P - Immaculada Lopez R - Rodrigo Santos de Alvarenga P - Quantos anos você tem? R - 29 anos. P - Você é casado há muito tempo? R - Vai fazer cinco anos. P - E tem filhos? R - Um filho. P - Quantos anos ele tem? R - Quatro anos. P - Como é que ele se chama? R - Giovani. P - Rod...Continuar leitura
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Immaculada Lopez R - Rodrigo Santos de Alvarenga
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Quantos anos você tem?
R - 29 anos.
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Você é casado há muito tempo?
R - Vai fazer cinco anos.
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E tem filhos?
R - Um filho.
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Quantos anos ele tem?
R - Quatro anos.
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Como é que ele se chama?
R - Giovani.
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Rodrigo, para começar, eu queria que você dissesse seu nome completo, data e local de nascimento.
R - Rodrigo Santos de Alvarenga. Data de nascimento 15/12/1972, em Muriaé, Minas Gerais.
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E você mudou para o Rio quando?
R - Mudei para o Rio com menos de um ano de idade, para Volta Redonda, que é interior do Estado do Rio. Fui criado lá e fui para o Rio de Janeiro fazer faculdade. Foi quando eu conheci minha esposa, quando eu entrei no Aché.
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Você entra no Aché, na capital, no Rio?
R - Não em Niterói.
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Como é que foi a tua entrada na empresa?
R - Eu tenho um amigo de família que era do Aché, hoje não está mais na empresa. De Volta Redonda e que me indicou. Estava havendo um processo seletivo, uma turma grande e ele me indicou. E tenho um primo que já trabalhava na indústria farmacêutica, na White Martins que me estimulou muito.Participei da seleção e entrei.
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Isso em que ano?
R - 1997.
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Você entra para trabalhar em qual região?
R - Em Niterói, no Centro de Niterói.
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Como é que era esse trabalho?
R - O início é muito complicado, muita informação. A gente não tem a menor noção do que era a profissão. Pra mim, até então, um representante de laboratório vendia para farmácia, eu não fazia a menor idéia que se visitava médico. Quando comecei tomar contato e a nomenclatura médica, científica, era tudo muito complicado, muito difícil, muito estudo.
O início é bastante difícil e muito trabalhoso.
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E em Niterói eram consultórios particulares?
R - 90% era consultório. Algumas clínicas e hospitais. A característica do setor é essa. Tem muitos prédios comerciais e muitos consultório nos prédios.
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E como é que você organizava o seu dia?
R - O representante tem uma luta diária contra o relógio. Então, lá não era diferente, tínhamos que chegar muito cedo, por causa de vaga. Toda região de Centro é complicado a vaga. Chegar
6:30, 7:00 da manhã para começar a trabalhar. E um setor que você tinha que se programar muito bem para conseguir atingir a meta de visitação, porque era muito complicada por ser muito consultório. Nas clínicas você espera e fala com dois, três médicos, já nos consultórios, você espera para falar com um médico. Então, era literalmente um a um, até conseguir fazer a visitação.
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E como é que é a sala de espera do médico?
R - Essa é uma parte muito engraçada. Um pouco chata, mas a gente acaba tirando proveito, já que tem que ficar ali mesmo. Então, a gente escuta reclamação de paciente, a gente escuta reclamação de secretária com relação a nossa presença, às vezes com relação a qualquer coisa, a gente escuta paciente contando problema particular, problema com filho, problema com o marido. Do paciente homens contando problemas com mulher e, às vezes, piada. Tem situações constrangedoras, tem situações engraçadas.
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Você lembra de algum episódio de sala de espera?
R - Não, a princípio não. Eu sei de histórias que me contaram. Presenciar não. De colega que caiu na sala de espera perto dos pacientes. Isso aí a gente lembra.
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E tem também o encontro com propagandistas de outros laboratórios na sala de espera?
R - Sim.
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Como é que é o relacionamento com os colegas de trabalho?
R - Foi uma coisa que me impressionou muito. Que dentro do consultório se briga, entre aspas. É uma guerra dentro do consultório. Saiu dali a gente almoça junto, toma café da manhã. Às vezes um freqüenta a casa do outro. Eu tenho amigos de outros laboratórios que freqüentam a minha casa. Interessante isso. E chega dentro do consultório, a gente briga um com o outro. Isso, eu achei muito estranho quando entrei também. Eu não entendia isso. Como é que pode funcionar? Eu vinha do ramo de seguros, onde tinha uma competição muito grande entre um concorrente e outro. Mal se falava. Tinha briga, tinha tudo. E na indústria farmacêutica isso não existe. É uma coisa muito engraçada que me espantou muito.
