Projeto Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Entrevistado por Sérgio Ricardo Retroz
Depoimento de Romualdo Coutinho Lisboa
Macaé 16/06/2008
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB404
Transcrito por Denise Yonamine
P/1 – Me diz o seu nome, onde nasceu e quando?
R – Nome?
P...Continuar leitura
Projeto Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Entrevistado por Sérgio Ricardo Retroz
Depoimento de Romualdo Coutinho Lisboa
Macaé 16/06/2008
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB404
Transcrito por Denise Yonamine
P/1 – Me diz o seu nome, onde nasceu e quando?
R – Nome?
P/1 – É.
R – Romualdo Coutinho Lisboa, nasci em Campos dos Goytacazes, 8 de janeiro de 1954.
P/1 – E você ingressou quando na empresa?
R – Em 1º de setembro de 1980.
P/1 – E você ingressou em quê função?
R – Na época era capataz de produção, hoje mudou esse nome pra técnico de operação, só mudou o nome, mas o nível, o cargo é o mesmo.
P/1 – O que se faz? O que fazia quando você entrou?
R – Técnico de operação faz, eu faço o acompanhamento de operações de avaliação.
P/1 – O que é isso?
R – Avaliação de poços, avaliação de informação, são uns testes efetuados nos poços para adquirir parâmetros, dados do poço, então a gente faz o acompanhamento, eu faço o acompanhamento desses trabalhos de avaliação dando apoio aos ativos de produção, na parte de avaliação.
P/1 – Mas quando você entrou em 1980 era a mesma coisa?
R - Fazia no mar, trabalhava (offshore?), em regime (offshore?) e operava com equipamentos, fazia essa avaliação de poços, equipamento de superfície, principalmente, e em alguns casos de sub superfície, mas, essencialmente, material de superfície. Fazia separação do gás, do óleo e via alguns parâmetros, algumas características do poço.
P/1 – Você ficava embarcado então?
R – Embarcado 20 anos, embarquei 20 anos.
P/1 – E como era na época que você entrou ficar embarcado?
R – Embarcava, a gente embarcava 14 dias, folgava 14, trabalhava não tinha escala, não tinha turno, se precisasse ficaria até mais de 12 horas trabalhando naquela época, depois mudou um pouco, a Constituição mudou e a gente passou a trabalhar 14 por 21 numa determinada época lá, a partir de não me lembro mais, não me recordo em qual data exatamente, aí mudou a Constituição e nós fizemos (jus?) a folgar 14 e fazer 21 dias, 44 horas semanais, acho que até hoje é assim.
P/1 – Você lembra o primeiro dia que você embarcou?
R – Não, é muito tempo, 28 anos, vou fazer.
P/1 – Mas você lembra ao menos da sensação que foi começar a trabalhar embarcado?
R – É, eu nunca tive problema, não fiquei apreensivo, já entrei na empresa também com idade mais avançada um pouco, 26 anos já entrei, então já conhecia alguma coisa, já tinha uma certa vivência, já tinha conhecimento através de outras pessoas, né, que passavam pra mim o que era vida embarcado, mas isso nunca me assustou não, mesmo correndo risco, nunca me assustei com essa idéia de passar 14 dias embarcado a mercê dos perigos, mas sempre levava a vida na (flauta?) durante os 14 dias embarcados eu me sentia como em casa e tinha uma facilidade muito grande também de fazer amigos e abrir novos horizontes em
termos de amizade, de comunicação, sempre fui bom nisso, então sempre me familiarizei bem com as pessoas, nunca tive problema nenhum de relacionamento, me dava bem com todo mundo.
P/1 – Então você deve ser bem brincalhão?
R – Ah, sou demais!
P/1 – Lembra de algumas...?
R – Eu brincava muito, embarcado ou não, mesmo nos momentos mais difíceis a gente sempre dava um jeito ou de descontrair os outros ou a nós mesmos, né, até buscando sempre o espírito, o espírito ta sempre, né, em cima, sempre em alto, alto astral, principalmente transmitindo isso pra quem não tem essa facilidade de encarar as coisas desse jeito.
