Museu da Pessoa – Conte sua história
Histórias de Esperança – 29 anos do Projeto Criança Esperança
Depoimento de Denizia Abreu da Silva
Entrevistada por Tereza Ruiz
Mogi Mirim 31/10/2014
Realização Museu da Pessoa
Entrevista HECE_HV_24
Transcrito por Ana Carolina Ruiz
P/1 – Então prim...Continuar leitura
Museu da Pessoa – Conte sua história
Histórias de Esperança – 29 anos do Projeto Criança Esperança
Depoimento de Denizia Abreu da Silva
Entrevistada por Tereza Ruiz
Mogi Mirim 31/10/2014
Realização Museu da Pessoa
Entrevista HECE_HV_24
Transcrito por Ana Carolina Ruiz
P/1 – Então primeiro, Denizia, fala pra gente o seu nome completo, data e o local de nascimento.
R – Denizia Abreu da Silva, Mogi Mirim. Dia 3 de agosto de 1988.
P/1 – Agora o nome completo do seu pai e da sua mãe, se você souber data e local de nascimento também.
R – Sandra Mara Silva de Abreu, Mogi Mirim. Antônio Sérgio da Silva, Mogi Iguaçu. A data de nascimento do meu pai é dia 2 de agosto, agora o ano que eu não sei.
P/1 – Não tem problema.
R – Não? E da minha mãe é dia 19 de maio.
P/1 – O que os seus pais fazem profissionalmente?
R – Minha mãe é empregada doméstica e o meu pai é servidor público.
P/1 – E como é que eles são de temperamento, personalidade? Pra quem não conhece como é que você descreveria?
R – Minha mãe é bem, como eu posso dizer? Explosiva, bem brava. Ela é bem brava devido aos meus avós também, minha mãe puxou muito pelo meu avô. Então é aquele método tradicional mesmo, sabe? Hora pra chegar, maneira de falar, tudo muito certo. Agora o meu pai já é mais tranquilo. Meu pai já é mais tranquilo, mas ele não mora comigo, o meu pai. Eu não tenho tanto contato com ele, então pra mim ele não é uma figura tão importante que eu tenho referência, que eu tenho contato. Mas ele é tranquilo, ele é carinhoso, ele é prestativo.
P/1 – Seus pais são separados então, é isso?
R – Sim. Meus pais são separados e eu não tenho tanto contato com ele. Tive em alguns períodos mais, outros menos. Tive mais contato com os meus avós porque eu fui criada pela minha avó, pelo meu avô. Só que aí hoje em dia eu moro com a minha mãe.
P/1 – E como é que é o nome então dos seus avós e como é que eles são?
R – Minha avó é Maria Clara da Silva e o meu avô é José Benedito de Abreu. Eles são maravilhosos. Minha avó é uma pessoa trabalhadora, carinhosa. Nossa, fazia muitas coisas por mim e por todos os filhos dela. E o meu avô também, muito trabalhador, muito honesto, muito firme e com um coração enorme.
P/1 – Eles são os seus avós maternos?
R – São meus avós maternos.
P/1 – E eles trabalhavam com o que?
R – Os dois também são funcionários públicos. Minha avó trabalhava num posto e o meu avô trabalhava na prefeitura.
P/1 – E aí você morava com eles por quê? Como é que é essa história assim?
R – Quando minha mãe me teve, meu avô ficou preocupado porque como ela era muito nova. Meu avô me pegou pra cuidar, porque como minha mãe era muito nova meu avô achou que ela, sei lá, ficou um pouco com medo e me pegou pra cuidar desde pequena. Aí eu fiquei morando com eles, né? Fui criada com eles, só que aí com nove anos minha avó faleceu e aí meu avô tinha quatro pequenos também. Quatro pequenos... Era tudo escada. Eu com nove, minha tia com dez, minha outra tia com 12 e o meu tio com 13, então ia ficar muito pro meu avô cuidar, aí eles tinham tudo a guarda minha, meu avô transferiu a guarda minha pra minha mãe. Aí que eu voltei a morar com a minha mãe. Posso reformular?
P/1 – Lógico.
R – Então, quando eu nasci minha mãe conheceu outro moço e foi morar com ele. Aí o meu avô ficou preocupado e me pegou pra cuidar, porque aí ele ficou com medo de acontecer alguma coisa, aí ele preferiu que eu morasse com eles, e pela minha mãe também ser muito nova, não ter tido filho ainda, aí ele...
P/1 – Tá dando pra entender perfeitamente. Pode ficar tranquila.
R – Aí os meus avós me pegaram então pra morar com eles e fiquei até nove anos. Aí minha avó faleceu, meu avô tinha outros filhos também pra cuidar e mais eu, ficou muita coisa pra um homem sozinho. Minha mãe já tava com mais dois filhos, eu já tinha mais dois irmãos, aí o meu avô pegou e transferiu a guarda pra minha mãe e eu estou até hoje morando com ela.
P/1 – E você lembra como é que foi pra você assim com nove anos sair da casa dos seus avós e ir morar com a sua mãe? Como é que você sentiu, como é que foi esse processo?