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Você falou do almoço, do café da manhã. Lá no Centro de Niterói tem um lugar que vocês sempre almoçam?
R - Tem.
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Como é que é esse lugar?
R - Às vezes, trocam esses locais, mas o representante tem o costume, pelo menos lá tinha, de parar o carro mais ou menos todo mundo no mesmo local, de tomar café da manhã, quem chegava mais cedo no mesmo local, de almoçar no mesmo local. Às vezes, até mudava esse local. Saía de um restaurante ia para o outro. Mas vai um, daqui a pouco vão dois, daqui a pouco estão todos os representantes almoçando naquele outro restaurante.
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Você lembra de alguma padaria, de algum restaurante em especial?
R - Ah, lembro, lembro.
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Qual?
R - Tem o restaurante Salsalito, que a gente chamava de cinco e noventa, no Centro que foi muito legal. A gente fez amizade com
o proprietário do restaurante. E em Niterói tinha o Plaza Shopping perto da onde a gente trabalhava, onde almoçava bastante também. Aí tinha vários restaurantes. E na parte da tarde seguia com as visitas.
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Nesse relacionamento com os médicos teve algum que marcou de forma especial?
R - Tive um que fiz uma amizade muito grande. Um ginecologista que era flamenguista igual a mim, e uma época ele sofreu um acidente muito sério de carro, ele dava aula em Teresópolis e voltava à noite. No retorno ele dormiu e capotou com o carro. E logo depois, eu fui visitá-lo. Ele estava machucado e nós tivemos uma conversa que me marcou muito. Ele passando toda a experiência de vida dele, mostrando o quanto ele trabalhava e o quanto ele abandonava a família, o quanto ele colocava a vida dele em risco para trabalhar igual um louco de 8:00 até às 22:00, 23:00, dando aula. E que isso fez ele repensar tudo. E a gente vê isso acontecer com uma pessoa próxima da gente dá um clic, a gente acorda.Valoriza a família, é isso.
P - Essa conversa aconteceu aonde?
R - No consultório dele.
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Depois dele se recuperar?
R - Ele estava se recuperando ainda.Foi um fato que ele abordou, que não podia nem se recuperar. Tinha que voltar a trabalhar porque a família dependia disso. O médico quando ele para de trabalhar, ele para de ganhar. Não tem quem arque com as despesas dele no final do mês. E nós ficamos mais de meia hora conversando no consultório e ele desabafou. E aquilo foi de grande valia para mim.
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Por que?
R - Por passar essa experiência. Às vezes, a gente vê acontecendo isso na televisão, quando acontece com alguém próximo é que a gente se liga como é, como a gente tem que dar valor as coisas que durante o dia passam.
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O médico se transforma numa pessoa próxima ao propagandista?
R - Alguns criam uma barreira muito grande.Mas os que se abrem, viram amigo da gente. Muitos médicos, muitas médicas, isso acontece muito com mulher, de desabafar com a gente. Parece que acontece na hora que a gente entra, o médico acende o cigarro. Às vezes, num dia de trabalho, o tempo que ele vai ter para fumar um cigarro, para tomar um café porque é uma consulta atrás de outra, nem tem tempo de almoçar.
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E o que difere o trabalho do propagandista do Aché em relação aos outros laboratórios?
