouquinho de como era o cotidiano?
R – Olha, o que eu me lembro da época era o seguinte: igual eu falei, meus pais eram agricultores, então a gente vivia tudo ali, eu meus irmãos e meus pais e eu me lembro assim que eu tinha um irmão, hoje ele não é vivo, ele faleceu, né? E então a gente tinha aquele plantio de arroz, às vezes, eu ia levar almoço para ele e ele ficava lá gritando para espantar os passarinhos para não derrubar o arroz e fazer a extravagância, então era isso aí. Eu me lembro da minha infância assim. Aí depois meu pai mudou para a cidade de Lins, que ali foi onde eu tive os meus primeiros anos de escola, ali eu iniciei a minha escolaridade, em 1950, mais ou menos.
P/1 – Certo. E o senhor lembra da cidade como era?
R – Lins? Na época, falava-se que Lins era a metrópole do café, porque a cidade era circundada de lavouras de café, meu pai... Nós morávamos numa Vila que era por nome de Vila Garcia na Rua Luís Gama, meu pai tinha um estabelecimento comercial ali e ali foi um dos lugares também que a gente viveu muito bem, graças a Deus. Uma cidade que eu tive lá... Nós saímos de lá em 1951 não voltei lá mais, não sei nem como que está.
P/1 – Quais são as lembranças marcantes que você tem dessa época da infância?
R – Da infância? Olha, eu me lembro muito bem que tinha eu meu irmão o Luís, o Antônio que são mais novos do que eu, né? Então de manhã cedo qual era a nossa precaução nos domingos, nós íamos para missa e depois da missa a gente ia pro colégio dos padres que era o Salesiano. Então aos poucos os padres gostavam que as crianças fossem lá, então eles passavam filmes de Tarzan, então a gente subia naqueles paus de sebo, corria atrás de bola, jogava futebol coisas assim, né?
P/1 – E quais eram as suas brincadeiras preferidas?
R – Olha, o meu forte sempre foi jogar bola, eu corria atrás de bola, onde tinha uma... Queriam me encontrar meus pais não precisavam me procurar em outro lugar, onde tivesse uma bola podia procurar que eu estava lá no meio.
P/1 – Então o senhor falou que começou a estudar...
R – Em 1950, né?
P/1 – E como foi?
R – Ah foi muito bom, porque você sabe aquela coisa de criança, né? Interessante que na época da minha infância eu me via assim... Como que eu via... Eu via assim, porque as crianças naquela época usavam uniformes e o uniforme era com divisa, então o primeiro ano primário tinha uma divisa, o segundo ano duas, o terceiro, quarta série e assim por diante. Então eu vi aquele e falava: “puxa vida já pensou eu amanhã estar com uma divisa... Com quatro divisas” e coisas assim e depois você ingressava, fazia um preparatório admissível para preparar para entrar no ginásio. Então aí eu me sentia influenciado, só que na época, as condições de finanças do meu pai não davam, porque a cidade mais perto que tinha o ginásio eram 14 quilômetros, então não tinha como eu ingressar no ginásio na época, então eu parei na 4ª série. Eu vim aprimorar meus estudos depois que eu cheguei aqui em São Paulo que eu fiz até a 8ª série aí depois eu fiz até o terceiro colegial, né? O supletivo.
P/1 – Certo. Então o senhor veio para São Paulo para acabar de estudar?
R – Não a gente veio pra cá, porque sei lá foi uma coisa assim: meu pai tinha um sítio no Estado do Paraná e aí houve aquela influência do meu irmão, né? “Vamos para São Paulo, vamos para são Paulo” coisas assim, o que menos queria vir para São Paulo era eu até porque todas as responsabilidades que envolvia o sítio do meu pai, ele deixava tudo na minha mão eu que comandava se precisava contratar pessoas para ajudar a colher, vender os cereais, certo? Então ele deixava tudo na minha mão, então era eu que administrava o sítio coisas assim.
P/1 – E que ano que vocês vieram para São Paulo o senhor lembra?
R – Eu vim aqui para São Paulo em 1975, em setembro de 1975.
P/1 – E como foi chegar em São Paulo?
R – Ah chegar aqui em São Paulo... Não, a primeira vez que eu vim para São Paulo foi em 1970 viemos eu a minha esposa a gente só tinha um filho na época que é Doriedson hoje ele está com 39 anos, ele é de 1969, 40 anos, né? Não 39 nós estamos em 2008. Então a gente veio pra cá em 1970 fiquei aqui em São Paulo um ano mais ou menos. Eu fiz um teste lá na Viação de Guarulhos, para trabalhar de cobrador e aí depois eu não me adaptei bem eu consegui arrumar um serviço numa indústria de móveis lá na Avenida Santa Marina trabalhei acho que uns oito meses. Aí depois eu achei que não estava bom e parti para outra, entrei numa empresa de ônibus fui trabalhar na parte de funilaria, né? Ali eu trabalhei o quê? Uns oito meses e depois voltei para o Paraná de novo acho que fiquei lá até 1975, aí depois a gente voltou pra cá de novo e a gente está até hoje aqui.
P/1 – Então quando o senhor veio para São Paulo o senhor já veio casado?
R – Já vim casado. A primeira vez que eu vim eu já vim casado e a gente tinha um filho que era o Doriedson e depois, já em 1975, aí já tinha o Adalberto, tinha o Natanael e todos os filhos... Todos esses três filhos mais velhos, todos os três trabalharam na Avon, inclusive um deles trabalha até hoje, ele trabalha na supervisão de custos me parece lá em Osasco.
P/1 – O senhor fez mais algum curso?
R – Olha, eu fiz curso assim por correspondência, por exemplo, eu sempre fui uma pessoa que gostei de aprender se eu não aprendi mais é porque talvez na época eu não reunia condições para tal. Então eu fiz cursos de eletricista de auto por correspondência, instalações elétricas domiciliar por correspondência, desenho artístico e publicitário eu fiz por correspondência. Eu sempre quis estar fazendo alguma coisa, aprendendo.
P/1 – E o que influenciou o senhor para escolher a carreira? A sua carreira?
