Projeto A gente na Copa – História de Gente que Faz o País do Futebol
Depoimento de Mayra Roberti de Siqueira
Entrevistada por Rosali Henriques
São Paulo 19/12/2013
Realização Museu da Pessoa
PCSH_HV_443_Mayra Roberti de Siqueira
Transcrito por Liliane Custódio
P/1 – Mayra, eu queria começar o seu depoimento perguntando o seu nome completo, o local e data do seu nascimento.
R – Meu nome é Mayra Roberti de Siqueira, nasci em São Paulo, no dia 19 de setembro de 1986, tenho 27 anos.
P/1 – E o nome dos seus pais?
R – É Rosângela Roberti de Siqueira e Antônio Ligabue de Siqueira.
P/1 – Eu queria perguntar um pouco pra você sobre a origem da sua família, dos seus antepassados, principalmente os avôs, se você conhece essa história, se você tem alguma informação sobre eles.
R – Eu sei que assim, na nossa família tem um lado forte de italiano, dos dois lados, do meu pai e da minha mãe, e também português. Assim, são as principais misturas que a gente tem. Mas nenhum parente meu mais próximo foi algum imigrante assim, foi bem mais lá atrás. Minha mãe até conta que uma das avós dela até às vezes falava um pouco de italiano, misturava um pouco do italiano, mas eu não conheci assim, a gente só tem mesmo a ascendência italiana bem forte: Roberti, meu avô era Venanzone, meu pai é Ligabue. E também português: Siqueira, Alves, enfim. Conheci todos os meus avôs, dos dois lados. Meus dois avôs faleceram um já há bastante tempo, o outro faleceu no ano passado, minhas duas avós estão vivas.
P/1 – E você sabe como seus pais se conheceram?
R – Sei. Por causa de amigos em comum. Uma amiga da minha mãe queria apresentá-la pra um amigo dela, que era o meu pai, e saíram juntos de casais assim, saiu ela e o namorado, essa amiga e o namorado, e o meu pai e minha mãe. Aí eles foram a um barzinho, num restaurante, conversaram, conversaram a noite inteira. Meu pai adorou minha mãe, minha mãe adorou o meu pai na noite, e na hora de ir embora, meu pai foi levá-la pra casa e mal entraram no carro, meu pai deu um beijo e começaram a namorar, e estão juntos até hoje.
P/1 – E eles moravam em que região aqui de São Paulo? Que bairro?
R – Meu pai morava na Água Branca, Perdizes, por ali, perto do Shopping West Plaza. E minha mãe morava na Mooca. A família da minha mãe toda morava na Mooca. E aí quando eles se casaram, eles se mudaram pra até o apartamento que eu moro hoje, aqui na Cayowaa, aqui no Sumaré, e depois se mudaram pra Vila Mariana.
P/1 – E são quantos filhos?
R – Três. Sou eu e mais dois, eu sou a irmã do meio, tenho um irmão mais velho e um irmão mais novo.
P/1 – E essa infância então foi passada na Vila Mariana, a sua infância?
R – Parte dela. Eu morei até os sete anos na Vila Mariana e depois a gente teve uma vida mais cigana. A gente foi pra Aracaju, Sergipe, moramos por três anos lá, depois voltamos pra São Paulo, aí a gente passou por três cidades do interior: primeiro, Itapetininga, três anos também; Jacareí por um ano; e Indaiatuba, onde meus pais estão até hoje. Eu morei em Indaiatuba dois anos e acabei voltando pra estudar em São Paulo, mas meus pais seguem em Indaiatuba até hoje.
P/1 – E deixe-me te perguntar, essa vida meio cigana é por quê? Qual a profissão do seu pai?
R – Ele é engenheiro mecânico, mas ele foi transferido nas primeiras vezes de São Paulo pra Aracaju, depois de Aracaju pra Itapetininga. Depois ele ficou desempregado, foi demitido, e aí trocou de empresa muitas vezes até ele parar na que ele está hoje, que ele está na 3M, que nem é Indaiatuba, é numa cidade vizinha, mas aí eles acabaram escolhendo Indaiatuba pra viver. Mas meu pai foi muito transferido e depois trocou bastante de emprego.
P/1 – Então vamos voltar na Vila Mariana? Você se lembra dessa casa que vocês moraram? Porque você falou que morou sete anos lá, até os sete anos, então você deve ter um pouco de memória disso. Conta pra gente como era essa casa.
R – Lembro bastante. Lembro bem. Era um sobrado, que na minha imaginação era uma casa enorme. E quando eu olho as fotos, eu falo: “Não é possível que ela era tão pequeno assim”. Tinha um quintal que pra mim era o mundo. Aquele quintal era gigantesco e meu pai fazia algumas plantações, ele plantava alface, plantava algumas coisinhas. Meu pai sempre gostou muito de plantas, então plantava algumas flores, algumas coisas. Tinha uma árvore, uma caramboleira, tinha um pé de maracujá que nunca deu maracujá, foi a grande frustração do meu pai, porque não tinha aquele besouro que faz a polinização e nunca deu. Sempre dava flores e nunca dava maracujá. Mas tinha bastante coisa e a gente brincava demais naquele quintal assim. Eu me lembro de ficar pegando caracol, tatu-bola, ficar, enfim, brincando. Tivemos um cachorro também lá, então brincava bastante no quintal. O que eu mais me lembro da casa, de brincar assim, era o quintal, era a parte mais legal da casa. Inclusive, o pé de maracujá cresceu assim, como uma trepadeira crescia numa... Como se fosse uma cabaninha que meu pai montou para o pé crescer e a gente fazia dali a nossa cabaninha, o nosso clubinho. A gente fazia aquele o nosso cantinho assim, ficava lá dentro como se fosse uma casinha. E como eu tenho dois irmãos, a gente brincava bastante sempre também. O Gabriel era o mais velho, ele liderava as brincadeiras, eu tinha as ideias mais estapafúrdias, e o Fernando era muito pequenininho, ele é três anos mais novo que eu, então se eu morei lá até os sete, ele tinha três, quatro anos, na idade mais velha dele naquela casa, então ele brincava um pouquinho menos. Mas a gente brincava bastante os três. Isso durante o dia. Durante a noite tinha a sala de TV, que era também a sala da bagunça, de brinquedo, e brincava bastante lá. São assim as principais memórias que eu tenho dessa casa.
P/1 – Dessa casa. E o bairro, a Vila Mariana?
R – Eu me lembro de andar muito pouco sozinha lá, porque eu era muito pequena. Mas assim, a gente estudava numa escola que era só atravessar a rua, então atravessa a rua e já ia pra escola. Antes de eu ir pra escolinha, quando eu tava no prezinho, era na mesma rua, então nem saía da calçada, só saía de casa e já ia para o mesmo colégio, inclusive onde a minha mãe dava aula, que minha mãe é professora. Então eu lembro muito pouco do bairro. Eu lembro que a gente morava muito perto do Parque Ibirapuera, então a gente ia eventualmente lá, a família, de domingo, ou passear. E às vezes a gente saía pra jantar também por lá. Mas eu não consigo lembrar muito, eu lembro que era um bairro bem tranquilo e era uma rua bastante tranquila. E lembro que toda vez que a gente ia visitar minhas avós, hoje eu sei geograficamente que não é tão longe, mas na minha cabeça era muito longe, que parecia uma viagem até chegar à casa da minha avó, que era aqui na mesma casa que o meu pai morou ali na frente do West Plaza, na Água Branca.
P/1 – E essa escolinha que você estudou, qual o nome dela?
R – Uma chamava Castelinho Infantil, que era a escola do pré, e a escola depois, na primeira série, chamava Pólis, que acho que não existe mais. Se eu não me engano, até a escola foi vendida.
P/1 – E era que rua ali da Vila Mariana?
R – A gente morava na Rua Morgado de Mateus. A rua da escola, eu não vou lembrar o nome, mas ela era assim, cruzava a Morgado de Mateus. Morgado de Mateus, 556, eu acho, que era o número.
P/1 – Era uma casa, né?
R – Era uma casa.
P/1 – Um sobradinho.
R – Um sobradinho.
P/1 – Aí de lá vocês vão para...?
R – Aracaju.
P/1 – Aracaju.
R – Isso.
P/1 – E como foi essa mudança. Você se lembra dessa mudança?
R – Eu lembro que inicialmente não achei uma ideia legal, porque eu tinha amiguinhos na escola, tudo, tava uma vida acertada. Mas minha mãe sempre foi muito boa em tentar passar sempre alguma... Tentar convencer os filhos dela das coisas boas. Por exemplo, a gente tinha um cachorro que dava um trabalho desgramado, ela conseguiu convencer os três filhos que o melhor era a gente dá-lo pra alguém, tal, e a gente acreditou. Quando a gente tava mudando pra Aracaju, ela usou todos os argumentos que ela podia pra mostrar pra gente que ia ser uma coisa legal. Então eu não me lembro de ter sentido tão... Como se fosse algo tão ruim assim. Acabei aceitando bem. Ela: “Você vai fazer novos amigos, lá tem praia...”. Usou todos os argumentos que ela podia pra eu achar aquilo legal. Então a gente mudou e como eu faço amizade muito fácil, sempre fui um pouco desbocada, despojada, saio falando com as pessoas e tal, eu senti muito pouco. Meus irmãos sentiram um pouco mais. Eu, assim que cheguei, fiz amizades no prédio que a gente foi morar, foi a primeira vez que eu fui morar num prédio. E na escola também eu fiz amizades rápido, então eu não senti muito. Eu sei que meus irmãos sentiram um pouquinho mais na mudança.
P/1 – E a praia? Aí começaram a frequentar a praia?
