PESSOAL Nome e nascimento Meu nome é Reges Murilo de Paiva, nasci em Tupaciguara, em 5 de dezembro de 1947. FAMÍLIA Pais Meu paí é Célio Rosa de Paiva e minha mãe, Vanda Silva de Paiva. Meu pai era alfaiate e minha mãe, do lar. Aliás, há até um dado histórico curioso. Naquele te...Continuar leitura
PESSOAL
Nome e nascimento
Meu nome é Reges Murilo de Paiva, nasci em Tupaciguara, em 5 de dezembro de 1947.
FAMÍLIA Pais
Meu paí é Célio Rosa de Paiva e minha mãe, Vanda Silva de Paiva. Meu pai era alfaiate e minha mãe, do lar. Aliás, há até um dado histórico curioso. Naquele tempo, alfaiate era uma boa profissão, mesmo porque não havia lojas que vendiam roupas feitas. Então, era uma profissão em destaque. O fato histórico e curioso é que a gente cresceu junto com aquela cantora Nalva Aguiar, cujo pai também era alfaiate. Eles são de Tupaciguara e a gente sempre brincou na rua. A alfaiataria do meu pai era uma das melhores de Tupaciguara. Tanto é que, no banco da praça principal da cidade, havia o patrocínio dele. A alfaiataria dele se chamava Alfaiataria Estrela Dalva, "o meu, o seu, o nosso alfaiate". Posterior à morte dele, que foi em 1959, eu até tentei, com a prefeitura, reaver o banco da praça, como uma lembrança dele, mas não consegui. Outro fato curioso é que a própria remodelação da praça fui eu que fiz, muitos anos depois. Também é um fato curioso, porque eu sou projetista e trabalhei na praça de Tupaciguara. Eu mesmo tirei o banco do meu pai de lá. E não o consegui para mim.
PESSOA Pessoal
/Meu pai morreu com uma doença muito ruim, a doença de Chagas, que naquela época não tinha cura. Naquela época, também, os médicos não informavam para o paciente a doença que ele tinha, só informavam para a família. Então a gente sofria mais do que ele, porque ele não sabia o que tinha e a gente sabia, e sabia que teria um fim, mas não sabia quando. Esse sofrimento na minha família permaneceu por muitos anos: as chagas podem matar de repente ou você pode morrer com a doença sem ser por ela. Ou, então, te mata devagarzinho, como aconteceu no nosso caso. Eu me lembro que ele ficou quatro anos doente. Tomava remédio, inchava demais. Tomava remédio hoje e amanhã ele ficava magrinho... Não podia comer sal nem nada, era um sofrimento. E nessa época, a gente teve que agüentar uma barra muito grande. Daí surgiram todos os meus objetivos de vida, inclusive profissional.
Avós Conheci todos os meus avós. Não me lembro muito dos meus avós paternos, porque nós tivemos pouca convivência. Mas com meus avós maternos eu convivia sempre. O nome do meu avô é Mógines Adrião Pereira e de minha avó, Ana Muniz de Rezende. Aprendi muito com eles. Mas me desculpe se eu chorar, lembrar da família é para mim... Eu sou um cara muito familiar. Eu acho que a vida da gente segue de acordo com nossa criação, é uma seqüência daquilo que você aprendeu e da educação que você teve, e todos os seus princípios vão basear naquilo que você teve no berço. Isso para mim é muito rico, porque eu tive uma família muito unida e tenho até hoje. Isso significa muito na minha vida.
Primeira infância Tupaciguara era uma sede de município, que não chegava a 20 mil habitantes. As condições de vida eram muito precárias, sem muita mordomia, sem muito progresso. Todos aqueles que almejassem subir degraus na vida teriam que ir para fora, para outras cidades, como é até hoje. Aliás, eu costumo dizer que quem não vai a Tupaciguara tem que ir, porque senão acaba. Então é desse jeito, uma cidade pacata em que o sentimento de família é muito arraigado em todo mundo. A família toda morava na cidade, então a gente estava sempre junto. A gente assistia, naquela época, os filmes do Roy Rogers, que hoje a gente só vê em preto e branco nos programas de televisão.
INFÂNCIA
Infância
Toda a vida nós nos divertimos muito - apesar de ajudarmos em casa -, e crescemos dessa maneira. Naquele tempo, a matinê era a única coisa que Uberlândia tinha de divertimento. A gente era muito novo. Pela data, eu tinha o quê? Eu tinha 10, 11 anos. Tinha matinê de domingo, a gente ia de terno e gravata, era obrigado. Você não entrava no cinema se não fosse de terno e gravata. A grande diversão era matinê, era sagrada. Domingo era dia de comer macarrão e ir na matinê no Cine Teatro Uberlândia, que hoje é o Bradesco, ali na Afonso Pena. A meninada fazia muita algazarra nesse cinema, nossa senhora É desse tempo que eu aprendi a gostar das meninas. Como diz o nosso amigo daquele conjunto de axé lá da Bahia, "eu gosto muitcho". Digo isso porque a gente ia de turma. Chegava no cinema, encontrava com aquela molecadinha toda da mesma idade e era a maior bagunça. Naquele tempo no cinema, tinha o vai e vem. O vai e vem era o seguinte: eram três blocos de cadeiras no salão, um corredor de lá e um corredor de cá. Então o que acontecia? As meninas se sentavam nos bancos e você ficava no corredor, indo lá embaixo e lá em cima só olhando as moças, para ver onde é que ia sentar, com quem ia sentar durante a fita depois que apagasse a luz. Isso tudo com uma balinha no bolso para dar para a velinha - a menina ia sempre com o irmãozinho mais novo.
Eu acho que isso foi muito sadio. Eu acho que aquela época foi muito melhor do que a época de hoje das crianças. Havia mais sinceridade, mais disponibilidade, mais fraternidade, mais amizade, mais descontração. Havia mais verdade. Hoje eu acho que a criança está muito manuseada, muito comercializada.
Casa da infância Na minha criancice, vamos dizer assim, até os 6 anos, eu morei em fazenda. Meu pai, nessa época, morava em fazenda. Depois dos 6 anos, nós fomos para Tupaciguara e eu me lembro muito bem que a gente morava numa casa boa, bem localizada, no centro da cidade, do lado da maçonaria, que até hoje ainda está lá. E perto de uma das principais escolas da cidade, que ainda hoje tem lá. Meu pai também era maçom, e a maçonaria, que hoje não tem lá a importância que tinha antigamente, também é uma irmandade muito unida. Mas perdeu um pouco da sua importância política. Talvez no social ela tenha se mantido, mas politicamente mudou muito.
Fisicamente, ela tinha três quartos, sala, cozinha, banheiro e quintal, porque naquela época todo mundo plantava a sua verdura e tinha a sua fruta no quintal. Na minha tinha manga, tinha goiaba, tinha laranja, mexerica. O quintal da minha avó, que era uma casa contígua, era maior ainda. O quintal dela era tão grande que a prefeitura hoje passou uma rua no meio. Nesse quintal, a gente tinha praticamente de tudo. Outro dado curioso da minha família é que - eu digo curioso porque quase ninguém teve isso na família - minha avó era parteira, todos nós nascemos nas mãos dela. Todos nós lá de casa, e os filhos das irmãs da minha mãe, todos nasceram na mão da minha avó, com a gente junto. Isso ajudou a unir demais a família.
Era tudo muito sadio, porque naquela época tudo era descontraído. E outra: a gente tinha as brincadeiras que hoje não tem mais, que era jogar um peão, brincar de bolinha de gude, jogar casinha. As meninas brincavam de marré, aquelas brincadeiras de bola, que joga na parede e tal, que eu não lembro o nome. Era muito saudável.
Irmãos Tenho seis irmãos. O nosso cotidiano foi um pouco atribulado porque nós perdemos o nosso pai muito cedo. Eu sou de 47, ele morreu em 59. Como nós somos sete filhos, eu tenho uma irmã que nasceu um mês depois que o meu pai morreu e a gente aprendeu a fazer tudo o que uma mãe faz. Por quê? Nós ajudamos nossa mãe a criar os mais novos. Por isso é que eu choro.