R – Foi
muito ruim pra mim, não queria porque eu tinha uma referência total da minha avó, do meu avô, que são pessoas que foram tudo pra mim, são tudo ainda pra mim. E ter que morar com a minha mãe, lidar com a minha mãe foi um pouco difícil porque eu a respeito, gosto muito dela, mas eu não tinha esse contato de mãe e filha com ela, porque eu tinha com a minha avó. A referência de mãe pra mim era a minha avó. Então foi bem difícil a questão de combinados que ela fazia comigo que eu não concordava, que eu não queria. Eu saí de uma rotina onde eu morava com os meus tios, que eu vivi e cresci com eles e tive que morar com a minha mãe, com o meu padrasto e com os meus dois irmãos. Mas os meus dois irmãos eu gosto muito, gosto muito do meu irmão Leandro e da minha irmã Vanessa também. E foi bem difícil, mas chegava no fim de semana eu ia pra casa dos meus avós, não ficava em casa, não... Do meu vô, né? E aí eu fui indo. Fui indo, foi melhorando, meu avô foi sempre conversando muito comigo, fazendo eu entender que era a melhor coisa a fazer, aí eu consegui também respeitar a opinião dele porque eu entendi que ficava muito difícil pra ele cuidar de todos nós aí foi melhorando. Mas no começo foi muito difícil porque aí eu tive que ir pro Educandário, porque até então eu estudava, mas no outro período eu ficava lá com as minhas tias, com a minha... Eu tenho uma bisa também. Com a minha bisavó que ela ia lá, ficava com a gente, então eu não precisava ficar em creche, eu não precisava ficar o período total na escola e quando eu fui com a minha mãe eu já tinha, porque como a minha mãe trabalhava o dia inteiro, eu não podia ficar pra rua. Então tive que entrar no Educandário, que eu também não queria. Então foi muito difícil pra mim, mas depois também eu só tive que agradecer, por quê? Porque depois que eu entrei no Educandário que eu entrei no ICA. Mas foi muito difícil lidar com essa situação, porque no começo eu não acreditava que a minha avó não estava mais ali, que ela não ia estar mais presente. Foi muito difícil a perda, mas...
P/1 – Quantos anos sua mãe tinha quando ela te teve?
R – Minha mãe? 18 anos minha mãe tinha.
P/1 – E você sabe qual que é a origem da sua família? Os seus antepassados da onde vieram.
R – Meu avô conta que... Meu avô é loiro de olho azul e a minha vó é negra. Então o meu avô conta que eles eram europeus. Agora da minha avó minha bisa fala que era uma mistura. Então ela fala que tem um pouco de indígena, sabe? E do meu avô é mais europeu mesmo.
P/1 – E a casa dos seus avós e da sua mãe era próxima?
R – Não. Era muito longe. Era do outro lado da cidade, só que aqui é mais perto, Mogi Mirim é pequeno. Mas não era próximo, não.
P/1 – Conta um pouco como é que eram as casas que você passou a infância. Primeiro a casa da sua avó e do seu avô e depois a casa da sua mãe, a casa, o bairro.
R – No bairro que eu passei a infância foi a Ana Maria Beatriz, então era um bairro muito tranquilo, a gente podia brincar na rua porque as nossas vizinhas eram tudo da mesma faixa etária. Então a gente brincava de amarelinha, de corda, de esconde-esconde. Minha avó confiava em deixar a gente ali na rua porque só tava meninada tudo, a gente ficava na frente da casa da minha avó mesmo. A casa da minha avó era grande, era própria deles também, tinha três quartos, sala, cozinha, banheiro e um quintal grande também. Todo final de semana, era sagrado, a gente ia pra casa da minha bisavó, Maria Constância ela chama. E lá era muito gostoso também porque era o dia que todos os primos iam. E tem muitos pés lá de árvore, então tem mangueira, tem de jabuticaba, tem de ameixa. Então a gente ficava subindo nas árvores, brincava de pega-pega, comia as frutas. Então a gente fazia uma festa lá, era muito bom também lá. Na da minha bisavó já era mais simples, era menor, mas o quintal era grande que aí cabiam todas essas árvores. Eram só dois quartos, uma sala, uma cozinha e um banheiro. Era bem pequenininho. Onde minha avó também morava é do outro lado da cidade, é longe também da minha outra avó. Mas a minha bisavó era muito gostoso também porque ela ficava contando histórias pra gente de antigamente e ela também é bem religiosa, então ela sempre ensinava uma oração pra gente, que a gente sempre tinha que orar no começo e no final da noite. E fora que ela era uma cozinheira de mão cheia. Então ia lá ela fazia sorvete, era tudo muito...
P/1 – Então vamos retomar, você tava contando um pouco como é que era a casa da sua bisa.
R – Isso. Aí então a casa da minha bisa era pequena e as coisas, sem ser o necessário, era tudo muito feito. Minha avó que fazia sorvete, ela que fazia os pães, ela que fazia bolo, ela que fazia torta, fazia biscoito, bolachinha, bolinho de chuva. Como a gente também não tinha muito dinheiro, mas então ela sempre fazia tudo, minha bisavó, minha avó, porque elas são cozinheiras que fazem comidas deliciosas. Então é isso. E agora na casa da minha mãe a gente foi morar no fundo da casa da sogra dela. Então era um bairro muito ruim, era um bairro com muita violência, com muitas drogas, então eu não podia ficar na rua. Era Santa Luzia. Então não podia ficar na rua, o quintal também era muito... Não tinha quintal.