R – É. Praia e piscina. Tinha um clube que a gente frequentava, e praia todo o final de semana. Voltamos pra São Paulo assim, supermorenos, superbronzeados. E eu adorava, adorava praia, sempre gostei. Quando a gente morava aqui em São Paulo, a gente ia de vez em quando, pegava umas férias e ia pra praia. Então lá, era praia à disposição o tempo inteiro, então era muito legal. As coisas que mais me marcaram em Aracaju eram que eu tinha duas grandes amigas no meu prédio. Nunca tinha tido isso, como eu disse, de morar em prédio, então era só a gente descer para o playground, ou ir uma pra casa da outra, sem precisar sair, sem minha mãe precisar levar na casa de ninguém, era tudo ali fácil, então era só falar: “Tchau, mãe, estou indo” e descer e aproveitar o prédio. Eu lembro que isso a gente aproveitou bastante. E todo final de semana a gente ia pra praia, que também era um ponto alto da semana, assim era poder brincar na areia, poder entrar no mar. Minha imaginação sempre foi muito fértil, então eu criava mil histórias, pequena sereia e tudo mais. Era todo final de semana praia, era muito bom.
P/1 – E escola, você estudou lá?
R – Estudei.
P/1 – Já começou a fazer o ensino fundamental lá, né? Continuou, né?
R – Eu mudei na segunda série. Assim, na verdade a gente mudou no meio do ano, que foi até um problema assim pra minha mãe realocar a gente, porque o colégio estava dizendo que a gente não ia conseguir acompanhar, porque eles eram um pouco mais avançados nas matérias e tal. Minha mãe conta que ela penou bastante assim nesse aspecto, que eles queriam me reprovar, reprovar meus irmãos, pegar desde o começo do ano porque a gente não ia conseguir acompanhar a matéria. E realmente foi puxado pra gente no começo, mas a gente estudou bastante em casa e conseguimos acompanhar. Terminei o ano como melhor aluna da sala, ganhando estrelinha e tudo, então deu tudo certo. Mas eu estudei em duas escolas lá: metade da segunda série e terceira série em uma, nesse colégio aí, e depois minha mãe mudou pra outro, porque ela não tava muito satisfeita com esse. Só que o outro acabou sendo um colégio até bem fraco também, que o ensino lá não era tão bom quanto minha mãe esperava que fosse, pelo menos com o que ela tinha de comparação de São Paulo. Ela como professora pelo menos avaliou assim. Eu não posso julgar porque eu era muito pequena, pra mim tava tudo bem (risos). E de novo foi uma mudança mudar de colégio, mudar de amigos, mas pra mim também não foi... Eu não me lembro de ter sido tão puxado assim, tão difícil.
P/1 – E sua mãe, ela chegou a lecionar lá?
R – Sim. Lá ela não lecionou em escola, ela acabou dando aula em faculdade. Ela conseguiu arrumar uma faculdade pra dar aula lá. E também trabalhou como decoradora, porque é professora de Educação Artística e tem formação de designer e tudo, e desenho industrial. Então ela fez uma amizade, encontrou uma amiga que levava muito jeito pra decoração e ela sempre levou muito jeito pra parte do desenho, então ela fazia os desenhos dos projetos e a amiga dela entrava com a parte artística da decoração. E aí elas fizeram uma empresa, abriram uma empresa que fazia isso e deu muito certo. Só que quando a gente voltou pra São Paulo, minha mãe abandonou a carreira de decoradora. Porque elas eram uma dupla muito boa, mas minha mãe não gostava de trabalhar sozinha, porque faltava pra ela a parte artística, e a companheira dela também faltava a parte do desenho, que era a parte da minha mãe, então ela parou com isso. Então ela lecionou em faculdade e trabalhou como decoradora.
P/1 – E aí vocês vão pra...
R – Itapetininga.
P/1 – Itapetininga.
R – Isso. Que aí é perto de Sorocaba, em Itapetininga. A gente morou lá três anos. Aí foi uma das fases mais difíceis pra mim, porque... Eu voltei a estudar na mesma escola que minha mãe dava aula, inclusive tive aula com ela. Primeiro foi na quinta série no outro colégio, depois sexta e sétima série no outro colégio, no Colégio Objetivo lá. Pra mim foi mais difícil assim, porque eu estava entrando na pré-adolescência, aquela idade mais chata, é complicada, briga com os pais o tempo inteiro. Foi a fase que meu pai ficou desempregado um tempo e aí foi muito difícil, porque a gente teve que apertar os cintos em tudo, não tinha mais de onde tirar. Eu fazia natação, fazia balé, fazia inglês, tive que parar com a natação, com o balé, com o inglês, porque não dava pra minha mãe pagar pra mim, para os meus irmãos. Então a gente começou a cortar de tudo, era muito difícil. Como a gente tinha bolsa, porque minha mãe era professora, a gente estudava num colégio muito bom, mas todas as meninas eram mais patricinhas, tinham dinheiro, tal, então elas iam fazer as coisas e eu não tinha dinheiro pra fazer. Elas iam ao cinema, eu não tinha dinheiro pra ir ao cinema, ou então eu ia, mas elas riam da minha roupa, porque minha roupa era velha, não tinha uma roupa legal. Pra uma pré-adolescente, aquela foi a fase que mais assim, sofri. Lembro-me de sofrer muito por causa dessas coisas, de não me encaixar, não ter muitas amizades porque eu não conseguia achar afinidades com aquelas pessoas, que eram muito diferentes de mim, na maioria. E também de ter passado por tudo isso, de ter a revolta com os pais, da adolescência, de ter a revolta com a situação financeira, que não conseguia ter as coisas que todo mundo tinha. Foi assim, a fase mais difícil. Foram por três anos lá em Itapetininga.
P/1 – E você falou que fazia o inglês, a natação e o balé, né?
R – É.
P/1 – Desde quando você começou a fazer natação?
R – Vai bem longe, hein? Eu aprendi a nadar com dois anos e meio. Isso minha mãe que conta. Meu irmão já fazia, ela queria que todos nós aprendêssemos a nadar desde sempre. Então meu irmão mais velho já fazia e ela ia buscá-lo às vezes, e tinha um vidro assim que dava pra ver a piscina. Então minha mãe chegava um pouquinho antes do fim da aula e eu ficava lá olhando no colo dela, tal, bem novinha, dois anos, ficando olhando-o na piscina e batia no vidro, falava: “Eu quero. Eu quero. Eu quero”. Não deu pra ela segurar muito. Com dois anos e meio ela me matriculou e aprendi a nadar com essa idade, fui super bem e nunca parei. Até nas escolinhas todas que eu ia, sempre que tinha uma aulinha de natação eu participava, eu fazia aulinha de natação, e nunca parei, parei mesmo de nadar. Competir foi só mais pra frente, mas aprender a nadar, eu aprendi com dois anos e meio.
P/1 – A gente vai voltar depois na natação. Vocês aí foram pra Jacareí, né?
R – Pra Jacareí. Isso. E aí foi a oitava série que a gente fez em Jacareí. A mesma coisa, minha mãe dava aula no colégio, até tive aula com ela de novo. Foi um ano só, que caí meio de paraquedas, mas mesmo já estando um pouquinho mais velha, eu consegui me adaptar bem. Como eu disse, eu sempre tive essa facilidade de chegar, de fazer amizades. Meus irmãos, coitados, eu fico pensando o quanto eles sofreram, porque eles são bem mais tímidos que eu. Eu cheguei, me adaptei fácil, mas como era uma idade ainda meio difícil, então também tinha toda aquela coisa, as paixões adolescentes, essas coisas meio que a gente passa na adolescência. Foi um ano assim. Briguei com os amigos, depois reatamos, teve a viagem de formatura. A viagem de formatura foi algo também marcante naquele ano, porque a gente achava que não ia conseguir fazer, porque era um pouco caro, mas aí a gente conseguiu parcelar bastante, tal. E como meu irmão mais velho tinha tido formatura de oitava série, minha mãe achou justo que eu também tivesse a formatura da oitava. E aí foi uma viagem pra Caldas Novas, em Goiás, num resort, foi bem legal, foi bem bacana. Foi quando eu dei meu primeiro beijo naquela viagem, que era a última da sala, nunca tinha beijado ninguém, meus amigos me zoavam e tudo mais. Mas aí foi isso. Mal deu tempo de firmar muito por lá, foi só um ano. E aí a gente já... Meu pai novamente trocou de emprego, foi trabalhar em Indaiatuba, foi pra onde a gente foi e onde eles estão até hoje.
P/1 – Mas aí você falou que não chegou a morar em Indaiatuba, morou muito pouco, porque você veio pra São Paulo.
R – Morei dois anos. Morei dois anos. Não foi tão pouco assim, mas não foi tanto quanto eles.
P/1 – Você só começou o ensino médio lá então.
R – É. Fiz o primeiro e o segundo colegial lá. E foi quando eu comecei a nadar mesmo também, então foi uma fase que logo no primeiro colegial, logo que eu cheguei lá, eu arrumei uma equipe e comecei a nadar. E foi isso. Assim, o colegial e a natação eram as principais coisas que eu fazia, as principais coisas da minha vida na época. E depois eu me mudei pra São Paulo, já no terceiro colegial, pra nadar. O Pinheiros me chamou-me pra nadar aqui em São Paulo. E aí eu me mudei pra São Paulo com 16 anos pra fazer o terceiro colegial aqui, mas por causa da natação. E depois faculdade, tudo, e aí a vida seguiu.
P/1 – Mas você competia antes de vir para o Pinheiros, ou não?
