Começo com uma infância marcada pelo abandono de meu pai biológico, um subversivo constante nas listas do AI5, um homem procurado por crime político, comunista, estudante de Direito pela Universidade São Francisco, sim considero-me filha da Ditadura. Eu e minha mãe passamos por questões deli...Continuar leitura
Começo com uma infância marcada pelo abandono de meu pai biológico, um subversivo constante nas listas
do AI5, um homem procurado por crime político, comunista, estudante de Direito pela Universidade São Francisco, sim considero-me filha da Ditadura. Eu e minha mãe passamos por questões delicadas de abandono. Fui uma criança diferente e sempre tive problemas de adequação social, as 12 anos havia lido o Capital de Karl Marx, O que é ideologia e já tinha o sangue político de meu pai correndo sobre minhas veias mesmo sem conhecê-lo de fato. Uma infância e adolescência marcada por poucos amigos ou períodos de nenhum. Em meio a estudos e livros distópicos e filosóficos. A falta de adequação social levou-me ao uso de drogas mas isto também não refletiu adequação social e trouxe mais isolamento, refletindo em duas internações psiquiátricas e uma internação
por drogadição ativa. Finalmente me libertei do vício um dia de cada vez e tardiamente estou em busca de um diagnóstico de autismo. Dolorosa e ao mesmo tempo libertador saber de que não sou estranha ou algo do tipo, que sou neurodivergente e está tudo bem.
Ao longo desta minha existência de 53 anos, casei-me duas vezes e me divorciei, tenho um Bacharel de Ciências Contábeis, um Latu Sensu em Administração de Negócios e uma pós de Filosofia tristemente interrompida por questões financeiras. Falo inglês fluente e dou aulas inclusive, italiano e espanhol básicos e estudo francês.
Tenho plena consciência de minha capacidade intelectual mas reconheço que vivo em um pais altamente preconceituoso e sofro tais reflexos por ser \"diferente\".
Amo tatuagem e tenho muitas , isto também causa preconceitos. Sou hetero cis e muitos acham que sou gay, mas eu não me importo mesmo porque tenho amigos queridos da comunidade LGBTQIAPN+ e não sou preconceituosa. Sinto a dificuldade de me encontrar neste mundo líquido de relacionamentos líquidos como relata Bauman em sua obra sobre O Mundo Liquido, mas ainda tenho esperanças por dias melhores, por pessoas livres de preconceitos e estereótipos. Esta oportunidade de falar sobre minha história mesmo de maneira superficial é um pedido de socorro por mais oportunidades de trabalho e reconhecimento de pessoas autistas e neurodivergentes, isto não é uma doença, nós neurodivergentes somos apenas diferentes. Que este pais não se apegue ao estereótipo de pessoas mas que possa de fato avaliar a capacidade de fazer de cada cidadão independente de aparência, cor, sexo, gênero, etc...
Que sejamos valorizados pelo nosso conteúdo de fato!
Este é um apelo!
Um pedido de socorro!
Gratidão pela oportunidadeRecolher