Filho de pai descendente de espanhol, e mãe descendente de portuguesa. O pai era trabalhador do porto de santos e sua mãe costureira. Teve uma infância normal, empinando pipa, jogando futebol, e com os pais um pouco ausente, devido a muitas brigas familiares por causa das aventuras extraconjugais...Continuar leitura
Filho de pai descendente de espanhol, e mãe descendente de portuguesa. O pai era trabalhador do porto de santos e sua mãe costureira. Teve uma infância normal, empinando pipa, jogando futebol, e com os pais um pouco ausente, devido a muitas brigas familiares por causa das aventuras extraconjugais do pai.
Estudou em escola municipal, era um péssimo aluno, não gostava de estudar, seu único incentivo para ir a escola era as aulas de educação fisica, na qual adorava correr. Tentou como todos os meninos ser jogador de futebol, passou em uma peneira feita na época para a escolinha do Santos F. C., só que seu primo que também tinha feito o teste, não passou ele não quis ficar.
Sua primeira namorada, foi aos 13 anos, se chamava Roberta, nesta época ele começou a freqüentar uma escolinha de atletismo em Santos, e começou a correr algumas corridas de 10km, porém a família da menina não gostava muito dele, e de tanto a mãe pedir, ela acabou terminando o namoro de quatro anos, nesta época, Valmir começou a apresentar sintomas de uma grave doença.
Valmir agora, com 17 anos sentia muitas colicas abdominais, e sangramentonas fezes quando ia ao banheiro, procurou vários médicos e especialistas, fora algumas formas de tratamentos alternativos.
Sua mãe até então um pouco ausente, se tornou sua principal companheira, como ele mesmo diz, conheceu o que é ter mãe aos dezoito anos, quando sua doença começou a ficar mais grave, a reto cilite ulserativa, uma doença classificada como sem cura pelos especialsitas. Sua família não tinha muito dinheiro, era de classe média, e seu pai já aposentado, tinha que trabalhar como pintor para pagar médicos e exames.
Uma médica muito famosa em São Paulo chegou a indicar que fosse retirado seu intestino, para que fosse colocada uma bolsa que o acompanharia para o resto da vida tipo de um dreno que ficaria para fora do corpo.
Sua mãe não deixou, e por durante 5 anos foi uma batalha, entre a vida e a morte com várias internações, anemias profundas, que o faziam tomar litros e litros de sangue.
Até que sua mãe ficou sabendo de um médico em Santos que era muito bom, mesmo cansada de tantos médicos falarem a mesma coisa, não desistiu e o levou para se consultar com este médico. O médico disse que a cerca de uma semana tinham lançado uma nova droga que era para este tipo de doença, resolveram experimentar, Valmir foi melhorando pouco a pouco.
Com 22 anos eu o conheci ele estava quase que curado tinha às vezes algumas crises, mas nada que o impedia de ter uma vida normal.
Foi em um dia de chuva, eu acabara de mudar, começei a vim da escola com uma amiga que morava próximo do meu novo endereço, eu tinha 16 anos. Sentamos em um barzinho, com amigos dessa minha amiga e entre eles estava o Valmir, com uma guaita. Ele tentava tocar aquele troço, e aquele barulho estava cada vez mais me incomodando. Lembro que falei a um amigo que estava do meu lado: vou fazer ele engolir este negócio.
No outro dia ao voltar da escola encontro o Valmir, cheio de graça para o meu lado. O Valmir na época pesava 81 kg, pois os remédios que ele tinha tomado fez com que ele inchase depois de algum tempo. Bom encurtando a história, começamos a namorar, Valmir estava agora fazendo massagem estética e massagem em pessoas com problema em sua casa. Logo depois começa a trabalhar em uma recém aberta academia como massagista.
Desmanchamos e voltamos várias vezes em um período de uns de três anos, Valmir saiu da academia e agora estava em um clube trabalhando. Começa a voltar a correr na praia e a freqüentar de novo o clube de atletismo.
Fiquei grávida aos dezenove anos, foi um tremendo baque em todos principalmente na família do Valmir, que com razão se preocupava com o futuro dele, que ganhava pouco. Pensei em fazer um aborto mas o Valmir, tirou isso da minha cabeça. Casamos no civil e fomos morar na casa da mãe dele. Nesse período Valmir e convidado para trabalhar em uma firma de navegação. Valmir começa a voltar a tomar gosto pela corrida e ia a maioria das vezes correndo para o trabalho que ficava a uns 25km de casa. Fui ao médico no dia 20 de junho para fazer os últimos exames da minha gravidez, eu estava com 8 meses, quando o médico disse para eu ir para o hospital que meu bebê estava para nascer, nem quis telefonar para o Valmir, pois achava que o médico estava ficando louco por que eu não sentia nada, e nem tinha 9 meses, falei para a mãe do Valmir que me acompanhava: vamos passar em casa que eu vou para o hospital, passamos, ela tomou café, tudo na maior calma, quando chegamos ao hospital duas horas depois os médicos já estavam com a maca na porta me esperando. Fui informada que o meu caso era muito grave e que o bebê não ia sobreviver. E para a minha sogra falaram que nem eu iria.
Foi uma correria, mas graças a Deus deu tudo certo, hoje minha filha tem 11 anos é saudável, e até campeã regional de natação.
Voltando, surge a oportunidade de nós comprarmos uma lanchonete, vendemos nosso único bem, que era uma moto. A lanchonete ia de mal a pior o Valmir decide correr longa distância, o seu treinador da época, convida um amigo dele para fazer uma corrida de 100km que se ele se desse bem iria ganhar uma passagem para correr na Espanha. O amigo dele não quis competir e sugeriu que o Valmir era a pessoa mais indicada para este tipo de corrida. Uma loucura correr 100km, diziam. Mas ele treinou e decidiu ir fazer a corrida. Fez e ganhou com o tempo de 7horas e trinta minutos, num percurso que ia de Uberaba a Uberlândia. A passagem prometida não vem, e começa nossa luta pelo sonho dele correr na Espanha.
Através de uma matéria feita pelo Jornal da Tarde, isso em 1990 em São Paulo a Autolatina, se interessa e dá a passagem para ele ir competir. Foi sua primeira corrida internacional e ele consegue um glorioso terceiro lugar. É recebido em Santos com festa, e direito a passeio no carro de bombeiro. Neste tempo nós morávamos ainda com a mãe dele, e de vez enquando ele sentia alguns sinais da doença que foi desaparecendo com o tempo, a Autolatina ainda o patrocinou por mais duas corridas, uma em Madrid que foi a sua primeira vitória no ano de 1991, depois Valmir compete na Itália se tornando campeão mundial da modalidade (ultramaratona prova que tem a distância de 100km, hoje Valmir e bi-campeão mundial da modalidade tem 17 vitórias, e a terceira melhor marca mundial na modalidade).
Nós moramos em um apartamento que é nosso, Valmir vive exclusivamente do esporte e patrocinado por o cemitério mais alto do mundo, há oito anos.
Valmir é a pessoa mais lutadora que eu conheço, ainda batalha muito, pois viver de esporte neste país é muito difícil, sofre até hoje muitas injustiças, mas é a pessoa mais honesta que eu já vi nos meus trinta anos de vida.
Kelly.
(Kelly Regina Bastos Nunes mandou a história de Valmir Nunes ao Museu da Pessoa em 19 de setembro de 1999 através do nosso site na InternetRecolher