Projeto Conte sua História 2017
Depoimento de Charles Edwin Catlett
Entrevistado por Lila Schnaider e Rosana Miziara
São Paulo, 23/06/2017
Realização Museu da Pessoa
PCSH_HV571_Charles Catlett
Transcrito por Liliane Custódio
Revisado por Viviane Aguiar
P/1 – Charles, você pode falar seu n...Continuar leitura
Projeto Conte sua História 2017
Depoimento de Charles Edwin Catlett
Entrevistado por Lila Schnaider e Rosana Miziara
São Paulo, 23/06/2017
Realização Museu da Pessoa
PCSH_HV571_Charles Catlett
Transcrito por Liliane Custódio
Revisado por Viviane Aguiar
P/1 – Charles, você pode falar seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Charles Edwin Catlett, born July 3, 1949, in Hardyville, Kentucky.
P/1 – (risos) Vai ser ótima a entrevista assim.
R – (risos) Você quer em português?
P/1 – Quero também.
R – Meu nome é Charles Edwin Catlett, nascido em 3 de julho de 1949, em Hardyville, Kentucky, nos Estados Unidos.
P/1 – Seus pais são dessa cidade?
R – Sim. Meus pais, meus avós, meus bisavós etc.
P/1 – Então, vamos buscar um pouquinho: nós vamos falar um pouquinho dos seus pais, dos seus avós, tanto paternos, quanto maternos. Como é o nome do seu pai?
R – Arvil.
P/1 – E ele é dessa cidade também?
R – Sim.
P/1 – E seu avô?
R – Edwin.
P/1 – Também da cidade?
R – Sim.
P/1 – O que seu avô fazia?
R – Fazendeiros. Tudo fazendeiro.
P/1 – É fazenda do quê?
R – Principalmente fumo e gado de corte.
P/1 – E seu pai... Como era seu avô? Você chegou a conhecê-lo?
R – Meu avô materno eu conheci mais, porque ele tinha duas fazendas, e eu tenho outro tio que também tem uma fazenda de um tamanho razoável, e nós todos trabalhamos juntos nas fazendas. Vamos dizer, a plantação de fumo foi feita em conjunto em todas as fazendas.
P/1 – Mas isso da sua mãe?
R – Da minha mãe. E do meu avô do lado do meu pai, ele era, vamos dizer, mais velho. Então, só o conheci com mais idade. Ele tinha problemas de saúde, então...
P/1 – Não chegou a conhecer?
R – Vamos dizer, não trabalhar junto, não viver junto.
P/1 – Mas como ele era, você lembra? A característica, o jeito?
R – Ele era muito brincalhão. A família do meu pai, como da minha mãe, são famílias grandes. Meu pai tinha família de 12, a minha mãe era uma família de 13. Então, na família do meu pai, parece que era sempre festa, sempre festa. E até hoje a família do meu pai, a gente faz reuniões anuais com todos os primos. Hoje chega, todo ano tem cem, 150, dos primos de primeiro e segundo grau. De primeiro grau tem mais ou menos 50, aí juntam seus filhos e a terceira geração também vai. Então, essa é a família do meu pai. A família da minha mãe, meu avô, ele era mais pragmático, acho que era um dos primeiros workaholics.
P/1 – Era fazenda do quê a do avô do pai da sua mãe?
R – A mesma coisa: fumo e gado de corte.
P/1 – Essa região é...
R – Basicamente. Naquela época. Hoje em dia é tudo milho e soja, mas naquela época era fumo e gado de corte.
P/1 – E você sabe como seu pai e sua mãe se conheceram?
R – No colégio.
P/1 – Eles eram vizinhos?
R – Vamos dizer, entre a fazenda onde moravam minha mãe e meu pai dava mais ou menos uns 15 quilômetros, mas estudavam na mesma escola.
P/1 – E seu pai, ele trabalhava na fazenda? Como ele fazia com o seu avô?
R – Não, ele tinha sua própria fazenda.
P/1 – Antes de você nascer.
R – Não, ele tinha uma fazenda menor naquela época.
P/1 – Que era dele?
R – Que era dele.
P/1 – Que seu avô deu?
R – Não, não. Meu avô nunca deu nada pra ninguém.
P/1 – E como seu pai conseguiu essa fazenda?
R – Trabalho. Nos Estados Unidos, em termos de empréstimos pra fazenda, tinha facilidades, em termos de financiamentos. E naquela época também o valor da terra não era tão valorizado como hoje. Então, era uma época diferente.
P/1 – E a fazenda do seu pai era de fumo?
R – De fumo e gado de corte.
P/1 – E pra quem eles vendiam? Como funcionava a dinâmica da fazenda?
R – O fumo, normalmente, naquela época, não era como aqui, não eram contratos com fabricantes de cigarro. Naquela época era leilão. Então, o fumo, o tipo que a gente plantava, o Burley, ele é classificado em termos das folhas: você tem folhas mais claras, folhas mais escuras, folhas mais finas e folhas mais espessas. Agora, antes de vender, você tem que separar folha por folha nessa classificação, dá muito trabalho, muita mão de obra. É como foi feito naquela época. Depois, você leva o fumo pra leilão. Então, tinha cestos enormes de fumo, e no leilão tinha os compradores de várias companhias que compravam o lote. Era por leilão, davam um lance, outro dia outro lance, era nesse esquema. Hoje em dia não. Hoje em dia, você ainda tem fumo na região, mas é menos gente plantando e áreas maiores plantadas, preços menores e isso tudo contratado diretamente com os fabricantes de cigarro. É como aqui no Brasil.
P/1 – Sua família ainda tem terras lá?
R – Tem. Tem. Meu pai ainda.
P/1 – Tanto do seu pai quanto da sua mãe?
R – Meu pai e minha mãe ainda moram na fazenda. Eles têm 92 e 93 anos. Mas hoje é tudo plantado em soja e milho, ela está arrendada.
P/1 – Quando o seu pai casou, e a sua mãe, eles foram morar na fazenda?
R – Sim.
P/1 – E você nasceu na fazenda?
R – Sim.
P/1 – A sua mãe fazia o quê?
R – Ela ajudava, mas era, vamos dizer, trabalho de casa. Mas também ela ajudava, ela gostava. Ela tinha uma plantação de morangos, e o morango, naquela época, você tinha a área e as pessoas vinham pra fazer sua própria colheita. Então, você tem a área, você tem os morangos, o pessoal vinha, escolhia os morangos, pesavam e vendiam. Tinha uma área razoável de morango, chegou a ter uns 15 mil metros de morango, que não é muito, mas é como uma diversão.
P/1 – E aí você nasceu na fazenda?
R – Nasci na fazenda.
P/1 – Quantos irmãos vocês são?
R – Dois irmãos.
P/1 – Você é o mais velho?
R – Meio. Eu tô no meio.
P/1 – Ah, você tem mais dois. Você é o do meio.
R – É. Tenho um irmão dois anos mais velho e um irmão quatro anos mais jovem.
P/1 – E que lembrança você tem de morar na fazenda? Como era? O que você fazia? Quais eram as brincadeiras?
R – Bom, a fazenda, a nossa fazenda tem um rio no meio da fazenda. Então, a nossa brincadeira mais era pescar, ou pegar pitu no rio. Mas era mais isso. Pescar, caçar, essa era a diversão.
P/1 – Você se lembra de alguma história que tenha te marcado na fazenda, na infância? Algum episódio?
R – Só me lembro do meu irmão mais jovem. Ele estava ali um dia, naquela época ele estava com cinco anos, ele nem estava na escola, e nós temos um vizinho que gostava de pescar no rio, e meu irmãozinho assistindo ao vizinho. E o vizinho pegou um peixe pequeno, e outro peixe grande tentou engolir o peixinho que ele pegou. E meu irmão mais novo viu e falou com o vizinho, que ele falava tudo errado naquela época, ele falou: “Eu vou pegar aquele peixe.” Aí ele correu pra casa, que dava uns 200, 300 metros, pegou a vara dele, ele estava de bicicleta com cesta, e foi lá. E o vizinho estava olhando, e ele jogou e pegou o peixe (risos). Aí ele jogou o peixe na cesta da bicicleta e foi pra casa. Mas era muito engraçado, que o vizinho ficou... Que ele falou: “Eu vou pegar aquele peixe.” E foi lá e pegou, com cinco anos.
P/2 – E você falou que seu avô era muito... Era o avô que era brincalhão?
R – Toda a família do lado do meu pai.
P/2 – Você se lembra de brincadeiras com ele, que ele fazia?
R – Não, ele sempre dando risada. Não precisa muito motivo pra dar risada, essa era uma coisa muito natural. Parece que eles falavam dando risada.
P/2 – Você se lembra de alguma história com ele?
R – Não. Nada específico. Porque era sempre na brincadeira, então, não tem nada que eu lembro que era demais.
P/1 – Como era a característica do seu pai com vocês? Como ele era em casa, o jeito dele?
R – Meu pai era muito quieto, ele não falava muito. Não falava muito. Eu não me lembro de muitas conversas com o meu pai.
P/1 – E com a sua mãe? Como ela era com vocês?
R – Minha mãe era mais... Acho que fica mais em cima da gente em termos de escola, porque uma época ela era professora. Antes de casar, com uns três, quatro anos, era professora. Então, ela sempre quis que a gente estudasse, vamos dizer, pra aproveitar a escola. Então, ela era assim, mais nesse sentido.
P/1 – E quem exercia autoridade na sua casa?
R – Olha, eu acho que no dia a dia era a minha mãe, mas quando é uma coisa mais severa era: “Fale com o seu pai”. Então era esse grau de autoridade.
