Projeto: Memória, Identidade e Cultura - Grupo Pão de Açúcar
Depoimento de Valentim dos Santos Diniz
Entrevistado por Carla Vidal e Cíntia Faria
Local: São Paulo - SP
Data: 31 de outubro de 2003
Realização: Museu da Pessoa
Código da entrevista: GPA_CB035
Transcrito por Marllon Chaves
Revi...Continuar leitura
Projeto: Memória, Identidade e Cultura - Grupo Pão de Açúcar
Depoimento de Valentim dos Santos Diniz
Entrevistado por Carla Vidal e Cíntia Faria
Local: São Paulo - SP
Data: 31 de outubro de 2003
Realização: Museu da Pessoa
Código da entrevista: GPA_CB035
Transcrito por Marllon Chaves
Revisado por Grazielle Pellicel
P/1 - Carla Vidal
P/2 - Cíntia Faria
R - Valentim dos Santos Diniz
P/1 - Como o senhor gosta que lhe chamem, senhor Santos?
R - Senhor Santos Valentim, [mas] o que eu gosto na realidade é o Valentim. Você assistiu no final do nosso dia, do nosso aniversário, né, aquele Valentim parece que vinha do meio de muita gente ______ teve uma... Valentim, terminava no Valentim.
P/1 - Valentim é um nome e tanto.
R - Valentim, sim. É, realmente. Mas então, o que eu gosto mesmo é Santos, é o normal.
[Pausa]
P/1 - Senhor Santos, eu tenho uma curiosidade. Quantos anos o senhor tem de Pão de Açúcar?
R - De Pão de Açúcar, desde 1929 até hoje. Olha, há muitos meses, perdão, há muitos anos, até...
P/1 - Me parece que é uma pergunta que o senhor faz a todos os seus...
R - Hein?
P/1 - Essa é uma pergunta que o senhor faz a todos os funcionários?
R - É, eu pergunto mesmo, ao funcionário. Exatamente. Na loja mesmo, eu pergunto: “Quanto tempo você está nessa loja?”. Então é uma pergunta muito boa.
P/1 - Era só curiosidade.
R - Digamos assim, desde 29 até hoje.
P/1 - Como foi que essa história começou? Na verdade, como começou essa história é onde começou a história do senhor. Onde e quando o senhor nasceu?
R - Eu nasci numa aldeia chamada Pomares, o que é no distrito da Guarda, [em Portugal]. Conselho de Pinhal, distrito de Guarda, próximo da Serra da Estrada. Eu dou o nome de Serra de Estrela porque quem estuda sabe onde é a Serra de Estrela, então, mais ou menos. Bom, mas então está. Você quer assim?
P/1 - Vamos.
R - Está bom? Ok.
P/1 - Vamos conversando.
R - Muito bem, vamos. Você pergunta.
P/1 - Faz de conta que eu sou sua freguesa dos tempos de Doceira.
R - Hein?
P/1 - Vamos fazer de conta que eu sou sua freguesa dos tempos de Doceira.
R - Sim, perfeito. Pois é, eu fico muito feliz quando chego numa loja e alguém começa a falar um bocadinho - é muito agradável, muito bom.
P/1 - E o senhor veio para o Brasil quando?
R - 1929, eu saí. Vamos começar então por aqui, depois você vai perguntando como achar. É melhor, é bom. Esta é minha primeira entrevista. Primeira e única até hoje. Queriam algumas, mas eu não dei a ninguém. Esta é minha primeira entrevista atendendo ao pedido do jornalista do Estado de São Paulo que queria publicar dia 25 de janeiro, aniversário da cidade, em 2002 - [há] tanto tempo. Primeiro ele fez uma porção de perguntas, eu ia responder a todas. Respondi quase todas. Primeiro: como era a sua vida na sua cidade natal? Era uma pequena aldeia chamada Pomares, pertencente ao distrito da Guarda, próxima de Serra da Estrela. Perspectivas: já pequeno, filho de médio agricultor e pequeno comércio de produtos não locais, dizia meu pai que eu iria para o Brasil, São Paulo, ou iria para a cidade do Porto, porque [tinham] viajantes que vinham do Porto... Então, nós tínhamos também agricultura e tínhamos uma loja para vender produtos que não produziam lá na região, na aldeia.
P/1 - O que o seu pai produzia? Na agricultura, o seu pai produzia o que, frutas?
R - Trigo, batatas, todo o normal.
P/1 - O senhor lembra da sua infância?
R - Lembro, lembro.
P/1 - Como é que foi em Pomares? Como que era o menino Valentim, ele era levado?
R - Não, não era. Eu sempre fui muito bom, cuidava junto com meu pai. Ajudava lá na aldeia. Eu ia na escola, uns dias, temporada, né?
P/1 - O senhor tinha irmãos?
R - Tinha, tinha um irmão mais novo do que eu. E uma irmã também.
P/1 - E a mãe era brava, o pai? Como é que eles eram?
R - Minha mãe eu perdi eu era menino ainda. Eu estava fora naquele dia quando a minha mãe faleceu, tinha oito anos. Mas o atual papa João Paulo II também perdeu a mãe acho que com oito, nove anos também. E tornou-se um grande... Eu acompanhei um pouco da história dele, a história do...
P/1 - João Paulo.
R - João Paulo II. Muito grande, porque desde rapazinho ele foi grande estudante e participando de tudo quanto eram obras de teatro e tudo criado por ele, está bom?
P/1 - Uma pessoa dedicada?
R - Dedicada.
P/1 - Assim como o senhor?
R - Exatamente. (risos) Eu não.
P/2 - De onde veio a ideia de vir para o Brasil?
R - Bom, porque eu tinha cá uns parentes. De vez em quando, mandavam uma carta para lá dizendo: “Ah, isto aqui está bem, está bom”. Então é para o Brasil. Eu dizia: “Meu pai”. Como eu falei aqui, como nós tínhamos negócio lá na aldeia, vinham pessoas do Porto - o Porto é uma cidade muito importante, industrial há muitos anos e muito desenvolvida. Então, tudo o que existe, tem para vender [lá]. Então vinham lá para vender uma roupa, algum objeto que lá não produziam. “Se você quiser ir ao Porto, você vai ter um bom emprego lá.” Então eu dizia para o meu pai: “Ou eu vou para o Brasil, ou eu vou para o Porto”. E ele disse, concordou com o Brasil. Por isso que eu vim para o Brasil.
P/2 - Como é que foi a viagem? O senhor lembra da viagem?
R - A viagem, eu vou contar. Porto, correria para a cidade do Porto. Viajantes das fábricas lá já me convidavam, mas meu pai concordara com o Brasil. E, na véspera de minha vinda, de minha saída para Lisboa para pegar o navio, com tudo pronto, documentos no bolso, meu pai foi ao meu quarto e perguntou se eu estava contente. Ele me disse: “Você vai progredir". Primeira palavra de meu pai, [e] eu não respondi.
P/1 - Como se chamava seu pai?
R - Abilio.
P/1 - Abilio.
R - Por isso que tem o outro Abilio aí. (risos) Um Abilio muito maior. Bom, no dia seguinte, ele me acompanhou até a estação do comboio - pegar o comboio para ir para Lisboa. Em Lisboa, vai para o hotel, fica dois dias. Dois dias depois, entra no navio. Al (Mazor?) um navio muito grande, imponente. Al (Mazor?) parece que era que chamava. Demorava 17 dias.
P/1 - 17 dias no mar?
R - 17 dias de mar. Encostou só no Rio de Janeiro, mas não perto do porto, na Baía, e a gente subiu no convés. Nessa hora, todo mundo sobe no convés e fica lendo. Lá era tudo muito iluminado, a Baía de Guanabara toda. Alguém olhou lá pra cima e viu aquilo lá, alguém falou - eu estava perto, não conversava com ninguém, mas observei -: “Pão de Açúcar”. Eu olhei bem para lá também e tal,mas eu não disse nada, fiquei exatamente, tal.
P/2 - Mas isso foi bem marcante para o senhor?
R - Exatamente.
P/1 - O que o senhor achou da Baía de Guanabara?
R - Ah, maravilhosa! Bom, naquela hora, foi maravilhoso. Agora, depois você vai lá para passear [e] é mais maravilhoso ainda. Está bom, mas tem muito de família. Tenho a impressão de que só eu, dona Floripes e o Abilio conhecemos o Pão de Açúcar, porque, depois disso, os filhos têm estado muito no Rio para passar férias, claro. Tive a impressão que ninguém me contou que foi [subiu] no Pão de Açúcar. Eu com o Abilio, o Abilio era (tamanhinho, mas estava vestido, e tal?). Fomos no Pão de Açúcar, eu com a dona Floripes. Mas todos, outros da família, parece que ninguém subiu lá.
P/1 - As pessoas hoje têm medo, né?
R - Pois é, exatamente. Muito bom. Eu escolhi São Paulo por notícias recebidas. Eu era um menino de 16 anos sem nunca ter um dia fora de casa. Chegado de trem para a estação da Mooca, fui direto para a casa de um parente no Alto da Mooca. Lá fiquei por poucas semanas, aliás, por uma semana. Então quando no dia estávamos na Baía de Guanabara, daí a pouco o navio saiu, foi para Santos, né? E, em Santos, eu desembarquei e fui para a estação do comboio.
P/1 - O senhor veio sozinho?
R - Sozinho, foi.
P/1 - Não tinha nem um primo, nem um amigo acompanhando?
R - Não, ninguém acompanhando.
P/2 - O senhor ficava sozinho no navio, quietinho?
R - Ficava bem tratado. Até bem, todo mundo me agradava bastante. Talvez pela minha idade e tal.
P/1 - O senhor teve medo?
R - Não, não. Eu nunca tive medo nunca tive. Eu nunca tive medo, nem receei também.
P/1 - Quando o senhor saiu de Portugal...
R - Sim.
P/1 - Quando o senhor estava atravessando o oceano, o que o senhor imaginava para a sua vida? O que o senhor pensava que ia acontecer?
R - Eu pensava sempre [em] fazer bons negócios, ser um grande empresário. Na realidade, por isso que, [por] essa razão que eu vim para cá. Para lá [Portugal] podia, tinha terra bastante para poder ajudar a trabalhar, mas não, eu queria coisas novas.
P/1 - Veio fazer a América?
