Projeto: ADC – Eletropaulo
Entrevistado por: Liliana Schnaider Rosali Maria Nunes Henriques
Depoimento de: José Antônio Martins Fernandes
Local: São Paulo
Data: 23/09/1994
Realização: Instituto Museu da Pessoa
Código: ADC_HV017
Revisado por: Ana Paula Santana Bertho
P/1 - Toninho, nós gostaríamos primeiro que você falasse o seu nome, local e data de nascimento e o nome dos seus pais, por favor.
R - Bom, meu nome completo é José Antônio Martins Fernandes. Eu nasci em Portugal, no dia 3 de março de 1958, na cidade de Aveiro. O nome do meu pai é José Fernandes e o nome da minha mãe é Carolina Martins.
P/1 - Qual era a atividade de seus pais lá em Portugal?
R - Olha, minha mãe era dona de casa e meu pai trabalhava em uma fábrica de sapatos, era sapateiro. É a profissão que ele exerce até hoje, aposentado. Mas desde o exército que ele serviu e aprendeu essa profissão, no exército de Portugal. E depois ele passou por uma série de empresas até terminar com uma pequena fábrica de sapatos.
P/1 - E quando eles vieram para o Brasil?
R - Eles vieram para o Brasil à procura de uma nova etapa da vida deles, né, procurando um espaço, que lá em Portugal era uma época difícil, tinha uma imigração muito grande, e chegaram no Brasil. Meu pai veio primeiro do que minha mãe, chegou seis meses antes e nós chegamos em 1961, 1962. Mas é que a memória agora... 1962. E meu pai chegou uns meses antes, acho que uns seis meses antes. Nós chegamos em fevereiro de 1962.
P/1 - E você tem alguma lembrança dessa parte da sua infância lá em Portugal?
R - Da minha infância em Portugal, eu tenho poucas lembranças, já que eu tinha três anos de idade. Eu lembro de uma passagem minha na infância que eu tinha um medo terrível de tomar injeção. Então, uma vez eu lembro que eu fui tomar injeção, não sei por qual motivo, mas na hora que eu entrei no consultório médico - eu me lembro que era um consultório médico -, eu sei que meu pai e...
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Entrevistado por: Liliana Schnaider Rosali Maria Nunes Henriques
Depoimento de: José Antônio Martins Fernandes
Local: São Paulo
Data: 23/09/1994
Realização: Instituto Museu da Pessoa
Código: ADC_HV017
Revisado por: Ana Paula Santana Bertho
P/1 - Toninho, nós gostaríamos primeiro que você falasse o seu nome, local e data de nascimento e o nome dos seus pais, por favor.
R - Bom, meu nome completo é José Antônio Martins Fernandes. Eu nasci em Portugal, no dia 3 de março de 1958, na cidade de Aveiro. O nome do meu pai é José Fernandes e o nome da minha mãe é Carolina Martins.
P/1 - Qual era a atividade de seus pais lá em Portugal?
R - Olha, minha mãe era dona de casa e meu pai trabalhava em uma fábrica de sapatos, era sapateiro. É a profissão que ele exerce até hoje, aposentado. Mas desde o exército que ele serviu e aprendeu essa profissão, no exército de Portugal. E depois ele passou por uma série de empresas até terminar com uma pequena fábrica de sapatos.
P/1 - E quando eles vieram para o Brasil?
R - Eles vieram para o Brasil à procura de uma nova etapa da vida deles, né, procurando um espaço, que lá em Portugal era uma época difícil, tinha uma imigração muito grande, e chegaram no Brasil. Meu pai veio primeiro do que minha mãe, chegou seis meses antes e nós chegamos em 1961, 1962. Mas é que a memória agora... 1962. E meu pai chegou uns meses antes, acho que uns seis meses antes. Nós chegamos em fevereiro de 1962.
P/1 - E você tem alguma lembrança dessa parte da sua infância lá em Portugal?
R - Da minha infância em Portugal, eu tenho poucas lembranças, já que eu tinha três anos de idade. Eu lembro de uma passagem minha na infância que eu tinha um medo terrível de tomar injeção. Então, uma vez eu lembro que eu fui tomar injeção, não sei por qual motivo, mas na hora que eu entrei no consultório médico - eu me lembro que era um consultório médico -, eu sei que meu pai e minha mãe foram me pegar debaixo de uma mesa e me arrastaram porque realmente eu não queria tomar injeção. Então, esse fato é um fato que eu lembro que me marcou muito na época. Até hoje eu me lembro, assim, remotamente desse fato.
P/1 - E você lembra da viagem?
R - Eu lembro da despedida dos parentes. Nós viemos de navio, acho que demorou nove dias a viagem no mar. Eu lembro da despedida lá dos parentes em Portugal. Minha mãe chorando, é lógico, e eu não entendendo nada. Também não tinha uma reação, nem chorava, nem ria. Essa é uma reação de criança, né? No navio, eu lembro de poucas passagens do navio. O pessoal... Era uma época de carnaval. O pessoal fez uma festa no navio e se pintaram todas as pessoas se jogaram na piscina do navio. Quer dizer, esse é um fato que eu lembro assim. E na chegada, tem um fato curioso, tem até uma piada que ficou; parece até piada de português. Aí tinha a família do meu pai que já estava no Brasil. Meu primo que trabalhava também na Light antiga e meu tio... eles foram me pegar no aeroporto. E nós descemos no aeroporto não, no porto de Santos, né, e na hora da chegada, era um dia, dia de fevereiro, um dia muito quente. Então, na saída, abraços, tal, eles compraram... meu primo comprou um sorvete para mim. Só que em Portugal é um país... geralmente a gente morava no Norte de Portugal, era um país frio. Então eu não sabia o que era sorvete praticamente. Aí comecei a chupar, tal, meu primo falou o que era, tal, aí começou a derreter o sorvete. Aí eu comecei a chacoalhar o sorvete [risos]. Aí eles perguntaram, meu primo perguntou para mim: "Por que que você está chacoalhando o sorvete?” Aí eu respondi para ele em um... Eu tinha um português de criança, um sotaque carregado, falando que era para tirar a água do sorvete. Então ficou... sempre ele lembrava esse fato comigo, tal meu primo. Então esse foi o fato mais marcante assim da chegada como criança no Brasil.
P/1 - E a sua família é toda de Aveiro?
R - Não, eu tinha toda família da minha mãe e do meu pai eram de Portugal, basicamente da região do Vale de Cambra. Ah, eu nasci em Aveiro, mas meus pais eram de Cavião e do Vale de Cambra. São cidades pequenas, no interior de Portugal, que ficam entre Coimbra e Aveiro, ficam mais ou menos no meio. E os parentes que estavam no Brasil: eram o meu tio, que tinha vindo muito anos antes e tinha já casado com a minha tia, que é brasileira, e todos os filhos que nasceram aqui. Quer dizer, meus primos dessa parte do meu tio eles nasceram aqui no Brasil. Então eles são brasileiros.
