Projeto: Memória Petrobras
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Itamar José Sanches
Entrevistado por Márcia de Paiva
São José dos Campos 22/jun/2009
Código: MPET_TRAB_TM018
Transcrito por Keila Barbosa
Revisado por Marina Tunes
P/1 – Boa tarde, Itamar. Queria começar esta e...Continuar leitura
Projeto: Memória Petrobras
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Itamar José Sanches
Entrevistado por Márcia de Paiva
São José dos Campos 22/jun/2009
Código: MPET_TRAB_TM018
Transcrito por Keila Barbosa
Revisado por Marina Tunes
P/1 – Boa tarde, Itamar. Queria começar esta entrevista pedindo para que você nos diga o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Itamar José Sanches, 19 de outubro de 1964, São Caetano do Sul. Sou Coordenador, do Sindipetro Unificado [Sindicato dos Petroleiros do Estado de São Paulo] do Estado de São Paulo, que representa as bases aqui da Replan [Refinaria de Paulínia], Recap [Refinaria de Capuava] e os Terminais do Estado de São Paulo, os Terminais que vão até a obra, o escritório de São Paulo e o escritório de Brasília.
P/1 – Eu queria, só pra gente retomar...o Itamar já tem uma entrevista, e a gente vai fazer também mais focado. Dentro, você está neste cargo...posso chamar de cargo?
R – Isso.
P/1 – Há quanto tempo, Itamar?
R – Há quatro anos. Estou no meu segundo mandato de Coordenador e eu também agora sou Coordenador, há três anos, há dois anos, sou Coordenador, não, estou na direção da CNQ, que é a Confederação Nacional do Ramo Químico da CUT [Central Única dos Trabalhadores], e sou Secretário de formação que é um negócio interessante, que é o trabalho de formação de liderança, de dirigentes de base, de todo ramo químico, petroleiro, plástico, de todo ramo petroquímico...
P/1 – De novas lideranças, vocês estão formando? É um programa de formação...
R – Isso, novas lideranças, programa de formação, eu sou o Secretário de formação. Eu trabalho esses programas de formação. Eu acho muito interessante.
P/1 – Só me fala um pouquinho, como é uma liderança?
R – Formar uma liderança, é: primeiro você tem que estar na base, ligado na base, em contato com os trabalhadores e você vê que os trabalhadores têm um potencial porque ele já se inscreveu na CIPA [Comissão Interna de Prevenção de Acidentes], porque ele fala em assembleia ou porque ele tem uma opinião - que você concorde ou não-, mas tem uma opinião política que debate com a categoria, com as bases. Isso aí, os dirigentes, claro que precisam de muita informação, que vai desde a concepção básica do sindicalismo, de história do sindicalismo até mesmo análise de conjuntura ou alguma coisa um pouco mais aprimorada. É um programa muito interessante. Mas hoje vamos falar de greve, né?
P/1 – Hoje a gente vai falar de greve, aproveitando estes trabalhos que a gente está fazendo, já estava até terminando. Mas quero ver se a gente ainda consegue aproveitar o seu depoimento. A greve aconteceu mais ou menos junto com o período que a gente estava gravando. Eu queria que você me falasse dessa última greve, inclusive o ano que está, porque a gente, de qualquer forma, está gravando, mas eu queria também ter gravado por você, e o que ela... Qual é a história dessa greve.
R – Bom, a história dessa greve, começa até lá na minha base, lá no meu local de trabalho, que é a Refinaria de Paulínia, devido ao corte do extra turno, um direito do trabalhador criado nos governos anteriores. Primeiro no do Fernando Henrique, eles compraram esse direito, de toda a categoria ou quase toda a categoria, menos os trabalhadores de Replan, que lá, por uma medida judicial, a gente conseguiu manter esse direito. Só que a Petrobras agora...
P/1 – Mas só na Replan?
