Transporte de família

P- Senhor Alfredo, nós primeiro gostaríamos muito de agradecer a sua presença e dizer que estamos absolutamente encantados com o senhor ter aceitado o nosso convite. Na, nesse momento, nós gostaríamos que o senhor nos dissesse o seu nome completo, local e data de nascimento. R- Meu nome é Alf...Continuar leitura

P- Senhor Alfredo, nós primeiro gostaríamos muito de agradecer a sua presença e dizer que estamos absolutamente encantados com o senhor ter aceitado o nosso convite. Na, nesse momento, nós gostaríamos que o senhor nos dissesse o seu nome completo, local e data de nascimento.

R- Meu nome é Alfredo Vieira Alves Filho, eu nasci em Campinas, em 02 de fevereiro de 1946.

P- Quais os nomes dos senhores seus pais?

R- Sou filho de Alfredo Vieira Alves e Ana Fernandes Alves.

P- Ah, o senhor poderia nos falar sobre a origem da sua família?

R- São campineiros, é, e o papai era filho de portugueses e a mamãe era filha de italiana e espanhol.

P- O senhor se lembra dos seus avós?

R- Muito. E, se bem que por pouco tempo de, de, de convivência com eles, pois eles faleceram quando eu era menino.

P- Qual era a atividade profissional dos senhores seus pais?

R- O, o meu pai, ah, ele sempre foi voltado ao ramo de transportes e ele ajudava muito o meu avô, Manuel Vieira Alves, o qual era possuidor de uma, na época, um (tipo?) transportadora, o qual, é, a qual transportadora era, ela usava, para transporte de móveis naquela época, carroções especiais, com dimensões especiais, pela, pelo tamanho dos móveis da época até então, e, tipo, madeiras maciças, buffets grandes, cristaleiras grandes, então eram usados carroções especiais que eram, ah, movimentados por tropas de burros. E aí o papai ajudava muito o meu avô. E o papai foi, assim, o predileto pra que o vovô, quando ficou mais sem ter muita atividade, tal, o papai foi o eleito pra que isso ficasse com ele, e onde ele convidou meu tio. E os dois iniciaram, daí, uma, o início de uma empresa de transportes, podemos assim chamá-las, que eram dois caminhões, um para cada um, e isso em 1932, no início da época, podemos dizer, automobilística ou rodoviária.

P- Certo. O senhor saberia dizer mais ou menos o período em que o seu avô tinha essa transportadora cujos veículos eram movidos a tropas de burros, o senhor conseguiria mais ou menos situar pra gente?

R- Então, pelo que eu ouvia, é, é da época de 28, 29, entendeu, logo no início dos primeiros veículos que movimentavam sob tração motorizada.

P- Certo.

R- Então... o vovô já fazia isso um pouco antes, ah, e fazia esse tipo de atividade juntamente com um tio-avô meu. E...

P- Poderia ser até o começo do século XX, mais ou menos, que eles trabalhavam com tropas de burros ou...

R- É por aí. Acredito que seja por aí, assim, desse começo. Porque o vovô era ilhéu, da Ilha da Madeira de Portugal. E ele veio ao, veio pro Brasil e daí começou nesse tipo de atividade. E, fazendo toda movimentação de, de... Esses carroções serviam praticamente pra tudo, né, porque, não só de mudança, eles tinham dimensões especiais para serem, ah, para transportarem móveis, mas também poderiam ser qualquer outro tipo de carga, na, na época então. E, e daí depois é que houve essa, essa doação, vamos dizer assim, desses veículos, desses carroções e tropas de burro, pro papai, e aí veio a época da motorização. Foi quando eles iniciaram, papai e o meu tio.

P- Perfeito. O senhor tem irmãos?

R- Eu tenho irmãos que, ah, trabalharam junto na, na empresa do, ah, trabalharam junto com a gente logo no início da empresa do papai. Mas, ah, por não muito tempo, entendeu? Porque eu tenho um irmão e uma irmã. E eu sou o caçula da família. E, então, coube a mim a continuação disso até os dias atuais. O meu irmão acabou deixando, eu familiarmente comprei a parte deles e fiquei com a empresa sozinho.

P- Qual é a atividade dos seus irmãos hoje?

R- Ah, eles são aposentados e, ah, a vida do lar, atualmente. E...

P- Eles ficaram uma parte na transportadora, uma parte da atividade profissional deles, da história da atividade profissional, uma parte na transportadora e aí desenvolveram outras atividades profissionais.

R- É, sem dúvida.

P- É claro. O senhor poderia nos falar um pouco da sua infância, como o senhor recuperaria esse período da sua vida, a sua infância, os brinquedos, como era Campinas naquele tempo?

R- Então, eu... aos 16 anos eu comecei a freqüentar a empresa, assim, com mais, é freqüência, sabe, assim? Tentando ajudar em alguma coisa, tentando aprender muitas coisas, que era um mundo pra mim desconhecido. Então você participa, participando desse mundo, você iria adquirindo experiência e saber. E eu, muito curioso, eu sabia o que era uma borracha de

(cardan?) de um caminhão, eu sabia, ficava atrás dos mecânicos que mexiam nos caminhões, e isso de uma curiosidade, na época, de juventude, entendeu. Depois fiz minha vida escolar, me formei em Direito, depois trabalhei um pouco na Justiça do Trabalho, é, onde cheguei a exercer a função de Juiz do Trabalho Classista, representante dos empregadores, ah, na época, até então, antes de 98, que, onde houve a extinção, e, ah, houve a extinção do Juiz Classista na Justiça do Trabalho. E eu passei esse período, depois que me formei, tal, como Juiz Classista representante dos empregadores na Justiça do Trabalho. Aí houve a extinção da...

P- Do cargo.

R- Do cargo. E daí me veio a idéia da continuação da empresa, onde fundei a Vieira Filho nos mesmos moldes e, e, que de tudo que, que se passa hoje em dia... Ah, tentando, é, modernizar a atividade. E escolhi o setor de mudanças, que já era coisa que vinha de antigamente.