R - Fazer a América, exatamente. Então cheguei a Santos, peguei o comboio e fui para a estação da Mooca, que é pegado à Companhia Antarctica Paulista. E, somente lá, na estação da Mooca. Lá eu desci, subi por ali acima até o Alto da Mooca, lá na casa desse parente, e fiquei pouco mais de uma semana. Nestes dias, eu comecei a imitar tudo. Sentia de minha, todas as pessoas iam para o seu trabalho - eu ficava feliz esperando o momento meu e fiquei assim uma semana lá. Como os paulistanos me tratavam, eu digo: “Esse menino chegou sozinho de Portugal”, sempre senti o carinho que tinham comigo. Isso, qualquer pessoa.
P/1 - Tinham muitos portugueses?
R - Hein?
P/1 - O senhor tinha contato com a comunidade portuguesa?
R - Tinha alguma, pouca gente, poucas pessoas. Esse meu parente juntava às vezes lá mais uns dois, três amigos, mas não é que nem hoje. Hoje tem muita gente.
P/1 - Comiam sardinhas?
R - Hein?
P/1 - Comiam sardinhas?
R - Há, comiam; acho que comiam sardinhas, até passavam bem. Perto, quando, duas semanas depois, um conhecido me convidou para dar uma volta pela cidade. Quer dizer, eu fui no Alto da Mooca - foi a primeira saída.
P/1 - E o que o senhor achou da cidade?
R - Achei bom. Aquela época achei bom, mas depois, com o tempo, achei melhor. Cada vez melhor. Até a Brigadeiro Luís Antônio foi a minha primeira saída. Neste local, havia um grande estabelecimento, empório e mercearia, que era o maior da região dos Jardins. Seu proprietário, o senhor Januário Miranda, já empresário em outros negócios do mesmo bairro. Conversando com o amigo que me apresentou, o seu Januário olha para mim e pergunta se eu gostaria de trabalhar ali. Nessa hora, eu não disse nem sim nem não. Eu já sabia, começou a minha vida, né? Foi naquele momento. O senhor Januário, um homem muito amável também. Um senhor de meia idade, mas muito bom. Bom, neste momento, chegou a minha sorte em São Paulo. Dias depois, vim trabalhar, aprender tudo que podia. E começou a minha carreira. Foi o primeiro e único emprego. Foi o primeiro, o único emprego que foi oferecido. Depois eu vou chegar lá.
P/1 - O senhor lembra o primeiro dia de trabalho?
R - Lembro sim.
P/1 - O que é que o senhor fez?
R - Eu saí, dei uma voltinha de bicicleta. Isso no primeiro dia. Só pra fazer uma, nos outros dias eu saía com uma bicicleta com um caderno na mão. Onde tem as famílias mais especiais, eu trocava a campainha e tirava e pedido. Está vendo, naquele tempo...
P/1 - O senhor ganhava uma gorjetinha?
R - Não, naquele tempo não se usava.
P/1 - E quanto o senhor ganhava?
R - Ganhava pouco.
P/1 - Ganhava pouquinho?
R - Para mim [era] o suficiente. Cheguei a 100, 80 ou 100.
P/2 - O senhor mandava dinheiro para sua família ou era só para o senhor?
R - Não, era para mim. Eles não precisavam lá. Bom, então foi assim o primeiro dia de bicicleta. E, depois, outras coisas mais. A gente à noite, bom, eu tinha um quarto para dormir; também lá, à noite a gente ficava engarrafando. Hoje vem tudo engarrafado, aquele tempo vinham os tonéis, e a gente ficava lá à noite. Às vezes, a umas horas trabalhando e engarrafando vinho, colocando rótulos, tudo.
P/1 - E o vinho vinha de Portugal?
R - De Portugal. De Portugal e Itália também, alguma coisa, mas da França não.
P/2 - O senhor morava no local?
R - No local tinha um quartinho.
P/2 - Sozinho? O senhor morava sozinho?
R - Foi, exatamente. Muito bom. Eu era... Uns dias, depois passei a tratar quase como família. O senhor Miranda tinha uma senhora muito educada. Era uma mercearia e um empório. O nome do empório chamava Real Barateiro, tinha o nome de, O Real Barateiro - era uma Mercearia, importava mercadorias também. O senhor Miranda tinha uma senhora bastante estudada também e ela ajudava no tratamento das importações. Porque, naquele tempo, se importava muita coisa. Hoje, mais do que hoje.
P/1 - É, e eram produtos caros?
R - Produtos caros, mas eram, no bairro lá, já tinham...
P/2 - Os clientes eram clientes que tinham muito dinheiro, pessoas?
R - Tinham, exatamente. Estavam vindo de Higienópolis. Inclusive, bairro de Higienópolis onde, é lá que estava toda a elite de São Paulo, aquela parte e foram vindo para os jardins. Abriram os jardins. E as pessoas foram vindo.
P/1 - E o bairro de Higienópolis, começava a sumir os casarões, né? [Para] construírem os prédios.
R - Exatamente. Foi.
P/1 - E a Doceira, senhor Santos?
R - Diga.
P/1 - Quando que o senhor falou, resolveu montar o seu negócio?
R - O meu negócio?
P/1 - Vamos chegar lá.
R - Nesse momento chegou a minha... Está bem, minha carreira começou com o primeiro e único emprego, já disse. Em quatro anos aprendi, cinco anos que eu estive lá, o que se pode aprender em, nessa área operacional de uma empresa média ou grande. Aquela já era uma grande empresa, muito bem tocada. Um ano depois, eu conheci a minha esposa, na Brigadeiro Luís Antônio mesmo.
P/2 - O senhor morava na Brigadeiro?
R - Na Brigadeiro.
P/2 - Como é que o senhor [a] conheceu?
R - Ela tinha um irmão que tem um grande açougue também lá naquela região. Bem perto, na Rua José Lisboa.
P/2 - E como que o senhor conheceu ela?
R - Foi lá.
P/2 - O senhor encontrava com ela na rua? Como é que foi?
R - A gente, uma vez por semana, conversava lá perto do açougue mesmo. Perto do meu emprego não...
P/1 - O senhor levava ela para passear?
R - Não, não.
P/1 - O pai dela não deixava, né?
R - Mais tarde, mais adiante. Mas foi depois dois anos que eu estava, depois conheci a minha esposa aqui na Brigadeiro. O açougue, já falei, tinha clientes muito bons, os funcionários eram que entregavam as mercadorias, tudo entregue. Para mim foi um choque. Eu via que o meu cunhado, irmão da minha esposa, tinha um açougue e tinha uma vida muito boa, né? Tinha carro - naquele tempo, poucos tinham carro. Muito bem, eu comecei a pensar e comprei um pequeno estabelecimento, na Rua Vergueiro. Um pequenininho, um pequeno estabelecimento em frente à rua, em frente ao colégio Santo Agostinho. Bem em frente, ali. Era uma pequena mercearia. Me ofereceram, acabei comprando e depois falei para o senhor Miranda: “Olha, comprei e tal.” Bom, para mim foi um choque porque eu estava acostumado a negócio grande. Uma Mercearia pequena que não tinha...
P/1 - O senhor comprou sozinho?
R - Comprei sozinho, [com] pouco capital.
P/2 - E esse estabelecimento era do que, era comercial?
R - Era uma mercearia.
P/2 - Uma mercearia.
R - Tinha em frente da rua, de cá para o outro tinha um sobrado lá [que moravam] dois irmãos médicos. No dia seguinte, vieram lá fazer uma amizade comigo. “Tu não vais... Nós moramos cá há tantos anos, nunca atravessamos a rua para cá.” São pessoas. Está meio abandonado. É bom, para mim foi um choque porque eu já gostava dos grandes negócios. Falei com o senhor Miranda que ele veio por lá, meu ex-patrão e professor. Esse primeiro patrão, o senhor Januário Miranda, eu falava para ele: “Você foi [e] é o meu professor”. É porque ele era muito agradável também. É, eu acho, porque vinha de grandes negócios. Minha esposa, Floripes - aí eu já tinha casado.
P/1 - O senhor casou aonde? Que Igreja que o senhor casou?
R - Na Penha.
P/1 - Na Nossa Senhora da Penha?
R. Na Igreja da Nossa Senhora da Penha.
P/1 - Por que é que o senhor foi casar lá, senhor Santos?
R - Porque o meu sogro tinha lá uma chacarazinha, para aquele lado. Então minha esposa, ela tinha um empregozinho, mas todo fim de semana ia para a casa lá.
P/1 - Teve festa?
R - Hein?
P/1 - Teve festa no seu casamento?
R - Teve festa. Não festa grande, mas teve festa.
P/1 - Quem fez o bolo?
R - [Teve] bolo também, foi tudo especial.
P/1 - Quem foram os seus padrinhos?
R - Minha filha, eu não lembro não. A gente é muito... Bastante tempo, a gente esquece. Mas também era tudo mais simples. Era uma coisa interessante, nos casamos de manhã no civil e depois do casamento, do civil, a Floripes, minha Floripes, foi ao cabeleireiro cortar o cabelo. Porque ela tinha o cabelo grande, comprido. E o país gostavam, não queriam que cortasse. Cortou o cabelo depois que já estava casada no civil. E a tarde tinha festinha, ali, o bolo, coisa pequena. Mas tudo bem, deu tudo certo. Então eu estava, eu receei porque vinha de grandes negócios, a minha esposa disse: “Não desanime não, porque isso vai dar certo”. Mas o seu Januário veio mais uma vez nos visitar, chegou na porta do estabelecimento - minha residência era assim -, chegou lá, dizendo, falou alto naquele dia: “Valentim, eu já tenho comprador para esse seu negócio. - Eu já tinha contado que o negócio era pequeno. - Você vai ser o meu sócio, já tenho um outro sócio [e] eu vou ser o dono mandatário”. E assim se formou uma sociedade Santos e Rodrigues. Santos era eu, Rodrigues era o outro sócio. E o senhor Miranda, limitado. Lembra de, era o senhor Miranda que não tinha responsabilidade nenhuma e alguns anos depois ele se retirou também de uma vez. Tinha outros negócios, foi tratar de outros negócios. Bom, nessa altura, o senhor Miranda tinha, quando eu estava trabalhando com ele, tinha, atrás, um terreno lá. Ele tinha mercearia, empório e mercearia, mas muito completa - já disse. Importante. Muita coisa também e tinha um terreno vazio, que não estava ocupado. Naquele ano em que eu fiquei fora, ele construiu lá, construiu e montou uma panificadora. Então, em vez de ser só mercearia, passou a ser uma panificadora. Nós demos panificadora, mais adiante eu vou contar o nome da panificadora. Uma panificadora nos Jardins. Implantou [a] maior panificadora nos Jardins, continuando com a Mercearia, que era tão grande que importava as mercadorias. Além de grande varejo de clientes sempre, também vendíamos por atacado, por causa da importação. Já tinha algumas coisas que os outros não tinham. Tempos, nos últimos tempos que eu estava na empresa na Brigadeiro... Nesse ponto começa a operar a nova - demorou um bocadinho, algumas semanas, a operar a nova empresa. Nesse ponto começou a operar a nova empresa a Santos e Rodrigues Ltda [limitada], limitada [era] o senhor Miranda, Valentim Santos, que era o Valentim, mas chamavam de Santos, Rodrigues e o senhor Miranda. A direção ficou com os dois sócios. Assim continuamos por de mais nove, quase dez anos. Rodrigues dedicava-se a panificadora, parte industrial, carrinhos de entrega. O senhor Santos, como era chamado, dirige a parte comercial com atendimento aos clientes e importação. Assim ficamos por bastante tempo nos negócios, que iam muito bem. Depois eu comecei a pensar, quase dez anos depois - o senhor Miranda já tinha se retirado -: eu gostaria de ter um negócio meu, como já tinha começado.