R – Só na Replan, porque naquele momento ela conseguiu uma liminar lá, que manteve aquele direito, naquela base da Replan. Depois com o processo de unificação, somente a unidade da Replan que ficou com esse direito. E para nós, que era um direito que a categoria não tinha vendido, como o resto do Brasil acabou vendendo, já que a Petrobras cortou e não pagou, nós fizemos um ano de greve e não conseguimos reverter, onde não conseguiu uma decisão judicial; ela pôs uma proposta, comprou por cinco ou seis salários, são dezesseis salários mínimos, pagou isso e é como se tivesse quitado. Ela só paga os trabalhadores do Brasil, de turno, quando eles trabalham só no Ano Novo e no Réveillon. Tirando isso, os feriados é como se fossem de graça. E qualquer empresa, do Zé da Esquina, o Zé das Couves, como a gente brinca, tem esse direito, porque é o trabalhador que trabalha em turno. Porque eles dizem que a Lei 8.511, que trata especificamente do trabalho petroleiro, ela é mais ampla e lá fala que a gente já recebe por isso. Coisas do “juridiquês” que é das leis, mas lá em Campinas a gente manteve. Só que agora, dez anos depois, o que aconteceu? Iam entrando trabalhadores novos e como a gente falava que o direito não era nosso, daquela época, mas da categoria, todo mundo que entrava na Refinaria, os operadores, acabavam ganhando e tendo esse direito mantido. Só que de uma hora para outra, dez anos, o jurídico tirou da cartola e falou: “Não, aquele direito era só para quem estava lá naquele momento.” Porque a decisão judicial...E é lógico que a decisão judicial só dá prá quem está lá naquele momento. A decisão judicial não é para o futuro. Porque a lei, a lei no entendimento deles, aquilo lá só era pros antigos e pros novos não. E aí ela cortou unilateralmente. Isso, a gente começou a entrar numa mobilização, já estava construindo uma greve próxima ao carnaval, adiamos por uma semana, esse movimento, até justamente para o carnaval, porque seria ruim fazer uma greve no carnaval, e construímos essa greve uma semana depois. Nós também já estávamos numa campanha de PLR.
P/1 – Explica prá quem não sabe o que é PLR.
R – PLR é Participação de Lucros e Resultados, os lucros bilionários da Petrobras, das outras empresas, milionárias ou não, tem uma lei, que trata que o trabalhador tem direito de zero a 25% dos dividendos passados aos acionistas. E na Petrobras a gente sempre fazia o adiantamento em janeiro, e neste ano, devido à crise mundial colocada, não antecipou em janeiro, então nós entramos já em uma campanha perto de fevereiro ou março, que juntou tudo com esta questão da mobilização da Replan, como a mobilização nacional sobre a questão da PLR, e juntamos outros ingredientes a isso, como a questão dos direitos dos trabalhadores terceirizados que estavam, devido à crise mundial também colocada, com alguma redução de postos de trabalho; entrou também na pauta desta greve nacional, e outra coisa que entrou também, por uma questão de mortes que aconteceram no início do ano - helicópteros, vários outros acidentes - também entrou a questão de INSS [Instituto Nacional do Seguro Social]. Então nós fizemos, a princípio, uma greve de sete dias na Replan, que foi especificamente sobre o feriado extra turno, chamamos as outras bases para a greve, e saíram paralisações de 24 horas numa base onde, principalmente, no nosso sindicato unificado, e depois construímos aí uma greve nacional, coisa de uns 15 ou 20 dias depois, no início de março, agora, de 2009, uma greve de cinco dias, uma greve nacional. Inclusive com os companheiros que não estão mais na FUP, Frente Nacional dos Petroleiros. Agora, o que é: para a gente foi importante essa greve... porque a gente estava um pouco: “Porque vocês são governistas, vocês são pelegos, vocês são não sei o que lá.” Mas na nossa visão, tudo aquilo que a gente ia negociar e chegava num consenso com a empresa, num patamar que a categoria ia aceitar, e que na nossa visão era uma coisa aceitável, mesmo para a categoria, a gente sempre acabou dando indicativos de aceitação. Dessa vez não teve acordo. Dessa vez, realmente devido ao extra turno e toda essa conjuntura colocada de crise - e acho que isso é uma coisa que depois a gente vai ter que aprofundar um pouco, não sei se a gente vai ter tempo -, é que mesmo com o mundo em crise, todo mundo discutindo redução de jornada e discutindo redução de salário e jornada, os petroleiros em greve, por questões de manutenção de postos de trabalho, pela PLR, pelo feriado extra turno, por volta de 15 a 20 mil reais, mostrou que a categoria não é pelega, a direção não é pelega. Independente das nossas divergências com a frente, nós conseguimos construir, principalmente puxado pela FUP... e é fato mesmo, porque a FUP foi a grande liderança, coordenou a mesa de negociação com o (Pedro Moraes?), a habilidade do companheiro, e as bases do resto, principalmente da FUP e também dos companheiros da frente, mas mais da FUP, levamos uma greve de cinco dias.