P/1 - E é só você ou tem mais irmãos na sua casa?
R - Eu tenho uma irmã que é nascida no Brasil, nasceu em São Paulo.
P/1 - E vocês vieram para cá para que bairro? Morar em que bairro?
R - Nós viemos para o bairro do Jaçanã, lá perto de 1962. Viemos e moramos muitos anos, cerca de 25 anos nesse bairro.
P/1 - Como é que foi a sua infância no Jaçanã?
R - Bom, a minha infância no Jaçanã era uma infância normal de toda criança. Eu estudava no grupo escolar do SESI [Serviço Social da Indústria]. A gente tinha poucos recursos. E... mas passamos uma infância tranqüila. Tinha tudo o que a gente queria em casa, do ponto de vista de comida, não faltou nada nunca. Mas eu estudava no SESI, que era uma escola que dava material escolar, era um estudo gratuito e aí a gente foi. E tinha um campinho perto de casa, onde eu saía nas horas vagas e não vagas também, ia jogar bola. Isso lá pelos oito, dez anos também. Aí na fase dos oito anos eu tive que trabalhar, eu trabalhava em uma padaria que era de conhecidos, para variar português trabalhava numa padaria. Aí eu atendia no balcão e no fim do dia eu ganhava um litro de leite e uma bengala, que a gente chamava na época; esse era o pagamento diário. Depois ia para escola e, quando sobrava um tempinho, ia jogar bola. Isso até os 12, 13 anos, depois eu fui estudar em um colégio, que também era do estado, que era bem mais longe; era o ginásio. Eu andava mais ou menos uns dois quilômetros até a escola e voltava para casa. Eu fazia Educação Física de manhã, porque naquela época era desdobrado: eu estudava à tarde e de manhã fazia... tinha Educação física. Então ia de manhã, fazia Educação Física, aí na volta eu passava por um monte de campinhos, jogava... ficava jogando bola até uma hora. Chegava em casa, levava uma bronca. Aí à tarde voltava para a escola para estudar o ginásio. E essa foi a infância normal.
P/1 - Você lembra de algo, assim, engraçado, pitoresco da sua infância, que aconteceu?
R - Ah, a gente... lembrar... eu lembro das brigas, né, que a gente tinha nos campos, nos campinhos. Briga de turma de rua, aquelas brigas eram um... Geralmente sempre tinha as brigas, mas eu nunca me... já naquela época eu comecei a ter uma tendência já para jogar no gol, de goleiro, aquela coisa. Então já tinha um certo...quer dizer, quando comecei... eu era ruim na linha, não sabia jogar na linha. Então o pessoal: "Olha, quem é grosso vai para o gol" e no gol fui tendo uma certa desenvoltura. E as brigas aconteciam, mas eu nunca entrava em briga, quer dizer, nunca. O pessoal sempre me respeitava dos dois lados e sempre entrava para apartar as brigas e nunca para brigar. A não ser uma vez na escola. Isso eu não sei porquê eu estava na hora do recreio, brincando na escola, aí não sei, houve um desentendimento e tal e eu bati em um garoto. Então, uma briga de escola no intervalo. E no outro dia, antes de eu sair para escola, o pai e a mãe do garoto foram bater em casa, foram falar para minha mãe e para o meu pai - no caso meu pai estava trabalhando, só estava a minha mãe em casa -que eu tinha batido no filho deles, tal. Aí ficou aquele bafafá e a minha mãe dando bronca, aquele negócio, mas ficou por isso mesmo, quer dizer, esse é um episódio de briga que eu lembro, assim.
P/1 - E você estudou até quando? Quer dizer, você continuou o ginásio, fez...
R - Ah, eu fiz o ginásio. Acabei o ginásio, depois eu fiz um curso técnico de Computação. Quando já estava na Light, aí eu entrei na faculdade. Eu fiz faculdade de Educação Física, justamente foi o início, quer dizer, o ingresso na Light antiga. E aí coincidiu rolar de jogar bola, jogar futebol e aí a gente foi criando um estofo e, posteriormente, quer dizer, eu entrei na área de Educação Física para exercer o cargo lá. Na época eu tinha uma pretensão de ser professor, ensinar as pessoas dentro do próprio clube lá.
P/1 - Como é que se deu sua entrada na Light então, já que você está falando sobre isso?
R - Aí, voltando mais um pouco, porque eu fiz univer... porque eu entrei na Light com 14 anos, entrei na época de 1973. Então, naquela época, tinha concurso público para você entrar na Light e o meu tio, esse que já estava aqui e que trouxe nós para o Brasil, que nos trouxe, o filho dele já trabalhava na Light, que era meu primo. Quer dizer, meu tio Manoel Fernandes de Pinho me ajudou muito. Então eu lembro que naquela época ele, me pegou pelo braço: ele fez a minha inscrição na própria Light antiga, me pegou, me trouxe e nós viemos fazer um teste com mais ou menos três mil pessoas, mais ou menos isso na sede da Light, que era ali na Rua Coronel Xavier de Toledo, naquele prédio antigo grande [atual Shopping Light], que tem no Viaduto do Chá. Era um restaurante grande lá. Todo mundo sentou e fizemos os testes. E depois de um mês, dois meses, eu não me lembro precisamente, eu fui aprovado e entrei na Light em 7 de novembro de 1973. No início, era um contrato de dois anos porque eles não tinham vagas e você entrava no cargo de aprendiz de arquivista. Quer dizer, você iniciava todo o processo de aprendizagem na empresa. Então eu fiquei dois anos nesse cargo e você ganhava meio salário mínimo na época para fazer isso aí. Então, eu lembro que meu pai brigava muito comigo: "Pô, mas você ganha muito pouco, lá, tal... porque...". E ficava brigando, né: "Você tem que ter um salário mínimo". Falei: "Não pai, eu vou levando até onde der." Aí passou o prazo de dois anos, eu fui efetivado no cargo de auxiliar de escritório. Essa é a fase inicial.
P/1 - E daí?
R - Aí a gente foi...nessa época eu já tinha toda uma tendência. Eu estava com 15, 16 anos. Eu já jogava futebol de salão em algumas equipes de bairro, de futebol de campo também, no bairro de sempre. Aí eu entrei em 1974 e a gente tinha ideia que na empresa tinha um clube que era o GRA [?]. E dentro do GRA tinha várias pessoas... que o presidente era o Takeo. Foi aí que eu tive o meu primeiro contato com o Takeo. E dentro da GRA tinha um grupo que era do grupo de Cópias, que era a melhor equipe da empresa na época. Então todas as pessoas iam para lá, quer dizer, a entrada no esporte da empresa era através do GRA e através da Seção de Cópias, que é onde estava o Luizinho, o Mizo. Eles faziam parte daquela equipe e aí eu ficava com eles. Subia lá, eu trabalhava no Departamento Médico, que era no andar térreo da sede na Rua Coronel Xavier de Toledo, o rés do chão a gente chamava, porque era na Rua Formosa. E o Cópias era no último andar do prédio, no sexto andar. Eu todo dia passava lá, ficava conversando com eles, ficava lá batendo papo, até que um dia surgiu a oportunidade - isso já era pela época de 1975, 1976 - de fazer parte da equipe. Lógico, para entrar na equipe tinha que ser bom, para se dizer na época. E tinha uns goleiros bons na época: era o Batata e o Bruno. Então, até que surgiu uma oportunidade, eu comecei como reserva deles, mas logo em seguida já passei a fazer parte da equipe.
