Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé - Ouvir o Outro - Compartilhando Valores – Pronac 128976
Depoimento de Ginivaldo Canal
Entrevistada por Tereza Ruiz
Águia Branca, 01/06/2014
Realização Museu da Pessoa
NCV_HV015_Ginivaldo Canal
Transcrito por Ana Carolina
MW Transcrições
P/1 – Primeiro, Ginivaldo, eu queria que você dissesse pra gente o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Ginivaldo Canal. Onze de fevereiro de 1978. São Gabriel da Palha.
P/1 – E agora o nome completo e, se você lembrar também, data e local de nascimento dos seus pais. Se não lembrar só o nome. Não tem problema.
R – Falar o nome dos pais?
P/1 – Isso.
R – É Antoninho Canal. Eu sei que a data é 27 de outubro. O ano eu não sei. Élida Ronchetti Canal, a data é três de março, de nascimento.
P/1 – E onde ela nasceu, você sabe onde eles nasceram?
R – Ah, não. O papai acho que é Venda Nova.
P/1 – E sua mãe você não sabe da onde ela é?
R – A mamãe acho que Colatina, eu acho que é.
P/1 – É Espírito Santo, os dois.
R – Eu acho. É. Espírito Santo os dois.
P/1 – E conta um pouco o que os seus pais faziam e fazem profissionalmente.
R – Sempre, que eu me lembre, sempre mexeu com café. A fonte de renda principal sempre foi café.
P/1 – O pai e a mãe?
R – O pai e a mãe.
P/1 – E como é que eles são assim? Descreve um pouco pra gente como eles são de temperamento mesmo. Como você descreveria os seus pais?
R – Descreveria? O papai é bem tranquilo, da parte mais assim... O papai é mais tranquilo, a mamãe é um pouquinho mais ativa.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho três irmãos.
P/1 – Qual que é o nome dos seus irmãos?
R – É Givanildo, Gilberti e Girlane.
P/1 – E com o que eles trabalham?
R – O Givanildo na área de direito, o Gilberti é administrador de uma empresa, uma construtora que mexe com loteamento. E a Girlane atualmente ela trabalhava em banco, hoje ela tá em...
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Projeto Nestlé - Ouvir o Outro - Compartilhando Valores – Pronac 128976
Depoimento de Ginivaldo Canal
Entrevistada por Tereza Ruiz
Águia Branca, 01/06/2014
Realização Museu da Pessoa
NCV_HV015_Ginivaldo Canal
Transcrito por Ana Carolina
MW Transcrições
P/1 – Primeiro, Ginivaldo, eu queria que você dissesse pra gente o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Ginivaldo Canal. Onze de fevereiro de 1978. São Gabriel da Palha.
P/1 – E agora o nome completo e, se você lembrar também, data e local de nascimento dos seus pais. Se não lembrar só o nome. Não tem problema.
R – Falar o nome dos pais?
P/1 – Isso.
R – É Antoninho Canal. Eu sei que a data é 27 de outubro. O ano eu não sei. Élida Ronchetti Canal, a data é três de março, de nascimento.
P/1 – E onde ela nasceu, você sabe onde eles nasceram?
R – Ah, não. O papai acho que é Venda Nova.
P/1 – E sua mãe você não sabe da onde ela é?
R – A mamãe acho que Colatina, eu acho que é.
P/1 – É Espírito Santo, os dois.
R – Eu acho. É. Espírito Santo os dois.
P/1 – E conta um pouco o que os seus pais faziam e fazem profissionalmente.
R – Sempre, que eu me lembre, sempre mexeu com café. A fonte de renda principal sempre foi café.
P/1 – O pai e a mãe?
R – O pai e a mãe.
P/1 – E como é que eles são assim? Descreve um pouco pra gente como eles são de temperamento mesmo. Como você descreveria os seus pais?
R – Descreveria? O papai é bem tranquilo, da parte mais assim... O papai é mais tranquilo, a mamãe é um pouquinho mais ativa.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho três irmãos.
P/1 – Qual que é o nome dos seus irmãos?
R – É Givanildo, Gilberti e Girlane.
P/1 – E com o que eles trabalham?
R – O Givanildo na área de direito, o Gilberti é administrador de uma empresa, uma construtora que mexe com loteamento. E a Girlane atualmente ela trabalhava em banco, hoje ela tá em casa. Hoje ela tá dona do lar.
P/1 – Descreve pra gente um pouco então como é que é a casa em que você passou a sua infância.
R – Descrever? Deixa-me ver se eu lembro. Já era de telha, né? De telha? Você sabe que eu nem lembro. Não. Acho que era Eternit ela. Eu nem lembro.
P/1 – Onde que era?
R – Eu lembro pouco. Eu lembro mais da área, que tinha uma área, eu me lembro de um banheiro, fogão a lenha, dos quartos eu não lembro muito, não.
P/1 – Não?
R – Não. Onde eu nasci não.
P/1 – Você dividia quarto com os seus irmãos? Isso você se lembra?
R – Dividia. Não lembro muito bem, não. Eu me lembro de muita coisa de infância, mas disso aí eu perdi mesmo.
P/1 – Onde que era?
R – Era na Fazenda Catelan. Aqui mesmo na região.
P/1 – E das brincadeiras de infância você se lembra do que vocês brincavam, você e seus irmãos?
R – Nós jogávamos bola, peteca, boleba.
P/1 – O que é boleba?
R – Bolinha de gude. Tem vários nomes, birosca, mas pra nós era boleba. Gostava de seta, atacar pedra em passarinho. Coisa de menino mesmo.
P/1 – E brinquedo?
R – Pescar.
P/1 – Pescar.
R – Pescar. Brinquedo tinha brinquedo também, de Natal, né? A gente ficava doido quando chegava o Natal. Contentava-se com qualquer coisa.
P/1 – Quais que eram os brinquedos?
R – Carrinho. Carrinho de madeira. Acho que na época era mais carrinho de madeira mesmo.
P/1 – Você tinha uma brincadeira favorita?
R – Assim, eu não lembro, não tenho assim... A gente começou já a trabalhar muito cedo, então as coisas que eu me lembro de infância assim de brincadeira, quando eu brincava era bem criança mesmo.
P/1 – Que idade assim? Você tem uma noção?
R – Sete anos. Oito no máximo. Depois já ia pra escola, da escola já começava a trabalhar. Uma coisa que eu não me arrependo nem um pouquinho, assim, claro que a gente tem que ter infância, mas me ajudou muito como pessoa. Com certeza. Aprendi muita coisa. Aprendi muito cedo.
P/1 – E você acha que ajudou em que sentido assim? Explica um pouco pra gente.
R – Eu acho que me ajudou a ser uma pessoa bem melhor. Com certeza.
P/1 – O trabalho na roça?
R – É. O trabalho na roça. Hoje a gente não tem incentivo nenhum. As crianças... Na minha época tinha escola agrícola, né? Hoje tem uma escola agrícola, mas o governo não dá apoio nenhum a escola agrícola. Por ele acabava, porque dá custo, gera custo pro governo. Mas deveria ter...
