É uma grande dificuldade ser presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e trabalhar com os grileiros de terras. A gente chega até a ser ameaçado de morte. Eu passei diversas vezes por isso. Ainda por cima, eu não estou lembrado do ano, mas há muitos anos veio um pessoal fazer umas p...Continuar leitura
resumo
Pedro nos fala sobre a origem de seu apelido (São Pedro), a história de sua família de 22 irmãos e as técnicas de subsistência usadas no dia a dia para caça, pesca, colheita e cultura da mandioca. Além disso, nos conta sobre sua formação escolar, o trabalho na infância, seus sonhos de criança e sua ligação com a fé católica. Depois, Pedro comenta seu envolvimento na articulação das comunidades de Juruti na Associação Central Lago e no Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Por fim, nos fala sobre os efeitos da presença da Camargo Correia e da Alcoa na região e sobre seus sonhos para o futuro.
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P/1 – Pedro, a gente começa perguntando seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome completo é Pedro Lima Silveira, mas sou conhecido por São Pedro, nasci no dia 25 de dezembro de 1953 e a minha residência mesmo é na comunidade do Retiro, na região do Salé, no município ...Continuar leitura
P/1 – Pedro, a gente começa perguntando seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome completo é Pedro Lima Silveira, mas sou conhecido por São Pedro, nasci no dia 25 de dezembro de 1953 e a minha residência mesmo é na comunidade do Retiro, na região do Salé, no município de Juruti.
P/1 – Antes de mais nada, quero que você conte qual é a história do apelido São Pedro.
R – Bom, é o seguinte, quando eu era criança, eu era um pouco travesso, sabe? Não tem moleque legal, só que a minha mãe, naquele tempo a criação da gente lá, era meio rígida, se fizesse um prejuízo, apanhava. Não tinha disso, esse era o troco do que se fazia de bandalhera lá. Acontece que, em pleno verão, tava muito quente e eu fiz lá um prejuízo, eu apanhei e choveu. Nesse mesmo dia, choveu; e aí continuou assim... Por incrível que pareça, nesse mesmo verão apanhei umas cinco vezes e choveu as cinco vezes. Aí o pessoal levou assim como um castigo na região: “Esse aí é o São Pedro que manda chuva.” Pra mandar chuva promessa era complicada porque eu tinha que apanhar, né? Pra mim era complicado, e isso passou por muito tempo, desde criancinha e foi até quando eu estava com os meus sete anos: toda vez que me batiam, chovia! Por incrível que pareça. Um dia, estava horrível a quentura, horrível mesmo, aí eu fiz lá um prejuízo e vai lá apanhar. Não precisava ser tão grande apanhava mesmo, rapaz, quando deram a última lambada começou a trovejar, a escurecer e a chuva caiu: “É São Pedro mesmo, não tem jeito!” E ficou São Pedro até hoje. É meio triste a parada mas (risos).
P/1 – Pedro, queria que você falasse um pouco dos seus pais, nome e qual a atividade deles.
R – Meu pai era o Antonio Flor de Lima, ele era cearense e, na época, que no Ceará era muito complicado, ele foi despejado aqui para a região. A família todinha foi despejada aqui para o Estado do Pará e até do Maranhão, e eles ficaram no Estado do Pará. Mas a minha mãe era Maria Dias da Silveira, ela era paraense mesmo; ele morreu com 93 anos e ela com 87, morreram todos os dois.
P/1 – Conta como que eram os avôs? Você conheceu seus avôs?
R – Não conheci nenhum dos avôs, até porque, quando meu pai morreu, eu estava com a idade de seis anos e não conheci mais ninguém.
P/1 – Seu pai quando veio, ele veio para ficar na comunidade que já era do Retiro?
R – Não, nessa época eles ficaram aí nessa costa do rio Amazonas, foi na costa do Amazonas e, de lá, eles tomaram rumo. Como eram cearenses e tinham bastante entendimento com terra, tipo técnica, eles tinham uma técnica cultural deles, né? Eles encontraram algumas áreas de terras muito boas e, com isso, acabaram ficando por aí mesmo, trabalhavam muito, né, plantavam muito feijão, arroz, milho.
P/1 – E você nasceu na comunidade?
R – Nasci na comunidade já, mas a vida deles já vinha de um bocado de tempo trabalhando.
P/1 – E como era a casa em que você nasceu?
R – Era uma casa simples mesmo. A casa era feita de pau-a-pique assim e embarreada, tipo cimento, mas era embarreada. Era só o barro mesmo, só que eles tinham uma técnica de fazer, mas tudo bem divididinho: os quartos, a cozinha, ali tudinho. Era uma casa e só o banheiro era fora. A gente usava mais o banheiro fora. Mas eles usavam uma técnica de tirar o barro, chamada tabatinga e eles passavam que ficava semelhante a essa tinta, ficava branquinho, branquinho ali; e era bem arrumadinha a casa naquela época. Coberta de palha, a cobertura de palha é uma das melhores coberturas se a gente for ver: tanto prova que, até um dia desses, eu tinha casa coberta de palha, como eu vim pra cá e não tive mais condições de manter, tive que cobrir de telha, contrariado.
P/1 – Por quê?
R – Porque eu gostava mais da coberta de palha.
P/1 – Qual é a vantagem?
R – Ela é mais rústica, por exemplo, numa quentura dessas, se fosse uma coberta de palha não estaríamos com essa quentura. Isso aqui seria bem fresquinho, estaríamos bem à vontade, pareceria que estávamos no ar condicionado. A palha tem o poder de aguentar a temperatura ali.
P/1 – Queria que você contasse como é que era uma comunidade tão pequena assim?
R – Na época, não tinha comunidade, era apenas uma família aqui, outra muito longe, nem se tratava de comunidade na época que meu pai chegou, né? Logo quando eu nasci, em 1953, já existia a comunidade, claro, uma comunidade com pouquinha gente cinco, ou seis famílias; mas como era bastante distante uma da outra, aí a gente, pela necessidade da oração, a igreja católica acabava formando uma comunidade lá para que existisse essa facilidade do batismo dos filhos e essas coisas todas.
P/1 – Tinha irmãos?
R – Muitos, 22 irmãos nós éramos, porque meu pai casou duas vezes: ele tinha a primeira mulher que era uma cearense e, depois, casou com a minha mãe que era paraense. Eu não tenho muito bem noção do nome dos primeiros, mas da segunda mulher eu sei todos. Mas sei muito bem que o meu irmão mais velho era Domingos Flor de Lima, o outro era Manuel Flor de Lima, o outro era Albino Flor de Lima, Florinda Flor de Lima, Cornélio Flor de Lima, Raimundo Flor de Lima, tinha a Ágda, assim, era um bocado de gente... A Domicília Flor de Lima, Martinha – que era a Marta –, a Carmita, todo esse pessoal era meu irmão, da primeira mulher. Da segunda mulher, o mais velho era o Calimécio Dias da Silveira que já mudava um pouco, e o Cássimo, também, Dias da Silveira, depois vem o Carmo, depois vem a Chaguinha – Maria das Chagas –, aí tem eu, o Oswaldo, o Antonio e mais dois que morreram. Nós éramos ao todo, as duas famílias, que digo, com os da primeira mulher e da segunda mulher, em 22 irmãos.
P/1 – Mas não moravam todos juntos, não?
R – Não, nem cabia na casa! (risos)
P/1 – Moravam quantos juntos?
R – Os dez da segunda mulher, nós morávamos todos juntos aí, depois, que eles foram casando, naquele tempo casava com uma idade muito alta já, com a idade de 30 anos.
P/1 – Mas como era esse convívio com dez irmãos? Era uma bagunça, né?