P/1 - E essa equipe, como é que ela era? Quer dizer...
R - Ah, essa equipe foi a que se deu melhor em todos os torneios na época. Foi supercampeã da Light e dominava todos os torneios que tinha... geralmente era campeã. Não me lembro de ter sido derrotado nenhuma vez nessa equipe.
P/1 - Quem mais era... fazia parte da equipe?
R - Tinha o Wagner, que era um canhoto muito bom. O Mizo já estava parando de jogar nessa época; na época que eu iniciei ele estava parando de jogar. Tinha o Luizinho, que era um volante, jogava no meio da quadra e no futebol de campo jogava de volante. Era o melhor jogador tecnicamente da empresa. Ah, tinha o Batata, que era considerado um dos grandes goleiros que a empresa teve de futebol de salão; ele jogava só futebol de salão. Tinha o Serginho, que eu trouxe para empresa, isso acho que 1976. Trabalhava na área esquerda. Ele morava lá comigo no Jaçanã, jogava bola comigo e eu trouxe ele para empresa. Acabou entrando até na equipe do Departamento de Cópias também posteriormente e entrou também na seleção da Eletropaulo... da Light. E aí foi. E nessa época, a minha função, quer dizer, a minha atuação junto com o Takeo e com o Mizo, era justamente só de jogar futebol, quer dizer, ainda não tinha pretensão nenhuma de participar de diretoria, de fazer nenhum tipo de atividade do outro lado, quer dizer, o lado da diretoria. A minha ideia na época era somente jogar futebol, futebol ou basquete, vôlei, praticar qualquer tipo de esporte. E aí nessa época já me falavam que estava tendo um movimento na empresa de todos os clubes para que se unissem e formassem um clube só, porque a empresa naquela época... naqueles anos, antes de 1978, antes da fusão das equipes, ela recebia várias reivindicações dos clubes. E ela não poderia atender a todos, não poderia atender a todas as reivindicações. Então a própria empresa incentivou que os clubes se reunissem, fizessem reuniões para que da união de todos os clubes surgisse um clube só, a qual haveria negociações com a empresa para que pudesse prosseguir o início da era recente da empresa no esporte. Que a Eletropaulo tem duas: a Eletropaulo hoje e a Light antiga, ela tem duas histórias no esporte. Desde a implantação da empresa no estado de São Paulo, que foi no início do século XX, ela já tinha uma tradição muito grande no esporte. Tinha clubes, uma série de coisas; tem muitas histórias ainda dos clubes, muito antigos; e a fase recente que é a fase de 1978, com a união de todos os clubes. E a outra fase, essa fase do início do século até a data de 1960, que são os registros que a gente tem, a empresa participava de campeonatos de basquete, de futebol. Até existe uma história que corre na empresa, que foi levantada pelo nosso Departamento de Comunicação, que na década de 1920 a Eletropaulo, - logicamente era geradora de energia - ela tinha uma facilidade muito grande de iluminação. Naquela época não se jogava futebol à noite, porque não tinha campos iluminados, né? Então diz a história, pela pesquisa que foi levantada por nosso Departamento de Comunicação, que o primeiro jogo noturno que teve no mundo - dizem que é no mundo - mas prefiro acreditar que seja no Brasil, foi feito um jogo noturno em um campo da Light, iluminado pela Light, né? Isso foi no ano de 1923. E nesse início dos jogos noturnos cuja... foi lá na Baixada do Glicério, cuja iluminação foi feita toda pelos funcionários da empresa da Light. Aí nos jogos noturnos, quer dizer, apareceu outro problema. Apareceu o problema da bola, né? Como a bola era de couro, ela se confundia com o mato: na hora que a bola ia para a linha de fundo, ela se misturava com o mato e o pessoal perdia muita bola, não conseguia achar a bola, já que era de noite e a iluminação era só no campo. Foi aí que eles tiveram a ideia também de pintar a bola de branco, quer dizer, então ficou a história de que a Light fez o primeiro jogo iluminado, quer dizer, no mundo, em campo iluminado, e a primeira bola branca também foi invenção dos “lighteanos”, né? Quer dizer, fica para história esse fato. E na história mais recente da Eletropaulo, da Light, foi a união dos clubes em 1978, a fusão de vários clubes que resultou na ACEL [Associação Cultural Esportiva Light], da qual teve a primeira diretoria. No caso foi o Edmundo Benedetti Filho, foi o primeiro presidente da ACEL, em 1978, e no qual coube ao GRA, que era o clube mais importante na época, a área da vice-presidência de esportes na época, que o Takeo passou para o Mizo e o Mizo assumiu essa área. E nessa época a minha relação com eles também era mais de jogar futebol, não tinha nem um contato direto com a organização de jogos assim, eu só jogava mesmo. Isso foi até 1982, quer dizer, não, minto, foi em 1979, 1980. Aí em 1980 teve a primeira eleição e o Takeo montou uma chapa e se elegeu presidente da ADC. Aí o Mizo ficou como vice-presidente de esportes e eu ajudava eles na parte de... ainda continuava como jogador, mas já começava a organizar junto com eles os campeonatos internos, alguma coisa nessa linha. Isso foi até 82 e, nessa época, o Takeo era da Informática, eu lembro que eu era do Departamento Médico, a gente subia muito lá em cima e conversava muito com o Takeo na Informática. E foi nessa época que a gente começou a tratar de algumas ideias, algumas iniciações de começar a formar as equipes competitivas da empresa, da Eletropaulo, ao nível de federações. Foi nessa época que eu já estava fazendo faculdade. Eu entrei em 1980 na faculdade de Educação Física e já tinha umas ideias sobre a formação de equipe, sobre organização de jogos, de eventos. Aí começou o meu movimento maior com os diretores de esportes e com o Takeo. Eu vendia para o Takeo a imagem que a gente tinha na minha classe na faculdade... eu tinha uma... alguns alunos que eram atletas também da equipe, na época, do atletismo que era uma das melhores equipes do Brasil, que era a equipe da Guaru - Associação Atlética Guaru - que era do meu tio de Guarulhos. Lá estavam os grandes atletas da época, em Guarulhos, né? O João do Pulo; o
______ Nakara, que era um grande velocista da época; o Gerson de Andrade; a Conceição Jeremias; eles eram atletas de renome nacional, recordistas, foram para as Olimpíadas, uma série de coisas. Aí, conversando com o Takeo, tal, a gente... aí foi no final de 1982... foi que surgiu a idéia de trazer alguns funcionários da minha classe para cá. Aí nós juntamos um grupo de atletismo que eram atletas também e começaram... Como estavam fazendo faculdade, começaram a ajudar a gente a formar as equipes aqui dentro, que era o Humberto Garcia, que era um atleta juvenil excepcional de 1.500 metros. Era o Biga, a gente chamava de Biga o Sildemar Estevão Venâncio, era um atleta... ele era negro, alto, forte. Fazia salto em distância e salto triplo e era uma pessoa, assim, de um coração enorme; muito bom. E tinha uma menina também que fazia o ________ e fazia salto em altura, que era a Celi. Então essas três pessoas eram atletas e estudavam comigo, vieram ajudar a gente a formar as equipes nessa época. E também tinha... era a final da faculdade... nós montamos uma equipe de futebol que foi muito famosa depois, que também trouxe o técnico que era o Godoy, que era o ex-goleiro do Corinthians. E eles vieram com a gente. Aí teve a eleição no final de 1982 e o Takeo perdeu a eleição, perdeu por dois votos, se não me falha a memória. E aí entrou um pessoal de oposição, que era o pessoal... foi o Barreto... a equipe dele, tal. Aí sei que nós nos afastamos dois anos, eu me afastei dois anos. Aí eu fui para o Clube de Campo Associação Atlética Guapira. Nessa época, eu era jogador de futebol profissional, eu tinha carteira assinada e jogava no Guapira. O Guapira era um clube que a gente disputava a terceira divisão no Jaçanã. O clube é o único clube da capital que disputa o esporte profissional nas divisões, quer dizer, tinha o Nacional na segunda divisão e o Guapira na terceira divisão da capital. Aí eu fiquei quatro anos jogando. Eu jogava, treinava, fazia faculdade e trabalhava, quer dizer, fazia um pouco de tudo ao mesmo tempo. E aí terminou em 1980... 