R – Você sabe, eu sempre admiro as pessoas que se envolvem com estudo esse é um dos fatores é aquela coisa ter vontade de aprender, não ficar aquela pessoa acomodada ali, só naquilo ali. Então até hoje eu sempre falo pros meus filhos “olha eu só pago aquilo que eu não sei fazer”, mas se eu me esforçar... Se eu vejo a pessoa fazer uma vez, na segunda vez eu não pago, eu faço, certo? Então isso me motivava muito. Eu levava o meu carro na oficina e eu ficava de olho ali pra ver o que ele fazia e da próxima vez o meu carro dava o mesmo problema eu já sabia o que eu tinha que fazer. Tudo bem existe coisa que é só para mão de obra especializada, mas tem muitas coisas num carro que dá para você fazer é só você ver quem faz aí você aprende e a gente aprende vendo fazer, a gente aprende em exemplos, né? E aí você vai tirando as lições e vai se aprimorando também é tão gostoso você fazer as coisas, viu? Ás vezes eu fico assim vendo esses jovens aí na rua soltando pipa e eu falo: “ah meu Deus se tivesse a idade que esse rapaz tem aqui em São Paulo ninguém me segurava” certo? Tanta escola a cada esquina tem uma escola, o governo forma tanto aí... Tantas formas aí para quem quiser aprender, né? Na minha época não tinha nada disso, foi o que eu te falei quando eu concluí até a quarta série, o ginásio mais perto era numa cidade que tinha o nome de Dracena, mas era 13 quilômetros de distância e você tinha que bancar, e meu pai não tinha condições.
P/1 – Tá certo. Senhor Pedro com quantos anos o senhor começou a trabalhar?
R – Olha, eu comecei a trabalhar desde que eu comecei a trabalhar, você fala só na indústria?
P/1 – Não, trabalhar.
R – Ah eu comecei bem... Olha, com cinco anos, eu não estou falando pra vocês que eu ia levar almoço, já é um trabalho. Eu ia levar almoço pro meu irmão lá na roça e ali fomos... Consecutivamente fomos sempre ali, nunca fui uma pessoa acomodada graças a Deus por isso, certo?
P/1 – O senhor falou que trabalhou com uma firma de ônibus, foi o seu primeiro emprego?
R – Isso. Foi onde eu comecei a ingressar na parte assim do comércio e da indústria, foi numa empresa de ônibus Viação Guarulhos, isso foi em 1970.
P/1 – E o senhor lembra do seu primeiro dia de trabalho?
R – Ali você tinha que aprender, porque os ônibus não tinham catraca era no bilhete e quando a gente pegava aquelas linhas ali de Cumbica que você chegava ali o ônibus chegava ao escurecer e você tinha que passar no meio daquele pessoal, por exemplo, você pegava aquela linha ali que fazia Cumbica, Parque Dom Pedro, via Penha. E então quando você chegava na Penha todos os passageiros até ali tinham que estar cobrados, porque o fiscal estava ali fazendo o cerco podia passar alguém. Então você tinha que entrar pela porta de trás vir cobrando até na parte da frente e voltar pela porta de trás outra vez, porque pelo meio não tinha como você passar pelo menos na hora do rush, certo? Agora quando dava ali depois das oito e meia, nove horas aí já ficava mais brando, já ficava mais fácil.
P/1 – Em quais outros lugares que o senhor trabalhou?
R – Aí depois eu trabalhei numa indústria de móveis na parte de rebarbamento de peças, eles fabricavam móveis principalmente bancos para cinemas, certo? E essas cadeiras cromadas, eu tinha que tirar todas aquelas rebarbas para serem cromadas, não podia ficar uma falha sequer.
P/1 – E depois?
R – Aí depois eu saí, foi quando eu saí, eu pedi para sair e meus colegas... É gozado eu nunca fui mandado embora de empresa nenhuma, nunca. Olha, eu trabalhei na Viação Guarulhos, na Brafor, trabalhei na Iotec e trabalhei na Avon e eu nunca fui mandado embora de empresa nenhuma e interessante quando eu falava assim com as pessoas: “olha eu vou sair, eu quero sair” então era aquele “não, você não pode fazer isso” porque as pessoas sempre gostavam de mim, porque eu fazia por onde, entendeu? O chefe mesmo falava: “você está louco rapaz, eu vou te mandar embora”? “Mas eu não quero ficar” “então você sobe lá em cima e pede a conta” tanto é que os primeiros fundos de garantia dos meus primeiros empregos que eu trabalhei até a Avon, todos eles foram transferidos, entendeu? Aí eu trabalhei nessa indústria de móveis, na Viação Itamarati na parte de funilaria, você vê totalmente diferente, né? De uma indústria de móveis para parte de mecânica, mas fui e trabalhei, trabalhei acho que uns nove meses aí foi quando eu voltei pro Paraná de novo. Aí depois eu voltei do Paraná e aí entrei nessa fábrica de construções elétricas na Iotec lá no Socorro, não sei se vocês conhecem Socorro fica ali perto de Santo Amaro. Aí eu entrei ali e trabalhei acho que uns nove meses aí na hora de sair o supervisor lá eu falei pra ele, ele chamava senhor Armênio e ele não queria que eu saísse de jeito nenhum ele falou: “fica aí que eu vou colocar você no lugar do José Walter” ele ia me colocar como encarregado. Mas eu sempre fui aquela pessoa determinada e aí “não é agora, então não vai ser” tinha que ser naquela hora tanto é que ele pegou minha carteira profissional e falou: “não, a sua profissional já está lá com o gerente da empresa e tal” eu falei o seguinte: “eu vou deixar minha profissional com ele por uns dez dias se nesses dez dias não resolver, fui.” Aí quando passou os dez dias eu falei: “e aí senhor Armênio como é que está a situação” ele falou: “está lá com o homem” “então faz favor pega lá que eu estou saindo” e saí na época a gente carregava marmita, entendeu? Aí saí cheguei em casa falei pro meu pai e pra minha mãe, né? “Oh, eu saí da empresa” ele falou: “você está louco nós compramos isso aqui, nós estamos devendo isso aqui e você sai, sendo que o seu dinheiro ajuda a gente a pagar” eu falei: “não, eu vou sair aí” encostei a marmita lá e nem almocei, uma estrela parece que foi me guiando assim aí eu vi escrito lá