P/1 – Você estava contando da casa da sua bisa... Não. Da casa da sua mãe agora, né, que não podia brincar na rua.
R – Isso. Então a casa era muito pequena, só tinha um quarto, uma cozinha e um banheiro e era um corredor que aí a gente fez de quarto, colocou uma cama lá e dormia eu com a minha irmã. Então não tinha quintal pra gente brincar, não podia sair na rua. Eu frequentava já o ICA e a escola, então ia pra escola, pro ICA, pra escola e pro ICA e no final de semana eu ia pra casa do meu avô ou da minha bisavó porque não tinha condições de ficar em casa, né? Não tinha o que fazer. E tinha uma TV só lá no quarto da minha mãe.
P/1 – Você falou que a sua bisa gostava de contar história, você se lembra de alguma história que ela contava pra você?
R – Olha, eu me lembrava de uma oração que ela falava pra mim.
P/1 – Pode ser a oração.
R – Vou lembrar. É que eu queria falar uma que não era popular, porque ela falava algumas orações, como eu sou católica que não tinha no livrinho, entendeu? Que não me ensinava lá na igreja, era algo diferente dela, mas agora... Eu me lembrava de uma, até esses dias tava lembrando, fazendo antes de dormir, mas agora eu não lembrando. Porque no quarto dela tem imagens de santo, aí tem terços, então quando eu dormia lá de final de semana tem duas camas no quarto, então ela dormia numa cama, eu dormia na outra aí ela me ensinava as orações que ela já tinha como hábito e eu gostava muito. Ela sempre me falava: “Denizia, toda vez você faz a oração antes de sair de casa e depois na hora de você dormir você também faz a oração”.
P/1 – Ela era devota de algum santo em específico, em especial?
R – Ela da Nossa Senhora Aparecida. Tanto que quando a gente vai pra Aparecida do Norte a gente trouxe um quadro pra ela bem grande da Nossa Senhora Aparecida. E ela também conhece...
P/1 – Pode falar.
R – Ela também já foi. Eu lembro mais da parte: “Senhor peregrino que me leve pro bom caminho...” aí essa parte que eu não lembro “...e que me guarde de dia e de noite”. Tem uma parte que eu não estou lembrando, eu vou tentar lembrar.
P/1 – Você sabe por que ela era devota de Nossa Senhora da Aparecida?
R – Não lembro agora. Eu acho que é porque tudo... Ela falou que todas as situações que ela passou na vida ela sempre pedia muito pra Nossa Senhora Aparecida e ela foi que sempre a ajudou em todas as situações. Sabe, porque ela é viúva, então quando ela perdeu... Eu não cheguei a conhecer meu bisavô, ele já tinha falecido, então ela pediu também pra conseguir uma casa, então ela que comprou essa casa sozinha tendo os meus... Minha tia, minha avó, o meu tio... Tendo cinco filhos pra criar. Então ela pedia muito pra Nossa Senhora tudo.
P/1 – Você sabe qual que é a história do seu nome? Quem que escolheu, por que Denizia?
R – Esse nome foi minha avó que deu. Na época tinha uma novela que tinha uma princesa que chamava Denise. E aí minha avó gostou muito desse nome, pesquisou e vem do deus grego Dionísio, tudo, aí ela colocou Denizia, pra ser algo diferente e um nome forte.
P/1 – Você sabe qual é a novela?
R – Não sei qual que é a novela.
P/1 – Não tem problema. Queria saber quais são as primeiras lembranças que você tem da escola.
R – Da escola? Da escola quando eu estudei no fundamental 2 no Coronel Venâncio tenho lembranças ótimas, porque eu tive professores que marcaram muito a minha vida e que foi inspiração pra eu ser educadora também, pra estar buscando uma formação. Eu tive uma professora de história e uma professora também de português que eram professoras excelentes, sabe? Que faziam atividades significativas. E de matemática também, é uma matéria que eu gostava muito, também só tive professores bons. Então as atividades que elas propunham eram algo que era importante pra gente, não era só aprender história, história do Brasil. A gente conseguia entender o hoje, o que aconteceu, o que ocorreu essas mudanças pro hoje ser o que é. De português também. Ela propunha bastantes debates pra gente desenvolver o pensamento crítico. E na atividade de artes também que eu gostava muito elas levavam atividades diferenciadas de teatro, que eu já gostava, de música. Então tenho umas boas lembranças. Lógico, eu tive alguns professores que não foram tão bons, professores, muito tradicionais. Na parte de geografia eu não gostava tanto, tinha um pouco de dificuldade porque era uma disciplina que eu tinha que decorar pra fazer a prova e não ia, porque era aquela coisa que você tinha que decorar qual era a capital do país, nome certinho, pra fazer na prova, então eu tive bastante dificuldade porque eu não conseguia mesmo. Mas no mais, eu tive professores muito bons, graças a Deus, foi muito importante pra mim.
