Memória Votorantim
Depoimento de Luis Carlos de Araújo
Entrevistado por Soraya Moura e Judith Zuquim
São Paulo, 17 de março de 2005
Realização Museu da Pessoa
Código: MV_HV048
Transcrito por Denise Boschetti
Revisado por Joice Yumi Matsunaga
R – Luis Carlos de Araújo, nasci no dia 23 de dezembro de 1947, na cidade do Rio de Janeiro. Meu pai é Paulo Monteiro de Araújo e minha mãe Regina Fernandes de Araújo. O meu pai foi motorista também. Era motorista de caminhão; eu aprendi a dirigir com ele. Passei minha infância lá no Rio de Janeiro, o único motorista da família sou eu, eu tenho dois irmãos formados, e tenho duas irmãs formadas, uma é doutora que vive na Suécia e a outra fala dez idiomas e foi secretária executiva da Eletrobrás, ela hoje está aposentada. A gente morava no Bairro da Penha. Era tranquilo né, passamos uma infância tranquila, ajudei muito meu pai, minha mãe, que naquela época as condições financeiras não eram boas, entendeu e a mamãe lavava roupa para fora e quem levava as trouxas de roupa na cabeça era eu, através do bonde, única maneira de ajudar eles.
P/1 – Você e suas irmãs, seus irmãos também?
R – Meus irmãos também faziam isso, um ia para feira fazer carreto e outros foram formados e o único que não quis, melhor, o único que seguiu a carreira do meu pai fui eu, motorista.
P/1 – Mas você estudava? Ajudava no...?
R – Estudava, eu fiz o primário e depois já estava rapazinho, foi quando fui trabalhar na Gastal, tinha meus doze anos de idade, onze, porque naquela época poderia trabalhar com autorização do juizado de menor e depois saí dali, fui para o exército.
P/1 – Você fazia o que lá na Gastal?
R – Na Gastal eu era contínuo, fazia café, lavava banheiro, entendeu? Trabalhei com o Oswaldo Aranha Filho.
P/1 – Ele era seu chefe direto?
R – Não, não, meu chefe direto chamava-se, não esqueço o nome dele, Seu Milton, porque naquela época eu era garoto, ele me...
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Depoimento de Luis Carlos de Araújo
Entrevistado por Soraya Moura e Judith Zuquim
São Paulo, 17 de março de 2005
Realização Museu da Pessoa
Código: MV_HV048
Transcrito por Denise Boschetti
Revisado por Joice Yumi Matsunaga
R – Luis Carlos de Araújo, nasci no dia 23 de dezembro de 1947, na cidade do Rio de Janeiro. Meu pai é Paulo Monteiro de Araújo e minha mãe Regina Fernandes de Araújo. O meu pai foi motorista também. Era motorista de caminhão; eu aprendi a dirigir com ele. Passei minha infância lá no Rio de Janeiro, o único motorista da família sou eu, eu tenho dois irmãos formados, e tenho duas irmãs formadas, uma é doutora que vive na Suécia e a outra fala dez idiomas e foi secretária executiva da Eletrobrás, ela hoje está aposentada. A gente morava no Bairro da Penha. Era tranquilo né, passamos uma infância tranquila, ajudei muito meu pai, minha mãe, que naquela época as condições financeiras não eram boas, entendeu e a mamãe lavava roupa para fora e quem levava as trouxas de roupa na cabeça era eu, através do bonde, única maneira de ajudar eles.
P/1 – Você e suas irmãs, seus irmãos também?
R – Meus irmãos também faziam isso, um ia para feira fazer carreto e outros foram formados e o único que não quis, melhor, o único que seguiu a carreira do meu pai fui eu, motorista.
P/1 – Mas você estudava? Ajudava no...?
R – Estudava, eu fiz o primário e depois já estava rapazinho, foi quando fui trabalhar na Gastal, tinha meus doze anos de idade, onze, porque naquela época poderia trabalhar com autorização do juizado de menor e depois saí dali, fui para o exército.
P/1 – Você fazia o que lá na Gastal?
R – Na Gastal eu era contínuo, fazia café, lavava banheiro, entendeu? Trabalhei com o Oswaldo Aranha Filho.
P/1 – Ele era seu chefe direto?
R – Não, não, meu chefe direto chamava-se, não esqueço o nome dele, Seu Milton, porque naquela época eu era garoto, ele me ajudava, entendeu, então fica difícil a gente esquecer de uma pessoa dessa, né. Depois dali, tive que sair, fui servir o exército e na apresentação tinha vários recrutas junto comigo e no dia seguinte me deram uma enxada, para todo mundo sair capinando, então, eu também estava no meio e fiquei nisso uns quinze dias, até que um capitão chegou lá onde eu estava capinando e falou: “Quem sabe dirigir?”. É lógico, todo mundo levantou a mão, inclusive eu, levantei a mão e daquele bolo de gente que levantou a mão, o capitão escolheu dez pessoas e eu estava no meio desses dez, e mandou a gente ir para o alojamento tomar banho, que ele ia fazer um teste de direção, na época o carro era um Chevrolet Bel Air, que quem ia ser motorista do coronel né, porque aquela turma já estava saindo, estava entrando outra turma. Eu fui o quinto a dirigir, aí o capitão bateu na minha perna e falou: “Você que vai levar o coronel para casa hoje. Vai, engraxa o sapato, bibico e quatro e meia você abre a porta do gabinete”. E assim foi feito. Como eu já sabia dirigir, que eu aprendi com o meu pai, acho que ficou na veia né e fui apresentado para o coronel e ele passou a gostar de mim. E eu nasci para dirigir, a realidade é essa. Então eu levava ele para o quartel, levava ele para casa, quando não, atendia a esposa dele. Então eu dei baixa, foi quando eu dei baixa e eu tinha um cunhado que ele era funcionário do Banco do Brasil, que hoje não está mais aqui, tá do outro lado (pausa).
