P/1 – Dona Antonia, vamos começar então pedindo que, por favor, a senhora diga qual seu nome completo, a data e o local do nascimento.
R – É Antonia Maria da Conceição Espínula, nascida no estado de Alagoas, cidade Água Branca, em 20/8/1953.
P/1 – O nome do pai e da mãe da senhora?
R – Maria (Inácia?) da Conceição, José Francisco de Lima.
P/1 – Eles nasceram...
R – Na cidade de Água Branca mesmo.
P/1 – Me fala um pouco sobre a família do pai e da mãe da senhora. O pai da senhora trabalhava, o que ele fazia, a senhora lembra, tem alguma informação?
R – Meu pai trabalhava na roça, era a única coisa que ele fazia, trabalhava em roça. Minha mãe também.
P/1 – Eles se conheceram lá?
R – Se conheceram lá.
P/1 – Era roça do quê, que eles trabalhavam?
R – De plantação de mandioca, feijão, milho, essas coisas assim.
P/1 – E a família deles, a senhora conheceu, era de lá também, morava lá?
R – É. A família do meu pai era do sertão, sertão do Sul, que eu não conheço, eu acho que era sertão do Sul, aí me fugiu da memória, parece que é...
P/1 – Água Branca fica no Norte?
R – Fica, no estado de Alagoas.
P/1 – No Norte do estado.
R – Em Alagoas mesmo.
P/1 – Então, a família do pai era do sul do Norte.
R – Isso, Sul do Norte.
P/1 – E da mãe da senhora?
R – Não, da minha mãe que era do sul do Norte, do meu pai é lá mesmo, em Alagoas.
P/1 – De Água Branca mesmo?
R – É. É uma família pouca. Não era uma família grande. Tudo de lá mesmo do meu pai, só da minha mãe que eu não conhecia a família, eu conheci minha avó, meu vô.
P/1 – Por que, eles já tinham falecido?
R – Já tinham falecido. Quando meu avô faleceu, eu estava gerada em dois meses.
P/1 – Você ainda...
Continuar leituraP/1 – Dona Antonia, vamos começar então pedindo que, por favor, a senhora diga qual seu nome completo, a data e o local do nascimento.
R – É Antonia Maria da Conceição Espínula, nascida no estado de Alagoas, cidade Água Branca, em 20/8/1953.
P/1 – O nome do pai e da mãe da senhora?
R – Maria (Inácia?) da Conceição, José Francisco de Lima.
P/1 – Eles nasceram...
R – Na cidade de Água Branca mesmo.
P/1 – Me fala um pouco sobre a família do pai e da mãe da senhora. O pai da senhora trabalhava, o que ele fazia, a senhora lembra, tem alguma informação?
R – Meu pai trabalhava na roça, era a única coisa que ele fazia, trabalhava em roça. Minha mãe também.
P/1 – Eles se conheceram lá?
R – Se conheceram lá.
P/1 – Era roça do quê, que eles trabalhavam?
R – De plantação de mandioca, feijão, milho, essas coisas assim.
P/1 – E a família deles, a senhora conheceu, era de lá também, morava lá?
R – É. A família do meu pai era do sertão, sertão do Sul, que eu não conheço, eu acho que era sertão do Sul, aí me fugiu da memória, parece que é...
P/1 – Água Branca fica no Norte?
R – Fica, no estado de Alagoas.
P/1 – No Norte do estado.
R – Em Alagoas mesmo.
P/1 – Então, a família do pai era do sul do Norte.
R – Isso, Sul do Norte.
P/1 – E da mãe da senhora?
R – Não, da minha mãe que era do sul do Norte, do meu pai é lá mesmo, em Alagoas.
P/1 – De Água Branca mesmo?
R – É. É uma família pouca. Não era uma família grande. Tudo de lá mesmo do meu pai, só da minha mãe que eu não conhecia a família, eu conheci minha avó, meu vô.
P/1 – Por que, eles já tinham falecido?
R – Já tinham falecido. Quando meu avô faleceu, eu estava gerada em dois meses.
P/1 – Você ainda não tinha nem nascido.
R – Não tinha nem nascido.
P/1 – E a senhora tem irmãos, quantos?
R – Tenho seis: Carlos, Zuleide, Joana, Neuza e João.
P/1 – Moram todos lá?
R – Aqui. Só mora um lá no Norte.
P/1 – Os outros estão aqui?
R – Estão tudo aqui.
P/1 – Moram em São Paulo. A senhora lembra da rua, do bairro que a senhora morava quando era menina, a casa que a senhora morava?
R – A casa eu lembro, o bairro, rua não tinha.
P/1 – Como era o lugar?
R – O lugar que eu morava que tinha minha casa chama-se Alto da Boa Vista.
P/1 – Era um sítio?
R – Era um sítio, tipo sítio, hoje eles falam sítio, mas na época tudo era sítio, a gente comprava os pedaços de terra lá, era tudo sítio, tinha mangueira, bananeira, cajueiro, jaqueira (riso).
P/1 – Tinha tudo lá?
R – Então era sítio, na época era sítio.
P/1 – A senhora lembra da casa da infância da senhora.
R – Lembro.
P/1 – Como era ela, era grande?
R – Era uma casa coberta de telha, feita de barro, as paredes chama “pau a pique”, parece, eu não me lembro muito, era uma casa que tinha dois quartinhos, uma sala e uma cozinha.
P/1 – Como eram as brincadeiras com os irmãos, com a criançada?
R – As brincadeiras eram de se esconder, subir nos pés de árvore, brincar em cima de casinha, no alto das árvores, mangueiras, das jaqueiras. Nossas brincadeiras eram assim. Eu brincava dentro das roças de milho, fazendo tranças nas bonecas, de milho, no cabelinhos, penteava os cabelinhos, fazia trancinhas. Nossas brincadeiras foram assim, fazia bonequinha de barro, fazia boi.
P/1 – E o dia a dia da casa, dessa criançada?
R – O dia a dia da casa era a gente brincando por debaixo das árvores, chama terreiro o que é quintal aqui, lá é terreiro, era assim, brincando assim.
P/1 – E a mãe ficava em casa?
R – E a mãe ficava em casa, cuidando da casa, carregando lenha, lavando roupa. Minha mãe era assim.
P/1 – E a lembrança mais forte que a senhora tem dessa época, quais são as lembranças mais fortes desse tempo?
R – As lembranças que eu tenho de lá é que a gente era feliz, que a gente ia para as igreja, assistir as rezas, os terços. As lembranças que eu tenho é essas aí, cada mês lá tem uma festa de cada santo, então a gente participava muito. As minhas lembranças era também que eu andei muito, na procissão da Nossa Senhora da Saúde, que é em Tacaratu, que fica lá no Ceará. É uma igreja, e eles vinham uma vez por ano, e ficava um meses a gente andando atrás da santa, então tem muita lembrança disso aí, tanto que eu tenho muita fé na Nossa Senhora da Conceição e na Nossa Senhora da Saúde, eu tenho muita fé pelas duas, nas duas santas, tanto que eu me casei na igreja da Nossa Senhora da Conceição, me batizei na igreja da Nossa Senhora da Conceição, tenho a foto da igreja inteira, que eu nunca esqueci, da minha cidadezinha lá, eu tenho muita lembrança de lá, das festas.
P/2 – Como eram as festas?
R – As festas lá eram muito bonitas. Tinha roda fogo na frente da igreja, leilão que, antigamente, tinha muito essas coisas. Hoje, você vai numa festa, você não vê nada mais. Então tinha os leilão lá que eles faziam, levava queijo, bolo, coalhada, frango, que as pessoas ofereciam, eram umas festas muito bonitas, com muitos foguetes, fogos e roda de fogo e aquelas coisa que eles fazem lá, de bonito, que faz aqueles boneco, socando no pilão, tudo aparecia numas telas, no meio da rua, tinham as pessoas que faziam, soltavam muita bomba, e era umas coisas assim, fogueira de São João, eu sinto saudade, nas festas de São João.
P/1 – O que é roda de fogo?
R – As rodas de fogo, da época lá, que eles faziam, eram assim: quando tinha festa de Nossa Senhora da Conceição, que é todo dezembro, que o dia dela é dia 8, começava dia 29, a primeira noite de novena, aí, todo dia, eles faziam uns quadros para as pessoas que mexem com fogos e ali passava, cada quadro tinha um, só que ponhava e ficava soltando foguete e naquele quadro aparecia um santo, aparecia os menininhos, aparecia umas coisas assim, mas eu não lembro de tudo.
P/1 – Todo mundo ia?
R – Nossa! Todo mundo ia na procissão, então umas caixas nossas, de lá, era essas daí, da igreja, nas novenas, a gente ia a pé, uma hora andando.
P/1 – Caminhando?
R – Caminhada. Eu sei que era muito bom, a gente sentia necessidade, mas a gente era feliz.
P/1 – Essas rezas sempre eram uma festa?
R – Era uma festa, tudo que tinha reza de Nossa Senhora da Santana, cada mês tinha uma festa, São José, cada mês tinha um festa, era muito bonito, era não, hoje ainda tem, pra lá, tanto que um mês, esse ano, eu tive vontade de ir lá, mas não consegui, pretendo ir esse ano, eu tenho muita vontade de ir, de ver a família da gente, porque essas coisas a gente não pode estar saindo, mas se Deus quiser, meu marido ainda não conhece a cidade, mas a gente vai, se Deus quiser, porque até hoje tudo que eu senti, que eu tinha vontade, eu consegui, que foi minha casa, minha família.
P/1 – Desse tempo tinha alguém que a senhora admirava, que chamava atenção, que era muito bonita, essa época?
R – Alguém?
P/1 – Tinha uma pessoa muito bonita que te chamava a atenção na infância?
R – Tinha, uma prima minha, eu achava ela muito bonita, ela parecia um índia, e eu tinha vontade de ser que nem ela, (riso) bonita.
P/1 – A senhora é casada?
R – Sou casada.
P/1 – O nome, idade e profissão do marido da senhora, por favor.
R – Meu marido se chama Geraldo Evangelista Espínula. Profissão dele? Ele era soldador. Hoje ele é um taxista devido que ele não conseguiu emprego de soldador mais, hoje ele trabalha com táxi.
P/1 – Tem filhos?
R – Tenho, quatro.
P/1 – Idade e o nome deles.
R – A minha primeira filha chama-se Rosangela, Ricardo, Ruberlei e Roberta.
P/1 – A Roberta é caçula?
R – Caçula.
P/1 – Tem quantos anos?
R – Tem 24, vai fazer agora em agosto, a mais velha fez 31, o meu outro, o segundo, fez 28, e o outro vai fazer 26 agora.
P/1 – Como que a senhora começou o estudo, naquele tempo lá a senhora começou a estudar, como foi?
R – Eu tinha muita vontade de estudar, mas na época, eu não tinha nem roupa para ir para a escola, não tinha material, caderno, lápis e borracha, que era o principal, só que a professora falava para os meus pais: “Manda a menina ir pra escola que ela é muito inteligente, a gente dá lápis pra ela e os cadernos.” só que eu não tinha roupa para ir, as poucas vezes que eu fui, é que minha roupinha estava limpa, eu só tinha um vestido, muitas vezes, ah, não sei, eu vou falar...
P/1 – Fica a vontade.
R – ...Eu tirei minha roupa, lavei e fiquei pelada dentro do mato (riso).