P/1 – Você falou que você entrou no ICA logo pequena. Eu queria saber como é que você conheceu o ICA e como é que foi que você começou a participar.
R – Então com nove anos eu voltei a morar com a minha mãe e aí eu precisava estar em algum lugar pra eu não ficar na rua. Minha mãe não confiava de me deixar sozinha lá na casa da sogra dela. Eu fui pro Educandário que com nove anos... Na verdade as crianças entram com seis anos no Educandário, mas como eu acho que a minha mãe explicou a situação tudo, abriram uma exceção, porque não pode entrar com nove, com oito. Você entra com seis e sai com dez, que dez anos já vinha pro ICA. Então aí eu acho que a minha mãe contou a história tudo, eles abriram uma exceção e eu fiquei no Educandário, porque eu não tinha lugar pra ficar. Aí terminando o ano do Educandário todos os alunos já vêm pro ICA porque a dona Sofia, quando ela criou o ICA, ela estava com essa preocupação porque ela conhecia o Educandário e depois do Educandário não tinha nenhum outro lugar que desenvolvia atividades para as crianças dessa faixa etária. Então foi quando ela criou o ICA, depois de dois anos que o ICA foi criado eu já vim. Então foi por isso que ela criou o ICA, pra ter um local pra atender essas crianças de dez anos em diante, que não tinha outro local aqui em Mogi Mirim e provavelmente ficariam na rua, ficariam sozinhos. Então aí eu vim pro ICA. Não gostava, não gostava, foi muito difícil porque eu já nem gostava do Educandário também. Estar nesses lugares lembrava muito a perda da minha avó, que ainda também não tinha ainda compreendido ainda, ainda mais criança, a gente não compreende muito a coisa. E aí então vim pro ICA, não gostei. Mas o primeiro dia foi bom porque a entrada, que não é aqui, que era lá no antigo prédio, bem a entrada estava um arco enorme de bexigas, todas coloridas escrito: “Sejam bem-vindos”. Escrito frases, sabe, de acolhimento, tudo. E os professores e os profissionais estavam tudo ali, e eu estudava de manhã no Piccolomini, depois já desci pro ICA. Aí estavam todos os funcionários ali falando pra gente sejam bem-vindos, dando um abraço, perguntando o nosso nome e foi um dia bom. Eu não queria vir pro ICA, mas o primeiro dia eu gostei muito disso, porque eu nunca fui pra um espaço que tinha essa energia boa, que as pessoas estavam preocupadas com você, preocupadas com todos nós, ter essa atenção toda voltada pra gente. E foi um dia excelente porque a gente conheceu o ICA, a gente se alimentou e era uma alimentação diferenciada.
P/1 – Você lembrou mais um trechinho? Não?
R – Estou quase. Então aqui a alimentação era diferenciada da escola. A gente realizou várias dinâmicas de integração, de conhecer tudo e aí eu gostei. Só que aí depois nos outros dias eu não gostei muito, era um pouco diferente de hoje em dia, tinha reforço na época, aí tinha um período inteiro de reforço e algumas oficinas. Aí tinha artesanato, que eu gostava, tinha caratê, no intervalo tinha pingue pongue. O que mais? Tinha o circo, tinha dança. Isso. Mas aí então no começo eu não gostava muito, não, tinha que vir mais obrigado porque a minha mãe me obrigava a vir, eu não tinha com quem ficar, eu tinha que vir. Mas depois com o passar do tempo também fui virando...
P/1 – Tava falando que com o tempo eu queria saber o que... Você começa não gostando, quando você começa a vir, depois quando é que isso começa a mudar e por que começa a mudar?
R – Eu comecei a mudar porque tinha uns professores de teatro muito legal, o Luís. E aí a gente fazia algumas encenações. Eu nunca fui mais pro circo, eu fui mais pra dança e pro teatro. Então a gente fazia encenação, contação de história e ele me colocava, porque eu achava que eu não tinha habilidade, aí ele fez eu enxergar habilidades que eu tinha que era na questão de encenação, de construir personagem, de fazer. Então eu me lembro de bastantes apresentações que eu fiz no teatro e na dança também. Aí na dança no começo eu não gostava tanto, depois já comecei a gostar. Aí eu fiz ballet também, jazz contemporâneo, então acho que foi nisso que aí eu comecei a gostar, também entrei acho que na fase de adolescência a gente amadurece um pouco, vê o que passou, passou. E aí foi quando fui tendo mais interesse em participar, em fazer as coisas. Acho que foi isso.
P/1 – Nessa fase que você começou a gostar e se envolver mais teve algum momento que tenha sido mais significativo pra você? Uma história, um episódio, um momento.