P/1 – Aí ele te levou para ser motorista?
R – E vou me emocionar muito mais.
P/1 – Pode ficar à vontade.
(pausa)
R – Bom, então ele tinha um táxi e ele trabalhava na parte da tarde no Banco e devido às minhas dificuldades ele falou: “Luis Carlos, você trabalha de manhã, quando for meio dia, uma hora, você me devolve o carro, para eu trabalhar”. E eu fiquei nisso pelo menos uns dois anos. Bom, e num dia um senhor sentou no meu táxi, sem se identificar e pediu que eu levasse ele para o Hotel Glória. Eu, com a minha delicadeza, com a minha educação, com a minha profissão, levei ele para o hotel e ele falou assim para mim: “Olha, a minha demora é de meia hora, você pode me esperar?”. Eu falei: “Tudo bem”. E meia hora, uma hora, duas horas, três horas, quatro hora e eu não sabia para onde que ele foi, para parte do hotel. E eu passei a ficar preocupado, que eu tinha que dar o meu carro para o meu cunhado porque trabalhava para ele. E eu liguei então de um orelhão, que naquela época não tinha celular, liguei de um orelhão, orelhão não, o telefone do Hotel, para ele e expliquei: “Clotilde, eu peguei um senhor, ele mandou que eu aguardasse ele, inclusive na mala do carro tem uma mala e eu não sei onde ele se meteu”. E ele então me tranquilizou: “Olha, você então fica tranquilo, que eu vou pegar um ônibus e vou para casa, a hora que o passageiro voltar, você leva o carro para mim”. Tudo bem, nisso ele chegou em torno de duas horas da tarde e me pediu desculpas: “Olha, você me desculpa, mas, não é um hábito meu, mas você pode me levar lá para o Hotel Copacabana Palace?”. Eu falei: “Tudo bem”. Levei ele, e até então, lá ele mandou que eu aguardasse, mas lá ele me preveniu: “Olha, eu só vou sair daqui seis horas da tarde, para eu retornar para São Paulo”. Eu falei: “Tudo bem, você pode ficar tranquilo”. E, quando foi seis e meia, ele desceu.
P/1 – E você esperando?
R – Eu esperando. Levei ele de volta para o Aeroporto Santos Dumont e ele me perguntou quanto era o serviço. Como eu não tinha ideia, eu falei: “Olha, eu pago a diária do carro (...)”, hoje eu não sei quanto dá em dinheiro, vamos botar uns cinquenta reais mais ou menos, “(...) você me dá aí uns sessenta reais e está bom”, que eu não gastei gasolina. Ele foi, meteu a mão no bolso e me deu um dinheiro bom, um dinheiro bom – hoje, vamos botar uns trezentos reais – e perguntou a mim se eu tinha telefone. Naquela época, telefone, ninguém tinha. Então, uma vizinha da minha mãe tinha um telefone. Eu passei esse telefone para ele e expliquei: “Olha, quando o senhor precisar, o senhor liga para mim, que a vizinha dá o recado”. Então ele passou a utilizar os meus serviços. Ele ligava, eu pegava ele no aeroporto. Eu até então também não sabia quem ele era, eu só naquela minha educação, dirigindo bem, aí uma vez ele chegou com a senhora dele, que era a dona Maria Helena e falou: “Essa aqui é minha esposa, eu vou ficar em uma reunião no sindicato do cimento e você fica com ela, leva ela para o Hotel e vê se ela precisa de alguma coisa”. Tudo bem, levei ela para o Hotel. “Olha seu Luis, eu não vou sair, se o senhor quiser voltar para lá, o senhor volta. Se o senhor quiser ficar aqui, o senhor fica.” Então eu preferi ficar ali porque era mais fácil de estacionar, aí ele ligou para o Hotel, falou com ela, ela falou comigo, eu voltei com ela, peguei ele no sindicato e voltei para o Aeroporto. E fiquei nisso com ele uns dois anos.
P/1 – E você tinha o táxi, isso com o táxi?