P/1 – Houve a adesão da Frente Nacional também?
R – Houve a adesão da Frente também, adesão boa da greve e talvez umas bases, algumas bases deles entraram um pouco depois, algumas plataformas entraram em greve, começou na segunda-feira, algumas bases deles começaram só na quarta. Mas eu não gosto de desmerecer, até porque agora não é mais quem é mais ou quem é menos. Agora, o que mostrou pro movimento sindical é que assim também como fazia anos que vários pontos positivos da greve, da gente ter construído essa greve agora em 2009... porque a nossa última grande greve tinha acontecido em 2001, que foi inclusive também uma greve de cinco dias, que a gente controlou a produção das plataformas e onde a gente teve a ocupação da Replan, a qual eu também estava lá coordenando aquela ocupação da Replan, eu e o companheiro Marcelo, inclusive, que hoje é o Gerente de Comunicação.
P/1 – Qual é o sobrenome do Marcelo?
R – Marcelo Danúzia, Marcelo Danúzia. Então, Carraro era o Coordenador do sindicato, do antigo Sindipetro Campinas, em 2001, e estava na FUP, e aí Itamar Sanches e Marcelo Danúzia coordenaram a ocupação de cinco dias na Replan. Controlamos alguma coisa na Replan, não de grande, não de muito porte não, mas controlamos alguma coisa. Agora, onde foi muito importante e teve papel fundamental nessa grave, foi, realmente, o controle de produção nas plataformas. Eu me lembro que mais de 30 plataformas das 40, chegaram a zero de produção.
P/1 – Isso em 2001?
R – Isso em 2001. Agora o que acontece depois de uma greve dessa, a empresa se prepara, independente se é governo Lula, se não é governo Lula, governo qualquer que seja, é uma disputa do capital de trabalho. O movimento sindical também, lógico, que pra nós muito mais tranquilo, embora eu faça uma análise que esses anos do governo Lula, em partes ele é bom de conquista e outras coisas, mas tem um paradigma com a classe, com os dirigentes, estão lá nossos ex-companheiros que têm uma relação de amizade, às vezes, até do chopinho, ou alguma coisa assim, mas essa gente tem que saber muito bem qual é o papel
de cada um. Se a gente, na hora do confronto, vai ter que acontecer e aconteceu. E eu acho que isso foi importante agora nessa greve, isso mostrou pra gente. Mostrou o quê? Mostrou que a empresa se preparou também, porque nós não conseguimos fazer parada de produção. Conseguimos pontualmente. Eu até tive a oportunidade e o prazer de... posso dizer prazer, porque são fases, né, a gente teve a ocupação de alguns Terminais, eu ocupei o Terminal de Guarulhos, com mais 25, 30 companheiros, depois ficamos lá, uma meia dúzia...
P/1 – Isso agora em 2009?