R – Teve uma apresentação, espetáculo Sertão, que veio um diretor de fora, Alex Caetano, realizar e marcou bastante a minha vida. Tanto que eu até trouxe a foto. Porque ele era muito bravo, mas ele era uma pessoa muito boa, ele tinha um conhecimento muito bom. Ele conseguiu sugar e me fazer enxergar o potencial que eu tinha de dançar, de encenar. E foi um espetáculo bem diferente do que a gente fazia, porque era sertão, então a gente teve que sentir. Então eu fazia o papel de lavadeira, eu tinha: “O que é ser lavadeira?”. Pra mim era algo que não sei o que é. Então ele propôs atividades que a gente ficou no sol, que a gente pesquisou as roupas de lavadeiras. Então a gente montou coreografias com movimentos que a lavadeira faz. A gente colocou as bacias na cabeça pra sentir o que as lavadeiras sentiam carregando aquele peso com água, com roupa. E a gente se molhava que era tão gostoso que tinha uma cena de lavadeira que a gente jogava água e sentia água, fazia uma coreografia. Então foi muito bom, foi algo que marcou bastante também, que pra mim fica marcado até hoje.
P/1 – E nessa mudança da infância pra adolescência, que você mencionou que na adolescência dá uma amadurecida, queria saber o que mudou na sua vida em termos de lazer, passeio, amigos. Você passou a sair? Com quem? O que você fazia pra se divertir?
R – Então, quando eu mudei, quando eu já estava mais adolescente com 12, 13 pra mais, eu comecei a frequentar mais o Centro Cultural de Mogi Mirim que tem apresentações de teatro, vinham grupos de fora. Não era algo que vinha muito, mas sempre quando tinha eu ia e tinha festival de dança, concurso de teatro também ia e ia também bastante ao cinema, que é algo que eu gosto muito. E ler também, peguei gosto pela leitura, aí eu ajudava na biblioteca, então eu li Paulo Freire, li bastante coisas legais A menina que roubava livros. Então foi uma época muito boa que aí eu também comecei a me interessar mais em ler, em músicas de MPB. Então foi bom nesse sentido. E minhas amigas também, tinha um grupo muito legal de amizade aqui do ICA e da escola. Tinha pouquíssimas amigas minhas que não eram do ICA, a maioria era do ICA então a gente combinava e ia junto. A minha mãe nunca deixava eu pousar na casa de ninguém, mas eu podia ir, ficar um período e voltar pra casa, algumas horas e voltar pra casa. Aí elas também iam na minha casa, eu ia na casa delas e a gente saía. E no ICA a gente passeava muito, era muito bom. Tinha o Hopi Hari, tinha o Playcenter, nossa, eu fui várias vezes, fora os espetáculos que a gente pode ir apreciar em São Paulo. A gente assistiu o musical da A Bela e a Fera, que é fantástico, isso também dá uma inspiração, você vê aquelas pessoas fazendo tudo aquilo, aquela produção toda. Então foi muito bom nesse sentido, até no Cirque Du Soleil, todos que vieram pra São Paulo o ICA levou a gente, porque do circo social, então eles ganham ingresso. Então é uma oportunidade que em outros locais não teria. Aqui em Mogi Mirim o único local é o ICA. Então foi muito bom nesse sentido.
P/1 – O que você acha que mudou na sua vida, no seu cotidiano em termos de perspectiva a partir do momento que você conheceu o ICA e passou a se envolver com o ICA?
R – Eu acho que o ICA é muito importante não só na minha vida, mas eu acho que de todas as crianças e adolescentes que passaram por aqui por quê? Porque ele consegue despertar a habilidade que cada ser humano tem. Porque às vezes a gente acha que a gente não é capaz, que não tem um incentivo, e aqui no ICA ele mostra o quanto a gente é bom. Aquilo de bom que a gente tem o ICA faz florescer pra que a gente possa estar nesse caminho. Mesmo que não seja pra arte, que eu tenho várias amigas minhas que não ficaram pra arte e educação, mas elas foram pra parte de empresa, parte administrativa, o ICA dá essa bagagem porque ele... Pensar um pouquinho... Bem na hora que para o som, aí...
P/1 – Pode ficar tranquila.
R – Então, pra todos os jovens, porque mesmo os que não escolheram a arte e educação, foram pra outro ramo, estando no ICA eles conseguiram enxergar essa habilidade que eles têm, essa coisa de bom e buscar um emprego bom, uma vida diferente da nossa realidade. Eu acho que o fundamental é isso porque estando aqui a gente tem possibilidades de ir pra um espetáculo, de fazer várias outras coisas e conhecer outro mundo que a gente amplia a nossa visão de mundo, que a gente não teria se a gente não tivesse passado por aqui. Então eu acho que isso tudo ajuda pra vida de todos que passam aqui, que passaram por aqui. Eu acho que é isso. O foco é isso mesmo, sabe? Ajudar, fazer enxergar a realidade dele e querer transformar, não querer ser mais um igual, mas querer fazer a diferença, ser alguém bom, ser gente e gente boa. E acreditar mesmo, acho que também faz a gente acreditar, sonhar e realizar, porque às vezes a gente sonha e acha que não é capaz.
P/1 – Você tava dizendo que você acha que é importante porque dá essa possibilidade de sonhar e pensar que é capaz, é um pouco isso.