R – Na verdade, quando eu te falei que a gente não podia dar um prejuízo que apanhava era controlado ali. A gente nem podia pensar em desconfiar um com o outro ali, porque se não, apanhava também ali. Mas nós vivíamos muito bem, graças a Deus. Nós fazíamos o roçado coletivo, lá não tinha esse negócio de dono – não tinha dono, não: nós vamos fazer e quem administra é a mamãe. E aí era a nossa mãe que administrava tudinho, nós fazíamos os trabalhos, claro, nós tínhamos que ter algum recurso para irmos às festas, essas coisas, mas era ela que tirava: “O teu tá aqui, o teu tá aqui e o teu tá aqui.” Mas o trabalho era no conjunto, então era tipo uma empresa praticamente ali, porque todo mundo trabalhava: a gente caçava, a gente pescava, mas não tinha diferença nenhuma, então, tudo vinha pra casa. A nossa mãe também tinha um sistema na criação nossa que hoje, infelizmente, não tem mais: ela tinha o dever de seis horas da tarde a gente reunir todos ao redor dela pra fazer a oração. Se a gente errasse... Começava em pé a oração, se a gente acertasse todo mundo, aí sentava, já era sentada a outra oração, mas se a gente errasse, a gente ia de joelhos até acertar, mas aquilo foi muito bom. A gente achava ruim naquele momento mas hoje eu digo que estava de mais bom.
P/1 – E de brincadeira, o que tinha?
R – De brincadeira, era jogo de bola, era só o que tinha. A gente comprava umas bolinhas assim feitas do leite de seringa que é um sernambi – tinha um camarada lá profissional pra fazer, era ligeira que só. Batia aquela bola e subia pra cima, ali, mas a gente jogava com ela, a gente tinha o controle lá e a gente jogava assim mesmo no quintal da casa. A gente fazia duas travezinhas lá e jogávamos, não tinha esse negócio de time naquela época, pra nós não. O time que tinha era lá nas vilas maiores como Tabatinga, Piraquara e... Mas nós nos divertíamos por ali... (risos)
P/1 – Tinham dois times quando formados só de irmão, né?
R – Só de irmãos, é. Cinco de um lado, cinco do outro e travava, né, porque os mais velhos não jogavam mais (risos).
P/1 – Qual era a comida da região?
R – Bom, a comida que nós mais tínhamos era a do extrativismo. Naquela época, ninguém comprava. Nós tínhamos a caça em abundância, nós matávamos bastante, caça o quanto precisasse e peixe. A nossa comunidade tem 15 quilômetros de distância da beira do rio mas a gente ia lá pegava o peixe e trazia no ombro, botava assim o cargueiro uma cambada e outra, e trazia. No outro dia, ninguém trabalhava porque chegava todo mundo quebrado. A mãe tinha que fazer a comida e ninguém comprava, não. Era muito difícil. Naquela época, não comprava praticamente nada, só o que comprava era a rede e a roupa, né? Nós não comprávamos o açúcar, não comprávamos o café, não comprava nada. Tudo a gente tinha, tinha a cana pra tirar a garapa e o cafezal lá pra tirar o café. Tempero também era difícil de comprar, aquele tempero pra fazer a comida era difícil porque nós criávamos porco gordo tirava a manteiga para fazer o tempero da comida. Era tudo natural, não tinha nada desse negócio de óleo industrializado nem pensar naquela época. Porque não tinha energia, né, aí o querosene era uma forma de colocar na lamparina para a acender e clarear a noite. A gente sempre usava banhas assim de frutas da floresta. A gente fazia aquilo preparava e não gastava quase nada.
P/1 – Então, Pedro, a gente estava falando quais eram os tipos de peixe que vocês pegavam?
R – Na época, nós tínhamos várias espéciess de peixe, por exemplo, os peixes que sempre a gente mais pegava com a tarrafa, é aquela de jogar e pegar os peixes lá no fundo, era o jaraqui, que é um peixinho, não sei se vocês conhecem, o jaraqui é um peixinho tipo curimatã, mas ele é bem menor, com o rabo todo rajadinho, mas é muito gostoso. Jaraqui, acaratinga – que é um tipo de cará – tinha mais outro acará, o lambia que chama cangoia e, também, o peixe mais especial, o tucunaré. O tucunaré – acho que vocês conhecem mesmo – peixão mesmo, esse aí, a gente pegava muito. Na época, esses eram os tipos de peixe que a gente sempre pegava. No verão, a gente, claro, ia lá para várzea e matava também pirarucu, por ali, aquelas coisas, porque o peixe ficava mais coagido e, na seca, a gente matava.
P/1 – Que tipo de caça?
R – Caça, nós matávamos de todos os tipos, desde a anta até a cotia. A gente matava cotia, tatu, paca, catitu, porco catitu, queixada, veado. Tem dois tipos de veado e agora já tem três, né? (risos) Eram dois tipos de veado, o veado vermelho que era bem grandão e o veado roxo que menorzinho. Anta era difícil de matar porque é um bicho muito grande. Matava e não tinha condições levar sozinho e dava uma mão-de-obra, mas que tinha bastante. Onça, tinha muita, mas ninguém matava também. E matava pássaros também, né, bem como o jacu, a jacamin, o mutun, a gente matava esses pássaros porque todos eles são muito especiais, muito gostosos.
P/1 – Mas com o que matava a caça?
R – Com a espingarda, atirava. A tiro. A tiro que a gente matava.
P/1 – Compravam pólvora aonde?
R – Nas vilas como Tabatinga, Piraquara que eram vilas maiores, naquela época, já tinham comerciantes lá que vendiam. A nossa produção a gente baixava pra lá e comprava o material todinho.
P/1 – O regatão vendia as coisas?
R – Não, não. O regatão não passava por lá não. A gente comprava no comércio mesmo, era a gente que procurava. Agora o comércio procura a gente, naquela época, a gente procurava o comércio até encontrar (risos).
P/1 – Gostaria que você contasse mais, aí você começa a trabalhar mais com o seu pai, como é o começo dessa vida de plantação, como é que você começa aprender as técnicas e tal?
R – Na verdade, as técnicas da gente sobre a plantação a gente aprendia com o trabalho mesmo, na prática. O nosso pai era bastante experiente e nós tínhamos quatro tipos de plantio lá, nós plantávamos a roça de mandioca, o milho, o arroz e, – aliás, eram cinco – o feijão e o tabaco. Tabaco, aquele fumo, né? A gente plantava a roça, por exemplo, a gente tinha o local que era terra de areia e a gente plantava lá. Agora, o milho, o feijão, o arroz... A roça e o arroz, a gente plantava na terra de areia, ou de barro; na terra preta, a gente plantava as outras que são mais frágeis, né, no caso o tabaco, principalmente, o tabaco é muito melindroso, a gente tem que ter um trato mais do que tratar um filho pra poder adquirir, né? Agora o milho, o feijão e o arroz a gente pode plantar, dá uma vez ou duas tratamento, continua dando. Mas a gente coletava bem, coletava muito bem mesmo, não tinha praga nesse tempo, não tinha tipo de praga pra perseguir a plantação, eram só animais selvagens que perseguiam. Às vezes, no caso, o jerimum e a melancia, os bichos comiam, mas era bicho. Milho era o macaco que comia. Mas praga, assim, não dava não pra dizer que empestava a área, não tinha não.
P/1 – Mas essa produção era para vender, ou era só para subsistência?
R – A gente vendia uma parte, por exemplo, o tabaco era totalmente para vender, ele era todo para vender. O feijão só vendia o excedente, assim como o arroz e o milho também, só vendia o que se sobrava, o resto ficava para nós mesmo para a nossa alimentação.
P/1 – E tinha troca também?