P- É, na sua empresa atual, o senhor então trabalha com mudanças. Quando o senhor era criança, o seu pai tinha a, a empresa já com o seu tio, o senhor morava em Campinas?

R- Sim, sim, sempre morei aqui.

P- Sempre morou aqui em Campinas. Como é que o senhor, ah, via o bairro em que o senhor morava quando o senhor era criança?

R- Olha, eu tive a grata satisfação de morar defronte a um bosque que, que até hoje é mantido, chamado Bosque dos Jequitibás.

P- Ah, que lindo.

R- E, então, a minha infância foi praticamente dentro desse bosque, entendeu? Eu sabia, eu vivia o dia todo. Eu estudava um período, por exemplo, no, no grupo escolar, na época...

P- Qual era, qual foi o Grupo Escolar que o senhor estudou?

R- Eu estudei dois anos no Grupo Escolar Francisco Glicério e dois anos na, no Instituto de Educação Carlos Gomes. Quer dizer, eu me formei no quarto ano primário no Instituto de Educação Carlos Gomes. Daí, é, orgulhosamente participei também do, prestei o exame de admissão e ingressei também no Colégio Estadual Culto à Ciência, muito famoso até hoje em Campinas, e de muitas histórias, e de muitos amigos. E aí, mas voltando à minha infância, ah, essa grata lembrança de ter morado defronte a um logradouro público, podemos assim chamar, no qual eu conhecia todos os trabalhadores do bosque, o zelador. Então, ah, lá dentro existiam inúmeras frutas que eram plantadas na época, tal, e eu as conhecia todas. Tipo, é, uvaia, abil, que são frutas que raramente, hoje em dia não se ouve mais falar, fora amora, o bosque chama-se Bosque dos Jequitibás, então, é... lá tinha carambola, jatobá, frutas, cabeludinha. Então... pitanga, amora. Essas frutas eu, como menino, eu sabia onde elas se localizavam. Então a gente se divertia, é, fazia esporte, corria, em geral uma vida saudável, uma infância saudável, entendeu, dentro de um logradouro público que, pela minha facilidade em morar em frente a esse local.

P- Quais eram as brincadeiras, além de correr, que o senhor gostava?

P- Eu, ah, esse bosque, ele, ele tem diversas, ele tem diversos planos de, de terreno. Então eu tinha carrinho de rolemã. Já era o meu, a minha, a minha preferência de brincadeira com os amigos,

entendeu? Então pela facilidade também da minha empresa, que se localizava defronte à minha casa, ah, e que os mecânicos tinham essa facilidade, às vezes até os amigos que não podiam, que não tinham condições, os carrinhos de rolemã eram feitos na minha empresa, pra que a gente participasse de corridas e competições dentro do bosque, que era em níveis de terrenos com descidas e... Aliás, meio perigoso até, se bem que na época não existiam tantos automóveis, tal, mas eu digo perigoso no sentido de cair, levar um tombo, porque era completamente sem proteção, né. Mas foi uma coisa, assim, muito marcante na minha infância.

P- O senhor disse que tinha muitos amigos. E o senhor tinha muitos amigos na escola, tinhas muitos amigos também no bairro?

R- Tanto no bairro quanto na, na, os amigos de escola, entendeu? Porque a gente, como eu nasci em Campinas, então a gente vai criando aqueles laços de amizade e... entre as pessoas da mesma, da mesma idade, da mesma época. E então isso, antigamente, era uma coisa muito enraizada, assim, uma coisa muito concreta, né; você tinha amigos, amigos de verdade. Então, sabe, a gente, eu, por exemplo, fiquei muito conhecido, porque era um ramo de atividade sui generis do qual eu participava, entendeu. E daí o apelido “Vieirinha”, e, e o meu nome é Alfredo Vieira Alves Filho, Alfredinho, Vieira, sabe? Então, é, houve assim uma, um conhecimento da minha pessoa...

P- Afetivo.

R- É, afetivo, com os meus amigos, enfim, né... Não só da escola como do bairro, dos bairros, do bairro assim que cercava a nossa empresa e casa, né, porque um era praticamente assim, a minha casa era num quarteirão e a empresa era no outro. E sempre ao lado do bosque, sabe, que foi o início da, do ramo de atividade do papai.

P- O senhor disse que a sua mãe, ela não tinha nenhuma atividade profissional além da do lar, né, das atividades do lar. O senhor se lembra de sair com a sua mãe pra fazer compras quando era crianças, era criança, o que que o senhor lembra disso, senhor Alfredo?

R- Então, a gente, ah, era muito unido familiarmente. Então, por exemplo, naquela época a feira livre era coisa que eu ia com a mamãe, sempre gostava muito e conhecia o pessoal que, da qual ela comprava as coisas. E, sabe, assim, de compras, assim, eram poucas as vezes que eu ia com ela. Eu lembro, assim, mais as atividades domésticas nas quais eu ajudava, entendeu?

P- Assim, o senhor se lembra de Campinas nessa época, assim, como eram a lojas, as lojas, quando o senhor era criança?

R- Ah, sim, sem dúvida. Por exemplo, ah, coisa que eu sempre ia comprar, é, loja Ezequiel, era uma, marcante na época. É, loja Renner, sabe? Ezequiel é campineira. Daí Renner era uma que eu lembrava, que sempre comprava alguma outra coisa. Mamãe ia à Casa Campos, ah, que são lojas campineiras, né? Então, assim, é o nome que me vem atualmente.

P- Claro. O senhor poderia falar um pouquinho onde eram comprados os gêneros alimentícios ou os itens de consumo, fora os que eram comprados na feira livre?