1984... nós nos candidatamos de novo, aí eu já como integrante da diretoria, da chapa do Takeo. E nós ganhamos a eleição do mesmo grupo, ganhamos por um voto, se não me falha a memória. Foi uma eleição muito acirrada, uma disputa, foi voto a voto.
P/1 - Quem era a chapa?
R - Eram os que tinham ganho da primeira vez da nossa chapa por dois votos e depois perdeu por um voto. E foi até um fato muito marcante nas eleições. E aí a gente entrou com todo o nosso grupo. O Takeo comprou a ideia de começar a montar as equipes competitivas, o esporte de competição. Aí a partir de 1985, nós entramos na segunda divisão do Campeonato Paulista de Futebol de Salão, com uma equipe somente com funcionários. E ao mesmo tempo, nós entramos em corridas de rua, com esse pessoal que tinha vindo com a gente, já estava treinando, a gente voltou e o pessoal voltou com a gente, uma série de coisas. E nós começamos a montar uma equipe de pedestrianismo. Fazia só provas de rua. E a gente teve um contato, no nosso início, foi com o SESI. Eles tinham a equipe mais famosa do Brasil, equipes de corrida de rua e atletas, grandes atletas famosos. E a gente começou como um patrocinador deles, patrocinamos alguns atletas deles. E começou com um dos primeiros atletas que ajudou muita gente, o nome foi o Eloi Schleder, que ganhou a maratona no Rio de Janeiro, Maratona Atlântica Boavista, que era na época era a melhor maratona do Brasil e, logo em seguida, ele ganhou a maratona na Austrália ao nível mundial. E aí ele colocou realmente... começou a se expandir o nome Eletropaulo ao nível de corredores de rua, a partir da época da 1986, e com a equipe de futebol de salão, na época de 1985 somente com funcionários. Aí a partir de 1986 a gente já começou a trazer pessoas de fora que não tinham relacionamento com as pessoas internas.
P/1 - E a participação?
R - Então...
P/1 - Ah, desculpa.
R - Esse foi o início do trabalho como esporte de competição. E aí eu já estava no cargo de vice-presidente. O Takeo criou essa diretoria, a Vice-Presidência de Esporte e Competição no qual ele me convidou a primeira vez para tomar conta dessa área.
P/1 - E a participação, assim, da ADC nos jogos externos, sem ser o esporte de competição?
R - Aí eu lembro de um fato também muito característico da época: eu lembro que a gente disputava muitos Jogos Metropolitanos do Trabalhador, que era a grande competição da época. Era assim: a competição que participava o Itaú, que era a empresa que mais ganhava os títulos; eles vinham com tudo mesmo. E a nossa participação da Light era no início, quando nós assumimos, isso na época, foi antes, foi em 1978 mais ou menos, na época da fundação mesmo e eu lembro que a primeira participação nossa foi no próprio ano de 1978 e o Mizo era vice-presidente de esportes. Aí ele chamou a gente para montar uma equipe para participar dos jogos internos. Eu lembro que no primeiro desfile da Eletropaulo, a gente tinha levado três bandeiras e a gente conseguiu arrumar quatro pessoas, uma em cada ponta para levar a bandeira da Light, para entrar em um... Era eu, o Mizo, a esposa dele e mais outro atleta que eu não recordo. Então foi essa a nossa primeira participação, quer dizer, foi uma participação contracenando com o Itaú, que ia com uma delegação enorme, do tipo 60 pessoas com bexiga, fazendo uma coreografia, sabe, a gente passou vergonha. Aí em reunião com o Mizo, eu falei: "Olha, Mizo, a gente precisa melhorar isso aqui, vamos fazer alguma coisa". Aí já no ano seguinte a gente foi melhor. E eu já lembro que nos anos seguintes, no segundo ano foi melhor a participação. Nos anos seguintes, a gente já conseguia….nós já ganhávamos o desfile de abertura. A gente montava uma coreografia, a gente levava a torre de transmissão, assim, em miniatura, fazia... pegava alguns setores da empresa, fazia vários blocos. A gente chegava a reunir até 100 pessoas nesses desfiles e fazia uma coisa assim muito bonita. Aí começou realmente a Eletropaulo a ganhar tradição entre as empresas, ao nível do estado de São Paulo. Primeiro, com os Jogos Metropolitanos do Trabalhador. Isso foi até a época de 1986, 1987 mais ou menos, 1987, 1988. Aí os Jogos Metropolitanos do Trabalhador perderam força, quer dizer, as equipes deixaram de participar e começou-se uma outra era dos jogos entre as empresas, que eram os Jogos Operários do SESI, que é uma competição muito antiga, desde 1947, mas que vem ganhando força nos últimos anos. E a partir de 1986, nós entramos também com tudo. Então a história é a mesma história: na época que nós entramos nos Jogos Operários do SESI, as grandes campeãs eram a equipe da Cesp [Cia Energética de São Paulo], da Fundação Cesp, que era co-irmã nossa, e a equipe da Avon, que eram os grandes. Então, eu me lembro que no primeiro ano, o Takeo me deu essa responsabilidade de montar as equipes. Eu me lembro que a primeira pessoa que montou todas as equipes e ________ fui eu. Então nós logo, nessa primeira participação, fomos vice-campeões dos jogos. Então, nós entramos também com toda a estrutura, que a gente já vinha arrecadando nos Jogos Metropolitanos, entramos já com bastante peso. Aí, no ano seguinte, 1989, nós fomos já campeões gerais dos Jogos Operários do SESI. Tiramos a Fundação CESP, que tinha sido campeã no ano anterior, e isso deu uma hegemonia para nós até hoje. Quer dizer, desde 1989 até hoje, já fazem seis anos. Nós fomos campeões em 1989, 1990,1991 e em 1992. 1993 eu não estava, não estava comigo, foi vice-campeã e esse ano novamente eu peguei. Então nós somos campeões novamente em 1994. Em 1989 estava comigo, aí depois passou para o Davilson que era o vice-presidente de esportes na época. Então ele ficou em 1990, foi campeão 1990, 1991. Em 1992 passou para o Marinheiro essa competição, ele passou a ser o vice-presidente de Esportes. Então ele ficou com 1992, foi campeão; em 1993 foi vice-campeão de esportes internos com a área de esportes externos. Então em 1993 e 1994, nós reassumimos novamente a condição de campeões gerais dos Jogos Operários do SESI, na fase da Capital. Então é essa história recente do trabalho com os funcionários ao nível interno.