R – Sim, tinha. Era como se fazia naquela época. Era muito difícil você vender um produto a dinheiro, mas você trocava, você levava ao comércio e trocava, deixava pra lá o produto e trazia de lá a mercadoria industrializada. O que a gente trazia, por exemplo, a questão de roupa, munição, calçados, essas coisas todas a gente trocava. Era troca. Até mesmo peixe, quando a gente não ia pescar que tinha a farinha e tinha gente que morava na várzea, facilitava bem, a gente trocava: “Traz o peixe.” “Tá aqui a farinha.” Era feito assim, não tinha preço; só fazia trocar, calculava o volume...
P/1 – Lá na comunidade do Retiro não chegou a juta?
R – Não, porque é no Retiro, mas é no Retiro do Planalto. A juta é mais para a várzea. Agora, de um certo tempo para cá, é que chegou pra lá, é um plantio de fibra também muito bom, que eu estou cultivando já – vou
começar a cultivar o bicho.
P/1 – Então, vocês não chegaram a pegar aquele auge da juta? Nem mexeram com isso.
R – Não, nunca, nunca trabalhei com juta.
P/1 – O que dava mais para você mais troca assim? Era arroz? Era feijão? O que era melhor para você vender?
R – Bom, tanto faz, para nós não tinha “ruindade”. Naquela época, tudo era válido: plantava com bastante disponibilidade e, também, colhia com muito amor aquilo ali. O fazia ali era bem aceito, bem aceito. Agora na questão financeira, o tabaco era o chefia. Ele era pequeno, fazia o que se chamava moles – desse tamanho assim – de um quilo. Uma arroba eram 16 moles daquele que chamavam e se a gente vendesse 20 sacos de farinhas dava o equivalente aos 16 moles de tabaco. Os 16 moles de tabaco colocava no ombro e ia levar no comércio e os 20 sacos de farinha tinha que pagar um carro, uma carroça para levar lá, na carroça de boi, arrastado pelo boi.
P/1 – Quando vocês iam levar sem carroça vocês iam com boi, com cavalo?
R – Não, não. A farinha, geralmente, fazia isso, geralmente era no carro. Meu pai, logo no começo, tinha uns burrinhos que trabalhavam, mas depois acabou, não se deram muito bem na região. Depois, a gente ficava pagando esses transportes. A gente não tinha o boi, o carro. Arrastado assim, levava. Sempre fazíamos isso. O tabaco, não, nunca pagamos transporte porque era fácil de carregar, né?
P/1 – Queria que você falasse um pouco, você falou para mim antes da entrevista, como que era o sistema para aprender, cartilha, colégio, essas coisas.
R – Ali que era a parada mais difícil. Eu andava do Retiro ao Castanhalzinho que já era no município de Juriti, que já é Santarém, eu andava duas horas e meia certinho para ir e duas hora e meia para voltar, eram cinco horas só de viagem. Eu viajava daí até lá numa estradinha cheia de lama. E lá era o seguinte, não tinha que chegar nem meio minuto atrasado porque se não ficava fora, e o que a gente fazia? Com tanta tarefa que tinha a gente saia correndo, tinha que correr daqui lá, não tinha esse negócio, porque quando a gente saia de lá era uma outra questão, mas pra chegar era o problema. E a gente viajava muito, inclusive, naquela época, não tinham professores pagos pelo Estado ou município, era a gente que pagava. Como eu já tinha lhe dito, o meu pai morreu, eu estava com cinco anos de idade, comecei a estudar com sete anos, né, e fazia todo o esforço; e ainda era perigoso porque só tinha casa no Retiro e de lá ao Castanhalzinho, a gente viajava sozinho de madrugada algum bicho podia atacar, mas a gente acabava vencendo, né?
P/1 – E você gostava do colégio?
R – Gostava e não era nem colégio, era na casa da professora que a gente estudava lá, era na casa da professora. Só para você ter uma ideia: eu estudava de manhã, voltava pra casa e eu tirava umas folhas de um mato, coletava um extrativismo lá que tinha um camarada lá que comprava para empalhar a farinha. Eu estudava de manhã, de tarde tirava folha e levava no comércio, quando baixava pra estudar eu já levava com uma semana eu arrumava o mês pra eu pagar a professora. Mas a gente conseguiu fazer tudo isso. Agora, não consegui avançar no estudo por isso, né, porque foi o tempo que o meu pai tinha morrido, e aí tinha irmão mais criança e os outros já estavam trabalhando por ali, e a gente tinha que dar conta dos irmãos mais criança, então eu parei de estudar.
P/1 – Você falou agora que tinha perigo dos bichos atacarem e tal. Como que é essa relação com a fauna que é tão grande na Amazônia?
R – Na verdade, o que fazia medo, que até o nome dava medo, era a onça, mas tirando disso daí, tinham os insetos como a surucucu, a cobra surucucu e outros animais que podiam... Tinha o lacrau, essas coisas assim. A gente viajando de noite no escuro; não tinha a lanterna, a lanterna era controlada era só pra caçada, ninguém podia gastar muito assim a pilha, né, aí ficava difícil. Mas a gente acabava passando, a gente rezava bem, tinha bastante fé. Uma vez que encontrei uma onça, mas acho que ela não estava com fome mesmo. Ela não ligou muito pra mim, passou e foi embora eu também passei e fui embora no meio do caminho.
P/1 – E as visagens? Tinha medo das visagens?
R – É o pessoal falava muito de visagem e a gente ficava com medo das visagens, mas eu nunca vi. Viajei muito de noite, mas eu nunca vi visagem mesmo, nunca vi. O pessoal: “Mas tem.” Pode ser até que tenha, mas eu ainda não vi. Tinha muito, assim, remorso, assobio, gritos no meio da mata; se escutava, mas ver, eu ouvi algum remorso, mas não vi, não enxerguei para eu dizer: “É isso mesmo”. Pronto, enquanto assobio, qualquer um assobia; grito, qualquer um grita (risos).
P/1 – Queria, Pedro, que você contasse um pouco do processo da farinha, porque é uma coisa que a gente não ouviu aqui.
R – Pois é, o da farinha é o seguinte: a farinha, nós temos uma cultura aqui de trabalho da farinha, agora estamos querendo mudar pra tal da roça sem fogo. Mas nós sempre fizemos roçando, roçando o cerrado miúdo: derruba os mais velhos, os maiores e queima pra “limpagem” da área, e aí a gente planta. Geralmente, a gente planta no mês de novembro, a gente faz no mês de julho, agosto, o roçado, faz o desmatamento; setembro, outubro, a gente queima ele todinho; ele fica preparado, a terra, se ficar alguma galharada, a gente vai lá tirar. Ali, em novembro, começa a chover e aí a gente planta, final do ano a gente planta ela...
P/1 – A mandioca?
R – A mandioca, a gente planta assim, por exemplo, um hectare leva uns oito feixes de maniva bem... E daí, a gente vai ter que dar umas várias limpezas nelas. A gente vai dar uma primeira, segunda, uma terceira nelas pra coletar elas no limpo; e a gente colhe... Até lá, na nossa região que já não é muito boa mesmo, a gente colhe em torno de 60, 50 sacos por hectare. Chegamos até, em 80 uma vez, mas depois ela meio que caiu. Mas isso varia muito da época, do tempo que a gente vai colher. Se a gente colher, quando está meio verde, é claro que ela não tem muita rentabilidade na produção; se deixar amadurecer bem, o peso é melhor, ela rende muito mais, aumenta muito mais. Mas o processo dela é simples, pra quem já tem habilidade, por exemplo, a gente arranca da roça quatro sacos de mandioca, desse saco de fibra, dá um de farinha. Aí o que a gente bota? Bota um saco daquele, vem descasca tudinho e bota ela na água, bota hoje, por exemplo, segunda-feira. Ela passa terça-feira e, na quarta-feira, a gente já tem que estar com três sacos pra cevar ela no motorzinho lá, mas que na época não era motor, na época era no ralo, a gente ralava furava assim umas latas e ralava. Agora não, tá muito bom. E aí, faz uma farinha muito boa, a gente passa aquele processo lá, faz esse processo rala no motor, mistura muito bem tem ou a prensa, ou o chamado tipiti que eu não sei se vocês já viram isso, se vocês não viram, eu posso depois mostrar uma amostrazinha que tem dos índios ali que é artesanato. Isso aí a gente enche e amassa, mete um pau embaixo, mete outro e amassa, depois que tá seca a massa, a gente passa na peneira muito bem ela, arruma bem, e aí a gente vai escaldar ela no forno, mete fogo embaixo do forno e escalda bacana. É lá naquele processo que a gente vai saber se ela vai dar bonita ou não, porque se a gente escalda completamente correta, ela dá muito bonita. Essa farinha aí não é mesmo de uma boa qualidade, mas ela já está mais ou menos, ela fica muito mais bonita que isso. Agora depois que ela tá escaldada, muito bem já em fase de secagem, aí o que a gente vai fazer? A gente vai pegar uma marca de peneira com tamanho de tela, com ela a gente tira aquele bagulho e joga fora. Aí, depois, pega outra e tira aquela mais fininha mesmo, ela fica só filé mesmo. Aí a bicha fica... É só tratar para ela não queimar no forno e torrar muito bem, pronto, acabou-se.