R – Isso. Essa questão, por exemplo, a gente às vezes tem bastante sonho só que a gente acha que não vai ser capaz de realizar. Então aqui faz a gente além de continuar sonhando por um mundo melhor, por uma vida melhor, que a gente é capaz de realizar, que depende da gente de correr atrás, de fazer a nossa parte. Eu acho que é bem isso. E uma coisa que eu falo também que é algo que eu levei pra minha vida e que os meus professores falavam que é assim, se eu plantar uma sementinha boa em uma criança, em uma pessoa, eu posso não mudar o mundo, mas se eu conseguir plantar uma sementinha boa nela, essa sementinha vai se multiplicar. Eu acho que o ICA é isso. Ele planta essa sementinha em nós pra gente multiplicar, que eu posso não mudar o mundo, mas eu posso mudar o mundo daquela criança. E todas as crianças que passam por aqui não continuam no mesmo mundo, só se for por escolha própria, mas a gente muda muito o contexto, a gente muda o mundo que a gente estava inserido. Que o bom do terceiro setor é isso, das ONGs, das instituições, é mudar o mundo daquela criança, é uma oportunidade pra ela, que às vezes ela não teria.
P/1 – Queria fazer um pouquinho da ligação com o Criança Esperança. Primeiro saber o que você sabe do Criança Esperança e se você conhece o projeto, quando você conheceu, como você conheceu. É uma resposta bem pessoal mesmo, do seu conhecimento.
R – O que eu sei...
P/1 – É. Como que você conheceu o Criança Esperança, se você conhece, e o que você sabe sobre o Criança Esperança.
R – Bom, eu fui aluna do ICA aí eu virei monitora. Na época que eu virei monitora que eu conheci o Criança Esperança porque o ICA estava participando, concorrendo pra ganhar o prêmio do Criança Esperança. Pra ganhar o prêmio do Criança Esperança e ganhou através do Projeto Carpe Diem. E aí foi aí que eu conheci então o Criança Esperança, aqui no ICA, devido a eu estar na monitoria a gente já passa um degrau, a gente deixa de ser aluno aí é o processo que a gente apoia o educador nas vertentes artísticas. Como se fosse um estagiário, tá? O que mais mesmo? Já esqueci a pergunta.
P/1 – Você respondeu, é isso mesmo. Eu queria saber, você falou que o Criança Esperança apoiou, então direcionou os recursos pro Carpe Diem. Então explicar um pouco o que era o Projeto Carpe Diem e aí como é que os recursos do Criança Esperança colaboraram com o projeto.
R – O Projeto Carpe Diem é o desenvolvimento integral da criança e adolescente na parte de arte e educação. O Projeto Carpe Diem é voltado pro desenvolvimento integral da criança e o adolescente na arte e educação. E o recurso ganhado através do Criança Esperança ajudou na manutenção do Carpe Diem, que tem as oficinas de circo, teatro, música, dança. Na época era educação espiritual, afetivo, sexual e também tem a parte de lógica também. E também para o Quintal Cultural, que é um evento aberto pra comunidade aonde vêm apresentações artísticas, que é um evento muito bacana também pra comunidade onde eles podem estar respirando um pouquinho de arte, a gente tenta trazer um pouquinho de tudo e é um momento de ver coisas novas, é um momento bem bacana.
P/1 – E de uma maneira geral assim qual que você acha que é a importância de um recurso como o Criança Esperança pras instituições sociais?
R – A importância é em poder dar melhores condições e materiais pra eles, em possibilitar experiências novas. Que pra se manter a gente sabe que é muito caro, então com esse recurso dá oportunidade pras crianças em materiais novos, em passeios, em alguns outros eventos, em trazer apresentações também, em disponibilizar outras oficinas também diferentes. Respondi?
P/1 – Respondeu. Tá ótimo. Eu quero voltar um pouquinho, você mencionou que na adolescência você começou a frequentar mais o Centro Cultural de Mogi Mirim e tal, você falou que teve mais contato com cinema, com música, com livro. Eu queria saber, se tem algum filme, um livro ou uma música que tenha te marcado nessa fase.
R – Agora eu não lembro o nome de um livro. Tem tanto ali na biblioteca. O nome de um livro e?
P/1 – É, ou uma leitura que tenha sido forte pra você, um livro significativo e por que, ou uma música, ou um filme.
R – Nossa, eu tenho um filme que eu lembro que a gente assistiu com eles, mas não lembro o nome.
P/1 – Da história você lembra um pouquinho e por que te marcou?
R – Tem um... Como que chama esse... Não lembro o nome do filme, vou ver se até o final eu lembro. É um filme eu acho que bem conhecido, ele retrata uma escola e que o professor faz a diferença na vida daquelas crianças. A escola é um método bem tradicional, conservador e ele vem romper com esse método, porque ele se preocupa no desenvolvimento da criança mesmo, na questão do aprendizado, na questão integral. Então na questão mental, no físico, no emocional, ele tem essa visão do todo, esse educador. Então é um filme que me marcou bastante, que ele ia e ele fazia mesmo, você via que tinha um amor, um comprometimento naquilo que ele fazia, naquilo que ele realizava. E ele é bem conhecido também.
P/1 – Mas eram crianças ou eram adolescentes?
R – Eram adolescentes.
P/1 – Era Sociedade dos Poetas Mortos, não?