Avon. Aí eu desci do ônibus eu me lembro até hoje, eu desci do ônibus e fui à portaria ali na Avenida Interlagos eu falei pro guarda assim, um senhor que trabalhava na portaria lá “eles não estão admitindo funcionários aí”? Aí ele falou assim pra mim: “olha o escritório da empresa não é aqui, o escritório da empresa é lá na Avenida João Dias” aí depois eu fiquei assim meio grilado, entendeu? Eu falei: “puxa, mas como que a empresa é aqui e o escritório é lá” mas o que estava acontecendo era que a empresa estava sendo instalada ali, então a parte administrativa era na Avenida João Dias. Mas tudo bem eu fiquei assim meio grilado eu fui até Santo Amaro, eu falei: “eu vou numa agência de emprego, hoje eu tenho que voltar empregado.” Aí eu cheguei ali no Largo 13 no Santo Amaro até a Rua Capitão Tiago Luz que é a Rua da Pernambucana tinha uma banca assim e eu perguntei “existe uma Avenida João Dias aí em baixo”? Eu não conhecia Santo Amaro ainda, né? A moça falou pra mim assim: “tem uma Avenida João Dias você vai em frente aqui é a primeira avenidona larga que o senhor ver lá na frente é a tal, é a dita cuja”, né? Aí tudo bem fui o guarda me disse errado eu pensei comigo assim: “esse guarda está querendo me colocar pra andar tirando uma de mim”, mas não era não. Aí quando eu cheguei à Avenida João Dias tinha um posto de gasolina assim na esquina “tem uma Avon aí em baixo” ele falou: “oh a Avon não é mais aqui, a Avon mudou lá para Interlagos” eu falei: “falaram pra mim que tem uma Avon aí embaixo” “não tem o prédio onde está instalada a parte administrativa” ele falou isso meio em dúvida, né? Aí eu me direcionei, fui indo aí cheguei e vi lá escrito Avon. Aí eu perguntei para o segurança Assim: “você sabe se está contratando aí”? Ele falou assim: “olha você entra nessa porta e você fala com a moça lá...” Eu não me lembro o nome da moça, aí eu falei com a moça e a moça falou assim: “ô a pessoa que trabalha na parte de seleção aqui é o José Luís” aí ela falou: “você aguarda que ele está entrevistando outras pessoas.” Aí eu entrei e aguardei aí depois fui lá conversar com ele e desse pessoal que nós fizemos entrevista... A Avon naquela época contratava gente assim como se diz de monte, né? Aí eu sei que nós estávamos na sala assim e eu nem acreditei sabe quando você quer conseguir um emprego ainda mais hoje, né? Naquela época não, emprego aqui em São Paulo se você saísse você voltava empregado. Aí eu conversando com o pessoal que estavam assim, eu olhava para as pessoas assim e falava: “puxa todo esse pessoal aqui...” E eu olhava para as pessoas eram pessoas mais capacitadas do que eu, né? Eu sei dizer que eu lembro que nós estávamos em vários e daqueles vários que estavam ali o único que foi selecionado fui eu, né? Eu me lembro que o Luís Antônio falou assim pra mim: “olha de todos que estavam aqui o único que foi aprovado no teste foi você, agora já foram aprovado antes, já foram aprovados outros, mas desse pessoal aqui você foi o único” eu fui o último que saí da sala ele falou: “fica bem a vontade” eu fiquei bem a vontade, peguei lá a canetinha e mandei ver, ele deu teste de conhecimentos gerais, né? Umas continhas lá, eu preenchi e dei pra ele e fiquei aguardando aí ele já voltou lá pra mim e falou: “é senhor Pedro você foi aprovado no teste.” Agora você vai lá para a Avenida Interlagos e você vai ser entrevistado pelo senhor Cláudio Piccinato, você vai chegar lá e procurar o senhor Cláudio Piccinato que era o supervisor do departamento de almoxarifado na época. Aí eu fui lá fiz a entrevista com ele aí ele falou assim: “agora nós vamos falar com o dono lá” o dono que ele falava na maneira de dizer era o superior a ele que era o doutor Bravo vamos lá pegar o chamego dele. Aí fomos lá, aí ele: “vamos voltar lá agora, agora você volta lá na João Dias de novo com esses papéis.” Ele me deu os papéis eu levei para pegar o chamego dele, aí fomos lá aí ele: “vamos voltar lá agora, agora você volta lá na João Dias de novo com esses papéis.” Ele me deu os papéis eu levei e apresentei pro Luís Antônio e o Luís Antônio falou: “agora você vai fazer o exame médico“ eu voltei, fiz o exame com o doutor Mateus e sabe aquelas coisas de exame, né? Tudo ali você sente isso? Sente aquilo? Eu graças a Deus fui sempre uma pessoa saudável “tudo bem, seu estado de saúde está bom, agora você volta outra vez lá na Avenida Interlagos e apresente o seu documento lá.” Aí voltei e depois eles mandaram voltar outra vez na João Dias lá onde eu fui selecionado aí ele falou assim: “agora você vai fazer integração no dia 03 de maio” aí a gente fez integração, eu me lembro que nós fizemos integração numas 32 pessoas naquele dia em dois grupos de 16. Uma das meninas que eram monitoras eu me lembro o nome dela era Raquel, agora da outra que estava com o outro grupo eu não me lembro e desses 32 integrados naquele dia o último a sair da Avon fui eu, entendeu? Que sai agora em 2006.
P/2 – Tá certo. Então o senhor começou a trabalhar na Avon em...
R – 03 de maio de 1976.
P/2 – E o senhor conhecia a Avon antes disso?
R – Olha, conhecer eu não conhecia até porque quando eu estive em 1970 aqui em São Paulo a minha irmã, ela morava em Veleiros, você vê parece que é uma coisa premeditada para acontecer, entendeu? A minha irmã falou assim: “porque você não entra na Avon, Pedro”? Eu falei: “ah Maria, eu acho que eu não me adapto aqui em são Paulo nessa correria, nessa doideira que...” Aí foi onde que eu ouvi falar o nome da Avon, foi ali a minha irmã falou: “tem um vizinho que trabalha lá você fala com ele que ele arruma para você lá.” Era aquele negócio me batia aquele estalo na cabeça, eu já ia sair fora, fui para o interior, aí depois que eu voltei trabalhei na Iotec como eu te falei, aí depois entrei na Avon e fiquei até o ano de 2006.