P/1 – O que é a escola agrícola?
R – É o CEIER. Lá eu aprendi muita coisa também. Lá a gente mexia com porco, galinha, coelho, lavoura de café, fazia muda, horta. Tinha de tudo. Porco.
P/1 – Mas era uma escola normal que você tinha tudo regular mais o trabalho?
R – Você tinha mais o trabalho. Tinha os horários de trabalhar na propriedade da escola. Ela até existe hoje, mas não tem incentivo nenhum. Ela até é referência aqui, mas uma escola que não tá assim, não é de interesse do governo. Tá até parada. Hoje se você for lá você vê muita capoeira, eles até que tentam trabalhar, mas não conseguem porque gera custo e a escola não tem renda pra poder tocar. Mas é uma coisa que está fazendo falta na nossa região.
P/1 – Você quando começou a frequentar a escola começou frequentando essa escola?
R – Não. Eu primeiro... Foi de quinta a oitava nessa escola.
P/1 – Qual que foi a primeira escola que você frequentou?
R – A primeira escola era aqui mesmo, pertinho aqui.
P/1 – Como é que chama?
R – Ah, é estadual... Municipal de Águia Branca, né? Córrego do Trinta. Unidocente, né?
P/1 – E qual que é a primeira recordação ou as primeiras recordações que você tem da escola?
R – Da escola?
P/1 – O que você se lembra?
R – Da escolinha? Essa primeira? Isso era uma maravilha. Tinha um pasto lá na frente da escola lá, nós todos os dias jogávamos bola naquele pasto. Tinha morro no meio, nós driblávamos o morro, passávamos pelo morro, cortávamos a volta, chutava a bola. Aquilo lá é uma maravilha. Hoje em dia você não vê as crianças mais fazerem isso.
P/1 – Essa escola existe ainda?
R – Não. Essa acabou.
P/1 – Acabou.
R – O prefeito fez uma escola municipal e acabou com essas escolinhas que eram bem regionais mesmo. Igual tinha Comunidade do Trinta, tinha uma no... Tinha duas aqui na Comunidade do Trinta, tinha uma no São Pedro, tinha uma na Onça. Aí, acabou com essas escolas e fez uma só grande. Eu acho que isso atrapalhou um pouco. Acho que o ensino embora que fosse bem assim dificultoso pra professor, professor tinha que cozinhar, dar aula pra quatro turmas, mas o ensino era melhor. Menos bagunça.
P/1 – Era pequenininha a escola?
R – A escola era pequena. Eu acho que tinha uns 30 alunos, 40 quando tinha muito.
P/1 – E eram salas separadas ou era na mesma sala?
R – Tudo numa sala só e a professora conseguia dar aula assim mesmo.
P/1 – E eram séries diferentes?
R – De um a quarta série, né? Da primeira a quarta.
P/1 – Todo mundo na mesma sala.
R – Hoje tem os meus irmãos que são formados, passaram por ela. Era bom.
P/1 – Você teve alguma professora assim marcante, que tenha te marcado durante a vida escolar?
R – É a Luzia. A Luzia da Fonseca Breda.
P/1 – Por quê?
R – Porque foi a educadora principal. Passaram outras professoras, mas ela que ficou mais tempo. Ela ficou muitos anos, hoje ela é até aposentada. Aposentou como professora.
P/1 – Foi ela que te alfabetizou?
R – Desse período da primeira série a quarta foi.
P/1 – E você lembra assim nesse período de infância bem pequeno, primeira a quarta série, o que você queria, se você pensava em ser alguma coisa quando fosse mais velho? Tinha algum sonho assim o que queria ser quando crescer?
R – Não. Não. Ia pra escola, da escola nós vínhamos trabalhar aqui, que é pertinho, né? Já trazia uma mochilinha de roupa. Com sete anos de idade, eu com sete, o meu irmão com oito. Nós trabalhávamos mesmo. Tinha que ser... Quem trabalhava na época junto da turma, se não fosse bom de enxada, que na época era enxada, nós capinávamos muito. Hoje em dia que mudou um pouco o sistema de trabalhar, mas nós capinávamos, não tinha esse negócio, não. Se o cara fosse meio ruim de serviço ficava pra trás.
P/1 – Com o que vocês ajudavam? Vocês trabalhavam o período da tarde, é isso?
R – É. A parte da tarde. Estudava, né, aí a parte da tarde vinha pra cá. Aí capinava, roçava, fazia de tudo. Aprendi de tudo. Meus irmãos hoje todos eles, assim, têm faculdade, tirando a minha irmã que a minha irmã sempre ficou com a minha mãe em casa. Tirando ela os meus irmãos você pode colocar pra fazer qualquer coisa na roça que eles sabem fazer. Qualquer coisa.
P/1 – Vocês aprenderam tudo?
R – Tudo.
P/1 – E nessa época você lembra como é que eram as refeições na sua casa? Quem cozinhava, o que vocês comiam?
R – Sempre foi a mamãe. Sempre comi bem, graças a Deus. Sempre comi bem. Nunca faltou. Gostava de um salame. Salaminho...
P/1 – Você tinha um prato preferido assim?
R – Arroz e feijão e um salame. Era isso aí.
P/1 – O que era a base assim da alimentação? Arroz e feijão era o que mais tinha?
R – É arroz e feijão. Farinha, né? Feijão, farinha e arroz.
P/1 – E café? Vocês tinham o hábito de consumir café?
R – Sempre teve. Cafezinho de manhã sempre foi.
P/1 – E como é que era preparado o café?
R – Não mudou nada. Nós fazemos do mesmo jeito. Eu mesmo faço, minha esposa faz, minha mãe, no coador, ferve a água, coloca o pó e côa. O tradicional mesmo.
P/1 – Depois dessa fase então do primário, que você terminou o primário, você foi direto pra escola agrícola, é isso?
R – É. O CEIER.
P/1 – Conta um pouco como é era assim mais em detalhes, como é que era a escola agrícola, o que mudou.
R – Aquilo foi muito bom. Nossa Senhora. Uma maravilha. Ensinava muita coisa pros alunos e tinha muita coisa que prendia o aluno lá na escola. Tinha interesse. Gente, como é que é bom mexer com porco, você mexer com uma porca cheia de leitão que qualquer um se encanta. Um porquinho pequenininho é muito bonito, né? Aí lá tinha coelho, galinha, horta. O que você pensasse na horta nós tínhamos lá. E era a gente que cultivava, você tá entendendo? Tinha de tudo. De tudo, de tudo mesmo.
P/1 – E vocês tinham aula também sobre o cuidado com a horta?
R – Tinha zootecnia, né? Era agricultura e zootecnia. Tinha uns técnicos, era técnico na época não era agrônomo, não. Eles eram até do Incaper. Incaper, não, era... Não era Incaper. Hoje é Incaper. Era Emater na época.
P/1 – Eles que davam aula?