P/1 - Já tinha a experiência, né?
R - Isso é. Isso [foi], mais ou menos, em 1946. Dentro de uma harmonia, fizemos a proposta e eu saí, ele ficou. Nas primeiras semanas eu já comprei duas casas velhas na Avenida Brigadeiro Luís Antônio [e] logo derrubamos. Neste terreno, eu pensei em fazer o meu próprio negócio, mas eu não queria fazer concorrência ao meu antigo sócio. Um terreno que eu podia fazer alguma coisa, outra padaria, [mas] eu não queria fazer concorrência com o meu sócio.
P/2 - O senhor queria abrir um outro negócio diferente do seu sócio?
R - Exatamente. Eu comecei exagerando, preparei o prédio - o prédio era bom. Era um prédio de 14 apartamentos e deixando embaixo uma loja bem preparada, para fazer um grande laboratório de Doceira. Isso que eu já pensei, porque eu pensava em fazer uma empresa grande, é claro.
P/2 - Foi nessa época que o senhor queria fazer a Doceira, que já teve a ideia de Doceira?
R - É tive a ideia de Doceira.
P/2 - Como é que é isso?
R - Quando eu comprei aquela coisa, naquele local, eu já dizia que ia fazer uma coisa diferente. Doceira, naquele tempo existia um só em São Paulo. Acho que nem _______, era Doceira Paulista. Não sei se ela existe ainda. E eu queria fazer, mas uma coisa bem ornamentada. Então foi construir o prédio, 14 apartamentos, o laboratório, equipamentos bons, tudo muito bem lá. Ficou montado o laboratório para a Doceira Pão de Açúcar, com uma loja na frente para os clientes - que não iam lá na parte do laboratório, ficavam na frente. Balconistas ficavam lá e tomavam conta dos pedidos todos. Isso começou a ter bom movimento logo no começo, [a] fazerem encomendas.
P/1 - A dona Floripes ajudou o senhor?
R - Não, não. Só cuidou dos filhos muito bem. Ia lá de vez em quando, mas não ajudava, dava força em casa.
P/1 - Mas ela não dava ideias de doces?
R - Não, não. Nunca, a pedido dela, não entrava nisso não. Na frente de lá, tinha a loja para os clientes ficarem à vontade. Eu tinha uma salinha um pouco mais para o laboratório. Essa, estava tudo preparado, o prédio pronto para os clientes fazerem ________. Uma fachada parte mármore, com os dizeres em mármore com dizeres Prédio Santos Diniz.
P/1 - Era chique já, a sua Doceira?
R - Não. E um letreiro bem idealizado também, para marcar bem.
P/2 - E quem que o senhor contratou para fazer os doces? O senhor já tinha?
R - Eu vou chegar lá. Eu roubei, eu roubei de outro.
P/2 - Há, o senhor roubou. Conta essa história para a gente.
R - Eu roubei, mas roubei mesmo, está bem? De mármore [era] o prédio Santos Diniz e um letreiro bem idealizado. Tudo eu gostava de fazer, pensar bem pouco. Eu não estudei, mas tinha um pouco de ideias boas. Idealizava. Escolhi os melhores profissionais que havia e consegui tudo pronto, bem planejado para pequenas e grandes festas, casamentos, banquetes com pessoal especializado. Eu marquei lá, bom. Veja, pessoal especializado: os primeiros que eu tive foram aqueles da produção, para a produção da Doceira. [E] onde é que eu fui buscar? Doceira Paulista, que era a única que existia naquele tempo, sabe? Eu procurei fazer contato com um pretinho alto - não era preto; bem moreno, mas não era - uma pessoa sensacional, novo ainda também. Mas conversei com ele e tal, então está bom, peguei ele. Era assim mesmo ________, alto, bem... Conversei com ele, ele queria conversar da Doceira, está bom, podemos fazer. Ele tinha duas filhas nessa Doceira Paulista. Ele trabalhava lá, tinha duas filhas também pretinhas, mas bem preparadas, moças bem [jovens], as duas lá. Uma delas se chamava Lourdes a outra não me lembro o nome. E foi esses três que vieram começar no Pão de Açúcar, no laboratório. Logo em seguida, consegui achar um holandês que ficou até o final, ficou muitos anos lá. O holandês era o chefe de produção de tudo, mas os outros que faziam, eles é que faziam e ele era lá o chefe. Alto, forte, holandês.
P/1 - Os holandeses são bons nos doces?
R - Muito bons.
P/1 - Agora, o senhor também foi danado, né, pegando os funcionários da concorrência.
R - Claro. É normal.
[Pausa]
R - Já tinha a equipe de produção no laboratório da Doceira. Tinha que arranjar outra equipe, “matres” para contratarem serviços de festas para fazerem fora. Então tinha dois matres, eles mesmo contrataram os serviços com o cliente, iam buscar os garçons. Iam buscar na Praça da Sé, que não sei se continua até hoje assim, mas sei que eles iam na Praça da Sé, já tinha um local lá que eles: “Eu preciso tanto, eu preciso seis, eu preciso dez”, tal. Cada um dos “maîtres” ia buscar os seus e dizia para eles: “Tal dia, em tal lugar, temos esse serviço assim [e] assim”. Eles cuidavam de tudo, eu não precisava cuidar de nada.
P/2 - A Doceira fazia salgados ou era só doces?
R - Salgados e doces. Tudinho, tudo completo.
P/2 - Bolos.
R - Bolos, tudo completo. Então, bom, quando eu falo que tinham serviços, iam na sua casa e montavam aquele jantar que a senhora quisesse. O serviço [era] feito na casa do cliente mesmo. Ou com produtos que iam da Doceira ou que eles compravam, e então fazia todo o serviço.
P/1 - O senhor já tinha filhos?
R - Depois vai chegar. (risos) Bom, então, aqui eu já tinha assim no discurso de inauguração, que eu parei aqui. Marquei a inauguração para o dia 7 de setembro de 1948. Bastante convidados vieram do Rio, porque eu já tinha um conhecimento. [Para] o discurso de inauguração, eu convidei o professor universitário Marques da Cruz, que faz (ema?) boa. Foi uma boa festa, com um grande sucesso. Nessa altura, já tinha três lojas. Tinha uma da Praça Clóvis. Chegou a conhecer a da Praça Clóvis? Não, a essa não? Então, foi a primeira na Brigadeiro. - Eu imaginava uma empresa diferente, não ia continuar só com a Doceira. - Mas a primeira foi construída na Praça Clóvis, terreno que era da Cúria Metropolitana. Depois veio a ligação de Praça da Sé com a Praça Clóvis, ficou tudo, bom, mas lá foi feito uma esquina lá muito boa. E mais outra lá no centro. Então, quando foi no dia da inauguração, já tinha três Pão de Açúcar, está bom? (risos)
P/1 - Puxa, foi rápido! Agora, senhor Santos, por que é que o senhor queria fazer a inauguração no dia 7 de setembro?
R - Pergunta, boa pergunta. O doutor Paulo é capaz de responder. (risos)
P/1 - O senhor não tinha algum motivo especial?
R - Tinha um motivo especial. São algumas lembranças que a gente não conta pra ninguém: 7 de setembro Portugal perdeu, entregou o Brasil. Dia 7 de setembro é feriado. Portugal entregou o Brasil, deu a liberdade, porque naquele tempo Portugal dominava o Brasil também. Foi isso, no 7 de setembro é que foi a independência do Brasil. Então, claro, _________, mas ninguém me falou nada, foi ideia minha só.
P/2 - Foi ideia do senhor?
R - Foi ideia minha, exatamente.
P/1 - Belo “marketing”, hein?
R - Bom, e assim tudo ia muito bem, estava tudo caminhando muito bem. Uns meses depois, isso foi em 1948, no final de 1945, a empresa ia muito bem com os funcionários bons que eu admitia, e aprovava os trabalhos deles. Fizemos uma viagem, apoiava, tinha confiança neles e no trabalho deles. Fizemos uma viagem a Portugal levando os cinco filhos em um carro novo, importado. Voltamos dois meses depois com o mesmo carro. Eu visitei meu pai lá, a família toda. Dois meses depois, voltamos com o mesmo carro. Tudo bem.
P/1 - O que seu pai falou quando te viu com os filhos, os bens?
R - Muito feliz, ficou muito feliz e como querem ficar muito feliz mais, a minha esposa. Só contato que tínhamos lá, alugamos uma casa fora da aldeia lá, numa praia muito boa, Figueira da Foz. Alugamos uma casa lá, levamos umas empregadas da aldeia mesmo. Ficamos um mês muito bom lá.
P/1 - O senhor já tinha cinco filhos?
R - Cinco filhos, faltava um. Faltava um filho ainda, depois veio mais um.
P/2 - Seu pai nunca veio para o Brasil?
R - Não, vinha vir logo quando eu estive lá. Porque tem gente que vem de Portugal ao Brasil e ganha um dinheiro e logo volta pra lá outra vez. Eu fiquei 20 anos. Isto também é uma das coisas que eu tenho orgulho. Eu [com] 20 [anos aqui], já deixei uma empresa organizada e funcionários bons. Mas só 20 anos depois é que eu voltei lá, e 29 foi que fui. E só.