P/1 – E tinha empregados na fazenda?
R – Não, não.
P/1 – Quem fazia tudo?
R – Os irmãos. Nós. Meus irmãos e meu pai.
P/1 – Você trabalhava também na fazenda?
R – Sim.
P/1 – Desde quantos anos?
R – Olha, a gente acordava, quando tinha dez anos, uma época a gente tinha vacas leiteiras também. Então, a gente acordava antes de ir pra escola pra tirar leite das vacas. E a casa, a nossa casa, ficava mais ou menos a um quilômetro da estrada onde se pegava ônibus pra ir pra escola. Então, a gente acordava, fazia as tarefas da fazenda – era tirar leite, ver as galinhas, que sempre tinha galinhas no quintal –, depois a gente se arrumava, andava até a estrada e pegava o ônibus pra escola.
P/1 – E como você tirava leite? Como era?
R – Não, naquela época se tirava manualmente. Esse leite que nós tirávamos era destinado a queijo. Tem várias classificações de leite, e a classificação que a gente tinha era para queijo. Mas, vamos dizer, uns anos depois foi mecanizado, tinha todos aqueles aparelhos para tirar o leite. Mas naquela época era manual.
P/1 – E seus irmãos também trabalhavam?
R – Sim, sim.
P/1 – Tiravam leite?
R – Sim. Só o mais novo que era, vamos dizer, como ele era seis anos mais novo que meu irmão mais velho e quatro anos mais novo que eu, normalmente ele entrava menos nessa rotina.
P/1 – Seu pai era severo com essa coisa do trabalho?
R – Não. Severo não. Você tinha que fazer, você tinha que participar, mas essa é uma coisa normal. Vamos dizer, nessa região era tudo normal, a gente não era diferente do vizinho, era tudo normal.
P/1 – E vocês brincavam com crianças de outras fazendas?
R – Não. Não tinha. Nossa casa, você tem um quilômetro de uma estrada, um quilômetro de outra estrada. O vizinho mais perto, vamos dizer, era a quase dois quilômetros.
P/1 – E com quantos anos você entrou na escola?
R – Com seis anos. O primeiro ano começava com seis anos, você não tinha o pré, você não tinha todas as coisas que tem hoje.
P/1 – E que lembranças você tem da escola?
R – Da escola? Ah, eu gostava da escola. Gostava.
P/2 – Ficava a quanto tempo da casa?
P/1 – Um quilômetro. Ah, não, até a estrada...
R – Até o ônibus. Depois que pega o ônibus, era mais ou menos uns cinco quilômetros de ônibus. Era pertinho.
P/1 – E alguma professora, amigos que você lembra que tenham te marcado?
R – Não. Ninguém em particular.
P/2 – E como era com os amigos da escola?
R – Eu tinha um amigo que, quando eu estava no elementary, quando eu estava no primário, que era mais amigo, que nós morávamos provavelmente a uns três, quatro quilômetros da minha casa. Você tinha normalmente... Como a escola era integral – você começava de manhã e saía às quatro horas da tarde –, você sempre tinha uma hora de recreio, onde jogava beisebol, jogava. Normalmente jogava beisebol, que era o mais fácil. Futebol não existia, e futebol americano você precisava de tudo aquele... Não era tão popular naquela época também.
P/1 – Você se lembra de um dia marcante na escola, algum fato que você lembre? Alguma professora, um colega?
P/2 – Vocês aprontavam muito?
R – Não.
P/1 – Mas algum fato com alguma...
R – Na verdade, não. Nada.
P/1 – E do que você mais gostava na escola?
R – Ah, gostava de Matemática e Ciências. Sempre.
P/1 – Você se lembra de alguns professores de Matemática e Ciências?
R – Nenhum em particular.
P/1 – E você fez o colégio, o ginásio nessa escola?
R – Não. O primário eu estava em Magnolia, uma cidade menor, e o colégio estava em Hardyville, que era do município naquela época.
P/1 – E na sua casa, você se lembra de quais comidas sua mãe cozinhava? Que memórias você tem de comida?
R – Não, comida, até hoje quando eu chego lá, ela faz o feijão com bacon, purê de batata, pão de milho e carne assada. Esse é o meu favorito.
P/2 – Feijão?
R – Feijão, feijão. Única coisa é que não come com arroz, a gente come purê de batata.
P/2 – Ah, é?
R – É.
P/1 – E aí ela fazia essa comida e faz até hoje quando você vai lá?
R – Sim.
P/1 – Com 92 anos ainda ela faz?
R – Faz, faz.
P/1 – E você teve alguma educação religiosa?
R – Igreja Batista, todo domingo.
P/1 – Como era o ritual? Como vocês faziam?
R – A Igreja Batista tem escola dominical. Você chega dez horas, tem escola dominical, depois você tem, vamos dizer, o culto. Era isso, dez horas você tem a escola dominical, 11 horas você tem o culto. Depois você vai pra casa e tem o seu almoço de domingo.
P/1 – E como era o encontro familiar? Você disse que a sua família era grande. Vocês se encontravam? Tinha uma data em que vocês se reuniam?
R – Olha, de criança, normalmente, vamos dizer, domingo era um dia que não trabalha, domingo era um dia sagrado. Então, domingo ia pra igreja, voltava pra casa, almoçava, depois a gente ia para a casa dos avós, normalmente depois do almoço. Às vezes, a gente ia para almoçar, mas como a família, por exemplo, da casa do meu pai, como a família era grande, a maioria dos irmãos dele não ficou na região, a maioria foi pra cidades maiores. Então, domingo você tinha muitos dos tios que vinham pra visitar das cidades onde eles moravam, que vinham pra fazenda do meu avô. Então, esse era o domingo. Às vezes, tinha suficiente gente de primos que a gente jogava beisebol, que tinha suficiente primos, que você tinha dois times e você podia jogar.
P/1 – Você se lembra de algum jogo desses?
R – Não, não. Era, vamos dizer, normal. Então, não tem nada marcante, mas era o que acontecia.
P/1 – Você tinha alguma pretensão, aquela coisa de criança de “quando eu crescer, eu quero ser tal coisa”?
R – Não. Quando era criança, eu acho que não. Eu comecei a pensar no que eu ia fazer quando eu cheguei no colégio, que você tem que começar a pensar.
P/1 – Mas você tinha uma ideia assim: “Vou ser fazendeiro igual ao meu pai, minha família”?
R – Era muito difícil, porque uma fazenda você sustenta uma família, você vive bem com uma família. Você começa a dividir, não dá muito certo. É mais ou menos o que aconteceu no sul do Brasil. Você tem muita gente que saiu do Rio Grande Sul, no Sul, e foi para o Mato Grosso e outras regiões, porque a terra é fixa, você quer ser fazendeiro, você tem que ir aonde tem terras. Mas nos Estados Unidos não tinha mais terras, você não tinha onde ir. Os Estados Unidos já estavam ocupados, desenvolvidos, então, era meio complicado você querer ser fazendeiro. Só um dos filhos talvez pudesse ser fazendeiro. No final, nenhum dos meus irmãos ficou.
P/1 – Mas você pensava assim: “Vou ter minha terra”?
R – Não, não. A minha mãe também, o meu pai, incentivaram: “Olha, essa vida é mais complicada, é mais dura, você trabalha muito.” Por exemplo, férias, eu não sabia o que eram férias. Férias pra mim eram alguma coisa que você via na televisão, você ouvia alguém falar. Porque você tem uma fazenda, você tem gado, como você vai tirar férias? Vaca tem que comer todo dia, eles não tiram férias, então, você também não tira. Então, a primeira vez que eu tive férias foi quando eu comecei, com 21 anos, depois que eu comecei a trabalhar. Tive uma semana de férias, achei grande coisa, uma semana de férias do primeiro ano. Depois de cinco anos, você tem duas semanas de férias, naquela época. Então era, vamos dizer, eu acho que naquela época, a maioria das pessoas nas áreas rurais incentivou os filhos para estudar, fazer outra coisa. Porque, naquela época, você não tinha o grau de mecanização que se tem hoje. Por exemplo, quando meus irmãos, quando nós trabalhávamos nas fazendas dos meus avós, meu pai, meu tio, naquela época você tinha fardos de feno que você fazia a colheita manual, manual, quando você produzia os fardos. Tudo era manual. Você levantava, colocava no vagão, do vagão você tira, coloca no armazém, era tudo manual. Uma coisa que... Tem meus irmãos e às vezes a gente brinca: depois que a gente saiu da fazenda, meu tio, meu pai, eles compraram as máquinas de fazer os fardos redondos, que pesam uma tonelada, então não precisava mais alguém pra pegar os fardos e armazenar. Você faz aquele dia uma tonelada e você pega com o trator e leva onde você quiser. Então, mudou muito. Tudo mudou. Naquela época, você não tinha os herbicidas, não tinha os inseticidas que você tem hoje. Por exemplo, o milho, você não tem pesticidas, herbicidas naquela época, então, muito dos matos dos milheiros, o mato, você tirava com enxada. Hoje em dia não, hoje em dia é tudo com química. Então, é muito diferente. Você ser um fazendeiro hoje, você é mais um maquinista. Quando você era um fazendeiro de 50 anos atrás, você era mais o mão de obra, era mais na mão. Hoje tem máquina pra tudo.
P/1 – E seu pai e sua mãe, eles se davam entre eles? Como era a relação deles?
R – Nunca os vi discutirem nada, a vida inteira.
P/1 – Tinha aquelas coisas que acontecem em fazenda, de contação de histórias? Como era isso?
R – Meu pai não falava muito, então, ele não contava história.
P/2 – E a mãe?