R – É. Tinha três professores que davam aula dessa parte de zootecnia e agricultura, mas aí tinha professor de matemática, de português, as outras matérias, geografia, história.
P/1 – E é grande a escola? Era grande?
R – A escola é grande. Ela é grande. Ela tá lá ainda. Gente, aquilo... Eu sou uma pessoa aqui que a gente luta, briga, corre atrás, mas os políticos não se interessam. Os políticos só vêm aqui pra pedir voto. Aquilo é uma coisa que não era pra acabar. E assim, tem muita... (interrupção)
P/1 – Então só pra retomar, Ginivaldo, se você pudesse contar um pouco pra gente como é que era então essa escola agrícola que você fez até a oitava série na época, né?
R – Isso.
P/1 – Assim, como é que era a estrutura, como era dividida a parte das aulas e a parte que vocês iam pra essa prática mais ligada ao campo.
R – A parte da manhã a gente estudava até meio dia. E a parte da tarde a gente ia pro campo. Cada turma tinha a sua área. Uma turma era... Era ano, né? É por ano. Vamos supor, a quinta série ficava por conta dos porcos. A sexta série por conta dos coelhos. A sétima série por conta das galinhas. Aí, era dividido por turma. Cada fase ia mudando, conforme você ia passando você ia passando todos os setores. E a horta era todo mundo. Se eu não me engano acho que era duas vezes por semana que a gente ia pra campo. Não era todo dia também, não.
P/1 – E o dia que ia pra campo ficava o dia inteiro, é isso?
R – Isso. Aí, ficava o dia inteiro na escola.
P/1 – E quem que acompanhava vocês nessa parte do campo?
R – Os técnicos. Que tinham três. Dois na parte de agropecuária e um zootecnista.
P/1 – E era uma sala de cada série ou não, eram mais salas?
R – Não. Tinha várias salas. Cada série na sua sala, da quinta a oitava. Hoje em dia não. Hoje tem curso profissionalizante em técnico, vai até terceiro ano.
P/1 – E essa parte do campo era dentro da própria estrutura da escola? Como é que é lá?
R – Dentro. A escola tinha uma... Tinha não. Tem uma área grande. Se eu não me engano acho que são três alqueires de terra pra trabalhar. Tinha uma área boa pra trabalhar. Tinha não. Tem.
P/1 – Então ficava tudo dentro da mesma...
R – Isso. É tudo na área da escola. Lá é um lugar maravilhoso, se você for lá... É bonito ainda assim mesmo, mas você não vai ver tanta coisa. Vocês vão passar na porta, a hora que vocês forem vocês vão passar. Vocês vão ver o CEIER.
P/1 – E aí lá você ficou então do quinto até a oitava série, né?
R – Isso aí.
P/1 – E nessa época você frequentava a escola e trabalhava na roça...
R – Isso. Nos dias que não ficava o dia inteiro na escola, trabalhava em casa. Aí, já fazia praticamente quase tudo da roça.
P/1 – Bom, você já estava mais velho, já é uma fase de adolescência assim. E fora a escola e o trabalho na roça, tinha alguma coisa assim de atividade pra se divertir, ou uma festa?
R – Campo, que sempre joguei bola, né? Já desde a escolinha nós começamos e a gente sempre gostou, isso já vem de geração, desde o meu avô. Sempre gostou de jogar bola, então era campo, alguma festinha, forró que tinha. A gente quando não ia a pé era de bicicleta.
P/1 – E onde que eram os forrós, as festas?
R – Ah, na região aqui onde tinha a gente ia. No Trinta, no São Pedro, na fazenda. Se tivesse uma bicicleta ia de bicicleta, senão ia a pé.
P/1 – Mas era no campo mesmo? A maioria era festa no campo mesmo, não era na cidade, não?
R – Não. É no campo, na roça. É na roça.
P/1 – E como é que eram essas festas na roça? Conta um pouco assim o que fazia, o que tocava, como é que eram as festas?
R – Ah, forró, né? Era forró mesmo. Forró. A maior parte é forró.
P/1 – E tinha comida, bebida?
R – Tinha.
P/1 – O que se comia, o que bebia?
R – A gente não tinha muito dinheiro, não. Eu lembro que tinha vez que a gente ia, se tivesse que pagar ingresso a gente não bebia e se fosse livre bebia uma cervejinha e pronto. Que era o que a gente tinha. Eu mesmo nunca fui de pegar dinheiro na mão. Meu filho hoje com 12 anos, dez, 12 anos se der dinheiro na mão dele gasta igual água. Nós nem víamos. Eu fui ver dinheiro com 18 anos. Pra mim foi bom demais, viu? Hoje eu dou valor pras minhas coisas e tento passar isso pros meus filhos, não sei se eu vou conseguir, mas pelo menos a minha parte eu to fazendo.
P/1 – E essas festas eram enfeitadas, eram festas de alguma ocasião?
R – Tinha. Dependendo da época. Não. Tinha o forró, já era o motivo da festa, mas aí tinha festa junina, alguma festa talvez até da própria escola. A escola pra arrecadar dinheiro organizava festa. Assim.
P/1 – E aí depois você fica até a oitava série nessa escola e aí você fez o...
R – Isso. Aí, fui pro segundo grau em Águia Branca. Aí, era a noite. O papai gostava dessa parte, nós trabalhávamos o dia inteirinho e íamos estudar a noite. Com muita dificuldade.
P/1 – Qual que era a escola?
R – Ai, gente, como é que é o nome da escola lá?
P/1 – Existe ainda?
R – Existe. A escola tá lá, funciona até hoje. Agora não lembro, não.
P/1 – Era uma escola de ensino médio, segundo grau em Águia Branca?
R – É. Isso aí. Era muito dificultoso também. Época de chuva, o ônibus costumava não romper, a gente tinha que vir embora a pé, chegar duas horas da manhã em casa. Sete horas da manhã a gente estava acordado.
P/1 – Qual que é a distância da escola até aqui? Vocês já viviam aqui nessa época?
R – É. 18 quilômetros. São 18 quilômetros.
P/1 – E aí vocês iam e voltavam de ônibus?
R – De ônibus.
P/1 – Que horário que era?
R – Era das sete, acho que era das sete às 11h.
P/1 – E você gostava dessa escola?
R – Foi boa. Gostei. Muito bom. Muito bom, mesmo.
P/1 – Nessa época também... Bom, aí você estava trabalhando o dia inteiro e estudando de noite. Então, acho que era difícil, não fazia mais nada.
R – Cansativo. Era cansativo. E não tinha esse negócio de tempo pra estudar. Não é igual hoje que meu filho fala assim: “Ah, hoje eu vou estudar.” E vai estudar. Não tinha esse negócio. Se quisesse estudar tinha que estudar a hora que chegava ou a hora que ia pro ponto enquanto estava esperando o ônibus estar estudando.
P/1 – Era que horas?
R – Pegava das sete às cinco, cinco e meia.