EDUCAÇÃO Primeira escola
Todos nós estudamos, principalmente eu, que cheguei a fazer curso superior. Minha primeira escola era em Tupaciguara, chamava-se Grupo Estadual Bueno Brandão. A professora que mais me marcou, foi inclusive a primeira, chamava-se Marlene Abdul Massi. Tupaciguara é uma cidade muito pequena, onde todo mundo tem amigo, que a gente conhecia, vamos dizer assim, de cozinha. Todo mundo freqüentava a casa de todo mundo, por isso ela ficou marcada em mim.
Formação educacional Fiz o primário no Grupo Estadual Bueno Brandão e em 57 nós mudamos para Uberlândia. Eu estudei no Externato São José, que era na Tenente Virmondes, lá para baixo da João Pinheiro, que hoje não tem mais esse nome. Depois, fiz o ginásio no colégio da Praça Tubal Vilela. Depois, estudei no Museu, fiz o clássico. Em 60, eu fui para Juiz de Fora, estudei quatro anos lá, na Academia de Comércio. Depois estudei um ano no Ginásio Estadual. Aliás, o ex-ministro da Educação, Murilo Hingel, foi meu professor por quatro anos.
Universidade Eu fiz em Juiz de Fora todo o ginásio e voltei para Uberlândia em 65, para cursar o clássico no Ginásio Estadual, ali na Praça Tubal Vilela. A decisão de fazer clássico foi muito clara para mim. Por quê? Porque Uberlândia, naquela época, só tinha três faculdades: Faculdade de Filosofia, Faculdade de Economia e Faculdade de Direito. Direito eu não gostava, nunca gostei, detesto. Não gosto nem de passar na porta do fórum. Eu não sou muito chegado em número, não gosto de Economia. Sair para fazer o que eu almejava na época, que era Arquitetura, eu não podia, pela condição da família. Mas eu tinha que estudar, eu não podia ficar parado. Eu tinha que ter um curso. Fui fazer Filosofia, na área de Ciências Humanas. Eu fiz Português e fiz Francês. Essa foi a decisão que eu tomei na época.
TRABALHO Primeiro emprego
Eu vendi muito esterco, eu engraxei sapato, eu vendi laranja. Isso em 1959. Todos nós tínhamos atividade, nunca ninguém ficou parado, mesmo porque tinha que ajudar a família. Tudo era tirado no pasto. No caso, o esterco era tirado do pasto, porque, naquela época, não existia casa de mudas, floriculturas. Era, aliás, um produto até muito procurado, diga-se de passagem, que tinha um valor significativo, porque ninguém queria ir lá buscar o esterco. Essa era uma maneira de você ganhar dinheiro, pois era quase fácil de vender. Você estava sempre com ele vendido. É difícil você achar uma pessoa que não tenha vendido laranja ou engraxado sapato, principalmente no interior. Se o menino queria um dinheirinho para comprar uma balinha, ir numa matinê, ele carregava uma caixinha nas costas. Era uma maneira de estar ocupado também.
O meu ponto de engraxate era no Rei Massas. Naquela época, ali era um ponto de ônibus, das linhas que iam para Goiás, Itumbiara, Monte Alegre, Ituiutaba. Ali tinha um posto de gasolina e, naquela época, todos os postos tinham um hotel em cima. Então era um ponto muito movimentado de Uberlândia, porque era o último além da cidade. Ganhei muito dinheiro ali, ele ficava todo em casa.
Revolução de 64 O trabalho, nessa época, corria paralelo ao estudo. Durante todo esse tempo que eu estudei em Juiz de Fora, não trabalhei. Eu só estudava. É até importante ressaltar que a Ordem dos Dominicanos toda a vida foi uma Ordem muito avançada, se comparada com as instituições católicas que existem. Mente aberta, sempre trabalhou com juventude, JUC (Juventude Universitária Católica), JOC (Juventude Operária Católica) e a gente sempre vivia nesse contexto, analisando as coisas do mundo, a realidade, o estudo, o momento político. Aliás, os dominicanos, na época da revolução, foram muito visados. E na nossa escola, é até bom dizer pois é um fato curioso na minha vida, o dia em que estourou a revolução, ela foi iniciada pelo Marechal Guedes, que era o comandante da sede do quartel em Juiz de Fora. Eu estava exatamente saindo de uma matinê no Cine Excelsior, na Avenida Rio Branco. Quando acabou o filme, a gente estava saindo e vimos todo o batalhão de choque do quartel subindo a Avenida Rio Branco com os tanques de guerra. A cidade ficou totalmente em balbúrdia. Estragaram o asfalto com aqueles tanques, invadiram nossa escola, prenderam todas as fitas, todos os filmes que a gente tinha. Não perdoaram nem quem estava no banheiro. Eles chegavam com o fuzil na porta e abriam. Essa é uma passagem que eu acho importante da minha vida.
Eu entendia o que estava acontecendo, porque a gente era politizado; os dominicanos eram muito politizados e a gente, logicamente, também era, porque fazia parte daqueles Grupos de estudantes. E, apesar de a gente estudar na escola, ser interno lá, a gente freqüentava a escola da cidade, a Academia de Comércio. Por isso, tive uma vivência muito importante, que me ajudou a ter uma visão política da vida e do mundo. Tanto é que essa revolução a gente compreendia perfeitamente na época. Inclusive, eu era até correspondente de um tablóide que chamava Brasil Urgente, tido pela revolução como um jornal de esquerda, como os dominicanos eram vistos também. Esse Brasil Urgente foi muito combatido e acabou. Mas felizmente não me descobriram nessa função. Eu acho que se eles tivessem me descoberto nessa função, teria sido preso.
Ingresso na CTBC Era 1966 e eu fiquei nesse dilema: eu já estava para entrar na faculdade. A faculdade era particular, era cara. Minha família não tinha condição de pagar os estudos - minha família era a minha mãe e os meus irmãos. Eu recebia meu salário daquela maneira e tinha que administrar direitinho o que eu recebia: a faculdade, o pagamento, a data, eu tinha que ter aquela quantia exata para poder pagar. Eu comecei a estudar a minha vida, porque eu tinha que continuar os estudos e que achar outro trabalho, porque lá no escritório ele não ia mudar a maneira dele. Então o que aconteceu? Eu fiquei sabendo que a CTBC ia entrar em fase de expansão e ia abrir o departamento de Engenharia. Estavam precisando de projetistas. Eu enfiei minhas plantinhas debaixo do braço, meus canudinhos, e fui na CTBC. "Com quem que eu falo?" "Com o Dr. Luiz." A entrevista era com o Dr. Luiz. Na entrevista com ele eu sentei, me apresentei, mostrei meu trabalho para ele, ele gostou muito. Logicamente, a gente brigou na hora de combinar o salário. Vocês não vão mostrar isso para ele não, não é? Naquela época, eu pedi 150 cruzeiros por mês. Ele virou para mim e falou: "Reges, eu não posso te pagar 150 cruzeiros. Eu posso te pagar 100." Toda a vida ele foi meio pão duro mesmo, então eu falei assim: "Olha, Dr. Luiz, eu sinto muito, mas eu já tenho um planejamento de vida, eu vou entrar na faculdade..." Não lembro bem o mês, mas eu sei que era época das provas para poder entrar. "Eu vou ter compromisso na minha vida. O que eu estou pedindo para o senhor é um preço justo pelo meu trabalho, eu posso até às vezes dar em dobro para o senhor." Mesmo assim, não teve jeito. Ele falou: "Infelizmente, eu só posso te pagar 100 cruzeiros. Até logo, muito obrigado." Daí uma semana, eu estou no escritório trabalhando, o telefone toca, é ele: "Reges, pode vim que o lugar é seu." E eu fui para a CTBC, fui o primeiro funcionário do departamento de Engenharia, que era uma sala numa antiga casa que tinha ao lado da construção da João Pinheiro. Lá funcionava a contabilidade, a minha sala era na copa da casa e, em frente, ficava o banheiro. A coisa boa é que, apesar do local de trabalho não ser muito adequado, ele comprou tudo novinho para mim: prancheta, régua T, escala, estojo Kern. Toda a vida, nos 34 anos que eu estou na empresa, sempre trabalhei direto com o Dr. Luiz.