R - Alguma coisa que passa para a gente quando se entra no Aché. Primeiro, que eu acho que a maioria dos representantes do Aché gostam de trabalhar no Aché, gostam do Aché. Esse vínculo é que a gente chamava lá no Rio, de família acheana, isso é passado de tal forma, tão gradativo, tão suave que passa a ser natural. Então, eu acho que esse gostar da empresa que você trabalha, faz com que você trabalhe no campo diferente. As empresas maiores, multinacionais, elas têm um ambiente de trabalho muito frio. Eu sei que hoje têm colegas que eram do Aché que estão na multinacional que falam isso. É o primeiro ponto que diferencia. E quando você chega em um setor aonde existem colegas do Aché mais antigos, eles não têm aquela barreira de um concorrente. Então, eles ensinam, apresentam os médicos, “esse aqui é o meu amigo do Aché”. Então, você acaba tendo a afinidade, que eles tinham com o médico e, que muitas vezes na multinacional, o representante chega para trabalhar e é só ele no setor. Ele vai conhecer os médicos sozinho. Porque é o que eu falei, dentro do consultório é briga. Eu não vou apresentar um concorrente como meu amigo para o médico, não é? Dentro do consultório ali, somos concorrentes. Amigos do lado de fora. No meu caso,
tinha representantes do Aché que tinham muito tempo de setor, eu passei a ser não o Rodrigo do Aché, mas o Rodrigo do Aché amigo do Henrique, amigo do Gregório, amigo do Luiz Roberto, entendeu?
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E no dia-a-dia da abordagem tem alguma coisa diferente?
R - Tem. Isso foi conquistado com as visitas quando os médicos eram universitários. O médico tem um carisma diferente com o Ache, na grande maioria dos casos. É lógico que tem alguns casos que não,mas eles falam isso para a gente; “vocês são diferentes, a gente gosta de receber. Ah, o Aché me visitava desde quando eu era residente, quando eu estava no quinto ano, no sexto ano.” Isso marcou muito o Aché.
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E nesse dia-a-dia tem alguma propaganda, ou algum remédio que você lembra de forma especial?
R - Tem. É engraçado como a gente se apega a determinado produto, não é? Eu tenho o Novamox, que hoje eu trabalho, que é um produto que desde que entrei trabalho com ele. Tinha o Femina, que não é hoje da minha linha, mas que eu lancei. Os produtos que a gente lança tem um apego maior.
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Por que o Novamox?
R - Não sei porque. Acho que foi um dos produtos que eu gostei de estudar, quando comecei por ser antibiótico. Quando você é leigo, você tem um pouco de conhecimento de uma infecção, uma inflamação. Então, anti-inflamatório e antibiótico, você já entende alguma coisa.
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Você lembra do material que você trabalhava com o Novamox?
R - Lembro. Literatura azul, as amostras, lembro de tudo. As caixinhas azuis da amostra. Interessante como é que a gente lembra.
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E tem algum produto que você participou do lançamento? Você lembra?
R - O Femina, um contraceptivo. Lembro porque foi a primeira propaganda que eu fiz em reunião, lembro da literatura, da caixa, do brinde que distribuímos.
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Qual era?
R - Um porta blister para as médicas e um sabonete líquido. Foi um brinde de lançamento.
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Estava escrito alguma coisa?
R - Estava escrito o nome do remédio Femina.
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Como são os brindes do Aché? Simples ou Sofisticados?
R - Eu nunca dei um brinde muito sofisticado como a gente vê alguns laboratórios que dão
caneta cara ou agendas eletrônicas. Sempre soubemos valorizar. Eu acho que isso que é importante, você valorizar aquela ferramenta que você tem na mão para trabalhar. Isso é importantíssimo.
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Além do brinde, às vezes, a própria equipe ou cada propagandista inventa alguma coisa para reforçar? Você tem algum exemplo?
R - Olha, não foi propriamente um brinde. Nós fizemos uma vez, um colega que até já saiu da empresa, teve a idéia no final de ano de fazer o “Dia do Papai Noel” E nós compramos um monte de brinquedo baratinho. Um colega se vestiu de Papai Noel e nós fomos nos hospitais mais carentes entregar para as crianças. Olha, aquilo teve um resultado. Primeiro para a gente. Você via a dificuldade das crianças e teve até uma situação muito emocionante, que ele chegou para um garotinho, falou: “Para menino tem carrinho ou bola, o que é que você quer de presente?” Aí, ele falou assim: “Eu quero que você me tire daqui”, O colega teve que sair porque começou a chorar, todo mundo chorou. Me emociona até hoje isso. Uma ação que no início, nós iríamos pagar. No final a empresa que pagou porque comprou a idéia. Muito simples não se gastou quase nada e os médicos ficaram muito emocionados. Os brindes não foram para eles, médicos, mas eles ficaram muito emocionados e até hoje, tem quatro anos que foi feito isso. E eles lá no setor onde que eu trabalhava, falam nisso até hoje.