R – Minha mãe? O lado da família da minha mãe era gente muito séria. Por exemplo, a gente brincava, quando se faz um almoço de família do meu pai, era todo mundo dando risada e ninguém ia embora. Um ano eles marcaram um almoço de família da minha mãe, então, todo mundo foi lá, era aquele tipo de almoço americano, todo mundo leva um prato. Eles colocaram todos os pratos, todo mundo sentou, almoçou, levantou e foi embora. Esse era o almoço de família (risos). Então, as diferenças. Mas o meu avô do lado da minha mãe era uma pessoa muito séria. Ele era de uma família de 16, e no final ele teve um moinho de trigo na cidade, isso muitos anos atrás, era dono de uma loja de ferramentas, ele tem várias fazendas, então, uma pessoa que só trabalhava. Só trabalhava. Ele morreu cedo, ele morreu com 62 anos.
P/1 – E sua avó que continuou?
R – Também ela morreu logo depois, mas eles tinham dez anos de diferença. Mas ela morreu com 65, de leucemia.
P/1 – E os filhos tocaram a fazenda? Como foi?
R – Venderam. Venderam as fazendas, venderam tudo. Porque tinha 12 filhos, então, venderam tudo e dividiram.
P/2 – E os seus irmãos ficaram na fazenda?
R – Não, não. O meu irmão mais novo é médico. Tem uma clínica na cidade, interessante essa clínica, eu nasci nessa clínica, ele nasceu nessa clínica, hoje ele é dono da clínica e trabalha na clínica. Então, quando alguém pergunta: “Quanto tempo você está aqui?”. Ele fala: “Eu nasci aqui, literalmente”.
P/2 – E vocês costumavam brincar de quê, os irmãos?
R – Olha, a gente brincava muito de pescar e a gente tinha os rifles de chumbinho. Essa era a nossa diversão, os rifles de chumbinho e pescar.
P/1 – E como foi essa transição do primário para o ginásio, que você disse que trocou de escola?
R – Não, porque quase todo mundo vai junto. Só tinha mais gente.
P/1 – E essa mudança pra adolescência, para o colégio, como foi?
R – Não, essa eu não entendi.
P/1 – Quando você sai da... Porque lá tem, depois, o segundo grau. Quando você foi para o segundo grau, já era mais mocinho, mais adolescente. Como era na escola?
R – Não, você tinha o primário e o colégio, só.
P/1 – Ah tá, o colégio vai até o fim?
R – Até o fim.
P/1 – Entendi. É que aqui tem ginásio e...
R – Agora eles mudaram. Agora você tem o primário, que é o primeiro ano até o sexto ano, depois eles chamam de middle school, que normalmente é sexto e o sétimo ano, depois você faz o colégio. Mas naquela época você tinha o primário e o colégio.
P/1 – E quando você era adolescente, o que mudou? Você continuava trabalhando na fazenda?
R – Sim. Até eu sair da universidade, a gente trabalhava na fazenda. Eu e meu irmão, no verão, nós plantamos fumo. Porque o fumo, realmente, você planta no verão, depois faz a colheita, depois você tem que fazer a seleção das folhas, normalmente no inverno. Mas nós pagamos uma boa parte dos nossos custos de universidade trabalhando na fazenda. Também nós trabalhamos para o governo, porque o governo tinha uns programas de agricultura onde você precisava de fiscais pra visitar as fazendas. Também nós fizemos isso.
P/1 – E você, antes de entrar na universidade, você queria fazer o quê? Você já tinha uma ideia do que você queria fazer?
R – Não, já tinha decidido que ia ser engenheiro químico, porque eu gostava de Ciências e naquela época era uma área promissora.
P/1 – Por que era promissora? Qual era o contexto?
R – Em termos de salário, em termos de emprego, vamos dizer. Era uma profissão que tinha procura na época.
P/1 – E quais eram seus programas quando jovem? Continuava só na fazenda, ou vocês iam pra outros lugares?
R – Durante o colégio, você... Os Estados Unidos, a parte de esporte, o colegial... Não é o colegial. Quando eu falo de colégio, eu tô falando de high school.
P/1 – High school.
R – É muito competitivo. Então, a cada high school, cada colégio, ele tinha um time de futebol, ele tinha um time de basquete, que compete com outras escolas locais e na região. Então, no colégio você tem toda a parte de inverno, são jogos de... No outono é futebol, você tem até mais ou menos dezembro. Você tem agosto a dezembro, você vai assistir aos jogos de futebol, que tem um por semana, normalmente na sexta ou sábado, aí todo mundo vai assistir ao futebol. Quando chega o inverno, é basquete. Basquete vai de dezembro até março. Então, a vida era mais em volta disso.
P/1 – E você jogava? Você participava?
R – Não, eu não jogava. Basquete ou futebol, eu era baixinho para o basquete e não era suficiente grande para o futebol. Então, eu jogava tênis e atletismo. Tênis e atletismo.
P/1 – E como era, vocês tinham turmas de amigos? Você tinha turma de amigos, amigas?
R – Lógico, lógico. Turma de amigos. Tem dois que moram na região até agora, que eu visito quando eu estou na região, mas a maioria saiu também da comunidade. Porque é uma comunidade pequena e normalmente você vai... É como o Brasil, pra buscar oportunidades, você vai pra cidade maior.
P/1 – E você tinha intenção de sair da fazenda? Foi tendo essa intenção de sair da cidade?
R – Se você vai ser um engenheiro ou um profissional desse tipo, numa cidade rural você não vai achar trabalho.
P/1 – E tinha paquera, namorada?
R – Na época de colégio, não namorei muito, não.
P/1 – Você se lembra da sua primeira namorada?
R – Olha, eu não tinha namorado sério até que chegava mais que 20 anos. Então, não tenho muitas lembranças dessa época não, nesse sentido. Era mais, vamos dizer, sair.
P/2 – E na época da faculdade costumava fazer o quê? Sair com os amigos?
R – Sair com os amigos. Já namorava, mas no colégio... Eu fico muito confuso quando você fala...
P/1 – É high school lá.
R – É high school ou universidade. High school... Nos Estados Unidos, você consegue pegar sua carteira de motorista com 16 anos, mas você está quase saindo do high school com 16 anos. Então, como é área rural, é meio complicado, porque você não tem nada perto e você não tem carro e você não tem o transporte público. Então, normalmente, você começa a namorar, naquela época, quando você tira sua carteira de motorista. Isso é quando a vida começa, social, numa área rural.
P/1 – E você fez qual faculdade? De Engenharia Química, mas qual o nome da universidade?
R – Universidade de Kentucky, do Estado. Mas todas as universidades no meu estado são todas pagas, vamos dizer, são subsidiadas. O custo é relativamente pequeno, mas é tudo pago.
P/1 – E que matéria você gostava mais na faculdade, na universidade?
R – Olha, essa é difícil, porque... Química. Gostava mais de Química.
P/1 – E você foi um bom aluno na faculdade? Na universidade? Eu falo faculdade.
R – Universidade? Eu fui razoável. Eu fui nomeado para a sociedade dos engenheiros químicos, ou de honrados, que se saíram bem. Mas eu não era um ótimo aluno, mas eu fui reconhecido na sociedade, “honor society” dos engenheiros químicos.
P/1 – Tem algum fato marcante que você se lembra da faculdade? Alguma passagem com os amigos, com os professores?
R – Não. As coisas mais marcantes lá eram os jogos de futebol e os jogos de basquete. Essa é a coisa mais marcante. Que o Kentucky foi campeão cinco vezes no universitário nacional nos Estados Unidos. É como assistir ao Corinthians, se você é corintiano. Se você estuda lá, esses jogos são coisa séria.
P/1 – E você tinha uma ideia de fazer o quê? Tipo: “Vou sair da universidade...” Porque você trabalhava na fazenda. Você ficava lá e trabalhava na fazenda.
R – Não. Morava na universidade.
P/1 – Ah, você já morava lá. Você ia depois só no...
R – No verão.
P/1 – No verão.
R – No verão. Porque a Universidade de Kentucky é mais ou menos a umas duas horas, duas horas e meia de onde moram os meus pais, é outra cidade.
P/1 – E como era morar? Você morava com quem?
R – Tem dois anos que eu morei na Universidade de Kentucky, porque os primeiros dois anos eu fiz em uma universidade local, fiz dois anos. Depois eu fui pra Universidade de Kentucky pra fazer Engenharia Química. Um ano eu morei com o meu irmão mais velho, que estava fazendo mestrado, morei com ele, e um ano morei com dois amigos.
P/1 – Como era morar? Como vocês se organizavam para morar com os amigos?
R – Ah, a gente tinha um apartamento grande, dois dormitórios.
P/2 – Quantos eram num quarto?
R – Um quarto tinha duas camas, e no outro quarto tinha uma cama só. Mas o quarto que tinha duas camas era duas vezes maior do que o com uma cama, então, tinha muito espaço.
P/1 – Como vocês se organizavam, faxina, comida? Como era?
R – Faxina? A gente fazia a cada três meses. Comida, a gente comia muito enlatado, muito sanduíche naquela época.
P/2 – Não cozinhava nada?
R – Não cozinhava nada.
P/1 – E vocês faziam festas? Como era com os outros alunos, vocês se encontravam?
R – Festas. Tinha muita festa. As universidades nos Estados Unidos também são famosas por festa, ainda mais que a maioria mora fora de casa.
P/1 – Como eram as festas?
R – Festa de jovem.
P/2 – Bebiam...
R – Era bebida, música, besteira. Você olha hoje, você fala: “Nossa, que besteira!”
P/2 – Você ficou bêbado alguma vez?
R – Quem não ficou?