P/1 - Ah, eu estava pensando, assim, ao nível... isso ao nível de competições externas, né?
R - Não, ao nível de competições com funcionários.
P/1 - Com funcionários. Mas e ao nível de competições internas, tipo Olimpíadas Internas, você participava da organização disso? Como é que era?
R - Não, na realidade, eu nunca cheguei a participar, porque isso era uma atribuição exclusiva da Vice-Presidência de Esportes. Então existia, quando o Takeo ganhou as eleições em 1984, ele criou a Vice-Presidência de Esportes; ele manteve a Vice-Presidência de Esportes e criou uma Vice-Presidência de Esportes e Competição. Então eu tratava somente com atletas federados, somente com federações; eu cuidava da imagem dos atletas da Eletropaulo perante o público externo. E nessa época quem cuidava... o Mizo foi que cuidou no início da Vice-Presidência de Esportes, depois veio o Davílson e depois veio o Marinheiro. Recentemente, o Takeo me chamou, nesse início de ano, dizendo que havia uma necessidade de juntar as duas áreas: a área interna com a área externa. Então, somente no início desse ano é que eu peguei as duas áreas. Então esse ano eu estou fazendo a Olimpíada para todos os funcionários e os Jogos Operários do SESI, que também passou para minha competência. Então foi só no ano de 1994. Anteriormente existiam outras estruturas.
P/1 - Mas ao nível, assim, de participação sua enquanto atleta nessas atividades...
R - Ah, enquanto atleta sim, eu participava no início pelo Cópias e depois, que era a grande equipe da época, isso até a fase de 1980, 1982, por aí. Depois veio a fase do Recursos Humanos, que era 1984, 1986, 1987, mais ou menos; de 1986 a 1988, 1989 eu participava pelo Recursos Humanos. Depois, aí, eu fui campeão em vôlei, basquete, atletismo, futebol de salão e futebol de campo. Eu jogava e fazia um pouco de cada coisa. E tenho vários títulos: "o melhor jogador", "o melhor atleta" dessa época. Não sei descrever com detalhes os anos e os torneios, isso na fase interna. E depois eu parei mais ou menos em 1989, quer dizer, aí parei com tudo, só me dediquei apenas à parte de administração desportiva porque eu fiz uma especialização na faculdade, logo depois que eu terminei o curso regular de Educação Física, eu fiz especialização em Administração Desportiva. Fiz um curso de pós-graduação e aí eu me especializei só em administrar, fazer cursos, fazer uma série de eventos relacionados ao esporte. Então eu fiz um curso de pós-graduação na área de futebol para ser técnico.
P/1 - Onde você fez esse curso?
R - Eu fiz a minha faculdade na Faculdade de Educação Física de Guarulhos, na FIG [Faculdades Integradas de Guarulhos]. A pós-graduação também fiz na FIG, de um ano. E a de futebol fiz na Fefisa [Faculdades Integradas de Santo André], também um ano, que era a faculdade de Santo André. Então, foi nessa época que eu concluí os cursos. Jogava na parte interna, mas aí de 1990 para cá, eu abandonei tudo. Eu parei com profissionalismo em 1988, não joguei mais futebol. Acho que com 28, 27 anos, eu estava enjoado, por incrível que pareça, tem até uma história que o pessoal perguntava: "Pô, você foi assistir o jogo profissional, tal?". Eu não ia assistir, não ia em campo de futebol. Acho que na vida fui, enquanto jogador, eu fui umas duas vezes assistir um jogo profissional. Não gostava, eu jogava futebol profissional, mas não gostava, jogava por jogar. E aí em 1990 eu parei com todas as atividades de jogos. Eu estava tão envolvido com a organização, com a representação das equipes, tinha que acompanhar as equipes, treinamento, uma série de coisas, que você vai parando e não voltei mais a jogar, quer dizer, desde 1990 praticamente, nem nos campeonatos internos e nem fora da empresa. Então praticamente faz uns quatro, cinco anos que eu não faço nenhuma atividade esportiva. Aí eu continuei correndo, uma série de coisas, mas só para lazer, sem nenhum tipo de competição.
P/1 - Ao nível...
R - Tanto é que eu era bem magrinho, né, de seis anos para cá... depois teve o casamento, uma série de coisas. Aí você tem que dividir o tempo com a família e com as atividades profissionais.
P/1 - Então vamos aproveitar que você está falando do casamento. Eu queria saber como é que você conheceu a sua esposa? Qual a atividade dela? Teus filhos?