P/1 – Conta um pouco como é que era o trabalho na roça então. Pra gente entender como é o cotidiano...
R – É por isso que eu faço que o serviço da roça é bem cansativo dependendo da época e do serviço que fazia. Mas a gente não enjeitava, não. Tinha que trabalhar. Mesmo que não quisesse tinha que ir pro serviço.
P/1 – E sábado e domingo também?
R – Dia de sábado. De domingo, não. Domingo a gente como graças a Deus somos católicos ativos, de domingo só se fosse pra salvar alguma coisa, um serviço que fosse rápido na parte da manhã, ou mexer com um animal, que sempre teve um gadozinho assim pro consumo, né? Aí, talvez a parte da manhã ia fazer isso. Depois ia jogar bola que isso aí nós não... Aí era briga mesmo. Podia falar o que quisesse, nós falávamos que íamos jogar bola, íamos jogar bola. Gostava mesmo.
P/1 – Nos domingos?
R – Nos domingos.
P/1 – E com quem que você jogava?
R – Tinha o time, né? Nós tínhamos um time. Num lugar só eu joguei dez anos.
P/1 – Tinha um nome o time?
R – Zé Bossoni. Mas eu joguei na comunidade aqui muito tempo, depois o time acabou aí fui pra lá. Eu joguei dos 11, fui dos 11 aos 17, acho que foi no Trinta. Depois eu fui pro Bossoni até estourar o joelho, senão jogava bola até hoje, que eu gosto demais. Eu nem campo eu não vou, senão passo vontade.
P/1 – Como é que você machucou o seu joelho?
R – Jogando bola.
P/1 – No campo assim?
R – No campo. E nós na roça não temos muito recurso, não. Estourou, estourou e acabou.
P/1 – Mas você lembra assim, foi o quê?
R – Lembro. Não vou esquecer nunca. Era a coisa que eu mais gostava, meu lazer, jogar bola. Não vou esquecer, não.
P/1 – Mas foi uma trombada, foi uma queda, foi um passe?
R – Sozinho. Sozinho. Dei uma esbarrada e saiu fora. Pronto.
P/1 – Nunca mais pôde jogar?
R – Não. Não teve jeito.
P/1 – E pra que time você torce?
R – Eu sou flamenguista. Flamenguista.
P/1 – E tem um ídolo assim do futebol? Um jogador preferido.
R – Tenho. É o Zico. Cara que é exemplo. Não é só ídolo, porque tem gente que tem ídolo porque tá no auge. Eu acho que a pessoa pra ser um exemplo tem que ser exemplo profissional e familiar também, que hoje está precisando muito, né? A gente vê muitos ídolos aí fazerem coisa errada, usar a imagem pra coisa errada ao invés de usar pra coisa boa, que a gente tá precisando muito.
P/1 – Então é o Zico.
R – É.
P/1 – Quem é o ídolo assim.
R – Isso aí.
P/1 – E aí eu queria saber assim, quando você termina o segundo grau ou antes, não sei em que momento que foi que você decidiu que você queria trabalhar na roça, queria ser produtor rural.
R – Eu não queria estudar. Eu terminei o segundo grau por conta do papai, senão não tinha terminado, não. Eu já sabia desde lá da oitava série, desde quando estava na escola agrícola. Sempre gostei da roça.
P/1 – Sempre soube que era isso...
R – Sou teimoso, né? Eu sou teimoso.
P/1 – Sempre soube que era isso que você queria fazer?
R – Sempre. Sempre.
P/1 – Sempre foi trabalhar com café?
R – Sempre com café. Já assim, já plantei arroz, a gente já teve isso. A gente já mexeu com arroz, com milho, feijão. Eu sei fazer qualquer coisa. Se você pensar da nossa região, que produz na nossa região aqui a gente já produziu.
P/1 – Mas comercialmente assim?
R – Não. É.
P/1 – Pra comercializar eu digo.
R – Também. Mas o que aconteceu? A gente via que não compensava, né? O custo era maior do que a renda. Então, por isso que abandonou. Era mais fácil comprar. Nem pra consumo, pra você ter uma ideia, não compensa. Nem pra consumo. Independente de saber que você vai consumir uma coisa muito melhor. Mas é inviável. Mas a gente já plantou arroz, feijão. Feijão ainda alguma moitinha pra consumo a gente planta ainda. Milho pra consumo, só pra comer um milho assado, comer uma papa, né? Pra não comprar, mas sem assim gastar muito. Só pra uma produçãozinha pra gente consumir e pronto.
P/1 – E o café desses é a lavoura mais lucrativa?
R – Se a gente tem o que tem hoje foi por conta do café. A gente não ia conseguir com outra coisa, não. É o café.
P/1 – Conta um pouco pra gente assim pensando que você está falando pra alguém que é totalmente leigo no assunto, como é que é a produção do café. Como é que começa o plantio, quais são as etapas, como é que é o cuidado com o café.
R – Eu posso falar, começar da muda como produtor até uma saca pilada.
P/1 – É.
R – Antigamente, igual o papai já falou, que era de semente, era totalmente diferente. Hoje, não.
P/1 – Mas quando vocês começaram era com semente?
R – Era. Era com semente. Quando começou, quando papai trabalhava logo que começou com café já era de semente. O clonal tem, quer ver... O clonal, 13, 14, 15, deve ter uns 16 anos que começou o clonal. Até então não...
P/1 – Colonal, você está falando?
R – É clonal. O café de clone, né? Que é do galho do café, é o clone. Por isso clonal.
P/1 – Clonal então?
R – É. Que é do clone.
P/1 – Então, quando você começou a trabalhar na lavoura com os seus pais era...
R – De semente.
P/1 – Era de semente.
R – Aí, hoje em dia as pesquisas, a tecnologia melhorou muito, né? Então, é clone, aí tem por maturação. Você vai fazer uma lavoura, você vai plantar uma carreira de café ela vai madurar toda por igual. Então, plantio a gente faz a muda, já escolhe. Hoje eu conheço todos os clones, que estão no mercado eu os conheço todos, como eu trabalho com muda eu já conheço. Escolho os clones pra eu plantar, preparo a cova. Já falei, tem que começar pela análise. A gente tem um acompanhamento, tem o acompanhamento de um agrônomo. Então, primeiro é análise de solo, aí prepara a terra, faz a adubação, corrige a acidez tudinho. Aí faz o plantio, irrigação, que hoje na nossa região o pessoal primeiro... Pode estar chovendo, mas não planta. Antigamente quando dava uma chuva o pessoal ficava doido pra plantar. Hoje em dia não. Hoje em dia o pessoal coloca a irrigação, se estiver chovendo a irrigação não tiver pronta, não planta. Planta com sol, eu plantei com sol, mas a irrigação funcionando pra saber que não vai perder. Aí, irrigação e adubação. Com um ano hoje, com os clones que a gente trabalha hoje, com um ano e meio você já consegue ter a primeira produçãozinha. Não é uma colheita, mas já é uma produção que já vai te ajudar já.
