Quando nasci já estava escrito no céu que, desde o ventre de minha mãe, eu a escolhi para cuidar de mim e junto disso nascer este amor sem fim. Trás raios de sol consigo e, nas noites de escuridão, trazem cuidados, alguns perigos e um ponto de interrogação. Imagino que era muito desejada pela minha mãe porque quando nasci, meus pais estavam em uma situação difícil. Os dois estavam desempregados. Ela me conta das várias vontades de comer algo na gravidez, porém, não tinha condições e tinha vergonha de pedir. Nasci com pouco peso e com um pequeno caroço no lado direito, próximo ao olho. A médica, que se chamava Dr. Lilian, informou que precisaria operar ainda pequena, pois quando crescesse, poderia atrapalhar em meu desenvolvimento. Graças a Deus, tudo ocorreu bem! Da cirurgia, fiquei apenas com uma pequena cicatriz, imperceptível. Por isso o meu nome é Lilian (pensava que era por causa da jornalista da televisão). Meu pai falava que seria outro menino, pois já tinha outros dois irmãos. Sou a caçula e, meus irmãos mais velhos não passam de dois seres com instintos. Dona Maria das Graças (o próprio nome já diz, benevolente e graciosa) é uma pernambucana que adorava contar como era sua infância para os seus irmãos, pois cresceu em uma casa simples no interior de Araripina. Costumava dizer que, se houvessem dois adultos conversando e ela interrompesse, era uma “pisa só que levava”. Depois, ficava de castigo, ajoelhada no caroço do milho, até aprender a respeitar os mais velhos. Lembro-me que ela costumava cantar “hoje é domingo no pé do cachimbo, cachimbo é de ouro que deu no besouro, besouro é de prata que deu na barata, a barata é de linha que deu na galinha a galinha é de dente que bate na gente.” Meu pai, também nascido em Pernambuco, era bem sério. Nunca gostou muito de brincadeiras, embora a minha avó (que descanse em paz), dizia que ele não teria responsabilidade por parecer tão novo...
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Quando nasci já estava escrito no céu que, desde o ventre de minha mãe, eu a escolhi para cuidar de mim e junto disso nascer este amor sem fim. Trás raios de sol consigo e, nas noites de escuridão, trazem cuidados, alguns perigos e um ponto de interrogação. Imagino que era muito desejada pela minha mãe porque quando nasci, meus pais estavam em uma situação difícil. Os dois estavam desempregados. Ela me conta das várias vontades de comer algo na gravidez, porém, não tinha condições e tinha vergonha de pedir. Nasci com pouco peso e com um pequeno caroço no lado direito, próximo ao olho. A médica, que se chamava Dr. Lilian, informou que precisaria operar ainda pequena, pois quando crescesse, poderia atrapalhar em meu desenvolvimento. Graças a Deus, tudo ocorreu bem! Da cirurgia, fiquei apenas com uma pequena cicatriz, imperceptível. Por isso o meu nome é Lilian (pensava que era por causa da jornalista da televisão). Meu pai falava que seria outro menino, pois já tinha outros dois irmãos. Sou a caçula e, meus irmãos mais velhos não passam de dois seres com instintos. Dona Maria das Graças (o próprio nome já diz, benevolente e graciosa) é uma pernambucana que adorava contar como era sua infância para os seus irmãos, pois cresceu em uma casa simples no interior de Araripina. Costumava dizer que, se houvessem dois adultos conversando e ela interrompesse, era uma “pisa só que levava”. Depois, ficava de castigo, ajoelhada no caroço do milho, até aprender a respeitar os mais velhos. Lembro-me que ela costumava cantar “hoje é domingo no pé do cachimbo, cachimbo é de ouro que deu no besouro, besouro é de prata que deu na barata, a barata é de linha que deu na galinha a galinha é de dente que bate na gente.” Meu pai, também nascido em Pernambuco, era bem sério. Nunca gostou muito de brincadeiras, embora a minha avó (que descanse em paz), dizia que ele não teria responsabilidade por parecer tão novo e imaturo. Mas, de todos os irmãos, é o mais responsável. Seu linguajar era normal, de um homem sério e de poucas palavras, sempre se esforçando para cuidar bem da família. Quando nasci, meus pais já moravam em São Paulo, vieram tentar fazer a vida aqui. Naquela época era mais fácil arrumar emprego e tentar conquistar alguma coisa na vida. Morei um tempo na Vila Prudente, em uma casa de aluguel onde também moravam no mesmo quintal a minha madrinha e o irmão mais velho de minha mãe. Eu devia ter uns três anos e gostava muito de brincar com meus primos, porém, a casa em que eu morava não tinha quintal e meus pais não nos deixava brincar por muito tempo na rua. Depois de certo tempo, meu tio Rubens (que descanse em paz) arrumou emprego para o meu pai em Diadema, cidade onde cresci e vivi toda a minha infância e adolescência. Nesse momento, já morávamos no fundo casa de minha tia Severina, irmã do meu pai. Minha infância me recorda a pureza e a simplicidade em ser feliz e brincar com coisas simples. Na rua, gostava de brincar de pega-pega, esconde- esconde, bolinha de gude, andar de bicicleta e polícia-ladrão. Que saudades dessa época, como fui feliz em minha infância! Meus pais costumavam ouvir Raul Seixas, um grupo chamado ABA e Roberto Carlos. Era uma garota que gostava de desafios como andar de carrinho de rolimã, pular corda e brincar de casinha. Colecionava papel de carta e tinha uma pasta grande, cheia, de vários tamanhos. Uma coisa que aprontava quando era criança e que veio em memória era tocar a campainha dos outros e sair correndo. Pura adrenalina! Também recordo de um cachorro chamado Rex, que gostava muito e ele sempre protegia a mim e meus primos. Quando ele morreu, chorei muito e fizemos até o enterro dele num campinho que só tinha terra e barro, perto de casa. Ele era como da família. Quando eu tinha por volta de dez anos, ajudava minha tia a cuidar de seu neto, o Rubens, pois minha prima Sandra havia engravidado com quinze anos e precisava terminar os estudos. Eu sempre gostei de criança e queria ter responsabilidade desde cedo. Meu pai me dizia que eu não tinha que me preocupar com o filho dos outros e ela precisava se virar para criar. Meu sonho de menina era ser jornalista e minha mãe sempre me dizia que tem que estudar para ser alguém na vida, e que um dia quando crescesse, casasse e me tornasse mãe, teria que ter responsabilidade. Só assim saberia o valor de uma mãe. Hoje em minha prática docente vejo a criança que fui e o adulto que me tornei. Percebo que a Lilian pequena está aqui, só que na versão adulta com um olhar de criança e de pureza. Sou a menina que sempre gostou de desafios e coisas diferentes e, desde cedo aprendeu a ter responsabilidades, que ouvia e tinha todos os discos da Xuxa e do Balão Mágico. É assim que me enxergo nessa trajetória. Que saudades da infância, onde tudo era fantasia! Sorrir sem se importar com as circunstâncias. Tudo era motivo de alegria: brincar na rua, comer doces e cantar, jogar bola, fazer bagunça e não arrumar, de correr e pegar flores das árvores, chorar ao voltar para casa, deixar livre a imaginação. São memórias cheias de emoção e de esperança. Percebo com as crianças precisam cada vez mais de amor e confiança
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