R - Olha, a gente teve um relacionamento... Nós nos aproximamos em 1986, 1987, na Eletropaulo. Ela veio transferida, ela trabalhava em uma agência, né, a Cristina. Ela era filha do presidente na época do Sindicato dos Eletricitários, que era o Magri. Era filha dele e veio transferida... numa agência... a gente trabalhava também há muitos anos na empresa e trabalhava em uma agência. Acho que era na agência da Avenida Brigadeiro Faria Lima. Ela veio transferida para os Recursos Humanos, que ela estava fazendo faculdade de comunicação e veio transferida pro RH. E aí ela teve problemas familiares: era casada, desquitou e a gente fazia todos os eventos juntos porque naquela época a gente tinha uma equipe na empresa que fazia todos os eventos de esporte e lazer dentro da empresa. E nós fazíamos, éramos uma equipe. Tinha a Maria Inês Travaline, que é sobrinha do Travaline, que é o técnico de futebol; hoje ele é gerente de esportes do Corinthians. Ela trabalhava com a gente no departamento e tinha mais umas seis ou sete pessoas. Então nós tínhamos uma equipe que a gente ia para todos os lugares da empresa fazer cursos e dar palestras, fazer uma série de atividades relacionadas ao esporte. E a Cristina fazia parte da equipe de comunicação, dava o apoio de comunicação, então a gente se conheceu. Ela passou uma fase difícil, se desquitou, divorciou posteriormente e a gente acabou se conhecendo. O envolvimento de trabalho acabou virando um relacionamento mais efetivo e acabou a gente morando junto. Ela tinha... a gente tem duas filhas. Eu adoto uma que é do primeiro casamento dela, mas eu adoto como se fosse minha filha mesmo, que é a Luana. E a gente tem uma filha que é a Juliana. Ela está com 5 anos e a Luana está com 9 anos hoje. Essa é a parte familiar.
P/1 - E a Cristina, ela participa também da ADC, das atividades?
R - A Cristina sempre participou, sempre ajudou, sempre deu força. E hoje ela está, inclusive, até cedida da empresa para trabalhar... hoje ela está na secretaria, na parte que assessora o Takeo, na parte de secretaria. Então ela também está trabalhando na ADC hoje.
P/1 - E ela participa ou participava de atividades esportivas também?
R - Não, não. Ela nunca jogou. Nunca teve uma afinidade com a parte esportiva. Ela apenas... eu me lembro dela, uma participação dela só uma vez. Ela jogou handebol pela equipe do RH. O pessoal pediu pelo amor de Deus para ela jogar, não tinha ninguém para pôr na quadra e ela acabou entrando, mas não joga, não tinha afinidade nenhuma com esporte, totalmente contrária na parte como jogadora, né? Na parte de apoio,ela sempre deu apoio, sempre esteve do nosso lado, sempre incentivou, não teve problema nenhum.
P/1 - E assim, a sua família, como é que é? Todo mundo é eletricitário pelo visto aí...
R - Existem... são tradições da empresa. Toda a minha família do meu lado, meus tios... eu tinha falado, ele me pegou pelo braço, ele era eletricista da empresa, trabalhava na área de Santana. O filho dele já trabalhava no patrimônio da empresa também, que era o Manoel Fernandes de Pinho Filho, já falecido. Ele faleceu na empresa: teve um problema de coração dentro da própria empresa, foi levado para o hospital, mas não resistiu esse meu primo. O meu tio já tinha morrido também. E eles... tem esse lado da família. Tem outros primos, que são primos afastados da parte desses meus tios, que também trabalham na empresa. E hoje a minha irmã trabalha na empresa, na Eletropaulo, trabalha na parte de treinamento. E esse é o meu lado familiar. Do lado da Cristina, quer dizer, tem o avô dela, que era o pai do Magri e foi um dos carpinteiros mais famosos do Cambuci, ele fazia tudo o que se possa imaginar. O Cambuci era uma fábrica da Eletropaulo, se fazia de tudo no Cambuci e ele era um dos carpinteiros lá, o pai do Magri. Aí o Magri também entrou na empresa, em 1962, teve toda trajetória e os filhos dele, os dois, o Douglas também trabalha na empresa e a Cristina que trabalha com a gente também na empresa. E hoje é uma tendência que não tem mais, a empresa já não tem mais essa tendência familiar. Hoje já desviou um pouquinho desse ritmo que tinha antigamente, quer dizer, quem trabalhava na empresa sempre trazia irmão, o filho, era uma coisa secular, ia passando de geração para geração. E hoje já não existe mais essa preocupação, já não tem mais. A questão hoje é muito mais política do que pessoal, assim de tradição.
P/1 - Já que você está tocando nesse assunto, eu queria que você me falasse se houve alguma diferença fundamental da passagem da Light para Eletropaulo?
R - Com certeza que houve. A Light é uma empresa muito tradicional, era uma empresa de organização canadense que tinha muita tradição, tinha um respeito muito grande pela própria parte funcional. Existiam promoções, uma série de coisas. E a gente entende que com a mudança para um sistema estatal, mesmo que seja... porque a empresa, quando ela foi vendida, ela era estatal ao nível federal, depois o governo paulista comprou parte das ações, quer dizer a maior parte das ações e ficou sendo acionista majoritário. Então ela passou a ser uma empresa estatal paulista, quer dizer, do governo, né? De qualquer forma, há uma gerência muito grande politicamente na empresa, isso ninguém pode negar. E nós que somos de... já que temos uma grande parte de nossas vidas vividas na empresa, a gente sabe que... tem esse conhecimento que a coisa mudou muito depois desse enfoque, dessa compra. Então a gente sabe... quer dizer, eu entrei por concurso público na empresa, quer dizer, quase todos. Antes a Light fazia triagens em várias épocas. Tinha época que eu lembro que quando eu... coloquei muitos amigos meus na Light sem concurso porque existia uma saída muito grande de pessoas e uma entrada muito grande, quer dizer, mês a mês, saíam 200 pessoas e entravam 200 pessoas. Porque eu trabalhava no Departamento Médico, eu tirava as fichas do pessoal que saía; a gente sabia que tinha vagas. E naquela época, tipo 1975, 1976, não tinha uma procura. Por exemplo, hoje se abrir, que nem abriu um concurso da Eletropaulo esse ano para 3.000 vagas, se não me falha a memória, tinha acho que mais de 200 mil pessoas inscritas, quer dizer, uma coisa absurda. Naquela época não: saía uma, não tinha uma para entrar, quer dizer, você precisa indicar alguém para ir lá trabalhar. Era assim mesmo, mas foi uma época, foram dois anos assim que eu lembro da... Mas hoje é difícil, quer dizer, a própria política já transformou todinha a Eletropaulo, ela está perdendo aquela fase de tradição que ela tinha, uma série de coisas. Então a política evoluiu e a empresa, veja bem, a empresa em relação à Cesp, já foi uma estatal criada, ela já nasceu estatal. Então ela é uma empresa politicamente muito mais avançada que a Eletropaulo porque ela já foi criada politicamente. Então a Eletropaulo não. A Eletropaulo passou a ser estatal. Então a política mexeu com toda a estrutura dentro: departamentos, divisões, tal, todos os setores. Então isso mexeu com todo o departamento da empresa. E ela, politicamente, estava sempre um passo atrás da Cesp, porque os funcionários não tinham esse enfoque político da coisa, dos movimentos, da situação. E hoje não, hoje a empresa evoluiu, tá, politicamente e teve de se adequar aos novos caminhos da política.
P/1 - A respeito do GRA. Você falou que participava, assim, ao nível de competição, mas não ao nível de diretoria. E ao nível de lazer, de bailes, festas, como é que você participava? Ajudava a organizar?