R- Ah, existia um, um, o armazém do Sebastião Maria, que o papai era cliente, ah, e é desses armazéns com todas as, as mercadorias necessárias, desde sapato a arroz e feijão, a ervilha, a tudo que, que uma casa necessitasse. Existia também o Pires & Companhia, que era na rua Costa Aguiar, e do qual a gente era muito amigo, que são pessoas campineiras. Inclusive, do Sebastião Maria, a Leonor, neta dele, tomava o mesmo bonde que eu, porque nós morávamos no mesmo bairro. E então como a cidade não era tão grande, então havia um conhecimento de, sabe, de pessoas que... era uma coisa assim mais íntima, né. Como nesse caso, por exemplo, eu pegava o mesmo bonde da Leonor, que era a neta do Sebastião Maria, cujo estabelecimento o papai e a mamãe compravam gêneros alimentícios deles. E assim, sabe, as coisas iam... O Ezequiel era amigo do papai. O Pires era amigo do papai. Então, sabe... e os filhos eram, a gente se relacionava... em clube. Tipo no Tênis Clube, na Hípica, entendeu, que eram clubes que já, antigos de Campinas e, o Regatas, os quais a gente freqüentava, não só como atividade esportiva como de lazer, né?

P- E o senhor se lembra de ir a São Paulo fazer compras com a sua mãe ou com alguém da família?

R- Não, eu ia sozinho, mas na juventude.

P- Quando criança não.

R- Quando criança não muito, porque aqui, ah, supria a nossa necessidade. Mas na juventude, na então jovem guarda, é, sapatos italianos, da (Pizanina?), Mocassins, ah, e, e assim por diante. Camisas na rua Augusta. E, e era um tal de, e eu fazia o seguinte, como eu era muito pechinchador, eu ganhava o dinheiro do papai e colocava no bolso direito. E tudo que eu conseguia de desconto, eu colocava no esquerdo. (risos) Então no final do dia, num dia desses de compras, é, sempre sobrava um bom dinheiro no bolso esquerdo que era dos choramingos de compras e de descontos que eu conseguia nas compras das coisas das quais eu levava. E o que daria às vezes pra comprar mais um sapato ou às vezes mais uma camisa da moda, que nessa época a gente se preocupava um tanto com isso, né.

P- Claro. O senhor disse que estudou,

que fez o, recuperando um pouco a sua formação, né. O senhor estudou no grupo escolar, depois o senhor foi pro Carlos Gomes, terminou o primeiro grau fundamental no Carlos Gomes, foi ao Culto à Ciência e depois o senhor se formou em direto.

R- Isso.

P- O senhor estudou aqui em Campinas a graduação também?

R- Aqui em Campinas, aqui em Campinas na PUC. Se bem que antes eu prestei exame na, eu fui da primeira turma de formandos da faculdade de Pinhal. E daí fiz o primeiro e segundo ano de Direito lá, depois que eu pedi transferência pra PUC, onde fiz segundo, terceiro, quarto e quinto. Eu fiz o segundo porque, novamente, porque existiam matérias aqui, na PUC, que não haviam em Pinhal. Então eu fazia, eu fiz o segundo, só com as matérias que faltavam lá, que não existiam em Pinhal, depois fiz o terceiro, quarto e quinto ano. Mas não cheguei a exercer a advocacia. Por quê? Porque daí já comecei mais efetivamente na empresa, da qual o papai era sócio com meu tio, que chamava-se Empresa de Transporte dos Irmãos Vieira. Passou a se chamar logo que eles fundaram a empresa, nos idos tempos, então já se chamava Irmãos Vieira, que era, em Campinas, um nome conhecidíssimo, por exemplo, até como, é, tipo essencial, sabe? Por exemplo a dona de casa falava “Ah, não gosto desse móvel aí”. “Segunda-feira você chama os Irmãos Vieira e eles mudam os móveis”, entedeu? Na própria casa ou... Então era um sinônimo de mudança o nosso nome, ou melhor, do papai e do titio, na época, né? Então era assim, um sinônimo de transporte de coisas e... Porque nós fomos os pioneiros em Campinas.

P- Ah, isso, interessante.

R- Aqui em Campinas, em matéria de transportes, nos fomos os pioneiros. Tanto é que, ah, o Terminal Intermodal de Cargas, que hoje em dia, ele abriga, ah, 80 que 90, 80 que 100 empresas de transportes, é um local destinado só pras empresas de transportes, orgulhosamente tem o nome do papai, Alfredo Vieira Alves. Mamãe foi lá (desserrar?) a placa. É, que é, esse Terminal Intermodal de Cargas é o TIC aqui de Campinas, que é um condomínio feito propriamente pras empresas de transportes, o qual o papai tem o nome de uma das ruas lá e... Então, e tem o nome do terminal, por ser o pioneiro dos transportes em Campinas.

P- O senhor disse que, que o senhor, logo que se formou, já iniciou o trabalho na transportadora com o seu pai, que o senhor tinha uma experiência desde a juventude, dos 16 anos.

R- Isto.

P- O senhor sentia que o seu pai já tinha uma perspectiva de que o senhor seria o continuador do trabalho dele?

R- Eu acredito que sim, porque o meu irmão, ele, ele ficava com a parte financeira da empresa, sabe, ele cuidava dessa parte. O papai era o comercial, ele, assim, o financeiro, e eu era, ia com o papai em todas as visitas de clientes. Então esse, esse tratamento, essa aproximação com os clientes, eu participava junto. Então o papai sentia, em determinadas coisas que conversávamos, que, além de eu ter aquela, aquela curiosidade anterior de conhecer por dentro do que é um caminhão, do que, como é o motor, é, coisa que o meu irmão não se preocupava, entendeu? E eu já tinha esse dom de curiosidade e participava com o papai nesse tipo de coisas. Então ele via praticamente em mim um continuador do nome da... E hoje eu sou terceira geração daquilo que foi fundado.

P- É verdade. O senhor falou a jovem guarda. Como foi o lazer na sua juventude?

R- Ah, foi ótimo.

P- Fala um pouco disso pra gente.