P/1 – Lembra de alguns casos assim embarcado?
R – Lembro sim, lembro de muitos casos aqui, pra citar é meio difícil.
P/1 – Conta algum aí? Que era um grupo grande né?
R – Deixa eu lembrar...
P/1 – Devia ter alguns casos assim com os amigos?
R – Ah, eu me lembro que a turma além de ter essa facilidade de brincar com as pessoas, as pessoas também brincavam, eu dava liberdade também, né? Ah, me lembro sim de várias coisas, como por exemplo, o amigo as vezes ia pegar um cafezinho pra nós lá no refeitório e tinha pimenta, pimenta a vontade e era pimenta com café e não café com pimenta, mas a gente levava na esportiva, aí depois teve a alforra, né? Alforra era quem gostava de filar um cigarrinho que eu tinha, aí eu coloquei um pedacinho de papel pólvora dentro do cigarro também, né, lá no meio, um pedacinho pequeno também pra não causar nada, alforra, né, aí sempre tinha brincadeira assim, mas dentro de um certo limite. Mas se for contar, pra lembrar de tudo é difícil, é muito difícil lembrar dessas coisas. Algumas divergências que tive com superiores, com os caras da hierarquia da empresa, um pouco acima, algumas divergências, mas coisa passageira, não muito...
P/1 – Mas como foi essa divergência?
R – Ah, foi uma questão de opinião, um problema só de na hora, pensamento forte, né, personalidade forte, eu sempre tive personalidade muito forte, então a gente encontra do outro lado também outras pessoas com esse mesmo espírito nosso, com a mesma característica nossa, então às vezes a gente bate de frente um pouquinho, mas depois pede desculpa e ta tudo certo.
P/1 – Teve alguma situação que te marcou no convívio lá dentro?
R – Não, não teve (situação?) especial não, especial as situações não teve nada de especial porque, eu, independente do grau no caso da posição de cada um lá, nunca tive assim problema, coisa marcante que fosse, que possa levar em consideração.
P/1 – E você falou dos superiores, como era pra tomar as decisões na empresa?
R – É, as decisões vinham de Macaé, nossa base era Macaé, vinha do Rio, do Rio tinha em Macaé, Macaé transmitia pro meu posto e eles passavam pra nós as informações, mas a gente trabalhava na parte de operação. Teve até casos que a gente trabalhou fim de semana todo e aconteceu, o fim de semana todo tomado de trabalho por falta de decisão, o pessoal demorava pra decidir as coisas, hoje melhorou muito, muito, 100%, as decisões são mais online, a gente já sabe, aliás nem precisa decidir a gente já vai, hoje, já vai com os programas, os procedimentos, com tudo em mãos, aí eles não têm muito tempo a perder com decisões não, esperando decisões de superiores não. Mas naquele tempo a gente tinha muita dificuldade nesse sentido, a gente não tinha tanto, a gente trabalhava na parte de operacional e trabalhava muito, trabalhava demais, trabalhava revezando um em um, cuidando de vários equipamentos, muito trabalho, muito equipamento pra cuidar, responsabilidade e suava mesmo, e suava a camisa.
P/1 – Os equipamentos qual que te impressionava mais?
R – Equipamento mais que a gente trabalhava, o mais importante da nossa operação era o separador de teste, que fornecia os dados de vazão de óleo, de gás que eram os fatores, eram os dados que iam determinar, de repente, até a vida útil de um poço ou de uma formação, formação do poço.
P/1 – Como é esse aparelho, ele é grande?
R – Esse equipamento é um equipamento de seis, uns quatro, cinco metros de comprimento, uns dois ou três metros de largura é o (esquite?), é o (esquite) que continha esse separador e ele era o equipamento mais importante de superfície que tínhamos a bordo, separador de teste, ele separava o óleo do gás. Em alguns casos, separava óleo, gás e água, mas nosso equipamento da Petrobras era só separador de óleo e gás.
P/1 – O que você fazia nele?