P/1 – Na época que vocês eram pequenos, vocês faziam todo esse processo com seu pai?
R – Nós fazíamos. Fazíamos todo esse processo, agora posso lhe garantir, muito embora seja um alimento que não pode faltar para nós, mas com ela a gente adquire muita doença. É uma “frieldade” do caramba isso daí, dá um frio, ela pega nas juntas, aquele tal de reumatismo é rápido pra quem trabalha muito em mandioca o negócio ferve.
P/1 – Por quê?
R – Porque ela é muito fria, muito fria e a gente começa a trabalhar nela aí ela começa a atacar também.
P/1 – Mas como que ela é fria? É o tempo todo?
R – Porque a gente tira ela da água e faz outro processo, você vai meter a mão e sente aquele frio mesmo, e parece que ela entranha mesmo no corpo da gente que depois que a gente termina de torrar um bocado de farinha, você pode tomar banho bacana, mas se você for suar ela estila de novo no corpo da gente.
P/1 – Quando você era pequenininho, você já fazia isso?
R – Já fazia. Nós lá, não tínhamos negócio não, não tinha conselho tutelar, não tinha negócio de trabalho escravo, nem infantil. Naquela época todo mundo (risos)... A gente já fazia isso, entendeu? Agora, ela é meio covarde com a gente, muito embora ela seja muito boa, o preço nunca compensa. Só para você ter uma ideia, depois que eu me entendi mesmo, eu fiz um hectare de roça e comecei a botar desde a licença que eu vim tirar, pagando passagem pra vir tirar a licença, voltar pagando a licença ambiental pra eu fazer meu roçado, até o processo de colheita tive prejuízo de 30 reais por saco de farinha. A gente trabalha porque é a cultura, e o pessoal não faz essa matemática porque se não eles nem trabalhavam. Porque é prejuízo total, hoje mesmo estava discutindo aí sobre essa questão.
P/1 – E a farinha é um dos carros chefes aqui.
R – É a farinha aqui é 98% da produção de Juruti, é farinha de mandioca.
P/1 – Nossa, é muito coisa.
R – É.
P/1 – Pedro, eu quero voltar um pouco, seu pai morreu você tinha cinco anos, é isso?
R – É.
P/1 – E como é que ficou daí para frente para organizar a sua vida?
R – Bom, nós tínhamos mamãe completamente administradora. Ela era mãe e pai. Quando ele morreu, ele deixou uma boa ponta de gado, nós tínhamos uns 80 reses, naquele tempo, quem tinha 80 reses já era... Só que os irmãos mais velhos tomaram tudo, nós ficamos na pior, mas crianças com a segunda mulher diziam que não tinha direito e acabou-se. Tomaram mesmo, naquele tempo, parece que se existia justiça, não se sabia aonde, e acabaram ficando com tudo e nós fomos puxando por nós mesmos. Agora, nunca fomos pessoas de dizer que tínhamos uma vida confortável não, nós sempre fomos pobres mesmo. Trabalhador rural, batalhador. A questão da escolaridade nossa foi muito baixa; minha escolaridade é muito baixa, que se eu contar o processo do meu estudo, ele foi meio assim, foi quase que meio obrigada... A gente até na documentação muitas vezes aumentaram minha idade para eu participar de alguma coisa, mas que, com a morte do meu pai, a minha mãe soube muito bem administrar, muito bem mesmo. Isso eu posso dizer aqui e em qualquer canto. Nós sofremos um bocado, nós sofremos muito, mas depois a gente conseguiu se equilibrar e equilibramos assim e começamos a distribuir as tarefas, e distribuindo as tarefas é claro que facilita muito mais: aí um ia pescar, o outro ia pro roçado, outro ia caçar e a gente fazia isso e esse processo era bom.
P/1 – E você fazia mais o quê nessa época?
R – Bem, eu gostava muito de pescaria, muito embora fosse longe. Eu gostava muito de pescaria; de caçada, eu gostava mesmo e, lá no roçado, eu ia contrariado, mas era obrigado a ir. Mas eu gostava muito de pescaria e de caçada.
P/1 – Você tinha umas técnicas suas, umas coisas diferentes?
R – É, nós tínhamos algumas técnicas, inclusive, lá da mandioca porque a gente já aprendeu aquela cultura e mas depois que a gente foi melhorando, mas, por exemplo, pra fazer hoje, a gente compra a tela pra fazer a peneira para peneirar a mandioca. Naquela época, a gente fazia de tala, de tala de arumã, a gente tirava lá, coleta ele, preparava a tala e fazia a peneira do tamanho que quisesse com a tela, mas de tala, de extrativismo. Isso aí era técnica nossa mesmo, nós nem comprávamos outra. Eu não fazia o tipiti, mas meu irmão fazia. E era assim, cada um tinha uma habilidade assim, sabe? Sobre as técnicas também, por exemplo, na questão do derivado da mandioca, porque a mandioca não dá só farinha, ela tem uma série de derivados. Por exemplo, o tucupi que se tira dela, que é uma água que se tira dela, amarela que nós não temos aqui, em casa tem, ela serve para diversas coisas: o camarada bota umas pimentas, assim, com um ponto de água e temperinho lá nele mas fica saboroso para você saborear um peixe assado aí, o bicho é muito bom. E pelo outro lado tem a goma, chamada aqui, tratamos aqui de tapioca, né, ela se a gente for fazer essa técnica, usar isso ao invés de fazer a farinha, é mais lucrativa. É mais lucrativa, porque do saco de mandioca você consegue tirar 20 quilos de tapioca e o quilo da tapioca ele é duas vezes mais caro que o quilo da farinha, então é muito mais lucrativo tirar a tapioca, a goma pra vender.
P/1 – Mas que tira menos, muito menos do que a farinha?
R – Muito menos, por exemplo, se ele dá 20 quilos de tapioca por saco, então mandioca que era para eu fazer um saco de farinha, eu faço... Quatro vezes duas são seis, eu faço 60 quilos de tapioca e eu ia fazer 50 de farinha, entendeu como é que é? Eu ia fazer 50 de farinha e é muito mais negócio vender a tapioca.
P/1 – Mas a mandioca que faz a tapioca, não faz farinha mais, não tem como?
R – Não, não tem como não. Se for tirar nessa técnica pra ela dar bastante tapioca, não dá mais não. Agora nós temos uma outra técnica, que a gente só dá uma lavada na massa, tira um pouco de tapioca e deixa um pouco aqui que é para a farinha formar esses carocinhos aí dá pra fazer, mas se for tirar só exclusivamente só tapioca, não presta pra mais nada, se não para adubo o restante que sobra.
P/1 – E a mandioca mesmo, quando vocês eram pequenos, vocês vendiam mesmo a mandioca?