P/1 – Esperando secar?
R – Esperando secar. Então era assim. Uma vez eu vesti o vestido, porque a gente era criança, eu vestia o vestido do lado do avesso para mim ir para escola, porque estava sujo. É, minha filha, a necessidade, na época, era pior do que hoje
P/1 – A escola era perto?
R – Era. Tinha que descer uma ladeira de quase uma hora.
P/1 – Para ir para a escola?
R – Era uma escola que tinha as professoras de antigamente que davam nas suas próprias casas.
P/1 – Isso era escola rural?
R – Era escola assim. Um pouquinho que aprendi lá, que estudei, consegui indo assim. Aprendi fazer meu nome, vim para São Paulo já sabendo fazer meu nome. Quando foi no segundo ano, uma madrinha que eu tinha aqui, que hoje faleceu, prometeu o livro pra mim, ela me deu o livro, foi nessa época que eu vim pra cá, aí não estudei mais, fui trabalhar em casa de família.
P/1 – Nessa época da escola, ainda voltando um pouquinho, a senhora lembra da escola, como é que eram as professoras?
R – Lembro.
P/1 – Alguma professora em especial?
R – Era uma professora muito legal, ela era muito boa, ensinava mesmo, Graças a Deus, todo mundo gostava de mim lá, tanto que essa minha professora tinha vez que ela própria me levava para a roça para trabalhar. Devido a necessidade que eu não tinha nada, roupa, eles me levavam e me davam uma coisinha, me dava até comida para levar para os meus irmãos em casa.
P/1 – Como é que é, estudava, ficava na escola um tempo e depois ia para a roça?
R – Era assim, tinha vezes, quando era época de férias, eu ficava com ela lá, ia com o marido dela da roça, ia só eu, olha como é que é hoje, de antigamente, como é diferente o respeito, ele me levava montada na garupa do cavalo dele, e eu trabalhava sozinha com ele trabalhando na roça, plantando feijão, quebrando milho, na época, catando algodão, ele me levava e ela ia me levar o almoço, eu ficava o dia inteiro lá com ele, a gente sozinho.
P/1 – E acabou as férias, você voltava para a escola?
R – É, e aí, quando dava, que eu tinha a roupa, o sapato, para mim não ficar descalço na escola, quando não tinha, eu não ia para escola, eu faltava às aulas, não passava de ano.
P/1 – Não tinha jeito?
R – Não tinha.
P/1 – Como era a escola, a senhora lembra, era uma casa?
R – Era uma casa com as cadeirinhas, tinha a escola lá que cada um levava seu banquinho, na época era assim, cada um levava sua cadeira, agora, quem não tinha cadeira, a professora arrumava, eu, como eu não tinha, mas a maioria levava seu banquinho deixava lá o ano inteiro, durante as aulas.
P/1 – ______________?
R – Não, deixava já lá na sala dela, cada um tinha seu banco. As crianças que tinha. Agora aqueles que não tinham, sentava no banco que ela arrumava, era banco mesmo, sabe, tamborete que chama, que tem pessoas que não sabe o que é tamborete, mas era assim, e o governo mandava leite em pó e muitos dali se alimentavam com aquilo ali, o leite deixavam lá
P/1 – Na escola?
R – Na escola, ela tinha preguiça, talvez preguiça ou não tinha tempo, ela dava pra gente comer puro o leite.
P/1 – E comia?
R – Comia. Nossa, adorava! Chega a sair assim (riso).
P/1 – (riso) Babava?
R – Se tivesse mais, eu comia. Era assim a vida, minha filha! Minha vida marcou muito, eu lembro de coisas que eu tinha dois anos de idade.
P/1 – Quando a senhora começou a trabalhar, a senhora lembra?
R – Lembro que, quando comecei a trabalhar, foi assim, eles me levando para a roça.
P/1 – Quantos anos mais ou menos?
R – Eu tinha uns sete, oito anos. Foi quando logo entrei na escola, uns oito para dez, porque uma criança de oito anos não vai plantar feijão, eu tinha essa faixa de 10 anos.
P/1 – Era emprego? E aí a senhora ficou até o tempo que ficou lá trabalhando na roça?
R – É, trabalhando. Eu trabalhava para outras pessoas lá, longe, que a gente caminhava três léguas, acho que é três horas, não sei quantos quilômetros tem uma légua, chamava légua, a gente ficava a semana inteira nesse lugar, eu trabalhava assim, minha vida inteira foi trabalhando na roça, por isso que eu também não estudei, eu não tive como estudar, foi assim.
P/1 – Sempre na roça?
R – Sempre com as pessoas que podia me dar um emprego, se a pessoa ganhasse cinco reais, eu ia ganhar dois, porque eu era criança ainda.
P/1 – O que a senhora fazia para ganhar esses R$ 2,00?
R – Eu fazia assim, o meu trabalho era raspar a mandioca para fazer farinha, era arrancar feijão, era quebrar milho, eu mesmo tinha uma roça minha também, que eu fiz para mim, eu trabalhava sozinha.
P/1 – Com quantos anos?
R – Eu vim pra cá com 14 anos.
P/1 – Quanto tempo você teve essa roça?
R – A minha roça eu estava com 13 anos, eu tive essa roça dois anos porque o homem, dono das terras, eu pedia pra ele um pedaço pra mim plantar, ele me dava aquela terra mais ruim que tinha, porque era arrendada, eu não podia pagar, ele me dava mais ou menos um pedaço de terra que dava para mim plantar um quilo de feijão, nessa terra, aí ele falava: “Não, vai plantar naquele lugarzinho para você.” , mas era um terra que não dava, por isso que ele dava pra mim, aí eu plantava, eu limpava ela todinha, levava meu litro de feijão, plantava, eu sabia plantar tudo, roçava tudo o mato.
P/1 – Sozinha, Dona Antonia?
R – Sozinha no mato, sozinha, isso eu estava com 12,13, 14. Porque com 14 anos, eu vim pra São Paulo, eu devia ter uns 13 na época, que foi dois anos que eu ganhei esse pedaço de terra, eu repeti, plantei de novo, o milho estava bonito, aí veio os boi lá, do próprio, comer meus milhos todos.
P/1 – __________?
R – É, aí só o feijão. Com esse dinheirinho que eu comprava roupa para mim e ajudava minha (?) em casa também.
P/1 – E esses R$ 2,00 que a senhora ganhava, a senhora fazia o que com esse dinheiro?
R – Na época não era dois reais, era menos.
P/1 – Mais ou menos nesse valor, o que a senhora fazia com esse dinheiro?
R – Eu dava para a minha mãe, pra comprar comida para comer para os meus irmãos.
P/1 – A senhora era a mais nova?
R – Eu era a mais velha, e o meu irmão que era mais velho, ele não vivia em casa com a minha mãe, ele vivia lá com uma família também, só que ele não dava as coisas, que esse meu irmão, ele hoje mora lá, ele era um pessoa que as pessoas fazia a cabeça e ele aprendeu a não gostar muito da família, ele ficou desligado da família, hoje ele tem a família dele lá e a gente está para aqui.
P/1 – E a senhora que ajudava?
R – É, eu que ajudava, trabalhava a troco de comida, pra levar para os meus irmãos, não ganhava dinheiro que eu queria levar arroz, feijão, arroz não, que lá não tinha arroz, não dava, o feijão, o milho, eu levava.
P/1 – E aí comprava arroz?
R – E arroz e quando comprava arroz, era um quilo só para comer a semana toda, que servia de mistura. Na época, a gente não comia arroz, a gente comia feijão com farinha mesmo e um pedacinho assim de carne assada.
P/1 – E usava essas frutas todas?
R – Usava, a gente vivia alimentando das laranjas, manga, banana, mamão.
P/1 – A água era...
R – A água sim, quando chovia enchia as fonte, quando estava aquele calorão, que passou uma época muito tempo sem chover, você tinha que esperar a água, as fontes eram limpa, aí ficava minando debaixo para cima nas ___ de ___ e a gente ficava esperando pra trazer água, a noite inteira era fila de gente pra conseguir pra beber, agora lavar roupa, lavava nos riachos, aquela água corrente que sai descendo, suja, que não dá para beber, água “saloba”. Aí lavava as roupas assim. Tinha vezes que era difícil, tinha uns lugar que juntava as águas que não era boa, que não prestava para beber, e então lavava as roupas. Lá, a vida foi assim.
P/1 – Até vir pra São Paulo?
R – Até vim pra São Paulo, foi trabalhando. Eu fiz amizade com uma dona da padaria lá e comecei a vender pão, aí o dinheiro dos pão era pra mim, eu trabalhava a semana inteira na roça, para o povo lá, para aqueles que tinham dó, porque não era todo mundo que me chamava porque eu ainda era fraquinha, não tinha força para fazer o serviço que uma pessoa adulta fazia, mas eles me chamavam mais de dó para trabalhar, pra mim ter, ganhar alguma coisinha. Aí eu comecei vender pão, aí esses dinheiro do pão eu comprava roupa pra mim, que foi onde que eu comecei a ir pras festinhas, eu até fui nesse lugar em Tacaratu, eu fiz uma promessa, e eu cheguei ir lá, fique lá dois dias na casa de uma pessoas, e com o meu o dinheiro do pão, paguei a caminhonete, que a caminhonete levava as pessoas.
P/1 – Ali a senhora começou a vender?
R – Aí eu fui uma vendedora de lá pra cá, e hoje eu sou vendedora.
P/1 – E vendia bem?
R – Vendia, vendia 120 pão por sábado e domingo, aí eu ganhava 20%.
P/1 – A senhora vendia na casa das pessoas?
R – Vendia na casa, entregava nas casa. Comprei um balaio, a dona da padaria, primeiro me deu um balaio para mim começar, com o dinheirinho que eu ganhei, na primeira semana, eu comprei o balaio e comprei um saco, alvejei ele, porque lá não tinha esses negócios que clareia, era no sabão e no sol, ficou branquinho, pra mim cobrir os pão, como é que eu vou vender os pão dentro de um cesto puro? Na outra semana eu já comprei uma toalha de plástico, porque o dia que chovesse, cobria os pão para trazer, era um cestão assim, eu chegava com o meu pescoço doendo em casa, porque lá era pão doce, antigamente tinha pão doce, pão crioulo e pão aguado, que chamava assim, e bolachão.
P/1 – O pão aguado é o pão francês?
R – É, é esse pão hoje, então crioulo é aquele que tem duas bandinhas, que aqui chama sovado, lá era pão crioulo.
P/1 – E você levava a cesta na cabeça?
R – Levava. Aí comecei a vender. Menina, os pessoal tudo comprava. Tinha um homem que vendia pão, só que ele vendia pão dentro de um saco, um senhor moreno, de idade já, os pão dele ficava tudo amassado, porque ele jogava o saco nas costas e eu com meu cesto bonitinho... todo mundo, peguei a freguesia do homem toda. Menina, um dia esse homem me encontrou dentro de um caminho, porque é poucas casas, você tem que andar muito, sobe assim e descia pra mim vender os pão, para estar lá na segunda-feira, dar o dinheiro para a dona da padaria, chegava na segunda-feira, era dia de feira o dia inteiro, até hoje é a feira na segunda, na minha cidade, aí eu recebia do povo na feira, estava atrás das pessoa, o povo pegava tudo fiado, recebia o dinheiro e levava lá para a dona da padaria, e esse homem me encontrou num lugar estranho, aí ele falou assim: “Escuta aqui menina, você tomou minha freguesia, não é?” eu falei: “Não, eu não tomei sua freguesia.” ele falou assim:“Tomou, porque ninguém compra pão de mim mais.” eu falei assim: “Ué, mas eu não tenho culpa se o senhor não vende seus pão.” “Que saber de uma coisa menina? Tu vai vender pão no inferno, viu?” eu falei assim: “Vá vender o senhor e sai do meu caminho.” (riso) Eu falei assim para ele, sabe. Eu não tinha medo, você acredita? Se ele me desse uns tapa lá, no meio do caminho, ninguém ia ver, aí nunca mais vi esse homem, ele não foi mais.