R – Agora em 2009, e paramos o bombeamento de QAV [Querosene de avião], controlamos em 30% nos dois primeiros dias. Teve um controle também importante no Terminal de Coari, que é o Terminal de Petróleo lá na base de (Corum?), que também foi... Em alguns Terminais na Bahia também, se não me engano, no Temadre [Terminal de Madre de Deus] também teve algum tipo de controle, em Suape [Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros], Pernambuco, também teve. Então a gente teve, em alguns pontos... Agora nas refinarias não conseguimos parar uma unidade de processamento desse país. As plataformas, a empresa também tinha uma prática sindical, onde os interditos proibitórios, que acabou até depois virando discussão no fechamento do acordo, que ela retiraria os processos dos interditos, e a gente também retiraria algumas ações que também teríamos colocado, que no fim, virou até uma grande polêmica no fechamento do nosso acordo como um todo. Mas é uma prática sindical que a gente não deve aceitar, ainda mais nesse Governo. É uma coisa realmente muito complicada e nós só conseguimos tirar gente desocupada do Terminal de Guarulhos, porque sabia que já estava mesmo no gargalo, é com o interdito proibitório de 100 mil de multa diária. Se a gente permanecesse lá e ainda ia usar, estava na ascendência judicial, está na minha pasta, inclusive - penso que esteja- , de que se nós não respeitássemos a (___) judicial, iríamos usar a força, o uso de força policial. Ia sair debaixo de borrachada, por estar exercendo o nosso direito de greve, de cortar a produção, ou deixar a produção de qualquer unidade em 30% de uma atividade essencial. Tenho certeza que aeroporto pra viagem ao exterior não é atividade essencial. A atividade essencial talvez seja a escola, talvez seja o hospital, agora avião pra milionário, qualquer um que seja, viajar, na minha visão não é atividade essencial, pode até ser, mas na minha visão não é. Agora, nós temos que olhar essa experiência dessa greve para o futuro.
P/1 – Agora, deixa eu só te perguntar, para você, então diz que vocês não conseguiram parar as unidades porque a Petrobras se organizou de uma forma melhor para brecar essa mobilização? Como é que funciona isso?
R – Isso. Como é que isso funciona? Em 1995, a gente tem ciclo, as greves... Teve a grande greve de 1983, depois 1987, 1991, 1997, 1998...
P/1 – A 1995 que você pulou?
R – Ah não, a 1995 é uma grande greve, a de 1995 é uma greve de 32 dias e foi ali, naquele momento, que a empresa se preparou: ela criou os cargos de Supervisores, criou cargo do Interino do Supervisor, criou cargo do Interino do Interino do Supervisor. Falei assim: “Não, agora você trabalhador, você é o Supervisor, você está à disposição da empresa, você é um cargo de confiança.” E aí esse povo é o pessoal que sempre fez greve. São os operadores, são o pessoal que controla as unidades, e esse povo acabou, na hora de uma greve: “Não, eu não posso fazer greve, não posso fazer greve, Moraes, eu sou Supervisor, eu tenho um cargo de confiança dentro da empresa, a empresa vai me buscar em casa, com carro, nem tomo ônibus com a peãozada, eu sou um operário especial. Então eu sou de confiança da empresa". Ela comprou os trabalhadores por 400, 500 reais, naquele momento; hoje por volta de 800, 900 reais, claro que o dinheiro não vem ao caso e sim aquela importância que você é necessário para a empresa. Ela fez isso, mas mesmo assim, em 2001, nós conseguimos, peitar isso em alguns momentos e, conseguimos controlar as plataformas. Só que dessa vez agora, na greve de 2009, os Supervisores, junto com o que a gente chama de a grande equipe de contingência, não parou; eles conseguiram a manutenção da produção da empresa, tanto que teve algumas unidades que até aumentaram a produção, que é um absurdo, porque durante a greve...e foi no mês de março, isso está registrado isso...
P/1 – No balanço...
