P – Para começar eu quero que você fale o seu nome completo, a data e o local onde você nasceu.
R – Meu nome é Luciana de Souza Aguiar, eu nasci em São Paulo, no dia 17 de dezembro de 1977.
P – E qual é a sua formação?
R – Administração.
P – E como q...Continuar leitura
P –
Para começar eu quero que você fale o seu nome completo, a data e o local onde você nasceu.
R – Meu nome é Luciana de Souza Aguiar, eu nasci em São Paulo, no dia 17 de dezembro de 1977.
P – E qual é a sua formação?
R –
Administração.
P – E como que você conheceu o Ethos?
R – Eu conheci o Ethos quando eu estava na faculdade ainda, em 1998 mesmo, quando o Ethos foi criado. E, na época, eu fazia Administração, mas tinha um interesse grande em trabalhar com o terceiro setor, em trabalhar
com a área cultural, com o marketing cultural, que era um termo que se falava muito nessa época. E estava tentando me achar, na verdade, na Administração. Eu era pouco convencional no curso. Eu não tinha um perfil parecido com o dos meus colegas, e a responsabilidade social, empresarial, o conceito começou a ser conhecido nessa época. Acho que muito pelo trabalho que o Ethos começou a fazer. E eu conheci nessa época, consultei o site. Fui fazer meu trabalho de final de curso, tinha interesse nesse tema. Então foi assim que eu conheci o Ethos.
P – E você lembra o que é que te levou a achar que esse tema era importante para você, a responsabilidade social?
R – Eu achava que o tema tinha a ver com as coisas que eu acreditava, de que a gente tem que trabalhar por uma sociedade melhor, uma sociedade mais justa. E que tinha um tom de mudança. Tinha um movimento aí de mudar alguma coisa. E, de alguma forma, era dentro da minha área. Dentro da área de Gestão, que era uma área que eu acreditava que eu tinha alguma habilidade. Então foi meio que eu vi assim: "Ah, acho que eu consigo trabalhar com isso, isso está indo ao encontro das coisas que eu acredito, e das minhas habilidades."
P – E como foi o processo de você entrar no Ethos, você se lembra?
R – Então, foi muito tempo depois. Eu trabalhei em empresas, trabalhei na área de Cultura. E em determinado momento eu deixei tudo e comecei a procurar trabalhar no terceiro setor. E também com o tema da gestão, da responsabilidade social e
empresarial. E apareceram, eu
procurando emprego vi algumas oportunidades no Ethos. E, da mesma forma como o tema se encaixava na minha vida, eu achei que o Ethos também seria um bom lugar para eu trabalhar [riso]. E entrei em 2005 no Ethos, na área de Relacionamento com a Academia já. E acreditando mesmo que isso, trabalhar o tema com os futuros profissionais, com as pessoas que estavam indo para o mercado de trabalho era uma coisa de extrema relevância.
P – E aí, qual foi sua impressão, de chegar no Ethos, comparando com os outros lugares em que você tinha trabalhado?
R – Então, acho que eu me achei no Ethos, quando eu olho para as pessoas hoje da equipe, as conversas que a gente tem, os debates que a gente participa. As oportunidades de fala que eu e algumas pessoas do Ethos têm. E alguns têm em sala de aula, em palestras. Eu acho que o meu lugar é por aí. E não que o Ethos seja um
lugar perfeito, nenhum
lugar é, mas desde quando eu tenho experiência de trabalho mesmo, foi o lugar onde eu achei pessoas mais parecidas comigo. Com valores mais parecidos com os meus.
P – Você lembra de algum episódio assim, logo que você entrou que te fez sacar isso ou alguma coisa engraçada?
R – Não, eu acho que tem, eu fiquei muito impressionada com a identidade que eu tive com as pessoas. De gostar das pessoas muito rapidamente. Eu vinha de lugares, menos na área de Cultura, mas era um ambiente empresarial que eu me sentia muito fora, muito à parte daqueles ambientes assim. Eu não conseguia, eu não tinha um... eu não encontrava um jeito de interagir com essas, com aquelas pessoas. Não porque elas fossem ruins ou não, porque eu achava um, que não era o meu lugar. Quando eu cheguei no Ethos era tudo muito divertido, muito interessante, muito engraçado também. As pessoas eram engraçadas, o tema era legal ficar numa reunião, ouvir os debates e ouvir os questionamentos. Então eu acho que eu não lembro de um fato isolado, mas lembro de me identificar muito rápido com o ambiente e com as pessoas.