P/1 – Ele desapareceu?
R – Ele chegava com o pão todo amassado, o pessoal não queria, os meu estava tudo inteiro, todo mundo comprava, menina. Eu vendia. Aí, eu vim pra São Paulo, minha mãe ficou lá, minhas irmãs, ficaram lá vendendo os pão, aí eu busquei tudo para cá quando ele casou, ai ficou lá.
P/1 – Você veio para São Paulo com 14 anos?
R – Foi, eu vim completar 15 anos aqui em São Paulo.
P/1 – E veio trabalhar?
R – Vim trabalhar.
P/1 – Como foi a vinda pra cá, como é que foi?
R – A vinda foi assim, uma vizinha minha, vieram pra São Paulo uma turma lá, que a família morava aqui em Jaçanã, família grande desse povo, aí veio uma moça que era casada com o irmão dessa vizinha minha, que ele era cabo aqui em São Paulo, e ela foi pra lá porque ela era de lá, passear na casa da mãe, ela tinha duas criancinhas, ela pegou, comprou passagem para a menina dela e para o nenezinho que ela trazia no colo, aí ela me chamou pra vim, eu falei assim: “Olha, eu não vou para São Paulo porque eu não tenho dinheiro.” mas a minha tia...
P/1 – ___________________________, _______________________?
R – Nossa! Tinha muita vontade de vir pra aqui. Eu estava lá deitada no chão, olhando pra nuvens, sabe, que você vê muitas coisas nas nuvens, eu sou assim, eu observo tanto as nuvens que vejo cavalo, vejo cara de santo, vejo montanha, vejo um monte de coisa nas nuvens, aí o avião passando, longe, que passava um avião a cada dois meses lá: “Ai avião, me leva pra São Paulo, avião, oh! avião me leva, um dia eu vou pra São Paulo, um dia eu vou para São Paulo.” desse jeito.
P/1 – Aí veio, não é?
R – Aí eu vim. Aí nessa minha viagem...
P/1 – Essa moça trouxe a senhora?
R – Essa moça me trouxe, minha tia tomou um susto quando ela soube que tinha uma sobrinha dela aqui em São Paulo, ela trabalhava em casa de família, não tinha como deixar eu na casa, aí fiquei na casa dessa pessoa uma semana, aí minha tia conversou com a patroa dela e me trouxe e a patroa dela me arrumou serviço de babá.
P/1 – Quanto anos a senhora tinha?
R – Eu estava com 14 anos eu ia fazer 15, eu ia completar quinze em agosto, eu vim em março, dia 20 de março, eu lembro do dia certinho que eu saí de lá. Aí essa mulher que trabalhava na Rua Rio de Janeiro, minha tia, e a mulher fazia cabelo lá no Clube Paulistano, aí ela conversando lá e a moça falou assim: “Olha, minha cunhada está precisando de uma babá, mas ela paga pouquinho.” Eu falei: “Imagina, qualquer quantia pra mim estava bom.” comecei ganhando Cr$40, na época, na Consolação, trabalhei na Consolação, lá embaixo, essa mulher que eu trabalhei na casa, ela chamava-se Diva, o marido dela era compositor de música do Roberto Barreiros, ele chamava Samuel Lila, não sei se você já ouviu falar, e eu tenho saudade das músicas do Roberto Barreiros porque eu nunca mais ouvi tocar essas músicas, eu nem sei ainda se ele ainda existe, esse artista, eu não sei, ele era compositor das músicas dele esse homem, ele morreu.
P/1 – Ficou muito tempo lá?
R – Eu fiquei seis meses só, porque eu já arrumei um outro serviço para ganhar mais, ganhar dobrado, aí eu saí de lá, mas eles eram umas pessoas boa.
P/1 – A senhora tem lembrança desse trabalho?
R – Tenho, nas casas tudo que eu trabalhei eu tenho lembrança, que eu cuidava duma menina que chamava Alexandra, Alessandra, ela era filha de uma italiana, nunca mais eu vi essa menina, desde que eu casei, eu tenho saudades dela, eu tenho a foto dela, que eu falei que um dia eu ia pôr na Internet, eu ia procurar ela, porque ela me chamava até de mamãe. Depois, o meu patrão na época, desempregou, foi embora. Eu sei que surgiu um monte de coisa, eles sumiram. Ela era italiana, não sei se foi para lá, só sei que tinha essa menina, depois disso, eu fui só babá, na mesma família eu fiquei, da casa que eu casei, até hoje, aí fui babá dos meus filhos, eu trabalhei assim, na época, quatro anos,
P/1 – Como é que foi a escola, a senhora continuou a estudar aqui?
R – Quando eu me casei, falei para o meu marido, primeiro, quando Pacaembu, que eu trabalhei numa casa, trabalhei nessa casa pra mim ser copeira, e a copeira precisava atender telefone, e eu não sabia anotar os recados, só que a mulher me colocou, hoje ela já é falecida, não tem nem mais ele, nem ela, eles já morreram tudo, ela arrumou uma escola pra mim no (Colégio São Luís?), só que uma empregada dela, que foi de criança para lá, sabe pessoas que não queria ver ninguém bem, ela falou que ela queria voltar para lá, que ela trabalhava com a filha da mulher, e a filha estava nos Estados Unidos e ela não ia ficar sozinha com ela na casa e, devido a ela saber que eu iria pra escola e tudo, que a mulher arrumou escola pra mim de dia, ela pegou e fez com que eu saísse da casa, aí quando eu me casei, eu pedi para o meu marido também, porque logo eu fiquei grávida, era minha primeira filha, eu não tinha como estudar, aí depois que eu tive meus filhos, aí eu queria ir para a escola, porque tinha o Mobral perto da minha (casa), eu fui à noite para esse Mobral, fui receber o diploma da quarta série nesse, que foi aonde eu aprendi. Depois entrei no supletivo lá no Jaraguá, um colégio lá, aí eu estudei mais um ano e aprendi mais um pouquinho, devido os meus problemas de saúde, de pressão, minha cunhada faleceu, todo mundo na minha casa, eu perdi o ano, aí eu não voltei pra a escola mais.
P/1 – Como a senhora conheceu o marido da senhora?
R – Meu marido eu conheci trabalhando aqui no Pacaembu. A cozinheira da casa morava lá aonde eu moro, lá no Jaraguá, aí um dia ela falou assim pra mim: “Ô, Antonia, vamos na minha casa.” e minha tia, eu vivia com a minha tia final de semana, aí minha tia tinha namorado, aí ela já estava cheia de mim: “Você precisa arrumar um namorado.” ela mandava arrumar um namorado, aí sei que sempre tive medo de namorar porque nunca namorei, aí eu vou pegar o primeiro que eu nem sei da onde que é? Aí essa minha amiga, que trabalhava comigo, ela falou assim: “Ô, Antonia, vamos na minha casa, lá é tão gostoso, tem meus irmãos, tem bastante rapazinho que vai lá na vila.” porque antigamente, eles ligavam a vitrola e dançava o baile, eu era doida para dançar porque lá no Norte eu dançava, não te contei, mas depois das novenas tinha baile, dança com sanfona.
P/1 – E dançava bastante?
R – Vixe Maria! A melhor coisa da minha vida era dançar, aí eu falei para a minha tia: “Ah, tia, eu vou com a Angelina lá para casa dela.” Essa mulher, ela já faleceu também, a família, ela tem a família, mas ela faleceu, aí ela me levou pra casa dela para conhecer a família e nesse dia eu conheci meu marido lá, na casa dela. Quando eu vi meu marido, eu olhei pra ele, parecia homem casado, ele parecia ser casado, com as calçona tudo larga, eu falei: “Ih, esse é um homem velho, você vai?” aí começou a gostar de mim, na outra vez que eu vim, ele já foi me levar em casa, no meu serviço, aí começamos a namorar: “Eu posso levar você na sua casa?” “Pode.” Mas ele nunca falou que estava namorando comigo.
P/1 – Mas ele já estava?
R – “Posso levar você no cinema?” “Pode.” Aí ele pegava na minha mão, ponhava minha mão atrás das costas dele para mim abraçar ele. E a vergonha?! Eu não abraçava, custou para ele me dar um beijinho aqui, eu ficava com vergonha dele. Aí depois ele falou assim: “Eu vou conversar com a sua tia, para nós ficar junto, saindo, não é?” aí eu falei: “Está bom, pode ir.” Ele também não falou que nós estava namorando, aí chegou minha tia, ela fez um sermão para ele, falou que ele tomasse cuidado comigo, que eu era uma menina pura, aí ele me respeitou até o fim. Nós namoramos quatro anos, graças a Deus, ele me respeitou que nem fosse filha. Casamos. Graças a Deus, hoje nós vivemos bem. Foi tanta história na minha vida que se eu for contar, eu preciso de um dia inteirinho, não vai acabar de contar, esses meninos aí vão até dormir (riso).
P/1 – Que história que é essa a de você morar embaixo de um pé de jaca?
R – Ah, sim, sabe como é que foi, na época, eu não estava nem lembrando.
P/1 – Lá em Alagoas?