P/1 – E qual foi a primeira impressão que o senhor teve lá na Avon?
R – A primeira impressão? Uma área de lazer.
P/1 – É mesmo?
R – Era um espírito que a gente via no Avon. Aquilo ali me cativou e me cativou tanto que eu fiquei lá 30 anos e eu fiz aquele alicerce ali e olha que foram inúmeros problemas que aconteceram ali, certo? Como se diz eles não gostam de comentar a parte negativa, mas aconteceu de formar até complô para me tirar, de colegas de departamento, mas sabe por que o pessoal crescia, porque eu sempre fui uma pessoa que eu não dava pelota pra ninguém, eu sou pago para fazer o serviço, não para receber tapinhas nas costas, certo? E eu nunca ia acompanhar o errado, eu sempre procurava acompanhar aquele que fazia certo. Então tinha um pessoalzinho que formava um grupo “ah Pedro porque você vai ficar na hora extra, você tem que fazer isso... É porque você faz isso”, mas eu não dava pelota pra eles, eles queriam que eu entrasse no mesmo processo do pensamento deles, mas não quem sabe onde meu calo aperta sou eu, né? Então eu procurava sempre ser prestativo, olha, de todas as vezes que me chamaram ali para ficar em hora extra eu acho que... Eu não me lembro do dia que eu falei não, a gente entrava ali... Na época tinha muito serviço, a empresa estava crescendo e como tem até hoje, graças a Deus. Tinha muito serviço, então a gente entrava ali... Igual eu estava comentando no começo sete da manhã e a gente saía dez ou onze horas da noite, a gente vestia a camisa da empresa até quando eu saí agora por último da Avon eu estava conversando com... A gente teve um... Eles fizeram um brinde lá, em comemoração o supervisor lá o Sílvio, então eles perguntaram se eu queria falar alguma coisa. Eu falei assim: “eu tenho o que falar sim, muito bom e muito bem.” Eu vou passar pra vocês aqui o que me passaram, um dia, no dia que eu entrei aqui que fui entrevistado pelo senhor Cláudio Piccinato, ele falou assim pra mim, o que eu estaria achando da primeira vista da Avon eu falei assim: “eu vejo como uma área de lazer.” Aí ele falou assim: “você quer ficar muitos anos na Avon, anos numa empresa”? Eu falei: “olha numa empresa como a Avon se eu pudesse eu não sairia nunca” foi a primeira coisa que eu respondi pra ele, aí ele pegou e falou pra mim: “você quer ficar numa empresa muitos anos, você ama a sua família”? Eu falei: “amo muito”, ele falou: “então pensa na empresa que você trabalha, porque quando você estiver pensando nela ela não te manda embora, porque aqui você tira tudo o que a sua família precisa” e eu guardei aquilo pra mim. E esse dia eu falei: “vocês querem ficar muitos anos aqui como eu fiquei? Então estou passando isso pra vocês, certo? Vistam a camisa da empresa, pensem na empresa, se você pensa na empresa você está pensando na sua família” tem pessoas que não pensam assim, eu penso, eu não tenho tanta coisa, mas o que eu tenho eu dou graças a Deus primeiramente e depois a Avon.
P/1 – E o senhor lembra do seu primeiro dia de trabalho na Avon?
R – Lembro.
P/1 – Como foi? Conta pra gente?
P/1 – Ah é aquela coisa, né? Você quando chega num lugar assim que vai começar a primeira vez a gente fica um tanto preocupado assim, porque você não tem um ambiente feito, você está no meio de pessoas que foram todas pessoas formadas cada um em lares diferentes cada um tem uma formação, né? Mas aos poucos a gente foi se adaptando, assim como eu estou aqui com vocês conversando a gente foi chegando ali, foi conversando e procurando sempre fazer o serviço não fugir daquilo pelo que a empresa te contratou. E a gente foi se aprofundando tanto é que se passaram 30 anos aqui dentro. E trabalhados, trabalhados.
P/1 – Senhor Pedro conta um pouquinho assim da sua trajetória na Avon? O senhor começou como?
R – Olha, eu comecei na Avon como ajudante de estoque e dentro de três ou quatro anos, eu tive acho que umas duas promoções, porque eu comecei como ajudante de estoque depois eu passei como auxiliar de recebimento. Aí depois auxiliar de estoque, aí ultimamente eu passei a ser operador de empilhadeira aí depois eu passei a ser promovido como operador de empilhadeira especial que foi onde eu fiquei até quando eu saí.
P/1 – Qual é a diferença entre operador de empilhadeira para operador de empilhadeira espacial?
R – É porque é assim, são gradações, por exemplo, tem vários tipos de empilhadeira, tinha a empilhadeira comum que era mais manuseada e a empilhadeira especial ela é programada é digital ela tinha até um sistema em cima que era um sistema que a gente falava que era RF, então ela era interligada com o computador. Então o que acontecia você digitava ali e você pegava, por exemplo, os paletes, todos os paletes, eles tinham uma numeração ou você lia ou digitava o número. E quando você digitava ali naquele número você já daria entrada no estoque e na hora de você fazer o abastecimento aquele mesmo número você digitava você tirava do estoque para ir para a linha de produção. Então por isso que se deu o nome de empilhadeira especial você entendeu? E hoje acho que eles têm lá acho que umas seis máquinas novas que eu vi lá e são todas desse tipo que eu estou te falando. Não é aquela máquina que você só usa o manual dela para você sair de um corredor para entrar no outro, mas ela trabalha dentro de um sistema eletrônico enquanto essa simples é toda manuseada, tanto para você dirigir quanto para você levantar o material.
P/1 – Senhor Pedro fala um pouquinho pra gente sobre as responsabilidades que cada cargo tinha como que eram essas funções? Qual a diferença de um pro outro?