P/1 – Como é que você faz a seleção dos clones? O que entra assim no... Como é que você escolhe? O que entra nessa escolha?
R – Tem um monte de... Depende muito do gosto. Tem por maturação, tem por tamanho de grão, tem por característica da planta de ficar mais em pé ou que abre mais. Tem vários modelos. Tem produtor que gosta de um clone, outro já não gosta. Isso aí depende muito.
P/1 – E no seu caso assim, quais que você gosta?
R – Eu assim prefiro aqueles que produzem mais, não importa se ele deita ou fique em pé. Eu quero produção. Por enquanto.
P/1 – E como é que você faz essa escolha na muda já? Como é que você sabe...
R – Eu já conheço, né, os materiais e eu mesmo faço.
P/1 – Quando você diz que você mesmo faz você mesmo escolhe ou você mesmo...
R – Eu mesmo escolho e faço muda hoje. De primeiro não. A gente comprava o que tinha no mercado. Era só clonal e a gente comprava qualquer coisa. Hoje não.
P/1 – Hoje as mudas que vocês plantam é você que faz?
R – Produção própria.
P/1 – E como é que é? Como é que se faz a muda?
R – Eu vou lá na lavoura, já tem a lavoura em linha já selecionada, os clones de materiais de qualidade, já estudado pelo Incaper, feito pesquisa, e faço as mudas. Já tenho a lavoura própria pra fazer muda.
P/1 – Conta como é que é que faz a muda pra gente.
R – Você tira o broto do pé de café, que é feito do broto a muda. Aí, você corta as estaquinhas, que a gente fala estaquinha, e coloca na sacola. Aí, irriga.
P/1 – Fica um tempo onde? No viveiro?
R – No viveiro. Com 30 dias vai começar a brotar e dependendo da época, se é a época quente com quatro meses já tem muda e se é época fria dependendo até seis meses, que demora mais a crescer.
P/1 – Aí, é o momento de plantar?
R – Aí, é o momento de plantar. Dá uma climatizada na muda.
P/1 – E a questão da irrigação? Você estava contando... Conta pra gente como é que vocês estruturaram a irrigação hoje na propriedade de vocês? Como é que está estruturada? Qual é o sistema de irrigação?
R – Hoje tem dois sistemas, que é o canhãozinho e o gotejo. Já foi pior.
P/1 – O que é o canhãozinho, o que é o gotejo?
R – O canhãozinho é, como é que eu vou te explicar? O canhãozinho joga por cima e o gotejo pinga de pé a pé.
P/1 – Mas ele vai por baixo, é isso? O canhãozinho...
R – O canhãozinho joga por cima.
P/1 – E o gotejo?
R – Como se fosse imitando uma chuva. Já o gotejo não. Ele só pinga no pé do pé de café, da muda.
P/1 – Mas vai por uma canaleta assim? Como é que é a estrutura?
R – É mangueira. É pela mangueira. É a mangueira com os furinhos. Hoje tem vários tipos de gotejo, de espaçamento, você encomenda do jeito que você achar melhor.
P/1 – Ela vem preparada a mangueira já.
R – Preparada. Ela já vem preparada. Você não prepara uma lavoura e fala assim: “Ah, eu vou colocar gotejo.” E compra. Não. Você faz a encomenda do gotejo do jeito que você quiser. Tem de metro, de 30 centímetros, de 50. Você tem que encomendar que aí eles vão e fazem.
P/1 – Desde quando você começou a trabalhar na roça até hoje, o que mudou em termos de irrigação?
R – Melhorou muito, né? A irrigação é uma garantia a mais de você ter uma produção boa. Não é dizer que vai te garantir totalmente, porque uma produção de café depende muito de clima, pode ter uma infestação de praga, mas assim por falta de chuva você não vai ter tanta perda. É uma garantia de produção.
P/1 – Mas o que mudou? Não tinha irrigação, hoje em dia tem. O que se transformou ao longo dos anos?
R – Quando não tinha, se chovesse bem, você colhia café. Você tinha uma produção boa. Se não chovesse você não colhia. Com a irrigação não. Nessa parte a gente ficou mais seguro. Aí, aumenta um pouco a produtividade, um pouco não, bastante a produtividade, você ganha em peso e até pra fazer a adubação hoje é mais fácil.
P/1 – Por quê? O que mudou na adubação? Por causa da irrigação você diz?
R – Por causa da irrigação. Que a adubação, no canhão, onde tá no canhão você tem que andar no meio da lavoura jogando, né? Na mangueira você faz pela água, viu? E se o pessoal quiser saber mais informação me pague que eu vou passar bastante informação sobre o café. Quem quiser plantar café vai plantar bastante.
P/1 – É só pra gente entender como é sua prática, na verdade assim.
R – Não. Eu to brincando.
P/1 – Qual que é o seu cotidiano, como é que é o trabalho de alguém que... Porque é isso, tem uma boa parte de pessoas que vão ver sua entrevista que são pessoas leigas, que não entendem que o café precisa adubar, precisa...
R – Por isso mesmo, se eles forem pela entrevista eles podem plantar que eles vão colher. É só arrumar um agrônomo pra indicar as adubações corretas. Mas tem várias coisas, não é só isso, não. É poda, é desbrota. Pra uma lavoura produzir bem não é só plantio.
P/1 – Uma série de cuidados.
R – É muita coisa.
P/1 – Tá. Vou voltar então um pouco na sua vida pessoal, queria saber como é que você conheceu a sua esposa.
R – A minha esposa? Como é que conheci? Ah, comício. Foi no comício.
P/1 – Num comício... Que comício?
R – De prefeitura municipal.
P/1 – E como é que foi? Vocês se viram no comício? Não se conheciam...
R – É. Na época o meu pai era candidato, né, e a mãe dela também era.
P/1 – Eles eram candidatos...
R – Mas nenhum dos dois ganhou, mas nós ganhamos. Quem saiu ganhando fomos nós.
P/1 – Eles eram candidatos pra quê?
R – Pra vereador. Todos os dois vereador. Era do mesmo grupo na época.
P/1 – Foi aí que vocês se conheceram?
R – Isso.
P/1 – Aí, começaram a namorar...
R – Começamos a namorar, aí namoramos quatro anos.
P/1 – E aí se casaram? Como é que foi o casamento?
R – Ah, foi um casamentão na época.
P/1 – Conta como é que foi.
R – Ah, teve festa, né? A gente que tá assim casando não fica olhando. Eu acho que o povo fala mais que a gente, sabe melhor do que a gente quem vai. Mas foi muito bom.
P/1 – Vocês se casaram na igreja?
R – Igreja.
P/1 – Aqui?
R – Na matriz em Águia Branca.
P/1 – E depois a festa foi na casa?
R – Em Águia Branca mesmo. Na época foi numa área que tinha lá num ginásio de esportes. Ginásio de esportes.
P/1 – Foi um festão então?
R – Foi. Bebida e comida a vontade pra quem quisesse.