R – No mês de março, a produção da empresa aumentou. Um mês que teve cinco dias, sete dias de greve na maior refinaria do país, e depois, cinco dias de greve nacional, a produção da empresa aumentou. Que greve é essa? Então isso também cabe ao movimento sindical uma reflexão. Então cabe esse momento de a gente cortar a ignição e ficar lá fora, ou a gente tem que mudar a nossa greve, ou então ocupar os terminais, ocupar as refinarias, e realmente controlar... Esse vai ser o desafio daqui pra frente, das organizações sindicais, dos sindicatos, da frente, da FUP, de quem quer que seja, de convencer os trabalhadores de que ele tem o direito de greve, tem o direito da greve e tem o direito de exercer o controle da produção, que é o que aconteceu. E eu tive essa experiência, porque eu passei aqueles sete dias na refinaria, agora, antes dos cinco dias da greve nacional, a gente brigando com a empresa, porque ela estava tentando ... Eu acho que não contei isso, lá na greve na Replan, o que a gente fez? Nós fizemos piquetes, tinha... Foi piquete em uma semana de greve, foi piquete com mais de 100 pessoas, às vezes na porta da refinaria, nas 14 portarias, um queijo suíço que eles montaram na Replan, já que a maior refinaria do país, tem uma portaria, várias portarias, então nós conseguimos mobilizar os trabalhadores novos. E isso é uma coisa interessante, a gente trouxe aqueles novos que a gente estava meio, ainda, vamos, desconfiados: “Pô, esses filhinhos de papai, essa molecada geração videogame, será que eles vão fazer greve, será que eles vão, na Replan?" Pelo menos a princípio sim. Uma das unidades, que também foi positivo, a princípio... sim, acho que isso foi muito positivo. E naquele momento, voltando aquele assunto dos interditos, estava colocado aquele assunto: “Não, vocês não podem fazer o que vocês estão fazendo.” Porque nós não deixávamos entrar nenhum tipo de caminhão, nem comida, nem de nada, a empresa colocou os helicópteros, e a gente falava que pelego tinha asa. Então eles entraram só de helicóptero, a empresa gastou uma fortuna só de helicóptero. Eu tenho certeza que mesmo ela gastando aquele dinheiro, ela manteve a produção da maior refinaria do país com o uso de helicópteros, mas conseguiu a manutenção da produção. Mas em todo o momento, a própria Justiça colocava: “Vocês não podem fazer isso, fazer o piquete. O piquete, não pode fazer o que vocês têm que fazer. Vocês têm que deixar a pessoa com o direito de ir e vir, não sei que lá.” Agora, em nenhum momento as decisões judiciais, naquele momento ou em mesa de negociação, falaram assim: “Não, vocês têm que deixar ou vocês têm que produzir 100%. Vocês não podem fazer piquete, mas vocês podem produzir até 30%, 40%.” Então é esse o papel das decisões sindicais aqui, nosso, de convencer o trabalhador de que ele tem o direito controlar a produção, não estou nem dizendo zerar não. Se a gente conseguir parar 40%, 50% produção nacional de derivados de petróleo, eu não tenho certeza de que qualquer patrão de movimento ou de governo, vai sentar com o movimento sindical e vai negociar. Então acho que esse é um ponto que nós temos que estar focados daqui pra frente. Se a gente vai conseguir ou não, vai fazer parte da disputa, do convencimento da ideia com os trabalhadores. Acho que é o principal papel nosso daqui pra frente.
P/1 – Itamar, ali fora você me contou que você ficou com medo, dessa vez, de ser demitido.
R – Isso.
P/1 – Você acha que desta vez também foi um pouco mais exacerbada, você que tem participado de outras greves, por quê?
R – Como é que funciona? Eu me lembro que falei na greve de 1995, foi uma greve que a gente tinha feito, greve de 32 dias, né, uma greve de 32 dias, com várias demissões, depois a reintegração e tudo o mais. Na greve de 2001, onde teve algumas tentativas de punição e demissão, foram nas plataformas onde teve paralisação, eu lembro, até já falei sobre o Marcelo Danúzia, que ele esteve uma noite, na refinaria, eu e ele chorando que nem criança. Acho que foi o penúltimo dia de greve, que nós acabamos de ligar para a Carrara, as negociações estavam caminhando, mas não na nossa, de contento, estava chegando ao fim da greve e não tinha chegado a nenhum tipo de fechamento ou negociação. Aí eu abracei o Marcelo e falei: “Marcelo, eu acho que se dessa vez eu não chegar a um consenso, nós, acho que talvez nós vamos ser demitidos, porque nós estamos aqui expondo a gente e tal. E depois daquele dia, no dia seguinte, chegamos a um acordo, negociou, acabou a greve e é assim que funciona mesmo, não