Eu jamais poderia imaginar que ia trabalhar tanto e que deixaria um volume de trabalho tão grande na empresa. Para se ter uma noção, no dia em que saí do departamento de Engenharia eu deixei 2320 pranchas de projeto, feitas por mim. Quando eu entrei na CTBC, o escritório tinha 67 pessoas e eram exatamente as 17 localidades cobertas pela CTBC. De 17 localidades, nós passamos para 83 sedes de município, não localidades. Se você considerar localidades, dá 300 e poucas, porque entram os distritos, os lugarejos, os postos na estrada, que são considerados como uma localidade. Se você levar em consideração que cada localidade é um prédio, é uma rede, é uma central nova, aí você já pode imaginar o volume de serviço. É necessário desenhar tudo: projetar o prédio, negociar o terreno com o prefeito, projetar a rede física e a rede urbana. Eu ia até cada localidade para fazer o estudo de campo.
Há outro fato curioso dentro da CTBC que eu faço questão de contar, porque o Dr. Luiz pensa que eu não lembro disso, mas lembro. Então, Dr. Luiz, só para o senhor lembrar. O senhor se lembra de quando eu estava na minha prancheta, na copa daquela casa, e a Dona Ophélia chegou junto com o senhor, viu o meu desenho e disse: "Luiz, ele desenha muito bem" O senhor lembra do que falou para ela? Foi o seguinte: "Ophélia, eu já não te falei que não é para elogiar um funcionário? Senão amanhã ele quer aumento"
Eu conseguia articular esse trabalho pesado com a continuidade dos estudos devido à minha determinação. Eu acho que a gente tem que a gente pode ser tudo na vida, mas não pode deixar de ser determinado. Eu morava, na época, na Floriano Peixoto, na altura da Rua Itumbiara. Minha entrada na faculdade coincidiu com meu ingresso na CTBC. Esse era o meu objetivo e eu consegui. Então o que acontecia? Eu saía correndo às 5h30 da CTBC e ia para casa, na Rua Itumbiara. Eu ia a pé, porque minha saída não coincidia com os horários de ônibus urbano. Se eu fosse esperar o ônibus no ponto, não ia na aula. Então eu saía a pé, da João Pinheiro até lá na Rua Itumbiara, tomava banho, engolia - porque nem jantar não era direito -
a comida rapidamente e voltava a pé para a faculdade. A aula começava às 7h. Isso durante quatro anos. Eu não diria quatro, porque depois eu comprei meu primeiro carrinho, aí facilitou um pouco. Mas foi com muita determinação, com muita vontade. Nunca tomei uma bomba na minha vida, não sei o que é isso, e sempre o volume de matérias era muito grande, porque toda a vida eu estudei latim também. Eu sei bem o latim, e toda a vida estudei 12 matérias, inclusive na faculdade. Então o volume era muito grande e eu ficava, às vezes, até de madrugada estudando. Principalmente nos últimos anos, quando você tem que apresentar trabalhos e dar aula. Depois que eu me formei, ainda dei aula por cinco anos nas escolas públicas de Uberlândia. Cheguei a ter 600 alunos, porque eu dava aulas de português e de francês. Eu ficava corrigindo prova, montando exercícios, contando plano de aula até as 3 horas da manhã. E 7h30 estava na CTBC de novo, trabalhando.
CTBC Relações públicas
Eu me desloquei para a área de Relações Públicas e Comunicação após muito trabalho na empresa. Isso acabou vindo junto com a minha função. Sou sagitariano e o sagitariano tem o seu lado zen, isso sempre esteve dentro de mim. Eu tive um companheirão também que é o Celso Machado, toda a vida nós trabalhamos junto. Nós somos da mesma época na empresa, toda a vida trabalhou direto com a diretoria. Na época, ele era do escritório, da assessoria da diretoria. Eu e ele juntos criamos nosso primeiro Teleco, em 1969. Ele está aí hoje. Na época a gente batia a matriz, depois ia na maquininha e... Aliás, com dificuldade, porque o Sr. Alexandrino não conhecia isso.
O Teleco vendia essa parte pessoal da CTBC. Tudo isso faz parte da área da Comunicação. Os eventos, o jornal interno, a comunicação interna. E na empresa quem tinha essa queda, essa tendência e essa vocação que foi despertada na época, eram eu e o Celso. Nós começamos a dar uma nova cara nas festas, uma nova criação, novos objetivos. Isso paralelo ao que a gente já fazia dentro da empresa. E a CTBC foi crescendo, crescendo, crescendo. Na década de 80, ela já estava com o número de localidades que hoje ela tem, 83, e o volume de trabalho já era muito grande. O volume de pessoas era muito grande, precisava haver interação, integração. Nessa época, a empresa já era importante nacionalmente, mesmo porque era a única privada no Brasil. A própria empresa viu a necessidade de ter um departamento específico para comunicação. O nosso departamento, que chamava-se Assessoria de Relações Públicas, foi criado por decreto pelo Sr. Alexandrino: "A partir de hoje, fica criado o Departamento de Relações Públicas, sendo os seus responsáveis Celso Venâncio Teixeira Machado e Reges Murilo de Paiva." Essa carta é histórica, mas eu a perdi.
A gente tinha um luminoso no escritório que dizia o seguinte: "Trate bem o cliente, é ele quem paga o seu salário." Esse era um slogan do Sr. Alexandrino. Todo escritório da CTBC tinha, em qualquer localidade.
Num determinado momento, a necessidade de ter um departamento de comunicação ficou evidente. Até a produção de cartas precisava de um setor específico, porque já não eram mais cartas quaisquer. Tinham que ter um padrão, tinha que haver um nível mínimo de comunicação. Então era necessário ter uma área mais especializada, precisava fazer propaganda para empresa, fazer a criação dos filmes e tal. O Grupo já tinha jornal, precisava veicular informações nele. Essa foi uma necessidade natural.
Diga-se de passagem, Relações Públicas era matéria era muito desconhecida pelo Sr. Alexandrino e pelo próprio Dr. Luiz. Ela não era tida com muita importância na empresa. Mas hoje a gente vê a importância que tem essa área e que teve, e que não foi aproveitada. Hoje, eu acredito que o próprio Dr. Luiz, se ele fizer um exame de consciência, ele vai ver que a empresa perdeu muito por não ter investido nessa área desde aquela época. A gente sentia que era um serviço considerado secundário, mas passamos por cima de tudo, porque a gente sempre soube convencer o Sr. Alexandrino e o Dr. Luiz. E tudo o que nós realizamos, por pequeno que fosse, no momento em que foi realizado foi muito importante. Porque era um passo novo, era uma coisa nova. Foi tão importante que a área não morreu nunca.