R – É, lá em Alagoas, O meu pai devido a doença dele, que meu pai foi casado pela segunda vez, o meu pai ele ficou doente e não pôde mais trabalhar na roça, nós vivemos quase de esmola, o pessoal dando as coisas, nós ainda era pequeno, eu estava com meus oito anos de idade para 10, meu pai faleceu. Não. Ele ficou doente nessa época, aí ele pegou e vendeu a casa dele para o meu primo, meu primo tinha muitas casas na região e toda casa que ele via barato, ele comprava, ele foi na minha casa, viu a situação do meu pai, e meu pai vendeu a casa pra ele, para ele ir pagando, toda segunda-feira dar um pouco do dinheiro, eu lembro que foi Cr$ 8,00 na época, me lembro como hoje, assim como num sonho que você teve, que você não esquece, eu vejo tudo, meu irmão pequeno, meu pai já velhinho, eu ficava no colo dele, eu lembro que ele me ponhava no colo, eu ficava, toda vez que ele chegava, eu sentava no colo dele, aí ele ficou doente, vendeu a casa para esse meu primo para pagar Cr$ 500,00 por semana para fazer feira, eles combinaram assim, durante o tempo que meu pai fosse vivo, a casa era do meu pai, na hora que meu pai morresse, a casa era dele, e nós éramos cinco dentro de casa, porque esse meu irmão estava com essa outra família, que é o mais velho. Meu pai durou oito anos vivo ainda, ele não morreu dessa vez, parece que Deus prepara tudo. Quando meu pai morreu, que eu estava com 13 anos de idade, essa família, que é um primo meu primeiro, ele mandou as filhas dele tudo ir lá, jogar pedra para a gente sair da casa, primeiro ele falou que ele fazia o enterro do meu pai, quando chegou na hora do enterro, ele não queria fazer, só que meu outro tio falou: “Você vai fazer o enterro dele, se você prometeu, você vai fazer.” Aí ele fez, depois de dois meses, ele chegou na minha mãe e falou assim, ele era compadre da minha mãe: “Comadre, eu vou vender a casa, a senhora quer comprar a casa?” minha mãe: “Compadre, como é que eu vou comprar a casa, se eu não tenho nem o que comer?” ele disse: “É porque eu estou a fim de vender a casa, eu preciso da casa.” a minha mãe disse: “É, a única solução que eu tenho que fazer é ir para onde?” “A senhora dá um jeito.” Falou assim. Depois de dois meses o comprador que comprou a casa chegou com a mudança, nós tivemos que tirar tudo o que a gente tinha, coisinha, que não tinha quase nada, não tinha mesa, não tinha fogão, não tinha nada, só panela velha, prato e roupa velha que você tinha, que você ganhava, aí pus tudo dentro de uma mala, porque lá isso chama baú, levamos para debaixo do pé de jaqueira, aí nisso os vizinhos falaram assim: “Não, põe a mala aqui.” Aí minha mãe pôs a mala com as roupas velhas dentro da casa da mulher que pediu para deixar lá e nós ficamos debaixo do pé de jaqueira, cozinhando ali. À noite, os vizinhos, outro vizinho, falaram assim: “Olha, duas meninas dorme aqui comigo, os outros dois a senhora arruma lugar para dormir com eles lá.” Então, nós vivemos um ano e meio assim, debaixo de um pé de jaqueira, quando...
P/1 – A noite ia dormir dentro da casa?
R – Ia dormir nas casas. Quando chovia, que a panela estava no fogo, cozinhando, porque comida de pobre lá, na época, era feijão só com farinha, que era comida que a gente comia e dava graças a Deus ter, e a gente comia e era feliz, graças a Deus eu sou feliz, tudo que eu passei, eu agradeço, o que eu tenha, graças a Deus, (choro) que eu tenho hoje, aí a gente pegamos e ficamos debaixo dessa árvore lá, aí um compadre da minha mãe pegou e falou assim, um outro: “Comadre, se o José Basílio...” ele chama José Dourinho, esse meu primo “Se ele me der madeiras...”, porque ele tinha muito madeiramento, mata: “...Se ele me der as madeiras, eu faço uma casinha para a senhora aqui nesse terreno”. que aquele terreno, que tinha do lado, era de uns irmãos que eu tinha aqui em São Paulo que, quando a mulher dele morreu, a do meu pai, a primeira, foi dividido aqueles pedaços para eles. Aí minha mãe escreveu para a minha tia, minha tia entrou em contato com eles aqui, eles falaram: “Não, pode deixar eles morando que a terra é nossa, eu nunca vou tomar deles esse pedaço lá. Aí vocês pegam e constroem uma casinha lá”. Esses irmãos que nem conheciam a gente, que meu pai foi viúvo que, depois que ele conheceu minha mãe lá e casou, aí esse compadre da minha mãe fez a casinha para nós bem baixinha assim, um quartinho que só cabia a cama, a salinha e um fogão de lenha, que a gente vivia assim, aí a gente viveu lá até eu vim pra São Paulo, nessa casinha. (Pausa)
P/2 – A senhora ia contar a história da senhora e do marido da senhora.
R – Agora me fugiu da cabeça, da memória.
P/1 – Só voltando, uma coisa que eu fiquei curiosa, vocês foram morar naquela casinha e ficaram lá até a senhora vir para cá?
R – Isso, até vim para cá, que eu fiquei, e foi quando eu conheci meu marido, eu conheci meu marido, eu acho que eu parei, a gente se encontramos na casa, da minha amiga, que eu conheci ele, aí ele foi conversar com a minha tia, a gente ficamos namorando. Depois ele me convidou para ser noiva dele, depois de dois anos, eu falei: “Você ainda nem falou de namoro para mim, você já está querendo ficar noivo?”. Aí ele brincou comigo: “Você quer namorar comigo?”, porque ele nunca chegou a falar nada. A gente foi tendo amizade, saindo junto, aí ele me levou para Minas, pra mim conhecer os pais dele lá, a irmã dela estava aí, ela me acompanhou junto porque eu era de menor, eu não podia viajar com ele sozinha e eu ia, porque na época não tinha essa liberdade de um namorado sair com a namorada e chegar na casa dos pais, porque os pais iam se assustar, tinha respeito antes, a irmã dele foi comigo e a gente ficamos noivo lá em Minas, lá numa cidade que chama Matinho, tanto que quando eu casei, o pessoal falava: “A sua lua de mel foi naonde?” “Foi no Matinho”. Aí as pessoas: “Ué, você é doida, falar que casou no matinho?” “Num lugar que chama Matinho, lá em Minas”. E eu falo isso, Matinho, para também as pessoas já têm maldade mesmo.
P/1 – Tudo na brincadeira?
R – Tudo na brincadeira: “E a sua lua de mel? Quando você casou, você foi para onde?” “Fui pra Minas.” “Que lugar?” “Pro Matinho, foi lá minha lua de mel.” A cidadezinha, o sítio que eles moravam que chamava Matinho.
P/2 – Quantos anos a senhora tinha quando casou?
R – Dezenove. Eu comecei a namorar com ele, com 15 anos, ainda ia completar quinze quando eu conheci. A nossa vida foi assim, ficamos quatro anos namorando, aí depois a gente casamos, já tive minha filha, que foi a primeira. Foi assim, casamos e fomos construir uma família. Hoje eles estão tudo com essa idade que estão hoje. Tem as duas netas maravilhosas, uma chama-se Maria Gabriela e a outra (Yasmim?). Essa Maria Gabriela foi a história da minha vida também, eu queria pôr o nome dela de Maria Gabriela, a mãe não queria pôr, aí eu fiz um pedido para ela, porque ela nasceu no dia da mãe rainha, ela queria pôr Gabriela, eu falei: “Não, põe Maria Gabriela, não tem problema.” ninguém chama ela de Maria Gabriela, mas eu só chamo ela de Maria Gabriela, eu não sei falar: “Como é o nome da sua neta?” “Gab.... Gab...” não sai a palavra, só Gabriela, sai Maria Gabriela. Todo mundo chama ela de Maria Gabriela, eu ensino para ela: “Quando perguntam seu nome, diga Maria Gabriela.” aí, antes, quando perguntavam, ela; “Maria Bribiela.” (riso), ela não sabia falar os dois juntos.
P/1 – Mas a mãe rainha é...
R – É, é uma santa, a Maria, então ela é uma santa, a igreja do nosso bairro é a mãe rainha.
P/1 – Como chegou a Natura daí?
R – A Natura chegou assim, eu tinha uma amiga minha que vendia Natura, eu vendia Avon, eu comecei a vender Avon, ela disse assim: “Você não usa Natura?” eu falei: “Eu nem sei o que é Natura.” (riso) ela disse: “Natura é um perfume.” aí ela me mostrou a revista e me mostrou as fragrâncias, eu gostei do “Ramage”, foi meu primeiro perfume, que eu usei da Natura, eu comprei o perfume da mão dela, esse perfume tinha que durar um ano, porque ele era meio assim, diferente dos outros que eram mais baratinho, aí eu só usava Natura, mas eu vendia Avon para todo mundo, depois eu resolvi usar, o pessoal achava o cheiro gostoso em mim, aí eu falava: “É Natura”. “Ah, mas é Natura? “ “Você quer Natura? Então, espera aí”. Fui pegando a revista dessa minha amiga, eu vendia para ela, fui começando a mostrar Natura, a mostrar Natura, e entrei direto vendendo na Natura e, graças a Deus, hoje eu tenho um emprego, porque eu nunca trabalhei depois que eu casei. E hoje, graças a Deus, eu falo para todo mundo que eu sou empregada, que eu tenho meu dinheirinho, nunca faltou dinheiro pra mim, a partir desse momento, juntei dinheiro, já fiz muita coisa com o (dinheiro) da Natura, graças a Deus, porque eu sei trabalhar com a Natura, porque antes eu já vendia, eu sei como que ganha dinheiro, você tem que ter as manhas para você ir ganhando, porque eles oferecem muita coisa boa pra você, porque tem a Avon, tem essas outras firmas ai, eles oferecem brinde se você indicar, a Natura não, ela dá aquelas promoção de pontuação se você vender tanto, tantos pontos você fizer, você ganha, e eu foi assim que eu fui juntando com as promoção e eu consegui juntar muito e, graças a Deus, eu tenho o meu estoquinho em casa, quem pede, eu já tenho para entregar, quando acaba eu já estou pedindo de novo, já renovo tudo, aqueles que eu não tenho, eu já vou vendo que eu não tenho e já coloco lá e, assim, eu atendo todo mundo. Graças a Deus, vendo bastante para homem, para criança e para senhora de idade, eu estou oferecendo duas amostrinhas para eles sentirem, eu falo: “Não é obrigado a comprar, você sente o cheirinho, se você gostar, você me procura”. E assim eu comecei, fazendo amizade com as pessoa.
P/1 – ______________________________consultora?
R – É, eu falo muito para as pessoas porque, às vezes, as pessoas falam assim “Ai, mas eu não tenho dinheiro, estou sem emprego.” porque eu ofereço perfume e mostro: “Ah, se eu estivesse trabalhando...” “Você não está trabalhando?” elas falam: “Não.” “Você não quer vender Natura? Natura é um emprego, você vai ganhar, olha eu, você vai, você vende tanto, você ganha tanto e tem as promoção que você pode comprar e estar vendendo outro que você ganha.” então eu já levei muita gente para a Natura, eu conheço pessoas lá fora, nem conheço, que eu ouvi, que fala que está desempregado, dou meu nome para ela todo, completinho, e falo: “Se você resolver entrar na Natura, você dá meu nome, em tal lugar tem o escritório, então você liga direto e dá só meu nome”. E, às vezes, eu recebo muita cartinha da Natura, de pessoas que eu nem sei quem é, agradecendo.
P/2 – Que ano você entrou, Antonia?
R – Eu entrei, eu não me lembro da data certinha, porque tem horas que eu tomo tanto remédio, as vez, que me foge da cabeça, tem oito anos que eu entrei para vender a Natura, parece que foi no mês de março, por aí, eu fiz uma viagem para Porto Seguro, em janeiro, oito anos atrás, quando eu cheguei em janeiro para fevereiro, eu entrei, início de fevereiro, não me lembro a data.
P/1 – Lembra do primeiro momento da venda?
R – Lembro.
P/1 – Da caixa de produto chegou?
R – Lembro, nossa! Eu não via a hora de abrir a caixa, porque a primeira caixa vinha aqueles sabonetes, vinha uma colônia, o Kaiak, na época, e vinha um sabonete daquele de mão, vinha um sabonete daquele.
P/1 – O Erva Doce?