R – Sim. Sim. Eu comecei a competir... Assim, eu sempre disputei competiçõezinhas escolares assim, desde sempre, mas não passava disso. Tinha uma competição ou outra no colégio que eu participava, eu disputava. O que aconteceu é que teve uma competição lá em Indaiatuba, na prefeitura, e aí eu resolvi participar, porque eu fazia natação no colégio, no Objetivo. Era uma piscininha pequenininha, de 12 e meio, mas aí eu nadava lá, porque tinha como atividade de Educação Física a natação, e como eu sempre nadei, fui fazer. E aí resolvi disputar competição, fui super bem, ganhei minhas provas. E uma academia da cidade que tinha uma equipe razoável, uma equipe mais fortezinha assim, me chamou pra treinar com eles, visando os jogos regionais, que pra cidade é muito importante e tudo mais. Então eles: “Ah, treina aqui com a gente um tempo, eu acho que você vai bem e tal”. E aí comecei a treinar na academia. E aí fui disputar outras competições, fui ganhando, melhorando pra caramba assim, muito rápido, porque foi só uma questão de ter um treino um pouquinho mais acertado, todo dia, numa equipe, melhorei muito o tempo. E comecei a competir, competir, competir, até que chegou o ano de 2002, que foi o meu segundo ano em Indaiatuba, no segundo colegial, que eu fui prata no Troféu Gustavo Borges, que é aquele que tem na foto. Aí peguei essa medalha de prata no Troféu Gustavo Borges. Foi um resultado muito bom, porque era um campeonato conceituado, era um campeonato difícil, um campeonato forte. E pouco depois também tinha o Projeto Nadar, que era outro campeonato pra natação amadora, que era bastante importante. E aí eu disputei e peguei também a medalha de prata, fiz um tempo bom, tal. Fui a única finalista da minha academia e já vinha me destacando bastante nessa academia que eu treinava. E ia bem nas competições, nos jogos regionais, tudo, e aí acabei... Meu técnico fez um ponte com o pessoal do Pinheiros, falou: “Olha, tem essa atleta, ela é boa, tal, conseguiu tais e tais resultados”. E aí me chamaram pra conhecer. Fui pra lá no meio de 2002. Não cheguei a me mudar pra São Paulo, primeiro. Fiz esquema de assim, ser nadadora do Pinheiros treinando na minha cidade. Foi quando eu conquistei o Campeonato Paulista, que o foi o primeiro Campeonato Paulista que eu conquistei, foi algo assim, incrível pra mim, porque eu tinha o pior tempo, eu cheguei, fui balizada com o pior tempo, com o oitavo tempo, nadei na raia da ponta, que são os mais fracos, e ganhei a prova. Fiz um tempo, baixei sete segundos do meu tempo, que é um negócio acreditável. Baixei sete segundos do tempo que eu tinha e ganhei a prova. Tanto que assim, terminei, bati na porta e olhei para o placar, e fiquei assim: “Está errado. Como assim? Eu não fiz esse tempo. Esse tempo é muito forte”. E eu não acredite. Eu saí da piscina assim, olhando, olhando. Eu saí da piscina sem comemorar e sem acreditar no que tinha acontecido. E na arquibancada minha mãe gritava, meu técnico gritava, meus colegas gritavam: “Ela não está acreditando. Ela não está acreditando”. E eu realmente não tava acreditando. Eu olhava, falava: “Eu não fiz esse tempo. Não é possível”. E eu tinha feito. Ganhei meu primeiro Campeonato Paulista e foi bastante marcante. Depois disso, o Pinheiros falou: “Você vai ter que treinar aqui com a gente em São Paulo e tal”. E em janeiro de 2003 eu não tive escapatória, tive que me mudar pra São Paulo. E não tinha como minha família vir comigo, nem nada, então eu vim sozinha, aos 16 anos, encarar a selva de pedra (risos).
P/1 – Mas você veio morar com alguma das suas avós?
R – Não. Minha avó morava aqui... Minha avó materna meio que se mudou com a gente também, porque meu avô faleceu em 97, quando eu tava em Itapetininga, e desde então minha avó materna foi como um tiracolo com a gente pra onde a gente ia, porque minha mãe meio que cuidava dela, tal. Não que ela precisasse de cuidado, mas... Ela tem Alzheimer hoje, assim, bastante avançado e já começava a se apresentar naquela época. Então ela começava ficar um pouco esquecida, não sei o quê lá. Pra minha mãe não deixá-la sozinha morando em São Paulo, meus tios também, minha mãe tem dois irmãos, meus tios vão morar em Goiânia, outro no Paraná, então assim, tinha que ficar meio com a gente mesmo. E aí minha avó sempre fez essas mudanças todas com a gente. Ela tem a casa dela, não mora com os meus pais, mas ela sempre mudou junto. Então, enfim, quando eu mudei pra São Paulo só tinha uma avó morando aqui, mas não tinha espaço na casa dela. Meu irmão mais velho já tava morando em São Paulo pra fazer a faculdade, ele já tinha se mudado... Depois de Jacareí, meu irmão já veio direto pra São Paulo fazer a faculdade. Então não tinha espaço na casa dela e eu fui morar numa república do próprio Pinheiros, de nadadoras, eu e mais cinco nadadoras. Aí a gente se mudou lá na Avenida Nove de Julho, que era onde a gente morava.
P/1 – E como era morar com essas meninas todas, você que sempre morou com os pais e tudo?
R – Foi bem complicado, porque tinham duas meninas da minha idade, exatamente da mesma idade, da mesma categoria que eu, nasceram no mesmo ano, e tinham mais três meninas mais veteranas. Essas duas meninas chegaram junto comigo, nós três éramos as novatas nessa república e as outras três eram mais velhas. Uma, inclusive, tinha 31 anos, era bem mais velha, a outra tinha 24 e a outra 18. Então era bastante diferença entre as pessoas. E elas já tinham todo o esquema, toda a organização de como funcionava, de como era a república. E a gente caiu meio assim tentando descobrir como era. Todas sempre tiveram uma boa estrutura familiar, então não estavam acostumadas a se virar. Eu era bicho do mato total, porque sempre morei em interior, minha mãe sempre me levou pra cima e pra baixo, nunca precisei pegar... Praticamente nunca precisei pegar um ônibus, até porque transporte público em cidade do interior é muito fraco. Então minha mãe me levava pra cima e pra baixo, tudo que eu precisava. Eu tinha um pouco de timidez, um pouco de vergonha pra algumas coisas, então, sei lá, não tinha coragem de pedir uma pizza por telefone porque eu tinha vergonha. E aí eu me mudei pra São Paulo e eu tinha que aprender a me virar numa cidade desse tamanho. E assim que eu cheguei à cidade, meu irmão que já morava aqui me ensinou a fazer o caminho de ônibus. Que antes de eu me mudar pra república, eu fiquei uns dias só na casa da minha avó. E ele me ensinou a fazer o caminho de ônibus da casa da minha avó até o Pinheiros, pra treinar, e voltar. Só que eu não aprendi direito. Não é que eu não aprendi direito, ele me falou assim: “Ah, você pode pegar o ônibus Hospital das Clínicas pra voltar”. Eu falei: “Tá bom”. Só que tem mais de um ônibus Hospital das Clínicas e eu jamais ia imaginar que eles iam por caminhos diferentes. Então eu peguei o ônibus, não chegava, não chegava, não chegava onde eu tinha que ir, aí eu virei para o cobrador, falei: “Esse ônibus não vai pra tal lugar, não?” “Não vai”. Eu falei: “Ai meu Deus, deixe-me descer aqui”. Desci. Falei: “Ah, aqui sai o ônibus tal?” – porque eu tinha que pegar dois – “Aqui sai o ônibus Pedra Branca?”. O motorista falou assim: “Ah, tem um Pedra Branca que sai dali, da praça”. Eu falei: “Tá bom”. Eu não sabia que tinha mais de um Pedra Branca e nem sabia onde ficava Pedra Branca. Então eu entrei no ônibus e fui, fui, fui, fui, mas assim, uns 40 minutos, uma hora, e não chegava, não chegava. E eu tinha vergonha de virar para o cobrador e falar: “Moço, esse ônibus não vai pra tal lugar?”. Morria de vergonha. Então fiquei esperando, esperando. Tava com um celular emprestado da minha avó e tocava, e minha avó: “Cadê você?”. Eu falei: “Já estou chegando. Peguei ônibus errado, mas agora já estou no ônibus certo”. Minha mãe me ligando, eu: “Não, já está tudo certo agora”. E não chegava. Eu comecei a olhar, falei: “Acho que eu estou na periferia de São Paulo”. Virei para o cobrador e perguntei: “Esse ônibus não vai pra Cardoso de Almeida?”. Ele falou: “Não”. Tipo, “nem sei onde fica a Cardoso de Almeida”. Eu falei: “Ah, danou-se”. E, bom, então me deixe descer no próximo ponto, que eu pego um táxi e acabo com isso. Assim, minha mãe tinha me dado um dinheirinho extra, caso acontecesse alguma coisa, eu falei: “É a hora. Eu estou perdida em São Paulo, eu não vou saber voltar, deixa quieto”. Desci, fui pegar um táxi que eu achei na rua assim, virei para o motorista, falei: “Moço, eu preciso ir pra Perdizes, na Cardoso de Almeida, tal, você pode me levar?”. Ele olhou, falou: “Não, pra esses lados eu não vou, não, é muito longe”. Eu sentei na calçada e comecei a chorar, chorar, chorar, falei: “Não acredito, eu não sei onde eu estou, eu estou perdida, o taxista não quer me levar porque disse que é muito longe. Meu Deus do céu”. E aí sentei na frente de uma padaria assim, chorando, chorando, aí passou um taxista de linha assim, que eu via escrito o nome do ponto dele. De linha não, de ponto, escrito o nome, tal, tal, tal. Eu falei: “Ah, de repente esse que não é taxista de bairro pode ir”. Eu acenei assim pra ele, ele parou, encostou, eu falei: “Moço, por favor, pelo amor de Deus, me leva pra Perdizes. Você pode me levar pra Perdizes?”. Ele falou assim: “Nossa, como você veio parar aqui? Você está indo pra Perdizes?”. Eu falei: “Pois é, eu peguei ônibus errado, me perdi”. Ele falou: “Não, não, meu ponto é pra aquela região e tal, pode subir aí que eu te levo. Mas, olha, você deu sorte, viu, porque você está longe”. Eu falei: “Eu não acredito nisso”. O táxi deu uma fortuna, todo o dinheiro que eu tinha pra semana. E consegui chegar a casa, mas assim, no desespero. Eu não lembro até hoje direito onde eu fui parar. Eu não sei, eu não conheço. Mas eu lembro que eu falei por telefone com a minha tia, que morava com a minha, no caminho, ela: “Onde você está, só pra gente saber?”. Eu virei, perguntei para o motorista: “Onde a gente está?”. Ele falou, eu não lembro onde era, eu só sei que eu falei pra ela, ela: “Nossa, você ainda está longe demais”. Isso porque eu já estava na metade do caminho. Então, enfim, por causa de ser tímida e tal, eu no começo penei bastante, inclusive pra morar com as meninas. A gente teve que se adaptar, a gente dividia quartos, eram três quartos, pra duas meninas em cada quarto. E elas já tinham muitas regras, elas tinham muitas coisas que eu tinha que me adaptar. E tinha vivido a vida inteira com a minha família, com os meus pais, e de repente tinha que morar com um monte de gente estranha. Tivemos algumas brigas por questão de telefone, era uma época... Isso foi em 2003, era uma época que nem todo mundo tinha celular, então o telefone fixo da casa era meio que todo mundo usava e chegava de noite, todo mundo falava no telefone, então já tinham brigas porque: “Ai, você está muito tempo no telefone, não sei o quê lá. Ah, porque você está comendo muito do queijo, não sei o quê lá, você não lavou a louça”. Tinha muito dessas pequenas briguinhas, pequenas picuinhas. E no final do ano, todo mundo decidiu que ia dar, daí a gente acabou se separando. E no final de 2003 eu acabei... Em 2004 eu acabei me mudando pra um apartamento com o meu irmão, que ele saiu da casa da minha avó, a gente se juntou, fomos pra um apartamento ali na Rua Iguatemi, perto da Faria Lima, que era perto do Pinheiros assim.