pode ser nada (___) institucional. Acabou a greve, beleza, as condições focadas, principalmente, lá na Bacia de Campos também a gente conseguiu com o tempo dar uma amenizada. Agora em 2009, o Gerente de Recursos Humanos, inclusive um ex-sindicalista, ele foi para a disputa com os trabalhadores, e com o movimento sindical, ele falou: “Acabou o namoro, acabou o que tinha, os amiguinhos, porque é o seguinte…” A empresa não ia permitir nenhum tipo de abuso, nem permitir nada. E depois do nosso, é nessa greve que a empresa negociou com a gente em greve, isso também foi uma coisa, foi a primeira vez que a Petrobras negociou com o movimento sindical em greve, também a gente tem que ressaltar aqui, que isso é positivo, porque geralmente não aceitam negociação enquanto a greve não termina. Eles negociaram e na negociação eles tinham uma cláusula lá que eles falavam assim: “Não, a gente quer verificar aqui onde tem, onde houveram abusos, nós vamos fazer uma investigação.” Isso deixava claro o que? Que onde tinha tido alguma ocupação, onde tinha tipo algum tipo de controle, eles iam querer punir. Inclusive os contatos dos nossos companheiros quando estavam no fechamento. Eles já tinham acertado a grana da PLR, tinham acertado já a questão dos postos de trabalho que não iam cortar, os postos de trabalho dos terceirizados, o INSS já tinha acertado, o ponto de CIPA, já tinha acertado: olha, vamos mudar algumas coisas no abastecimento, vamos mudar algumas coisa no não sei o quê. Estava faltando então o quê pra fechar? A questão dos interditos proibitórios, que eram um pouco polêmicos, que essa prática era sindical, com que também tinha acertado, mas a empresa não abria mão de apurar os excessos. E na nossa visão apurar os excessos, o que é? É punir quem, na avaliação delas, incomodou mais. E onde teve um incômodo maior? No querosene da aviação do aeroporto de Guarulhos, no Terminal de Coari. Então, eu pensei no seguinte - inclusive a minha esposa estava viajando nessa época-, e por coincidência eu falei pra ela assim: "Oh,
vai passear um pouco, eu estou fora.” Estava na casa de uma amiga, e aí quando ela me ligou num dia antes, estava realmente nesse impasse, estava no último dia de greve, talvez voltasse, sem a garantia de que houvesse condições, eu falei pra ela: “Oh, eu tô preocupado, nesses meus 25 anos de empresa, dez de movimento sindical, eu estou preocupado.” E aí, é uma consciência que às vezes o companheiro de base não permite, chama a gente de comunista, de pelego, mas você sabe que é uma disputa de capital trabalho que todo mundo está sujeito, não é porque é Lula, porque é dinheiro, que está lá não. É porque tem acionistas, eles não querem prejuízo para a empresa, e se você causar prejuízo para a empresa e você depois acaba uma greve e não tem nenhum tipo de garantia, você está sujeito a isso, independente de qualquer trabalhador, então eu também passei, tive que engolir seco, respirar muito e no dia seguinte ir lá pro Terminal de Guarulhos, onde a gente tinha ocupado e já estava fora, falar pros companheiros: “Olha, muita calma agora, a gente vai conseguir acabar essa greve, com uma vitória.” E na minha avaliação foi uma vitória, porque nós fizemos a greve, conquistamos durante a crise PLR por volta de 15, 20 mil reais pros trabalhadores, já falei, o mundo discutindo aí fora a redução de jornada e a redução de salário nós discutimos manutenção de postos de trabalho pros terceirizados, INSS, aumento do PLR e o feriado extra turno, que no fim, como não teve acordo especificamente com a Replan, nós conseguimos, que no primeiro de maio, que é uma data simbólica para o trabalhador, todo mundo que trabalhasse naquele dia receberia o feriado 100%. Então abrimos mão lá de Campinas, com uma discussão nacional e que foi no Dia do Trabalho, no feriado, no Brasil inteiro. E não acabou essa luta, a semana passada fizemos paralisação nos terminais, nas refinarias, por esta questão de feriado extra turno, por isso vai ser pauta para o nosso (___), talvez ali na frente você vai estar me entrevistando, porque eu que vou contar a história. Fizemos outra greve porque não aceitamos essa retirada de feriado extra turno. E essa disputa é permanente.
P/1 – E feriado do quê, que você fala?
R – É o seguinte, porque o feriado é extra turno, quer dizer...
P/1 – Ah, o feriado extra turno, é que você fala tão rápido às vezes que eu... [risos]
R – Trabalho noturno, feriado, tem direito aos 100%. É isso.
P/2 – Espera aí, só uma coisa, as pessoas estão expulsando a gente daqui.
P/1 – Já vai terminar.