R - Ah, sim. Naquela época a gente era, vai, moleque, 20, 17, 18 anos. Tinha um baile, pô, a gente era o primeiro a chegar lá. Era a noite toda e não tinha tempo ruim: podia estar chovendo, podia estar o que fosse. Nós tínhamos um grupo, que geralmente o pessoal que era atleta, que tinha...todo mundo participava dos bailes, cursos que tinham, que a ADC fazia, a ACEL fazia eventos culturais, qualquer tipo de evento nós estávamos presentes. Quer dizer, aquela época era uma época que você estava a fim de fazer tudo, você estava aprendendo, você estava fazendo, então tudo que tinha a gente estava presente: bailes, cursos, jogos, quer dizer, campeonatos internos. Você ia, você podia não estar jogando, mas você estava lá assistindo para ver, bater papo, tomar cerveja com o pessoal, tomar guaraná [risos]. Eu não bebia naquela época, né?
P/1 - Ao nível, assim, de organização, como é que você vê a evolução, por exemplo, do começo, daquela infra-estrutura pequena, que vocês tinham, simples até, para chegar o que é hoje a ADC?
R - Ah, sem dúvida, houve uma evolução muito grande. A estrutura hoje de empresa, tanto ao nível interno como ao nível de organização interna de campeonatos, de jogos entre funcionários... e eu conheço uma boa parte das empresas ao nível de Brasil, eu tenho contato com várias empresas, com várias organizações. Eu reputo que hoje a Eletropaulo está em um nível muito bom, quer dizer, ela... eu diria que... você tem a pretensão de dizer que é a melhor, fica um pouco grandioso demais, mas com certeza, nós estamos dentre as melhores, ao nível de GM [General Motors], ao nível de Banespa [Banco do Estado de São Paulo], ao nível de Banco do Brasil, quer dizer, estruturas. Na época, a gente se confrontava com o Itaú. Criamos uma certa empa... evoluímos a tal o ponto que a história que eu falei anteriormente, quer dizer, nós entramos com quatro pessoas, mal dava para carregar uma bandeira e nos anos seguintes nós conseguimos evoluir até ganhar os desfiles. E até a hegemonia que a gente tem hoje ao nível de Capital é de Jogos Operários do SESI. De todas as empresas, a gente com certeza está entre as melhores. E a Cesp também na época tinha uma organização muito boa, hoje não conta mais com essa organização, decaiu muito esse nível. Então houve uma evolução. E essa evolução, para sentir ao nível das empresas, com certeza teve uma evolução interna. A evolução interna foi dos campeonatos que passaram a ser de pequeno número de associados que se tinha na época para um grande número de associados que se tem hoje, que é cerca de 12 mil associados. São 10 mil efetivos e mais 2 ou 3 mil aposentados. Então tem um universo entre 13 a 14 mil pessoas associadas, somente sócios, sem contar com o universo de dependentes. Então houve uma evolução do início até hoje dos campeonatos. Hoje o número de participação numa Olimpíada chega a cerca de 2.500 funcionários, que participam na olimpíada, entre funcionários e dependentes. É um número expressivo. Você atinge efetivamente 10% da categoria eletricitária que participam dos jogos. Então isso é um dado muito importante.
P/1 - E, assim, essa questão do patrocínio a atletas? Como isso se dá e como é que isso reverte para a imagem da ADC?
R - Aí é uma questão também um pouco polêmica. O patrocínio esportivo, ele vem da empresa. Há interesse da empresa em divulgar a imagem dela, ela tem que utilizar a imagem dela diferentemente das outras instituições estatais. Se nós pegarmos hoje, por exemplo, a Nossa Caixa e o próprio Banespa, são equipes de bancos que têm uma concorrência com outras equipes que também tendem a vender. Então é um jogo de mídia, de marketing, são altas somas envolvidas nessas empresas. A Eletropaulo, ela não precisa vender energia, quer dizer, ela não precisa dizer para pessoa que ela... Se alguém quiser instalar iluminação em casa, luz em casa, ela tem que pedir. Quer dizer, praticamente no mundo civilizado, todo mundo que tem casa, tem que ter a luz e luz elétrica. Então basicamente está contido já na própria vida da pessoa, no cotidiano da pessoa, do cidadão de um modo geral. Ela não tem uma ênfase, não pode dar uma ênfase para o marketing como mídia para vender mais o produto dela, mas ela tem que ter uma preocupação com o aspecto social, já que ela distribui um produto para uma população, né? E essa preocupação ela tem que passar através de alguma coisa que ela também passa para sociedade, né? Então o que nós...e o Takeo foi uma pessoa que comprou sempre essa ideia. O Takeo, devo ressaltar aqui, que o Takeo sempre foi uma pessoa que realmente comprou essa ideia da participação da Eletropaulo ao nível externo, ao nível de competição porque ele também sente essa necessidade da Eletropaulo estar junto com a população de um modo geral. E por que nós escolhemos o futebol de salão e o atletismo? O atletismo porque é um dos esportes mais carentes ao nível de Brasil. Então todos os atletas que vem, praticam atletismo, eles são de camadas bem carentes da população. Então é uma forma da empresa investir no social, na comunidade, quer dizer, alguns atletas vieram de turma da rua, outros vieram de favelas. Então há uma preocupação social porque enquanto nós temos mais ou menos hoje cerca de 150 atletas envolvidos, entre menores e adultos, no projeto. E deles é cobrada a frequência escolar, uma série de coisas. Tem encaminhamento médico, tem assistência médica, alimentação, uma série de coisas que... é um projeto. E o futebol de salão, por ser o esporte mais praticado na Eletropaulo dentro dos campeonatos internos de futebol de salão. Isso também passou e por ser realizado em salão, em quadra coberta, é uma facilidade a mais que a gente teve também de montar as equipes competitivas. Hoje nós temos cerca de mais ou menos também de 150 garotos envolvidos nesse projeto. Então, ao todo, a Eletropaulo tem aí cerca de 300 atletas envolvidos nessa condição de aspecto social da empresa com a comunidade. Logicamente, a gente não pode atender toda comunidade como um todo, mas é a pequena parcela que a empresa tem a responsabilidade de ter junto à população. Então é o que a empresa se propõe a fazer nesse caminho.
P/1 - Assim, ao nível de infra-estrutura, o que vocês oferecem para esses atletas? Qual o suporte que a ADC oferece?