R – Não, de maneira nenhuma. Agora estão comprando, agora tem gente que compra, não é venda mesmo assim avançada é algum lá... Agora macaxeira que é um tipo de mandioca a gente sempre vendeu, essa a gente come, cozinhar e come como pão no café é legal.
P/1 – E sua mãe cozinhava bem? O que ela cozinhava mais?
R – Não, a gente comia as comidas rústicas mesmo, não tinha muito papo não, era botar aí pra cozinhar e como a comida era natural mesmo, não tinha tanto disso, mas a gente gostava muito de assado. A gente assava demais, assado de brasa, uma paca assada de brasa não tem quem dispense (risos).
P/1 – Já tinha o arroz e o feijão de vocês?
R – Tinha isso aí, tinha porque nós mesmos plantávamos era difícil nós comprarmos, comprávamos assim o industrializado, mas da nossa produção nós tínhamos. E plantávamos muito.
P/1 – E você tinha algum peixe, uma caça preferida?
R – Tem sim, a carne do veado, a carne da paca e do tatu. Eles estando gordos ela é muito... Agora, o peixe, o tucunaré e o jaraqui, eu tinha muita preferência.
P/1 – Que você ia buscar lá quando ia lá pescar...
R – Eu me virava pra pegar eles, porque era bom demais (risos).
P/1 – Pedro, você se lembra de quando você era criança, de você ter um sonho?
R – Tinha. Meu sonho era trabalhar em comunidade mesmo, porque eu achava bonito, eu achava bonito um padre celebrar a missa e todo mundo escutando, obedecia ali, isso é legal aqui. Aí eu tinha esse sonho quando eu era criança, a gente sempre se juntava nossa brincadeirinha, quando a gente tinha um tempo, a gente ia lá pra frente celebrar uma missa, era assim muito... Esse sonho eu consegui, não fui padre porque não tinha a intenção de ser padre mesmo e também não tinha estudo para isso, mas eu consegui trabalhar na comunidade. Quer dizer, eu quando tinha meus 15 anos... Com 16 anos, podia participar do curso chamado Curso de Boa Nova, que era um curso de formação que a igreja dava, e a gente já trabalhava lá na minha comunidade, já tinha uma igrejinha lá que a gente rezava eu já trabalhava lá e o padre simpatizava comigo e tinha vontade que eu... Bom, aí tive um curso em Óbidos, na Prelazia de Óbidos, mas só entrava quem tinha 16 anos e eu tinha 15. “E agora?” O padre disse: “Forjar a tua idade, mas tu vai.” “Tá bom”, “Mas nunca escapole pro Bispo, se não ele me expulsa.” Bom, ajeitamos aí e fui embora, a inscrição foi adiantada, e aí quando cheguei em Óbidos: “Eu quero ver seu documento.” O Bispo, eu disse: “Mas meu documento eu deixei, ninguém anda com documento é mamãe que guarda.” “Ah, tá, tá bom. Eu vou te perdoar.” (risos). E eu participei desse curso e era um curso de 20 dias, nós passamos 20 dias na Prelazia de Óbidos. Daí que tomei gosto da história e não quis mais deixar todo curso que tinha eu tava dentro e comecei a aplicar meu trabalho também na comunidade. Fui dirigente da comunidade durante 20 anos, né, cobrador de dízimo. Cobrador não, eu recebia a coleta do dízimo e passava pra igreja, fui delegado sindical por vários anos também. Quando foi em 2002, 2001, eu participava mais das organizações do município de Santarém, porque eram mais próximas, porque eu moro bem nas fronteiras e lá tinha umas associações – me associei em uma lá, e essa associação era tipo sindicato também e tinha uma matriz, né, que as outras associações eram afiliadas daquela. Aí eu me associei a uma dessas e nas discussões o pessoal acabou me colocando para vice-presidente de uma associação lá chamada Central Lago, que era a centralizada. Bom, em 2001. Quando foi em 2002 o presidente, nós tínhamos mandato de dois anos, o presidente achou mesmo de fazer lá umas bobagens e expulsaram ele; e na vacância do presidente, o vice assumia. Aí eu assumi com um bocado de medo porque não tive estudo, né, mas assumi. A gente quando não tem estudo, pergunta muito, né, a gente acaba se chegando com quem... Agora, a gente é meio inteligente também. E o pessoal me ajudou muito, eu tinha dificuldade, eu perguntava mesmo, não tinha vergonha: “Não, eu não sei, mas eu quero saber.” Porque precisa saber, e me ajudavam. O certo é que quando eu peguei essa associação, ela estava com uma dívida de 180 mil na época, em 2002, eu tive felicidade de que quando eu assumi, tinham aprovado um projeto PDA, que é o Projeto Demonstrativo do Amazonas e foi aprovado para essa associação no valor de 800 mil, aí deu pra gente cumprir com tudo e fizemos um movimento que tínhamos que fazer e acabamos pagando a dívida atrasada também. Aí eles me reelegeram e passei mais três anos lá, aí já não me deram mais um mandato de dois anos, me deram de três, quando foi em 2005 sai de lá, não sei se já é a oportunidade para eu falar disso?
P/1 – Qualquer coisa a gente volta, pode falar.
R – Aí de 2005 eu sai de lá; eu parei. 2006, 2007, na minha comunidade trabalhando de novo reestruturando, porque lá não melhorava quase nada era só mesmo pra tomar conta da associação. Aí me colocaram pra presidente do sindicato (risos), aí eu não queria muito aceitar, mas depois que a gente passa a vida comunitária, ninguém se governa mais não, o que o povo decidir, a gente é obrigado a cumprir. E é o motivo que a gente veio pra cá, mas acho que está dando para levar também aqui, com alguma dificuldade mas...
P/1 – Você não mora em Juruti?
R – Não, agora por esse período de dois mandatos eu estou morando, bem aí atrás, num quartinho aí me ajeitei. Eu nunca tive boa vida, pra mim qualquer canto é bom (risos).
P/1 – Mas foi a primeira vez que você saiu mesmo da comunidade e morar fora, foi pra vir para cá?
R – Foi a primeira vez.
P/1 – Então, vamos voltar aqui um pouquinho, você falou do primeiro curso que você foi fazer em Santarém, que você era novinho...
R – Foi em Óbidos.
P/1 – Em Óbidos, desculpa. Do que era o curso? O que vocês estudavam? Qual era o foco?
R – Eram mais questões da igreja, de religião e vivência comunitária. Organização mesmo, qual o papel de um líder, como é que ele deve agir na a comunidade, como ele deve agir com os parceiros, era mais isso, organização, formação mesmo. Mas era legal, era meio forçado, mas era legal (risos).
P/1 – Quando você volta, você começa a atuar de que maneira assim? Você disse que foi com a Edi?
R – Porque, na verdade, a gente já tinha algum papel para assumir na comunidade. A gente já tinha alguma tarefa na comunidade. Quando a gente foi pra lá foi pra reforçar e não abandonar a tarefa que tem, muito pelo contrário, era pegar mais e foi exatamente o que eu fiz quando eu voltei de lá. Voltei mais animado, já tinha alguns poderzinho de decisão de intervir, de dar a opinião da gente nas reuniões, já tinha depois que a gente passou a ter esses cursos a gente passou a ter também essa liberdade da discussão, entrar na discussão e até de aparecer. E isso era o que eu queria, e agente fazia muito isso. Às vezes, uns ficavam chateados, mas, na verdade, a gente tinha aprendido então vamos seguir por aqui. Eu nunca poupei, assim, de dizer que eu estava enxergando o erro e não dizer o erro, eu sempre dizia: “Olha, isso daqui está errado. Isso deve ser assim, assim, assim.” Assim, como eu, quando errava, também tinha a sensibilidade de me autoavaliar: “Não, eu errei mesmo.” Confessava: “Eu errei nesse ponto”. Eu sempre tinha isso, porque a gente aprendeu sempre isso, né, mas foi legal.