P/2 – Não, porque a moça veio dizer que não dá para ficar além de quatro e meia.
P/1 – A gente já vai terminar. A gente vai fazer um “fecho” pra também não ficar sem...
P/2 – Desculpa, mas ainda bem que você é da casa, mas...
R – Fica tranquila.
P/1 – A gente vai fazer um “fechinho”. Só termina então.
R – Então, eu penso que é uma luta constante, mas agora, isso tem que passar também para a base, porque a base pensa: “Não, porque eu fiz a greve, eu cruzei os braços lá fora.” Não controlou a produção. Um ou outro lugar que controlou, aí tem que mostrar que isso tudo aconteceu foi porque realmente ela cruzou os braços e fez uma greve. Agora, temos que aprimorar essa greve, trabalhar melhor essa greve, por ocupação ou por controle, alguma coisa, mas, permanecer lá fora, cruzar os braços com a equipe de contingência hoje tomando conta também não dá. Não dá. A gente viu que não serve. Ou a gente muda ou a gente vai ter que reinventar. Acho que esse é o recado: toda a greve é um aprendizado, essa foi mais uma, logo a gente vai também pegando mais tempo, você vai aprendendo também, mas você vai ficando mais cansado disso, mas faz parte. Acho também que a gente tem que aproveitar essa greve, eu falei agora, a gente aproveitou sim para trazer novas lideranças do sindicato, fizemos a recomposição da direção agora, trouxemos outros companheiros que se destacaram durante a greve. São nesses momentos que você vê quem que tem peito ou, independente de ser homem ou mulher, vai lá, tem que brigar mais, trouxemos até duas companheiras, uma de (__) uma de Campinas, então tem que trazer novos endereços, que também é um momento de formação pros novos trabalhadores estarem entrando no movimento sindical.
P/1 – Essa nova liderança tem um olhar diferente do de vocês? Você acha alguma coisa?
R – Tem, tem, um pouco tem, até mais por causa da cultura, do momento que vive, acho que eles são geração Lula, a gente tem que convencer que nem tudo isso aí...hoje a gente, por mais problemas que tenha, nem tudo é o céu como parece que é, não é porque a gente tem aumento real há vários anos, agora com a crise, né, e aí, como é que vai ser esse acordo coletivo? Eles têm um pouco isso, que é aquele negócio: greve é um enfrentamento mesmo, de fato, e a gente viu também que eles agora estão um pouco... principalmente lá na Replan, foram duas greves seguidas. Foram seis, sete ou oito anos sem fazer greve. No mesmo mês faz duas greves, 12 dias de greve. Opa, greve também não é prá se fazer assim de brincadeira. Greve realmente é última instância, tem que ser exercida quando realmente o trabalhador for atacado e tem que dar a resposta.
P/1 – Só pra gente fechar, eu queria que você me desse uma avaliação desses seus anos todos, mesmo da importância da mobilização no trabalhador.
R – Olha, eu falei na greve de 2001, no final da greve de 2001, quando saí lá depois de cinco dias na maior tensão...E sempre falo: pra mim é realmente um orgulho mesmo, honrado de ser dirigente de uma categoria politizada como os petroleiros. É do operário petroleiro essa briga, essa garra. Você estar à frente de um movimento e ter a disposição... Você para o trabalhador, ele desce do ônibus, te escuta, vota, aprova, discorda, não, mas a gente entra devagar, a gente aprova, consegue fazer uma greve, consegue organizar. É por isso que petroleiro tem um pouco mais ou algo mais que as outras categorias, porque ele também briga. E você ser dirigente de uma classe dessa é um orgulho para um dirigente. Lógico que você cansa um pouco, não é só um céu também não, o carinha reclama do almoço, da comida, da nutricionista, reclama do guarda, reclama da cadeira, mas faz parte. Você tem que ser um pouco de tudo. Mas realmente é um orgulho ser dirigente de uma classe de petroleiro, como eu estou sendo agora.
P/1 – Itamar, queria mais uma vez agradecer e quem sabe depois a gente vai pra uma outra rodada.
R – Quem sabe...
P/1 – Mas foi ótima a sua participação. Obrigada.
----------------------------------- Fim da entrevista------------------------------------------------------Recolher