R – Olha, na área de recebimento... Ajudante de estoque é assim, por exemplo, a gente entrava ali, então você vai trabalhar, você vai pegar aquele material que foi recebido por alguém e você vai transportar ele até um lugar enquanto que esse material era transportado com quê? Com carrinho hidráulico, porque na época eles não tinham tanto equipamento assim era tudo mais manuseado mesmo, era arrastado assim no muque, então você pegava ali um palete, vamos supor com 14 sacos de magnesita de 50 quilos cada um, certo? Então aquele material ali você tinha que transportar até uma área e assim outros materiais como frascos de vidro, frasco de plástico. Tinha os fornecedores vinham ali e montavam em cima do pátio e a gente ia transportar para um lugar para depois vir uma outra pessoa com uma máquina, essa empilhadeira comum que na época era simples para colocar no estoque. Então isso aí era a parte do auxiliar ajudante de estoque. Agora na parte de conferência é você receber o material fornecido, geralmente tem uma nota, né? Tantos frascos de plásticos, de vidro ali você pegava conferia e alguém ia fazer o processo seguinte que era tocar pra frente para ir para o estoque ou para já ir para a linha de produção. Agora a parte de empilhadeira, quando eu passei à empilhadeira aí eu já não era mais um conferente e nem um ajudante de recebimento eu já era um operador, então o que eu ia fazer? Eu ia pegar com aquela máquina esse material ou colocar no estoque ou se eu tivesse, por exemplo, ingressado na parte de abastecimento de linha de produção, porque na época era um kardex, tinha o kardex você pegava aquelas fichas que eram separadas por uma pessoa daquele tipo de frasco para colocar nas cabeceiras das linhas lá na embalagem. Aí depois tudo foi melhorando foi onde apareceram... Eles ampliaram o estoque, porque o estoque cresceu, eles fizeram um estoque muito grande que é onde trabalham essas máquinas especiais que aí a gente já separava... Dava entrada no estoque pelo próprio sistema tirava do estoque para ir para a linha de produção a gente pegava assim uma distância de... O estoque era muito comprido ele tinha numa base de cem metros ou mais de comprimento você transportava até uma esteira e aquela esteira ia transportar aquele material que a gente separou até uma determinada área. E lá tinha uma outra pessoa operando aquela parte para por numa determinada área para uma pessoa vir e pegar aquele material para colocar na linha das cabeceiras das linhas de produção que a gente já não podia ter essa, como que fala? Esse contato direto com o pessoal da embalagem, o próprio pessoal da embalagem já vinha com as paliteiras e pegava ali.
P/1 – E existiam cursos para quando o senhor era promovido?
R – Olha, na época a gente aprendia mais assim fazendo, a única coisa que, às vezes, eles faziam assim era, por exemplo, na parte de segurança então você tinha ali o Ricardo que ele era técnico de segurança, então gente tinha que passar por esse processo ali pra gente saber como operar as máquinas para evitar acidentes e coisas assim. Não tinha um curso preparatório, eu não sei hoje, porque hoje as escolas... O Senai tem curso de operador de empilhadeira, mas no meu caso eu não cheguei a alcançar tudo que eu aprendi, eu aprendi ali trabalhando.
P/1 – Senhor Pedro, o senhor acompanhou a greve que ocorreu na Avon?
R – Eu me lembro.
P/1 – Por que ocorreu essa greve?
R – Olha, essa greve alí... Eu sempre penso comigo assim: “não deveria existir greve, deveria haver justiça” porque o pessoal que foi envolvido naquela greve, eles tiveram que pagar os dias que eles ficaram parados. Agora que benefício trouxe aquilo ali, em minha opinião não trouxe nenhum, porque aquela greve ali eu acho que ela foi assim um processo mais político, certo? Não ali do funcionário Avon até porque eu não estou sendo puxa saco, você tem que louvar o que tem que ser louvado, certo? A Avon ela foi sempre uma pessoa direcionada para o funcionário, então a gente ia reclamar de quê? Você sabe aquelas pessoas que não estão contentes com nada aí formam aquele... Fazem a cabeça de muitas pessoas e no fim você fica envolvido sem querer, entendeu? Você fica envolvido sem querer, na época lá foi uma mão de obra terrível, porque olha, eu me lembro muito bem que até pessoas que trabalhavam na parte administrativa foram pro restaurante cozinhar lá. Mas eu quando fui ouvir a altura dos acontecimentos eu entrei lá, furei a greve e fui trabalhar. Essa greve, na época, ela causou um rebu terrível, porque é aquela coisa se alguém quer fazer uma greve, se quer entrar no espírito da greve, faz a greve e fica quieto no seu lugar, mas o que aconteceu? Houve até depredação de carro de pessoas lá coisas que não tinham nada a ver, entendeu? Eu, graças a Deus, nunca dei muito ouvido para essas coisas não, eu penso comigo assim se alguém é pago por mim, ele tem que trabalhar pra mim, o meu salário... Uma vez, o José Sebastião, ele perguntou pra mim o que me levou a sindicalizar, aí eu falei: “eu me sindicalizo porque a empresa tem o sindicato dela que é a Fiesp”, né? E porque eu não posso ter um sindicato, agora eu não vou me apoiar num sindicato, eu penso comigo assim eles são pagos para fazer algo por nós, agora se for para eu fazer, então porque eu vou me associar a eles, né? Aí o sindicato veio lá colocou alto falante, enfrentou a Avon fez aquele bororô todo. A Avon não mudou em nada, a Avon continuou sendo Avon do mesmo jeito, agora quem ficou com a cara de tacho foram as pessoas que fizeram a greve e depois tiveram que pagar os dias que ficaram parados e que benefício trouxe? Agora eu fico pensando assim, porque tem casos e casos ao meu ver não haveria necessidade daquela greve até porque
Avon, ela direcionava os interesses dela, porque quando uma empresa investe, tudo bem a empresa está investindo na gente? Está é porque você vai ter que dar um retorno pra ela, não é? Você tinha ali o ônibus que te transportava, trazia para o trabalho e levava, você tinha assistência médica, restaurante no local, comidinha quente feita na hora a Avon... Olha, eu trabalhei 30 anos na Avon e a Avon nunca pagou um dia atrasado, certo? Todo aumento que o Governo dava, a Avon também carimbava ali e pagava, agora eu fico pensando assim “eu não sou empresário, mas se eu fosse um empresário eu ia ter o mesmo pensamento que o pessoal da Avon tem, eu queria ter” por isso que ela é o que ela é.
P/1 – E qual foi o desfecho dessa greve?