Gestão
Eu soube desenvolver isso muito bem em mim: hoje eu faço qualquer coisa, em qualquer lugar, pelo telefone. Faço acontecer qualquer coisa que você quiser pelo telefone, na minha mesa. Isso, em Uberlândia, só o Grupo proporciona, assim mesmo só para aqueles que sabem aproveitar, porque ele te dá a oportunidade de você fazer. Cito um exemplo: Ituverava foi minha primeira construção, meu primeiro projeto. Digo isso porque você faz o projeto e alguém tem que construir, não tem? A empresa tem que supervisionar os profissionais contratados. Um belo dia, o Dr. Luiz chega na minha prancheta e fala assim: "Reges, você dá conta de administrar a obra de Ituverava?" Eu nunca mexi com isso. Na mesma hora, eu falei: "Dou. Que dia o senhor quer?" É assim. Você não pode deixar o cavalo passar arreado, você se estrumbica lá na frente, você morre de estudar, de perguntar, de aprender, mas você tem que ir. Então, a partir desse dia eu passei a gerenciar o consumo de material, a compra, fora o que eu já tinha para fazer. Minha vida dentro da empresa sempre foi somar serviços. E eu não reclamo disso. É por isso que eu digo: eu sou uma pessoa que gosta de trabalhar no pique, eu não gosto de ficar com coisa morna. Eu gosto de trabalhar no pique, com muita coisa para fazer, porque eu tenho facilidade hoje, e isso só a CTBC me deu, essa capacidade de ter vários escaninhos e você trabalhar todos, não perder nenhum e fazê-los bem, graças a Deus. Eu sou um funcionário que nunca recebeu uma admoestação. Há outro detalhe que o Dr. Luiz pode até achar ruim: acho que eu sou o único funcionário que nunca utilizou o crachá. Não porque eu não goste, sei lá. Em resumo, essa facilidade, essa visão, só a CTBC dá. Essa oportunidade de realizar coisas é muito difícil nas empresas e, no Grupo, é a coisa mais fácil que tem.
Nos dias de hoje, acho que as pessoas não vestem a camisa da empresa. Eu garanto que visto. Pode ser polêmico o que eu estou falando, mas é o meu sentimento. Isso só existe no pessoal mais antigo, aí eu assino embaixo para todo mundo. Porque eu conheço todo mundo do meu tempo e eu sei o valor de cada um, o que cada um fez.
Qualidade O Dr. Luiz pode ter outros motivos para explicar a capacidade de a CTBC se manter como a única companhia privada num momento em que a estatização já era uma realidade e se resolvia com uma penada. Mas eu, como funcionário, eu tenho a minha visão. Acho que a CTBC se manteve pelo trabalho, pela eficiência, pela qualidade, pelo pioneirismo e pela visão que tinha o nosso presidente. O governo pretendia estatizar toda a telefonia. Mas o Brasil inteiro não tinha ainda telefonia implantada. Naquela época, seguramente só uns 300 municípios tinham telefonia. Aí vem a pergunta: como é que você vai estatizar uma empresa que funciona, na qual vai investir capital para poder estatizar, e ainda deixar quase 400 municípios no Estado sem nada? Não tem lógica. Essa é a minha visão profissional.
Veja o exemplo de Ituiutaba. O prédio que nós construímos lá era para uma evolução da cidade em 30 anos; em Monte Alegre, 20 anos. A visão era tão larga, tão ampla, que a construção era definitiva. Afinal, 20, 30 anos numa localidade é muita transformação. A empresa, então, tem essa folga de área física para suportar o crescimento e o desenvolvimento da cidade em três décadas. É uma visão de futuro. E hoje eu digo mais. Todo o desenvolvimento do Brasil Central, principalmente do Triângulo Mineiro, com todas as cidades circunvizinhas, só foi possível graças à telefonia. Nós fomos a primeira empresa telefônica no país a utilizar um link de microondas com a imagem de TV. Quer dizer, se a gente for entrar no campo do pioneirismo, nós temos "n" citações. Aí está a importância do Sr. Alexandrino, a visão da oportunidade, a visão do futuro, a visão da necessidade. Porque a CTBC nasceu, nada mais, nada menos, por causa da necessidade, por causa da angústia de certos empresários em Uberlândia, principalmente a do Sr. Alexandrino, de querer falar e não ter condição. E também pelo fato de todos aqueles angustiados gostarem da localidade que moravam, que é um aspecto importante da cidade de Uberlândia. Se você olhar hoje a cidade, pode ver que as grandes empresas daqui pertencem a nativos.
A CTBC sempre se identificou com as comunidades. Eu lembro muito bem que a determinação do Sr. Alexandrino era o seguinte: "Onde tiver uma casa, nós vamos pôr um telefone." Não importava se tinha prejuízo ou não, ele queria atender, ele queria servir. Por isso existem todos esses PS que nós temos em beira de estrada, a gente, era desejo do Sr. Alexandrino. Ele não se importava se aquele PS, aquela localidade, dava prejuízo. Ele queria colocar a comunicação lá. O prejuízo era coberto pelo lucro das outras. E assim a CTBC foi pontilhando o mapa do Brasil Central.
Diga-se de passagem: se você analisar a história, verá que o responsável maior da evolução do telefone foi Dom Pedro. Foi ele quem deu importância ao invento do Graham Bell, naquela exposição de Filadélfia - se não fosse Dom Pedro, ninguém teria dado maiores atenções. Ele também trouxe o primeiro telefone para o Paço Municipal, no Rio de Janeiro. O Brasil foi o primeiro país em que um telefone funcionou, logo após a invenção do Bell. E, no Brasil, a telefonia não cresceu, não se multiplicou, esse fato é curioso. A partir da criação do Ministério das Comunicações é que o Brasil começou a acordar para a telefonia, depois que o invento de Bell já tinha 100 anos.
Serviço público Esse conceito de servir não era muito próprio do empresariado da época. O comércio evoluiu muito, principalmente as técnicas de venda. Nessa época, as técnicas de venda não eram muito evoluídas porque, basicamente, havia aquele velho método de venda de balcão. Todo mundo abria a portinha e só esperava o freguês levar a mercadoria. A CTBC não era diferente disso. Mas por que não era diferente disso? Isso também tem uma razão de ser. A gente vê hoje, na empresa, muitas discussões sobre modernidade, mas as pessoas se esquecem do fato histórico. Eu não diria que esquecem: eles não viveram o momento histórico. Vemos muitas pessoas falando hoje sem conhecimento de causa. Historicamente, a própria telefonia não tinha o estágio de desenvolvimento que tem hoje. Naquela época, por exemplo, a gente não tinha os serviços verticais, tipo Hora Certa, Auxílio à Lista... Serviços verticais são aqueles que não fazem parte do funcionamento do telefone. Eles foram agregados à linha telefônica para a comodidade do cliente. Naquele tempo não havia, você só tinha o telefone fixo e falava, mas não tinha nenhum serviço especial, não tinha nenhum serviço vertical. E a grande renda, naquela época, era a de interurbanos, porque no Brasil era muito difícil falar. Eu lembro que Uberlândia, não na minha época, mas quando o Sr. Alexandrino fundou a empresa, se levava uma semana para falar com São Paulo. Já na minha época - posso citar localidades como Paranaíba e Aparecida do Taboado - levávamos um mês para falar com São Paulo. A pessoa ia no centro telefônico e encomendava a ligação. É verdade, encomendava a ligação. Era mais fácil você ir de carro, ir de carroça, do que telefonar.
Telefonistas Para o Sr. Alexandrino, a alma da empresa
era exatamente o tráfego, onde ficavam as telefonistas. Por quê? Tudo vinha dos interurbanos. Então, nós tínhamos mais de 256 posições. Isso quer dizer o seguinte: a gente tinha quase 700 telefonistas, porque eram diuturnamente. Tinha dormitório, tinha tudo. A telefonista ia para a CTBC, ela tomava banho e dormia na CTBC, dependendo do horário que ela estivesse trabalhando. A gente tinha uma festa muito importante e muito bonita que era o Dia da Telefonista, que hoje praticamente não se comemora mais. Registra-se, não se comemora. Era a festa mais bonita que a gente tinha, ele fazia questão de ser na Granja Marileuza, ou seja, na casa dele. Outro fato curioso também é que nessa época as telefonistas ganhavam muito presente. Eram caminhões que deixavam as mercadorias no Dia da Telefonista: caminhões de caixas de vinho, caminhões de tudo, porque a telefonista tinha um papel muito importante na vida de todo mundo, ela é que completava as ligações. Se um empresário precisava de uma ligação urgente, ele ligava no 101 e falava com a telefonista. Ela conhecia todo mundo. Havia telefonistas que conheciam o número de todo mundo em Uberlândia. Você podia falar o nome da pessoa que ela te falava o número na hora.
