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Por: Museu da Pessoa, 1 de agosto de 2017

Uma vida de histórias a serem escritas

Esta história contém:

Uma vida de histórias a serem escritas

Nasci em primeiro de janeiro de 1957, em Recife, na Rua do Lima. O meu avô, Cesário Rodrigues Pereira Serra, imigrante português, tinha esta casa antes das filhas casarem. Minha mãe, Gilda, casou-se com meu pai, João Moura dos Santos, e nossa família cresceu na casa de meu avô. Primeiro na Rua do Lima. Depois numa casa imensa na Avenida Doutor José Rufino, em Tejipió.

Passei a infância convivendo com bichos, com a linha do trem, com frutas como sapoti e os pés de abiu e de manga. Se eu souber definir o que vem a ser felicidade, era ali que ela estava. Era um lugar de muita calmaria. Naquele tempo as crianças não tinham a palavra, e eu fui um menino muito silencioso. Mas havia a alegria de uma infância com festa de aniversário, com festa de Natal. Acho que foi naquela casa grande que se formou o embrião da minha literatura e da minha fotografia. Havia um parreiral na casa. Debaixo desse parreiral, meu avô reunia os netos para contar histórias da família dele em Portugal, mostrando álbuns de fotografia.

Essa infância na casa grande marcou uma paixão que eu tenho pelas empregadas, que foram fundamentais na história da nossa família e na minha história pessoal como cidadão e como escritor. Eu sei o nome de todas as que passaram pela minha vida desde meus quatro anos de idade: Adalgisa, Maria Pezão, Bidiu, Tereza, Isabel. Eram mulheres que moravam praticamente a vida inteira dentro das casas. Eu acho que elas sabiam direitinho o que estavam fazendo ali. Não havia submissão. Tinha uma coisa silenciosa, tinha o que o corpo delas falava, o que muitas vezes os olhares falavam.

Meu pai era gerente de uma loja chamada Império dos Plásticos, na Rua da Imperatriz defronte à igreja, que vendia plásticos em tubos, por metro. Minha mãe ajudava meu pai, fazia capas de geladeira, de bujão de gás, de máquina. Nós passávamos os finais de semana e as férias numa casa que meu avô tinha em Carpina, na Zona da Mata. Na loja, meu pai tinha uma...

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Projeto Conte Sua História

Depoimento de Diógenes Serra Moura dos Santos

Entrevistado por Karen Worcman

São Paulo 01/08/2017

Realização Museu da Pessoa

PCSH_HV603_ Diógenes Serra Moura dos Santos

Transcrito por Ana Carolina Ruiz

Revisado por Eliana Giannella Simonetti

P/1 – Vamos começar por seu nome, local e data de nascimento.

R – Meu nome é Diógenes Serra Moura dos Santos. Eu nasci em primeiro de janeiro de 1957, em Recife, na Rua do Lima, numa casa junto de onde funcionou e funciona a TV Jornal do Comércio. Na mesma rua, também, Castro Alves viveu o grande amor com a atriz portuguesa Eugénia Câmara. Há uma história poética dessa vivência nessa parte do bairro. O meu avô, imigrante português, tinha esta casa antes de as filhas casarem e ali elas, minha mãe inclusive, pescavam siri à noite.

P/1 – Já que você mencionou seu avô, qual era o nome dele?

R – Cesário Rodrigues Pereira Serra. Ele veio de uma pequena aldeia da região do Porto. Chegou a Recife sozinho, depois veio o irmão dele. Chegando, meu avô conheceu a minha avó, Georgina, casou e teve seis filhos, entre eles minha mãe. As filhas são: Hilda, Arlinda, Helena, Gilda; José e Paulo, são os dois homens. Minha mãe é Gilda. Nós somos todos pernambucanos, uma família grande. Depois da Rua do Lima vivemos na Avenida Doutor José Rufino, nesse bairro que é um arrabalde chamado Tejipió. Era uma casa grande, imensa, com quintal para um lado e para o outro e onde moravam três filhos de meu avô, entre os quais a minha mãe com o meu pai, João Moura dos Santos, casados.

P/1 – Casados, seu pai e sua mãe foram morar na casa do seu avô?

R – Foram morar com o meu avô, que era viúvo, já que minha avó morreu aos 78 anos. A gente chamava essa casa de casa grande, porque era verdadeiramente imensa. O quintal do lado direito era tão grande que os dois filhos homens, José e Paulo, construíram ali as sua próprias casas. Passei a infância convivendo com...

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Título: Uma vida de histórias a serem escritas

Data: 1 de agosto de 2017

Local de produção: Brasil / São Paulo

Entrevistador: Karen Worcman
Autor: Museu da Pessoa

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