P/1 – Você tem uma história para exemplificar, pra gente entender um pouco melhor assim pra entender como é que funciona essa vida na comunidade?
R – Bom, eu tenho vários casos, né, tem os casos bons, mas tem os ruins. Por exemplo, de um certo tempo pra cá, quando eu passei a ser presidente do sindicato, delegado sindical, a gente passou a tratar mais da questão agrária lá, e eu zelo por isso e, às vezes, a chegada, eu senti que grande dificuldade foi na chegada. Às vezes, dos grileiros de terras, a gente chega meio complicado, né? Até ser ameaçado de morte, essas coisas todas, mas a gente tinha que defender as terras dos companheiros e sempre costumava assim mobilizar o povo muito bem mobilizado que quando chegava na hora de uma questão dessas, o povo também se juntava e vinha pra defesa da gente, né? Mas o cara de pau tinha que ser a gente, a gente que tinha o conhecimento, tinha que defender, e isso, eu passei por diversas vezes e até hoje a gente está passando por isso e muito agora nesses últimos tempos...
P/1 – A maior parte é por grileiro?
R – A maior parte é grileiro, madeireiro. Isso aí tem, ultimamente.
P/1 – Você ainda planta? Você ainda é agricultor? E na sua terra você tem problemas com isso também, ou na sua terra...
R – Não, lá na minha logo no início tive bastante problema com grilagem de terra, mas depois a gente conseguiu controlar e conseguimos um assentamento pra nossa região. Depois que a gente conseguiu arrumar o assentamento parou também, porque eles sabem que é uma área legalizada, que é um coletivo, então freou aquela... Mas mesmo assim, tem companheiro lá dentro que não conhece a realidade e acaba vendendo e depois a pessoa vem querendo fazer bronca em cima, muito embora, sabendo que é proibido vender, mas eles acabam vendendo.
P/1 – Como é que funciona? Eles chegam na terra...
R – Na verdade, eles chegam através de alguém da comunidade, da região, né, e ficam lá conversando: “Tem muita terra?” “Tenho.” “Tem documento lá?” “Ah, documento não existe, é aquela coisa.” Naquela época é o que falavam: “Mas tem alguma área que dá pra servir?” “Olha, te dou tanto pra você me levar lá”. E o cara levava lá aquela pessoa, quando a gente pensava que não, tava lá dentro, aí a gente mostrava regulamento, como funcionava, aquela coisa toda. Mas isso foi horrível, agora não, agora nós temos os assentamentos que acaba nos defendendo, já foi complicado isso. E agora, ultimamente, tem chegado muito, mais aqui na região central. Na região central, por exemplo, com a chegada da mineradora – não sei se é o momento...
P/1 – Pode falar.
R – Com a chegada da mineradora, assim como ela veio com todas as suas legalidades, também, ali ao redor chegou também tudo que não prestava. Chegou um bocado de coisas boas, mas também chegou um bocado de coisas ruins. Aí o camarada: “É muita bauxita aqui em Juruti, tem bauxita pra todo canto, eu quero uma terra pra depois tirar proveito disso.” E isso está até hoje, está complicada essa situação. Pelo outro lado, tem o madeireiro ilegal e isso botando uma pressão e até em risco a vida da gente, porque a gente tá defendendo, tá defendendo. Mas, graças a Deus, ainda não aconteceram crimes muitos perigosos a esse respeito, nunca aconteceu aqui no município de Juruti de dizer: “Mataram sindicalista pra defender.” Não, ainda não. Mas no estado do Pará já morreram muitos e tá morrendo, de vez em quando, morre um, né? Então, a gente tem um certo receio que ninguém tá livre, né, de repente pode acontecer com a gente.
P/1 – Pedro queria que você contasse um pouco, já que você tocou no assunto, como foi a chegada, primeiro foi a Camargo Correia que veio aqui plantar, né, aí queria que você contasse um pouco da mudança da vida de vocês no momento que chega a Camargo, depois chega a Alcoa, como é que foi isso?
R – Tá, veja só, eu não estou lembrado o ano, mas há muitos anos veio um pessoal fazer umas pesquisas aqui na região e já se falavam que era uma mineradora de bauxita que vinha. E fizeram as pesquisas e constataram, até fizeram as pesquisas cavando manualmente, e lá na nossa região eles foram. E ninguém nem pensava que vinham, né, mas quando foi agora foi aprovado mesmo, foi licenciado e, claro, a Camargo Correia veio, né, depois veio a Alcoa atrás e o negócio pegou fogo mesmo, sabe? Bom, aí nesse sentido, foi uma surpresa porque parecia que era mais papo que não iam vir tão cedo e veio tão rápido, parece que ninguém esperava chegou, né? Agora, eles trouxeram um bocado de coisas boas, isso nem se discute, mas, infelizmente, não só de beleza vive o homem. Tem um bocado de coisas erradas também que, às vezes, a empresa mesmo não sabe, mas os seus abnegados acabam fazendo e acaba refletindo lá adiante, isso aí é meio complicado. Por exemplo, a questão do impacto que ele deu com a agricultura familiar foi “desastrante”.
P/1 – Como foi?
R – Porque veja só: primeiro, houve audiências públicas e, nas audiências públicas, o pessoal pediu já que não tinha jeito que ela vinha, que a maior parte dos empregos fossem oferecidos para o povo de Juruti, claro... Sem noção da história. É claro, os filhos dos produtores que trabalhavam lá na zona rural foram empregando, vieram pra cidade, então, eles deixaram de ser produtor e passaram a ser consumidor. Nesse sentido, houve uma queda muito grande na produção agrícola do município. Porque eles não empregaram pessoas idosas, nem também muito jovem, adolescente, eles empregavam justamente naquela faixa etária onde o serviço era maior lá no interior, e aí ele pegava aquela pessoa, claro ficava o velhinho lá e o adolescente, que não tinha tanto peso, aí não tinham tanta força assim pra levar o serviço em frente; faziam, mas diminui muito. E, tanto prova que hoje para você ir comprar uma farinha aqui é um trabalho, porque está faltando mesmo. Além disso, que houve essa queda muito grande na produção agricultura familiar aqui no município de Juruti, muito embora tenham outras produções no caso de verduras essas coisas, criação de peixes, é muito bom nisso, mas a cultural mesmo, ela falhou. Além disso, gerou um outro impacto com os direitos previdenciários, na questão do sindicato. Por exemplo, a pessoa era sócia do sindicato teve que dar baixa para poder ir pra empresa porque lá vai ser descontado o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) dele e tá lá trabalhando coisa e tal, quando ele quiser se aposentar, aquele período ali, infelizmente, da agricultura ele perdeu da atividade rural dele, isso tem implicado muito. Até mesmo no salário natalidade, por exemplo, a menina às vezes não está trabalhando empregada, mas às vezes o marido dela está trabalhando empregado, mas isso não significa que ela não tenha o direito, mas nas vezes de esclarecer se a gente não tiver muito atento, ela acaba esclarecendo que é agricultura familiar e trabalha em regime de e familiar – porque tem o regime de trabalho –
e aí quando vai lá no INSS ele vai puxar lá, vai dar que o cara está descontando, então, contradiz. Tudo isso de risco que a gente corre, e aí não passa, mas não é por isso também, porque tem as formas de trabalho: é regime de economia familiar ou regime de economia individual. Isso sempre a gente tem essa diferença e a gente sente isso com eles mesmo, com as próprias meninas: “Não, não, porque meu marido nunca trabalhou”. Tem medo de dizer e não passar e acaba se ferrando. E a gente: “Não, olha se você não declara, se seu marido trabalha como empregado, não tenha medo de dizer, porque o direito é seu e não do seu marido. Agora, se você declara que trabalha em regime de economia familiar e vai deparar que ele tá trabalhando como empregado, aí vai e não passa.” Contradiz tudo. A gente tem que esclarecer que é regime de economia individual, seu marido está trabalhando em outro canto, mas ela está na agricultura familiar. Tudo isso está atrapalhando, trazendo muito problema. A gente tá vencendo, mas com muita dificuldade.