P/1 – Perto do Pinheiros.
R – Foi... Não é que foi uma experiência muito ruim, nem traumática, morar com elas, mas não deu certo. Não foi horrível, mas não fluiu e a gente resolveu se mudar. Aí eu acabei morando com o meu irmão.
P/1 – E você era patrocinada pelo Pinheiros? Quer dizer, eles te davam alguma ajuda de custo, alguma coisa?
R – Não. Não. A única coisa que eles me davam, como eu era militante do clube, eu tinha um cartão que eu tinha acesso ao refeitório gratuitamente. Porque tinha um refeitório que funcionário pagava por cada refeição, descontava do salário, tal. E eu tinha refeião gratuita as duas vezes por dia, almoço e janta. Só que nem sempre eu comia lá, nem sempre dava e nem sempre eu queria, porque era uma comida de refeitório, era bastante pesada, era aquela comida que engorda muito. Eu não me sentia bem comendo lá, então nem sempre eu comia. E eles nunca me pagaram salário porque eu cheguei novinha, como uma aposta, tal. Minha mãe até chegou a pedir pra eles, porque era apertado pra me sustentar em São Paulo. Em Indaiatuba, eu tinha bolsa na escola, lá eu tinha que pegar. E colégio ainda em São Paulo era bem mais caro. E eles não puderam me dar nenhuma bolsa. Porque eles tinham algumas bolsas destinadas pra alguns atletas em colégio, eles tinham acordos, e aí já estava preenchidas por outros atletas, que estavam há mais tempo, eram melhores do que eu e também não podia pagar salário. Então não me davam nenhuma ajuda de custo. A gente chorou bastante, mas no final não conseguimos nada deles.
P/1 – Então, quer dizer, seus pais te mantinham aqui em São Paulo, porque você não tinha como trabalhar.
R – É. Minha mãe arrumou um patrociniozinho assim, a empresa de um primo dela que fazia assim alguns trabalhos pra imagem da empresa assim, eles: “Ah, a gente patrocina”. Eles davam uns 300 reais por mês, que ajudava bastante já, pra mim. E o máximo que eu fazia era tirar umas fotos com a camiseta deles com as medalhas quando eu ganhava nas competições, mandava, eles punham no site. Pra eles, aquilo lá bastava, não era um patrocínio que exigia muita coisa, não. Não era um grande patrocínio, mas aí foi uma forma de dar uma ajuda de custo pra morar lá. Mas o Pinheiros assim, tirando a refeição, o refeitório, nunca me pagou nada, eram meus pais que me bancavam.
P/1 – E você tava fazendo cursinho? Como era?
R – Eu fiz o terceiro colegial.
P/1 – Terceiro colegial.
R – Eu fiz o terceiro colegial durante 2003, muito mal feito, digamos assim, porque era viagem pra competição direto, meu foco era natação realmente. Até chegava a casa à noite, tentava estudar, estudava um pouco. Estudei um pouquinho, mas não foi um terceiro colegial padrão, igual a todo mundo que quer passar no vestibular. Eu não fiz um simulado o terceiro colegial inteiro, não era o meu foco. E assim, passei de ano, passei bem, não passei com nenhuma nota vermelha, nada, não reprovei em nenhuma matéria. Eu era uma boa aluna, uma aluna de sete, oito, mediana assim, mas passei. Mas não estudei nada para vestibular. Ainda assim, me cobrei o suficiente pra querer passar na USP, alguma coisa assim, o que acabou não acontecendo no final do ano. Mas, enfim, é isso.
P/1 – Você estudava no Objetivo?
R – É. No Objetivo de Pinheiros.
P/1 – E aí você tentou vestibular pra quê, final do ano?
R – Pra Jornalismo. Numa grande dúvida, porque eu não sabia se era o que eu queria. E minha mãe me deu umas incentivadas. Na verdade, ela falou assim pra mim: “Você mostrou que tem uma veia pra ser jornalista no Troféu Gustavo Borges”. Que é aquele que eu ganhei medalha de prata. Porque o Gustavo Borges premiava todos os pódios na final, não em todas as etapas, porque você passava por algumas etapas pra classificar pra essa final. E ele premiava e tal. E aí tava tendo primeiro das criancinhas, era por ordem de idade, a competição ia acontecendo, e aí eu peguei... Era fechada a piscina para a plateia, só podia entrar quem ia nadar e tal. E aí eu achei um buraco na grade, passei nesse buraco com a câmera na mão e fui até ao pódio acompanhando os pais que iam tirar foto dos filhos que ganharam medalha, tal. E acompanhei só pra ficar do lado do Gustavo e fazer uma foto dele. Fiz duas fotos dele, peguei, pum, voltei pelo mesmo buraquinho. Minha mãe falou: “Ali, pra mim, você mostrou que vai ser uma boa jornalista, porque você vai atrás das coisas, você fuça, você vai atrás da notícia, se enfia dentro de uma grade pra conseguir uma foto”. E eu não sabia o que eu queria. Eu pensava em algo como Educação Física, por causa da natação, do esporte. Mas eu não conseguia pensar em estudar Anatomia, nada assim. Nada de ciências nunca me agradou, então Educação Física não era uma boa ideia. E aí eu comecei a pensar, sempre escrevi bem, sempre ia bem em redação, Português, nas matérias de humanas, eu falei: “Ah, vou arriscar Jornalismo”. Mas eu não conseguia imaginar o que um jornalista fazia. Pra mim, jornalista era William Bonner e a Fátima Bernardes. Eu não conseguia entender como era a profissão. Mas acabei prestando Jornalismo. Prestei Jornalismo na USP, não passei, e passei na PUC. Passei a que era, na época, a terceira melhor faculdade do curso, eram: USP, Cásper Líbero e PUC. E eu falava pra minha mãe, eu sempre fui competitiva e sempre tive muito isso de “eu quero estar no melhor”. Então assim, o Pinheiros era o melhor clube do país na época e eu não conseguia pensar em nadar em outro lugar que não fosse o Pinheiros, porque eu já nadei no Pinheiros, já nadei no melhor, pra que eu vou pra outro lugar pior. E eu pensava igual com relação à faculdade, eu falei: “Mãe, eu não vou fazer PUC. A PUC é terceira melhor. Eu vou fazer USP. Não, nem que eu tenha que fazer cursinho, eu vou fazer a melhor faculdade”. E aí ela tentou me convencer: “Mayra, seu foco é a natação, você não estudou nada pra vestibular esse ano inteiro, como você...”. Sabe? Falou, falou, falou, eu fiquei meio assim, me sentindo meio burrinha, falei: “Nossa, porque eu nem passei na USP, não sei o quê lá”. Porque eu me cobro demais, então eu queria ter passado. E não passei de longe ainda. Mas aí passei na PUC, minha mãe falou: “Olha, a gente faz a matrícula, você vai no começo, tal. Se você não gostar, aí você larga, faz um cursinho, a gente vê o que vai fazer. Mas começa, vamos lá, vamos tentar”. Eu falei: “Está bom”. E aí fiz, comecei a PUC em 2004, continuei com a natação e com a faculdade, e acabei me formando na PUC. Tranquei por um tempo, mas acabei me formando na PUC depois. E acabei fazendo USP depois também, porque eu fiz História. Então eu uni o útil ao agradável e saí feliz na história.
P/1 – E como você conciliava a faculdade com os seus campeonatos e tudo?