R – Com o táxi. E ele conversava comigo, então eu explicava que o carro era do meu cunhado, que meu cunhado trabalhava a parte da tarde, a parte da manhã ele me dava o carro e ficamos nisso. Um belo dia ele pediu para eu levar ele em um escritório e era um escritório pequenininho na Rua Visconde de Inhaúma. Aí ele falou para mim que esperasse ele. Esperei ele, levei ele para o Aeroporto e fiquei nisso, né. Aí um belo dia ele virou e me deu um cartão dele, isso depois de dois anos, ele me deu o cartão dele e falou: “Olha, vai nesse endereço, era na Presidente Vargas, trezentos e nove, vigésimo andar”. Eu olhei assim e vi: “Doutor José Ermírio de Moraes e Grupo Votorantim”. Aí estacionei o carro, subi. Quando eu cheguei no andar, o porteiro já sabia: “Não, o Doutor Moraes falou que vinha uma pessoa procurar ele, eu já vou anunciar sua chegada”. E o porteiro anunciou, na mesma hora ele mandou entrar, aí ele me apresentou o gerente, o Doutor Mario Carlos Bica, um homem com quem depois eu trabalhei vinte e cinco anos, ele falou: “Luis, esse aqui é meu gerente. Agora eu vou falar para você, eu sou o dono da Votorantim. Eu gostei da sua educação, o modo de você dirigir, você é uma pessoa exemplar, você quer trabalhar comigo?”. Isso em 1970, 69.
P/1 – Você estava novinho?
R – Novinho. Aí, eu queria um emprego, né. Eu falei: “Tudo bem, vai ser um prazer para mim”. “Então você me espera lá embaixo e eu te dou os maiores detalhes.” Aí eu desci, levei ele para o Aeroporto, ele falou: “Olha, você então vai lá, já para fazer a ficha, fazer tudinho e eu vou mandar você ir a São Paulo para pegar um carro”. O carro era um Aero Willys, um Itamaraty 68, novinho, vermelho, capota preta, né. Aí eu fui na empresa, procurei o Doutor Mário Bica, ele foi muito gentil, comentou sobre a Votorantim, sobre a pessoa dele também e mandou que eu fosse na Casa José Silva, que hoje é extinta – não existe mais há anos –, comprar um terno, uma camisa, uma gravata, um cinto, uma abotoadura, um par de meia, um par de sapato para eu bater foto, fazer a carteira admissional, né. Depois disso tudo, feito os exames, né, aí eu vim para são Paulo, aqui para a praça Ramos de Azevedo para pegar o carro e retornar para o Rio. Foi daí que eu passei a conhecer o Doutor Antônio, o Doutor Ermírio, a Dona Maria Helena, o Doutor Clóvis, que hoje estão do outro lado até hoje e já vou para da quarta geração.
P/1 – É um tempo, você tinha vinte anos quando, mais ou menos.
R – Mais ou menos isso, vinte anos para vinte e um anos.
P/1 – Você já era casado?
R – Eu me casei depois.
P/1 – Então, conta como você conheceu a sua mulher.
R – Ah! Essa história! (risos), essa história eu posso contar, que é muito bonita. Eu era jovem, entendeu, e estava passando por uma rua e vi uma festa, aí eu parei e mandei chamar a aniversariante, aí veio a aniversariante eu falei: “Olha, eu estou aqui esperando um amigo que me convidou para vir nessa festa e que você era colega dele”. “Como é o nome dele?” “O nome? Ah! O nome dele é Jorge.” “Jorge? mas eu não conheço nenhum Jorge.” “Você conhece sim, é do colégio.”, na, na, na, na e acabei ficando ali. Ela gentilmente mandou eu entrar: “Pode entrar então, participar da festa, esperar teu amigo, que eu também quero conhecer esse amigo”. Aí ela olhou muito para mim, eu olhei muito para ela. Passamos a namorar. Depois eu falei com ela: “Não tem nada de amigo, não tem nada, eu não conhecia, foi um vôo cego”. E esse vôo cego eu estou casado já há trinta e seis anos, para trinta e sete anos, no qual ela me deu duas filhas, formadas e isso tem um fundamento da família, que me ajudou muito. Na época, o Doutor Moraes tomou conhecimento da gravidez da minha mulher e ele falou ali na frente do gerente, que era o Doutor Mário Carlos Bica: “Mário, enquanto o Luis for nosso funcionário, vai nascer o neném, toda a formação dela vai ser pela empresa”. Bom, Janaína nasceu, com seus três anos, para três anos e meio ela foi para o Bonequinha de Trapo e a empresa sempre mantendo aquilo. Em 1973, o Doutor Moraes veio a falecer, então na direção ficou o Doutor José, o filho, irmão do Doutor Antônio, o Doutor Mário Bica, que sempre foi um homem exemplar dentro da Votorantin, um homem digno, homem honesto, que eu aprendi muito com ele, muito, muito, muito, falou para o Doutor José: “Doutor José, o Doutor Moraes em vida, falou isso, para mim”. O Doutor José falou, disse: “O que meu pai prometeu ao Luis vai ser cumprido”. E foi cumprido. Depois nasceu a Vanessa. Depois, o Doutor José, com essa terceira geração, foi se afastando da empresa e estava entrando o filho dele, que é o Doutor José Ermírio de Moraes Neto, que hoje é uma pessoa excelente, e cortou todos os benefícios de empregados e o Doutor Mário então, conversou com ele e com o pai e o Doutor José disse: “Não, o do Luis fica”. E nisso se formaram, emprego e elas nunca repetiram de ano, não porque a empresa pagava, que ela não queria estudar e faltava, nunca, só me deram prazer e onde elas estagiaram a pedido do Doutor Antônio, ela sempre soube respeitar o nome da pessoa que orientou ela, que botou ela ali e hoje estou indo para o terceiro neto.