P – Mas então teve impacto na sua vida pessoal assim?
R – Sim. Acho que consegui um pouco o que eu estava buscando, realizar um pouco o que eu estava buscando em termos profissionais. Claro que a minha busca continua, né, de fazer melhor o que eu faço, de experimentar outras funções, ter outras experiências. Mas acho que foi impactante sim.
P – E trabalhando lá você consegue ver o impacto do Instituto, das ações do Instituto na sociedade, e nas mudanças de contexto?
R – Consigo, consigo. Acho que a gente fez, faz parte, tem um papel importante num movimento que é muito maior que a gente. Mas acho que sim. Pensando em mim na faculdade em 1998 e pensando em ir à uma universidade, ou entrar em uma sala de aula hoje, é muito diferente a noção que as pessoas têm do tema, o que é que... Também os fatos estão ajudando a gente criar esse ambiente, não só o Ethos, mas a pauta existe. Existe um conhecimento acumulado, registrado. Em 1998 isso não existia. Eu não via isso, a gente não via, era tudo muito incipiente. Acho que hoje a gente tem uma profusão de idéias, de conteúdo, de debates de questões que a gente
consegue dar conta de ter, por causa do acúmulo de experiência que passa pelo Ethos.
P – Você destacaria assim alguma ação que você achou imprescindível, que te marcou nessa sua trajetória junto, né? Porque você está desde o começo.
R – Eu acho que tem a questão dos indicadores, tem as articulações políticas do Ethos. Eu acho que tem o trabalho de mobilização forte, que não é um trabalho simples de fazer. Nos estados, junto à academia, junto à mídia. E acho que tem uma coisa que está clara nessa conferência também que é o Ethos estar indo para debates que são difíceis para encarar dilemas, articulando atores. Acho que esse é o nosso, sempre foi o nosso papel. Que é trazer as empresas para discutir e ajudá-las, junto com outros setores, a encontrar soluções para questões que a gente precisa resolver. E acho que a gente está assumindo cada vez mais esse papel. Eu fico feliz em ver o Ethos se envolvendo nessas polêmicas, e se colocando a favor da solução de questões relevantes para a sociedade.
P – Você tem algum tema que você acha que seja mais dificultoso assim de debater? Um desafio que você consegue ver?
R – Bom, muitos. Tem a questão da corrupção, e tem a questão da sobreposição, da mudança de valor nos negócios. De mudança de... a gente tem valores muito do mercado hoje. Então, em termos de educação, por exemplo, a gente está tentando pautar a questão da educação para a sustentabilidade, e que é um assunto que interessou muito nessa conferência, e eu fiquei feliz por isso. E a gente tem um desafio imenso pela frente, que é discutir educação, assim, que educação a gente deseja? Que tipo de educação a gente tem? Que é que a gente vai fazer para isso? E acho que a chave disso é mudar. A educação hoje é muito... está sendo... a formação do profissional ela é voltada completamente para o mercado. Para o que o mercado deseja, para a demanda, numa lógica muito perversa. E a gente está deixando de pensar muitas vezes que as pessoas são formadas para viver em sociedade, para criar um mundo melhor, para interagir melhor com as outras. Para fazer o mundo. E eu acho que essa é uma discussão difícil, dificultosa, como você falou, mas chave para tudo que a gente está vivendo.
P – E você assim, pessoalmente, pensando em sonhos, sabe? "O que eu gostaria de
ver acontecer?" Você tem alguma coisa que você...?
R – Eu acho que isso que eu falei, eu acho que é uma questão muito estrutural que eu queria ver diferente daqui ha 10 anos, talvez. Que é uma educação melhor, uma educação para a cidadania, uma educação para o mundo. E não só para o mercado, não só para o que uma empresas vai te demandar. Não só para uma habilidade técnica, mas uma educação para o mundo. Que trabalhe valores que trabalhem uma visão sistêmica, que trabalhem uma visão multidisciplinar. E é um desafio imenso [risos] em vista do que a gente tem hoje. É isso que eu queria ver acontecer.
P – Claro. E, olhando para esses 10 anos você lembra de alguma mudança no seu cotidiano que você atribui à esse tema? Ao desenvolvimento desse tema da sustentabilidade? Não sei, de repente deixar de usar sacola plástica, ou passar a usar, assim, que você lembra que te marca? Que afetou você?
