Era início de outubro, numa terça-feira. Minha mãe como de costume ligou para minha avó que morava em Restinga Seca, para ver como ela estava e já avisar que iria passar o fim de semana com ela. No decorrer da conversa minha avó disse para minha mãe que ela não estava se sentindo muito bem n...Continuar leitura
Era início de outubro, numa terça-feira. Minha mãe como de costume ligou para minha avó que morava em Restinga Seca, para ver como ela estava e já avisar que iria passar o fim de semana com ela. No decorrer da conversa minha avó disse para minha mãe que ela não estava se sentindo muito bem nos últimos dias. Mas como ela já tinha alguns problemas de saúde e fazia tratamentos, os sintomas pareciam normais.
Na quarta-feira recebemos a notícia de que minha avó tinha sofrido um infarto e que teria sido encaminhada ao hospital de Restinga. Minha mãe estava indo para Restinga, quando recebe outra ligação de que minha avó teria sofrido dois derrames seguidos e que deveria ser transferida para o Husm de Santa Maria, agora em estado grave. Minha mãe segue para Santa Maria, eu e minha irmã por motivos escolares e de trabalho ficamos aqui, aguardando notícias melhores. Mas elas não chegam.
Minha mãe nos liga e diz que minha avó perdeu a visão e o direito de respirar sem ajuda de aparelhos. Daí para a frente as coisas só se complicam mais, minha avó, já em coma, começa a perder alguns sentidos, como a fala e o direito de andar. A esperança, como é a última que morre, continuava ali, firme e forte. Mas não foi o suficiente, na sexta-feira minha mãe nos dá a notícia de que minha avó teria tido morte cerebral, ou seja, ela estava apenas com seu coração batendo, pois suas funções neurológicas não faziam mais parte do seu corpo.
Me lembro como se fosse hoje, eu recebendo a notícia na escola; foi horrível, eu saber que não teria mais minha avó em nossas vidas. Mas para minha mãe e meus tios, minha avó não havia morrido, ela ainda estava com o coração batendo, não poderia estar morta. E essa foi a parte mais difícil, dar força para minha mãe em um momento tão difícil para todos nós. Eu sabia a verdade, minha avó já não estava mais entre nós e não havia mais o que ser feito, a não ser desligar os aparelhos. Mas alguns filhos não aceitaram isso, então não foi feito.
No sábado, dia em que minha mãe posaria no hospital como minha avó, seu coração para de bater, e ela de mãos dadas a minha mãe, deixa realmente de fazer parte de nossas vidas. A saudade é grande, mas não traz as pessoas de volta. O que fica são apenas as lembranças de momentos bons ou ruins, que passamos ao lado de pessoas especiais, como foi minha avó para todas as pessoas que conheceram ela.Recolher