R – Ah, é. A Sociedade dos Poetas Mortos.
P/1 – Que ele ensina poesia, é um professor de literatura.
R – Isso. Que ele ensina poesia, então eu me identifiquei muito assim com esse filme, gostei muito. Eu lembro que todos do ICA gostaram, algo que a gente ficou conversando, a gente até debateu em sala com os professores. É algo que ficou marcado não só em mim, mas naquela turma. Foi algo bem legal que rendeu depois muitas reflexões, cada um tinha um pensamento, cada um tinha uma ideia, algo que a gente foi vendo. “Ah, eu não tinha pensado dessa maneira”. Então foi algo bem legal esse filme. E um livro...
P/1 – Por que você acha que foi marcante esse filme?
R – O filme? Eu acho que foi marcante a questão da postura dele, sendo que no final ele... Eu acho que o que marca é ele tentar mudar, sendo que depois ele não consegue, mas eu acho que é essa questão de iniciativa, de fazer a diferença. Não ficar em algo comum, em propor algo novo. Porque os adolescentes, as crianças, elas precisam de desafio, elas precisam de pessoas que queiram propor coisas novas pra elas, elas querem. Eu acho que todo mundo tem capacidade, todo mundo quer aprender e às vezes o professor fala que não, mas o problema não está neles, está em nós porque a gente que precisa ser esse ponto de referência, trazer algo novo, despertar o interesse dela, motivar, trazer algo desafiador. Porque se eu continuar com algo tradicional, aquilo que é comum, não vai ser legal mesmo, não vai ser algo que vai despertar interesse nela.
P/1 – Quando que você se tornou educadora?
R – Quando?
P/1 – É. Como é que foi? Como é que você se tornou e quando foi?
R – Bom, o ICA fornecia o curso de arte educador. Aí eu participei, tinha vários conteúdos, a gente aprendia a questão da psicologia pra entender as fases do desenvolvimento da criança, tinha a parte prática também pra entender como ensinar, como eu passava esse conteúdo, questão de planejamento também. Então foi um curso bem produtivo.
P/1 – Mas você decidiu fazer esse curso? Como é que foi? Você foi convidada, você se interessou? Conta um pouco.
R – Na época era convidado quem tinha interesse em fazer esse curso. Eu me interessei fazer esse curso e bastante da minha turma também. Então a gente fez esse curso, aí teve uma pontuação e depois teve teste também pra monitoria. Aí quem passava pra monitoria, ah, eu quero ser monitor de circo, aí quem se interessava ia fazer a inscrição, depois tinha um teste tanto de prática como teórico. Aí a gente já tinha feito esse curso também e depois desse teste eu passei pra ser monitora de dança. Aí eu fiquei então como monitora de dança, às vezes a professora faltava e eu conduzia a aula, ficava ali. E aí de sábado eu participava de um grupo também de... E aí eu participava de um grupo de dança, da Evolução, que era com a banda, era mais marcha com movimentos com bastão. Então aí eu fiz esse curso e depois de um período aqui no ICA como monitora surgiu a possibilidade de ser educadora. Eu me interessei também, então virei educadora porque eu gostava muito de ensinar, de pesquisar, trazer coisas novas pra elas. Então eu aceitei ser educadora, tudo, sabendo que ia ter muitos desafios e que eu precisava buscar uma formação. Mas aí eu fiquei em dúvida, fui, fiz técnico de imagem pessoal. Aí eu fiz técnico de imagem pessoal, que eu vi que não era aquilo que eu queria porque ficar trabalhando num salão o dia inteiro, eu falei: “Não tem como”. Mas foi bom o curso porque eu aprendi algumas coisas artísticas, maquiagem artística, cabelo, figurino, que então tinha a ver com a parte artística que eu desenvolvia aqui no ICA, que também é algo que eu me identifico muito. E aí foi quando eu decidi então que eu precisava fazer Pedagogia, porque eu estava dando aula... O que aconteceu? Eu fui educadora externa do ICA. O ICA abriu parceria com a Promoção Social, começou a dar aula no CRAS, que é o Centro de Referência da Assistência Social pra crianças, lá já é outra faixa etária, de seis a 15 anos e eram divididos por turmas. Aí também teve esse desafio de eu dar aula lá e como eu já tinha certeza que eu queria ser educadora, que era algo que estava em mim, que eu gostava muito, falei: “Vou fazer Pedagogia”. Aí fiz o Enem, tudo, eu tive uma pontuação boa no Enem, mas aí eu não consegui no Engenheiro Coelho que abria só duas vagas pra Pedagogia. Aí tinha pra Letras, pra Letras eu até tinha passado, mas o meu foco mesmo era Pedagogia. Eu falei: “Então eu vou fazer na Maria Imaculado então, porque aí eu pago”. Aí eu paguei e comecei a fazer então Pedagogia, foi quando eu vi que foi a melhor escolha que eu tinha feito porque tudo aquilo que eu estava aprendendo teórico eu tava vivenciando na prática com as crianças no dia a dia respeitando a fase do desenvolvimento dela, respeitando-a integralmente, trazendo atividades pra desenvolvê-la. Além da coordenação motora, mas o pensamento crítico, ela saber se posicionar, a leitura, a escrita. Porque fora a gente tinha que dar um pouquinho de tudo, além da vertente artística a gente tinha que dar esse apoio na escola, questão de lógica, de raciocínio, da parte cognitiva. Então foi algo do tipo, eu falei: “Nossa, é isso que eu quero fazer. Vou fazendo daqui 20, 30 anos. É isso que eu quero fazer”. E agora eu estou com a experiência na educação não formal, mas eu quero ter experiência na educação formal. Eu faço estágio e estou tendo já uma experiência, mas eu quero ter, sabe? Dar aula na educação formal, na escola mesmo, mas não tem coisa melhor.