R – É, o Erva Doce. E vinha mais um outra coisa que eu não estou me lembrando. Eu não via a hora de abrir aquelas coisas e ver o kit que estava lá dentro. Com aquele kit que eu inteirei para fazer os pontos que eu tinha pedido, aí eu vendia a colônia, tinha outra coisa oferecendo, não sei se era refil, não estou lembrada, eu sei que tinha mais uma coisa, ah, eu acho que era o óleo Sève, era o óleo mesmo, eu fui ver e vendi ele e inteirei, o primeiro mês, fiz 85 pontos. Comprei o resto e foi assim que eu fui começando, eu falei: “Ai, meu Deus, será que esse mês eu vou vender? Eu vou vender sim!” que eu tinha muita fé, quando eu falei: “Eu vou vender, eu vou conseguir, eu consigo” eu consegui, eu não tenho medo, eu faço cada loucura, que eu falo: “Será que eu vou conseguir?” chega no dia, dá tudo certinho, foi de lá para cá que eu comecei, eu peguei uma promotora muito boa, porque a Jucélia, eu falo muito bem dela para todo mundo, porque é difícil uma promotora do jeito dela, que ela é muito amiga da gente, ela é muita amiga mesmo, não digo as outras, mas como tem vendedora que vende com as promotoras, elas falam pra mim que as promotoras dela não são que nem eu falo que a minha é: “Nossa, sua promotora fez?” “Fez, ela faz muita promoção para a gente”, ela liga para a gente, ela fala, ela incentiva, ela é um pessoa legal.
P/1 – Quais os produtos que marcaram história da senhora com a Natura, são esses produtos primeiro, a senhora acha?
R – Os mais conhecidos que eu conheci, foi o Kaiak, o óleo que é o de calêndula, que era o que eu mais vendia na época, aquele óleo lá, uma colônia que saíram... Como é que eram os nomes delas? (Saóa?), umas colônia que eu vendia bastante dela, eu não estou lembrada mais o nome.
P/1 – E qual que tem o seu jeito?
R – O produto que tem o meu jeito?
P/1 – É, qual seria?
R – Sei lá.
P/1 – O que é a sua cara?
R – Eu acho que é o Kriska Jeans, eu vendo muito ele também, essa colônia que eu te falei, que é dessa linha do Ramage, agora tem outros perfumes bem mais gostoso que saíram, eles fizeram muito, então para falar a verdade, eu acho que todos os perfumes da Natura têm o meu jeito, todos, porque eu gosto de todos, o Tarot, adoro o Tarot.
P/1 – Quais são os mais vendidos?
R – Os que eu vendo mais, para falar a verdade, é a linha masculina, o Kaiak, o Sintonia, o Hoje, é os que eu vendo mais, eu vendo todos, mais o que sai mais, o que eu peço de bastante e vendo tudo, quando eu vejo já não tem mais nenhum, é o Kaiak mesmo, é o Kaiak que eu vendo mais de todos.
P/1 – E os mais conhecidos, quais são?
R – Os mais conhecidos são o Kaiak, o Sintonia, que as pessoas me pedem muito, o Hórus, que antes tinha aquele outro que tinha o cheiro do Hórus, era um outro, esqueci agora, eu sei que todas as pessoas perguntam, da Natura varia, as pessoa falam: “Ah, eu gosto desse. Você tem esse perfume?” “Tenho.” Mas os mais conhecidos mesmo são esses aí. O Sr. N, que é o desodorante, que as pessoas compram muito, o Kaiak, o desodorante que eu vendo mais, e o Sintonia que está saindo muito ele, o pessoal pede muito o Sintonia, agora esses outros novos, a gente ainda não tem a base, se vai ser igual, porque vende bastante também, só que, para mim, das minhas vendas, o primeiro lugar é o Kaiak, e o Kaiak Aventura também está saindo bem.
P/1 – O que a senhora acha da Natura vender o refil dos produtos, facilita a venda?
R – Facilita muito.
P/1 – Por quê?
R – Tem pessoas ainda hoje que não sabe que tem refil, então a gente, que é uma boa vendedora, tem que explicar o que está tendo, para ajudar as pessoas, porque as pessoas, vamos supor, compram o desodorante e não sabem que tem o refil, então ajuda muito porque eles se incentiva a comprar mais, porque sai mais barato um pouco e eles acabam comprando mais, eles acabam usando mais, porque sabem que o refil é mais barato, toda a linha que tem refil, eu acho que todos deveriam ter, agora os perfumes eu não vou dizer, porque perfume com refil não pega bem, que as pessoas já me perguntaram: “Não tem refil?” eu falei: “Não tem.”
P/1 – As pessoas pedem o refil?
R – Pedem o refil: “A colônia não tem refil?” “Não.” graças a Deus que não tem, não é? (riso)
P/2 – Como que é a relação da senhora com os clientes?
R – Boa.
P/1 – Como é que?
R – É brincadeira o dia inteiro quando eu estou vendendo. Incentivo, falo para eles que pessoa perfumada é outra coisa, não é? Cabelo limpo, tem que falar com eles, cheirosos, principalmente os homens, nossa! Eu passo perfume neles, as amostrinhas, no braço deles com a minha mão bem levinha, eles ficam todo todo, aí quer que passe no outro braço, eu passo, perfumo, passo assim, eu não tenho vergonha de passar, eu passo sem malícia, aí tem um: “Ai, meu Deus.” Eu falei: “Você chegou em casa, não fala que fui eu não, porque senão a mulher vai lá na minha casa, e eu vou vender muito pra ela!” “Deus me livre, da minha mulher ir na sua casa, daí ela vai gastar tudo meu dinheiro.” (riso).
P/2 – E como a senhora faz a entrega, como que é esse processo, o cliente vai até a senhora, a senhora que liga pra ele, como é que é?
R – Muitos vai até minha casa, porque eu passo meu telefone, sabe que eu tenho meu estoque lá, eles pedem de última hora: “Ah, eu preciso amanhã dar um presente, você tem isso?” “Tem.” “Você tem isso?” “Tem”. Quando não tem, eu incentivo a comprar outra coisa, porque não é tudo que você tem, eu compro um pouquinho de cada e conforme sai, eu pego de novo.
P/1 – A senhora faz estoque?
R – Eu faço porque eu vendo mais assim do que na revista, eu vendo mais em casa.
P/1 – Quais que a senhora mais tem de estoque?
R – Eu tenho o Sabonete do Erva Doce, desodorante, refil.
P/1 – É o que sai mais?
R – É os que mais sai, e tem um pouco de cada de perfume, os perfumes mais caros, eu pego dois, três, daí quando só tem um, eu vou e peço de novo, eu vou fazendo assim, eu fico olhando, porque se o cliente pedir, eu tenho lá, eu não vou deixar ele sem, eu sempre estou deixando um de reserva, tem um lá, eu vou, compro dois, se tem promoção, eu compro mais, eu faço assim. Shampoo também eu tenho, eu tenho refil, eu tenho em casa, a única coisa que eu não gosto de deixar lá é batom e maquiagem, porque as pessoas pegam coisa diferente, esse aí eu não deixo não, eu deixo pouquinho lá e, também, como eu faço o pedido e entrega rápido, então eu pego e já faço um pedido rapidinho e já chega, está na mão, amanhã seu produto já está na mão, não se preocupe, porque eu dou um jeito de chegar.
P/1 – A senhora entrega como, a senhora vai levar, vai de carro, vai a pé?
R – Depende, em algum lugar que eu vou levar, outros vêm buscar em casa, porque eu ligo: “Olha, seu produto já chegou.” Se a pessoa pedir para mim levar, eu vou levar.
P/1 – É tudo perto, vai de ônibus, é tudo a pé?
R – É tudo perto, é. Agora, se é longe, eu procuro ir levar lá de carro, eu vou levar, não é por isso que a pessoa vai ter que vir buscar não, vou levar: “Pode ficar tranquilo, você quer pra que dia?” “Tal hora.” “Posso levar de noite?” “Pode” “Estou indo levar”. Não tenho hora de entregar também não, eu trabalho assim, dou para as minhas amigas vender, aquelas que não querem entrar direto, elas também me ajudam, não vou dizer que sou só eu, porque elas são minhas companheiras também de trabalho, essas meninas que vende, para _______________ o dinheiro delas, eu também ajudo elas, elas me ajudam e eu ajudo elas, acaba ajudando elas mais que elas me ajudando, porque eu incentivo elas a usarem o produto, também que elas não usam, eu falo para elas usarem o Chronos, eu dou as amostrinhas para elas usarem, elas ficam, acabam usando, acabam comprando, porque faço assim, dou a amostra mesmo, não fico com nada em casa, dou tudo as amostras, dou para homem, dou para a senhora, para aquelas pessoas que está no tipo de usar, conforme a idade, dou as amostras do creme.
P/1 – Isso é uma estratégia de venda, depois a pessoa acaba comprando?
R – Acaba comprando, tem pessoas que falam assim: “Olha, aquele perfume que você me deu, sabe aquela amostrinha que você me deu?” eu falo; “Você tem que me trazer o vidrinho, para mim saber o que eu dei, porque eu não vou gravar o que eu dei.” eu falei: “Você guarda o vidrinho se você gostar, quando eu dou, se você gostar, você me pede, você não jogue fora, e se você não quiser comprar de mim, você compra de outro, eu também deixo aberto”. Elas acabam procurando: “Sabe aquele lá, sabe aquele batonzinho que você me deu, gostei tanto dele, ainda tem amostrinha?” eu falei: “Não, amostrinha agora não tem, só pra comprar.” (riso) que eu também não vou dar só amostra.
P/1 – O tempo todo?
R – Não, não dou, primeiro eu faço assim, eu dou a amostrinha para pessoas que nunca compraram a Natura, eu dou, eu sempre estou dando, agora as que já usam Natura, que compram o batom, se eu ficar dando as amostrinhas do batom, elas não compram mais, e eu dou uma amostrinha primeiro que está saindo, eu pego e dou para mostrar cor, elas acabam gostando do batom e encomendam, eu não vai dar o segundo pra ela, eu não faço isso, tem umas vendedoras que podem até fazer, só que eu não faço, quantas me pedem o mostruário para comprar: “Você arruma mostruário para mim” “Não, a Natura não vende mostruário, só para nós, porque se nós for vender, nós não vamos vender o produto, principalmente para quem faz maquiagem, elas querem aquilo lá, me pedem muito: “Ah, mas fulana disse que vai conseguir” “Mas, não pode”. E a gente não deve fazer isso porque nós deixa de vender sombra, nós deixa de vender os batom, as pintura nós deixa de vender, porque ela já tem lá, usa só as amostras, aí eu falei: “Ai meu Deus, só por Deus mesmo.”
P/1 – Como é esse tempo todo, esses oito anos trabalhando, seu relacionamento profissional com as consultoras, com as promotoras, com os clientes, como que foi crescendo isso, a senhora começou revendedora e virou consultora e aí tem reunião com as outras consultoras, a senhora conhece as outras consultoras?
R – Conheço.
P/1 – A promotora, parece que a senhora tem um relacionamento muito bom com ela.