P/1 - Casado, com cinco filhos e um carro.
R - Com cinco filhos e o carro.
P/2 - Muito bem sucedido.
R - Então, aqui vem agora, [a] sétima pergunta: como essa empresa se transformaria no império que é hoje? Com a importância da cidade nesse avanço de vice e versa, São Paulo, eu dizia, para mim é tudo. Até a década de 90, eu visitei boa parte do mundo, mas nada melhor que São Paulo que me acolheu e me ofereceu trabalho, o nosso progresso do Brasil, é, está bom? Eu sou brasileiro. Voltando ao 7 de setembro, fundação do Pão de Açúcar, eu já pensava em uma grande empresa. Logo em seguida, eu comprei um prédio - não um prédio, uma residência, mas uma residência grande que tinha ao lado de onde eu tinha construído. Uma residência, para mim, bastante importante até. E já era grande, tinha o terreno também bastante grande. Tinha pés de café lá, plantados, bom só para. Logo em seguida, eu comprei um prédio, uma residência grande, pegado [colado] ao que tinha inaugurado. Tive algumas ideias. Tendo o terreno, resolvi que iria fazer a primeira loja de supermercado. E pegado à Doceira...
P/1 - O senhor já tinha visto isso em algum lugar?
R - Não pensei mais em Doceira, eu queria supermercado.
P/2 - Como que veio a ideia do supermercado?
R - É que [era] uma novidade, que começa a surgir a ideia do supermercado.
P/2 - Tinha muitos instalados?
R - Aqui não havia, praticamente não havia...
P/2 - Tinha poucos?
R - No Rio, já tinha alguns, mas coisas pequenas, tudo coisas pequenas. Bom, eu imaginei então fazer a primeira loja de supermercado, tanto que ainda hoje eu não sei se dá pra perceber aquela loja que ao lado onde estava a Doceira, que agora foi derrubado. Depois, onde era a primeira loja de supermercado, já foi derrubado para fazer uma mais nova, porque era a primeira, estava...
P/1 - O senhor estava sempre buscando coisas para fazer?
R - Sempre procurando coisas, mas era...
P/2 - Novidades.
R - Era, sempre olhando. Bom, logo em seguida, comprei o prédio. Tivemos lá algumas, tive algumas ideias, o doutor Abilio até pensou também alguma coisa mais. Alguém também dizia: “Faça um cinema, que não tem cinemas por aqui”. Não, eu disse: “Eu vou fazer um supermercado”. Supermercado em São Paulo. Inaugurado dia 14 de abril de 59. Assim foi construído - foi o que eu imaginava, uma grande loja. Até mais, ela tinha uma escadaria grande. Porque eu imaginava em fazer em cima uma loja de departamentos. O supermercado embaixo e em cima eu queria fazer loja de departamento para tudo que se precisa: alimento embaixo, tudo que não seria alimento na parte de cima. Mas começou a trabalhar tão bom e supermercado que acabou ficando a parte de cima para salão de festas para a Doceira. Ficou algum tempo funcionando como Doceira, não como salão de festa, salão de festa da Doceira.
P/1 - O senhor alugava para festa?
R - Alugava, exatamente. A pessoa contratava o serviço com o salão também.
[Pausa]
R - Deixa eu contar só uma aqui. Depois que a Doceira estava trabalhando muito bem, mas veio uma encomenda do governador Ademar de Barros, um banquete para 400 ou 500 pessoas, militares, tudo militares, no Clube Ohms da Avenida Paulista. Foi o Pão de Açúcar que serviu lá. Eu não fui lá, não precisava ir, tinha o pessoal lá. Mas foi o governador Ademar de Barros. Isso, mais ou menos, nessa época que eu estava terminando o salão novo, que era o salão de festas. Após a loja 1, começamos a vir falar com o doutor Abilio - não o doutor Abilio aqui, não; não dava nem para ainda, não tinha chegado. Começamos a ver nossos locais. Eu trocava ideia com meus empregados mesmo. Após a loja 1, começamos ver novos locais. Compramos uma esquina da Maria Antônia, em frente ao Mackenzie. Uma loja de supermercado. Esta eu vou estar, vou passar aqui. A Roosevelt até exatamente, não eu vou falar, mostra aqui. Começamos a ver locais novos. Compramos na esquina da Maria Antônia, em frente ao Mackenzie. Sabe onde é o Mackenzie? Pois é, uma esquina muito boa, a segunda loja - seria a primeira ou a segunda loja de supermercado. Já tinha feito a primeira, essa é a segunda, mas poderia ter sido a primeira.
P/1 - Então aquela que está lá até hoje foi [a] segunda loja?
R - A loja 2 está lá até hoje. Tem uma história bonita, os clientes também.
P/2 - Eram os clientes de Higienópolis, né?
R - Exatamente, Bom o supermercado inaugurado, esta da Maria Antônia foi inaugurada dia 5 de maio de 1963. Uma loja muito especial, ficou sendo a loja mais bonita da cidade. Era a segunda, mas poderia ser a primeira da cidade. Frei Daniel que benzeu a inauguração, aí mesmo começamos a negociar o terreno ao lado da Igreja. Eu chamei o Frei Daniel de lado, conversamos: “Frei Daniel, você tem um terreno grande lá da Igreja, não é campo de futebol, não é jardim, a gente podia fazer uma loja lá”. Ele olhou para mim, disse: “Manda lá um engenheiro”. Depois eu explico porque foi que ele fez isso. “Manda lá um engenheiro”. Ele não quis se comprometer porque aquilo é uma ordem. Bom, está bom? Ano seguinte compramos uma loja na Praça Roosevelt, aí já não... Uma Rede Sirva-se, aí o doutor Abilio já estava atuando bastante. A seguir compramos uma loja na Praça Roosevelt e compramos depois o Sirva-se. O Sirva-se em, [era de] um brasileiro que estava nos Estado Unidos, entusiasmou-se com supermercado e o Simonsen - eram banqueiros. Ele chegou aos banqueiros e mostrou para ele alguma coisa: “Eu gostaria de fazer uma loja de supermercado, isso é muito bom e tal”. Fizeram duas lojas rápido. Bom, aí também teve a história, nós compramos só o que tinha dentro das lojas, o equipamento, tal, mas os prédios eram deles, seria um aluguel.
P/1 - Ficaram alugados.
R - Ficaram alugados. Bom, alguns meses depois o aluguel não dava, começaram a pedir adiantado. Eu cheguei para o doutor Abilio e disse: “Vamos tentar comprar, agora é agora”. Começamos os dois prédios. Porque eles tinham três; era uma que estava, constava no contrato nosso, mas o prédio estava sendo terminado ainda, não era deles ainda. Lojas oito e nove. A oito na esquina da Alameda Santos e a nove lá na Gabriel Monteiro da Silva. Bom, então nós ficamos com os prédios e eles resolveram o problema deles também. [Em] 1968, tínhamos 64 lojas e em 1970, inauguramos em Portugal, Lisboa, dia 1º de maio, na Rua Estados Unidos da América, Estados Unidos. Em 1973, inauguramos um grande hipermercado na África, Angola, capital da África Portuguesa. No mesmo [ano], como na Espanha compramos um grande terreno, grande loja em Madrid, no Centro de Madrid. A história do Pão de Açúcar é no Brasil. Uma grande empresa. Em 1990, tínhamos 22, estávamos em 22 estados, 480 lojas e mais de 90 mil funcionários, foi o doutor Abilio lá que aumentou também. Oito, ainda tem mais pontos aqui. Como foi formar a família em São Paulo? Até aqui era Valentim dos Santos Dinis e Floripes Diniz, dia 15 de fevereiro de 1936, casamentos e São Paulo, 1936, casamento em São Paulo. Dia 28 de dezembro nasce o nosso primeiro filho, o doutor Abilio dos Santos Diniz, é foi no mesmo ano anos, mas foi. (risos) Deu tempo.
P/1 - Tudo em ordem.
R - Tudo em ordem. É é que ele veio 28, 29 de dezembro.
P/1 - O senhor, é tudo rápido, não? Uma loja, uma Doceira, duas lojas, cinco filhos.
R - Mas tudo bem colocado. Foi Abilio Diniz. O Abilio e aniversário, 28 de dezembro. Nós casamos 15 de fevereiro e ele nasceu [depois]. No mesmo ano, dia 28 de dezembro. Fica bem claro que não havia coisas diferentes naquele tempo. O primeiro filho, hoje [o] doutor Abilio dos Santos Diniz. Anos depois iniciou, [teve] início seu colégio no Teixeira Branco, o melhor colégio que havia nos jardins, na Rua Guarará, perto da nossa casa. Sete anos depois, o Alcides Diniz, em seguida, Arnaldo, depois a Vera Lúcia, a Sônia Maria [e] a Lucília, todos os seis filhos terminaram o primário nesse colégio. O Abilio matriculou-se no Mackenzie. Ele terminou o primário, matriculou-se no Mackenzie, terminou os estudos até ir para a Fundação Getúlio Vargas, onde se tornou administrador de empresas. A Fundação Getúlio Vargas era o segundo que estava antecedendo e ele formou-se nessa segunda turma. Bom, aqui, quando ele entrou para o Mackenzie, tem uma coisa interessante também, ele se candidatou lá no Mackenzie. Ele estava chegando de novo lá, se candidatou a um cargo que tinha lá, de futebol, qualquer coisa. E o que é que eu fiz, eu fui arranjar, mandar fazer uns cartõezinhos para ele pregar nos postes lá. Colocou e, no fim, ele foi eleito. Era novo lá no Mackenzie, compreende? Ele ficou, tal, pergunta para ele, se é verdade isso. Ele foi eleito, exatamente, tal.
P/1 - Senhor Valentim, porque o senhor chama ele de doutor Abilio?