R- Foi ótimo. Isso eu posso dizer que aproveitei bastante. Sou da época dos, do início dos Beatles, entendeu, aquela revolução musical, e uma revolução assim, acredito que mundial, da juventude, e eu cheguei a participar. Então isso fez com que a gente começasse a ver coisas atuais, que hoje em dia, aquilo teve o início de uma revolução em tudo, acredito. Em roupas, em estilos de vida, ah, em maneiras de comportamento, entendeu, em modismos, o cabelo comprido, a calça mais justa, e assim, sabe? Participei intensamente. E daí convivendo com a juventude campineira. Aí sim, eu iria muita... nessa época que eu disse, é, e comentei que eu ia a São Paulo pra fazer compras pra manter a minha, o meu guarda-roupas atualizado, então isso fez parte dessa revolução, entedeu, que...

P- O senhor ia a bailes, como era essa vida de, de lazer aqui em Campinas nesse momento?

R- Ah, sem dúvida. Tinham os clubes, né, e, e fora as festinhas as quais as meninas davam pra que os rapazes de se aproximassem e assim por diante. Então como Campinas era, era um número muito menor de habitantes, tal, então os conhecimentos, os convites eram constantes, né, e eu era um dos convidados. (risos)

P- Então o senhor ia a bailes. E cinema?

R- Olha, muito pouco, eu... raramente. Por exemplo, comecei na, é, filme, assim, marcantes da minha época, “Um homem, uma mulher”. É, deixa eu ver aqui mais o que eu poderia citar a você, é... (pausa) “Juventude transviada”, com James Dean, ah... Sabe, assim, nesse esquema aí. “A primeira noite de um homem”, sabe?

R- Claro, claro.

P- Eram filmes, assim, mas raramente eu... Só ia em clássicos, assim, que o pessoal dizia “Ó, você não pode perder esse filme que é ótimo”, então daí eu, eu iria assistir.

P- O senhor disse que viajava pra São Paulo habitualmente. Qual era o meio de transporte que o senhor usava.

R- Sempre com algum amigo que já tinha carta e depois eu... Dezoito anos, quando eu fiz 18 anos, eu já tinha meu carro. Então, por quê? Porque na época foi lançado um, um, é até interessante, um veículo, é, dois tipos de veículos pela Caixa Econômica Federal. Um era uma perua (Venaguete?) e o outro era um Renault gordinho, e eu, chamado teimoso, que era, ele era todo sem acessórios, tal, e eu peguei um funcionário da minha empresa e pus pra ficar na fila, com a minha documentação, pra que eu conseguisse comprar e financiar esse tipo de veículo. Então aos 18 anos eu já tinha esse carrinho, o qual depois levei pra um conceituado funileiro aqui, fiz diversas modificações nele, tipo, alisa o capô, é, fiz um vidro de limusine, ah, com capota de napa, por dentro os bancos modificados, coisas assim que na época, sabe, eram vistosas. O carro passava: “Olha, que ______, lá vai o Alfredinho com seu Renault, com seu Gordini”. E na época o Gordini andava mais que o Volkswagen, tinha uma velocidade maior, então era motivo de chacota quem tinha Volkswagen: “ah, seu carro é fraco”. E assim por diante. Então a gente, nessas idas, por exemplo, pra São Paulo, você vê, já aos 18 eu já tinha o meu carro, quando não, eu ia com outros amigos que já tinham habilitação e que já tinham carro ou que emprestavam o carro do pai. Eu, antes de ter habilitação, o papai tirava uma soneca depois do almoço, eu ia lá, com muito jeitinho, tirava a chave do bolsinho dele, e dava minhas voltas, enquanto ele tirava a soneca dele. No bairro ali perto, eu já sabia dirigir, já mexia com tudo, já tinha consciência, já tinha responsabilidade, nunca cheguei a, quer dizer, não que nunca, nunca me aconteceu nenhum tipo de problema nessas ocasiões. Por quê? Porque eu sabia que eu estava completamente fora da lei, é, mas eu andava devagar, eu passeava, eu passava na porta da casa da, da namorada atual, pra uma demonstração assim de, de, é, de juventude, de arrojo, enfim. Então desde essa época a gente já... O papai inclusive me incentivava muito, por exemplo, a gente ia à praia, em Santos, na época, e ia à Praia Grande, desde menino o papai já me colocava no colo e eu já ia dirigindo, engatava a marcha. Ele tinha aqueles automóveis americanos com marcha na direção, entendeu? Então eu já sabia, já tinha uma, uma noção de, sabe, de direção, de como era. E por estar ligado a esse ramo, né, de atividade, de, da empresa, no caso. Mas, ah, então daí, aos 18 anos, já tendo o carro, daí eu fui trocando com facilidade, conforme foi aparecendo, tal. E assim por diante.

P- E o senhor ia a São Paulo, o senhor disse que ia de automóvel. Fala um pouco da estrada, o senhor...

R- Era a Anhanguera...

Já deu um rolo de fita aí.

P- É meia hora, mais ou menos, né.

R- Quer continuar, quer encerrar?

P- Sim... não, vamos continuando, tá ótimo. Maravilha. Então o senhor estava falando da viagem, das viagens que o senhor fazia a São Paulo, e eu perguntei pro senhor a respeito da Anhanguera, quando a Anhanguera foi então construída, inaugurada, então pro senhor falar um pouquinho dessa estrada.

R- Então, a Anhanguera, desde a minha época, era fabulosa, com curvas deliciosas, e eu, ah, sem assim, não que não, nunca abusasse da velocidade, obviamente que em alguns trechos você ultrapassava a velocidade permitida, mas como eu tinha um tanto de noção de direção, saber dirigir desde, desde a minha infância praticamente, início de juventude, então obviamente eu tinha mais facilidade em dirigir. Cheguei a comprar um carro de competição da antiga (Vemagui?), que fechou o departamento de competição, e eu tive a oportunidade de comprar o, o carro número 10 da (Vemagui?), que quem pilotava era o Mário César de Camargo Filho, que era um dos ícones da, da época da (Vemagui?) no Brasil, da DKV. E esse carro foi adquirido pelo, pelo Max (Waiser?) de Piracicaba, que tinha uma revenda de automóveis, e eu fui lá e comprei o carro dele, com dois motores, pra que eu tentasse me aventurar no mundo automobilístico de competição. Mas, como eu sempre digo, a coisa tem que ser feita como deve ser, e acho que Deus não quis que eu participasse disso, tanto é que, andando pelas ruas, um certo dia, veio uma kombi, eu parado no sinal, e o rapaz meio distraído, ele veio e bateu na roda dianteira dessa (Vemagui?), dessa DKV. E eu vi a roda, assim, o eixo, praticamente, quebrado, ou a roda torta, e daí me veio a imaginação de pegar o retão de Interlagos e estar naquela, naquela época, aquela 160 por hora, que hoje em dia é praticamente uma velocidade normal de qualquer veículo, mas na época era uma velocidade e tanto, e eu imaginava aquela roda, que já tinha sido atingida, sabe, ela não suportar esse tipo de velocidade, coisas assim que me desentusiasmaram dessa pretensão.