R - Geralmente há uma triagem. Logicamente, a pessoa tem que ter uma tendência a praticar o esporte, sem dúvida. Tem uma triagem, tem as escolinhas, hoje lá no Socorro nós temos os técnicos que fazem uma triagem dos atletas e eles são encaminhados a um treinamento. A gente dá um lanche para as crianças. Quando a crianças já estão numa fase de competição, que é de sábado e domingo, nas categorias menores, a gente coloca….tem os uniformes, tem toda a infra-estrutura, alimentação, assistência médica, tudo para que ela possa desenvolver a sua capacidade de competir pela empresa. E na área de atletismo, a gente tem uma escolinha lá na pista de atletismo do Ginásio de Ibirapuera, também é feito o mesmo processo nesse sentido. Então a gente tem essas duas metas e tem um corpo técnico que é especializado. Aliás, eu reputo o corpo técnico de atletismo, quer dizer, uma das melhores coisas que nós temos na nossa equipe é o corpo técnico, que todos são formados na mesma época da faculdade, que é a turma de 1982. Então hoje nós temos o Humberto que começou com a gente. Era atleta, virou técnico e já passou por várias delegações de seleções brasileiras; ele foi para os Jogos Pan-Americanos em Cuba como técnico da equipe de fundo. Ele tem um atleta campeão pan americano que é o José Mauro Valente, campeão em Cuba pan americano dos 1.500 metros. A gente tem outro técnico que se formou conosco também, que era o Katsuko Maclai (?) que foi o melhor velocista na época dele, era considerado o japonês mais veloz do mundo. Ele é descendente de japoneses, então ele era mais conhecido no Japão do que aqui [risos]; tinha um recorde brasileiro na época dos 100 metros rasos. Ele é da mesma turma nossa também da faculdade. Se formou, trouxe ele para cá e continua com a gente até hoje. Ele era responsável pela equipe de velocidade da Eletropaulo e a equipe de fundo é do Humberto. E nós temos dois professores, que é o Neilton Moura, que é o responsável pela equipe de saltos; então os melhores saltadores hoje estão na mão dele. E o Nélio, que é o irmão do Neílton, também ele já veio posterior a esses três, já veio mais recentemente, mas também é da mesma turma da época de faculdade nossa. Também é responsável pelas categorias menores e de salto também, da mesma área de saltos. Todos esses técnicos foram formados por nós, pela Eletropaulo, nós demos projeção a ele, quer dizer, condições para que ele desenvolvesse o potencial deles e que hoje eles fazem parte de seleções brasileiras. Então o corpo técnico é um dos pontos altos que nós temos e no futebol de salão também. Nós temos hoje o... Quando nós começamos, nenhum deles era federado. Então a gente procurou formar as pessoas, os técnicos. E até hoje... a gente teve o Marcos, que começou com a gente, mas ele teve que ir embora há uns três anos atrás, foi para Brasília. E ficou o Raimundo, que é o famoso Ica, que também começou com a gente desde as menores. Passou por toda a fase, todo o processo e hoje é o técnico da equipe principal e coordenador de todas as escolinhas. E o Nicola, que também começou com a gente nessa época. Então são todos formados na casa. Quer dizer, essa é a grande vantagem. Todos têm um carinho muito grande pela ADC e pelas pessoas que vêm fazer teste na equipe, uma série de coisas.
P - Como é que se dá essa participação, por exemplo, da Eletropaulo. Ela dá uma verba para vocês para co patrocinar? Como é que é?
R - Sim. A Eletropaulo dá uma subvenção para o clube, que é para realizar os campeonatos e toda a formação interna de eventos para os associados. Porque a mensalidade é baixa em relação aos clubes externos ou outros clubes, como Palmeiras, Corinthians, Pinheiros e Espéria. Quer dizer, a mensalidade que o associado paga é muito baixa e a empresa complementa essa verba com uma subvenção. E de três ou quatro anos para cá, ela vem dando apoio ao esporte. Então de uns oito anos para cá, ela incorporava a subvenção na parte para os atletas, quer dizer, para as equipes de competição externamente, né? De dois anos para cá tivemos problemas com esse tipo de processo e houve uma evolução, houveram negociações do Takeo com a empresa, com a minha ajuda também, e nós fizemos um contrato particular. Então hoje existe um contrato entre a Eletropaulo e a ADC ao nível de esporte de competição. Então existe uma verba que é estipulada ano a ano, para o ano em curso, né? Esse ano nós vamos negociar com a verba para o ano que vem e aonde a gente é obrigado a manter um certo número de atletas e prestar contas a respeito deles para a empresa. A imagem, a mídia, uma série de coisas que a gente é obrigado a fazer como relatórios mensais para a empresa, para que ela possa saber o que está sendo empregado nessa linha. Eu acho que foi a maior evolução que tivemos nesses últimos anos entre a Eletropaulo e o clube, porque vinha uma verba, uma subvenção, mas não se prestava contas nesse sentido, quer dizer, à empresa. E hoje não, a empresa tem uma preocupação de saber como que estão indo os atletas, o que estão representando, o que estão fazendo e tal. Isso é muito bom para nós, é sinal de que o trabalho está sendo reconhecido, que eles tendem a apoiar esse tipo de trabalho.
P/1 - Para encerrar nossa entrevista, Toninho, eu gostaria de que você falasse, assim, um grande sonho que você tem, um grande projeto para ADC e um projeto pessoal mesmo.
R - O grande sonho na ADC e o meu trabalho se completarão a partir do momento que a gente ver o clube funcionando como um todo. E eu também acredito que seja o grande sonho das pessoas que idealizaram o início em 1978, da união dos clubes, tal, que é sonho do Takeo, do Mizo, do Arnaldo, do Jubelini, enfim, de todas as pessoas que começaram com a gente esse projeto. O grande sonho é ver o clube... a pessoa entrar no início e sair no final do dia contente, onde ele tenha passado pelas piscinas, pelo campo de futebol com a pista, pela sede social, pelo restaurante e tenha saído satisfeito no final do dia, com todos os equipamentos completos. Eu acredito que esse dia ele não esteja longe, pela dedicação de toda diretoria ao longo desses anos e todas as pessoas que trabalharam e puseram um tijolo para que isso fosse formado. Se as pessoas e a diretoria continuar coesa, acho que esse dia não está longe. Esse é o grande sonho da ADC. E o sonho pessoal é o sonho de ver concretizada a formação das minhas filhas, né, da formação delas, que elas estejam bem encaminhadas na vida e uma coesão familiar que se perpetue até aonde a gente puder levar a nossa vida, um dia ela termina, mas até lá que a gente seja... a gente possa levar todos os nossos sonhos adiante, que é a coesão familiar e aí ver a nossa família, as nossas filhas, no caso, formadas e exercendo a formação delas.
P/1 - Você gostaria de acrescentar mais alguma coisa neste depoimento?
R - Não. Eu gostaria de agradecer a diretoria da ADC por todos esses anos de convívio, com todos os diretores, com todas os associados, né, e dizer para todos que nós estamos perto de realizar o sonho. Então mais um pouco de luta, de sacrifício, a gente consegue chegar até lá. E agradecer a vocês também por essa oportunidade de estar aqui podendo falar e relembrar alguns fatos que a gente lembra desde o início. Obrigado.
P/1 - Muito obrigada.
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