R – Reunião mesmo, eu só vou no meu setor, agora as outras promotoras, eu nunca participei. Das outras, eu, às vezes, convido essas meninas que vendem para mim, que me ajudam, eu chamo elas para ir nas reunião, mas elas nunca podem, eu falo: “Vamos lá pra você conhecer os produtos.” eu chamo as pessoas que compram o produto pra ir conhecer, só que tem pessoas que nunca têm tempo, tem pessoas que sempre o tempo delas é pra casa, para televisão. Eu não tenho tempo de televisão para ficar assistindo, porque a minha vida, eu não dou conta, porque eu atendo as pessoas que chegam, eu vou para o banco pagar, eu vou buscar o dinheiro, faço muita coisa e tem as outras reuniões que eu frequento, tem a que estou indo. A Jucélia me convida para ir na Natura, eu vou, eu nunca deixo de não ir, porque é algumas coisa que você indo é que você vai aproveitar muita coisa, eu sinto assim, que eu indo, eu vou procurar me distrair mais e aprender, se eu receber esses convites, porque eu gosto de ir nos convites, que tem esses eventos, em todos os lançamentos dos perfumes, tem o showroom, eu nunca deixo de não ir. Tem um negócio lá na Natura, que vai fazer demonstração do sabonete que saiu, das coisas novas que eles convidam a gente, eu acabo indo para a oficina dos perfumes, eu gosto de aprender mais coisas e pra mim já, como eu já não tenho uma leitura, eu me entrosando no meio das pessoas que sabem, eu aprendo também, eu me sinto assim, procuro me distrair e aprender.
P/1 – Que região que a senhora atua? Ali do Jaraguá, só ali mesmo?
R – O quê?
P/1 – Que a senhora faz consultoria, que a senhora vende, em que região, é ali só no Jaraguá, em que região é?
R – É mais no Jaraguá, só que por onde eu ando, Jardim Macedônia, onde eu tenho parentesco de família, eu sempre estou oferecendo, estou levando. Eu ligo lá na cidade, tem pessoas que moram na cidade, minha tia trabalha, eu falo pra ela fazer, levar, as pessoas compram, ela leva, eu vou levar, eu faço tudo o possível que eu puder, eu estou fazendo, eu estou fazendo porque eu acho que se a gente está lidando com essas coisas assim, quanto mais você ter amizade e demonstrar o seu produto, vai ser melhor pra gente, que tem pessoas que nem sabe o que é Natura, e é bom a pessoa saber. Tem pessoas, ainda hoje, que não sabe, porque tem um produto que chama In Natura, eles confundem muito esse com a Natura, eles acham que esse é a Natura, e não é, e chama In Natura. É uma revista, um rapaz ligou para a minha casa, ele disse que pegou meu nome nos computador, disse que sabe que eu sou vendedora de muito tempo disso e daquilo, se eu não gostaria de entrar, é um produto parecido Natura, só que não é Natura, aí eu não me interessei não, porque eu falei, eu já vendo Natura, eu não quero misturar, eu dispensei ele, eu falei que já era muita coisa pra mim e que eu preferia ficar só com a Natura mesmo e porque eu não ia dar conta também, se eu pegasse outro produto, ia cair minhas vendas da outra parte, e eu preferia ficar assim. Aí dispensei e ele não ligou mais, tem pessoas que ainda falam pra mim desse daí, aí eu falo: “Não é esse aí, é outro.” eu não sei, eu acho que ele é desconhecido, não sei se vocês conhecem, é um produto que tem, foi até da Paulista que ligaram pra mim.
P/1 – Juntando todos esses atendimentos, quantos clientes da Natura a senhora costuma atender por mês?
R – Varia, umas 30, 40 pessoas.
P/1 – Que já são fixas?
R – Que compram, acaba e vem de novo me procurar, aí eu vou fazendo divulgação mais.
P/1 – Como a senhora faz para captar um novo cliente?
R – Tem pessoas que trabalham em firma, aí eu dou uma revista para eles levarem, ponho o meu telefone na vitrine e eu falo assim: “Você oferece, se a pessoa não quiser comprar hoje ou depois, você pega e manda ligar para mim, anota e depois dá pra eles”. Porque eu não fiz cartãozinho ainda, preciso fazer, e toda vez esqueço dos cartão, isso é uma vergonha, não é? (riso) Isso vocês cortam, hein gente!
P/1 – Fez falta o cartão?
R – É para mim fazer, mas sabe, na memória, e eu não peço os cartão, porque isso ajuda muito, eu dou o meu telefone, escrevo, dou o cartãozinho, mas os cartõezinhos da Natura incentiva mais a gente, é um desleixo de mim, de eu não ter feito isso daí, não é verdade? Eu coloco o telefone nas vitrines, distribui tudo, manda deixar lá, só que o telefone está lá, as pessoas, às vezes, liga e fala: “Você é a fulana?” “Sou.” “Porque eu estou com a revista sua aqui e eu gostaria de saber desse produto, ainda tem?” “Tem”. Tem pessoas aqui na Paulista que tem minha revista e sempre me liga, essa pessoa usa shampoo de caspa.
P/1 – E a senhora vem entregar?
R – Não, a minha amiga trabalha na casa há muitos anos, ela traz, eu sempre faço assim, eu procuro, onde for longe, ter outras pessoas, meu marido mesmo, quantas caixas de produto ele não levou para o Pacaembu, eu moro no Jaraguá, tem uma academia lá no Pacaembu que eu tenho uma conhecida que trabalha lá, eu fiz isso e ele vai levar duas caixas cheias, ele já leva.
P/1 – Desses clientes, são mais homens, mulheres, de que idade mais ou menos?
R – É mais mulher que vendem pra mim, tem moças...
P/1 – Os que compram.
R – Ah, os que compram?
P/1 – É.
R – São mais pessoas da faixa de 30 anos para cima.
P/1 – Mas homem e mulher?
R – Homem e mulher juntos.
P/1 – No mesmo tanto?
R – É.
P/2 – Os clientes ficam amigos?
R – Ficam amigos, nossa! (riso) Eu dou brinde para eles, tem que ser amiga, eu dou sabonete: “Nossa, você está dando?” “Estou dando pra você sim, você fez uma compra, você merece.” R$150,00 não merece ganhar um caixa de sabonete, não merece ganhar um desodorante? Não merece ganhar uma nécessaire que, às vezes, vem os kit, às vezes, eu compro a mais, a pessoa pede uma colônia, não tem um brinde lá dentro? Eu dou com tudo. Eles ficam feliz de comprar uma colônia e vim um brinde lá dentro, então eu faço isso, eu sempre procuro deixar as pessoas felizes de comprarem de mim porque eles ganham os produtos. Quantos não vão na minha casa com outro, que a outra pessoa leva, e não sai sem nada, porque eu dou sabonetinho para ele, dou um perfuminho, eu agrado as pessoas que vão na minha casa que também não compra. Eu falo: “Você não usa Natura?” “Nunca usei.” “Leva esse sabonetinho pra você lavar o rosto”. E elas acabam comprando de mim depois, elas me ligam, eu dou o papelzinho, que é uma vergonha eu falar isso, que eu não tenho, sinceramente, eu não devia nem ter falado nisso agora.
P/1 – Qual a principal exigência dos clientes Natura, eles são exigentes?
R – Não, não são exigentes, as únicas coisas que exigem é a sacolinha, porque eu acho que a vendedora que tem seus produtos seja lá qual for, tem que ter sacolinha porque fica mais chique para você entregar um produto na sacolinha, não é você pegando uma sacola no supermercado e dar. Eu fico feliz quando uma pessoa sai da minha casa com uma sacolinha da Natura na mão.
P/1 – A sacolinha vem junto?
R – Eu compro ela separado.
P/1 – A consultora compra, não é?
R – É a gente compra. E fica bonito, não é verdade? A pessoas sair com a sacolinha ou levar para uma outra pessoa com a própria sacolinha, que nem quantas coisa que eu vendo da Avon e eu pego e ponho na própria sacola da Natura, porque eu fico com vergonha de a pessoa sair com outra sacola, eu prefiro sair com a da Natura, não é desfazendo não, porque a firma do Avon é muito boa, eu também falo bem dela, que eu já tenho 20 anos que eu trabalho na Avon, eu sou estrela lá no Avon, eu recebi o meu broche esses dias, de ouro, eu também sou estrela, onde eu ando eu procuro ser uma estrela.
P/1 – Você tem outras pessoas da sua família?
R – Não, não tem, da minha família, só eu que tem, sei que tem muitas coisas, tanta coisa bonita que eu poderia ainda contar.
P/1 – Você tem algum caso engraçado desse tempo de consultora, da senhora, alguma coisa engraçada, que aconteceu, que a senhora não esqueceu nesses oito anos?
R – Uma história engraçada? Na hora assim não dá para lembrar.
P/2 – Uma história boa que a senhora lembra, como a senhora falou agora: “Ah, tem cada história!” conta um pra gente.
R – Onde eu estou eu faço amizade, então as meninas que ficam do meu lado, estão sempre dando risadas, é dentro do ônibus, porque eu conto histórias de coisas que aconteceu, elas acham engraçado e ficam dando risada, até por nada, eu nem acho graça, elas riem, eu falo: “Ai meu Deus do céu!” É igual o filme daquele homem engraçado, que já faleceu, do Mazzaropi, todo mundo dá risada e eu não consigo dar risada, eu dou risada porque eu vejo os outros rindo, é assim, umas coisas assim, que eu falo e as pessoas riem, eu também dou risada, umas coisas que acontece com a gente, que marca, é de você viajar com as promotoras, com as colegas de trabalho da gente, a gente vai junto com elas... É, uma história que eu poderia contar, eu não estou lembrada.
P/1 – Qual o maior desafio e o sonho que a senhora alcançou?