P/2 – (risos) Lembra-se de alguma história dessas?
R – Ah, não, essas histórias você não conta.
P/2 – Ah.
R – Não, não. Não conta essas histórias.
P/2 – Essas é que são boas.
R – Não, não. Essas histórias você não conta.
P/1 – O que vocês escutavam de música naquela época?
R – Naquela época? Naquela época era Led Zeppelin, também nosso amigo guitarrista, que foi pra Inglaterra, qual o nome dele? Escapou-me.
P/1 – Tudo bem.
R – Tá bom.
P/1 – E quais eram seus planos pra quando saísse da universidade?
R – Procurar emprego.
P/1 – Mas onde você pensava em buscar?
R – Olha, infelizmente, o ano que eu me formei, era um dos piores anos para procurar emprego. Da minha classe de Engenharia Química, que se formou, ela tinha 25, eu acho que quatro saíram com emprego. Então, naquela época você não escolhia muito o seu emprego. Eu tive sorte, quando eu me formei, eu tive duas ofertas, uma com a Colgate e outra com outra companhia. E logo depois que eu aceitei com a Colgate, houve outra oferta. Mas eu fiz a entrevista com a Colgate, eu gostei do pessoal, e não era tão longe, era ainda na mesma região, Louisville, que era a uma hora de onde moram meus pais. Então, acho que era um bom lugar pra começar. Então, fui trabalhar com a Colgate.
P/1 – E você entrou pra fazer o quê na Colgate naquela época?
R – Engenharia. Entrei na área de Engenharia Industrial. Mas normalmente você tinha dois caminhos dentro da Colgate: ou você entrava como engenheiro industrial, que você ia trabalhar mais em produção e gerenciamento de produção, ou você entrava em engenharia de fábrica, que é Engenharia pura, onde você vai projetar equipamentos, você vai fazer situações, você vai fazer o trabalho tipicamente de engenheiro. Então, eu entrei na área de Engenharia Industrial.
P/1 – Tem algum fato marcante nesse começo seu, nessa entrada sua na Colgate?
R – Não.
P/2 – Foi uma seleção difícil? Como foi?
R – Não.
P/2 – É pelas notas, ou por entrevista?
R – Eu não sei. Eu não sei o que eles fizeram. Quando eles convidaram para a entrevista, fiz a entrevista. Depois convidaram pra jantar, era isso.
P/1 – Como foi esse jantar?
R – Ah, um jantar em restaurante, só pra conversar com o pessoal. Não era nada estressante. Não era como hoje, não.
P/2 – Por que você acha que eles gostaram? O que viam em você, acharam que em você atraiu a...
R – Não sei. Eu não sei.
P/2 – O jeito de pensar?
R – Eu não sei. Realmente, eu nunca perguntei isso.
P/1 – E você ficou quanto tempo fazendo isso, nessa primeira função?
R – Eu fiquei na Colgate em Jeffersonville uns três anos. Eu trabalhei na área de Engenharia Industrial, depois eu trabalhei como encarregado de produção, aí eu fiquei mais ou menos um ano e pouco como encarregado de produção. Eu fiquei um pouco inquieto, eu falei: “Não, eu quero fazer mais uma coisa. Eu não estou vendo onde eu vou.” Muita oportunidade dentro da fábrica em termos de médio prazo, olhando o perfil das pessoas que estavam aí. E comecei a sondar. Houve uma oportunidade de trabalhar em Nova York na área de qualidade, como engenheiro de qualidade no corporativo. Eu não tinha trabalhado em qualidade, eu falei: “Eu vou trabalhar em qualidade?” A pessoa que me convidou disse: “Você não se preocupe, eu vou ensinar você o que você precisa saber.” Mais tarde eu perguntei: “Você me pegou? Eu não tinha experiência.” Falou: “Mas você tem uma personalidade forte e eu queria alguém que tivesse pulso. Você tinha pulso, agora só precisava de conhecimento.” Falou: “É mais fácil eu dar conhecimento pra você do que dar pulso pra alguém que tem conhecimento. Isso não funciona.”
P/1 – Deixe-me voltar um pouco. Você disse que teve duas ofertas, você teve essa da Colgate e outra. Por que você escolheu a Colgate?
R – Ah, basicamente porque estava perto pra mim, não era grande mudança. Estava perto dos meus pais, perto dos meus amigos, e eu gostei do pessoal na entrevista.
P/1 – E que imagem você tinha da Colgate antes de trabalhar nela?
R – Antes de trabalhar, eu não conhecia muito a Colgate. Conhecia os produtos, mas eu não tinha ideia de como era a companhia.
P/1 – Que produtos você conhecia?
R – A pasta dental Colgate. O creme dental, principalmente.
P/1 – E como foi essa mudança pra Nova York?
R – Ah, Nova York foi interessante, porque eu sempre morei em cidade pequena, depois mudei pra Louisville e cheguei a Nova York, uma cidade muito grande. Foi muito interessante, eu gostei. E eu morei em Manhattan, na cidade mesmo. A Colgate estava na Rua 49 e eu morava na 84. Então, muitas vezes eu andava, vamos dizer, levava uma hora, mas andava até o escritório, ou andava de volta à tarde.
P/1 – E que impressão você teve? Como foi sair da cidade e chegar a Nova York? Você se lembra desse dia da tua chegada, que você mudou lá, que sensação você teve?
R – Não. Não senti tanta coisa, não. Não senti muito. Uma coisa em Nova York é que você se sente um pouco. Leva um pouco de tempo pra fazer amigos, conhecer a cidade, mas depois que você se adapta, você faz amigos. Porque tem muita... Vamos dizer, não é difícil fazer amigos em Nova York também. O problema é que no dia a dia todo mundo está com pressa, mas depois que passa as cinco, seis horas, a pessoa se torna normal (risos). Sabe, você fica na rua, todo mundo está com pressa, todo mundo olhando, ninguém tem tempo pra falar, mas depois relaxa. À tarde todo mundo relaxa, mais tarde.
P/1 – E você fazia exatamente o quê lá?
R – Eu estava na área de qualidade, então, em termos de desenvolvimento de produtos, a gente trabalhou junto com a área de marketing em termos de aprovação de rotulagem, aprovação de embalagem, junto com o departamento de embalagens. O controle de qualidade em termos de... A gente era responsável que o vermelho da Colgate, quando chega à prateleira, é aquele vermelho, esse tipo de coisa. Aquela pasta que você espreme, ela sempre sai igual, ou quase igual. E trabalhando aí, eu visitava, tinha que viajar pra visitar todas as fábricas. Naquela época, a Colgate tinha quatro fábricas: uma na Califórnia, uma em Kansas, em Jeffersonville perto de Louisville, e uma em Nova York. E também a Colgate tinha na época um...
P/1 – De que ano a gente está falando que ela tinha?
R – Estamos falando em 1973, 74.
P/1 – Ela tinha só essas quatro fábricas?
R – Tinha essas quatro fábricas.
P/1 – E que produtos você chegou a desenvolver na época?
R – Não. Desenvolver, não desenvolvi produto.
P/1 – Era só a embalagem.
R – Era só controle de qualidade.
P/2 – E como foi essa mudança do que você fazia pra ir pra essa nova área?
R – Tinha muito apoio do meu chefe e das outras pessoas. Porque eu estava num grupo de quatro, então, não foi complicado, não.
P/2 – Você gostou?
R – Eu gostei.
P/2 – Você foi se interessando mais por esse lado?
R – Não, acho que tudo faz você ver como temporário. Você está ali pra aprender, pra trabalhar, mas eu nunca me senti como “essa é uma função que eu vou fazer o resto da vida”. Eu nunca senti isso. Isso é uma fase. Acho que tudo era como uma fase.
P/1 – E essas viagens que você fazia? Você gostava de viajar? Como era?
R – Gostava, gostava. Gostava de viajar. Gostava.
P/1 – E tinha diferença de uma fábrica pra outra?
R – Não. Não tanto nas fábricas, mas as regiões. Por exemplo, você chega à Califórnia, você está com aquela imagem de Califórnia, a praia, o vento. Então, normalmente, se você vai, você pode às vezes aproveitar e ficar uns dias no lugar. Ou passava em outra cidade na volta. Por exemplo, se você vai pra São Francisco, você atravessa os Estados Unidos inteiro, se você tem algum lugar que você quer parar na volta, você tem a opção de parar em praticamente qualquer cidade dos Estados Unidos. Lógico, o custo é seu, mas você está com a passagem. Então, era muito interessante nesse sentido.
P/1 – Você se lembra de alguma visita que te marcou nesse começo quando você ia para esses lugares?
R – Não. Nada excepcional. Não lembro nada de excepcional. Nada de excepcional.
P/1 – Uma dessas estadias que você ficou uns dias a mais?
R – Não.
P/2 – Em que outros lugares você morou?
P/1 – Não, aí ele estava fazendo controle de qualidade.
R – Nova York. Depois de Nova York, fui pra África.
P/1 – Mas como foi essa passagem de você sair de um lugar para o outro.
R – Eu não sinto muito, não. Eu me adapto.
P/1 – Não, mas você estava no controle de qualidade.
R – Sim.
P/1 – E aí te convidaram pra fazer o quê depois disso, do controle de qualidade?