R – Essa era a parte mais complicada, porque a faculdade exigia um pouco mais do que a escola exigia, ou pelo menos deveria exigir. E era principalmente complicado por causa de trabalho em grupo. Minha amiga... Eu tinha uma grande amiga, se tornou uma grande amiga, é minha amiga até hoje, mas na época a gente fazia trabalhos em grupo e ela virava: “Ah, vamos marcar à tarde pra gente se reunir, pra fazer o trabalho, tal”. Eu falava: “À tarde eu não posso, que eu tenho treino” “Ah, mas que horário você pode?”. Eu falei: “Olha, entre tal e tal horário ou só depois de tal horário”. Mas assim, praticamente não conseguia, porque eu chegava ao Pinheiros duas, três da tarde, e saía às sete da noite, porque tinha musculação, tinha o treino, tinha um monte de coisa, então eu tinha o dia muito comprometido, e estudava de manhã. E minhas amigas achavam ruim, porque eu não conseguia matar treino. Não dava pra matar treino, eu era uma atleta profissional, era de competição nível brasileiro, tal, não dava pra matar treino por causa de trabalho de faculdade. E as pessoas não entendiam. E eu tinha bastante essa dificuldade, tinha que ficar achando dia, domingo, tal, pra conseguir fazer os trabalhos e era bem complicado. Mas no começo, até que eu levei bem assim, acho até que eu levei bem. Só que o ano de 2004, pra mim, foi o ano que eu parei de nadar profissional, porque eu tava já um pouco frustrada com a natação, eu tive uma lesão séria, uma lesão complicada, tal. Então acabou que foi uma conjunção de fatores assim, que foi um ano muito difícil e que acabou culminando de eu parar de nadar no final do ano. Então no fim foi só um ano que eu tive conciliar com a natação.
P/1 – Então você parou com a carreira de nadadora?
R – É, saí do Pinheiros e parei de nadar por uns meses. Eu nado até hoje assim. Eu nunca parei de nadar de verdade. Eu sempre falo que eu parei de nadar, em 2004 eu parei de nadar, parei de nadar profissional, deixei de ser federada.
P/1 – Profissionalmente.
R – Eu passei a brincar de competir uma competição amadora, outra. E faço isso até hoje. Até hoje assim, voltei a treinar de verdade há alguns meses e participo de competições máster, categoria máster, que é de 25 anos pra cima e... De 20 anos pra cima. E participo dessas competições assim. E não são federadas, não valem nada, eu nunca vou pra uma Olimpíada, nem nada, mas são competições que eu gosto de disputar. Então eu nunca parei de verdade, mas que eu parei no profissional foi no final de 2004, que eu tive uma lesão muito séria no ombro, tive que acabar operando depois, uma lesão que não melhorou, não melhorou, eu tratei, tava desmotivada, tava meio depressiva, não tava feliz com o treino, não tava feliz no Pinheiros. E aí tava bem na faculdade, eu falei: “Ah, não quero mais essa vida, eu vou focar na faculdade, vou focar nos estudos e é isso que eu vou fazer da minha vida”. E acabou sendo... O meu final de 2004 foi assim.
P/1 – E depois que você parou de nadar, que aí você teve mais tempo, você ficou só focada no curso ou você começou a trabalhar, fazer outras coisas?
R – Não, eu não consigo parar quieta, então eu prestei vestibular. Prestei vestibular e fui fazer faculdade de História, então eu fiquei fazendo duas faculdades. E eu não consigo ter tempo livre, não adianta. Minha mãe sempre fala que eu arrumo sarna pra me coçar. Então eu prestei faculdade de História e come...
P/1 – Por que você foi escolher História?
R – Porque eu sempre fui apaixonada por História no colégio. E tive um professor na PUC que disse uma vez: “Hoje em dia está muito concorrido, tem muito jornalista, muitas faculdades, muita gente, e você precisa se destacar pra alguma coisa. Eu acho que pra quem se interessa, pra quem gosta, fazer uma segunda faculdade é muito bom pra te dar um embasamento, Ciências Sociais, História, pra quem gosta dessas coisas”. Ele falou aquilo, me deu um click. Eu falei: “Putz, eu adoro História, seria um baita acréscimo para o meu currículo fazer faculdade de História”. E como eu já tava parando de nadar, foi justamente no final do ano que tinha o vestibular e tudo, eu falei: “Ah, vou fazer. Vou prestar. Quem sabe?”. Aí eu passei em História, me apaixonei pela faculdade, fui fazendo, enfim, continuei fazendo as duas juntas. Então por um bom tempo eu fiz as duas faculdades juntas.
P/1 – E como você conciliava as duas?
R – Era difícil, mas eu fazia a PUC de manhã, a USP à tarde, e de noite estudava, estudava, estudava. Era mais ou menos isso que eu fazia, na época que eu morava na casa da minha avó. Eu morei com o meu irmão em 2004, nesse apartamento, depois eu fui morar na casa da minha avó, porque financeiramente eu não tinha condição. Meu irmão foi morar com o meu avô e eu fui morar com a minha avó. E a PUC era do lado da casa da minha avó, então era fácil, eram quatro quarteirões. Eu acordava, ia pra faculdade, tal, tinha carona pra ir pra USP com essa mesma amiga que reclamava que eu não tinha tempo para os trabalhos de faculdade, ela também passou em História na USP, então a gente fazia as duas juntas. E aí chegava de noite, voltava pra casa. Só que eu fiz um semestre só disso, dessa loucura de fazer as duas faculdades. Era muita coisa e eu tava um pouco desanimada com o Jornalismo. O Jornalismo me decepcionou um pouquinho, era jovem, idealista, tinha 17, 18 anos, achava que não queria trabalhar numa empresa que eu não pudesse escrever sobre o que eu quisesse porque tivesse rabo preso com algum patrocinador, alguma coisa, que não sei o quê lá. Tava meio numa fase rebeldia, tava adorando a faculdade de História, eu falei: “Eu vou trancar, porque é paga e muito bem paga. Se eu não tenho certeza se é isso que eu quero, vamos dar um tempo. A USP pelo menos é uma faculdade que eu vou conseguir levar, que é uma faculdade gratuita”. Aí tranquei a PUC por um tempo, por três anos, na verdade, e toquei a faculdade de História. E muita coisa aconteceu, três anos arrumei meu primeiro namorado, ele era da faculdade, durou do primeiro ao último ano de faculdade a gente namorou. E aí passei assim, só fazer faculdade de História. Só que quando chegou ao quarto ano, eu parei e falei: “Bom, eu vou ser historiadora mesmo? É isso que eu vou fazer? Vou trabalhar com quê?”. Eu já fazia estágio. Minha tia, historiadora, tinha uma empresa. Principalmente trabalhava com arquivo assim. E eu trabalhei, tal, com história, não senti firmeza se era aquilo que eu queria mesmo, e aí resolvi voltar pra faculdade de Jornalismo. Fui um pouco indecisa, mas, enfim. Voltei pra faculdade de Jornalismo e meus pais aceitaram, tal, disseram que dava pra pagar, tal. E no meu último ano de História, eu voltei para o Jornalismo e concluí. Então assim, eu concluí História e dois anos depois eu concluí a faculdade de Jornalismo. E foi isso. Novamente eu fiz as duas juntas por um semestre, mas ainda acabou sendo que no total eu só fiz um ano de duas faculdades juntas e ainda trabalhando, mas deu pra conciliar, eu consegui.
P/1 – Você tava falando que começou a trabalhar com a sua tia, mas e depois? Você viu que não era...
R – História.
P/1 – O que você queria, História, mas no jornalismo, qual o seu primeiro trabalho como jornalista?
R – Então, assim que eu decidi voltar... Eu decidi voltar no segundo semestre também. Eu fiz um semestre, parei, então eu tranquei no meio do ano. E quando eu voltei, eu retomei do meio do ano também pra frente. E aí assim que eu resolvi voltar, eu já fui atrás de estágio. Eu fiz uns dois estágios bem mais ou menos assim, e curtos também, em Jornalismo. O primeiro estágio que eu considero mesmo foi no final desse ano, que eu resolvi voltar, que foi a primeira vez que eu caí no esporte. Porque quando eu fiz faculdade de Jornalismo, eu não queria trabalhar com esporte, porque eu achava que era só futebol, só futebol, só futebol. E por mais que eu adorasse futebol, eu não queria que fosse só isso. Eu, como nadadora, achava um absurdo que só se falasse de futebol, e tinha um pouquinho desse pensamento. Então eu não queria trabalhar com esporte. Eu falei: “Não, eu quero trabalhar com política, quero trabalhar com política internacional, quero ser correspondente internacional no Oriente Médio, quero trabalhar na Folha”. Tinha esse pensamento e nunca pensei em trabalhar em esporte. Só que aí eu estou nesse final de ano procurando emprego e fazendo dinâmica de grupo na Abril, e não sei mais onde, e na Veja, na Editora Globo, um monte de lugar, fiz um monte de seletiva, de estágio, tal, e um dos lugares que eu fiz foi uma... Nem lembro até como essa vaga apareceu pra mim. E eu me inscrevi, tal, era um site que falava de futebol internacional, chama trivela.com. E tinha a revista também, Revista Trivela, na época. Fui fazer entrevista, tudo. Aí eu estou no final do ano na praia com meus pais, não tinha saído nada ainda nesse final de ano, ia começar o ano sem trabalhar, tal, e aí recebi uma ligação quando eu tava na praia falando: “Ah, aqui é da Trivela, tal. A gente tinha contratado uma menina, mas ela não vai mais poder trabalhar com a gente, tal. E a gente queria saber se você topa começar cinco de janeiro com a gente, tal, tal, tal”. Eu falei: “Topo”. Nossa, vou, lógico, estou precisando de emprego. E aí comecei e me apaixonei assim, instantaneamente. Instantaneamente. Porque era muito mais legal do que eu imaginava. Trabalhar com esporte, trabalhar com futebol foi um estágio assim, que é um assunto sério... É uma coisa séria de um assunto que não é tão séria assim, de um assunto que é paixão. É muito diferente você falar de política, de economia. Então era risada o dia inteiro na redação, era um clima muito ameno, o trabalho era tudo gostoso, gostava do que eu fazia. Aprendi demais, porque não bastava falar de futebol internacional de Milan e Bayern de Munique, Barcelona, Real Madrid, era falar do time da Escócia, era falar do time da Romênia, eram umas coisas assim. Então eu me apaixonei e foi assim o meu primeiro trabalho, que eu comecei em 2008. Janeiro de 2009 que foi o primeiro estágio em jornalismo que eu fiz. E desde então foi uma sequência de trabalhos só na área esportiva, onde eu acabei entrando e não pretendo sair.