R – O sonho foi a minha casa, que eu sonhava com uma casa. Eu tive um sonho, quando eu era ainda criança, criança não, dos meus 13 anos, eu tive um sonho de uma casa grande, acabadinha, com piso, porque eu nunca tive uma casa dessa lá no Norte. Então, meu sonho de lá, era esse, de um dia eu ter minha casa, tanto que quando eu estava lá, eu sonhei com uma casa, só que essa casa não foi a minha, foi uma casa que eu trabalhei nela aqui em São Paulo, e essa casa, eu tive o sonho lá, e eu trabalhei nessa casa, eu entrei na casa a primeira vez que eu cheguei, eu fiquei olhando para aquela casa porque eu já tinha andado nela, no sonho que eu tive, aquela casa não foi a minha, a minha foi outra casa, só que foi a primeira que eu trabalhei, eu tive um sonho antes assim e o sonho que eu tive que eu realizei, foi de ter, um dia, a minha casa, o que fosse meu marido, e eu consegui, porque eu tive muita fé em Deus e eu pedia para ele me mostrar um marido, porque meu marido é muito bom, ele é um marido e um pai junto, tanto que tem vezes que falo assim: “Você é igualzinho ao pai. Você é meu pai.” chamo ele de pai, tem horas, eu falo assim, eu chamo ele de pai: “Eu não sou seu pai, não.” “Você é meu pai, sim.” Porque ele foi bom comigo, com meus filhos, então foi um sonho que eu tive, de um dia ter uma família bonita e minha casa, que nem hoje que eu tenho minha família e minha casa, dessa vida toda que eu tive, ajudei famílias minha, que até hoje eu estou ajudando, procuro fazer alguma coisa de bom pra eles. A minha sobrinha, eu ajudei a fazer as festas dela de casamento, de aniversário, incentivei ela a subir na vida, meus irmãos. Tem coisa que eu já passei na minha vida que eu falo assim: “Gente, dê graças a Deus que vocês têm seus filhos, não precisa ter dinheiro nem riqueza, se você tiver uma família que ela seja boa, você consegue tudo, porque a união que você consegue, porque minha família é unida”. Meu marido com meus filhos, ele não deixa faltar nada pra eles, se eles vêm, porque eles já viram o que nós passamos, desempregado meu marido, desempregou uns três anos, nós passamos necessidade, se não fosse as coisinhas que eu vendo, nós passamos muita coisa para chegar até onde nós chegamos, as crianças tudo pequena, não tinha sapato pra pôr no pé, ia para a escola com o sapato tudo furado, arrancando os pedaços, eu pedia cola pro homem de madeira, lá onde fazia móveis, colava o sapato deles, punha debaixo do bloco para, no outro dia, ir pra escola, o menino vinha chutando lata no caminho, o sapato vinha todo rasgado de novo, eu falava: “Ai, meu Deus, eu não acredito isso.” aí tinha um que tinha camiseta minha, que eu comprava, e fazia assim, mordia a camiseta tudo. Menina, mas já passou tanta coisa na minha vida. Meu marido perdeu o carro, teve acidente, teve um monte de coisa e, graças a Deus, nós não deixamos de ter fé, nunca. Na estrada de Minas o nosso carro caiu com a gente dentro, ribanceira abaixo, não aconteceu nada, ele caiu de câmera lenta lá embaixo, no abismo, do meu lado, eu só segurei no volante para defender minha cabeça, saímos de lá perfeito, com o carro funcionando normalmente, na estrada de Minas, que a minha viagem era para Minas porque a família de meu marido morava lá, mora ainda até hoje. E a nossa viagem foi assim, a gente ia com os filhos pequeno para lá, meu marido com aquele carro dele, aconteceu essa coisas tudo, só que a gente teve muita fé. Eu falo, a pessoa tem que ter fé e muita fé e nunca se desesperar, porque nesse mundo a gente passa por muita coisa, você vai passar, que Deus está preparando para ver até onde vai sua fé e é na nossa fé que nós consegue as coisa, que nem hoje que eu falo, eu sou uma vendedora, eu também tenho, porque eu acho que todo mundo que quer ganhar, também perde, não é só ganhar, todo mundo passa por esses momentos, quantas pessoas que compra, não gosta de pagar, foge. Nem por isso eu vou deixar de vender, não, você perde aqui, você ganha ali, eu acho que isso é uma coisa na vida de nós que temos que ter fé, e não é porque você perdeu que você não vai voltar mais, nossa, menina, meu marido perdeu um carro para o ferro velho, capotou três vezes com ele dentro, não aconteceu nada com ele, foi para o ferro velho o carro dele; entraram na minha casa, meu marido desempregado, eu comprei as coisas com o meu dinheiro que eu vendia as coisas, comprei a comida, no Natal, o ladrão não foi lá e levou tudo, vou fazer o quê? Leva! Tem que ter fé, depois a gente conseguiu de novo e hoje a gente tem nossa casinha, recebo todo mundo, pessoas pobrezinha, mendigo que vai na minha casa, eu dou comida, nunca neguei nada, nem água, nunca neguei, se chegar assim: “Você está com fome?” “Estou com fome.” “Então, eu vou fazer”. Faço, graças a Deus, na minha casa eu tenho fartura de comida porque eu faço mesmo, porque olha o que eu passei na minha vida para trás, de você comer, almoçar aquela comida e de noite você não ter pra jantar e dormir com fome ou você se alimentar de manga ou então de laranja, de banana, que eu já comi até banana verde, cozinhada, vizinha lá, nós morando lá debaixo do pé de jaqueira, nós lá, com a panelinha no fogo, nós fomos buscar água nas fonte, quando nós chegamos, tinha um courinho de porco no feijão para dar gosto, a mulher não foi comer...
[Fim do primeiro CD]
P/1 – Vamos continuar, então. E prêmio da Natura, a senhora recebeu?
R – Já, recebi.
P/1 – Cinco anos?
R – É.
P/1 – Tem meta de receber mais algum prêmio da Natura?
R – Eu acho que com 10 anos você recebe um broche, não é?
P/1 – É.
R – Eu vou chegar lá, se Deus quiser.
P/1 – A senhora está dizendo que vende outros produtos, quais são?
R – Eu vendo Avon, eu vendo a ___ e vendo Demillus, tudo no meu nome, esse aí eu vendia bem antes de vender Natura, que eu já era vendedora, a Juceliazinha fez perguntas sobre os outros produtos, eu já vendia Avon, e da Avon eu estou vendendo até hoje, tem aquelas pessoas que gostam da Avon, outras gostam da Natura, a gente não se discute, não é? Tem gente que compra Natura “Eu gosto de Boticário.” “Não, eu vendo Natura” que eu explico que a Natura tem uns perfumes muito bom, que é usando a Natura que vai aprender a gostar, se a pessoa nunca usou, não vai nunca saber se a Natura é boa ou não, dessas pessoas, eu dou a amostrinha para eles usarem, para sentir o cheiro, porque eu também já usei a Boticário, só que o perfume que eu usei da Boticário, eu não gostei, igual eles que usam a Boticário e não conhecem a Natura. Tem essas pessoas, poucas pessoas perguntam, a maioria é mais Natura mesmo, e incentivo as meninas a vender mais a Natura mesmo, para elas falarem do produto.
P/1 – Depois de conhecer e trabalhar na Natura, o relacionamento da família, na vida financeira, na vida social, mudou bastante coisa?
R – Mudou. Porque depois que eu comecei a vender Natura, eu passei a ganhar mais, porque o Avon eu vendia bem menos, a Natura agora, eu ganho muito mais, fiz muita coisa depois que eu comecei a trabalhar para a Natura. O aniversário de 15 anos da minha filha, já fiz viagem, já ajudei meu marido na casa, na construção da casa, dei dinheiro para o meu filho comprar uma chapa de táxi, que também ele desempregou, eu só tinha dinheiro para mim comprar um carro, que eu juntei, porque eu falava assim: “Eu vou comprar um carro, porque com meu carro na mão eu vou vender mais”, porque eu posso fazer as entregas, porque se você não tem carro que nem, eu não tenho carro, eu dependo do meu marido, quando eu preciso, eu falei, eu vou juntar e comprar um carro para mim, porque assim eu faço minhas entregas, vou levar, e apresento as coisas da Natura, levo no carro, mas Deus não quis que eu tirasse minha carta, eu fui reprovada três vezes no Detran, porque eu sou nervosa, aí eu falei: “Quer saber? Eu vou guardar, se eu precisar do dinheiro para mim não precisar sair de táxi.” Aí meu filho ficou desempregado, eu, pensando no meu filho desempregado, e eu com o dinheiro lá, ele tinha feito o negócio do carro que faz táxi, uma carteirinha lá meu marido falou: “Se eu tivesse um dinheiro, eu ia comprar uma chapa de carro para pôr esse menino para trabalhar na praça”, aí eu falei: “Estou com um dinheirinho”, meu marido não sabia, aí eu falei que ia comprar um carro para mim, ele falou assim, ele e meu próprio filho, os dois: “O quê? A senhora vai comprar carro e vai tirar carta para quê? Para dirigir carrinho de pipoca?” porque eles achavam que eu não tinha dinheiro para comprar o carro, mas eu tinha, porque eu guardei e não falei que eu tinha, eu fui guardando, e falei: “É carrinho de pipoca mesmo que eu vou comprar, vocês vão ver o carrinho de pipoca.” Eu tinha, na época, 16 mil guardado, e foi os 16 mil que eu dei para ele comprar a chapa do carro, eu falei para o meu marido: “Eu tenho dinheiro, sim.” Ele falou: “Como você tem esse dinheiro? Você vai pegar emprestado dos outros?” eu falei: “Não, esse é meu dinheiro, eu ia comprar meu carro. Você lembra daquele carrinho de pipoca que eu ia comprar? É esse dinheiro que eu tenho, você vai comprar chapa, eu dou para você comprar, depois ele vai me pagando como pode, eu não vou exigir.” mas você também pegar e dar, tem que a pessoa também lutar que nem a gente lutamos. Aí meu marido falou: “Tem certeza desse dinheiro?” eu falei: “Tenho. Pode comprar a chapa que eu dou o dinheiro.” Eu fui no banco e dei o dinheiro na mão dele, ele olhou para mim e falou: “É”. Eu sei que meu filho ficou feliz, graças a Deus, e hoje ele trabalha com o carrinho dele, depois ele tinha comprado uma casa em Minas, eu fiquei com a casa em Minas pra mim, que estava pagando, que ele não podia pagar, eu peguei e fiz uma troca na casa de Minas por uma aqui em São Paulo, então eu tenho duas casas na mesma rua, tudo com esse dinheiro que me ajudou, eu falo: “Gente, o pouco, com Deus, é muito.” a pessoa que quer, consegue, porque nós não tinha nada, nós conseguimos do pouco, não foi do muito.
P/1 – A senhora não conhecia Natura antes de ser consultora, como foi depois de conhecer, o que a senhora acha da empresa Natura, depois de ser consultora e conhecer?
R – Nossa, eu nem imaginava de a Natura ser o que ela é hoje, eu imaginava uma coisa diferente, porque essas coisas que eu vendia, eu nunca tive convite para mim participar, igual eu tenho da Natura, então essas coisas que vou, que a promotora me convida, isso tudo me incentiva, você tem mais alegria, você sente mais prazer de você estar no meio das pessoas num lugar lindo, maravilhoso, só de você entrar ali dentro, você já fica leve, eu me sinto leve quando eu entro na firma da Natura, eu me sinto tão feliz lá dentro, que eu me sinto grande, eu me sinto enorme lá, e eu converso com todo mundo, eu faço amizade com as pessoas, você conhece bastante amiga que trabalha, que vende, faz amizade, sempre eu estou brincando, não sei se a Jocélia já falou para você, que nada para mim está ruim, eu estou sempre brincando, se eu estiver com dor de cabeça, eu fico quieta um pouco, e daqui a pouco eu estou bem, tomo o remédio e já volta tudo no normal, eu sou assim, eu animo as pessoas também, tem pessoas que está triste: “Você está triste?” às vezes, eu estou até pior “Por que você está assim?”, nossa, mas é tão boa, aí eu conversando com a pessoa eu melhoro, eu fico bem também.
P/1 – A pessoa também, não é?
R – É, porque eu fico: “Ai, meu Deus, estou lá embaixo” e a pessoa chega e diz “Me derruba mais?” “Não”, eu procuro animar a pessoa, mesmo que eu“esteje lá embaixo. Porque, às vezes, a gente não está bem mesmo de saúde, eu procuro e as pessoas falam assim: “Nossa, você pensa assim?” “É, eu penso assim”, falo minhas besteiras, porque eu não vou poder falar aqui, falo cada uma que as pessoas morrem de dar risada, o que eu falo para elas, não vou poder falar, o que a gente fala com duas, três mulher juntos, só tem mulher ali no canto, eu falo minhas coisas, meu marido: “Você é louca? Você me deixa morto de vergonha” “Não deixo não, meu filho, a realidade é essa.”
P/1 – E um grande sonho ainda não realizado, que ainda falta?
R – Eu tenho um grande sonho de fazer uma viagem com o meu marido sozinho, que eu nunca fiz, que eu falei para ele: “Essas partes aí, depois você...” ele tem medo deu estuprar ele (riso): “Você não vai comigo, por quê? Você está com medo?”.
P/1 – De levar para conhecer?