P/1 – E aí o primeiro filho? A gravidez foi logo em seguida?
R – Foi daí a um ano, né? Daí um ano.
P/1 – E aí você lembra assim como é que foi quando você descobriu que ela tava grávida, qual que foi a sensação?
R – Ah, foi uma alegria só. A gente não tava assim planejando ainda não, que tava muito no começo, tava meio difícil, a gente não tinha muito recurso, mas foi bom.
P/1 – Do nascimento você lembra? Você acompanhou o parto?
R – Acompanhei.
P/1 – E como é que foi?
R – Ah, nós ficamos foi... Era época de Copa do Mundo. Era época de Copa do Mundo, né? Acho que tinha até jogo do Brasil no dia. Não sei se era Copa do Mundo ou se era, como é que é que fala? Tem a Copa do Mundo e tem as disputas de mês de julho também, de dois em dois anos, como é que é? Deve ser a Copa das Confederações, era alguma coisa assim, mas tinha jogo do Brasil. O médico tava lá assistindo o jogo do Brasil, eu tenso, preocupado. Aí, ela ficou bastante tempo, tomou soro. Era uma médica. Não era um médico, era uma médica.
P/1 – Foi parto normal, foi?
R – Parto normal.
P/1 – E você lembra assim como é que você se sentiu quando nasceu?
R – Ah, não sabia nem o que fazia. Sabia nem o que fazia.
P/1 – Como que é o nome do seu primeiro filho?
R – Mateus. É o Mateus.
P/1 – Você tem um só?
R – Dois.
P/1 – Dois?
R – É. Tenho o Pedro Henrique. É o Pedro Henrique.
P/1 – E como é que é ser pai?
R – Eu tava ouvindo o papai dar o depoimento dele e ele falou uma coisa e você vai entender. Ele não teve muito tempo pros filhos. Hoje sou eu. Tenho tempo, não.
P/1 – Trabalha demais?
R – É. Tenho tempo, não. Mas tento dar o carinho, né?
P/1 – Claro.
R – Tá sempre junto e educar, que é acho que o mais importante. Educação. Dar nada de mão beijada pra eles, pra eles quando crescerem darem valor ao que eles vão ter, igual eu dou hoje.
P/1 – E eles acompanham um pouco o teu trabalho também na roça?
R – Acompanha. Acompanha. Tá sempre junto. Uma que eu não os deixo em casa. Eu quero que eles acompanhem. Pelo menos aprender. Se um dia eles não conseguirem estudar, pelo menos eles vão saber trabalhar também. Eles terem opção.
P/1 – Uma pergunta que eu fiz pro seu pai também, o que você acha que mudou assim quando vocês começam a fazer parte da cooperativa, o que muda na qualidade do trabalho?
R – É uma parceria. A gente tem mais opção, a cooperativa tem o papel dela. Eu acho que teria como ajudar mais, a gente sempre cobra que como a gente mudou, acompanhou as tecnologias, eu acho que a cooperativa está um pouco atrasada. Ela ajuda muito, mas poderia ajudar muito mais os sócios pelo tamanho que ela tem e a quantidade de sócios que ela tem.
P/1 – Mas em que sentido assim você acha que poderia ajudar mais?
R – Vários sentidos. Em vários sentidos. Em compras de insumos, de produtos, de químicos. Muita coisa que como compra volume grande teria como passar num preço mais em conta pro produtor pra ele poder também diminuir custo. E sei lá, buscar coisa nova, que a gente já tem esse projeto do café eficiente já é uma coisa que ajudou muito a gente, já melhorou bastante. É uma parceria da Cooabriel, né, querendo ou não é uma coisa muito boa.
P/1 – O que é esse projeto exatamente, do café eficiente?
R – Esse projeto ele vem buscar na propriedade trabalhar como se fosse uma empresa. Fazer controle de custo, reduzir custo, saber onde você tá gastando, tentar diminuir custo e aumentar renda. É muito bom. O que mudou nossa vida foi esse projeto. De nove anos pra cá a gente só tem... Com esse projeto foi onde que a gente começou a parceria com o agrônomo que faz o acompanhamento, a gente a primeira lavoura que plantou, a gente já plantou na intenção de fazer um viveiro. Falou: “Quando essa lavoura começar a produzir broto a gente vai montar um viveiro”. E como a gente já tem esse acompanhamento e faz uma coisa séria, foi uma coisa que ajudou muito a gente. Agregou assim além do café uma fonte de renda a mais pra propriedade.
P/1 – Com as mudas, você quer dizer? Ou não?
R – Com as mudas. Com certeza.
P/1 – Porque vocês comercializam. Vocês vendem as mudas?
R – Vendem as mudas. Isso aí. As mudas não são só pra gente, produção própria. São pra vender também.
P/1 – E isso vocês iniciaram junto com o projeto?
R – Junto com... Necessariamente ele não participa do projeto, o viveiro, mas partiu do agrônomo que veio dar essa assistência nossa. Hoje ele é sócio. Necessariamente não tá no nome dele, mas ele é sócio. Hoje o viveiro está no nome do papai, mas é uma parceria. Está entendendo? Que está dando certo. Ele é o responsável do viveiro, ele entrou com o conhecimento dele e a gente com o nosso trabalho e o conhecimento da gente. Porque não é porque a pessoa é agrônoma que ela sabe tudo da roça. Ela também aprende com a gente. Então eu assim, eu tive conhecimento, mas ele também teve. Então é uma parceria.
P/1 – Você consegue assim de pronto pensar num exemplo dessa troca de conhecimento? De coisas que vocês aprenderam com ele e coisas que ele com certeza aprendeu com vocês?
R – Até a pessoa quando estuda ela tem muito parte teórica e na prática ela não tem muito conhecimento, tá entendendo? Até pra fazer um plantio de café, ele nunca tinha feito um plantio. Ele sabe da parte de fazer adubação, controle de solo, essas coisas. Hoje não. Hoje você pode saber que ele é um doutor. Ele não pode ter diploma de doutor, mas em café ele é doutor, você pode ter certeza.
P/1 – Aprendeu aqui com vocês acompanhando o trabalho.
R – É. Hoje ele dá assistência a muitas propriedades. Além do grupo que ele acompanha, que a gente é um grupo, 42 produtores do nosso grupo. Hoje nós somos pioneiros. Olha pra você ver como é que é, a gente tem um diferencial. A gente é pioneiro no café clonal, pioneiro em irrigação, na nossa região, na região. Pioneiro em irrigação e nesse Educampo a gente é pioneiro também. Foi o primeiro grupo, esses 40 produtores foram aqueles que apostaram uma coisa nova, que você sabe que produtor é igual bicho do mato, produtor quando você chegou aqui você viu que produtor é desconfiado. Não confia muito assim nos outros. Confia muito nele. Então, a gente apostou, em 42 produtores na época, deu certo. Aí, fizeram outro grupo de mais 44. Desses nove anos agora, foi depois de dois anos que fizeram o segundo grupo, depois de nove anos que eles conseguiram fazer um terceiro, uma Cooabriel que tem mais de mil sócios, né? É incrível. Três vezes quatro 12. Cento e vinte sócios só aderiram uma coisa que só agrega, só ajuda. Você sabe qual é o problema do produtor? O produtor não gosta de anotar as coisas. Não gosta de anotar. Ele acha que se ele anotar ele tá tomando prejuízo. Ele não quer saber que ele tá tomando prejuízo. Mas na verdade talvez está ganhando e não sabe, ou pode estar deixando assim de ficar gastando numa coisa que não precisa.