R – Fazia, operava com a parte instrumentação, alinhamento de poço, separador e controlava tanto o nível de óleo como a pressão do separador, nível de óleo que era referência da medida do óleo que chegava e saía, então trabalhava com um nível constante, então o óleo que entrava e saía, a gente media o que entrava e o que saía, era mesma coisa que saía, e media o gás também do poço.
P/1 – Esse equipamento existe ainda hoje?
R – Existe nas companhias contratadas, as prestadoras de serviço elas têm esse equipamento, tem caso que tem ainda mais complexo, separadores mais específicos de operação dessa de avaliação, separação de óleo e gás, tem óleo, gás e água. E tem outros casos que tem óleo, gás, água e sólidos, outros sólidos pesados, então tem separador quadrifásico aí das companhias, alguns, poucos separadores desse tipo que usa raramente.
P/1 – O que é ser petroleiro?
R – Petroleiro, o que é ser petroleiro? Bom, é um motivo de satisfação saber que está em uma das empresas maior do mundo, então a contribuição a gente se sente feliz em poder contribuir pra que essa empresa esteja nesse patamar que está hoje.
P/1 – O que você acha dessa iniciativa de ta colhendo depoimentos dos trabalhadores pra esse projeto da história da Bacia de Campos?
R – Acho isso aí um dado considerável, principalmente, pelo fato de haver, de ta estudando, havendo, entrevistando as pessoas pra saber do comprometimento, da satisfação da pessoa em trabalhar na companhia e cada um, né, tendo a consciência que pode contribuir um pouco com o seu trabalho, com a sua dedicação para que a gente, não em termos de Brasil, mas em termos internacionais, porque a Petrobras hoje é forte no mundo inteiro, não é só no Brasil, sendo que em alguns casos, alguns colegas de trabalho já tiveram oportunidade de trabalhar no exterior e a nossa mão-de-obra é bastante qualificada, hoje, reconhecidamente em todo o Brasil, em todo o mundo a Petrobras é forte nessa mão-de-obra.
P/1 – Você disse que trabalhou 20 anos embarcado, como foi pra sua família isso?
R – Ah, a família sabe que, a família sabia que havia aquele risco, o fato da gente ficar confinado, isso aí é um sacrifício que tem que ser feito, sempre estivemos com essa proposta e ganharia um pouco mais...
(INTERRUPÇÃO)
P/1 – Estávamos falando da família, né?
R – Falando da família sobre a... família assimilar isso aí. Acho que isso aí é um compromisso que a gente faz quando entra numa empresa pra trabalhar a gente já vai sabendo do que vai encontrar pela frente, agora a família é importantíssima também, assim como o trabalho, o trabalho... são duas coisas importantíssimas, o trabalho e a família, então sabendo conciliar, a pessoa sabendo conciliar as duas coisas, isso é difícil, mas acho que dá pra estabelecer um equilíbrio entre as duas coisas, o trabalho e a família.
P/1 – Você lembra de alguma situação que você queria saia da embarcação da plataforma pra ir pra terra?
R – Não, não tive muito, ainda não tive esse problema não. Eu já passei até dos 14 dias embarcado, bem, tranqüilo, já passei até uns 19, 18 dias, naquele tempo era, não era muito rígido o sistema, mas já passei mais de 14 dias, acho que uma vez, uns 18 dias, porque naquela época não tinha uma pessoa que me substituía, eu também eu aceitei sem carga de ninguém, sem sofrer pressão, nada, espontânea vontade mesmo e foi tranqüilo, nunca tive esse problema. Recentemente, quando eu fiz um embarque, de cinco dias eu já não estava agüentando mais, porque devido há muito tempo sem embarcar, né, eu já, meu organismo já, meu sistema nervoso essas coisas toda, então meu organismo já se habituou a trabalhar mais, em lugar mais livre, acho que me acostumei a não ficar muito tempo mais embarcado, não agüentar mais ficar muito tempo embarcado, que 20 anos é muito tempo, tem gente que embarca até hoje, porque quando a gente pára um pouco, enferruja, se você parar um pouco aí você não quer mais, de repente você pensa que embarcar não é mais a sua melhor opção.
P/1 – Obrigado Romualdo.
(Fim da Entrevista)Recolher