Mas sempre fui, desde menino, a corridas em Interlagos. 24h em Interlagos, Mil milhas, ah, todas essas, eu e meus amigos participávamos. E naquela época, Interlagos, você entrava, eu ficava assim, praticamente parava a minha Kombi, nós íamos de kombi, tirávamos o banco da kombi e colocávamos, assim, no gramado, e sentávamos a dois metros da curva onde passavam aquelas carreteiras. Era um perigo total, mas na época a gente nem, é, achava isso um desafio, podemos assim dizer. E participávamos, praticamente, do jeito que ele fazia aquela curva do pinheirinho, é, curva do sargento, e conhecíamos Interlagos de cabo a rabo, de largada a chegada. Então acampávamos nessas corridas mais, maiores, de longa duração, Mil milhas, 24 horas, é, eram as nossas mais, é, entusiasmantes pra que a gente fosse.

P- O senhor chegou a andar de trem?

R- Andei muito de trem quando eu, ah... Nesse meu período ah, nesse meu período ginasial, aí eu entrei no Culto à Ciência. O primeiro ano foi ótimo. O segundo ano eu comecei a não estudar muito, a namorar muito, a chegar meio tarde em casa, e o que provocou uma certa imposição dos meus pais: “Então, olha, se você não passar de ano, você vai pro colégio interno”, que era o castigo da época. E foi o que aconteceu. Eu, ah, repeti o segundo ano no Culto à Ciência e daí o papai e a mamãe: “não, você vai interno, você vai lá pro Colégio Diocesano (La Salle?), em São Carlos, que nós ouvimos dizer que tinha o (Kelly?) em Piracicaba, em Rio Claro, e o, e esse Colégio (La Salle?), Diocesano (La Salle?), em São Carlos”. E daí eu fui pra lá. Fui pra lá. “Não, porque daí você, estando interno, você tem tempo de estudar, tem horário de estudos, então pra você vai ser ótimo. Você passa esse ano lá e depois você volta pro Culto à Ciência, sem problema algum. Você pede transferência e volta pro Culto à Ciência”. Aí fui o primeiro ano e, nessa época de colégio interno, eu pegava o trem. Pegava o trem aqui, um grande entroncamento ferroviário era Itirapina, entendeu, e de Itirapina, São Carlos. Então muitas vezes viajei de trem, e, no vagão restaurante, coisa assim marcante na minha juventude.

P- O senhor, é, falou em namoro, baile. Como que foi o seu período de namoro. Depois o senhor ficou no colégio interno porque namorou muito, e depois?

R- Então daí, no colégio interno, é, fiz o primeiro ano, né, e aí visitava, às vezes duas vezes por semana, eu vinha nos fins de semana, né? Duas vezes por mês. Eu vinha, é, pra Campinas, tal. Mas já tinha arranjado namorada em São Carlos, já tava, é, montando a minha, a minha estadia lá. Aí o papai e a mamãe falaram: “Não, agora você já passou de ano, no segundo ano, muito bem, pode voltar pra casa, tal, vamos, nós vamos te matricular no Culto à Ciência”. Eu falei: “Não, agora não, agora eu vou ficar mais um ano em São Carlos”. E, e daí fiquei o segundo e o terceiro ano ginasial em São Carlos, o segundo que eu repeti e o terceiro que eu quis ficar. E fatos pitorescos interessantes no colégio interno, entendeu? O campo de futebol era, assim, num plano, é, num nível mais alto do muro. Então tinha uma decaída, assim, do campo, aonde subia o muro. Então, assim, tipo um barranco. E, ah, alguém fez algum buraco lá nesse muro do colégio e nós ampliamos o buraco. Então quando a gente era convocado, por exemplo, pra um jogo-treino, que todo dia tinha esporte no colégio interno, então a gente já combinava com outro colega: “eu saio, caio no barranco e você entra”, pra eles não verem que houve uma troca de jogador. E nesse buraco, a gente podia se encontrar com as namoradas durante a semana. (risos) Então era um fato, assim, é, entre alguns amigos, dentro do colégio interno, que tinham essas, vamos dizer, essa, ah, traquinagem de poder ter esse encontro com a, com as meninas durante a semana, porque as saídas do colégio interno, quando você não viajava, eram só aos domingos e por pouco tempo. Poderia-se assim dizer, não era um período inteiro, por exemplo, ou a manhã, ou às vezes eles deixavam que você ficasse na cidade de São Carlos à tarde, e daí você passeava, fazia suas atividades lá.

P- E, e como é que eram os namoros depois, quando o senhor foi ficando mais jovem, mais adulto?

R- Então, daí eu namorei várias moças da sociedade, tal, e algumas, é, por vários anos, tal, e parecia ser a eleita. E no fim fui encontrar a minha atual mulher, que hoje, que sou casado até hoje, me casei em 75, e fui encontrar minha atual mulher, ela era, ela trabalhava na antiga Caderneta de Poupança Continental. Um dia fui lá fazer um depósito e a vi. Me encantei, já perguntei, é, “que horas você sai, queria conversar com você”, e assim foi. E daí nos casamos. Quer dizer, não foi nem alguém da sociedade, nem, sabe, assim, foi um amor, assim, à primeira vista, podemos dizer, né.