P/1 – Você fala de anotar assim porque uma das coisas do projeto era...
R – Do projeto pra funcionar você tem que anotar tudo que você faz da propriedade. Tudo.
P/1 – Tipo o que assim? Só uns exemplos...
R – Custos. Tudo que é custo você tem que anotar, porque senão você não vai saber quanto tá custando sua saca de café. A partir de você... Que na época tinha um programa que era Educampo. O projeto quando começou era Educampo, mas como tinha o pessoal do que começou lá no Ara…, então a gente entrou com esse primeiro grupo do Educampo era junto do pessoal do arábica. Lá eles tinham um programa que a gente ia lançando os custos, vamos supor, na meação do ano a gente já sabia quanto tinha gastado em cada, vamos supor, em adubação, em poda. A gente já tinha tudo. Hoje eles estão até fazendo, mas não está pronto ainda. Aí, o pessoal do arábica não quis que a gente participasse mais e como o projeto era deles, o programa era deles também, aí eles tiraram esse programa. Mas de qualquer maneira, desde que você anote os custos todinhos, você leva pra um contador, ele vai te fazer o custo de uma saca de café. Você levando a produção, né?
P/1 – E o que você acha que mudou de visão assim? Na sua visão, por exemplo, a partir do momento que você entrou no projeto em relação ao que é a produção agrícola.
R – É tudo. Já começou mudando o jeito de trabalhar com a lavoura. A gente tinha uma produção de 20 sacas por hectare. A gente já chegou a 120. Não no geral. No geral 80. Eu falo em 120 porque tem lavouras novas e lavouras velhas. A gente tá mudando um pouco, mudando a lavoura, mas já teve lavoura de 120 sacas. É bom ou não é um projeto desse? Não precisa nem...
P/1 – Cresceu muito, né?
R – Você tá entendendo?
P/1 – E dessa visão, uma coisa que você comentou até um pouco antes assim, antes da gente começar a entrevista, essa visão de negócio mesmo, que eu acho isso uma coisa bacana de falar, de se entender como empreendedor, por exemplo. Você acha que o projeto ajudou nisso? A ver isso como um negócio?
R – Conhecimento. Conhecimento. Coisa nova. Tudo que é conhecimento é bom, você tá aprendendo. A gente hoje, a propriedade é gerenciada, ela é uma empresa. Hoje ela é uma empresa. Eu sei o que eu to gastando, o meu custo. Ajuda você a tomar decisões. Assim, o que eu acho difícil, que a gente é pequeno proprietário. A gente tem um lucro bom. Eu não gosto de ficar falando número. A gente tem um lucro bom. O problema nosso é o volume. A propriedade é pequena, então o volume é pequeno. Se a gente tivesse uma propriedade grande com o ganho que a gente tem hoje, Nossa Senhora. Se ficar falando aí pra empresário que trabalha na cidade pra ganhar seis, 7%, falar o lucro nosso ele quase vira de costas, você tá entendendo? Só que é um volume pequeno e a gente tem que saber que a gente tem que passar um ano com esse lucro. É diferente, que a colheita de café é uma vez por ano, então você tem que saber administrar.
P/1 – Isso é uma dúvida...
R – Quem trabalhar com café tem que saber que ele tem que passar o ano inteiro daquela produção. Aí, vai muito de assim, café você nunca sabe quando ele vai estar bom de preço e quando ele vai estar ruim. Normalmente aqui a maior parte dos produtores eles vendem a hora que precisa, se ele tá barato ou caro ele vende. Eu assim, to tentando vender quando vejo que eu tenho lucro. Eu não fico esperando muito preço. Quando eu vejo que tenho lucro...
P/1 – Mas você acompanha quanto é que tá , sei lá, a cotação...
R – Fico. É. Tem a Cooabriel, né? A gente fica tentando olhar a bolsa, mas a gente não adivinha. É uma coisa meio complicada.
P/1 – Essa coisa do... É uma dúvida que eu fiquei também, acabei não perguntando pro seu pai, justamente isso. Porque a colheita é uma vez por ano, né? Como é que administra isso pra render isso um ano inteiro?
R – Você tem que saber que você tem 12 meses pra passar até chegar a outra colheita. Então, é por isso que eles falam assim que o café dá e tira. Se um produtor não for um bom administrador ele perde a propriedade que ele se endivida, porque ele não consegue passar o ano. Ainda mais se ele não tiver uma colheita boa, uma colheita de 20 sacos por hectare o produtor vende a propriedade, não aguenta. Não cobre os custos.
P/1 – E aí isso vocês vão vendendo ao longo do ano ou não? Isso é vendido de uma vez?
R – Depende muito. Talvez dependendo do que faz vende de uma vez, coloca numa poupança. Eu assim, eu tenho um jeito diferente de administrar do que a gente... É a parceria de papai, mas o papai faz o dele, vende o dele e eu o meu. Papai já prefere ir vendendo a hora que ele precisa. Eu não. Eu já prefiro, já tenho outra visão. A hora que eu vejo que está bom, falo: “Tá bom de preço?”. Tá bom. Vendi e pronto.
P/1 – Depois você administra o seu dinheiro do jeito que...
R – É. Isso aí. Mas não sobra muita coisa, não. Pagar as contas.
P/1 – Tá certo. Eu queria perguntar um pouco agora dessa aproximação com a Nestlé. Como é que vocês conheceram o Nescafé Plan que é essa...
R – A Nestlé começou por uma reunião que o papai teve em Águia Branca. Como a gente tem o viveiro no município e veio pra Águia Branca, eles convidaram um grupo de produtores mais os donos de viveiro pra participar de uma reunião onde eles fizeram essa oferta, falaram sobre o 4C. Eu mesmo não fui nas reuniões, quem foi foi o papai. Eu queria ter participado mais pra ter um conhecimento maior do 4C, até que eu conversei com o Paulo a respeito disso. Não sei muito bem ao ponto de ficar falando como funciona, mas aí foi convidado o grupo de viveirista onde eles passaram que ia custear 25% do valor do milheiro das mudas pra distribuir pros proprietários. Foi onde a gente começou a ter mais contato com a Nestlé.
P/1 – Mas aí eles custeiam a sua produção de muda, o seu viveiro no caso?
R – É. Mas tem vários viveiros. Não é só o meu.
P/1 – Claro.
R – A gente tá cadastrado também, mas tem mais viveiros. Se eu não me engano cinco ou seis. Na época nós começamos em quatro.