R – Depois eu fui pra África, mas basicamente eu estava nessa função há uns três anos. Eu já estava começando: “Não, essa fase passou. Essa fase passou, preciso de outra coisa.” E eu comecei a pensar: “Se eu fico na companhia, eu queria trabalhar na parte de gerência de fábrica.” Mas você fala: “Poxa, tenho 28 anos, e se eu levo dez anos pra chegar a ser gerente de fábrica, chego lá e falo: ‘Não. Não gostei’”. Nossa, é ruim.” Eu comecei a pensar, a Colgate tinha muitas fábricas pequenas em muitos lugares do mundo. Tem uns lugares sofisticados, como Paris, Londres, uns lugares sofisticados para morar, e tem lugares não tão sofisticados, como Zâmbia. Tinha muitos lugares na América Latina que não eram tão sofisticados naquela época. E, falando com o pessoal, tinha uma fábrica na Zâmbia que estava precisando de gerente, mas uma fábrica muito pequena, uma das menores que a Colgate tinha. Eu começo a sondar o pessoal, falei com o engenheiro, falou: “Não, você não quer ir lá.” Falou: “Por que você iria?” “Ah, porque nunca fui.” “Ah, tem muita coisa na vida que você nunca fez também, você não vai querer fazer.” Mas eu não escutei muito. Eu mostrei interesse, eles me ofereceram o lugar. Que eu era solteiro, jovem, falei: “Por que não?” Fui. Cheguei à Zâmbia. Esse foi diferente. Aí como me senti? Senti-me meio assustado chegando lá. Porque você chega lá, você está num país que tem um canal de televisão, que é do governo, não pode sair de casa depois das dez horas da noite. Se você for de certa cor, você não pode sair de casa depois das dez horas. Se você vai ter uma reunião com mais de dez pessoas, você tinha que ter aprovação da polícia. Então, era bem diferente. Era bem diferente. Mas você chega lá, o clima é um lugar que você fala: “Não, esse é o melhor clima do mundo.” A temperatura nunca fica muito calor, nunca fez frio, você tem seis meses do ano que não chove, que não chove, não chove mesmo. E tem seis meses do ano que chove entre uma e duas horas da tarde todo dia, mas uma chuva que parece que está caindo o céu, você não enxerga. Você olha na janela, você não enxerga. Uma hora depois acaba a chuva, vem um sol brilhante e todo mundo vai jogar golfe. Essa era a Zâmbia, o lado positivo. Clima espetacular. Mas a vida lá era o clube de tênis, o clube de golfe, o clube de squash, o clube de rúgbi. Era isso, essa era a vida.
P/1 – E como eram as pessoas, os funcionários?
R – Os expatriados eram praticamente tudo inglês. Tudo inglês ou da Rodésia. Amigos, você faz... Interessante, amigo lá é importante, porque você não... Você gasta muito tempo, vamos dizer, conversando, porque na época não tinha celular, mas se existisse celular, não ia ter ali, se não tinha rádio e não tinha televisão. Então, você ia fazer o quê? Ou você fica em casa e lê um livro, ou você conversava com pessoas. Você não tinha opção.
P/1 – E quem eram seus amigos lá?
R – Tem um americano que trabalhava comigo e tinha uns três ingleses, e tinha umas duas da Rodésia. Mas era isso, a gente jogava golfe, jogava tênis, depois jogava squash.
P/1 – E a integração com a população local?
R – Os mesmos clubes eles frequentavam. Principalmente, eles gostavam muito do clube de golfe, mais do que os outros.
P/2 – E teve algum fato inusitado com as pessoas de lá, ou com algum costume?
R – Não, tinha algumas coisas interessantes. Você está no bar do clube de golfe e o rapaz ao lado abre uma folha e tem umas... Como se chama? Caterpillars. Taturanas desse tamanho, secas. Aí ele começa a comer junto com a cerveja.
P/2 – Você comeu também?
R – Eu não, eu não. Já estava preocupado quando a gente teve o almoço, quando você tem o bife, você nunca sabia o que era o bife.
P/2 – De que era.
R – É. Então, era mais essa preocupação. É hábito, porque, desde que morar aí, carnes, só comam bem passadas. Naquela época, como você não tinha certeza o que era, você sempre comia bem passada.
P/2 – Você passou por alguma saia justa em relação à comida?
R – Eu peguei gastroenterite, achei que ia morrer.
P/2 – Mas de chegar a algum lugar e te oferecerem a comida, fora essa da caterpillar?
R – Outra coisa que aconteceu, essa é interessante: tem um gerente de compras que visitou a gente em Zâmbia, nós fomos a um restaurante, fomos pedir. Falei: “O que você quer?” Ele falou: “Eu quero comer camarão.” Falei: “Não. Acho que você não quer comer camarão, Zâmbia está no meio da África, não tem mar, não tem nada aqui perto.” Ele chamou o garçom, perguntou para o garçom: “Você tem camarão?” Ele estava querendo insistir. O garçom falou: “Sim. Tem camarão.” Ele falou: “É fresco?” O garçom: “Sim. É fresco.” Eu perguntei para o garçom: “E quando chegou?” “Ah, chegou três semanas atrás.” (risos)
P/2 – Muito fresco.
R – Muito fresco. Aí ele começou a entender a história. Depois que a gente almoçou, estávamos voltando pra fábrica, ele falou: “Nossa, aqui não é tão ruim.” Quando alguém fala pra você “aqui não é tão ruim”, você já sabe que ele está querendo dizer. “Aqui não é tão ruim. Você viu o que está acontecendo no Zaire, nossa, estão matando missionário, uma coisa terrível.” Eu estava com ele, falei: “Você está vendo aquelas montanhas aqui perto?” Falou: “Estou.” Falei: “Onde você está falando está no outro lado.” Falou: “Espera aí, você tem um mapa? Onde eu estou?” (risos)
P/1 – (risos)
R – A única coisa que eu vi, ele estava com o bilhete na mão e o passaporte o resto do dia. E, quando ele foi para o banheiro, também ele levou o passaporte e a passagem. Acho que depois que descobriu onde ele estava, ele estava meio preocupado.
P/1 – E você ficou quanto tempo em Zâmbia?
R – Dois anos. Quase dois anos.
P/1 – E você foi pra onde?
R – Brasil.
P/1 – Você já estava naquela coisa assim: “Aqui já deu pra mim”? Ou é um período que é da Colgate?
R – Não, aquele lá já deu. Já deu pra mim. Eu falei: “Vou sair daqui.”
P/1 – Mas quem decide: você ou a Colgate tem essa decisão?
R – Não, nessa vez fui eu. Eu falei: “Em setembro eu tô saindo daqui.” Eles me perguntaram: “Mas você está saindo da companhia, ou você só está…?” Falei: “Não sei. Eu tô saindo daqui, vocês decidem se eu tô saindo daqui ou saindo da companhia, mas aqui eu não fico mais.”
P/1 – Por que chegou essa hora, você decidiu isso?
R – Porque dois anos realmente é uma vida meio... sem graça. Você tem 20 e poucos anos, pra você sair dois anos, fala: “Pô, eu vou ficar aqui quanto tempo?” É pouca gente. É muito pouca gente. Em termos de comunidade expatriada, acho que tinha 50 pessoas, a maioria casada. Então, é meio complicado.
P/1 – Aí eles...
P/2 – Quantos anos você tinha quando...
P/1 – Vinte e oito.
R – Vinte e oito. Não, tinha 26 quando fui lá. Vinte e seis anos. Vinte e sete, saí com 28.
P/1 – E como aconteceu de vir para o Brasil?
R – Não, eu tinha uma... Quando eu trabalhava nos Estados Unidos, o diretor dos Estados Unidos, eu fiz uns trabalhos que ele gostou. E, na época, eu estava querendo sair de Zâmbia, ele era o diretor de manufatura na América Latina. E quando ele descobriu que eu estava querendo sair, ele falou: “Não, eu tenho um lugar pra ele.” Então, primeiro eles iam me mandar para o Equador, mas eles decidiram depois mandar eu vir para o Brasil. Aí vim para o Brasil. O pessoal perguntou: “Nossa, você veio para o Brasil? Saiu dos Estados Unidos e veio para o Brasil?” Aquela mesma pergunta que o brasileiro sempre faz. Falei: “Não. Não estou vindo dos Estados Unidos. Estou vindo da Zâmbia.” (risos) Falo: “Aqui é um paraíso. Vocês não sabem.”
P/1 – E como foi chegar ao Brasil? Em que lugar do Brasil?
R – São Paulo.
P/1 – Você chegou aqui a São Paulo.
R – Cheguei a São Paulo. Ah, é meio confuso quando você começa, porque você não fala o idioma, então, é meio complicado pra começar, pra você entender, pra você se virar.
P/1 – E qual foi a impressão que você teve de chegar ao Brasil, das pessoas, do lugar?
R – Achei as pessoas muito... O brasileiro é muito simpático, ele aceita bem as pessoas, recebe bem as pessoas, então, a gente se sente bem chegando aqui.
P/1 – E que função você veio desenvolver? Você já estava fazendo o quê?
R – Eu estava como assistente do diretor de fábrica.
P/1 – E você fazia o quê exatamente nessa função?
R – O que ele mandava. Eu era assistente dele. Era mais em termos de ajudá-lo, em termos de gerenciar a fábrica em termos de eficiência, em termos de perdas, em termos de planejamento, toda essa parte que você faz em termos de gerenciamento de fábrica.
P/1 – Você já tinha quantos anos de Colgate quando você veio para o Brasil?
R – Quando vim para o Brasil? Comecei com 20, uns oito anos.
P/1 – E teve alguma mudança que você foi sentindo na Colgate, de atuação? A cultura dela foi mudando nesses oito anos?
R – Não. Mudou depois. Acho que começou a mudar depois.
P/1 – Em que ano?