P/1 – E você lá, você atende só a família ?
R – Eu atendo, somente a família porque antes eram quatro, não, quatro, né, porque, a Dona Maria Helena, ela nunca se envolveu na empresa, agora são dezoito e estamos indo para o caminho dos quarenta e cinco, pessoas, para cinquenta na quarta geração. Então, hoje eu tenho orgulho de ter entrado em uma empresa dessas, entendeu, e do que eu sou. São famílias distintas, vocês já devem ter ouvido isso aí e tudo que eu precisei sempre me ajudaram, sempre abriram a mão para mim.
P/1 – E como é mais ou menos o seu dia a dia lá com eles?
R – O meu dia a dia, eu pego eles no aeroporto, levo eles onde tem que ir, aguardo dentro do carro e de volta para o aeroporto.
P/1 – E tem movimento grande de pessoas, quase toda semana?
R – Normalmente, hoje tem, né, porque a família cresceu. A família cresceu. Hoje são vinte e três, tem sempre um no Rio, tem sempre um carnavalzinho, que eles gostam, eu por exemplo, eu não tenho carnaval, eu não tenho feriado prolongado porque a família gosta de desfrutar de ir para o Rio de Janeiro e a pessoa de confiança sou eu, então eu tenho que demonstrar, eu tenho que, do outro lado, fazer aquilo, que eles sempre fizeram por mim, entendeu, sempre.
P/1 – Então você conheceu essa terceira geração tudo pequeno?
R – Tudo pequeno, tudo na adolescência. E hoje estão mandando, estão casadas, já são mães e tem aquele carisma, aquele respeito.
P/1 – E você lembra, Luis, de algum fato pitoresco que tenha acontecido, alguma coisa engraçada, diferente em uma dessas idas desses jovens para lá?
R – Não, não, não, não tem não. A única coisa que aconteceu foi quando o José Neto, o Doutor José Ermírio de Moraes Neto, virou e disse: “É Luis, quando eu era garoto tu puxava a minha orelha, e agora?”. Eu falei: “Doutor, agora é consigo”. (risos) “Não, você já faz parte da família”, entendeu, então é aquele carisma. Enquanto Deus me der braço e vida, me der olho e tudo, eu vou ficar do lado deles. Eu tenho que me preparar para mim, quando eu largar a Votorantim porque eu vou sentir, isso é uma realidade porque são trinta e oito anos naquela dedicação, dedicação ali. Então a senhora hoje atingir um objetivo desses, a senhora tem que ser uma pessoa sincera, cumpridora de dever e a coisa que a família mais exige, honestidade, isso inclusive eu posso transmitir para aqueles que vão entrar, porque uma vez o Doutor Antônio falou para mim há anos: “Luis, eu não admito que nenhum empregado pegue um centavo da Votorantim”, aquilo para mim foi o bastante, se eu nunca errei, não vou errar agora.
P/1 – E você que acompanhou todas essas gerações, você sente que essas coisas passam por todas as gerações?
R – Passam, passam e de pai para filhos, pai para filhos, são umas pessoas muito simples, humildes. Passa sim e respeita quem é que seja. Isso é presenciado por mim, porque quando eles vão na fábrica, eles falam do porteiro ao zelador, apertando a mão, cumprimentando e isso para um operário é um estímulo, enquanto outros chegam e descem e na, ele não, faz questão de apertar. O Doutor Antônio, a mesma coisa. Quando eu trabalhava lá no vigésimo andar, lá no centro da cidade, os gabineiros ficavam tudo ali embaixo esperando apertar o botão do vinte porque o Doutor Antônio gostava de gratificar eles. Então era aquela corrida no elevador, quem chegava primeiro e de repente as três portas se abriam, o Doutor Antônio não entendia, depois eu falei para ele: “Doutor, sabe o que é, é que o senhor gratifica eles, o dinheirinho que o senhor dá, ajuda eles”. “É Luis, eu não sabia, então agora quando acontecer isso, eu vou dar para eles.” É isso aí (risos), esses fatos interessantes, né. Uma vez eu furei o pneu indo para siderúrgica de Barra Mansa com o Doutor Antônio, o carro era um Galaxy e ele me ajudando a trocar o pneu, é que ele não tem aquela habilidade, né (risos), mas ele fazia questão de querer botar porca. A gente na estrada viajando, ele fazia questão que sentasse na mesa dele para comer com ele, eu chegando lá na usina de Barra Mansa, ele não deixava eu ir para o hotel, entendeu. “Não Luis, você vai dormir aqui na casa da diretoria.” Um fato interessante que teve, como a senhora me perguntou, né, teve, eu indo para Barra Mansa, o Doutor Antônio com um diretor, que no momento me falha a memória, então eu sabia todos os procedimentos e nesse dia, o diretor virou para mim, o Doutor Antônio tinha ido, eu botei a malinha dele na sala, aí esse diretor disse para mim: “Luis, você vai para o Hotel”. Aí eu estranhei eu ir para o hotel, eu nunca fui para o hotel, mas tudo bem, nisso o Doutor Antônio estava vindo na sala e eu virei: “Doutor Antônio, eu estou descendo para o Hotel e que hora eu mando subir o carro?”. “Hotel? Tu nunca dormiu em hotel, por que ir para o hotel? Vai dormir aqui”. “Não, porque o diretor que mandou que eu descesse.” “Não, tu vai dormir aqui.” O diretor ficou assim, né!