P- Claro.

R- E, e a família dela era de Valinhos, localidade aqui perto, próxima de Campinas. E, ah, somos casados e felizes até hoje. Tenho duas filhas, formadas, Manuela, a mais velha, Mariana, a mais nova. Manuela, nutricionista. Mariana é publicitária. E, no ramo do transporte, eu ainda tenho que batalhar. Ou talvez surja um genro bom no qual eu possa colocá-lo na, na minha atividade atual.

P- Então, o senhor ficou, o senhor, ah, nos contou que o senhor, de alguma forma, reinventou a Transportadora Vieira. Eu queria, nós gostaríamos que o senhor falasse um pouco desse processo, desse processo de transmutação mesmo da Transportadora Vieira e da participação mesmo em situações, né, em eventos, em construções importantes pra, não só pra Campinas, mas pro Brasil também, né, do trabalho que vocês desenvolveram.

R- Pois é. Aí, ah, veja bem, o meu tio Luís Vieira Alves, ele tinha cinco filhos homens, e o papai, Alfredo Vieira Alves, ele tinha o meu irmão e eu de homem, que seriam os futuros, é, continuadores, podemos assim dizer, da empresa. Os cinco filhos homens, do meu tio, é, obviamente trabalharam lá na empresa e tal, e sempre havia uma divergência de princípios, de pensamentos, uns com horizontes mais amplos, outros mais assentados: “Não, assim tá bom, vamos deixar assim”. E outros já com outras perspectivas, com olhares mais no futuro. E eu não sei se por ser aquariano eu sempre fui mais além... Conclusão: a empresa em si não tinha como se desfazer dessa, dessa junção. Porque o papai foi ficando mais idoso, o meu tio mais idoso, então eram os filhos que praticamente continuaram o negócio. Aí, do nosso lado, o meu irmão mais velho e eu. Eu tinha outros pensamentos que o do meu irmão, imagine dos meus primos. Então eu já via a coisa num outro aspecto. Por exemplo, nós fomos os primeiros transportadores da IBM, quando a IBM se firmou aqui em Sumaré. Então a IBM nos chamou. Na época, nós tínhamos vários caminhões atendendo o nosso público fiel, que era de mudança, que eram os nossos clientes de transportes de pequenos volumes e veio uma IBM. A IBM chegou uma hora e nos deu um xeque-mate. Falaram, nos chamaram numa reunião e falaram: “olha, só que de agora em diante, eu vou precisar aqui dentro de 20 caminhões, porque 3 vão fazer tal coisa, 5 vão fazer tal coisa e os outros 12 vão fazer transporte regular São Paulo - Rio de maquinagem, de equipamentos”. Foi daí que houve... Isso, os meus primos eram sócios ainda, certo? E nós formamos uma reunião e eu era, assim, podemos dizer, saindo da minha juventude pra, pra comercialmente tomar alguma posição, eu falei: “Pessoal, aí tá nosso pulo do gato. Vamos comprar os caminhões, a gente, com o que ganha, paga os caminhões, dai pouco tempo esses caminhões são nossos e nós podemos usá-los de uma outra maneira, pegar uma outra empresa e assim por diante”. Foi quando o pessoal começou: “Não, porque essas firmas americanas te trocam por qualquer tostão a menos”. E, e eu batalhava: “Não, mas isso vai ser feito com contrato, nós faremos um contrato, chamaremos um advogado que... Então, tanto da nossa parte como da deles, nós vamos ficar fiel pelo menos um ano ou dois anos, sei lá quantos anos, quantos eles precisarem”. E daí já começou esse tipo de divergência. Aí que que aconteceu? Nós pegamos, já não tinha mais clima de, clima associativo, societário, melhor dizendo, entre eu e meu irmão e os meus primos. Que que nós fizemos? Nós compramos os caminhões deles, pagamos tudo direitinho, e a empresa continuou nessa época como Vieira só, nós tiramos “irmãos”, porque já não eram mais os irmãos. Continuou como Vieira. E depois de um tempo a, o meu irmão começou a também, não mais, sabe, a sentir gosto pela coisa, ou pela atividade que ele começou a exercer, que ele também foi juiz classista. E, ah, sabe, e a coisa foi ficando praticamente deteriorada, a empresa com um nome, com uma antiguidade, ah, tamanha dessa foi ficando esquecida porque não renovava frota, não, sabe, o material empregado não era de primeiro mundo, ah, tipo, o móvel tem que ser, hoje em dia, é, nenhuma mudança eu faço com móvel, por exemplo uma poltrona dessa, sem plástico polibolha e papelão ondulado, que ela fica totalmente coberta, mesmo que transporte daqui pra duas quadras de lá. Então a composição de materiais, tal, empregados hoje na minha empresa, antigamente eram cobertores, cobertores velhos, sabe, essa coisa, assim, que não pode continuar. Aí chegou em 98, eu ouvi do meu irmão: “É, isso aqui já deu o que tinha que dar”. Isso me atacou profundamente o sentimento, de ver que meu pai, um grande batalhador, posso dizer assim um bandeirante rodoviário, um bandeirante rodoviário no qual ele, quando saía, nas épocas de estradas de terra, de, ele saía com cantil, com peça de presunto, peça de coisas pra sobrevivência. Uma espingardinha (frobé?), estilingue. Por quê? Porque se quebrasse o caminhão, se atolasse o caminhão, ele ficava semana num trecho Campinas - Rio, num trecho Campinas – São Paulo, que eram 100 km, mas sem qualquer ajuda externa. O movimento era tão pouco de, de gente que viajava na estrada, ou gente que não podia dar atenção ou mesmo assistência pra quem tava ali parado. E então era um tal de pegar carona e ir comprar peça, trazer o mecânico e consertar o veículo e levar a mercadoria, ou mesmo voltar pro, pro armazém nosso, se já tivesse sido levado. Então, é, isso que eu chamo um bandeirante rodoviário, porque não é como hoje, que é tudo asfalto, posto de, de combustível a, de 1 km a km, telefone celular. Antigamente era coisa incrível de, a falta de assistência pra quem se aventurasse a sair pelo Brasil, viu.