P/1 – Ah, vocês já tinham o viveiro na época?
R – Já. O viveiro já tinha uns três anos já. Na época a gente começou em quatro viveiristas porque é uma coisa... Olha só, presta atenção, pioneiro, eu já te falei desde o começo. A gente viu, apostou. Seria um bom negócio porque a gente vende muda e custeando o produtor tinha um interesse maior também, ficava mais em conta.
P/1 – Só pra eu entender, a Nestlé custeia uma parte da sua produção de muda e aí você tem condições de vender mais barato pro produtor, é isso?
R – Eu tenho o meu preço, menos 25%. Você tá entendendo? Pro produtor é um negócio. Nossa Senhora. Muito bom. A gente já fez as contas, é praticamente a adubação do plantio. Isso ajuda muito. Pro produtor foi um excelente negócio e pra gente também porque vendeu muda, né? Tá entendendo? Daí é o tal negócio de ser uma renda extra que a gente está tendo.
P/1 – Aumentou a produção e distribuição de muda de vocês?
R – Mais ou menos. Por conta disso não aumentou, não, mas facilitou para os produtores. Os produtores que eu tinha que vender eu ia vender do mesmo jeito, mas pro produtor foi bom.
P/1 – E pra ele ajuda você acha que a ampliar a produção? Pro produtor.
R – Não. Pro produtor é bom que ele já vai plantar o café e tendo uma muda custeada pra ele é negócio. Ele tá diminuindo custo também.
P/1 – E pode investir no próprio negócio.
R – Isso aí.
P/1 – E assim, essas mudas quando a Nestlé chamou pra essa parceria, é uma parceria, tinha alguma coisa em relação a qualidade, ao tipo do café, das mudas?
R – As mudas com certeza. Tem que ser muda de qualidade.
P/1 – Como é que foi isso?
R – Essa parte foi o papai que participou. Eu não sei te falar muito, não. Mas o viveiro da gente já era registrado, a gente já trabalhava com muda de qualidade, né? Clone do Incaper. Então a gente já tinha uma estrutura.
P/1 – Já estavam mais ou menos dentro daquilo que eles procuravam.
R – É isso aí.
P/1 – E o Paulo como é que você conheceu o Paulo?
R – O Paulo andou fazendo duas visitas no viveiro e essa última que ele passou fazendo a entrevista. Ele veio aqui, pediu bastante informação sobre a propriedade. Foi esse o contato que a gente teve com ele.
P/1 – Nas visitas que ele fez eram pra que essas visitas? Ele media alguma coisa ou...
R – Não. Ele fez um relatório, tava fazendo uma pesquisa a respeito das propriedades que estavam no 4C, essa última viagem. Antes não. Antes ele veio visitar o viveiro mesmo que é o correto. A empresa tá pagando uma coisa, ela tem que ver o que ela tá pagando, você tá entendendo? Então, é ele que tava fazendo essa parte de acompanhamento.
P/1 – Veio conhecer mesmo?
R – Conhecer mesmo.
P/1 – Não tinha nada assim de informação ou de orientação, esse trabalho que vocês fazem, por exemplo, com o Sebrae, é isso? Não é nada nesse sentido assim? É outra...
R – É. Mais ou menos parecido. A ideia deles é essa. É o que ele me falou, mas ele ainda não deixou nada, porque eles estão com um projeto ainda que não tá pronto. Igual eu até liguei lá pro pessoal, conversei até com o Bruno, queria informação até pro produtor chegar pra mim, ele quer saber tanto do projeto como a respeito das mudas, né? Então, hoje eles estão preparando ainda. Não está pronto. Então, não tem como falar uma coisa que eu não tenho conhecimento.
P/1 – Claro.
R – E o 4C eu sei pouco por conta do papai. É por isso que a gente vai pegar as normas pra gente saber, ter conhecimento também.
P/1 – E você sabe assim...
R – Que o correto essas normas teriam que estar com os produtores, que estar cadastrado pra eles estarem cientes do que eles têm que fazer.
P/1 – Claro. E do que você conversou assim com o Paulo, você sabe quais serão os próximos passos do projeto, o que eles pretendem fazer?
R – Pelo que eu vi, primeiro o produtor tem que se adequar as exigências da Nestlé na parte de meio ambiente, na parte de defensivos. Tem uma série de exigências, né?
P/1 – O que são defensivos?
R – É o veneno, né? Veneno de praga, de mato. Pelo que eu vejo eles têm uma preocupação grande com isso. Mas ainda a gente não tem nada em mão pra poder saber como que vai ser. Mas ele já fez uma pré-avaliação dessas propriedades que estão no 4C. Foi o que eu entendi.
P/1 – E aí vocês estão esperando os próximos contatos, é isso?
R – É isso aí. É o que eu to esperando.
P/1 – Tá certo. Eu vou encaminhar pras perguntas finais, mas antes eu queria saber se tem alguma coisa que a gente não tenha perguntado que você gostaria de falar. Qualquer coisa.
R – Acho que não.
P/1 – Não? Nada que tenha ficado de fora que você acha importante?
R – Se eu lembrar depois eu falo.
P/1 – Tá bom. Então, a penúltima pergunta é quais são os seus sonhos hoje?
R – Meu sonho? Eu sou bem ambicioso, viu? Eu sou. É por isso que eu to batalhando. Em primeiro lugar... Ambicioso é uma palavra feia, né?
P/1 – Não. Você tem ambições, é importante ter ambições também.
R – A pessoa tem que ter algum estímulo pra poder conseguir as coisas. A partir do momento que você não quiser, não tiver um estímulo pra crescer, você vai ficar parado. E não é o que eu penso. Eu quero crescer muito ainda, se Deus quiser. Eu, o meu pai, não que eu queria crescer sozinho, não.
P/1 – E o que você deseja assim? Você diz em termos profissionais mesmo?
R – Eu quero produzir café. Eu quero despolpar café. Eu quero ser referência em café. Eu gosto do que faço. Eu quero ser referência, se Deus quiser. O problema é que a gente é pequeno proprietário, então é muito difícil. A terra é cara, tudo é caro. Mas eu chego lá. Com certeza.
P/1 – Tá certo. E aí por fim como é que foi dar seu depoimento pra gente? Como é que foi contar essa história?
R – Tranquilo. Assim, eu não saio muito, eu não sou de sair muito. Eu quando tenho que resolver fico dentro da propriedade mesmo. Se você vier aqui eu não paro um segundo pra nada. Eu to sempre mexendo com uma coisa ou outra. Mas eu to sempre envolvido com gente, querendo ou não é um produtor que chega pra comprar uma muda, é o agrônomo que vem e a gente conversa muito. Então, eu não acho difícil dar depoimento, não. É tranquilo.
P/1 – Tá certo. Tá bom. Muito obrigada então.
R – Beleza. Obrigado a vocês.
P/1 – A gente que agradece.
FINAL DA ENTREVISTA
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