Teleco Nós criamos o Teleco em 1969. Logicamente, começou como impresso no sistema (Gestetener?), que era a folha, papel ofício. Começou como todo jornalzinho estreante de empresa, brincando com todo mundo, contando um fato aqui e ali, uma construção aqui e ali. Aquilo passou a ser esperado todo mês por todo mundo, em todas as localidades. Porque aquilo, de uma maneira ou de outra, fazia a união da empresa.
A periodicidade era bimestral. Mas, às vezes, tínhamos muita dificuldade, porque a gente não trabalhava com verba, com orçamento. Era a coisa mais difícil arrancar uma aprovação do Sr. Alexandrino ou do Dr. Luiz, por isso eu digo que ele era meio muquirana. A gente não tinha verba para viajar para as localidades. A gente fazia a coisa com a maior dificuldade. Mesmo assim, sobrevivemos. Outro fato histórico com referência ao Teleco é que nós fomos o terceiro associado da Aberje - Associação Nacional dos Editores de Revistas e Jornais de Empresa. Fomos o primeiro órgão empresarial do Triângulo Mineiro. Até nisso nós fomos pioneiro. Então, logo que nós criamos o Teleco, a primeira coisa que nós fizemos foi registrá-lo em cartório. De lá para cá, veio em constante evolução. Lógico, aos trancos e barrancos, às vezes falhando numa edição de um bimestre ou outro pelas dificuldades naturais. Às vezes, por falta de notícia, falta de coisa mais sólida para publicar. A gente não era jornalista, mesmo porque Uberlândia não tinha jornalismo. No Brasil Central não existia jornalismo. Só havia curso de jornalismo nas grandes capitais e a gente não podia sair para estudar. Aliás, diga-se de passagem, os grandes jornalistas do Brasil nunca fizeram faculdade, aprenderam no dia-a-dia. Nós iniciamos essa carreira cavoucando, trabalhando, fazendo e tal, e conseguimos a carteira, protegidos pela lei, pelo tempo de prestação do serviço.
Não saberia identificar o momento em que a direção da empresa descobriu que o Teleco era um instrumento importante para o negócio. Foi muito importante a passagem dele do público interno para o externo. Começou a ficar importante. Certa vez, o Dr. Luiz falou assim: "Reges, eu estava lá no gabinete do ministro, você acredita que eu vi o Teleco na mesa dele?" Eu lembro direitinho: "Está vendo, Dr. Luiz? O senhor não dá muita importância à nossa revista, mas ela abre portas." Por incrível que pareça, uma grande parte do Brasil conhece o Grupo por causa da revista. O Celso sempre foi meio poeta e toda vida fez, e ainda faz, uma página literária na publicação. Você não sabe como agradava as secretárias e como agrada até hoje. A gente recebe cartinhas de secretária - a revista chega para o executivo, para o empresário, mas primeiro passa na mão da secretária. Certa vez, nós descobrimos que, por vezes, a revista nunca chegava na mão do empresário: a secretária levava para a casa. Descobrimos isso fazendo uma pesquisa. Toda a vida a revista foi muito lida. Acabou virando uma espécie de carro-chefe da comunicação da empresa, porque hoje é uma revista muito premiada. Pelo quarto, quinto ano consecutivo nós somos premiados pela Aberje no Estado. Hoje, eu sou o jornalista responsável pela revista, mas nós temos um corpo profissional que só faz isso. Naquela época, não. Era eu e o Celso, só. Você tinha que fazer aquilo ali na mão, de noite e de fim de semana. Hoje, não.
Depois fizemos outros jornais internos, como o Jornal Família, que durou anos. Eu o produzia, ele se tornou o nosso Teleco interno. Nessa época, o Grupo já tinha importância nacional e o Teleco passou a ser exclusivamente externo, porque não justificava mais mandar aquele tipo de reportagem, de comunicação, para a área interna. A partir desse momento é que foi criado o Jornal Família, exclusivo interno. Mas a preocupação com a comunicação interna e com a comunicação propriamente dita dentro do Grupo é bem recente. Tanto é verdade que nós estamos, no momento, lutando contra isso, contra o momento de desenvolvimento atual, da globalização, da concorrência. O que é a concorrência? Quem tem mais comunicação, quem tem mais marketing, vence. Como tradicionalmente a gente nunca teve essa visão do marketing, nós estamos hoje correndo atrás.
Comunicação Nós ainda não utilizamos todas as ferramentas que nós temos. Nós ainda temos muita dificuldade, principalmente orçamentária. Logicamente que o Grupo, por estar numa área tecnológica de ponta, precisa de altos investimentos. Em decorrência disso, o orçamento fica muito reduzido para outras áreas, porque ele tem que evoluir tecnologicamente - se não evoluir, morre. E a gente entende isso e faz o máximo com o pouco que tem. A gente tem sabido utilizar as condições e demostramos isso no dia-a-dia, com resultados. O próprio resultado da revista são os prêmios que ela tem e outras ações, como assessoria de imprensa. Hoje nós temos uma grande dificuldade de estar na mídia, aquela mídia paga. Nós temos uma assessoria externa muito boa. Então, nós estamos presente na mídia, não aquela paga.
Eu acho que a comunicação é um fator preponderante e muito importante para o sucesso da empresa. O que nós estamos vendo na globalização não é nada mais, nada menos do que comunicação. Eu acho que isso encerra tudo. Hoje o detalhe técnico passou a ser detalhe, o equipamento hoje passou a ser detalhe. Você tem na sua frente uma coisa muito mais importante do que o seu equipamento: o cliente. O equipamento tem que ser a cara do cliente, é o cliente que vai determinar a qualidade do seu serviço. Então, tudo aquilo que você tem físico na empresa passa a ser detalhe. O cliente quer melhoria, o cliente quer evolução. Tudo passa a ser detalhe, por incrível que pareça. Já naquela época não era assim. O equipamento era tudo, porque só tinha o equipamento. Então eu, como cliente, não podia chegar na CTBC e pedir um serviço que nem eu sabia que tinha. Quer dizer, o telefone era aquela linha que você tirava, chamava a telefonista e fazia o seu interurbano. Era só aquilo e mais nada. O equipamento era tudo na empresa, tinha que estar novinho, funcionando e todo mundo passando o paninho. A primeira central de Uberlândia está funcionando ainda, é a AGF. Se, naquela época, o equipamento desse um defeito, acabava o faturamento. Hoje as coisas estão mudando, hoje equipamento é detalhe. Hoje a luta é pela melhor tecnologia. Quem tem a melhor tecnologia é quem está mais avançado, é quem presta o melhor serviço e o maior número de serviços.
Esse negócio da comunicação é tão grande... E o Grupo já sabe disso, mas às vezes não dá o braço a torcer. Esses nossos tours tecnológicos não são nada menos do que comunicação. Isso é tido no Grupo, hoje, como muito importante, porque esse contato lá fora com a tecnologia, com um povo diferente e tal, já é coisa da globalização. Hoje você tem que receber um telefonema aqui como se você já fosse familiar da pessoa.
Uma coisa muito ruim que existe no Grupo é exatamente proveniente da área técnica. Porque no Grupo toda a vida se deu muita importância a engenheiros. Mas por quê? Porque equipamento era tudo. Hoje, equipamento é detalhe, mas essa cultura tecnicista ainda permanece, e nós temos que derrubar isso. O que engenheiro sabe de comunicação? Nada. Hoje, nas empresas, principalmente no Grupo, todo mundo se dá o direito de palpitar nessa área, inclusive engenheiro. Por que motivo? Pela nossa cultura histórica. Antes, era só tecnologia. Hoje o mundo mudou, equipamento e tecnologia são detalhes. Hoje é a pessoa, o ser humano, o cliente, é isso que determina tudo. Se você fechar a porta e ficar calado você não é ninguém, você já morreu. Mas essa cultura ainda está arraigada no Grupo. A cultura tecnicista. Você senta numa reunião e pode contar: 80% são engenheiros. Não os estou desmerecendo. Eu pergunto: quem da área de comunicação vai no departamento de engenharia dizer se aquele equipamento está certo ou está errado? Ninguém vai dar palpite. Mas todos se dão no direito de dar palpite, e a maioria das vezes errado, na área de comunicação. Todo mundo quer ser doutor na área. É verdade que essa realidade está se transformando a olhos vistos, mas precisava ter se transformado há pelo menos uma década. A gente não recupera o tempo perdido. Hoje nós estamos sentindo, e muito, o atraso.