R - Porque desde, de minha filha, que ele foi para a Fundação Getúlio Vargas, se formou. Vou chegar lá agora, está bom? Aí [foi] para a Fundação Getúlio Vargas, onde se formou administrador de empresas. Foi o segundo ano da Fundação. A partir desse momento, o Abilio dos Santos Diniz passou a ser diretor superintendente do grupo Pão de Açúcar. Hoje, presidente, contador, mas naquele tempo eu o elegi como diretor superintendente, dominava tudo e com plenos poderes. Eu fiz lá umas comunicações, para alguns fornecedores comunicando, isso para eles, que o Abilio tinha acabado de se formar na Getúlio Vargas e ele é que dirige toda a parte comercial de compras principalmente. Enfim, e fiz sentir aos funcionários, que naquele tempo eram 40 mil que estavam aí, que o doutor Abilio - porque lá na Getúlio Vargas não usavam chamar ninguém de doutor. Forma-se administrador, mas ninguém usa de chamar de doutor, não tem anel, não tem formatura, também não tinha, naquele tempo não tinha, nada. Então, eu avisei. Para os fornecedores eu mandei um comunicadozinho e para o pessoal interno fiz um comunicadozinho também. O doutor Abilio acabou de se formar na Getúlio Vargas, passa a ser doutor Abilio dos Santos Diniz com plena autonomia para os negócios.
P/1 - O que o senhor acha do Abilio Diniz?
R - Boa pessoa. Todos nós temos nossos problemas. Ele é boa pessoa, é muito boa pessoa. Ainda ontem chegou na minha sala, poucas vezes ele vai lá. Chegou na minha sala... Não sei se você viu, tem uma revista, bom, revista tem muitas. Uma revista da Câmara Portuguesa de Comércio, eu até já Tinha esquecido que eu tinha sido presidente da Câmara Portuguesa de Comércio, mas eles editaram agora uma nova revista no dia do aniversário meu. Que apareceu, eu tenho lá para você ver, para mostrar para os meninos também, A dona Floripes gostou muito, achou bonito. Até ela também está lá. Bom, que é que estava agora... Nove, ele tinha pedido doze assuntos, Eu tinha pensado vamos só até o dez. E aqui agora tem nove. Eu já fiz sentir tudo que São Paulo nos oferece, mas cheguei à Brigadeiro no momento em que se iniciava o que virá a ser o Parque Ibirapuera, que é hoje o pulmão dos Jardins. Número dez, já ficou claro que moramos no Jardim Europa, Rua Itália. Onze, eu gosto de tudo, menos violência. Acho que terminou.
P/1 - Puxa, Senhor Santos!
P/3 - A última pergunta, como está hoje? Como que o senhor vê o grupo hoje nessas visitas que faz às lojas?
R - Eu acho bom, para mim é bom. Porque eu venho para cá de manhã. Faço a barba às oito horas, meu barbeiro faz a barba e tal. Arrumo o cabelo, às vezes fica bem. Vou para casa, Dona Floripes está lá em cima, só desce quando eu chego praticamente a uma hora, almoço, fico lá até às duas horas, não, duas e meia, às vezes três horas. Depois saio, visito duas a três lojas, pelo menos duas. Eu me dou bem, eu gosto de visitar, converso com o gerente, nem mando chamar o gerente. Meu segurança tem ordens para chamar um encarregado. O gerente tem coisas para fazer, não precisa chamar. Um encarregado está bom. Ele acompanha, chego a um lugar, converso com aquela menina lá que está atrás do balcão, digo: “Olha, a loja está bonita, você também está bonita”. E isso, os do açougue a mesma coisa, elogio a loja e o serviço deles também. Bronca, dificilmente dou alguma coisa. É só elogiando e dizendo: “Precisam melhorar a média, aumentar a média”. Para as meninas, eu digo: “Você precisa fazer um sorriso para os clientes”. (risos) Não gostos das falas. Vou na loja, dou uma palavra com todos. O que mais me agrada, as senhoras, por exemplo, quando eu vou na Panamericana, que é tudo gente, né, tal, que já me conhece. Aí eu meu cumprimento e só este assim. E eles começam, você fala alguma, tal, fica muito agradável. Eu gosto mesmo, só cumprimento. Está o casal também, cumprimentos todos. É bom, eu gosto disso também.
P/1 - Senhor Valentim, o que o senhor acha desse crescimento todo que teve na história do Pão de Açúcar?
R - O crescimento nosso foi muito bom e está completo, está bom. Vai continuar bom, Deus queira.
P/1 - O senhor está cansado, né?
R - Exatamente. Ainda ontem o doutor Abilio foi na minha sala, naquela hora que ele foi com a revista. A revista está muito boa e tal. Aquilo lá conta um pouco da minha história quando eu estive lá. E eu fiquei contente que ele veio lá e tal. Está feliz, mas pensando coisas, tal. Mas tem coisas que mexem com as pessoas.
[Pausa]
P/1 - Essa daí é sobre a loja?
R - A loja 2.
P/1 - Então conta para a gente.
R - Já tinha falado antes. Era uma senhora viúva, com duas filhas, há muitos anos ela queria vender, mas ninguém conseguia. Os herdeiros queriam era dinheiro, ela precisava vender. Apareceu um corretor que aceitou fazer uma oferta firme e acertou com os escritos todos. Eu fiz a oferta firme.
P21- De quanto era o dinheiro, quanto era o terreno?
R - Nem eu lembro mais, mas era bastante. Fiz a oferta e assim se fez o relatório para passar as escrituras com o dinheiro, né? Era tudo controlado com o dinheiro. Tudo deu certo. E o dinheiro do banco, eu fui buscar com o doutor Abilio. Pus o carro, naquela altura, ele não guiava ainda; com o carro, eu parei na Rua Quinze de Novembro, em frente ao Banco Português. O gerente estava lá me esperando com o dinheiro. Tirei uma malazinha do carro, levei para lá. A seguir, estava marcado para passar as escrituras, viemos direto para o escritório do advogado, do nosso advogado no Palácio Mauá. Sabe onde é o Palácio Mauá? A seguir, começaram a ser chamados os herdeiros, um a um. Eram doze ou quinze nesta época. Ia passando para a outra sala à medida que eles iam terminando, que recebiam também no final. No final da tarde, um jovem casado, de novo, chegou em casa e a esposa não acreditou que ele tivesse demorado lá até aquela hora. Com isso, ele voltou novamente lá na sala com a esposa, porque a esposa (estava precisando?) ir junto com ele. Está bom? São brincadeiras, mas foi verdade. Bom, a primeira loja do Guarujá foi ideia minha para apoio dos nossos clientes de São Paulo. Depois, a loja 4 também foi a primeira a funcionar 24 horas por dia, também foi ideia minha, exatamente.
P/1 - O senhor passava as férias no Guarujá?
R - No Guarujá, hein?
P/1 - O senhor costumava ir para o Guarujá?
R - Eu tenho apartamento no Guarujá e em São Vicente também, mas a gente não vai muito. Vai muito pouco lá. E tem um barco lá no Clube até, já faz mais de ano que eu não vou lá. Tem um barco lá também.
P/1 - O senhor lembra do, como é que é o nome do pai do Valter?
P/2 - Do senhor Zaín, Valter Zaín?
P/1 - Não, do Pai.
P/2 - Um funcionário que ganhou vários carros, que o senhor premiava, né, alguns funcionários com carros?
R - Premiava sim.
P/2 - Ele ganhou vários carros. O senhor também ajudou o filho dele nos estudos no Colégio Rio Branco.
R - Sim, sim.
P/1 - o senhor lembra dele?
R - Eu lembro dele.
P/1 - Ele esteve aqui dando entrevista.
R - Ah sim, é.
P/1 - O senhor sabia que o filho dele é diretor do Pão de Açúcar?
R - Não, não, chegou.
P/1 - Ele trabalha aqui. E o senhor ajudou a pagar os estudos dele.
R - Mas não lembro dele. _____. Depois, nós temos Pão de Açúcar, [o] primeiro a chegar em Portugal. Eu vim embora para cá, precisava chegar a Portugal. Primeiro a chegar a Portugal, preparação. O senhor Ministro Marcelo Caetano e comitiva visitaram o Brasil, em 1963. Há muitos anos não vinha autoridade maior ao Brasil. Foi recebido pelo governador Sodré com um banquete no palácio. No dia seguinte no Palácio Mauá, antiga sede da Fiesp, o ministro, em seu discurso, fez um apelo para que os empresários do Brasil procurassem visitar Luanda, [na Angola], capital da África portuguesa. Meu nome foi, eu era presidente da Câmara Portuguesa de Comércio. Eu não fui citado. Eu era português ______. Citou meu nome, eu era presidente da Câmara Portuguesa de Comércio. Comecei a fazer contatos, inclusive, com o ministro Delfim Neto, que apoiava e no final, ele não poderia ir, mas indicou pessoas preparadas em seu nome. Assim foi formado um grupo de 30 casais com saída pela África do Sul e em seguida dois dias de Lourenço Marcos e três dias em Luanda, capital da Angola. Lá tínhamos tido algumas reuniões. Viagem para Portugal. Todos para o Hotel Ritz, em Portugal. A primeira noite nossa em Portugal, porque afinal o ministro que convidou... Primeira noite, ofereceu-nos um senhor jantar no Cassino do Estoril. Foi um sucesso, mas foi a nossa chegada. O primeiro dia de visita, a seguir a esse dia. O primeiro dia de visita, o ministro Marcelo Caetano, que tinha estado aqui para preparar as coisas, me ofereceu um almoço no dia seguinte na sede do Oficial, muito especial. A seguir, fomos visitar o ministro da indústria e comércio, estava envolvido também, que fez um convite para mim para criar em Lisboa um Pão de Açúcar, que ele já conhecia daqui. Aceitei o convite. No dia seguinte, junto com um amigo de Lisboa, fomos ver algumas lojas. Uma já estava pronta. Assim, quando voltei ao Brasil, o contrato já estava pronto. Em seguida, o doutor Abilio foi à Lisboa [e] achou muito bom. E assim se criou a empresa em Portugal, a Açúcar Portugal. A primeira loja na Rua Estados Unidos da América.
P/1 - Onde é que é, que bairro? Em Lisboa mesmo. É Centro?