P/1 – Aí dormiu lá?
R – Ah! Dormi porque sempre foi assim, né, e isso é uma confiança, dormir numa casa, né.
P/1 – E viajavam sempre os dois sozinhos?
R – Nós sozinhos, e de manhã só tinha a cozinheira que ia fazer o café lá para gente, depois tomávamos o café juntos, ali na mesa, eu descia com ele para siderúrgica de Barra Mansa e ele fazia questão de andar por dentro da usina, ele chegava lá na frente cheio de pó de aço, sapato todo sujo. “Doutor Antônio, me dá o sapato que eu vou limpar.” Não deixava. “Quem tem que limpar o meu sapato, sou eu.” Então são essas coisas, né.
P/1 – E era sempre esse trajeto Rio-São Paulo?
R – Rio-São Paulo, era Rio-Cantagalo, depois Volta Redonda, começaram a fazer a moagem, eu tenho uma historinha, um som minhas filhas cresceram sem eu ver, porque normalmente eu estava viajando para Cantagalo, depois formou-se Cantagalo, a fábrica passou a operar, criaram a moagem Volta Redonda. Então, quando eu chegava em casa uma hora da manhã, elas estavam dormindo, quando eu saía, estavam dormindo, mas foi muito bom, muito gratificante e eu devo muito à família pela tranquilidade que até hoje eles me deram, eu nunca precisei de um irmão meu que tem condições, de uma irmã minha que tem condições, tudo que eu precisei a família sempre me ajudou. Uma vez eu fui sequestrado no carro, na época era um Ômega e eles pensavam que eu era o diretor e eu explicava: “Não, eu sou funcionário, sou motorista”. Resumindo, eu passei um bom tempo com eles no morro, eles me levaram em torno de sete horas da noite e me libertaram uma e meia da manhã.
P/1 – Nossa! Não sabiam de quem você era motorista, nada?
R – Não sabiam, mas eu falei, aí levaram meus cartões de crédito, levaram meu relógio, meu cordão e é o seguinte, quando eu cheguei na empresa, o primeiro a saber foi o Doutor José, porque a minha área era do Doutor José. “Doutor, aconteceu isso, isso, isso.” Ele na mesma hora mandou o diretor ligar para mim para me tranquilizar, como é que eu estava fisicamente, o que roubaram, aí me deram tudinho. Quando veio meu cartão de crédito eu mandei para empresa, aí a empresa reembolsou tudinho, com a certidão do ocorrido, né, e com aquelas datas, aqueles horários das compras, me deram um apoio imenso, imenso, imenso, imenso.
P/1 – E você fica vinte e quatro horas ligado?
R – Vinte e quatro horas ligado no ar, hoje tem o celular, né?
P/1 – E quando não tinha?
R – Quando não tinha a secretária ficava doida: “Onde está o Luis?”. Eu estava com um, estava com outro, né. Quando eu me lembrava, quando eu tinha tempo, eu ligava para empresa, né. Liga: “Tem algum recado?”. “Não.” Hoje com o celular tudo ficou mais fácil, né, porque por uma questão de segurança, eu convivo em uma empresa que tem duzentos e vinte homens e hoje a vida que nós estamos vivendo, né? Eu tenho que sair sem falar nada para ninguém, entendeu, mas até hoje eu não tive uma reclamação, nunca levei um puxão de orelha deles porque eu cheguei atrasado, nunca bati com o carro deles, nunca passeei com o carro deles, tanto é que eu estou até hoje, né.
P/2 – E você tinha contato com outros motoristas da...?
R – Não, só eu do Rio de Janeiro, só tem eu no Rio de Janeiro. Eu tenho contato com os daqui de São Paulo, ainda converso um pouco com o David, mas lá no Rio só eu de motorista. Eu sou o, como dizem a família, eu sou Embaixador no Rio de Janeiro, tudo que precisa é comigo. Os filhos do Doutor Ermírio, os dois se casaram lá, fui eu que armei tudinho, microônibus, segurança, foi uma coisa, que graças a Deus correu tudo bem, eu sou Embaixador. Comprar alguma coisa, “Luis traz de São Paulo para mim”.
P/2 – E que outras coisas você faz? Você tem outras funções?
R – Não, eu fico no escritório, fico lendo jornal, mas sempre tem. Hoje com essa terceira geração, que são vinte e três pessoas, sempre tem uma pessoa no Rio, entendeu, sempre tem uma pessoa no Rio, estou sempre sendo solicitado.