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Essa crianças estavam internadas e os médicos que as atendiam acabaram emocionados?
R - Emocionados com a atitude. Que ninguém nunca tinha pensado. Todo mundo pensa para os médicos e nós fizemos para os pacientes deles.
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Tem outro tipo de ação social, ou ação voluntária que o pessoal do Ache da sua cidade faz?
R - Todo final do ano, com o dinheiro que a gente recebe de 13º, participação do lucro, a gente separa uma quantia. Já fizemos isso lá em Niterói onde trabalhava. Hoje eu trabalho em Vitória; 50 reais, 100 reais, 150 reais e comprava os mantimentos e distribuíamos em algumas instituições carentes. Todo ano a gente fazia.
Mas ainda é muito pouco.E teve o dia do voluntariado, que foi muito marcante.
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Como é que foi?
R - Nós fizemos em duas maternidades lá em Niterói, onde eu participei. Foi feito em mais, mas eu participei de duas, onde teve uma receptividade das mães muito boa. Porque nunca tinham visto aquilo.
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O que aconteceu?
R - Nós distribuímos uma bolsa para carregar as coisas do nenê, com alguns brindes, um cartão onde que ela raspava o número e ouvia uma mensagem. E fotografávamos o nenê com uma Polaroid e entregávamos a primeira foto do nenê para a mãe.
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E a reação das mães?
R - Tinha muita criança que não tinha nem nome ainda. Um recém-nascido que a mãe não tinha pensado em nome e já tinha uma foto. Porque a gente perguntava e escrevia o nome: “Qual o nome da criança?” “Ah, não escolhi o nome ainda?” E já tinha uma foto dada pelo Aché. Então, foi muito marcante aquilo. Foi muito legal.
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Esse tipo de ação, qual a importância dela?
R - Acima de tudo crescimento pessoal. A gente vê muita coisa na televisão, mas ao vivo e à cores, passa a dar outros valores, passa ver que não é tão difícil fazer isso.Realmente estimula a gente a fazer. É a maior lição que a gente leva nisso. Que é fácil ajudar, não é difícil ajudar. E segundo, que a empresa traz uma imagem muito boa também perante aos médicos. Que você vai ali, faz para o paciente uma ação voluntária, onde a empresa deu um dia sem pedir nada em troca teoricamente. Sem pedir nada diretamente com o médico. Isso marca muito. A marca Aché fica muito mais querida do que já é.
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Você começou contando que trabalhou em Niterói. Qual foi o passo seguinte?
R - Eu cheguei a trabalhar seis meses em São Gonçalo. É um município próximo a Niterói. Um pouco mais carente. Depois eu voltei para Niterói e no final agora de 2001, apareceu uma vaga em Vitória, Espírito Santo e eu pedi transferência, porque meu irmão mais velho já morava lá, meus tios moravam lá. É uma cidade mais tranqüila e surgiu essa vaga. Minha esposa tinha uma proposta de trabalho lá, por coincidência e encaixou tudo, que eu pedi transferência. A empresa atendeu meu pedido e eu fui transferido para lá.
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E em Vitória você atende qual área?
R - Jardim Camburí um bairro de Vitória, o município da Serra, município de Aracruz, município de Santa Tereza e Santa Maria de Jetibá.
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E como é essa rotina de viagens?
R - Eu não viajo muito. Eu durmo um ou dois dias fora. Mas a receptividade dos médicos no interior ainda consegue ser maior do que na capital. Tem vários casos, do médico mandar eu sentar. Eu falei: “Não doutor, eu vou fazer propaganda”. Ele: “Vai fazer propaganda em pé? Senta para fazer a propaganda.”
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Por que na capital é em pé?
R - Na capital é em pé. Muitas vezes, o médico nem olha para você. No Rio acontece muito isso. Muito médico dito estrela, muito bem conceituado, então eles não te tratam como profissional. Lógico que no Espírito Santo particularmente, o médico te encara como um profissional. E no Rio, às vezes, não acontece isso. Tem médico que te trata como empregado. Acha que você é um funcionário dele.
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E como é a chegada numa cidade nova? Quer dizer você nem sabe direito quem são os médicos, é tudo novidade?
R - Novidade, a rua, não sei onde é que são as ruas, não sei nada.
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E como é que faz?