P/1 – Mas então vamos falar um pouco sobre esse trabalho na imprensa esportiva.
R – Vamos lá.
P/1 – Qual foi a primeira... O próximo... Você ficou lá só como estagiária ou você chegou a ser contratada?
R – Estagiária. Como estagiária por um ano e aí... Eu entrei no meu terceiro ano, o que seria o meu terceiro ano. Meu currículo era todo bagunçado porque eu tranquei e aí tinha mudado muita coisa, mas em teoria era meu terceiro ano de Jornalismo. Então eu fiz um ano de estágio lá. E por eles, continuaria mais um ano. Só que assim, eu tinha me inscrito no ano anterior numa seletiva da Globo, da globo.com, pra trabalhar, tinha até passado pra etapa final, antes de eu fazer esse estágio, tinha passado pra etapa final, tinham eu e mais dois candidatos, e acabaram escolhendo outra menina. E passou. Fui trabalhar na Trivela, depois tava tudo bem. Meu currículo ficou cadastrado no sistema da Globo e aí eles me chamaram no ano seguinte falando: “Seu currículo foi selecionado, não sei o quê lá. Você quer participar das outras etapas?”. Eu falei: “Ah, está bom. To bem, mas está bom”. Fiz prova online, não sei o quê lá. Aí, pum, fui aprovada, me chamaram pra dinâmica. Falei: “Vou à dinâmica, por que não?”. Fui à dinâmica. Passou pra próxima dinâmica, fui de novo. Passou pra entrevista final com o gestor, aí fui pra entrevista final com o gestor. Mas assim, supertranquila, porque eu falei: “Olha, estou empregada, estou bem, não pretendo sair, mas vamos fazer, é a Globo, né?”. Deu que eu passei. Passei. Chegou ao estágio final, dezembro, chegou a informação que eu tinha passado. Eu fiquei: “Meu Deus...”. Eu não fazia ideia assim, sabe? Nem me inscrevi, porque meu currículo tava desde o ano passado, acabaram me chamando e eu fui fazendo, nem procurei. Meio que caiu no colo assim. Eu fiquei: “Putz, será que eu saio ou não saio?”. Porque eu realmente adorava o lugar, as pessoas, o que eu fazia, só que era pra trabalhar no globoesporte.com, na globo.com, dentro da TV Globo, uma coisa grande. Fiquei meio na dúvida, conversei com algumas pessoas, conversei com meu chefe, ele entendeu, e aí resolvi que ia fazer estágio lá. Em janeiro de 2010 eu fui trabalhar na Globo, que era no site que eu trabalhava, mas a redação fica dentro da TV Globo, então era todas organizações Globo e tal. E aí foi onde eu aprendi muito mais ainda, que não era mais futebol internacional, era muito mais futebol nacional, mas aí eu fazia trabalho de rua. Eu ia pra rua, eu ia para os treinos, eu entrevistava jogador, eu ia pra outras pautas de esportes olímpicos, às vezes de basquete, tinha um vôlei, tinha alguma coisa, eu ia fazer. Ficava muito presa dentro da reação também, mas também fazia muita coisa na rua, que era algo muito legal, que no outro estágio eu não conseguia, porque por ser futebol internacional não tinha como fazer, não tinha meio. E aí acabou fazendo um ano que eu aprendi demais. Aprendi demais. E eles tentam, a Globo sempre tenta segurar estagiário, eles tentam reaproveitar, porque no pensamento da empresa não adianta você formar alguém, ensinar tudo e depois dar de graça para o seu concorrente. Então eles sempre tentam absorver todos os estagiários que passam. Tentaram uma vaga pra eu ficar pelo menos cobrindo férias, porque as vagas não abriam do nada. Pra eu cobrir férias por um tempo, tal. Por questão de a PUC não liberar meu currículo, não tinha no sistema que eu tinha me formado, enfim, por questão de RH assim, de não ter constado que eu tinha me formado, eu não consegui ficar. Mas por coincidência, alguns dias depois me procuraram da Rádio CBN, que é onde eu trabalho até hoje, na equipe de esportes, porque meu chefe já me conhecia por cima, conhecia meu trabalho, e ligou para o meu chefe na Globo e falou assim: “Olha, a estagiária de vocês, vocês vão usar, tal? Vale a pena? Posso contratar? O que vocês acham?”. Meu chefe falou: “Leva. Leva, que eu estou sem espaço aqui e ela é muito boa, tal. Leva com os olhos fechados”. Aí fui contratada na CBN, estou até hoje, vou completar três anos agora em janeiro. Então minha carreira no jornalismo esportivo é essa: foi um ano de Trivela, um ano no globoesporte.com e três anos na Rádio CBN.
P/1 – Fala um pouco sobre as entrevistas que você realizou desses jogadores. Conta alguma assim que tenha te marcado.
R – Algumas coisas que foram mais marcantes pra mim foi a primeira vez que eu entrevistei o Ronaldo, o fenômeno. Não foi assim, uma entrevista exclusiva, não foi nada de especial, foi uma saída de campo na época que ele jogava no Corinthians, eu já como repórter da rádio, e ele estava saindo e eu assim, tudo que eu fiz foi enfiar o meu microfone lá também. Mas pra mim aquilo já foi uma grande coisa, eu falei: “É o Ronaldo Fenômeno, é o cara que conquistou tudo que ele conquistou, tem história na seleção, no Corinthians, na Europa. É o Ronaldo, o Ronaldo Fenômeno”. Foi assim, só de eu ter colocado o microfone ali, ouvi-lo, nem consegui fazer pergunta, porque tinham 20 repórteres em volta e câmeras, mas só de ter entrevistado o Ronaldo foi uma grande coisa. Um jogador que me fez perder o fôlego um minuto quando eu vi a pela primeira vez pessoalmente foi o Ronaldinho Gaúcho também, que foi também... Como repórter de rádio, a gente fica no gramado entrevistando jogadores. Então o Ronaldinho Gaúcho foi um impacto. Porque eu já tava acostumada a ver sempre jogador, nunca tive esse deslumbre de olhar e falar: “Nossa, olha fulano, fulano, ciclano”. Mas alguns jogadores é uma coisa inevitável. Eu tava no banco, do lado do banco do Flamengo, na época que ele jogava no Flamengo, e ele chegou pra beber uma água, pra pegar alguma coisa, eu sei que ele tava no gramado e ele veio até ao banco bem assim na minha frente, aí eu: “Uau! É o Ronaldinho Gaúcho. O Ronaldinho Gaúcho está aqui na minha frente”. Foi um momento assim de impacto. Foram poucas as pessoas com quem eu tive esse tipo de reação. Uma entrevista muito legal que eu gostei de fazer, e aí não foi no futebol, foi do César Cielo. Porque eu nadei com o Cielo quando ele era novinho. Eu fui para o Pinheiros, no mesmo ano que eu fui para o Pinheiros, me mudei pra São Paulo aos 16 anos, ele aos 16 anos se mudou pra São Paulo também. Ele veio de Santa Bárbara do Oeste, do interior também, era nadador do interior que nem eu. E ele veio se mudar pra São Paulo na mesma época, ainda totalmente desconhecido e tudo. E eu nadei certo período com ele, conheci um pouco dele antes de ele virar o que ele hoje. E aí quando uns anos depois a gente foi se encontrar junto com a equipe da ESPN... Foi assim, foi um freela que fui fazer, não trabalhava na ESPN, mas foi um freela que eu fui fazer na época que eu tava na Trivela pra matéria de capa, que foi o César Cielo da Revista ESPN. Como eu já era nadadora, tal, eles me chamaram pra ajudar. Então fomos eu e outro jornalista pra essa entrevista. E aí foi um reencontro assim, que eu olhei, ele se lembrou de mim, então pra mim aquilo foi muito gratificante, que eu falei: “Pô, o cara é campeão olímpico, tudo mais, é tudo que ele. E ele podia muito bem nem olhar pra minha cara. E ele me tratou super bem, se lembrou do meu nome, perguntou: ‘E aí, Mayra, tudo bem?’”. Eu falei: “Poxa, o César Cielo se lembra de mim, cara, que bacana”. E aí a gente fez a tal entrevista com ele, foi algo que me marcou também bastante, porque por eu conhecê-lo, por conhecer de natação, eu me senti super à vontade pra perguntar, pra conversar. Era um perfil sobre ele a matéria, então foi bem bacana. Deixe-me ver... O Zico também. Quando eu falei com o Zico foi muito legal. Eu não sei se o Lucas separou a foto, mas eu trouxe uma foto que eu estou abraçada com o Zico também. Ele foi à Globo participar de algum programa e aí a Globo tinha esse benefício: como tinham muitos convidados que vinham participar de programas etc., o pessoal do site aproveitava e fazia uma entrevista pra gente publicar no site também. E aí eu fui quando eu o Zico foi lá, eu fui falar com ele e foi uma coisa: “Putz, é o Zico, né?”. Eu não sou flamenguista, mas é o Zico, é um baita cara, é um cara muito importante, então... Tiveram muitas, muitas entrevistas legais assim. Mas assim, pra falar as mais marcantes, foram essas. O Phelps esteve recentemente aqui no Brasil num evento e também assim... Recentemente assim, um mês atrás, algumas semanas atrás. E de estar perto também do maior nadador da história de todos os tempos, o maior medalhista da história das Olimpíadas em uma só edição, com oito medalhas de ouro, tava o Phelps ali na minha frente, também foi espetacular. Eu não consegui fazer uma entrevista exclusiva com ele, foi uma entrevista coletiva, mas eu consegui perguntar, fiz pergunta pra ele e isso também pra mim já foi: “Putz, que legal, eu estou perguntando para o Michael Phelps, não é pra qualquer um”. Então foram algumas entrevistas legais. O Pelé também estava nesse evento, também foi muito legal, mas como nadadora, meus olhos brilharam mais por causa do Phelps, porque é muito difícil a chance de eu poder estar frente a frente com ele. Pelo menos o Pelé está sempre por aqui. Enfim, foram muitas entrevistas legais, muitas coisas legais. Neymar, entrevistei o Neymar várias vezes enquanto ele jogava no Santos, quando ele já era o que ele é. Ele mais novinho também cheguei a entrevistar, mas assim, já no auge, antes de ele ir para o Barcelona e tudo mais, são coisas que dá pra gente guardar e falar: “Pô, eu vou contar para os meus netos, eu entrevistei o Neymar, aquele cara que foi tudo isso”. Então são algumas coisas que eu guardo com muito carinho.
