Eu estava em um festival de música, esses que se vai para acampar, mais alternativos, estilo psicodália/Morrodália e não festival estilo rave ou Rock’n Rio. Diferente de outros festivais que eu fui, esse tinha um “galpão”/estrutura de madeira de dois andares que algumas pessoas estavam do...Continuar leitura
Eu estava em um festival de música, esses que se vai para acampar, mais alternativos, estilo psicodália/Morrodália e não festival estilo rave ou Rock’n Rio. Diferente de outros festivais que eu fui, esse tinha um “galpão”/estrutura de madeira de dois andares que algumas pessoas estavam dormindo, eu, meus amigos e meu namorado ficamos nele, não acampamos em barraca. Fomos ao festival porque estávamos muito “estressados” com a situação atual, isso por conta do covid e pelo suicídio cometido por uma/um amiga/o uns dias antes (não lembro quem era essa/e amiga/o, no sonho eu sabia o nome). Eu estava subindo as escadas do galpão para o segundo andar com minha amiga Hanna Arendt e eu a questionava a todo momento o porquê estávamos ali, visto que estávamos em meio a uma pandemia, eu estava nervosa com tanta gente circulando e sem “darem bola” pra o covid e para o distanciamento social, todo mundo estava muito feliz, e a Hanna dizia que era pra eu relaxar, que eu estava muito estressada e que por conta do suicídio da/o nossa/o amiga/o nós precisávamos espairecer um pouco. Mesmo ela tentando justificar de forma aceitável, eu continuava tensa e indecisa do porquê eu tinha concordado ir naquele festival, mas eu estava lá (é um detalhe importante, porque eu não queria, mas estava). A Hanna estava levando tudo de maneira leve, ela estava leve, tranquila, risonha e queria desfrutar do momento. E eu estava sendo levada pela situação, tentava não pensar na “realidade externa”. Meu namorado era o Guattari e ele andava muito deprimido, eu estava bem preocupada com a situação dele, mas ele queria estar no festival porque acreditava que iria descontrair ele. No decorrer do dia, estávamos organizando os colchões, mochilas, mantimentos e meus amigos convidaram para eu dar uma caminhada pra conhecer o local, a área de camping, os palcos e os locais de oficinas e eu fui. Guattari quis ficar porque não estava muito disposto a ver tantas pessoas logo de início. Sai com a Hanna e um amigo (que naquele momento eu sabia o nome, mas quando acordei não lembrava, logo mais conto como cheguei ao nome dele). Esse meu amigo “se perdeu” de nós, e continuamos caminhando e conhecendo o lugar. Quando eu estava retornando eu vi meu amigo falando que iria se suicidar, estava ameaçando se jogar da sacada do galpão (no sonho esse segundo andar era um pouco mais alto e a sacada era como uma de apartamento com ferro, concreto e não de madeira como seria a estrutura do galpão). Quando eu vi aquela cena eu fiquei em prantos, eu suplicava pra ele não se suicidar (nesse momento eu lembro do rosto dele. Ele era careca, branco e usava óculos e naquele instante estava com os olhos esbugalhados de indignação). Eu falava que entendia ele, que concordava com tudo que ele estava falando, mas que ele não deveria se suicidar, que ele deveria tentar se esforçar pra continuar vivendo, mas ele se jogou. Os seguranças do evento foram até lá, viram que era um suicídio e deram como encerrado o caso, mas eu sabia que não era um suicídio sem motivos, ele tinha um motivo, e que eu precisava falar para as pessoas qual era, porque ele foi motivado a se suicidar (não sei dizer o motivo). Eu estava muito nervosa. Sai correndo pra todos os lados, procurava os seguranças e eles não me davam atenção, eu pedia pra falar com outras pessoas responsáveis pelo evento e não se importavam. Parecia que o suicídio de uma pessoa em meio a um festival já tinha sido esquecido. Eu tentava parar todo mundo, tentava falar, eu gritava e ninguém me escutava. Depois de algumas caminhadas desesperadas pelo evento, eu encontrei uma professora, a Cláudia (ela foi minha professora no Programa Especial de Graduação (PEG) de Formação de Professores para a Educação Profissional. Acredito que seja relevante mencionar que ela tem formação em filosofia, fez mestrado em psicologia e trabalha na educação, sempre foi a professora que fazia críticas sociais e por conta da nossa afinidade, nos tornamos boas amigas). Eu falei pra Cláudia naquele momento tudo que estava se passando e ela me apoiou, falou que me entendia, me acolheu e me consolou (única pessoa do festival todo), falava que sabia o quanto aquelas pessoas eram importantes pra mim, porque ela também conhecia eles (a/o amiga/o que se suicidou antes do festival e meu amigo que se suicidou no festival). No meio disso tudo, eu também estava muito preocupada com o meu namorado Guattari, porque ele estava muito deprimido quando eu sai, e eu tinha medo que alguém contasse do suicídio do nosso amigo antes de mim. A primeira vez que eu fui, eu não encontrei ele, mas depois encontrei. Ele estava fumando maconha e isso me causou medo (não pela maconha em si, porque não tenho julgamento moral em relação a isso, mas porque eu pensava que ela poderia deixar ele mais sensível naquele momento), mas mesmo assim eu saia tentar falar para as pessoas que eu sabia o motivo do suicídio e eu queria que fosse investigado e ninguém me ouvia, eu gritava, parava as pessoas e todas estavam felizes, leves, como se fosse um momento qualquer do universo, que tinha cores, vida, grama, lago, oficinas alternativas e eu estava sendo considerada/me considerando “a louca”. Eu não era ouvida, parecia que ninguém me escutava no sentido literal, que eles estavam surdos. Entre corridas para fazer as pessoas me escutarem eu também tinha que ir ver o Guattari porque eu estava com medo pela vida dele. Estava uma tremenda loucura e correria de um lado para outro, de um lado tentando justificar o suicídio do meu amigo e do outro com medo do Guattari cometer alguma besteira. E foi assim que terminou meu sonho.
Que associações você faz entre seu sonho e o momento de pandemia?
Acordei muito nervosa, muito tensa, a imagem do meu amigo se jogando da sacada estava ainda fresca na minha cabeça, mas eu não lembrava quem era. A primeira coisa que fiz foi mandar mensagem pra Cláudia e contar do sonho. Ela pediu pra eu descrever meu amigo do suicídio e descobrimos que era o Foucault, procurei foto na internet e confirmei. Abril foi um mês muito tenso, fiquei só em casa, meu namorado (real e não o Guattari haha) veio pra minha casa, não saíamos por decreto nenhum, a morte me rodeava, eu tinha medo de tudo, eu queria que tudo acabasse e estava abismada com a cegueira da população, com o fascismo crescente. Junto com a Cláudia e meu namorado (que está no mestrado em filosofia) analisamos esse sonho como a morte da teoria, o sufocamento de teóricos que sempre trabalharam com questões voltadas a nossa realidade atual, tanto do governo fascista, quanto da cegueira da população em seguir pessoas como, por exemplo, o Bolsonaro, em não se atentar ao covid, a negligência à vida. A população desdenhando a pesquisa, a teoria, estudiosos e acreditando em achismos e fake News.Recolher