Protocolo e cerimonial Tínhamos que receber autoridades, preparar isso tudo com protocolo, com cerimonial específico, e tinha que ter alguém na empresa que respondesse a isso. Essa evolução, esse crescimento veio ao longo do tempo, devagar, pela própria necessidade. Lógico que a gente antevia isso tudo, tanto é que a gente sempre lutou para poder ter a área. A gente antevia, mas a área nunca foi muito aceita pela diretoria, porque é uma área sempre que gasta, que gera custo.
Inaugurações
Eu tenho um caso gostoso para contar. Na época das inaugurações de centrais telefônicas nos relacionamos com nosso "primeiro presidente". Quero dizer, ministro, porque os presidentes vieram depois, o Geisel, isso tudo... O primeiro ministro foi na época da inauguração de sistema telefônico, DDD, DDI. Porque em central telefônica eles não iam, só passaram a ir a partir da implantação do DDD, que era um serviço importante, o Brasil falando nacionalmente, de forma automática... Aí, sim, a gente convidava os ministros, mas era a maior dificuldade, porque era uma empresa privada. Então, se o ministro viesse, era tido como rabo preso. Isso é uma coisa muito séria, toda a vida foi muito sério. A não ser aqueles ministros que tinham uma visão muito grande, o horizonte muito grande. No caso, Aureliano Chaves, ministro Quandt de Oliveira, Haroldo de Mattos. Todos esses aí a gente recebeu. Era quase que padrão e praxe, mesmo porque não tinha outra maneira: quando a gente inaugurava o serviço na cidade, a gente estava inaugurando tudo. Estava inaugurando o prédio, inaugurando o sistema, inaugurando o equipamento, inaugurando o pessoal, porque todo mundo era novato ali naquele centro. Inaugurando tudo novo, novinho. EXPANSÃO A gente fazia a cerimônia de inauguração e, quando não tinha o ministro pessoalmente, a gente realizava chamadas para onde o ministro estivesse, muitas vezes para o exterior. Era tudo combinado antes. Hoje eu sinto orgulho de dizer tudo isso, porque a gente não aprendeu no banco da escola: a gente aprendeu em cursos profissionalizantes, em livros e na lida, porque quem ensina para a gente é a lida. Não adianta nada você sair da faculdade com o canudinho debaixo do braço e nunca ter feito nada. Uma coisa é você escrever na lousa bonitinho os princípios de tudo, outra coisa é você colocar aquilo na prática, é você realizar.
A primeira ligação DDI para a Europa fomos nós que fizemos na nossa central telefônica de Franca, com o ministro Severo Gomes. Eu costumo dizer hoje o seguinte: que eu, ao longo dessa minha estada no Grupo, participei de todas as decisões importantes da empresa, todas. Todas as empresas compradas, adquiridas, em todos eventos de assinatura de contrato eu estava, estou lá. Todos os prédios da CTBC na área dela toda, com raras exceções, todos fui eu que fiz. Mas pouca gente sabe disso. Até a sede da Algar, lá em cima, é projeto meu, só que era para ser depósito da CTBC. Depois é que foi adaptado. Mas aquele prédio também é projeto meu.
Associados O que eu diria para quem está entrando? É muito fácil: "Quais são os seus objetivos aqui? O que você espera daqui? Até onde você quer chegar aqui?" As mesmas perguntas que eu me fiz quando decidi procurar outro emprego. Naquela ocasião em que a dona Ophélia elogiou meu desenho - e o dr. Luiz disse para ela não me elogiar pois senão eu pediria aumento - eu vislumbrei minha postura na empresa. Aí eu decidi dentro de mim: "Eu vou crescer nessa empresa." Eu acho que crescer na empresa não é chegar a ser diretor. Eu acho que você ser importante na empresa é deixar uma história, deixar a sua presença na empresa, que é o que nós estamos fazendo aqui. Puxa vida, a empresa toda conhece meu nome. Não me conhece pessoalmente, mas se falar "Reges" todo mundo conhece. Então, eu acho que isso eu consegui. Outra coisa também que eu faço questão de dizer é que eu não tive que deixar minhas raízes para poder vencer profissionalmente. Eu praticamente vivi aqui, cresci aqui, prosperei aqui, então não tenho como reclamar. Eu gosto demais do Grupo, o Grupo é a minha vida, eu visto a camisa, brigo, xingo. Trabalho até hoje, não meço esforços, seja domingo, feriado, independente do salário que eu ganhe no fim do mês. A empresa para mim é minha outra família.
Isso eu aprendi com o Sr. Alexandrino. Hoje não digo: "Não gosto da empresa por causa do Dr. Luiz..." Hoje nós somos amigos. Hoje ele não precisa dizer: "Reges, vai fazer isso porque precisa." Eu já fui fazer. Se ele falar, eu já fiz. Então, a empresa é a minha casa, quem quer o maior bem dela sou eu, independente do Dr. Luiz.
EMPRESAS Telebrás
O que eu costumo dizer é o seguinte: o monopólio te obriga a fazer aquilo que ele determina. Você fica numa camisa de força. A empresa só podia realizar aquilo que era determinado pela autoridade. Mesmo assim, muitas vezes nós fomos até um ponto além. Eu tenho até um fato curioso que gostaria de deixar registrado. As centrais ARF já eram modernas para a época que foram implantadas, porque eram computadorizadas. O Sr. Alexandrino já havia adquirido uma central da Suécia com essa tecnologia, mas foi proibido de implantar, porque o próprio sistema Telebrás não tinha esse equipamento. Além de subjugar, o sistema ainda coibia, amarrava. Tenho "n" situações, "n" coisas que posso citar, que a CTBC fez ao longo do tempo.
ABC Propaganda Sua criação foi conseqüência natural do crescimento e da necessidade do Grupo. O nosso departamento de Relações Públicas de repente virou a ABC Propaganda. Só que a gente estava numa área física dentro da CTBC. Daí nós fomos para uma área física externa, numa casa do lado da CTBC, e criamos a agência. Ela é uma house agency, mas em 80%, pois nunca deixou de atender a outros clientes. Acabou se posicionando no mercado e hoje ela está aí, firme e forte. Na CTBC, depois que nós criamos a ABC Propaganda, praticamente sumiu o departamento de comunicação. Sumiu. Eu não lembro de quantos anos fiquei na ABC Propaganda, acho que foram seis. Aí eu voltei para a CTBC, pela necessidade também. Daí, somaram-se outros acontecimentos no Grupo, como o advento do Sr. Mário Grossi. Começamos com um aspecto político muito diferente, começou a evolução mundial de globalização e tal. Vieram outras realidades dentro do Grupo, houve várias transformações. A vinda do Sr. Mário, com toda a sua visão administrativa, a morte do Sr. Alexandrino... Muita coisa mudou nos últimos 10 anos.