R – Porque, quando eu comecei lá, quando eu estava trabalhando na Colgate internacional, o recursos humanos pra divisão internacional eram duas pessoas. Eram duas pessoas. Quando eu ia pra Zâmbia, que tipo de apoio eles deram? Eles me deram o endereço da embaixada da Zâmbia em Nova York. Eles me deram o endereço, então, você se vira. Então, naquela época, o internacional não é como ficou. Agora, quase tem tantas pessoas em Nova York de recursos humanos internacional quanto tem expatriado fora. Vamos dizer, que cresceu tanto. Mas naquela época não. Naquela época, você dependia muito mais do chefe, na época, do que de recursos humanos. Se precisava de alguma coisa, você tinha que falar com seu chefe, seu chefe ajudava, seu chefe apoiava, porque ele passou a mesma coisa. Está muito compartimentalizado hoje.
P/1 – E você veio morar em qual bairro aqui? Você morou onde?
R – Higienópolis. Martinico Prado.
P/1 – E como era Higienópolis naquela época, a Martinico?
R – Olha, aquele bairro, em 40 anos não mudou nada. Ainda tem o restaurante, o Jardim de Napoli, que era a duas portas da minha casa, acho que não mudou nada.
P/1 – E o que você fazia aqui? Você passeava? Fora do trabalho, o que você fazia?
R – Olha, fora do trabalho, que meu chefe, vamos dizer, durante a semana é como São Paulo. Durante a semana não fazia nada, porque durante a semana, até que você pega o seu carro, você vai pra casa, o dia foi. Fim de semana, naquela época eu tinha um título do Clube dos Ingleses, então, jogava tênis no clube. Depois do trabalho, de vez em quando, a gente sempre tinha um lugar que a gente tomava uma cerveja, com os engenheiros, o pessoal. Porque, naquela época, quando eu cheguei aqui, tinha mais três expatriados aqui na fábrica. Então, às vezes, a gente saía, tomava uma cerveja durante a semana, mas, no fim de semana, cada um para o seu lado.
P/1 – E aí você ia ao Clube dos Ingleses?
R – Clube dos Ingleses.
P/1 – No da Visconde de Ouro Preto, ou no de Santo Amaro.
R – Não, aqui no Ouro Preto.
P/1 – Visconde de Ouro Preto?
R – É.
P/1 – E você conhecia alguém? Você tinha namorada aqui?
R – Não. Eu conheci minha esposa uns seis meses depois que estava aqui no Brasil. Eu tinha um amigo peruano, que era expatriado na Colgate também, e ele conhecia uma menina. Ele falava: “Ah, eu vou trazer umas amigas pra conhecer vocês.” Nós saímos, e eu a conheci.
P/2 – Foi paixão à primeira vista?
R – Hum?
P/2 – Foi paixão...
R – Foi, foi. Foi mesmo.
P/2 – Como foi? Conta um pouquinho de como foi esse primeiro encontro.
R – Era engraçado, porque estávamos em grupo. Nós fomos pra Ilha aqui em Pinheiros, nós fomos lá, estávamos sentados à mesa, em grupo, e estávamos tomando uma cerveja. E eu falava muito mal português, então, estava meio quieto, e ela falou com um amigo: “Olha, esse gringo, eu até ia passar uns dias com ele.”
P/2 – “Esse gringo” o quê?
R – “Eu até ia passar os dias com ele.” Mas ela não sabia que eu estava entendendo. Depois eu falei pra ela que eu entendia. Depois a gente namorou um ano e meio. Um ano e meio e casamos.
P/2 – Foi fácil começar o namoro? Teve uma conquista? Vocês começaram logo a namorar?
R – É. É que naquela época eu tinha 30 anos, ela já tinha 30 anos, então já estava... Essa fase do nhen-nhen-nhén já passou, você já está acho que mais firme no que você quer em termos de...
P/1 – Como é o nome dela?
R – Dalila.
P/1 – E ela fazia o quê nessa época?
R – Ela trabalhava num escritório de advocacia e estava completando o curso de Direito. Que ela já tinha um curso de Letras, ela lecionou um pouco, mas não gostou, depois ela voltou e fez Direito.
P/1 – E vocês namoraram quanto tempo?
R – Um ano e meio.
P/1 – Você ficou quanto tempo aqui no Brasil? Você ficou direto?
R – Sim. Eu estou no Brasil... Eu cheguei aqui em janeiro de 78, aí fiquei aqui até 89, voltei para os Estados Unidos por um ano e meio. Em 1990, eu voltei para o Brasil e fiquei até agora.
P/1 – Vocês se casaram e continuaram morando em Higienópolis?
R – Moramos em Higienópolis uns dois anos. Depois nos mudamos para o Jardim São Paulo, na zona norte, numa casa alugada.
P/1 – Por que vocês decidiram mudar de lá?
R – Porque a mãe dela morava desse lado. E eu tinha, naquela época, dois filhos pequenos, então, nós fomos pra lá. Ela queria ir pra lá, nós fomos pra lá. Depois nós compramos, uns dois anos depois, uma casa pequena na zona norte, em Santa Teresinha. Depois comprei uma casa na Serra da Cantareira, aumentou a casa nessa Serra da Cantareira, e nós nos mudamos pra lá mais ou menos em 1988, ficamos lá. Porque é uma casa pra fim de semana, a gente ia pra fim de semana, ficava uma semana. Ia lá pra uma semana, ficava um mês. Ia lá pra ficar um mês e ficava. Aí nos mudamos. Nós ficamos na Cantareira de 88 até 2005, 2006, ficamos quase 20 anos morando na Cantareira.
P/1 – Depois você mudou?
R – Depois mudamos pra São Paulo. Meus filhos cresceram, minha esposa cansou do mato, e nós mudamos pra São Paulo.
P/1 – Bom, então vamos voltar. Nessa época, você estava trabalhando aqui como assistente do diretor da fábrica.
R – Sim.
P/1 – E depois disso?
R – Eu trabalhei... Era Firmino Rodrigues, era um cubano, ele tinha naquela época uns 62 anos, eu trabalhei com ele até mais ou menos 1982. Ele teve câncer.
P/2 – Como era o nome dele?
R – Firmino Rodrigues. Ele teve câncer e morreu logo. Era fumante. Uma coisa engraçada com ele: naquela época não tinha computador, então, ele tinha aquelas folhas tudo quadriculadas, ele era muito meticuloso, mas fumava um cigarro atrás do outro. Ele fazia o trabalho, era tudo organizado, aquele papel quadriculado, tinha uns quatro lápis aqui tudo apontado, tinha um cinzeiro no lado esquerdo e um cinzeiro no lado direito. E ele ia trabalhando, trabalhando, a gente conversando. Ele fumava aqui, fumava aqui, de repente ele pegou o lápis e colocou na boca. Ele olhou, fez assim, aí olhei pra ele, depois ele deu risada. Mas ele jogou o lápis, fez assim, jogou o lápis. Depois ele deu risada, mas era assim, era muito engraçado ele chupar o lápis em vez do cigarro. Ele estava tão envolvido no que ele estava fazendo. Mas ele era uma figura, Firmino.
P/1 – Aí você...
R – Eu assumi o lugar dele.
P/1 – Você virou diretor?
R – Sim.
P/1 – Com quantos anos?
R – Eu tinha naquela época acho que 34 anos.
P/1 – E qual foi a principal mudança em virar diretor?
R – Era mais responsabilidade. Muita responsabilidade, e você também, vamos dizer, não tinha um intermediário. Com o Firmino, se você não gostar, você pode reclamar com ele, você pode falar com ele, ele que tem que resolver o problema, de certa forma. O problema sempre para com o chefe, o chefe tem que resolver no final. Umas coisas que são estruturais, coisas que são da companhia, não da sua área ou da sua função. Então, é uma mudança. Aí todo mundo... Você tinha que dar as soluções, você tinha que gerenciar o pessoal. Era uma mudança grande.
P/1 – E teve algum desafio que você teve que enfrentar? Alguma situação?
R – Não. O único problema que eu tinha naquela época, como era pra essa função, eu era muito jovem, e eu fiquei na função mais ou menos... Fiquei na vaga da função por mais ou menos um ano e meio antes de ser nomeado na posição, porque acho que o pessoal ficou meio: “Vamos ver se dá.” Porque ele morreu muito de repente.
P/2 – E, quando você atingiu o cargo, o que você sentiu? Como foi a sensação?
R – Olha, na verdade, esse já era mais ou menos o plano. Ele ia aposentar, provavelmente eu ia pegar o lugar dele. Mas aconteceu que foi antecipado, então, não me senti, vamos dizer, desnorteado, ou alguma coisa aconteceu que estava fora do plano. Só antecipou.
P/2 – E, quando você assumiu, qual foi a sensação?
R – Sensação de quem venceu mais uma etapa na carreira. Onde ia na carreira, eu não sei, mas era mais uma etapa. Porque você está com, você não está olhando para “não, esse é o fim do caminho”. Então, se está olhando, vamos: “E agora? Onde vou agora? Ficar fazendo isso o resto da vida?”
P/1 – E como a Colgate estava posicionada naquele momento? Como ela era como empresa?
R – A Colgate, eu acho que a maior parte do tempo, vamos dizer, a Colgate era uma grande... Era quase como uma... Todo mundo era amigo. Era uma empresa que parecia uma grande família. Eu não sei se ainda tem isso, mas naquela época... Porque até hoje eu vejo pessoas que trabalhavam na Colgate na época, que ainda se encontram. E muitos que não ficaram na Colgate, que trabalharam na Colgate dez anos, 15 anos, voltam pra falar e encontrar com os colegas da Colgate, como se fosse uma faculdade. É muito interessante isso. Eu não sei se ainda existe esse espírito dentro da companhia, mas por muitos anos era assim.