R – Olha o desfecho dessa greve é igual eu te falei ela não trouxe benefício, pra mim não trouxe até porque para quem trabalha você é o sindicato, certo? Sindicato nenhum te segura dentro de uma empresa, quem segura você dentro de uma empresa é você, se você não fosse um funcionário qualificado, você não arcar com suas responsabilidades você sabe o que tem que fazer. A empresa não vai te mandar embora porque você está dando retorno pra ela, agora tem pessoas que não fazem nada e querem que a empresa segure ela lá dentro não vai segurar.
P/1 – O senhor lembra quanto tempo durou a greve?
R – Olha não me lembro muito bem não, mas parece que foram uns três ou quatro dias parece aproximados assim.
P/2 – Senhor Pedro, quais foram os principais desafios que o senhor enfrentou na Avon?
R – Ali na Avon? Olha trabalhar numa empresa assim como a Avon tem que gostar de desafios, né? Você entrar numa empresa às sete da manhã e sair dez ou onze horas da noite tem que ter gás, né? Isso aí não era um dia não hein, eram os 365 dias do ano, eu não via a minha casa de dia, eu não almoçava com a minha família, meu almoço era ali na Avon, meu jantar era na Avon, entendeu? Isso é um desafio e nem todas as pessoas às vezes querem encaram um tipo de... Porque muitas vezes as pessoas... Já me chegaram a perguntar: “como você ficou 30 anos na Avon” você ficar numa empresa como a Avon, você tem que gostar de desafio, certo? Se você não gostar você vai sair pelas estribeiras como diz o outro, então o maior desafio para mim foi esse.
P/2 – E as alegrias?
R – As alegrias para mim foram muitas graças a Deus eu tive um bom convívio ali, apesar de que em todos os lugares, eu não estou falando da Avon especificamente existem as pessoas boas e existem as pessoas mal intencionadas, né? Existe aquele que quer sempre puxar o seu tapete, mas existem aqueles que te ajudam assim como tiveram pessoas que me ajudaram, me entenderam, me compreenderam, valorizaram a minha pessoa, o meu trabalho enquanto outros queriam me derrubar.
P/1 – Certo. O que o senhor considera como a sua principal realização na Avon?
R – Olha a minha principal realização, minha maior conquista ali foram os 30 anos ali dentro, certo? Fiz parte da história da Avon, quando eu entrei ali na Avon eu não sei se vocês conhecem o prédio administrativo, ele não existia ali, depois ele passou a existir foi uma conquista, a Avon construiu? Construiu, mas através de um esforço de um quadro de funcionários competentes que ela tinha se não, não haveria como não é verdade?
P/1 – Como era o seu relacionamento com os colegas de trabalho?
R – Olha, eu sempre procurei me relacionar bem com as pessoas, eu sempre fui uma pessoa de paz igual eu falei sempre tem as pessoas boas e as pessoas mal intencionadas. E quando eu via que uma pessoa era mal intencionada muitas das vezes você tem até vontade de se relacionar com esse tipo de pessoa, mas você tem que relacionar com um pé na frente e outro atrás é oi, bom dia e boa tarde, porque a gente tem que aprender a conviver com as diferenças também, porque isso aí é uma virtude, sabia? É uma virtude você viver, você tem que aprender a aceitar as diferenças também, porque são às vezes pessoas problemáticas, pessoas que tem problemas na família, certo? Pessoas que tiveram uma formação não tão boa quanto outras. Então é aquela coisa a pessoa inteligente ela vive em qualquer parte do mundo, em qualquer departamento ah, tem uma pessoa que é esquentadinha o jeito é você.. Vai indo vai indo igual eu estou conversando com você e estou conversando com ela, certo? É uma questão de você ser uma pessoa equilibrada. Então não existe porque você formar inimigos, às vezes, têm aqueles que querem ser inimigos da gente. Porque teve colegas ali dentro que era daquele tipo de pessoas assim você conversava com ele hoje e você tirava aquela pedra dali a gente sempre procurando relacionar com aquela pessoa, mas no dia seguinte aquela pedra que você tinha tirado ele vinha e colocava aquela pedra e mais uma outra. Aí você ia lá tirava aquela pedra e aquela outra e quando era no dia seguinte ele colocava aquelas duas pedras anteriores que você tinha tirado, colocava mais outra três, certo? Olha teve um rapazinho lá ele chama Bruno, hoje ele é líder lá e ele ficou dez anos sem conversar comigo no mesmo departamento, eu não estou falando mal dele não, porque eu acho que eu acho que isso aí é uma questão de orgulho dele não sei por quê, mas eu sempre procurei me aproximar dele. Ele fazia aniversário e eu “oh Bruno parabéns” ele só olhava pra mim assim nem respondia direito, mas eu fazia questão de cumprimentá-lo, porque puxa vida você trabalha ali, você vive ali mais do que na sua casa se você não conviver bem ali... Pô, o ambiente de trabalho tem que ser um lugar sadio, um lugar apurado, um lugar curado onde você pode ir você pode conversar, você não vai chegar ali... Eu acho que as empresas nem quer isso que você chegue ali e fica só fechado, trancado num canto, você tem que conversar, mas não esquecendo das suas responsabilidades.
P/2 – Senhor Pedro, o que a Avon representava para os funcionários?
R Olha, pra mim, eu falando de mim, para mim ela representou tudo, depois de
Deus, representou tudo, porque eu estou aqui hoje e se eu tenho o que eu tenho foi tirado tudo ali foram 30 anos trabalhados? Foram, mas eu tive um retorno, eu não posso reclamar, não posso ter como reclamar, eu tenho mais é que agradecer.
P/2 – O senhor poderia nos contar alguma coisa engraçada que aconteceu lá com o senhor ou com algum amigo seu lá na Avon? Porque sempre tem uma coisa assim pitoresca para contar, né?