P/2 – Nessas viagens que você fazia, era sempre você que dirigia?
R – Sempre fui eu, sempre fui eu.
P/2 – Nunca pediram o volante para você?
R – Pediam e eu estava autorizado a negar, que é o caso do Doutor José, o saudoso Doutor José, que hoje está em bom lugar. “Luis, vocês vão para Cantagalo, não deixa o José Neto dirigir.” o José neto era um garoto jovem, novo, corria, mas eu abria mão, falava para ele, né, mas eu abria mão, mas sob o meu comando, né (risos), entendeu, sob o meu comando, é isso aí, sob o meu comando.
P/1 – Você tomava conta também da meninada, não era só levar pra lá e pra cá?
R – Tomo até hoje, até hoje. Carnaval por exemplo, que a família está toda aí, eu tenho que ficar com aquela pressão em cima, ficar perto, entendeu. Às vezes eu faço as minhas travessuras para fazer a vontade dos garotos. “Seu Luis, eu queria ir aí...” Concordava. Em frente o camarote tem o arame, né, cortava os arames, que era para eles pularem, para eles sambarem ali, né, no autódromo a pessoa tinha que andar a pé, então eu enrolava o guarda, dizendo que eu um estava passando mal, para eu levar eles até lá dentro, entendeu, tem… né. (risos)
P/1 – Tem muita história aí, né (risos), só está passando na cabecinha.
R – Mas são tudo história boa, são tudo coisa boa, não me arrependo de nada da vida de hoje ser motorista. Às vezes eu brinco com a minha mãe, que hoje ela está com oitenta e oito anos: “Eu sou a ovelha negra da família, né, mamãe, mas eu nunca lhe dei trabalho”. A velha fica rindo: “Graças a Deus”. Isso tudo graças à família, não tem mais nada a falar, sempre me apoiou, sempre me ajudou, então eu procurei sempre ser pontual, ser honesto, ser sincero, cumpridor dos meus deveres, o que a família gosta é isso.
P/2 – Quais você acha que são as diferenças das gerações? É muito diferente?
R – Não, é a mesma coisa, é mesma coisa, só a educação, que o Doutor Antônio transmitiu para os filhos dele, então hoje há aquele carinho, aquele respeito: “Senhor Luis, o senhor pode? Se não puder...”. E tem os filhos deles que, o neto do Doutor Antônio, que vem com a mesma educação, simplicidade, escuta o que eu falo: “Ó, não pode fazer isso. Eu vou deixar vocês aqui, se vocês precisarem de sair, vocês ligam para o celular, dez horas, meia noite, uma hora da manhã, vocês não saiam, a responsabilidade é minha, é perigoso”. Então são essas coisas, são essas coisas, entendeu? É muito bom, né.
P/2 – E, lá da primeira geração, o que ficou mais marcado em você?
R – A primeira geração, que é o Doutor Moraes, né, foi tudo aquilo que ele deixou de bom para minhas filhas, no Rio eu sou sozinho, não tenho diretor, não tenho ninguém para brigar comigo, nunca pediu aumento de salário (risos), eu sou sozinho; o que eu fizer está feito. Eles sabem até onde eu vou, quando eu preciso fazer uma coisa eu converso com eles, nunca fiz nada sem uma autorização deles, hoje tem a Dona Célia, que está entrando na empresa, que é abaixo deles, o que ela resolver está resolvido. Ela muito educadamente: “Senhor Luis, tudo o que o senhor precisar, o senhor fala comigo porque eles estão com a cabeça em trabalho, se eu não conseguir resolver o seu problema, o senhor pode falar com eles”. Mas graças a Deus nós temos uma convivência boa e dentro do respeito e dentro da minha sinceridade e... Tu vai levando a vida, né? É, outro dia eu estava falando para minha mulher, que eu já tenho que me preparar, que a Votorantim vai seguir o caminho dela e eu vou parar, né, não vê o Senhor Plácido hoje, quando ele servia a gente, ele era jovem, hoje com noventa e sete anos de idade, noventa e seis anos de idade. Quando entrei na Votorantim, o Doutor Antônio era jovem, o Doutor Antônio tinha o quê? Uns trinta e poucos anos de idade, hoje ele fala comigo: “Luis, já estou com idade e você tá a mesma coisa”. Então existe o respeito, né, existe o respeito e dei muitas provas para eles, muita prova para eles, porque agora eu vou errar? Já no final, né. Então isso que está se passando aqui agora foi uma surpresa, porque eu sempre fui esquecido no Rio.
P/2 – Como assim esquecido?