P/2 – Como você vê sua carreira na Colgate?
R – Eu fico contente. Teve outras oportunidades na empresa que eu recusei, mas eu acho que foi uma grande empresa pra trabalhar, que deu muita oportunidade, muito apoio. Fiquei muito feliz de ter trabalhado na Colgate.
P/1 – E depois... Não, vamos voltar. Não vamos antecipar. Voltando, você acabou ficando esse um ano e meio pra ver se você ia ser diretor. Aí você assumiu o cargo, entrou nesse lugar. Quanto tempo você ficou nessa função?
R – Fiquei nessa função até 1989. Que em 89 eu fui para os Estados Unidos. Eles me convidaram, ou me mandaram, para a fábrica lá do Jeffersonville, porque eles negociaram um novo contrato com o sindicato e eles queriam melhorar as relações com o sindicato e ter alguém que eles acham que ia entendê-los melhor, porque eu era da região, a gente falava o mesmo idioma. Era isso.
P/1 – E qual era a questão com o sindicato lá?
R – O sindicato, acho que o pessoal não estava se entendendo muito bem com o sindicato. E tinha muitos acordos que foram feitos nos anos anteriores que não foram implementados. Então, você negocia uma condição dentro da fábrica, mas você nunca fica implementando. Essa era a situação. E muita gente, vamos dizer, quando eu cheguei lá, eu conhecia muitas pessoas dentro do sindicato, como diretores etc., trabalhavam comigo quando eu estava começando na Colgate. Foi muito interessante.
P/1 – Você se lembra de alguma negociação que tenha te marcado?
R – Não, eu lembro a primeira reunião que eu tive com o sindicato. O sindicato tem as reclamações formais, eles fazem reclamações formais, e você tem uma reunião com o sindicato pra discutir essas reclamações e como vão se resolver as reclamações. Porque, às vezes, as reclamações são envolvendo dinheiro, às vezes, envolviam ações disciplinares com a gerência. Eu fiz a reunião com o sindicato. Eles chegaram, eu peguei as reclamações e dividi por área, sentei, falei: “Vamos discutir essas reclamações aqui, tudo dessa área aqui de fabricação de creme. Tem dez reclamações aqui. Agora, antes de discutir as reclamações, eu quero saber qual o problema nessa área.” Eles me olharam, falaram: “Não, o que é isso?” “Não, vamos resolver essas dez reclamações. Eu quero saber qual o problema nessa área, porque, se tem dez reclamações nessa área, nós temos um problema de gerência, nós temos um problema que... Essas reclamações são reflexos. Às vezes, eu tô vendo aqui, você está reclamando aqui, não tem nada a ver, está reclamando porque quer reclamar, que tem algum outro problema.” Naquela época, quando tinha reunião, tinha 110 reclamações. Aí eu fui, discuti umas 50. Ele falou: “Não, vamos parar a reunião, porque a gente não está acostumado, porque normalmente a gente resolve umas quatro ou cinco. Não estamos acostumados a discutir nessa forma.” Então, era interessante pra mim porque eu estava querendo saber qual era o problema raiz, não quais são os detalhes, que às vezes nem era o que o pessoal queria reclamar. Então, foi muito interessante nesse sentido com o sindicato. E tive muito bom relacionamento com eles, com as pessoas do sindicato, que isso que ajudou.
P/1 – Quando você mudou pra lá, você foi com a sua família, com a sua esposa?
R – Sim, sim.
P/1 – Você já tinha filhos?
R – Sim. Tinha os três filhos.
P/1 – Você já tinha os três?
R – Já tinha os três.
P/1 – E como foi mudar com eles pra lá?
R – Foi interessante. Eu lembro que a escola, eles foram pra uma escola particular, e essa escola tinha o jardim de infância, tinha o primário, tinha até o colegial, tinha até high school, tudo junto. O primeiro dia, eu estava levando a minha filha e os dois pequenos, mas a minha filha que era mais... Acho que ela tinha uns seis anos, ou menor, a gente foi à escola e tinha o pessoal do high school entrando, levando-a. Ela olhou, falou: “Ih, pai, não sei, eles são muito grandes aqui.” (risos) Porque era tão engraçado, que, como era tudo lugar novo, ela olhou, falou: “Nossa, como eles são grandes.” Mas era do high school. Essa é a coisa mais engraçada acho que quando a levei pra escola.
P/1 – E sua esposa se adaptou? Como foi?
R – Sim. Mas era problemático, porque nós chegamos nos Estados Unidos em dezembro, e em janeiro a mãe dela aqui faleceu, com 56 anos. Teve um aneurisma e morreu, de um dia para o outro. Então, criou uma situação meio ruim nesse sentido. Mas ela se adaptou bem. Era difícil, porque o inglês dela não era tão bom, e a cidade, vamos dizer, Louisville, era tudo tipo subúrbio. Então, a gente morava num lugar bonito, mas todo mundo ia trabalhar. Durante o dia era um deserto. Acho que ela foi a única pessoa nas 20 casas que tinham lá, provavelmente tinha duas ou três pessoas. Era complicado.
P/1 – E você ficou um ano e meio. E você tinha vontade de voltar, ir pra outro lugar? Ou planejou...
R – Não, quando eu fui lá, primeiro falei que não estava interessado. Falou: “Não, você vai lá, fica um ano e meio, depois você volta.” Agora, quando... E quem me pediu pra fazer isso era o presidente da Colgate. O presidente da Colgate falou: “Olha, eu gostaria que você fosse lá por um ano e meio, depois você volta.” Você fala: “Sim, senhor. Eu faço isso pra você, que eu gosto muito do senhor.” (risos)
P/1 – E você tinha relação, como diretor, com o presidente?
R – Não. Não tanto assim, não.
P/1 – Quem era esse presidente na época?
R – Eu tô falando do... Quem me pediu era o Bill Shanahan, pra ir para os Estados Unidos. Que eu conheço, ele trabalhou aqui na... Ele era o presidente da Colgate uma época, mas depois ele cresceu na companhia. Eles queriam que eu fosse lá, então, você fala: “Não, tudo bem, você me dá condições, eu vou.” Então era isso.
P/1 – E você voltou?
R – Eu voltei. Eu tinha uma oportunidade de ficar, mas eu não fiquei interessado em ficar naquela época.
P/1 – Por que não?
R – Porque a companhia americana estava muito confusa, e eu não vi como eu ia encaixar naquela confusão.
P/1 – E aqui você voltou em qual função? Na mesma?
R – Mesma função?
P/1 – Como diretor?
R – Como diretor de fábrica.
P/1 – E o salário, a Colgate pagava bem?
R – Onde?
P/1 – O salário aqui no Brasil era bom? Era diferente lá nos Estados Unidos? Como funcionava o salário?
R – O salário, se eu fosse aceitar a função lá, seria maior o salário, porque até me ofereceram outra função na área corporativa, como diretor de qualidade, diretor técnico da companhia americana. Mas eu não achei interessante na época.
P/1 – E você ficou nessa função de diretor aqui quanto tempo?
R – Até que eu aposentei, em 2006.
P/1 – Ah, ficou direto.
R – É. 2006. É, fiquei.
P/1 – E do período que você entrou na Colgate, até 2006, quando você se aposentou, quais foram as principais transformações dentro da companhia?
R – Bom, se falar em Colgate internacional, é como eu falei: quando eu comecei na área internacional, basicamente tinha duas ou três pessoas que gerenciavam a parte de recursos humanos, hoje está muito mais desenvolvido. Em termos de organização da companhia, até poucos anos atrás, a fábrica reportava ao gerente geral da… O presidente da Colgate-Palmolive antigamente, ele comandava a parte comercial e a parte industrial. Hoje, a Colgate está dividida. Você tem a Colgate, a parte comercial e a parte industrial. A parte industrial reporta pra Nova York, a parte comercial reporta a Nova York. Antigamente não. Industrial reportava localmente, localmente e indiretamente a Nova York. Isso inverteu. Hoje ele reporta diretamente para Nova York e indiretamente ao presidente local. Então, acho que mudou muito nesse sentido, mas eu não sei. Antigamente, também você não tinha... Acho que, conforme a rapidez das informações e comunicação, o pessoal local tem menos flexibilidade que antigamente. Porque, antigamente, o telefone, você sabe o Brasil, antigamente telefone era um luxo. Quando eu cheguei aqui ao Brasil, no meu apartamento, a Colgate tinha que comprar um telefone pra colocar no apartamento, senão, você não tinha telefone. Você conhece. E América Latina e o resto do mundo não eram muito diferentes. Então, quando você fala “internacional”, depende onde você estava. O pessoal que trabalhava nas filiais, eles tinham muito mais flexibilidade, porque ele tinha que decidir. Se não tem comunicação, alguém tem que decidir, então, esse alguém sou eu. Hoje em dia não. Hoje em dia, se você manda um e-mail urgente e ninguém responde em dez minutos, todo mundo acha ruim. Antigamente não, era fax. Antes do fax, a gente tinha aquele Telex: “Vou mandar um Telex.” Então, você tinha a secretária lá pra mandar um Telex, às vezes ela ficava o dia inteiro batendo pra você passar à noite, pra pessoa receber, pra responder. Você levava três dias quando era uma informação com muita informação. Hoje em dia não. Aí veio o fax. O fax também era psh psh, melhorou. Aí entramos agora no botãozinho, já mandou.
P/2 – O tempo é outro, né?
R – É outro. Então, de certa forma, você tem mais comunicação, mas acho que as pessoas têm menos liberdade. Dependendo da organização que você trabalha. É isso que eu sinto. Eu sinto que o pessoal está mais... Tem menos liberdade de realmente divergir, de decidir.