P/1 – Queria entender, esse pessoal que saiu da agricultura familiar na época da Camargo Correia e depois que ela foi embora eles ficaram trabalhando no quê?
R – Esse processo que eu queria chegar. Se você chegou, depois da Camargo Correia, eu sou um trabalhador rural aí eu fui empregar, deixei de pagar o sindicato porque não pode mais, aí a empresa foi embora e eu sai daqui e voltei para a agricultura familiar, aí o sindicato recebe. Mas ele perdeu aqueles anos todos, esse que é o problema. Porque se é para ele se aposentar com 60 anos que me aposento, se ele passou cinco anos ele vai se aposentar com 65, porque ele tem que recuperar aquilo o tempo da agricultura.
P/1 – Mas as pessoas voltaram para a agricultura, ou tem uma parte que não voltou?
R – A maior parte não voltou mais, a maior parte não voltou mais.
P/1 – Ficou pela cidade?
R – Ficou pela cidade, ou talvez foi pra outro canto se empregar já em outro canto. A Camargo mesmo levou um bocado, porque já estavam fichado e gostaram: “vai com nós.” Pronto, a maior parte foi isso. Foram poucos os que voltaram, poucos.
P/1 – O que mudou na cidade, sei que você é do interior, mas deve ter mudado a movimentação na cidade. Eu fiquei sabendo que aumentou muito o comércio, aumentou que eu digo nem sei se foi bom ou ruim, mas aumentou muita gente, muita coisa que mudou aqui, o que mudou aqui?
R – Bom, na questão do comércio, mudou muito e a aglomeração também, o povo mudou muito mesmo, eu lembro que anos atrás antes de chegar a Alcoa, a gente ficava tranquilo aqui, a gente passava uma rua dessa e não estava nem aí, tranqüilo, depois que chegaram o negócio mudou, a questão de trânsito foi complicado aqui em Juruti. Até porque aqui não tem um regulamento mesmo, muito embora agora tenha alguma sinalização por ali, mas o pessoal ainda não foi capacitado pra isso então acaba não obedecendo a sinalização, né? Mas foi horrível deu muito acidente, muita morte. Aí vieram muitas meninas de fora, meninas de programa, sabe, com o intuito de ficar e ficaram mesmo. E isso ajudava também, a menina chegava conversando com as daqui e acabavam entrando também, a questão da prostituição também avançou muito, avançou muito, sabe? Tudo bem, mas isso é aquela história: vem o desenvolvimento, mas também vêm problemas. Mas isso aliviou, isso passou um tempo aí que dava medo, dava medo mesmo você lutar... A questão de furtos, roubos aumentou muito, aumentou muito mesmo, que eu não quero dizer que foi por parte da empresa, às vezes, pessoas daqui mesmo acabavam se aproveitando da chegada de muita gente e fazia a besteira dele pra dizer que era quem vinha de fora; não, não era totalmente de fora, mas daqui tinha muita gente que fazia. Eles se aproveitavam da oportunidade e acabavam fazendo alguns furtos, matavam, chegaram até matar um cidadão coitado aí, que estava trabalhando foi cedo comprar uma xícara de café pra sair para o serviço, os molecões daqui mesmo que estavam bebendo mataram ele, isso é complicado, né? Mas tudo bem, isso tudo agora aliviou; Parece que o negócio deu uma amornada, agora parece que a polícia tem mais tempo parece. E a própria estrutura física da cidade mudou, mudou muito você não via nenhuma rua asfaltada aqui em Juruti antes, nada. Era horrível. Agora você vê um asfalto de boa qualidade, tá aí. Então houve uma boa mudança. Mas eu não quero dizer que isso também foi por conta da mineradora. Também trocamos a administração pública. A prefeitura foi trocada também e ele teve bastante sensibilidade nesse sentido, né, mas é bem verdade que está faltando muita coisa, mas é verdade que mudou muito. Por exemplo, antes dessa administração pública que está aqui, do prefeito Henrique Costa, nós não tínhamos acesso para o interior não, as estradinha que tinha entrava um bicicleta, uma moto com muita dificuldade e agora se você corre aí pra todo canto você acha uma estrada, assim, bem “pissarrada” bem arrumadinha pra gente correr pra onde correr. Porque tal comunidade, pois é, dez minutos daqui lá, pronto: pega a estrada sem susto nenhum. Isso melhorou muito, muito mesmo, quer dizer, o poder público teve uma sensibilidade muito grande com a agricultura familiar, inclusive, até hoje eles estão pagando, por exemplo, transporte para poder trazer pra feira que é de 15 em 15 dias; agora nós estávamos numa reunião aí dos feirantes e a prefeitura dizendo: “Olha, estão aqui os transportes, vão sair mais cedo para chegarem mais cedo.” E aquela coisa toda. Mas é uma forma muito boa que não tinha aqui em Juruti de jeito nenhum.
P/1 – Na época da chegada da Camargo, você trabalhava com o quê? Qual era a sua profissão na época, você lembra?
R – Não... A administração?
P/1 – Não, você fazia o quê?
R – Fazia esse mesmo trabalho. Eu nunca trabalhei empregado, eu sempre fui da agricultura familiar, só vim pra cidade porque me botaram de presidente do sindicato se não, não vinha de repente por aqui.
P/1 – Mas na época da Camargo, você estava fazendo o movimento de liderança na comunidade, você estava plantando mais? Você lembra o que estava fazendo?
R – Nós estamos incentivando de novo. O pessoal parece que quando vimos esse fracasso estamos incentivando, puxando alguns projetinhos, inclusive a governadora do Estado tem alguns programas de governo, por exemplo, aquele CredPará está fazendo tudinho pra fomentar essas plantações não cai muito. Porque não foi que caísse demais, foi que apareceu mais consumidor, entendeu como é que é? Nós tínhamos uma produção que pro que tava aqui dava, mas quando eles chegaram e um bocado de gente veio pra trabalhar e deixou de ser produtor pra se consumidor, piorou. Piorou, já a turma que veio de fora também, claro, aí aumenta o consumo; nós já tínhamos aquela meta e não deu, tanto prova que hoje um bocado de coisa é de outras cidades que vem, de Santarém, de Manaus, de Monte Alegre, que vem um bocado de produção.
P/1 – E você tinha filhos nessa época já?
R – Já, eu já tinha.
P/1 – E eles trabalhavam com o quê?
R – Eles trabalharam sempre na agricultura familiar, sempre trabalharam lá com a gente, sempre trabalharam e sempre trabalham. Estão lá trabalhando, não abre...
P/1 – O que você está plantando agora?
R – Mandioca também, maniva que dá a mandioca, o milho e a melancia. A cultura do feijão e do arroz elas meio que estagnaram. Era mais meu pai que fazia isso, né, ele gostava demais, ela não almoçava sem ter feijão (risos).
P/1 – E a pecuária?
R – A pecuária ela é mais avançada um pouco, no caso de pequenos criadores tem um bocado aí na região; eu não tenho esse controle.
P/1 – Você nunca mexeu com pecuária?
R – Não, não. Nunca mexi e eu acho que agora é que eu não mexo, porque agora tem uma despesa horrível para criar boi. Tem uma despesa muito grande...
P/1 – Por quê?
R – Porque agora a exigência é mais, existe muita praga como eu falei no começo, não tinha praga no animal, não tinha na plantação não tinha nada agora tem muita, muita doença; é preciso que o cara esteja em ordem com as vacinações, né, o tratamento do animal que em Juruti não é um dos melhores, a carne bovina aqui de Juruti não melhor do que as outras, é meio atrasada ainda a esse respeito. Mas tem produção, tem boi gordo na região, mas ela não é das melhores de qualidade mesmo.