R - É Lisboa, primeira loja na Rua Estados Unidos da América, uma rua muito especial, um bairro muito especial também. Montou-se bem a loja, muito bem preparada [e] bem promovida. Abastecimento completo com produtos dos dois países. Marquei a inauguração para o [dia] 1º de maio de 1970. Foi um sucesso, muito público e agradável. À noite, convidamos boa parte dos empresários de Lisboa, aqueles que ficaram conosco, para um jantar com um show no Hotel Ritz. Essa foi a nossa chegada a Portugal. Em seguida, começamos a montar lojas. A segunda a ser inaugurada foi em um prédio de uma das maiores empresas de Portugal, que a seu pedido, eles já eram nossos sócios. Tanto se vê como eles tinham interesse em Portugal, ficaram nossos [sócios] ali. Assim se formou, fomos montando lojas, já estávamos com 12 unidades quando, de repente, os militares fizeram uma rápida Revolução dos Cravos, como ficou conhecida. Mas três anos depois o primeiro ministro que assumiu o governo, porque àquela data não tinha primeiro ministro lá. O que assumiu o governo nos chamou para reassumirmos a empresa oficialmente. Nós conseguimos assim colocar a empresa em ordem. Em 1965 construímos, inauguramos na África, Luanda - acho que já falamos na África. Luanda, uma grande loja, foi um sucesso. Na Espanha, um grande terreno comprado, montamos uma loja no centro de Madrid, uma grande loja no centro de Madrid, na capital, que foi inaugurada pelo Abilio Diniz e mais alguns da família que estavam lá - eu não estava lá. Desde a nossa chegada a Portugal, nossa empresa cresceu muito no Brasil e no exterior também. Podia ter crescido mais. Está bom.
P/1 - Esses tempos, com a Revolução dos Cravos, foi muito difícil lá em Portugal?
R - Demorou depois para chegar tudo, havia dívidas grandes. Eles tinham arrasado as lojas, vendido o que tinha e não tinham, e não tinham pessoa para começar tudo de novo nas lojas. Por isso demorou um bocado de tempo. Mas, depois, bom, mas no final, o primeiro ministro que assumiu o governo - demorou para o primeiro ministro assumir o governo. Naquela altura, não havia primeiro ministro nem presidente, foi o primeiro. Aqui tem um assunto novo também, mas foi um pouquinho engraçado. Loja de Jabaquara, vocês sabem que nós temos uma loja lá no Jabaquara, né?
P/1 - Uhum.
R - O Jabaquara é onde começou o Metrô também. O Metrô [de] São Paulo foi preparado, inaugurado na mesma semana [em que] foi inaugurada a nossa loja no Jabaquara. Eu vou falar aqui: a loja do Jabaquara estava pronta, mas na prefeitura havia problemas que atrapalhavam. Numa festa eu falei com o senhor prefeito que eu queria marcar uma audiência.
P/1 - Quem era, o Jânio?
R - Hein?
P/1 - Era o Jânio Quadros, não?
R - Não, era o Olavo Setúbal.
P/1 - Ah, Olavo Setúbal.
R - Eu falei numa festa. Eu queria marcar uma audiência com ele e ele pediu para que eu ligasse lá. Fui lá com o nosso engenheiro no dia seguinte. Uns dias depois, o engenheiro tinha um papel em mãos. Eu entreguei para o senhor prefeito. Ele pegou assim, olhou, falou uma palavra que eu nunca tinha ouvido: ”Eu vou avocar.” Avocar, né? Isso foi, bom: ”Eu vou avocar, pode procurar já na próxima semana. Está tudo liberado para a inauguração.” O doutor Olavo Setúbal que fez um belo discurso no dia da inauguração, ele mesmo fez. A estação central do Metrô, onde todo Metrô de São Paulo... É de lá que saem todas as máquinas, ficou pronta na mesma semana da nossa loja.
P/1 - Puxa! E foi bom para a loja ter o Metrô do lado e para o Metrô ter a loja?
R - Sim, claro. Sempre digo: “Nossa loja é tão importante que o Metrô foi inaugurado na hora que nós estávamos inaugurando”. Então a nossa loja chamou o Metrô. O metrô já tinha projeto, mas foi naquela altura que eles terminaram. É bem encostado na nossa loja.
P/1 - Qual é a sua loja preferida?
R - Todas elas. Preferida mesmo, eu gosto muito da primeira loja que eu inaugurei. Ontem, por exemplo, fui numa loja em Osasco, tinham umas meninas lá na porta da loja fazendo propaganda. E elas começaram a brincar comigo. Eu disse: “Você de onde é?”, “Ah, eu sou de Santo André”. Eu disse: “Eu estive em Santo André ontem, lá”. Então eu disse para ela: “Você lembra de uma loja que foi feita perto da estação lá, em Santo André, há bastante anos?”. Ela disse: “Talvez, mas já tinha ouvido falar”. A primeira loja que nós inauguramos em termos de grande loja, hipermercado, foi essa de Santo André. Veio também o ministro Delfim Neto para a inauguração - atrasou um pouco.
P/1 - Puxa!
R - Uma primeira de Santo André, depois tem muitas também. Temos lojas, todas lojas. E a que a gente mais gosta é a primeira loja de supermercado, que está na Brigadeiro.
P/1 - A da Brigadeiro?
P/2 - A loja 1.
R - É, exatamente. É esta aqui, porque a loja era outra, mas essa já era meio pequena. Então derrubou essa loja e fez essa outra maior.
P/1 - Senhor Santos, tem alguma lembrança de algum funcionário?
R - Funcionário?
P/1 - Alguma lembrança especial relacionada a algum funcionário?
R - Tem um que eu lembro e todo mundo lembra, Oswaldo Garcia Estremeira.
P/1 - Não, não, que era, que é?
R - Quem era? Foi o primeiro que depois que construiu o prédio, ele veio para ser zelador do prédio. Tinha um departamentozinho lá em cima para ele, se ele resolvesse. Bom, ele era tão bom zelador, estava se acostumando no laboratório de Doceira. Foi acompanhando a evolução da Companhia. Chegou a ser, digamos assim, o tesoureiro mais importante naquela época. Ele, depois casou muito bem, tinha um apartamento muito bom lá no Morumbi. Que tinha lá o campo de...
P/2 - Futebol do São Paulo?
P/1 - De tênis?
R - Sim, de tênis. Exato, de tênis. Terminamos uma reunião aqui na minha sala, ele foi para casa, trocou de roupa e foi jogar, morreu naquele dia.
P/1 - Puxa!
R - Morreu. Foi a pessoa que mais a gente ainda hoje pergunta a uns, todo mundo lembrou dele. Não havia, todo mundo - tinha alguém que o Oswaldo tinha feito alguma coisa agradável -, para a Companhia e para eles todos. Era ele, Oswaldo. Depois tem outros mais que a gente não mexe, tem uma porção deles que não dá nem vontade.
P/1 - Não dá, né?
R - Esses eram dos antigos, nossos.
P/2 - O senhor gostava também de praticar esporte como seus filhos?
R - Hein?
P/2 - O senhor gostava de praticar esporte?
R - Eu fui um grande cavaleiro. Até os meus 82 anos, eu fui um grande cavaleiro, na hípica Paulista - tinha cavalos bons. Meus filhos todos, o Alcides, o Arnaldo. O doutor Abilio é o que menos se interessou com os cavalos. Só depois, que tínhamos uma fazenda bastante grande, tinha um campo de polo, então ele começou a jogar polo lá. O Alcides [e o] Arnaldo eram campeões de polo no passado. O doutor Abilio começou por último.
P/1 - Quantos netos e bisnetos o senhor tem?
R - Netos, bisnetos, aí foram tantos que não dá para contar.
P/1 - Não dá para contar?
R - Os netos são, acho que são 22.
P/1 - Puxa!
R - Acho que são, é, 22.
P/1 - Senhor Santos, o que é que o senhor diria para os jovens que estão entrando no Pão de Açúcar? O senhor tem alguma mensagem, algum conselho para dar?
R - A mensagem que eu podia dar para qualquer um: para entrar no Pão de Açúcar, principalmente quem estudou um pouco, procure ser aquilo que ele queria ser quando ele estava começando a estudar. Nós temos que ser bons para nós e para quem nos rodeia. Para o meu chefe, meu patrão, para o meu companheiro, ter a mentalidade de receber as pessoas todas com o maior carinho. É isso que, a recomendação que eu dou. Procura fazer o serviço muito bem, mas procurar prestigiar todos aqueles que estão junto de si, com ele. Começando as senhoras, as meninas aí, ________. Que mais? Procurar ter o coração aberto para tudo que possa vir. Coisas ruins não, só coisas boas.
P/1 - E o que o senhor acha que é assim, que esta, que é da cultura do Pão de Açúcar? Que era da cultura quando o senhor era, liderava, que [agora] é do seu filho? O que o senhor acha que faz parte da trajetória do Pão de Açúcar que passa por todos esses anos?
R - Acho que é a cultura nossa em Portugal, que é uma cultura não tão desenvolvida como agora, mas é de gente boa. Haja visto que Pedro Álvares Cabral é que descobriu o Brasil. Talvez isso para ganhar uma medalhinha destas, compreende? Descobriu o Brasil por quê? Porque havia aquela cultura, tenho a impressão. A Norma é que sabe bem sobre isso, ela estudou muito, não? O Brasil se desenvolveu com a chegada de Portugal. As pessoas que vinham e traziam bons sentidos, boas ideias e tudo mais. Eu quando vim para cá também, me considerava um português da minha aldeia, mas eu queria ser, digamos assim, uma pessoa, uma personalidade que conseguisse construir aquilo que ele imaginava: uma empresa. Uma empresa não tão grande como chegou. É isso.
P/1 - O senhor achou que, não imaginava que ia ser tão grande assim? Imaginava que era, [seria] grande?
R - Não, eu sempre achei. Eu sempre pensei em fazer uma empresa grande.
P/2 - Hoje o Pão de Açúcar é um sonho realizado para o senhor? Do jeito que está, do jeito que está sendo conduzido?
R - Foi idealizado por mim. Como eu disse, que eu arranjei os meus funcionários para o laboratório e depois para os serviços de festas: foi tudo idealizado por mim. Idealizado, dei a ideia e pronto. E tive sorte, consegui gente boa também.
P/1 - Quais as outras histórias que o senhor quer contar para a gente?
R - Tens uns lembretes aí, pode ser? Isso aqui é um discursozinho da época. Isso são lembretes mesmo.
P/1 - São lembretes?
R - Pode ser que eu diga novidades. No primeiro domingo, no Alto das Mooca, dava para ver um incêndio no alto de um prédio [pelas] as pessoas que estavam por perto, ninguém conseguiu identificar.
P/1 - Isso quando o senhor foi morar, chegou de Portugal.