E então nessa época aí, voltando àquele assunto, quando meu irmão disse isso, eu falei: “Opa, então nós vamos fazer o seguinte, se você não tem vontade, ou você compra a minha parte, porque eu não vou continuar como sócio seu. Ou você compra a minha parte ou eu compro a sua”. E depois, e sabe como são as empresas familiares. Depois de muita discussão, depois de muita colocação indevida de coisas que eram do passado e que refletiriam no futuro, é, pensamentos divergentes, eu consegui comprar a empresa. E daí ela passou a se chamar “Vieira Filho”, que é até hoje, isso em 98. Agora em 2008 ela irá completar 10 anos sob minha, ah, responsabilidade e sob meu comando individual. Quem me ajuda e me dá grande força é minha atual mulher, que cuida do financeiro. E eu sou o comercial.

P- E quais, assim, as participações que o senhor acreditaria que fossem relevantes da transportadora Vieira, Irmãos Viera e agora da sua transportadora, que é...

R- A Vieira Filho.

P- A Vieira Filho. Quais seriam as contribuições, as histórias que o senhor teria pra contar dessa, desse trabalho todo?

R- Então, aí que tá. Como eu me voltei só pro, pra parte de mudanças residenciais, comerciais, industriais, é, tem várias coisas que estão interligadas a esse tipo de atividade. Tipo separação de casais, onde o, você vai na residência e eles estão dividindo as coisas: “Não, essa televisão é minha, esse sofá é meu, esse, ah, aparelho de som vai me interessar”, e assim por diante. “A geladeira é sua, a máquina de lavar é minha”. E, sabe, coisas assim pitorescas que, dentro dessa, dessa atividade, acontecem. Outras, eu falei no caso de mudanças, é, residenciais. No caso de mudanças industriais... Por exemplo, eu não tenho um determinado equipamento e presto serviço a uma empresa, tipo uma máquina enorme que eu vou precisar de um guincho pra que seja colocado no meu caminhão, eu contrato de terceiros esse guincho e coloco a peça, a máquina, o que seja, no meu caminhão. Levo, transporto, chega lá, esse mesmo guincho vai, tira. Esse é um serviço contratado por mim e que é de um terceiro no qual eu me comprometo a pagá-lo, no caso. E daí a receber do cliente que tinha feito a mudança, nem isso ele me pagava! Aí eu virava um, um... Ah, quantas vezes cheguei em escritórios e, com o presidente da empresa e... Expondo tudo o que eu tinha passado pra fazer um trabalho perfeito a ele e ele não cumprido com as obrigações de pelo menos, ah, me adiantar o que eu já paguei, e o meu poderia ser dividido em cheques. Então já fiquei muito bravo em situações dessas, entendeu. Quer dizer, são características interessantes num meio empresarial do qual eu participo.

P- E o senhor seu pai, o senhor seu pai, ele fazia também mudanças, mas ele também participava, ele tinha outras atividades. Como eram essas atividades.

R- Sim. Então, é, antes, antigamente nós trabalhávamos com, fora a mudança, carga fracionada, que eram pequenos pacotes, entendeu, e que foi se tornando inviável nos dias atuais, entendeu? Porque, por exemplo, você enche um caminhão de pacotes aqui em Campinas pra ser entregue em São Paulo, citando como exemplo. Então um é na Vila Mariana, outro é na Mooca, outro é em Tatuapé, e o próprio caminhão ia entregando os pacotinhos. Coisa inviável porque o caminhão, além de demorar um tempo enorme, ele teria que se locomover entre os carros, no trânsito normal da cidade de São Paulo, e isso se tornou inviável. Então pra que, ah, tivesse esse tipo de atividade vinculada a sua empresa, ele teria que montar um armazém, ter uma rede distribuidora com pequenos veículos, e isso já acarretava um capital bem maior, uma atividade pudesse até ser de terceiros, porém numa responsabilidade maior, na qual você que estaria colocando o seu nome em jogo, e, e assim... Ah, e transporte pesado, que nós tínhamos carretas e carretas baixas pra que fossem colocados, é, equipamentos de terraplanagem, é, retroescavadeiras, enfim, maquinários de grande porte pra indústrias. Então nós participávamos desse tipo de atividade também. Então eu me voltei só à mudança, que é um segmento que, ah, além de ter vindo do meu avô, com aqueles, com aquelas, é, carroções especiais, era coisa que eu achei que, ah, pra nós era o que iria dar mais certo. E hoje tenho caminhões modernos, caminhões Volkswagen com baús de 9m, 9,5m, todos com rampas hidráulicas, pra que, se os móveis sejam movimentados, móveis pesados, ou mesmo geladeiras e freezers, seja feito, colocado nessa rampa hidráulica e colocado dentro do caminhão, mas tudo embalado, tudo previamente preparado. Então nunca uma mudança é feita no, apesar de, ah, nunca é feita, é, “não, eu quero mudar amanhã”, não é bem amanhã. Nós vamos embalar num dia, no outro dia nós vamos carregar, e nesse dia que nós carregamos, à tarde nós lhe entregamos a mudança. Por quê? Porque requer esse, essa, esses tipos de manuseios, que são as embalagens. Também sofro muito com horários de prédios, que não se pode fazer mudanças após às 17h, condomínios a mesma coisa. E, então, devido a esse tipo de coisa, a gente tem que fazer um planejamento que não é, ah, aquele tipo: “pega as sua cadeira, põe dentro do caminhão e leva”. Então a sua cadeira vai ser previamente embalada, o seu aparelho eletrônico vai ser previamente embalado e assim vai.

P- Quando o senhor começou a atuar mais efetivamente no seu comércio, na sua empresa, no caso, o senhor disse que o senhor ficava sempre na parte comercial, na esfera comercial junto com o seu pai. Qual era o seu horário de trabalho, qual era o horário de funcionamento da transportadora?