P/1 – Deixe-me perguntar uma coisa, você torce pra algum time de futebol, acompanha, desde pequena já gostava, como é?
R – Sim. É parte importante essa também. Minha mãe é corintiana roxa, meu pai é são-paulino, só que ele não liga nada pra futebol, nada, nada, nada. Meu pai é aquele são-paulino que sabe que o Rogério Ceni tá no time e ponto final. Não acompanha nada. E minha mãe sempre foi muito apaixonada, uma paixão que ela herdou do pai dela, do meu avô, que era corintiano. E na época que não tinha muitos jogos ao vivo na TV, então ela ouvia muito jogo no rádio. E eu via, ficavam ela e meu avô acompanhando quarta-feira à noite, enfim, no final de semana, os jogos. Minha mãe sempre foi bastante apaixonada. Então eu cresci de criança e tudo, não vou dizer que eu fui uma criança que desde sempre gostou de futebol, mas eu via a paixão da minha mãe com o Corinthians e aquilo, eu tomei aquilo pra mim. Eu falei: “Putz, que bonito”. Não sei, eu sempre vi o envolvimento. O envolvimento da minha mãe com esportes olímpicos e com o futebol passou pra mim, criamos uma afinidade imediata nesse aspecto. Eu lembro vivamente das Olimpíadas de 96, que ela chorava com cada medalha de ouro, vôlei de praia, isso e aquilo. Eu lembro mais ou menos das Olimpíadas, mas eu lembro muito de ver minha mãe torcendo muito e torcer e gostar de torcer do lado dela. Então foi uma paixão que talvez eu já tivesse desde pequena pelo esporte e minha mãe potencializou isso. Então minha relação com a minha mãe é muito baseada na questão esportiva. Até hoje a gente... Quando eu consigo estar com ela num domingo à tarde, a gente senta pra assistir ao jogo do Corinthians juntas. Então por mais incrível que seja, as duas mulheres da casa. Os três homens da casa não ligam nada, nada, nada, nada pra futebol. Eu e minha mãe somos apaixonadas. Então eu jogava futebol com os moleques quando eu era mais nova, tal, mas nunca foi aquela coisa... Que assim, menino cresce sabendo escalar o time inteiro, sabendo todas as regras, sabendo tudo de futebol. Eu não era assim, mas eu gostava do Corinthians. Se você perguntar pra mim... Acho que até hoje se você me perguntar: “Você gosta de futebol?”. Não sei se eu gosto de futebol, eu sei que eu gosto do Corinthians. Sempre foi a minha grande paixão por causa da minha mãe. Eu não posso ficar falando muito isso por causa... Não é que eu não possa, por causa do trabalho. Mas tem gente que não sabe levar, não sabe diferenciar. Eu cubro o Palmeiras, eu cubro o São Paulo, eu cubro o Santos, eu faço isentamente a cobertura de todos os clubes. A gente tem que saber diferenciar, é o lado profissional. Mas meu time de coração é o Corinthians. Então assim, coisas que eu lembro mais marcante, quando eu tinha uns 12 anos, que foi o... Eu me lembro de assim: título de 93, Paulista, que o Corinthians perdeu para o Palmeiras, eu me lembro de ter ficado triste, mas não compreender muito bem o que tava acontecendo, porque eu era nova. Eu só lembro assim, minha mãe ficou chateada. Muitas das emoções que eu lembro mais, quando eu era bem pequena mesmo, são emoções assim que eu peguei da minha mãe, que eu a vi sentindo. Então esse título de 93 que o Corinthians perdeu, eu me lembro de ela ter ficado bastante chateada, então eu também fiquei chateada. Eu me lembro de... Mas assim, que eu lembro mais vivamente é de 98, que o Corinthians foi campeão brasileiro e eu lembro bastante do time. Talvez eu não saiba escalá-lo agora de cabeça, mas eu lembro bastante de vários jogadores. Em 99 foi bicampeão brasileiro também e aí eu lembro bastante. Em 2000 foi campeão mundial. Então assim, foi uma época que eu realmente me lembro de torcer, de parar na frente da TV com a minha mãe e assistir aos jogos. Não sei se todos, mas assistia bastante aos jogos com ela. Depois, mais pra frente, eu dei uma esfriada no futebol, porque eu tava mais na natação, natação, natação, uma fase que eu tava um pouco frustrada, como eu disse, de só se falar de futebol, futebol, futebol, e como nadadora, eu tava muito revoltada. Eu lembro que uma das coisas que mais me chateou uma vez foi: eu tava assistindo ao Globo Esporte em casa e o Kaio Márcio, nadador, tinha batido o recorde mundial, era o primeiro recorde mundial que alguém, que um nadador brasileiro batia em décadas, em muito tempo que não tinha... Era uma medalha de ouro em campeonato mundial, era uma marca muito expressiva, e ela ganhou uns dez segundos no Globo Esporte com a imagem, falou: “Não, Kaio Márcio bateu o recorde mundial, blá blá blá, blá blá, blá. Então, mas a Ponte Preta e o Guarani vão fazer o clássico esse final de semana...”. E ficaram 15 minutos falando do clássico que ia acontecer de Ponte Preta e Guarani e dez segundos pra falar do recorde mundial, que era uma baita marca. Quando eu assisti àquilo, eu falei: “Olha, está errado. Como o esporte olímpico é tão desvalorizado?”. E fiquei um pouco frustrada e dei uma afastada do futebol. Não vou dizer que parei total, mas dei uma afastada, sim. E era outra fase da minha vida, aquilo que eu tava contando, tudo, de estar morando em São Paulo, tudo mais, então eu dei uma afastada. E depois que eu comecei a trabalhar com futebol, a paixão voltou assim de uma forma absurda. E até então eu nunca tinha ido a um estádio. A primeira vez que eu fui a um estádio foi na final do Campeonato Paulista de 2009. Que eu nunca tinha tido coragem. Minha mãe nunca me deixou ir sozinha. Como eu não morei em São Paulo muito tempo, voltei pra São Paulo só com 16 anos, nunca tinha tido oportunidade de ir a um estádio. Minha mãe nunca me levou, meu pai era são-paulino e não ligava pra futebol, nunca me levou. E minha mãe nunca falou, nunca deixou assim: “Ah, você vai sozinha”. Então nunca fui. E aí um dia juntei... Eu já trabalhava com futebol, eu falava: “Que inacreditável eu nunca ter ido ao estádio ver o Corinthians, ser apaixonada pelo Corinthians, trabalhar com futebol, não é possível”. E aí uma amiga minha falou assim: “Vamos? Vamos comprar ingresso pra final do Paulista?”. Era Corinthians e Santos no Pacaembu, final do Paulista de 2009. Ela falou: “Vamos? Vamos comprar ingresso?”. Eu fiquei meio: “Ah, vamos”. Aí eu só informei minha mãe, falei: “Mãe, estou com com 22 anos de idade, não sou mais uma criança, estou indo com amigos, estou indo acompanhada, eu vou ao estádio, tá?” Ela ficou preocupada, mas falou: “Tá bom. Vai”. E o primeiro jogo que eu vi foi o Corinthians sendo campeão paulista de 2009. E depois daquele ano de 2009, eu fui várias vezes. Várias vezes. Comprei ingresso, fui várias vezes e sozinha. Várias vezes eu fui sozinha. Depois que eu vi que não era um bicho de sete cabeças, fui várias vezes. Depois eu comecei a trabalhar. Em 2010 também eu fui muito, muito, muito aos jogos. E depois eu comecei a trabalhar com a rádio e não deu mais tempo assim. Agora eu estou no estádio sempre, todo final de semana, mas é pra trabalhar. De arquibancada eu só fui uma vez no ano de 2013 inteiro, por exemplo. Que eu sinto muita falta de ir lá torcer. Mas, enfim, essa é a minha relação com o Corinthians também, porque tem seleção.
P/1 – Pois é, eu queria te perguntar sobre isso. E as Copas do Mundo? Qual a primeira que você lembra assim de ter acompanhado?