R – Eu queria levar ele para conhecer minha terra e Fortaleza, que eu tenho vontade de conhecer lá, porque eu não conheço, e passear um pouco com ele fora, só eu e ele, eu tenho um sonho assim, de sair.
P/1 – A Natura mudou o jeito da senhora ver o mundo?
R – Mudou.
P/1 – Depois que a senhora conheceu a Natura mudou?
R – Mudou, sei lá, ela mudou, eu não sei explicar assim, eu sei que eu mudei, eu era uma pessoa que, antes, eu vivia deprimida, hoje eu não vivo mais, das pessoas chegarem e falar assim: “Nossa, ela é assim”, aí eu ficava triste, eu não reagia, hoje eu reajo com as pessoas, eu converso, hoje eu não sou mais aquela mulher, que eu vivia assim, os outros faziam alguma crítica de mim, eu ficava triste, eu ia chorar, hoje eu não choro mais, eu choro sim, de alegria, choro de tristeza também de emoção, que eu sou chorona mesmo, as lágrimas descem e dá um rio aqui, qualquer coisa eu choro, qualquer emoção que eu tiver, eu estou chorando, eu fico feliz das coisas, então eu sou uma pessoa assim, e quero que a minha família e todo mundo que eu conheça, que também seja assim, que não sofra por pouca coisa, porque, às vezes, a gente põe na cabeça, acaba adoecendo, e ninguém consegue mais, dá uma depressão. Quanto jovem, rapazinho que não é nada meu, chega e eu ajudo eles, na palavra amiga, eu sempre procuro dar uma palavra amiga para as pessoas, me sinto com vontade de abraçar as pessoas depois disso tudo, eu sinto vontade de dar abraço, seja em homem, seja em mulher, adoro dar abraço e, antes, eu não era assim, abraçar as pessoas, ter carinho pelas pessoas e também fico triste das pessoas, as vez, não sei como que a gente é, e querer maltratar a gente, que elas não conseguem fazer o que a gente faz, aí elas ficam assim, às vezes, critica, eu falo: “Por quê?” eu falo: “Não, a vida não é assim.” eu procuro conversar com as pessoas não maltratando, eu dou uma lição de moral numa boa, para pessoa falar: “Puxa, aquilo que ela falou é verdade”, não maltratando, porque você não deve maltratar, você deve conversar, conversando normal, mesmo que eu esteja com vontade de dizer um monte, mas Deus me prepara, que eu converso calma, as pessoas me falam: “Nossa, mas você é crente?” “Não sou crente não, sou crente a Deus só”, não tem religião de igreja, de crente, eu sou católica, só que o Deus é um só, cada um com a sua religião, do jeito que se sente bem, eu não critico nenhuma religião.
P/1 – Quem é uma mulher bonita para a senhora?
R – Ai, meu Deus, uma mulher bonita eu acho que é uma mulher que sente felicidade dentro dela, eu acho que é, não é verdade?
P/2 – Uma pessoa bonita, homem ou mulher, o que é beleza, ser bonito para a senhora?
R – Então, eu sinto a beleza da pessoa ser comunicativo, ter carinho com a gente, dar carinho, dar palavras de carinho para a gente, nós ter uma noção de ter carinho um do outro, que eu acho que a vida é tão boa. Se todo mundo pensasse, ninguém maltratava ninguém, todo mundo tinha carinho um com o outro, todo mundo ajudava o outro: “Eu vou em tal lugar, vamos comigo? Que lá é tão legal, eu vou levar você” Eu acho que isso é uma forma de você achar uma pessoa bonita, no meu ver, tem coisas que eu não entendo muito também.
P/1 – Qual a dica que a senhora daria para uma futura consultora que estivesse interessada em ser consultora, qual a dica que a senhora daria para ela?
R –Eu daria uma dica que ela procurasse a promotora, vamos supor, eu mesmo, que quisesse entrar, que nem eu incentivo elas entrarem mesmo, que vender Natura, você tem um trabalho que você tem, é uma profissão sua ser vendedora, do meu ponto de vista é esse, eu aconselhava ela a entrar, porque tem pessoas que, realmente, ela precisa ter seu próprio dinheiro, ter sua vida, não ficar dependendo de uma pessoa que está apurado também que, vamos supor, o marido também ganha pouco, eu acho que é um incentivo para elas venderem, terem o próprio dinheiro delas, e também de ter um pouco mais de alegria nela mesma, não é verdade? Ter para ela si, porque eu acho que uma mulher que só vive dentro de casa vendo televisão, ela não é feliz, ela tem mais é que sair um pouco, porque ela saindo, ela chega tão feliz, que ela chega com felicidade quando o marido chega dentro de casa, ela chega, ela fica tão feliz que, às vezes, o marido chega nervoso, ela passa aquela alegria dela toda para ele, que ela sentiu, que ela tem, agora, se ela está nervosa, está lá dentro: “Ai, meu Deus, eu tenho que pôr a roupa no varal, a novela já vai começar tal hora”, porque tem mulher assim, que não faz as coisas, que não sai por causa da novela, elas não fazem nada e reclamam que não tem, fica com os cigarros fumando, fica com os cinzeiro entupido de bituca de cigarro, não tem coragem nem de levantar e jogar o cinzeiro fora, então eu acho que essas mulheres deveriam ter mais um pouco de ânimo na sua vida e fazer qualquer coisa, fazer alguma coisa na vida, porque eu procurei fazer isso pra mim me distrair, ganho o meu dinheiro, ajudo meu marido, se ele estiver apurado, eu falo: “Não se preocupe, nós vamos fazer isso, vamos lutar!” incentivo ele a me ajudar, levar as coisas, eu falei: “Precisa entregar em tal lugar”. Quando ele trabalhava em firma, ele também me levava à noite, quando ele chegava, porque de dia não dava e agora que ele trabalha com táxi, eu pego ele de manhã cedo para sair, porque ele chega 11 horas da noite.
P/1 – Ou é de manhã ou é de manhã.
R – De manhã cedinho, nós estamos saindo, vamos lá, eu digo: “Puxa, bem tão legal, você viu?”. Eu animo ele também, porque tem homem que não gosta que a mulher sai vendendo as coisas porque tem medo, sei lá, e não é assim que o homem deve pensar da sua mulher não porque uma mulher direita, se ela quiser errar, ela erra dentro de casa.
P/1 – A gente está quase no final da entrevista, a Dona Antônia, como ela é? Se a senhora fosse fazer um retrato, como a senhora acha que é?
R – Esse retrato eu não sei.
P/1 – Como que é a Dona Antonia Maria, na visão da senhora, uma pessoa animada?
R – Eu sou uma pessoa animada, eu sou carinhosa, tenho carinho com as pessoas, adulto, velho, criança, sinto carinho dentro de mim, das pessoas, se eu pudesse eu abraçava todo mundo. Eu queria ser uma mulher bonita, sair numa foto, num quadro (riso) eu queria ser uma mulher assim, não exibida, uma mulher simples, meu coração é bom, graças a Deus, eu tenho daqui de dentro para dar, eu posso não ter de fora, a minha beleza, mas daqui, eu tenho.
P/1 – O que a senhora achou de ter participado dessa entrevista?
R – Nossa, eu fiquei tão feliz que, quando vocês me ligaram, eu até chorei. Tinha um consultor lá em casa, tinha um rapaz que ele vende para mim, e ele escutou a minha conversa com você no telefone, e essa pessoa, eu falei assim para ele: “Eu vou te levar na Natura, você vai vender Natura ainda”. É um rapaz, ele leva minha revista lá na firma onde ele trabalha, ele foi me pagar, eu acho que é tudo coisa de Deus, ele não demora lá em casa, e, naquele dia, ele demorou, tinha ele e um outro do Recife, um outro rapaz de Recife que, esse um, ele é da Bahia, que estava lá em casa, ele mora sozinho, é um rapaz sozinho, tem o apartamentinho dele, e ele fez amizade comigo e ele vende Natura para mim, ele não quer nada, ele só vende, não quer comissão, não quer nada, eu acabo dando coisa boa para ele, dou kit para ele: “Não, Toninha...” ele me trata de Toninha, a maioria das pessoas me chamam de Toninha, aí eu acho essa palavra Toninha carinhosa, eu me sinto mais assim miudinha... Aí eu falei: “Eu vou levar você lá, Gil”, ele chama Gil, “Você ainda vai conhecer a Natura, eu vou te levar na Natura, você vai ser um vendedor da Natura, você vai ver como é legal e mesmo, antes disso, eu ainda vou levar você lá, se não quiser ir, para você conhecer a Natura.” eu falei assim para ele, ele estava lá e mcasa, aí os meus filhos “Ai mãe, nossa, você leva meu cartão e mostra lá para Natura, que eu sou eletro..” ele mexe com carro de som “...Que eu sou o Eletro Neném, mostra lá para mim, mãe”, esse meu filho chama Ruberlei, que esse meu filho que é brincalhão “A senhora leva lá meu cartão...” e o meu genro: “Nossa, puxa, que a Roberta pegou um papel, vim com o papel na mão.” para mim dar autógrafo. Ai meu Deus do céu, disse que eu ia ficar famosa.
P/1 – Contar sua história desde o comecinho até agora, o que a senhora achou?
R – De agora?
P/1 – Desde criança, de contar essa história, desde o início da vida da senhora até agora?
R – Eu achei legal porque essa história, se eu pudesse, eu fazia um livro, eu tinha vontade de escrever tudo que eu passei na minha vida, que nem agora, eu pulei muitas coisas, que se eu for falar, não ia dar não, eu ia escrever um livro, do comecinho da minha vida até hoje, mas tudo que eu fosse lembrando “Ah, eu lembrei disso.” eu ia lá e escrevia, tem muitas coisas que eu passei, porque que nem na época desse meu primo, vou te contar só um pedacinho do que aconteceu com ele, esse meu primo pôs a gente debaixo do pé de jaca, ele muitas coisas, muitas propriedades, e acabou tudo que era dele depois, ele ficou de esmola, ele ficou cego, isso foi uma coisa que ele fez não só com a gente de maldade, eu falo: “Gente, maldade não se faz para ninguém”, porque esse meu primo aconteceu essas coisas com ele, e ele hoje não tem nada, e ela era um homem rico, ele não precisava fazer o que ele fez com a gente, só que a gente não tivemos maldade com ele em nada, mas o que ele fez, não só com a gente, ele fez como os outros, de colocar veneno nos mamão para as pessoas não comerem, os mamão estavam perdendo lá, ele colocava essas coisas, então eu acho que isso não é coisa de Deus, que nem eu falo para os meus filhos, falo para todo mundo: “Não façam coisa errada, porque às vezes a gente não sabe no que vai acabar”. Eu sempre faço isso e falo para todo mundo, para as pessoas que eu conheço, converso muito com elas, eu falo para elas, não fazerem nunca as coisa errada, que Deus só tem a dar, não a tirar, quem anda certo, Deus dá dobrado, se você tira de uma pessoa, para você, sem estar precisando, nós não vamos levar nada desse mundo, então essa vida acaba dentro de um caixão.
P/1 – Você gostou de dar essa entrevista?
R – Adorei, adorei. Se eu pudesse, eu ficava o dia inteiro aqui.
P/1 – A gente também gostou, em nome da Natura e do Museu da Pessoa, a gente agradece muito o tempo que a senhora dedicou a essa entrevista.
R – Adorei.
P/1 –Muito obrigada.
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