R – Engraçada? Agora você me fez lembrar de um caso, veja bem, às vezes, a pessoa faz isso até como um teste pra gente, mas a gente nunca é uma pessoa, graças a Deus, eu nunca fui uma pessoa mal intencionada de querer estar tirando proveito das situações. Eu me lembro que o nosso gerente lá o senhor Cláudio Piccinato ele... Mas eu pensei comigo assim o gerente aquele que administra ele tem que conhecer os funcionários que ele tem, não é mesmo? Ele tem que conhecer, mas ele usou um método de brincadeira comigo, né? Ele chegou assim e falou... Eu não sei onde ele achou aquela nota, eu não sei se era cruzeiro na época, se era real, mas eu acho que era cruzeiro era na época do cruzeiro. Aí ele falou assim: “eu achei essa nota de um real, um cruzeiro é sua”? Eu falei: “dá aqui” aí ele falou assim: “te peguei hein, essa nota não é sua, essa nota é minha eu falei isso para te provar, para te experimentar” eu falei: “se você achou e vai perguntar quem é dono, vão aparecer mil e um donos” não é verdade? Foi um caso que eu, às vezes, lembro disso aí pra você ver como que são as coisas, né? E serve como ponto de referência pra gente ficar mais esperto, você cai dentro de uma cilada assim de uma maneira simples, né?
P/2 – Senhor Pedro qual é o seu estado civil?
R – Eu sou casado.
P/2 – E qual é o nome da sua esposa?
R – Maria Cristina Vieira da Costa.
P/2 – E como o senhor a conheceu?
R – Eu a conheci na Avon.
P/1 – É mesmo? Conta pra gente?
R – Até porque eu sou uma pessoa que eu fui divorciado, né? A minha primeira esposa, a Ana Maria de Sales a gente teve três filhos, não quatro filhos o Doriedson, o Adalberto, o Natanael e o Robson aí depois houve as controvérsias? Houve e cada um para o seu ladinho, ela foi viver a vidinha dela e eu fui viver a minha. Aí eu conheci a Cristina lá em 1980 e alguma coisa, ela entrou como temporária e ali nós começamos a nos conhecer ali, aí deu no que deu, né? Nos casamos, nos conhecemos, namoramos e casamos e temos hoje o Fábio ele tem 19 anos e eu sempre querendo uma mulher, mas só vinha homem, eu falei: “parei” se não daqui a pouco eu vou formar um quartel.
P/1 – Tá certo. Quantos filhos o senhor tem?
R – Cinco homens.
P/1 – Cinco homens?
R – São quatro com a Ana e um com a Cristina.
P/1 – Tá certo.
R – É um amor de pessoa viu? Para aquela ali eu tiro o chapéu até que ela me prove o contrário.
P/1 – Senhor Pedro o que o senhor gosta de fazer nas suas horas de lazer?
R – Lazer? Olha, eu sou uma pessoa assim, olha eu sou uma pessoa caseira são três lugares que você consegue me encontrar se você não me encontrar nesses três lugares é porque eu fui... Era no serviço, em casa ou na igreja. Eu nunca fui uma pessoa de “ah eu vou hoje...” eu sou uma pessoa que gosto de esporte a única coisa que me prende, às vezes, na frente de uma TV é futebol e por certo eu sou são-paulino eu sempre falo assim: “quer ser campeão torce por um time de campeãs.” Então o meu lazer hoje, eu estou com 65 anos, não sou um parasita, eu gosto muito... Eu mexo com bijuteria, eu invento, eu crio aquilo para mim é uma diversão, uma terapia. Às vezes, a Cristina fala pra mim assim: “vamos hoje, vamos passear, vamos ao teatro” eu falo: “ih nessa parte aí você não casou com a pessoa certa não, você quer ir você, tem a sua irmã vão lá” aí ela vai com a irmã dela, eu fico em casa ali curtindo a minha casinha. Eu sempre falo assim que cada um é cada um eu falo de mim, certo? Se eu não me sentir bem dentro da minha casa, na rua é que eu vou sentir bem? Eu acho de que alguma coisa não está certa, aí dizem: “mas tem que sair para passear” tudo bem eu vou ao Shopping a gente toma um lanche lá, sei lá, mas não é meu forte, o meu forte é a minha casa, como eu amo a minha casa.
P/2 – O senhor falou que seus filhos trabalham na Avon?
R – Trabalharam. Tem um deles que ainda trabalha lá.
P/2 – E como foi isso?
R – Ah, por exemplo, o primeiro que entrou lá foi o Doriedson, eles entraram lá por uma agência trabalhando em embalagem na produção aí com o decorrer do tempo ele passou para o almoxarifado onde eu trabalhava. Aí depois o Adalberto que também entrou por uma agência de emprego, inclusive eu falei com a Sílvia foi tão simples, você precisava ver como era simples entrar na Avon. Eu cheguei pra Sílvia e falei assim: “eu tenho meu filho e ele está isento do serviço militar, a embalagem não vai contratar pessoas”? Ela falou: “qual é o nome dele”? Eu falei: “Adalberto da Silva” ela falou assim: “fala pra ele vir na portaria aí na segunda feira” pronto ele veio na segunda feira e na terça feira a papelada dele já foi pra agência e ele começou a trabalhar, né? Aí depois ele trabalhou na embalagem um determinado tempo e depois ele foi transferido para o almoxarifado também, aí ficamos nós três.
P/1 – E vocês trabalhavam juntos?
R – Trabalhávamos no mesmo departamento, na época lá a gerente lá era a Neuza, hoje ela é aposentada também, aí depois por fim entrou o Natanael, mas o Natanael já entrou na parte de expedição só que ultimamente só tem o Adalberto que é supervisor de custos. Por isso que eu falo a Avon é uma família e até hoje lá trabalham pais e filhos.
P/2 – Senhor Pedro vamos falar mais um pouquinha da Avon. O que o senhor pensa a respeito desse sistema que a Avon utiliza de venda direta?
R – Venda direta?
P/2 – Isso, de porta em porta?
R – Ah, o que eu penso? Ah é um sistema que é muito bom, certo? E até porque a Avon ali quando ela vende um produto, ela primeiro vende para depois industrializar parece, ela vendeu uma coisa que ela ainda vai produzir e então isso aí ela vai estar sempre na frente, ela nunca corre nem no meio e nem atrás, certo? É por isso que ela é a empresa que é ninguém consegue derrubar e nunca vai conseguir.
P/1 – Qual a importância que o senhor acha a Avon tem nesse sentido de levar os produtos para as mulheres em tantos lugares do país?