R – A Copa de 90 eu não lembro nada, absolutamente nada, porque eu tinha três anos e meio, eu não lembro mesmo. A Copa de 94 eu lembro bem. Eu não lembro assim, bem dos jogos, eu não me lembro de detalhes, eu me lembro do que cercou a minha vida na época da Copa do Mundo. E foi marcante, porque foi quando eu mudei pra Aracaju. A gente mudou na metade do ano, com a Copa em andamento. Então o Brasil já jogou a primeira fase, jogou no começo, tal, antes de a gente se mudar, a gente já tava com a mudança toda preparada. E meu irmão mais novo faz aniversário em julho, 17 de julho, e a gente fez uma festa antecipada em São Paulo, antes de a gente mudar. Porque a gente se mudou no dia quatro de julho pra Aracaju. E a gente fez uma festa antecipada de aniversário pra comemorar com a família toda, que era de São Paulo, antes de a gente se mudar pra Aracaju. E a festa foi todo tema de Copa. Era tudo bexiga verde e amarela, o bolo era verde e amarelo, tudo, tudo, tudo. Todos os enfeites eram tudo verde e amarelo, era tudo Copa, Copa, Copa, tal. E o Fernando era novinho, tadinho, ele tava fazendo... Em 94, ele tava fazendo cinco anos, nem deve lembrar direito. E eu me lembro disso assim, que a gente fez aniversário dele temático da Copa, dia 4 de julho a gente se mudou pra Aracaju. E eu lembro assim, como eu disse, não me lembro de detalhes dos jogos, o que eu lembro é da final, que a gente assistiu na minha casa. E meu avô tinha ido visitar a gente quando a gente tava lá, a gente já tava... O final da Copa foi 17 de julho, que foi aniversário do meu irmão. O Brasil foi tetracampeão no aniversário do meu irmão, eu me lembro disso bem. E aí eu lembro assim, que o jogo foi um jogo muito chato, que foi aquele jogo que foi empatado, tanto que a decisão foi para os pênaltis. E eu criança, inquieta, nem prestei atenção no jogo, eu tava lá curtindo o clima com a família. Eu só lembro assim, da cena que meu pai tava com um copo de cerveja na mão, e quando foi para os pênaltis, naquela tensão, narração do Galvão Bueno, aquela emoção, tal, deu o pênalti do Baggio, que o Baggio chutou pra fora, a primeira coisa que eu lembro é da cerveja do meu pai indo parar no teto. Meu pai tava com o copo na mão, ele tchaaa: “Ah, campeão, não sei o quê lá, é tetra, tal”. E todo mundo pulando e se abraçando. Assim, a coisa que mais me marcou foi a cerveja do meu pai indo parar no teto assim. Ele jogou, molhou todo mundo e todo mundo se abraçando, tal, e comemorando na pequena família que a gente tava em Aracaju, porque tava só eu, meus pais e meus irmãos, e meu avô que tava visitando. Todo o resto da nossa família morando em São Paulo. E isso sim é o que eu lembro bem da Copa de 94. Talvez eu não tivesse noção do tamanho que tenha sido o título na época, porque era a primeira Copa que eu lembrava. A única coisa que marcou muito pra mim é que assim, o Brasil é o único tetracampeão do mundo, eu me lembro de a minha mãe explicando. A Itália era tricampeã junto com o Brasil e o Brasil era o único tetra. Então eu fiquei: “Nossa, o Brasil é o melhor do mundo, que coisa, disparado”. Tanto que eu sempre torci bastante pela seleção, desde sempre, desde essa época. E chegou 98, e na minha cabeça de criança, o Brasil é o único tetracampeão, a única copa que eu lembro a gente ganhou e foi aquela coisa, não tinha na minha cabeça que fazia 24 anos que o Brasil não ganhava, que os meus pais praticamente não via um título há muito tempo. Pra mim era uma coisa normal, a primeira copa que eu lembro, o Brasil foi campeão. Então chegou 98, o Brasil favorito, com Ronaldinho, tal, aquele baita time, o Brasil vai ser campeão de novo, mas é evidente. E foi, passaram as fases e tal. Chegou à final, final contra a França, mas o Brasil é o único tetra, quem é a França? Que título mundial tem a França? Então eu lembro que foi uma decepção tão grande, falei: “Olha, como pode?”. Eu tentava entender e na minha cabeça de criança eu não conseguia entender como o melhor time do mundo, o único tetracampeão e tudo mais, e favorito, conseguiu perder e perder o jeito que perdeu. Assim, demorei muito tempo pra assimilar aquilo, pra entender o que foi aquilo. Eu lembro que eu chorei muito. Eu lembro que a gente morava em Itapetininga na Copa de 98, tinha um cachorro, o Guga, que morria de medo de fogos de artifício. E aí no estouro dos fogos ele ficava desesperado, desesperado, desesperado. E ele chorando por causa dos fogos de artifício e eu chorando porque o Brasil tinha perdido. Mas eu lembro que o cachorro chorando e eu chorando junto porque o Brasil tinha sido eliminado. Aquela Copa, eu lembro que eu senti bastante, não consegui entender, demorei demais pra conseguir entender: “Como o Brasil perdeu? Não pode perder. Tinha que ser pentacampeão”. E continuei torcendo, tudo. E aí a Copa de... É pra ir falando assim?
P/1 – Pode.
R – Então tá bom (risos). Aí na Copa de 2002, que foi de madrugada, eu lembro que foi uma Copa sofrida. Eu acho que nem assisti a todos os jogos. Deve ter um ou outro que eu não tive paciência de acordar cedo pra assistir, eu não lembro. Mas eu me lembro de acordar de madrugada, assistir aos jogos. Eu lembro que meu tio, que mora no Paraná, tava visitando a gente, porque foi período de férias, tava com a priminha que na época, em 2002, tinha um aninho. E eu me lembro de ela assistir a gente torcendo e não entender nada. Ela bebezinha de colo, de eu assistir jogos com ela no colo. Mas eu lembro mais disso assim, de tocar o despertador e falar: “Por que o despertador tá tocando? Ah, o Brasil vai jogar às duas da manhã, três da manhã, sei lá que horas”. Eu me lembro de acordar. Eu lembro que os meus irmãos não acordaram em todos os jogos, eles ficavam um pouco de preguiça. Porque eles gostavam assim, não gostavam de futebol, mas Copa do Mundo, aquela coisa. Copa do Mundo, todo mundo acaba acompanhando. Mas como eles eram meio assim, era muito de madrugada, eles nem acordaram em todos os jogos, foram mais as fases decisivas. E aí eu lembro... Tenho algumas lembranças assim, de eu já torcer bastante, já ser mais velha, em 2002 eu já tinha 16 anos, já entendia as coisas um pouco melhor. E lembro bastante assim disso, de a minha priminha estar assistindo com a gente, bebezinha. E daí foi o título e tudo mais. Assim, comemorei bastante também, mas eu acho que menos, já tava um pouco menos envolvida com a seleção do que a de 94 e 98 assim. 98, principalmente, eu acho que foi um envolvimento mais forte meu com a seleção. Mas 2002, eu me lembro de a gente ter celebrado bastante. Logo na sequência, a gente adotou uma cachorrinha que nasceu no dia que o Brasil foi campeão. Na verdade, foi dia 30 de junho que foi a final de 2002, ela nasceu no dia primeiro de julho. E a gente até falava: “Vamos chamá-la de penta. Vamos chamá-la de penta”. E minha mãe achou que era feio demais, mas pela homenagem, a gente cogitou essa possibilidade. Inclusive, uma prima minha nasceu também no dia primeiro de julho, logo depois que o Brasil foi pentacampeão. Então tiveram todas essas marcas de importância. Só que com o tempo eu fui perdendo o gosto pela seleção. Não perdendo o gosto, mas assim, perdendo essa paixão. Eu acho que eu fiquei muito mais “clubística”, muito mais o Corinthians do que a seleção brasileira. 2006 eu torci também, mas com menos afinco. E 2010 foi a primeira... Assim, 2006 eu nem tenho tanta lembrança assim, eu me lembro de ter assistido e ter falado: “Ah, essa seleção...”. Sabe? Não encantou. Porque, não sei, foi uma seleção que foi bem assim, que caiu muito cedo no campeonato, foi uma seleção que inspirou muito. Mas 2010 já foi a primeira que eu trabalhei como profissional. Não estava na África do Sul, eu tava na redação como estagiária, mas eu assisti a todos os jogos junto com um monte de gente que entendia de futebol, que gostava de futebol, então o universo da redação trabalhando na Copa foi muito bacana, foi muito legal. Eu me lembro de justamente disso, de estar sentada no meu computador, a TV ficava aqui atrás de mim, mas assim, “dane-se”, sabe? Eu ficava virando e assistindo ao jogo toda hora, e juntava todo mundo, e todo mundo parava o que tava fazendo, mesmo estando no trabalho, pra assistir aos jogos de 2010. Mas 2010 eu vi uma Copa de uma forma diferente, não foi uma Copa como torcedora do Brasil, foi uma Copa como profissional, de jornalista que cobre futebol. Então eu assisti a todos os jogos... Todos não, mas assisti a maioria dos jogos das outras seleções, me envolvendo também na questão da cobertura, acompanhando pessoas que trabalhavam comigo, que estavam lá, vendo o trabalho delas e falando: “Poxa, que legal, quero fazer isso um dia”. E hoje assim, passando a Copa de 2010 e agora a gente ntão próximo de 2014, o meu pensamento não é nem em seleção brasileira, é como profissional assim, o quanto eu quero cobrir um evento dessa magnitude, desse tamanho, que envolve só as melhores seleções do mundo, só os melhores jogadores do mundo, e que envolve tanta paixão, tanta coisa. Minha relação com Copa hoje é essa, é do lado profissional, da vontade que eu tenho de cobrir e de ver in loco também. Espero ter oportunidade de ver um jogo, não precisa ser um jogo do Brasil, só um jogo de Copa do Mundo pra eu poder ver, ter essa oportunidade pra eu poder ver, ter essa oportunidade de estar recebendo no meu país, é a relação que eu tenho agora com Copa.
P/1 – A gente já vai encerrando, queria saber se tem mais alguma coisa que você gostaria de falar e o que você achou de estar contando a sua história aqui para o Museu da Pessoa?
R – Não sei, acho que eu falei bastante (risos), principalmente da questão de Copa, que é o tema principal de futebol. Não sei, acho que eu não consigo pensar em nada extra assim, pra falar. Mas eu gostei bastante da entrevista. Eu achei que seria muito mais focada na questão só do futebol mesmo, então eu falei da minha vida inteira (risos). Foi bem legal até relembrar algumas coisas. Até quando eu acho que a gente não para pra pensar sempre nas coisas que a gente viveu. E quando a gente tá contando, eu acho que a gente lembra: “Putz, aquilo foi marcante, tal coisa não foi, tal coisa foi ruim, tal coisa foi boa”. Eu acho que foi bem legal por isso. Eu gostei bastante. Já falei pra caramba.
P/1 – Tá joia então. Obrigada, Mayra.
R – Obrigada a vocês.
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