R - Mas no dia seguinte, os jornais deram a notícia. Eram madeiras que estavam no topo do Prédio Martinelli [Edifício Martinelli], que estava, já estava para se terminar - o incêndio foi lá. E foi difícil terminar o incêndio, deu trabalho. Apesar de, oficialmente, a construção pegou fogo e o fogo foi terminado, mas demorou para terminar, porque era muita madeira que estava...
P/1 - Era lá no Martinelli?
R - Martinelli, Prédio Martinelli.
P/2 - Na São João?
R - Era o Prédio Martinelli. Ninguém - mas vivia lá no Alto muita gente - identificou, os jornais no dia seguinte é que, parece que foi uma novidade.
[Pausa]
P/1 - Senhor Valentim.
R - Diga.
P/1 - Eu gosto de chamar o senhor de senhor Valentim, todo mundo chama o senhor de senhor Santos.
R - Ah, está bom. Pode chamar, eu gosto. Eu falei: “Alguém de vocês”. Estavam juntas as duas antes, ficaram treinando àquela hora [e] alguém falou numa Valentina. Valentim ou Valentina?
P/1 - Valentina.
R - Valentina, nós ganhamos uma a um mês e pouco.
P/1 - Ah é?
R - É uma neta.
P/1 - Uma netinha?
R - Uma netinha, telefonou do Rio. Estavam todos muito bem, mas que já tinham uma menininha e o nome dela ia ser Valentina.
P/1 - Puxa, isso é um nome bonito, não?
R - Você acha bonito?
P/1 - Como era o atendimento? O que é que o senhor acha que é mais importante quando a gente entra nas lojas, o atendimento dentro das lojas?
R - O atendimento é bom. E eu quando vou à loja, procuro - não mando chamar o gerente não, em geral, às vezes vem o gerente, mas chamam um encarregado. E eu visito a loja, todas as partes da loja, converso um pouquinho com as moças, pergunto: “A loja está bonita, vocês também estão bonitas.” É isso que em todas as seções, na seção da (CLB?) que a gente vê a mercadoria muito bem colocada. Eu gosto das coisas que estão lá. Então eu elogio, gosto de elogiar aqueles balcões grandes de pratos prontos, as mercadorias. Eu elogio, mas elogio alegremente, alegre porque às vezes deve dar um sorrisozinho para os clientes. Estava bem, é isso.
P/1 - E a relação com os fornecedores? O que é que ela mudo, como que o senhor acha que...
R - Agora, eu não tenho mais. No início, quando o doutor Abilio se formou, era ele ou era eu, a gente lidava com os fornecedores. Depois, foi assim.
P/1 - Como que era a relação com os fornecedores?
R - Com fornecedores, muito bem. Todo mundo me queria muito bem. Naquela hora que eu escrevi para eles um comunicado dizendo que o doutor Abilio tinha acabado de se formar administrador de empresa, por isso que ele ficava com autonomia na parte comercial. Isso foi o doutor Abilio. Eu sempre prestigiei e me senti muito, até posso dizer só para vocês assim, nem dependente às vezes. Ele gostava tanto, porque ele, começados a... Os outros, o Arnaldo, não, o Alcides é o segundo, foi sete, oito anos depois. Então ficamos só os dois. Eu tinha um filho já formado, então aquilo era um apoio muito grande.
P/1 - Vocês conversavam muito sobre negócios?
R - Conversamos muito.
P/1 - Quais os valores que o senhor acha que permanecem ainda hoje dentro do Pão de Açúcar que o senhor trouxe na sua bagagem lá de Portugal?
R - É mais ou menos aquilo que eu imaginava. O doutor Abilio é até um pouco mais radical em certas coisas. Tem que fazer a coisa com mais cautela, que tudo dá certo, mas o espírito nosso é o mesmo. É o que eu disse há pouco: “Nós somos portugueses. Viemos para o Brasil, [então] nós somos brasileiros.” O doutor Abilio diz a toda hora: “Nós somos brasileiros.” Somos brasileiros de corpo e alma, [e de] Portugal também.
P/1 - O senhor, depois de um tempo o senhor nunca teve vontade de voltar a morar em Portugal?
R - Não, morar não. Eu contei para você uma história que eu fui. Uma das coisa que tomei muito para mim, que eu dou valor, é que eu só voltei a Portugal 20 anos depois de estar aqui e deixar uma empresa média trabalhando perfeitamente, que eu fui e voltei e a empresa continuou - 20 anos depois que eu fui lá. Perguntem.
P/2 - Quando o senhor voltou a Portugal, o senhor já tinha a Doceira muito consolidada e voltou realmente como um vencedor.
R - É mesmo, considerado vencedor porque deixei uma empresa bem organizada. O pai da Norma ficou justamente tomando conta junto com eles aí, durante três meses.
P/1 - O pai da Norma trabalhou aqui?
R - Trabalhou. Teve negócio próprio aí na Vila Mariana, depois veio para cá também, me ajudou por aí.
P/1 - Ela vai contar a história dela também.
R - Sim, isso é bom.
P/1 - O que o senhor gosta de fazer? Como que é o dia do senhor?
R - Acompanhar as coisas, para que tudo corra bem, Hoje eu estou mais neste, acompanhando, conversando, mas durante muitos anos a minha sala era a sala de reuniões da diretoria. Porque a minha diretoria era eu, o doutor Abilio, Alcides, Arnaldo. Os problemas todos e depois tinha os diretores nas lojas, eles recebiam as informações, mas era tudo resolvido. Digamos, as coisas mais sérias, era tudo resolvido na minha mesa. Era eu, doutor Abilio, Alcides, Arnaldo, depois entrou o Luís Carlos.
P/1 - O Luís Carlos Bresser?
R - Bresser, ele chegou a fazer parte e só. Então, ali que se resolvia todos os problemas importantes - que se resolveram muito bem. Porque até 1990, o Pão de Açúcar era meu e da minha esposa. Era grande, naquela época, mas era meu com apoio do doutor Abilio, formado, era homem formado. Eu acreditava nele. Eu apresentava alguma coisa, ele aprovava. Se ele apresentava, eu aprovava também. Era assim. Tudo correu bem até 90. Depois, houve uns probleminhas. Eu quis fazer uma diretoria um pouco mais, não, nessa altura, em 90, é que foi uma nova, era o que nós chamamos, uma nova estrutura. Foi essa nova estrutura que estragou um pouco o sistema, que a empresa vinha crescendo, mas muito mesmo. Depois, parou um pouco. Agora está crescendo outra vez. Vai continuar. Está bom!
P/1 - Essas coisas deixaram o senhor triste?
R - Não, não. Não tem que ter _____. Não, nada me pesa, não tem. Depois, então, nessa altura, foi feita uma cisão. Eu quis fazer uma estrutura muito bem feita com os três filhos juntos comigo, mas tinham muitos diretores interessados. Tinha alguns mais, às vezes menos, até tinha alguns... Então começava, então todo mundo começou a puxar para o outro lado e não se conseguiu fortalecer isso, o que eu criei. Os filhos, os três filhos, dentro da Companhia junto comigo. Eu fiquei durante muitos anos [como] o diretor presidente, era isso que eu, mas não deu certo. Sempre com os meus filhos durante esses anos, todos, nunca ninguém levantou a voz na mesma, nem a mão nem nada. Nunca ninguém discutiu nada na mesa de reunião. Nunca aconteceu nada. Então, nessa altura, houve uma visão. Uma cisão que é que foi, dividiu-se. Uma parte ficou comigo e com a dona Floripes, que até aquela data era só minha e da dona Floripes, e dos filhos todos, mas depois foi feito uma cisão. Todos receberam uma parte, seria mais ou menos isso. Incompatível naquela época. Mas os anos passam, depois as coisas ficam um pouco difícil. Cada um. É isso, mas está tudo bem.
P/1 - Mas são coisas que acontecem, né?
R - Aconteceu, mas comigo não devia ter acontecido, devia ter continuado como estava. Primeiro, quem mais sofreu com isso, com a cisão, foi a dona Floripes. Porque ela, primeiro, ela sabia que os filhos estavam juntos em tudo, depois ficaram afastados. A única que ficou foi a Lucília, mas os outros estavam afastados. Com isso, a dona Floripes sofreu, ela ficou triste. Eu tomei um pouco, mas bom...
P/1 - Mas na festa de aniversário do senhor, estavam todos juntos lá.
R - Estavam todos juntos, todos ele, mas que isso ali era aniversário. Mas, digamos, há questão de dois anos passados, antes da cisão, era toda semana, todos juntos estavam lá. Se não era no Sábado, era no Domingo. Se não era no Domingo, era terça-feira. Mas está tudo bem. Deixa ver [se] eu tenho aqui [algo que] é interessante.
P/1 - O senhor era pai muito bravo?
R - Não, não. Nunca levantei a mão para ninguém, nem para nada. Sempre agradável. É o que eu disse há pouco: “Nós devemos estar com o coração aberto para tudo." Falo isso com minha esposa também. De vez em quando, ela fica um bocadinho abatida. Depois teve aquela vez também, agora, no começo do ano passado, que ela ficou três meses em tratamento numa perna. E não, posso falar uma coisa: ficar só, ela sabe, Dona Floripes teve seis filhos, né, sempre em casa. Médico da Beneficência, os melhores médicos, mas nunca fez, nunca quis ir ao hospital. Tudo correu muito bem, roupas muito limpinhas, tudo mais. A primeira, então um médico... Lembra, é, o doutor Paulo Antunes... Era um outro, eu acho que era João, então, eu não lembro mais, mas o médico era o mesmo da Beneficência. Eu sou há 20 anos, o doutor Antônio me convidou para a diretoria lá. E, mas dona Floripes nunca quis. E agora quando saiu ruim da perna também, vieram lá os dois japoneses. Que até a minha família, quando precisava [de] qualquer coisa, vieram os dois japoneses lá e: “Precisa ir no hospital”. Uma semana, que é que eles podem fazer? Ninguém conseguiu convencê-la e, com isto, demorou três meses que ela - e até hoje ela tem um bocadinho de dificuldade para andar.
P/1 - Ela é teimosa então?
R - É isso. (risos) Ela é, muito bem, muito bom. É sim, mas essa vocês não precisam contar também. Mas é bonita, são coisas bonitas.
P/1 - São mulheres fortes, né?
R - Coisa bonita, nunca foi num hospital.
P/1 - O que o senhor [acha] de o Pão de Açúcar ser hoje uma das melhores empresas para as mulheres trabalharem?