R – O Sentido? Ah o sentido aí é igual eu falei é um dos melhores veja bem a Avon é uma empresa que ela é baseada... Ela foi formada para trabalhar em prol da mulher tanto é que quem não quer andar bonita e cheirosa? Então é por isso que ela expande e a mulherada compra mesmo, viu? Eu digo, porque lá na rua da minha casa lá é difícil quem não usa Avon é difícil o pessoal fala: “Pedro você vai lá na Avon”? “Vou” “você não quer trazer produto lá pra mim”? “Trago” até porque a Avon manda o folheto em casa todo mês, né? Porque ela tem campanhas, né? Campanha 1, campanha 2, campanha 3, então a cada campanha ela faz uma avaliação de produtos ou ela faz novos lançamentos ou ela trabalha em cima daquele de preço menor, coisas assim. A Avon trabalhou direitinho é por isso que cresceu, porque qual mulher que... Toda mulher, toda pessoa tem vaidade, principalmente a mulher, né? A mulher quer andar bonita, cheirosa e a Avon acertou em cheio, né? E não precisa da mulher ir lá na rua comprar, tem as pessoas que vão a casa dela.
P/1 – E como o senhor vê o fato da Avon dar oportunidade de trabalho a um número tão grande de mulheres?
R – É um dos fatores muito importantes, né? É onde que eu falo a Avon ela é uma empresa voltada pra mulher é a chave.
P/1 – Porque a Avon colocou a mulher no mercado de trabalho?
R – Exatamente é uma empresa que foi formada parece que é voltada pra mulher, parece não é voltada não existe parecer.
P/1 – Senhor Pedro a Avon tem atividades sociais, o senhor tem conhecimento disso?
R - Não nessa parte... Nas partes sociais olha eu nunca tive uma atuação assim direta eu sei que a Avon é uma empresa que tem uma senhora estrutura, certo? É difícil você olhar na Avon assim e falar: “aqui está faltando isso ou faltando aquilo” não digo perfeito, porque ninguém vai chegar a uma perfeição, mas existe uma aproximação. Então na área social a meu ver não fica a desejar não, viu? Ela é uma empresa bem conceituada.
P/1 – Como o senhor vê a atuação da Avon no Brasil? No mercado de cosméticos?
R – Tem que falar? Ai Avon tomando conta de tudo? Existe aí a de fora, como é que chama? As outras empresas...
P/1 – As concorrentes?
R – Exatamente, as concorrentes existem e boas concorrentes e a Avon está ali incluída, não é verdade? Não tem como você falar o contrário existe aí, por exemplo, a Natura, o Boticário que são empresas que trabalham com produtos de qualidade. Agora a Avon a meu ver hoje num mercado quando se fala em beleza da mulher eu acho que empresa nenhuma ganha da Avon isso é uma visão que eu tenho, entendeu? Porque tudo prova que é uma verdade que ela cresceu, como que uma empresa vai crescer se ela não tiver um planejamento trabalhando em cima daquilo que está dando aquele retorna pra ela não tem como, a prova mais certa é o crescimento, né? Que mostra os efeitos.
P/1 – Senhor Pedro qual o fato mais marcante que o senhor presenciou ao longo desses seus 30 anos lá na Avon?
R – Ah, o mais marcante pra mim foi trabalhar, trabalhar é muito bom, um ambiente saudável com muito companheirismo igual eu sempre falo vou voltar na mesma... Existem as pessoas boas? Existem, existem pessoas mal intencionadas? Existem, mas isso aí tanto faz. Não existe você querer correr de um lugar por causa de pessoas de mau comportamento, você tem que ter jogo de cintura para viver.
P/1 – E o que o senhor acha da Avon estar resgatando a sua memória através desse projeto dos 50 anos?
R – Então, isso aí é uma coisa muito boa que a Avon está fazendo, ela não podia deixar isso aí cair nunca, até porque tudo numa existência existe uma história, nada aconteceu do acaso, certo? Existia uma pedrinha lá e ela foi se multiplicando, multiplicando por quem? Para chegar a um objetivo nada acontece assim por acontecer. Então isso que a Avon está fazendo a meu ver é um resgate que ela não deveria deixar perder nunca é uma glória isso aí, por que se ela está onde está é graças a alguém ou ela se fez só, não fez, né? Ela se fez através de alguém e esse alguém é esse... Isso que está sendo resgatado e o que vai acontecer futuramente por aqueles que virão após os demais? Vai ficar uma imagem muito boa ver o que a Avon fez a memória, a Avon não esqueceu está aí, não é verdade?
P/1 – E o que o senhor achou de ter participado dessa entrevista?
R – Boa pra mim muito significante, até por que a gente comentou aqui de assuntos que estavam lá esquecidos, né? Mas como se diz sempre existe uma oportunidade de se lembrar e esse foi um momento oportuno, porque a gente se lembrou de coisas que...
P/2 – O senhor quer contar mais alguma coisa pra gente? Falar mais um pouquinho?
R – Não pra mim... O que eu tinha que dizer sobre a Avon é que eu tenho mais é que agradecer e agradeço a Deus primeiramente por Deus ter me colocado numa empresa como a Avon. Eu não falo isso para ser puxa não, eu acho que você tem que louvar quem merece louvor tanto é que eu fiquei lá 30 anos ali, né? Não precisa dizer mais nada, eu acho que aquelas pessoas que viveram anos ali existia um porquê e uma razão, porque ninguém fica num lugar assim por ficar, não fica tem que existir um significativo bom. E foi o que me aconteceu durante todo esse tempo que eu fiquei na Avon e se falassem assim: “você quer entrar na Avon de novo”? Eu começaria tudo da estaca zero, tudo de novo, eu voltaria a fazer tudo de novo, porque valeu a pena, valeria a pena ainda mais depois que você viveu tanto tempo lá na Avon meu Deus! Tanta coisa boa, muito trabalho, muito companheirismo conversa daqui, corre dali e a vida é isso aí.
P/1 – Então em nome da Avon e do Museu da Pessoa nós agradecemos a sua entrevista.
R – Sou quem fico agradecido, vocês são muito simpáticas, você vê como Deus prepara as coisas, quem diria que um dia eu estaria aqui dentro. Agradeço, conheci vocês jovens com muito futuro pela frente.
[Fim da Entrevista]Recolher