R- Então, a transportadora, ela exercia uma atividade bem irregular na questão de horário, porque antigamente não tinham essas regras e essas normas que hoje, hoje existem. Tipo, como eu lhe disse, condomínio, prédio até às 17h, então era tudo mais aberto, mais dá-se um jeito. E o que acontecia? Acontecia que isso era alongado, essa atividade. Invés de serem 8h diárias, eram 12, eram 16h diárias, e assim... Agora, hoje em dia a gente sofre muito com esse tipo de coisa. Não se pode estacionar em locais que, de grande fluxo de movimento. Então, ah, no meu caso, como transportador, sofro muito com esse tipo de regras e...

P- Restrições.

R- Regras de, alheias à minha vontade, e à vontade do próprio cliente.

P- O senhor poderia dizer, ah, quantos funcionários existiam na transportadora do seu pai, do seu tio, e depois; quando começou, e depois ao fim do, no momento da transmissão, o senhor poderia dizer?

R- Olha, nós chegamos na época do papai, do meu tio, tal, nós já chegamos a atuar, assim, com 35 caminhões, sabe? Quer dizer que na época era uma empresa grande. Agora, hoje em dia, é, como eu lhe disse, a falta de incentivo, a falta de tempo, pra esse ramo de atividades, você tem que ter uma empresa enxuta, que você possa dominá-la, e, se você participa numa só cidade, embora eu faça transporte pro Brasil inteiro, eu não tenho filiais em nenhum lugar, por quê? Porque seria uma outra, uma outra participação minha, única, exclusiva, de montar uma filial, arranjar um gerente, colocar caminhões lá, entendeu? Então isso pra mim seria muita coisa. Então, que que eu prefiro? Eu prefiro ter uma empresa enxuta, com poucos veículos, entendeu, atualmente, eu digo, e com um pessoal habilitado, treinado pelos mais antigos, que hoje se utilizam de materiais de primeira, primeira linha pra, pra (o que?) a gente se propõe. E então eu acho que fica mais fácil do controle do proprietário, no caso, eu.

P- E hoje o senhor tem quantos funcionários?

R- Eu tenho 16 funcionários, uma base de quatro para cada caminhão, e mais, é, 8 motoristas.

P- Como o senhor percebe o crescimento do comércio, o crescimento econômico de Campinas e região nesse período que o senhor esteve atuando, esteve à frente da empresa, tanto do seu pai como sua mesmo.

R- Então, hoje Campinas tem um, um milhão e duzentos de habitantes. Então era uma Campinas antiga de 15 anos atrás, muito diferente dos dias atuais. E grandes indústrias se transferiram pra cá, Campinas é o maior pólo eletrônico, hoje em dia, de, de materiais de primeiro mundo, indústrias enormes como Motorolla, Sansung, se voltaram a Campinas e fundaram sua sede aqui. Então onde a gente, houve uma revolução tecnológica de partida pra esse ramo. E isto fez com que viessem muitas pessoas de diversas localidades e aonde eu tenho atuado, no meu segmento, no caso mudanças, tenho trabalhado ativamente, com a ajuda de Deus.

P- Quais são, pro senhor, os segredos de um estabelecimento bem sucedido?

R- Idoneidade, honestidade e presteza. Porque, principalmente nesse ramo que eu atuo. Por quê? Porque eu vou dentro da sua casa mexer com todos os seus pertences. Então o meu pessoal é realmente qualificado, um pessoal que tem um treinamento, um pessoal que é muito bem selecionado antes da, da contratação, e assim que eu procuro manter o nome tão antigo de 70 anos e, do qual eu sou o responsável atual.

P- Como o senhor vê a cidade de Campinas e a região metropolitana no que se refere ao comércio de São Paulo?

R- Ah, sim, tanto é que Campinas, eu acredito ser hoje a principal cidade do interior, no tocante a comércio, a indústrias, tanto é que esse desenvolvimento foi nos últimos cinco anos, ah, podemos dizer, dez, cinco, dez anos. Então Campinas hoje é uma metrópole.

P- Que lições de vida o senhor tirou da atividade comercial do senhor?

R- Olha, eu sendo uma pessoa extrovertida e com uma certa facilidade de amizade, de, ah... Do círculo em que eu vivo, na sociedade em si campineira, eu sou visto, assim, com uma, como uma das pessoas que participa de um ramo de atividade e que são natas aqui, ah, que eu posso citar algumas que ainda existem, tipos Chapéu (Curi?), é, eu sou lembrado dentre os mais antigos, e diversas empresas que nasceram aqui e continuam no seu ramo de atividade.

P- Como o senhor avalia, é, a sua participação neste projeto, Memórias do Comércio de Campinas?

R- Olha, eu, primeiramente eu gostaria de agradecer de ter sido lembrado, é, não só eu como todos os meus antepassados e estar aqui pra vocês relatando isso, é, um pouco da, da história da minha empresa. E espero continuar por muitos anos tentando manter esse nível do qual eu me encontro atualmente.

P- E o que o senhor pensa dessa iniciativa do SESC em promover esse projeto?

R- Brilhante! E digo mais: me sinto orgulhoso, como eu já lhe disse, de participar desse movimento do qual vocês são pioneiros e, e que criaram uma inovação e um incentivo para essas pessoas que ainda batalham. Como eu te disse, do meu tempo, hoje a casa Ezequiel é lembrada, é, os Chapéus (Curi?), como eu te disse, e várias outras firmas que me escapam no momento, mas que isso é um grande incentivo pra que futuras gerações vejam que houve história, é, no crescimento e, e na continuidade de uma vida empresarial.

P- Senhor Alfredo, muito obrigada. Nós estamos realmente agradecidos da sua participação no projeto.

R- Eu é que agradeço e me coloco à disposição todas as vezes que vocês me, ah, me derem o prazer de relatar alguma coisa sobre o meu ramo de atividade.

P- Muito obrigada.

R- Eu é que agradeço.Recolher