R – Porque não tinha ninguém para brigar por mim, acontecia as coisas, eu por exemplo nunca fui condecorado com aqueles logotipos da Votorantim de dez anos, um brilhante, vinte anos, dois brilhantes, trinta anos porque eu estava no Rio e estou dando essa declaração aqui com o maior amor, maior carinho e isso vai ficar uma coisa marcada, para daqui a cinquenta anos, cem anos, talvez até meu neto vá ver, meu bisneto vai ver e eles vão ter orgulho do avô como as minhas filhas tem orgulho de mim, para elas... “Meu pai é motorista.” Então, só deixo coisas boas, que eu aprendi com eles, eu aprendi com eles, por isso que eu estacionei, não quis mais estudar. Pessoas boas, sinceras, aí eu fiquei ali, né. Mas o Doutor Moraes, aquele homem é difícil de falar deles, como é difícil de falar do Doutor Antônio, tal pai tal filho, é difícil de falar do Doutor Antônio, um homem que quer saber de tudo, ele sabe de tudo, se preocupa, todos os problemas que eu tive, que eu conversei com ele, fui todos eles solicitado, entendeu? É isso aí, então eu também me escorei, né, porque do outro lado eu tinha ajuda deles, então hoje eu estou retribuindo isso tudo a eles no trabalho, nunca levei um problema, nunca levei um aborrecimento, eu respeito todo mundo para eu ser respeitado lá dentro da empresa
P/2 – E você nunca quis vir para São Paulo?
R – Me chamaram, né, isso há uns vinte e cinco anos atrás, mas para mim não dava, minha base é Rio de janeiro, minha mulher, minhas filhas estavam ainda tudo pequenininha, né. Hoje essa geração fala: “Luis, eu queria um motorista que nem você, lá em São Paulo na minha casa, que seis meses e já botam o carro tudo do jeito deles, direção para lá, Croda empenado”. E eles veem o carro que eu rodo hoje, o carro quando vem para São Paulo, o carro vem novo, do Rio vem oitenta mil, sessenta mil, o carro vem novo. Porque eu sempre zelei pelo carro que me dá muito trabalho, né, porque não é meu, eu vou quebrar? Vou bater? Nunca dei um aborrecimento para eles, sempre zelei e tenho que zelar, não faço mais que a minha obrigação, ainda mais agora, né. Hoje, por exemplo, fiquei por aqui para ser entrevistado, fui lá falar com o Doutor Antônio, subi lá, Dona Valéria levou um susto e a gente não se falava há vinte anos, né, só por telefone, porque as trocas do carro agora são na Rua Amauri, não é mais aqui na Ramos de Azevedo, então: “Senhor Luis, tu vai na Amauri para não vir aqui”. Quando cheguei, cheguei de surpresa, hoje na portaria: “Eu sou Luis Carlos de Araújo, sou funcionário da Votorantim há trinta e oito anos, está aqui na minha carteira funcional. Sou motorista da família Moraes, do Doutor Antônio”. A menina levou aquele susto. “É, Luis Carlos de Araújo está aqui.” “Manda ele entrar.” Entrei, falei com ela: “Dona Valéria, anuncia para o Doutor Antônio a minha chegada, que eu estive aqui, eu tenho que falar com ele”. Na mesma hora ele mandou eu ir na sala dele eu fui lá, desejei-lhe um bom dia. Ele me perguntou o que eu estava fazendo em São Paulo. Eu falei: “Doutor Antônio, eu vim fazer uma gravação para Memória da Votorantim”. “É Luis, muito bom! Então bom dia! Mas é só isso que tu veio me dar?” “É.” (risos). Ele é uma pessoa muito simpática, muito bom, é um homem que trabalha muito, né. Um homem que trabalha muito e é que nem o nosso diretor aqui falou, ele quer saber de tudo, de tudo. Eu nunca fiz nada de errado que desabonasse a minha conduta, até hoje, minhas filhas hoje são casadas, tenho dois genros que me consideram como pai e eles têm a vida deles, um é delegado de polícia e o outro é dentista, tem dois consultórios, vivem a vida deles, eu vivo a minha, me respeitam, isso é bonito, né. O orgulho que eles têm, onde eu passar com eles não têm vergonha, só tenho ter caminho limpo, bonito.
P/1 – E hoje mora você e sua esposa?
R – Só eu e minha nega véia hoje
P/1 – Vocês têm tempo para o lazer, para passear, para...?
R – Temos, temos, a gente passeia quando pode, entendeu, quando pode a gente passeia, às vezes não dá, ela se contenta, quando é carnaval: “Ah! Luis você vai que a família está aí”. Eu tenho que me desdobrar, que às vezes vem cinco, seis pessoas, quando vem o mais eu tenho que arrumar um motorista da minha confiança, para dirigir o outro carro, que eu sei quem é aquele outro motorista que está do meu lado, a responsabilidade é grande. Inclusive, eu falei para o Doutor Antônio uma vez: “Doutor Antônio, o dia que tiver um sequestro pode me apertar que eu estou envolvido”. Falei mesmo, se eu ver, na família esses anos todos houve um sequestro na família, que foi do Marcos, e quem estava no meio, o segurança, o próprio segurança da casa dele. Pô família grande. Por quê? São famílias distintas, respeitam todo mundo, então é isso aí e a minha responsabilidade dobra né.
P/2 – E você tem carro?
R – Tenho, tenho um carro, que quem me deu foi o Doutor José Ermírio de Moraes Neto, o filho do Doutor José. Eu nunca tive carro, um dia eu comentei com ele e ele na mesma hora fez uma carta à mão, assim, para Dona Célia Picon: “Favor providenciar a transferência do Gol 93, da Companhia Votorantim cimentos e dar para o Luis. Então a dona Célia ligou para mim: “Senhor Luis e tal...”, que até então a Dona Célia não me conhecia, né, eles só mandavam a dona Célia fazer.