P/1 – Então, queria que você contasse como foi o convite, como foi ser presidente do sindicato aqui?
R – Na verdade, a gente já participava, quando eu passei a ser delegado sindical e depois que eu saí dessa associação que eu trabalhava no Curuá, no Lago Grande, a gente já veio direto pra cá e aqui eles colocaram como conselho fiscal da coisa da sede, sabe? Então, eu já era do conselho fiscal, era conselheiro, era coordenador do conselho fiscal. Eram três conselheiros mas eu coordenava, aí eu tive essa certa visão e a gente começou a fazer umas buscas, umas prestações de conta, busca de patrimônio e valorizar pra ver se era aquilo mesmo. E o pessoal começou a enxergar isso, sabe, eles acharam... Eu sempre tive isso uma facilidade de resolver o problema, quer dizer, uma briga de terra aqui como aconteceu aqui uma briga muito forte, aí o presidente me chamou pra eu ajudar. A gente acabou fazendo um ajustezinho lá que eles acabaram fazendo as pazes, e aí o pessoal achava que a gente tinha essa condição, essa facilidade. Bom, aí eu fui do conselho fiscal dois mandatos, né? Quando foi a saída do presidente, desse esse ex-presidente que era o Airson, ele indicou meu nome, jogou meu nome na assembléia e o pessoal todo achou que devia, aí depois ele escreveu um ofício pra mim convidando pra eu vir conversar com ele. Aí vim conversar e eles botaram a proposta, disse que eu precisava conversar com a família, né? Aí voltei, conversei primeiro na família muito bem, porque eu já tinha trabalhando na outra em que eu era presidente na Central Lago, e lá eu perdi a minha produção toda porque o que tinha lá só dava para manter a produção mal, mal, pra eu manter a minha produção. “Não vai acontecer a mesma coisa, não vamos perder a nossa produção de novo.” Por que eu trabalhava não tinha investimento nenhum, mas eu trabalhava muito mesmo, tinha muita produção, mas com essa saída ela fracassou. E depois eu lancei a proposta para a delegacia sindical da qual eu era delegado, né, eles disseram: “Eu acho que é uma boa, nós nunca tivemos um presidente daqui, eu acho que é bom aceitar”. E começaram: “Você tem talento pra isso, eu sei que você tem.” Mas a minha escolaridade era o que eu sempre colocava em primeiro lugar: “Mas a minha escolaridade não permite, não posso”. Depois eu vim e coloquei tudinho, ele fez uma lista de problemas que podia acontecer, fizemos uma reunião e eu coloquei. Os assessores, os nossos assessores de Santarém e de Belém estavam presentes, o Cafetare da Central Única dos Trabalhadores (CUT), disseram: “Não, a sua pessoa tem condição sim de ser presidente do sindicato independentemente de escolaridade, você sabe assinar o seu nome, você sabe analisar, porque quem vai trabalhar na documentação não é você, é o secretariado.” E começaram a me convencer, um monte de papo do lado deles, eu digo: “É, vocês acham, então a gente pode aceitar”. Mas foi montada uma outra chapa, né, aí o pessoal achava que pela minha escolaridade baixa não poderia assumir é aquela questão de interesse, aí começaram a querer formar uma outra chapa e foi um vira e mexe e eu disse: “Não, se é para gerar problema eu acho melhor retirar meu nome.” Aí veio para a assembléia, mas descartaram a outra chapa completamente e mantiveram a minha. Gerou um negócio meio ruim, mas logo depois conseguiram entender e a gente aceitou e foi a chapa única, não tem como não ganhar a chapa única (risos). E a gente tá aí já com dois anos e pouco, né, no dia primeiro de março desse ano completei dois anos trabalhando, ainda tenho um ano e pouco para vencer.
P/1 – O que você faz no dia a dia?
R – A gente faz mais a questão de articulação, mas esse pessoal que eu estou atendendo aí é mais para assinar a questão de documento, despachar, mas eu tenho bastante confiança no meu secretariado porque, às vezes, eu não analiso a documentação só faço assinar, porque tenho confiança neles. Mas o que eu mais faço mesmo é ir lá fora pra buscar informação, discutir esse negócio de problema de terra, discutir a questão da agricultura familiar mesmo, porque agora temos uma feira nova pra inaugurar aí e locar um espaço de feira. É mais isso aí, quer dizer, essa articulação geral e administrar. É claro, ver esse gasto, não esse gasto está muito aqui, mas não está surtindo efeito, aqui necessita mais, a gente acaba mais assim entrando num acordo, sabe, é isso mais. Mais mesmo administrativo.
P/1 – O papel do sindicato, explica um pouquinho.
R – O sindicato, na verdade, foi criado para proteger a agricultura familiar, foi mais para isso, mas o objetivo geral dele mesmo é a questão agrária. É a questão de documentação de terra para que o produtor não fique sem a terra e nem haja também muita saída do povo do interior para a cidade, né, e nós temos esse compromisso. Isso é uma bandeira de luta mesmo do sindicato: lutar pela reforma agrária e implantar os nossos produtores lá no campo. Essa é a bandeira de luta principal da história; a questão do INSS que me atrapalha mais, já foi uma questão criada de um tempo pra cá, porque exigimos muito os direitos do trabalhador rural para que eles pudessem se aposentar em tempo hábil, né? O INSS não tem nada de besta então como eles conseguiram essa avanço aqui, conseguiram essas aprovações pra 60 anos o homem e 55 a mulher, mas nós vamos dar uma tarefa pra ele, pra ele despachar e o pessoal lá a gente só faz analisar aqui, essas coisas assim complicadas (risos)... E a gente está fazendo um papel que deveria ser do INSS, muito, muito trabalho. Inclusive a secretária nossa, o trabalho dela é especificamente disso, os outros nós tratamos com outras articulações.
P/1 – Pedro, pensando no futuro em questão pessoal e profissional, qual é o seu sonho hoje em dia?
R – Pessoal mesmo eu prefiro a hora que terminar meu mandato, o pessoal já está articulando um segundo mandato que pode uma segunda eleição para mim, mas eu não estou muito mais a fim, quero ir para o meu interior, lá eu me sinto mais à vontade, mais tranquilo, mais calmo. Eu não tenho vontade de daqui pra frente seguir a carreira política; muito ligado ao sindicato e geralmente todos os ex-presidentes de sindicato agora são vereadores ou já foram vereadores, mas não tenho essa intenção não. Não tenho mesmo, mesmo porque acho que não é seu papel não essa pretensão.
P/1 – Você pensa em voltar para o interior?
R – Voltar para o interior e retomar minha atividade lá, isso daí é meu prazer se Deus quiser, se ainda voltar com força (risos).
P/1 – Então Pedro a gente queria agradecer a sua participação, obrigado por estar aqui com a gente.
R – Eu peço desculpas se eu não correspondi a entrevista de vocês, a escolaridade também não ajuda a gente. Mas estamos aqui a disposição se contribuir se não eu peço desculpas e a gente está aqui pelo sindicato, outra horas que virem e quiserem entrevistar mais um parceiro meu por aí, de uma outra vez a gente está disposição aí pronto para responder as coisas para vocês aí.
P/1 – Obrigado, Pedro!!
R – Boa sorte.Recolher
Título: São Pedro de Juruti
Data: 19/04/2010
Local de produção: Juruti - Pa
Personagem: Pedro Lima Silveira (São Pedro) Autor: Museu da PessoaO Museu da Pessoa está em constante melhoria de sua plataforma. Caso perceba algum erro nesta página, ou caso sinta falta de alguma informação nesta história, entre em contato conosco através do email atendimento@museudapessoa.org.
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