COMUNIDADES
Alexandrino Garcia
Ele era muito determinado. O Sr. Alexandrino é uma daquelas pessoas que você considera ímpar, que você não vê igual por aí. O Sr. Alexandrino era dessa maneira. Muito determinado, sabia o que queria, sabia onde ia chegar e sabia como ia fazer. Isso, também, a gente aprendeu com ele. Hoje a gente fala em cultura do Grupo. A cultura do Grupo foi implantada por ele e seguida pelo Dr. Luiz, e essa cultura é tão arraigada que, hoje, a gente, que é mais antigo, sente que não tem como mudá-la. Ela já está arraigada. Você age independendo da sua vontade. Aquilo é uma marca muito funda, muito profunda, e o mais curioso no Sr. Alexandrino é que era um homem trabalhador, não via dificuldade em nada. Trabalho, a vida inteira dele foi trabalho. Sempre trabalhamos com aquela determinação e com aquela liderança. Eu acho que o fator liderança é muito importante numa empresa, porque o líder é aquele que escolhe e determina o caminho. O Sr. Alexandrino era essa pessoa e você sabia para onde ia e como ia. Por que era muito determinado?
Num momento histórico do Brasil, ele soube vislumbrar oportunidades e, por isso, a CTBC, em praticamente dez anos, construiu 83 localidades. Em dez anos
Havia uma determinação nele: "Vamos trabalhar tal localidade." Ali ele trabalhava politicamente, em nível de diretoria, com o Dr. Luiz e o Sr. Walter, na época - era o irmão mais velho, que infelizmente, em 1974, faleceu de câncer. O Dr. Luiz havia regressado da escola e era um pouco recente na CTBC. Então, quem dirigia mais a CTBC era o Sr. Alexandrino, que era o presidente, e o Sr. Walter, que estava na área financeira. Então a coisa começou assim, não teve um planejamento. As oportunidades foram aparecendo, as negociações de cada localidade, e aquilo ia sendo somado ao dia-a-dia, ao trabalho. Então, toda aquela loucura não era só na minha área de Engenharia, aquilo tudo acontecia em toda a CTBC. O pessoal de transmissão, o pessoal de rede... Porque tinha que construir a rede interurbana, tinha que construir a rede urbana. Tudo era decorrente e o Sr. Alexandrino foi muito ágil, porque ele não perdeu tempo em negociar as localidades, ele não perdeu tempo em aumentar as fronteiras da CTBC. Durante todo o tempo em que a CTBC teve essa condição politicamente, ele agiu. E depois, com o advento do Ministério das Comunicações, com o advento da Telebrás, é que o governo foi descobrindo a importância da telefonia no Brasil.
Um belo dia, eu estou lá, numa das últimas visitas que eu fiz para o sr. Alexandrino. Ele estava muito doente, já não andava, praticamente sobrevivendo às custas de remédio. Eu cheguei e sentei do lado dele, ele ficava numa cadeira de roda, e o cumprimentei. Ele olhou muito no meu olho e apertou a minha mão. Ele não falava. Aí eu vi uma lágrima. O que eu senti naquele momento? Durante todo o tempo em que eu trabalhei com ele, até a morte dele... Aquele olhar, aquele aperto de mão foi o grande pagamento que eu recebi, independente da coisa material. Porque eu senti que aquele afago foi um agradecimento da minha presença entre eles. Para mim, aquilo não significou nada mais além do que isso. É difícil você receber um afago assim sincero, principalmente num momento assim, um momento crítico da pessoa. Eu tive a felicidade de passar por isso. Eu nunca contei isso para o Dr. Luiz. Ali estava o agradecimento dele, aquela maneira com que ele apertou minha mão, com que ele me olhou como quem diz: "Puxa vida, parece que estava com saudade de mim." Dessa maneira a minha conduta sempre se pautou dentro do Grupo: realizando, trabalhando, lutando pela empresa. E com todas essas transformações de hoje, eu não sinto muito mais isso nas pessoas, não é como antigamente.
Vou contar uma piada do próprio Sr. Alexandrino. Antigamente, em Uberlândia, os cabos ainda não tinham muita qualidade, havia muito defeito no revestimento. Então, na época de chuva dava muito defeito, porque entrava água no cabo e as ligações se misturavam. Os amigos do Sr. Alexandrino costumavam ligar para ele: "Alexandrino, arruma meu telefone, está mudo, está cruzado."
Naquela época, o Distribuidor Geral era um departamento muito importante da CTBC. Ele ligava para o Distribuidor Geral e chamava o Sr. Edésio, que era o chefe do departamento: "Cadê o Sr. Edésio?" Certa vez, o Luiz, que trabalhava junto com o Sr. Edésio, respondeu: "Sr. Alexandrino, o Sr. Edésio não está aqui, ele deu uma saidinha. O senhor chame daqui a pouquinho." Passou um pedacinho, ele chamou de novo: "Cadê o Sr. Edésio?" "Ele ainda não chegou." "Mas onde é que está o Sr. Edésio?" "O Sr. Edésio está no banheiro." Aí tornou a chamar e o Sr. Edésio já estava lá. O Sr. Alexandrino, isso era bem típico dele, virou para o Sr. Edésio e falou assim: "Sr. Edésio, o senhor fique sabendo que aqui na CTBC já tem que chegar comido, cagado e mijado." Isso é verdade, não é folclore não. O Sr. Alexandrino era uma pessoa enérgica, rígida, mas de um coração a toda prova. Ele tinha sentimento, ele gostava da alegria de todo mundo. Logicamente que, como empresário, ele queria que as coisas crescessem e tal. Mas ele ia levar comida para o pessoal que estava montando rede na estrada - também para poder olhar o serviço, claro.
João Jorge Cury Em Uberlândia, eu trabalhei em um escritório de arquitetura com o Dr. João Jorge Cury, que era comunista. Não que eu participasse, mas todas as reuniões do Partido Comunista em Uberlândia eram feitas no escritório do Cury, muitas vezes com a gente lá. Então eu conhecia todos os comunistas de Uberlândia e, certa vez, o Cury foi preso na sede do quartel em Juiz de Fora. Era uma pessoa muito curiosa. Aliás, isso também foi decorrência de uma decisão que eu tomei na minha vida. Ele era comunista realmente e vivia o Comunismo. Mas não fazendo propaganda, ele vivia na sua vida particular e com a gente - dentro do escritório, um salão muito grande, éramos em sete projetistas. Logicamente que, no primeiro ano, eu estava aprendendo a profissão e, diga-se de passagem, ele foi o arquiteto mais importante que já passou pelo Brasil Central. Uberlândia, praticamente toda, foi construída com ele. A própria Cidade Industrial é uma criação dele. A maioria das casas de Altamira fui eu que desenhei. Todas as praças de Uberlândia que têm um design moderno são projetos do Cury. Então, ele era uma pessoa muito avançada e muito curiosa. Por quê muito curiosa? Por ele ser comunista, a gente trabalhava no escritório registrado em carteira, mas não recebia o salário no mês. Ele entregava um projeto e recebia o dinheiro, parecia uma galinha choca. Chegava no escritório e chamava todo mundo em volta da mesa dele: "É tanto para você, tanto para você, tanto para você." Dividia aquilo entre nós. Então, o que isso acarretava? Você nunca tinha aquela quantia certa para poder administrar a sua vida. Uma coisa é você receber o salário e você sabe: "Eu tenho isso. Acabou, eu não posso fazer mais nada além disso." Outra coisa é você receber 10 hoje, 20 amanhã, 15 depois. Esse era um fato curioso que foi importante na minha vida.
O segundo fato curioso é que ele sempre fazia seus projetos - grandes projetos - no papel do cigarro. Ele fumava aquele famoso Continental, que tinha um mapa da América do Sul. Ele chegava num bar e sentava na mesa, não bebia, tomava só refrigerante, e tirava aquele papel cromado por dentro do maço. Do outro lado, era branquinho. Ali ele projetava. Chegava no escritório e dizia: "Menino, ponha esse projeto no papel." Ele nos ensinou essa maneira de projetar. Um leigo só via rabisco naquele papel. Ele fumava demais, passava a cinza em cima e tal. Isso ajudou a gente a desenvolver a percepção da coisa, a saber o que ele quis definir com aquilo e jogar no papel. Então era um punhado de rabisco que você transportava para o papel. Ao mesmo tempo em que você estava fazendo uma coisa criada por ele, você estava aprendendo a projetar. Porque era praticamente fazer um projeto, embora a criação não tenha sido sua. Mas só o fato de você adivinhar aquele traço, o que significava se era uma janela, se era uma porta, desenvolveu na gente essa percepção. Eu sou uma pessoa que capta qualquer coisa no ar, eu sinto um mosquito voar. Às vezes eu tenho até um sexto sentido, eu sinto a coisa antes de ela acontecer. Pela análise dos fatos, pelos acontecimentos, pela realidade, eu já posso prever. Infelizmente, quase tudo o que prevejo acontece.