R - É complicado. Mas quando você já tem uma experiência de indústria, facilita bastante, porque a parte técnica você já domina. Só conhecer a geografia do setor. Então, isso requer menos tempo do que se fosse uma pessoa nova, chegando numa cidade nova. Aí seria mais complicado.
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E como é que você fez? Comprou um guia de rua, comprou um mapa?
R - Não. Teve um colega do Aché que ficou trabalhando comigo os dois primeiros meses e me ensinava as ruas onde que eram, onde que não eram. Essa é a vantagem que o Aché tem. Isso é uma vantagem muito grande para a gente.
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Você acaba conhecendo o lugar, esquina por esquina?
R - Esquina por esquina. Rua por rua, clínica por clínica, farmácia por farmácia.
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Dessa fase de Vitória você tem alguma história, alguma coisa, apesar de ser pouco tempo, tem algo que você gostaria de registrar?
R - Tenho uma coisa interessante, que me chamou muito atenção, que eu não estava acostumado no Rio. Nós chegamos para visitar um médico em Santa Teresa, no hospital. Ele estava saindo e falou: “Eu estou indo para o consultório. Encontro com vocês lá, daqui
40 minutos eu estou lá.” Nós esperamos passar uma hora e fomos ao consultório. Chegamos lá, ele não estava. A secretária falou: “Olha, ele atendeu o paciente e saiu.” Nós comentamos: “Poxa, ele tinha marcado com a gente.” “Ah, não. Espera aí que eu vou ligar para ele.” Eu falei: “Mas como vai ligar para ele?” “Não, vou ligar ele volta para atender vocês.” Aí ligou o telefone, eu falei, chamei ela pelo nome. falei: “Não faça isso que ele vai ficar chateado com a gente.” “Não, não.” Ligou para ele e falou: “Doutor, o senhor vem aqui rápido, que os meninos estão aqui para te visitar e eles não podem perder tempo.” Ele voltou para falar com a gente. No final nós voltamos com ele na farmácia e falamos com ele. E eu nunca tinha visto isso. Um médico... A secretaria ligar para o médico, falar para ele voltar,
e não demorar muito, que a gente estava com pressa. Quase que se inverteu o papel que a gente costuma
ter no dia-a-dia. Isso me chamou muito a atenção. E o fato dos médicos pedirem
para você sentar para conversar com ele. Então, a visita passa a ser, literalmente, uma conversa com o médico.
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Cria uma intimidade? Sai com o médico? Vai tomar cafezinho com o médico, almoça, tem isso também?
R - Lá em Vitória não aconteceu isso comigo, mas é normal. Lá tem colegas que freqüenta casa de médico, ficaram amigos na profissão. Como lá em Niterói, a gente tinha médicos assim. A gente freqüentava a casa, jogava bola. Então, cria, cria bastante amizade.
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Quando você falou Santa Teresa é um município ou um bairro?
R - Santa Teresa é um município, vizinho de Vitória. É uma cidade de serra: Santa Teresa e Santa Maria de Jetibá. Esta tem uma história engraçada, porque é uma colônia alemã e eles falam o dialeto alemão, pomerano. Então, tem vários consultórios, que o médico é novo, tem que entrar um intérprete para falar, porque tem muita gente que não fala nada de português. Só fala em pomerano. Se chegar uma pessoa que fala alemão, não vai entender o que ela fala porque é um dialeto alemão.
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E o interprete quem é?
R - O intérprete, às vezes, é uma secretária, às vezes, é uma pessoa mais antiga da cidade. O médico, às vezes, é novo. Tem alguns médicos que falam pomerano, que aprenderam. Os médicos todos falam português, só os pacientes que não.
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Nesse teu dia-a-dia atual tem alguma viagem que você gosta mais de fazer? Tem alguma estrada, alguma parada?
R - Tem. A volta de Aracruz que se faz pelo litoral, qualquer área de Aracruz, Jacareípe, Manguinhos, uma viagem muito bonita, muito agradável.
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Como é que você descreve essa paisagem?
R - Entre o mar e a montanha. Você vem numa estrada muito próximo à praia, na beira da praia. E você olha para a direita é montanha. Muito verde e verde água, verde e mar.
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É uma viagem longa?
R - Não. Meia hora, 40 minutos de estrada.
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Tem alguma parada que vocês fazem nessa estrada?