P/1 – Aí você veio buscar o carro? Veio para cá buscar?
R – Não, o carro estava no Rio de Janeiro, era o carro do gerente e estou com ele até hoje. Valor comercial não tem mais, mas tem uma estima, e às vezes ele me pergunta: “E o Golzinho?”. Aí eu penso “ele vai trocar né”, mas também não peço não (risos), também não peço, o que eu tinha que pedir eu já pedi, né. Ele está bom o carrinho, né, não tem mais.
P/1 – O que mais?
P/2 – Tem mais alguma coisa que você gostaria de falar, de contar, deixar uma mensagem?
R – Olha, a mensagem, a mensagem que eu tenho que falar, não tem como deixar, falar sobre a família, não tem como falar. A mensagem que eu digo é o seguinte: aquele que for para o meu lugar, que for me substituir, que seja honesto, sincero e cumpridor do seu dever e estará em boas mãos, só isso. É difícil falar da família Moraes.
P/2 – O que você acha que você aprendeu durante todos esses anos?
R – Foi educar minhas duas filhas, formar minhas duas filhas, dar educação a elas através da família. Eu hoje só sei dirigir, só sei dirigir hoje, vou fazer mais o que da vida? Dirigir eu dirijo bem.
P/2 – O que você achou de dar o seu depoimento aqui?
R – Foi uma coisa muito boa, que isso vai ficar na história, né, vai ficar na história para os meus netos. Que hoje eu vou na Fundação Moreira Salles, né, e vejo as histórias, então isso vai ficar gravado para eles, amanhã eles vão ver o nome do avô, vai ser um papel bonito, tudo o que eu passei de bom, tudo o que eu aprendi com a família, tudo o que me ajudaram. E elas, através de mim, foram beneficiadas através disso, minha mulher também, nunca precisou lavar roupa para fora, tudo graças ao meu trabalho, à minha sinceridade, que citei aqui e a família sempre entendendo as minhas coisas, sempre me ajudaram, rico não me botaram. Agora, nunca faltou nada para mim, até hoje não, até hoje não.
P/2 – Tá bom, a gente te agradece.
P/1 – Te agradece o depoimento, muito obrigada.
R – O que eu podia falar, né. Acabou?
P/2 – Pode falar?
R – Não, não (risos), é se a gente for falar a gente passa o dia todo aqui e eu convivo pouco com a família, né, convivo pouco, onde eu estou fico dois três dias, bum! Quer dizer, já pensou se eu ficasse dia a dia?
P/1 – É. Muita coisa você me falou que não (risos).
P/2 – Essa vai ser tua última chance, quer falar mais alguma coisa?
R – Não, eu gostaria de deixar uma mensagem, com uma família dessa, digna. Eu acho que eu calado estou dando o meu depoimento. Tudo o que eu já falei aqui foi uma doação de Deus, de eu ter conhecido naquela época o Doutor Moraes, eu podia ser ignorante: “Ah! Vou largar ele aqui e vou embora” e ele ficou me estudando dois anos, dois anos, ele ficou me estudando, né, depois que ele viu quem era eu, minha educação, de eu dirigir bem, sou uma pessoa respeitada, aí que ele se identificou. Ele ficou dois anos, miseravelmente duas vezes na semana, três vezes na semana, que ele tava recém saído do senador e ia lá para o Senado, era uma e meia da manhã, duas e meia da manhã, a hora que saía. Quer dizer, ele estudou a minha pessoa, para depois me fazer esse pedido que foi uma surpresa.
P/1 – Que dura até hoje, né.
R – Né..! E hoje eu estou vendo essa transformação todinha na empresa, uma vez eu falei para o Doutor Antônio: “Doutor Antônio, eu vou ser o último a fechar a porta”. O Doutor Antônio disse: “Luis, você não se preocupa, nada vai acontecer. Eu lamento isso que está acontecendo, lamento, mas o que eu posso fazer, se eu não fizer o que o governo, essa mudança, eu vou ter um empregado e para frente que eu não vou poder pagar (...)”, que a Votorantim, de sessenta e dois mil, caiu para quarenta mil, né, trinta e oito mil, “(...) o que eu vou manter um emprego, que eu não vou poder pagar para frente”. Quando houve os cortes ele mandou quem está aposentado, quem pode se aposentar. “Luis, eu comecei por cima.” Ele é um homem simples, não tem vaidade, a vaidade dele diz o seguinte, é trabalhar e dar emprego, ele conhece todo o mundo. Uma vez ele viajou para China, que ele falou para mim, chegou lá fez a entrevista dele, os trabalhos e voltou para o Brasil. Eu tenho uma admiração muito grande por ele, respeitando os outros, que eu convivo mais com ele, entendeu? E espero que ele venha também agora fazer o depoimento dele.
P/1 – Ótimo.
R – Mas venci, venci, está bom assim?
P/1 – Está ótimo, obrigada.
P/2 – Obrigada mesmo.
R – Ai meu Deus.
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