R - Muito bom. Quanto maior a empresa, melhor para as senhoras, para as meninas. A senhoras e meninas, a gente vê, todos os países, as pessoas aparecendo nos principais lugares, nos lugares mais importantes.
P/1 - A sua neta fez um trabalho muito grande aqui.
R - Muito grande, muito bom.
P/1 - O senhor dava conselhos para ela quando ficava aqui direto?
R - Ela dava para mim também, ela gostava. Eu gostaria de, ela sabe qual é o meu sistema - tudo, espero tudo ___, tem as coisa também. Mas tudo bacana.
P/1 - O que o senhor quer contar para a gente?
R - Espera aí, o que é que eu tinha aqui? É [de] 1929, espera aí. Crise na agricultura, principalmente no café, que era, a riqueza do Brasil era ao café. Em 1929, tinha uma crise muito grande.
P/1 - Foi quando o senhor chegou.
R - Foi quando eu cheguei e por aí que começou a melhorar. Eu cheguei [e] começou a melhorar. Mas o café era a riqueza, que exportava muito. Faltava empregos e, em 1924, tinha havido uma revolução. Cinco meses antes de eu chegar, tinha havido uma revolução muito grande. A gente ia nos bairros, assim, passear nos bairros, a gente encontrava as residências furadas.
P/1 - Por balas?
R - As balas. Isso eu me lembro.
P/1 - E durante a guerra? Quando teve a segunda guerra, teve escassez de produtos? Como que foi?
R - Aqui está agora, aqui está. Aqui é 1929, agora, 1932...
P/1 - Outra revolução.
R - Veio outra revolução. (Veio contar por...)
P/1 - A revolução constitucionalista.
R - Eu não quero contar porque eu não vivi essa daí no Brasil. Bom, daí que, exatamente, é 32 mesmo, nessa altura. É 1932 mesmo. Veio uma outra guerra, eu lembro [que] estava perto do quartel general que é aqui na Manuel da Nóbrega - antigamente era. Agora o quartel general é mais para abaixo, o novo. Mais para cima, toda, todo o exército estava na Manuel da Nóbrega aqui em cima, aqui nos bombeiros, estava tudo ali. Bom, e veio uma revolução que nó sentimos ali, bem perto, naquela loja ali perto. Sentimos de noites as balas lá, percebes?
P/1 - Poxa vida!
R - Oh! Não vivia, não podia contar. Mas, bem, veio alguma coisa [que] melhorou. Foi desta revolução de 32 que o Brasil ganhou o primeiro presidente eleito, isto é uma coisa importante. A partir da revolução de 32, teve outras 29, 24, 25, tal, mas a partir de 32 veio o presidente Getúlio Vargas, eleito por eleição.
P/1 - O que o senhor achava do Getúlio Vargas? Ele era um bom presidente?
R - Bom presidente. É, eu estava, há pouco tempo atrás eu dizia: “Não, eu me lembro do Getúlio Vargas”. Dos que eu mais lembro é Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Fernando Henrique Cardoso e agora o nosso Lula. Nós todos apoiamos e estamos (apostando?) que ele vai conseguir melhorar o Brasil.
P/1 - Uma mudança e tanto, não? O senhor acompanhou toda a mudança?
R - Exatamente, ele vai dar, ele consegue. Bom, Estados Unidos, Paraíso. Ah, está aí. Como loja, você não vai ler _________. A loja, a primeira loja da Sears no Paraíso, vocês não lembraram. A família não lembra. Havia uma loja Sears no Paraíso. Abriu, foi o primeiro a abrir crédito para todo mundo. É, exatamente. E os americanos que vieram para abrir a loja, vieram morar aqui na rua dos bombeiros, muitos deles. Na rua dos bombeiros, depois aquela rua que abriram no meio da rua dos bombeiros. Tem uma rua que foi aberta aí no meio. Vieram morar todos lá nas casas novas ali, está lá até hoje. E, naquela altura, o Pão de Açúcar começou a oferecer - ainda era Doceira -, fornecer para os restaurantes deles. Eles tinham um restaurante para o público todo, uma coisa muito grande.
P/1 - Que bacana, não?
R - A Sears do Brasil. Tinham falido nos Estados Unidos e acabaram aqui naquela altura.
P/1 - Onde o senhor fazia os passeios com os... Quando o senhor ia passear com seus filhos, junto com a dona Floripes, ia onde?
R - Ibirapuera, porque o Ibirapuera era o melhor passeio que tinha naquele tempo. Era tudo novidade.
P/1 - O senhor lembra do Quarto Centenário, as festas do Quarto Centenário?
R - Eu lembro, era muito bonito.
P/1 - O que o senhor lembra das festas do Quarto Centenário?
R - Lembrar mesmo eu não lembro mais. O Quarto Centenário foi realizado aqui. Era neste Quarto Centenário que o meu pai estava para vir, mas ele faleceu, ele não veio. Então, olha, tem aqui um papel interessante, ____ vai recebendo. Bom isso depois você pode jogar fora. Tem um aqui. Outro dia eu fui em uma loja aí da, estava em Santo Amaro. Você quer ler aqui? Quer ler?
P/1 - Pode ler, o senhor quer ler? Quem mandou isso para o senhor?
R - Isso foi um cliente nosso de loja.
P/1 - Um cliente?
R - Cliente de Loja, não é ___. E é corretor de seguros, mas não pede nada de seguros, só dá, só elogia a companhia. (risos) Quer que eu leia?
P/1 - O senhor conhecia esse Restaurante Gouveia?
R - De nome, agora, não lembro.
P/1 - Pode ler.
R - Pode ler. “Parabéns por mais este aniversário do Pão de Açúcar e dizer com orgulho” – se eu soubesse disso, eu tinha convidado; ele está aqui na Faria Lima, inclusive, o escritório dele; o escritório dele é na Faria Lima - “E ser vosso cliente há longos anos e também estar muito à vontade em dizer que conheço o fundador desde o universo que começou humildemente nesta São Paulo querida. Há alguns anos vem realmente crescendo muito graças a qualidade de seus produtos e gentileza, e o sorriso no rosto de todos os gerentes e funcionários” - isso que eu acabei de dizer - “que nos atendem. Parabéns também por nos envolver com tanto calor humano, tão raro e tão necessário nos dias de hoje.” - está – “E por fim, parabéns ao amigo Valentim, lusitano de muita fibra que veio para vencer e conseguiu. Sei do seu começo, pois fui dono do Restaurante Gouveia, na Rua Santa Tereza, próxima à sua Doceira na Praça Clóvis com a Praça da Sé.” Que aquela esquina foi derrubada, foi feita uma loja muito bonita lá. Era a segunda loja lá, depois era três lá no Centro. Mas, então, é na praça, ele tinha um restaurante, eu me lembro do nome do restaurante na Praça Clóvis Beviláqua naqueles bons e saudosos tempos do nosso São Paulo antigo, lembra-se? “Antônio Antunes Duarte, sou o primeiro do Xavier Gouveia, juntos fundamos,” - é exatamente - “fundamos o Restaurante Gouveia.” Muitos anos.
P/1 - O senhor fez muitos amigos nas lojas?
R - Vejo amigos...
P/1 - Fez amigos.
R - Quando eu visito as lojas, muitas lojas, encontro amigos lá e eles nos elogiam também.
P/1 - Quando, no começo do primeiro supermercado, o senhor ficava na loja o tempo todo, atendia os fregueses também?
R - Pouco, ficava mais para trás, pouco atendia no balcão. Sempre que passou a ter. Mesmo quando fez a Doceira, eu não atendia. Eu tinha uma salazinha para dentro lá do laboratório, que eu atendia algum problema quando traziam. Mas quem estava no balcão, as moças que estavam lá, e depois quando chegaram os homens para fazer isto também. Eu nunca me envolvi muito nisso não.
P/1 - O senhor tem algum desejo que o gostaria de realizar ainda?
R - Algum desejo? Não, eu gosto de ver tudo bem. Como sempre, em casa, dona Floripes às vezes eu converso com ela - às vezes [fico] uma hora seguida, assim, conversando -, leio um pouco, tal. A gente tem sempre que estar com o coração pronto para tudo aquilo que chegar. Não se pode reagir a nada. É isso.
P/1 - Tranquilidade.
R - Tranquilidade, exatamente, essa é a palavra que eu digo. Tranquilidade, isso é a palavra que eu uso bastante. Alguma coisa acontece, tal, então tranquilidade. Com tranquilidade então é assim.
P/1 - O senhor quer contar mais alguma coisa?
R - Não, eu acho que eu não tenho. Mas se quiser perguntar.
P/1 - O senhor tem algum comercial, alguma música do Pão de açúcar, algum "jingle" que o senhor tenha gravado?
R - Não. Pão de Açúcar. Nó somos brasileiros. Nós somos importantes, nós queremos ser importantes para os nosso a clientes. Você sabe, tem que ia à casa do cliente. Aqui, é só ir lá o [e] você recebe todos os elogios lá. Recebem mil telefonemas, quase, por dia. Mas é dos milhões é que estão fora. Tem que estar sempre disposto. Se alguém reclamar [de] alguma coisa, ter uma resposta e uma resposta que vai atender a pessoa,
É isso, não é isso?
P/1 - Senhor Valentim, muito obrigado pelo senhor ter voltado.
R - Eu é que fiquei muito feliz com vocês todos.
P/1 - Foi um prazer conhecê-lo.
R - Eu levo isso para a Alzita, depois ela passa.
P/1 - O senhor sabe que o senhor é um mito.
R - Muito obrigado, obrigado.
P/1 - Todo [mundo] quer conhecer o senhor Valentim Santos.
R - Eu sou senhor Santos, o Valentim. Eu falava do Valentim no dia da, a Ana Maria consegui atiçar e a voz dela, saia lá: “Valentim.” Aquele Valentim para mim.
P/1 - É nome de valente. Mas Valentim é um nome espanhol, né?
R - Tem, tem em Portugal, mas são poucos. Valentim é de Portugal, mas são poucos. Floripes, quantas você conhece?
P/1 - Nenhuma, só a sua. É exclusivo.
R - Você [vê] que eu trouxe alguém de bom. Trouxe um Valentim e trouxe uma...
R - O senhor namora muito ainda dona Floripes?
P/1 - Namora, a gente namora. Às vezes eu falo, leio algum livro...
[Fim do depoimento]Recolher