R – Acho que tem a coisa da reciclagem mesmo, e pensar como a gente usa um recurso, como que eu consumo. E acho que é isso. Pensar em como os produtos que eu compro foram preparados. De que eles foram, como que eles chegaram até mim. E de pensar como eu descarto resíduos. Como a gente toma contato com uma série de questões, a gente vai tentando buscar soluções na vida prática, na sua própria vida. Eu acho que isso é importante também a gente conseguir avaliar o desafio que a gente propõe. Então é importante essa prática, e ela não é fácil. E a gente vai esbarrando em uma série de questões, mas eu acho que vai caminhando também como todo mundo.
P – E, profissionalmente você entra em contato com as empresas também? Você trabalha...
R – Eu já tive, eu já trabalhei diretamente com empresas, hoje trabalho com o público acadêmico de novo, como quando
eu entrei, mas a gente tem contato com empresas sim.
P – E aí, como que é essa, chegar até ela, a demanda é delas? Elas que vão até vocês?
R – Sim, acho que tem a mão dupla, né? A gente oferece algumas, apresenta algumas propostas de atividade, uma programação para as empresas associadas, e para as não associadas também. E toda pauta social que o Ethos coloca na mídia, enfim, nas publicações, nas falas. E elas também chegam até nós. E chegam até nós de todas as formas possíveis, assim, com os níveis mais complexos de... com os dilemas mais
complexos e também com quem está querendo começar: "Por onde que eu começo e tal?" Hoje o Ethos lida com um, acho que de A a Z de necessidades. A mesma coisa acontece com os estudantes também, têm dúvidas muito iniciais ainda sobre o assunto e dilemas extremamente complexos. Então acho que é, esse é um dos desafios também do nosso trabalho, de lidar com todas as empresas, com todas as pessoas.
P – E como é essa experiência de fazer esse diálogo, assim, para você? Já aconteceu alguma coisa que te deixou, te colocou um desafio muito grande? Que você teve que pensar, te marcou?
R – Eu gosto muito, primeiro, dessa relação. A gente fala de sustentabilidade, fala de responsabilidade social, e isso é falar de diálogo, é falar de relações melhores, né, de mão dupla. E a gente não está, a gente não foi educado, a gente não está muito acostumado a fazer isso. Então toda conversa, toda dúvida, toda palestra é uma boa experiência. As palestras acho que me marcam muito porque, principalmente me fizeram vencer uma timidez, uma questão que é pessoal, por um valor, por um trabalho que eu acredito. Então eu acho, e é muito difícil, às vezes, falar para um público acadêmico que tem referências diferentes, e que não são as minhas. Que estão numa área de conhecimento que não é a minha. Mas é muito legal encarar isso de frente, e ver que as coisas têm intercessão, ver que as dúvidas se encontram. Conseguir responder algumas dúvidas, criar outras. Colocar outras perguntas desses grupos. Então essa relação, especialmente com estudantes, ela é muito rica no grupo de perguntas que se colocam e que você tem a oportunidade de plantar também.
P – Bacana. Lu, tem alguma coisa que você gostaria de falar que a gente, que veio à sua cabeça e a gente não tocou? Ou deixar uma mensagem?
R – Eu acho que não.
P – Que você falaria?
R – Eu desejo para o Ethos muita força, assim. Acho que nessa conferência eu fiquei com... primeiro que eu gostei mais dela do que das outras, e bom, estamos comemorando 10 anos, acho que tem muita reflexão aí junto. Estamos refletindo e estamos fazendo melhor. E espero que a gente faça melhor. Eu fiquei com uma vontade pessoal de fazer meu trabalho melhor, de ter mais gás, de me renovar em algum sentido. E espero que o Ethos trabalhe muito melhor, encare também seus desafios internos. Encare os dilemas que estão colocados. E é isso. Eu desejo trabalho e sucesso para o futuro.
P – [riso] Que legal. E o que você achou de contar um pouquinho dessa história para a gente?
R – Eu adorei. Eu não sei se eu consegui contar direito, mas achei muito legal.
P – Foi ótimo. Ah, então eu quero agradecer...
R – Eu é que agradeço.
P – ...em nome do Museu da Pessoa, em meu nome também, por essa oportunidade de te ouvir e você poder compartilhar essa história com a gente. Obrigada.
R – Legal, eu que agradeço. Obrigada.Recolher