P/1 – Pensando nessa sua trajetória na Colgate, quais foram os principais marcos que você viveu? Os principais marcos, fatos?
R – Em termos de?
P/1 – Em qualquer termo. Em termos da empresa.
R – A Colgate aqui no Brasil, acho que o... No Brasil, nós tivemos a compra do Pinho Sol, do ____, e a compra da Kolynos. Isso que realmente mudou bastante a companhia.
P/1 – Você vivenciou esses momentos?
R – Sim.
P/1 – Como foi do Pinho Sol?
R – Do Pinho Sol foi tranquilo, porque comprou, levou a máquina, instalou e produziu. Essa foi simples.
P/1 – E os funcionários? Vieram alguns?
R – Não, não. Porque eles têm uma fábrica em Resende. A única coisa que nós compramos é a marca e o equipamento. Então, só trouxe o equipamento, instalou e acabou.
P/1 – E a Kolynos?
R – A Kolynos era muito complicado, porque a Kolynos, a Colgate adquiriu a operação e a fábrica. Então, quando se pegava a operação, se pegava todo o pessoal. No início, nós tínhamos dois de tudo, você tem dois diretores de fábrica, dois gerentes gerais. Você tem dois de tudo. Então, no começo ficam separados, seis meses, um ano, depois eles começam a juntar. Mas aí acho que criou certo estresse, porque não tinha lugar pra todo mundo, você tem dois de tudo, só precisa de um. Então, criou muito estresse. Até que a coisa ficou normalizada eu acho que levou uns quatro, cinco anos, eu diria.
P/1 – E tinha uma diferença de cultura entre um e outro nessa fusão, uma cultura Kolynos e uma cultura Colgate?
R – Olha, eu acho que no... Como as duas companhias eram companhias americanas, eu acho que divergência de cultura não era tão grande, na verdade. O que você tinha mais era conflito de interesse, porque você tem dois de tudo. Agora, de certa forma, eu acho que a Colgate, em termos de produto, era um pouco mais exigente em termos de qualidade do que a Kolynos, mas, em geral, como eram duas companhias americanas, tinham os mesmos ritos, vamos dizer, em termos de orçamento, a organização de marketing, de fábrica. Então, não existe tanta diferença de cultura. Se fosse uma firma japonesa, ou uma firma alemã, talvez fosse sentir mais, mas acho que, olhando bem hoje, não tinha tanta diferença. Na época você achava, mas você, olhando pra trás, esse não era o grande problema.
P/1 – Como você vê uma empresa como a Colgate, que está completando 90 anos no Brasil?
R – Em que sentido?
P/1 – O que significa uma empresa, no caso a Colgate, fazer 90 anos no Brasil? Ter uma trajetória de 90 anos?
R – Está fazendo 90 anos? Então, chegou aqui tarde. A Colgate, acho que você está vendendo... O creme dental está chegando a ser um commodity, tô achando. O que eu estranho é que você olha 20 anos atrás, quantas propagandas de Colgate ou Closeup ou qualquer marca de creme dental na televisão? Tinha, né? Qual a última vez que você viu uma propaganda de Colgate? Você lembra? Ou Kolynos: “Ah!”? Qual a última vez que você viu a “Ah!”? Faz tempo, né? Então, isso que de certa forma eu estranho, eu não vejo mais propaganda de nada. É como a gente estar vendendo com commodity. Então, eu não sei, é estranho. Às vezes com internet, os meios de divulgação são diferentes, mas uma coisa que eu estranho, você fica acostumado. Mas acho que está mudando.
P/1 – Em 2002 você se aposentou...
R – Não, 2006.
P/1 – 2006, desculpa. Como foi esse processo de aposentadoria? Tem uma preparação antes? Como é essa saída da empresa?
R – É pela porta da frente.
P/2 – (risos)
R – Só. Não. Preparação, não. Não tem grandes... Eu não preparei muito, não. Falei: “Tô aqui, tenho uma casa na praia, tenho casa na Cantareira, que eu vendi agora, mas...” Então, falo: “Não preciso preocupar, tem muita coisa pra fazer.”
P/1 – Mas você tinha algum plano: “Quando eu sair da Colgate, vou fazer tal coisa”? Como você viveu esse processo de aposentadoria.
R – Não. Não tinha grandes planos. Você fala: “Vou viajar, vou pescar, vou...” Você tem um monte de plano, mas que eu falo com a maioria das pessoas, eu falo: “Olha, não espere que se aposente, porque você fica fazendo o que você vai fazer, quando chega na hora de aposentar, vamos dizer, 50% que você acha que você ia fazer, você não pode fazer mais, e uns 30% você não quer fazer mais.” Então, essa coisa de ficar planejando muito para o futuro, você esquece que você vai ficar mais velho e seus interesses mudam.
P/2 – Tem coisas que você gostaria de ter feito depois de se aposentar e que acabou não fazendo?
R – Talvez viajar um pouco mais, mas ainda tem tempo pra fazer isso.
P/1 – E você se aposentou...
R – Aposentei.
P/1 – E qual o seu cotidiano hoje?
R – Tenho a casa na praia, a gente vai à praia, a gente fica lá um mês, um mês e meio. Tenho uma casa, tenho uns dois caiaques.
P/2 – Que praia?
R – Tenho casa em Cananeia e tenho uma casa em Ilha Comprida. Ilha Comprida está ao lado de Cananeia, mas onde tem a casa não tem estrada, então, você tem que andar na praia pra chegar, é de frente pra praia.
P/1 – O que mudou na sua vida depois que você foi pai, virou pai? Como foi o primeiro filho?
R – Acho que foi muita... Eu fiquei muito feliz. Agora, o que muda é você... Acho que você pensa não só em você em termos de o que você quer fazer, o que você vai fazer. Você pensa em termos de como você vai afetar seus filhos.
P/1 – Como é o nome dos seus filhos?
R – A mais velha é Cíntia, meu filho do meio é Guy, e a mais nova é Natalie.
P/1 – A Cíntia está com quantos anos?
R – A Cíntia vai fazer 37.
P/1 – O que ela faz?
R – Ela mora aqui no Brasil, ela é diretora do FTI Consulting, na área de forensics. É uma firma de auditoria.
P/1 – E o do meio?
R – O Guy?
P/1 – O Guy.
R – Ele fez mestrado no Emory University, nos Estados Unidos, agora. E ele está começando a trabalhar com ABET [Accreditation Board for Engineering and Technology] na área de marketing, nos Estados Unidos.
P/1 – Ficou por lá?
R – Ele foi agora, porque ele estava no Brasil até um ano atrás. Ele já trabalhou na Colgate, trabalhou na Bausch & Lomb, trabalhou no Glaxo. Aí falou: “Vou fazer mestrado.” Então ele foi, fez o mestrado e vai ver o mercado americano um pouco.
P/1 – E a Natalie?
R – Natalie é uma professora de Artes. É a artista da família.
P/1 – Mora com vocês?
R – Não, não. Mora sozinha.
P/1 – E hoje, quais são seus maiores sonhos?
R – Não tenho maiores sonhos.
P/1 – Ou sonho pequeno.
R – Hein?
P/1 – Ou sonhos pequenos.
R – Ah, viajar um pouco, pescar um pouco. Só ficar no mesmo. Não tenho ambições, grandes ambições agora.
P/1 – Olhando a sua trajetória de vida, se você pudesse mudar alguma coisa, você mudaria?
R – Olha, não sei. É difícil essa pergunta. Não, não mudo muito, não.
P/1 – Você tem mais alguma pergunta?
P/2 – E desse tempo todo na Colgate, imagino que você fez muitos amigos no mundo. Quais sãos os melhores momentos que você lembra ou de amizade ou de trabalho?
R – Nada vem à mente agora.
P/1 – O que te faz sorrir?
R – Olha, pra mim, não precisa de muito, não. Eu não penso: “O que você precisa pra sorrir?” Nada. Não preciso de nada pra sorrir. Você está sorrindo agora. Sabe, acho que a gente fica falando: “O que se faz pra sorrir?” Eu falo: “Não, acho que tem que pensar ao contrário. O que deixa você triste?” Porque, pra sorrir, acho que é uma coisa natural. Eu acho que, dentro de alguns ambientes, em termos de trabalho, fala: “Não, esse cara não é sério.” Então, você tem que ter uma cara mais fechada. Mas acho que isso não é natural, é certa imposição. Eu acho que o sorriso é o natural. Que sorrir é natural. Você é feliz no trabalho, deve ser natural. Você não tem que olhar mais com uma cara mais séria. Por que você não pode ser sério e sorrir? Não é gozado isso? E aí?
P/1 – O que você achou de estar contando a sua história dentro dos 90 anos da Colgate? O que significa pra você? Você foi convidado pra contar a sua história nos 90 anos da Colgate.
R – Bom, eu imaginei, como eu sou uma das pessoas que trabalhou mais durante esses 90 anos, 25 dos 90 eu estava aí, então, eu acho que mais ou menos natural. E deve ter mais gente com mais anos, que tem umas histórias mais interessantes em termos da companhia brasileira.
P/1 – E o que você achou de contar a sua história de vida aqui no Museu da Pessoa?
R – Bom, acho que isso é um pouquinho da minha vida, mas está legal. Eu acho que é interessante mostrar quem é a Colgate, porque a Colgate são as pessoas também, não é só a pasta dental. Talvez dê mais uma... Não sei te explicar. Mais uma face do que é a Colgate.
P/1 – Obrigada. Queria agradecer em nome do Museu da Pessoa a sua entrevista.
R – Tá bom. Obrigado.
P/1 – Muito bonita a sua história.Recolher