Mário Grossi O advento do Sr. Mário e a preocupação de a gente, da área de comunicação, não ter a importância devida, isso me custou uma briga, uma discussão muito grande com o Dr. Luiz, na sala dele. Eu não sei se ele vai lembrar mas, um belo dia, ele me chamou na sala, como sempre, fazendo cobranças. Naquele dia eu fiquei muito enraivecido e tal, e acabei discutindo com ele em tom alto - mas nunca perdi o respeito, lógico. E falei para ele que a diretoria não se preocupava com a área de Comunicação, que era vista como custo e não como investimento, que a gente fazia os Prodex - a reunião dos executivos - com "n" temas e nunca tivemos um para a área de Comunicação. Aí o que acontece, para surpresa minha? Ele nunca me falou nem que sim nem que não. Brigamos, brigamos, xingamos, xingamos, discutimos, discutimos, e eu saí do mesmo jeito que entrei. Um belo dia, através do Sr. Mário, veio a determinação. A gente ia fazer um Prodex para discutir o tema Comunicação. Para mim foi uma vitória, porque foi mais uma semente lançada que cresceu. E ninguém sabe disso. Eu sou jornalista entre aspas, eu já escrevi demais, mas acho que todo jornalista é assim: ele conta tudo de todos, mas dele mesmo ele não conta nada. Tem muita coisa na CTBC que fomos nós que construímos. Acho que ninguém sabe. O próprio Centro Esportivo fui eu que criei, fui eu que lutei, fui eu que batalhei. Fui eu que o fiz existir, mas ninguém sabe.
Sempre fui batalhador, tanto é que essa área de Comunicação nunca morreu, porque, se tivesse morrido, o trabalho da gente teria sido em vão. Com a entrada do Sr. Mário e talvez por conseqüência dessa discussão minha com o Dr. Luiz é que a comunicação virou tema do Prodex, o principal encontro anual dos executivos do Grupo, feito em dezembro. A partir do momento em que a Comunicação virou tema do Prodex, aí sim o Sr. Mário começou a dar uma importância maior para a área e a montamos como deveria ser, apesar de ter sofrido muitas transformações. A própria Cleide chegou a fazer parte dela, mas depois preferiu retornar para a CTBC. A partir desse momento é que, profissionalmente, nós tivemos uma área bem implantada no Grupo. Temos hoje na Algar e a CTBC tem a dela. Mas não são todas as empresas que têm. Nós podemos citar numa mão só as empresas que têm a área. Nosso trabalho lá é duplo. Eu não sou só da Algar, eu sou de todas.
Luiz Alberto Garcia O Dr. Luiz é formado em Engenharia Elétrica, em Itajubá. Como em Uberlândia não tinha uma sede do Crea, que é a instituição que regulamenta e fiscaliza a a profissão de engenheiro, era facultado a qualquer engenheiro assinar qualquer planta. Então o que acontecia? O Dr. Luiz precisava de um projetista, porque ele mesmo assinava o projeto. Eu projetava, ele assinava. Logicamente que eu projetava, mas era sentado, discutido, brigado e tal. Tem até um fato curioso. A minha primeira construção na CTBC foi o prédio de Ituverava. Nós temos lá uma escada que vai para a central e eu fiquei um mês brigando com o Dr. Luiz porque ele queria um banheiro debaixo da escada para poder aproveitar o espaço que, para ele, era perdido. Esse banheiro está lá, se ainda não derrubaram, para todo mundo ver. Você tem que abrir a porta, abaixar a calça e entrar costas... É o "banheiro do Dr. Luiz". E nós brigamos muito tempo nessa planta. Eu não queria o banheiro e ele queria. O Dr. Milvar veio muito depois, porque aí o Dr. Luiz estava muito sobrecarregado - a empresa cresceu muito e ele precisava de um engenheiro para tocar outras obras e fazer outras coisas.
LOCALIDADES Uberlândia
A mudança para Uberlândia foi óbvia. Éramos seis filhos, todo mundo precisava estudar, seguir uma carreira na vida. A gente mudou para poder ter progresso e também por causa da doença do meu pai. Mudamos para Uberlândia em 57, moramos na Rua Francisco Sales. Um fato curioso é que, naquela época, nós mudamos para lá, perto da Avenida Paes Leme, e ali era tudo pasto, não tinha construção, não tinha nada. Não existia nem o quartel lá em cima. Tinha um fábrica de fogos do lado. Foi uma época muito bonita, a gente sempre teve uma vida muito livre, brincou muito. Toda aquela característica de família que a gente tinha em Tupaciguara a gente continuou a ter aqui. Logicamente com outros objetivos, com maior responsabilidade nos estudos, principalmente, pela condição física do meu pai.
A morte do meu pai desestruturou a nossa família. Éramos seis filhos, minha mãe estava grávida, no oitavo mês. Meu pai morreu em agosto e a minha mãe deu à luz em setembro. A minha mãe, apesar de ser do lar, sabia fazer calça, pois meu pai era alfaiate. Então, quando nós viemos para Uberlândia, todo mundo precisou trabalhar, inclusive minha mãe. Minha mãe era calceira de um alfaiate famoso de Uberlândia, o Marquês alfaiate. Quando nós mudamos para Uberlândia, meu pai tinha a alfaiataria em frente à Livraria Kosmos, lá no Naghettini. Está lá até hoje o prédio, a sala que o meu pai tinha, do mesmo jeito. Esse Naghettini é um fotógrafo muito antigo em Uberlândia, até já morreu, agora estão lá os filhos dele. Aí, com a morte do meu pai, fechou-se a alfaiataria. A Marquês era na frente e minha mãe foi calceira dele por muitos anos.
Juiz de Fora Depois da morte do meu pai, minha mãe praticamente nos criou na máquina de costura. As oportunidades que apareciam você tinha que agarrar, porque tudo o que você pegava era uma ajuda para a família, era uma maneira de tirar a pressão da minha mãe e o trabalho intenso que ela tinha. A gente tem um primo que foi padre da Ordem Dominicana, Frei André Muniz de Resende. E essa Ordem Dominicana tem um colégio em Juiz de Fora, o Colégio dos Dominicanos. No alto da colina tem um prédio com quatro andares, e na época ele esteve fazendo uma visita para minha mãe. Lógico que nessa época a gente não decidia por si próprio, quem decidia eram os pais. Por isso eu fui para Juiz de Fora.
Não tive muito problema com essa mudança porque eu, toda a vida, fui um cara que olhei muito dentro da realidade - eu acho a realidade uma coisa importante. Fui para lá com toda a disposição, tanto é que estudei todo esse tempo. Mas voltava para Uberlândia todas as férias, do meio do ano, do fim do ano. Nessa época, as férias eram bem definidas. A gente estudava 12 matérias. Hoje não, hoje você nem toma bomba mais. Para mim foi muito bom estudar em Juiz de Fora, porque senão eu jamais teria uma educação para o mundo, pois minha mãe não teria condições de dar a educação que eu efetivamente tive nesse aspecto.
Tenho boas recordações do professor Murilo Hingel, pela maneira como ele dava aula. Ele sempre foi uma pessoa muito criativa. Também me lembro de uma professora de inglês que eu tive em Juiz de Fora, que se chamava Miselse, uma pessoa linda, boníssima. Essas pessoas ficaram na minha cabeça.Recolher