R - Não, nessa não, mas em Santa Teresa tem um local que a gente compra um biscoito caseiro.É uma casa que a pessoa faz biscoito no fundo de casa. Muito bom.
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Na volta para casa, vai carregado de biscoito? Como é que é esse biscoito?
R - São biscoitos de nata com canela, com goiabada e queijo, biscoito caseiro mesmo. Aquele casadinho.
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Viajar tem as suas vantagens?
R - Tem suas vantagens. Eu acho gostoso,
porque eu não viajo muito. Acho que se viajasse muito poderia até sentir alguma coisa, por ficar longe da família. Mas eu viajo dois dias só. Acaba sendo até uma diversão.
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Já estamos terminando e eu não sei se você teria mais algum relato que você gostaria de estar registrando?
R - Eu tenho um relato de quando eu entrei no Ache, fizemos o processo seletivo e acabou numa quinta-feira e ele falou: “Até amanhã, vocês vão saber a resposta de quem vai entrar ou não” E eu não recebi telefonema nenhum porque eu estava trabalhando. Já tinha faltado ao trabalho para poder fazer o processo seletivo e eu fui trabalhar. Deixei o telefone da mãe da minha noiva que hoje é a minha esposa. E todo mundo saiu da casa também. Cada um foi trabalhar, fazer suas coisas. Então, não ficou ninguém em casa, mas tinha secretária eletrônica. E eu cheguei, tinha um monte de recado e nenhum para mim. E pensei “Pô, será que não fui selecionado? Fui tão bem” Aí, passou, não fui. Aí no sábado, eu liguei para a pessoa que me indicou e ele me informou que não tinha participado do processo, que ele estava viajado. Tinham sido outros supervisores que tinham feito o processo seletivo e que ele não sabia de nada. Isso foi num sábado. Segunda-feira era dia do propagandista. Lá no Rio era feriado para a gente. Então, não trabalhava. Ele falou assim: “Eu vou tentar entrar em contato com o pessoal, só que eles devem estar viajando” Naquela época não tinha celular, ele não conseguiu entrar em contato com ninguém e eu passei o final de semana achando que não tinha sido contratado. Na segunda-feira, eu fui para Volta Redonda visitar minha mãe e achando que não tinha sido contratado. Até comentei com ela, fiquei chateado. Quando recebo telefonema da minha noiva às 20:00, dizendo que eu tinha que estar 7:00 no Aché no outro dia com a documentação. Aquilo foi muito emocionante. A viagem para o Rio, aquele gostinho de vitória, de que eu consegui. Depois de você ter passado o final de semana achando que não tinha conseguido, né?
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Voltou correndo?
R - Voltei correndo para o Rio para poder entrar no Aché.
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O que te agrada no Aché?
R - Primeira coisa, o ambiente de trabalho, amizade, a cumplicidade dos colegas. É um ambiente muito bom de se trabalhar. Mesmo com todo o problema do corte em 2000, aquilo foi muito traumático. Muitos colegas saíram e mostrou que o Aché é muito unido, que nós conseguimos superar isso.
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E da onde que você acha que vem esse sentimento de união e de apoio?
R - Eu não sei te dizer de onde que vem isso. Eu acho que são várias coisas que contribuem para isso. Primeiro, o respeito que a empresa tem com a gente. Você trabalha satisfeito e a possibilidade de se prosperar a amizade é maior. Você chega, já encontra um ambiente desses, as pessoas falando, gostando do Aché, trabalhando feliz. Então, acho que esse é um dos fatores. E vários outros. O processo seletivo que eles fazem é muito bom porque normalmente as pessoas são do mesmo nível, tem a mesma intenção, o mesmo planejamento de vida, a intenção de crescer. Você acaba compartilhando os mesmos objetivos e vários outros fatores. Mas é um negócio até meio mágico a gente pode dizer assim, essa amizade que tem. É muito legal.
P -
Para terminar, o que você achou de ter contado um pouquinho da tua história?
R - É bom. Parece que passou um filme na nossa cabeça. A gente relembrando de tudo, contando essas coisas que aconteceram, que às vezes, a gente nem conta para os colegas porque eles estavam juntos com a gente. Então não tem muito para quem contar isso. Legal. Passa um filme na nossa cabeça. Foi bom.
P -
Obrigada pela participação?
R - Eu que agradeço pela oportunidade.Recolher