P/1 – Qual é a diferença, pensando na sua experiência no ICA, em sair, em ser aluna e virar educadora? Como é que foi essa mudança pra você e como é que é ser educadora?
R – Foi uma mudança pra mim muito boa, mas muito nova, muito desafiadora. Porque eu ia ter... Foi uma mudança muito boa, muito nova, mas com vários desafios, porque eu ia ter outra responsabilidade.
P/1 – Tá ótimo, viu? Não precisa se preocupar, não. Tá ótimo.
R – É? Então tá. A responsabilidade mudava muito, né? Como monitora e agora como educadora porque eu estava responsável por aquelas crianças, pelo desenvolvimento delas. Então foi algo que até me assustou, será que eu vou ser capaz? Será que eu vou conseguir? Aí já vem na cabeça, eu não quero ser tal professor. Eu sou uma pessoa muito brava, eu acho que nem é brava, hoje em dia eu já posso mudar, eu sou muito justa, muito séria, não sei, agora esqueci a palavra que estava na mente pra falar. Eu sou assim, eu gosto das coisas tudo muito certinho. Então quando eu vou explicar eu quero que todo mundo fica me olhando, prestando atenção. Hoje em dia já aprendi que às vezes vai ter um conversando, outro, mas eu gosto de coisas muito bem elaboradas pra não deixar as crianças soltas, com medo delas se machucarem. Então fiquei um pouco meio que assustada, com medo, tudo novo, aprender, mas fiquei muito feliz quando eu vi que eu consegui, que eu consegui ser e que eu me realizava em estar ali. Quando eu era pequena eu já falava que eu ia ser professora de matemática, porque é uma disciplina que eu gosto muito. Então quando eu fui pra educadora era um sonho já conquistado, de que eu já tinha sonhado em ser e que eu já estava realizando. Então foi muito importante de você conseguir, de você ver várias pessoas te ajudando, várias pessoas acreditando em você. Tinha coordenadora na época ótima, excelente, que me ajudou muito, deu-me muita formação, trouxe-me muitas coisas. E na escola também... E a faculdade só veio reforçar aquilo que eu queria pra minha vida e os meus professores também, porque graças a Deus os professores são maravilhosos, são professores muito bons. A gente precisa sonhar com um mundo melhor e se não tiver pessoas dispostas, professores, pra levar esse outro olhar em acreditar ainda na educação, acreditar no ser humano, na capacidade dele, que vai ser do mundo? Então é muito bom por isso, não tem coisa melhor. E aí eu gosto muito de falar com as minhas professoras. Eu vou, eu conto tal situação, como eu resolvi, aí ela já dá dica. O bom que aí a gente aprende a parte teórica, a gente aprende os autores que faziam do jeito que você faz, aí você fala: “Eu estou no caminho certo. Esse faz de tal forma, vou tentar desse agora”. Então, Paulo Freire, o Piaget, então é algo muito bom, que você vê que tipo muitos anos atrás pensava já, já aplicava nisso e hoje em dia a gente tem que trazer o que eles pesquisaram, o que eles escreveram, só que tentar acrescentar. Tentar fazer algo novo, tentar também colocar outras coisas, não só copiar, mas também dar o seu tom, você vê a sua didática, a maneira que você dá aula que talvez tal pessoa faz desse jeito. Ah, vou tentar desse jeito, mas vou mudar isso, vou mudar aquilo. Aí a gente vai compondo junto. Eu acho que muito, muito bom.
P/1 – Tem uma situação que você tenha vivido como educadora que tenha sido marcante pra você?
R – Tem várias. Tem várias situações que foram marcantes, mas uma situação que pra mim me marcou muito, tem uma aluna minha, Gabriela, do ano passado, estava em montagem de espetáculo, tudo, eles decorando texto, a gente o ano passado fez o espetáculo do Os Saltimbancos. Então é um espetáculo muito lúdico, nossa, muito legal porque as músicas também de Chico Buarque, a história dos saltimbancos é muito boa. E aí depois num dia terminando, a gente montando cenário, fazendo as coisas na correria, tudo aquilo, eu indo embora falando tchau pra eles, eles indo, aí uma aluna veio, deu um abraço, a Gabriela: “Professora, quando eu crescer eu quero ser que nem você”. Sabe? Aí não tem preço, você não está ali por valor, por dinheiro nenhum. São os pequenos detalhes que fazem a diferença, um sorriso deles, a felicidade no final do ano, o pai chegar e te agradecer, falar o que você fez pelo meu filho. O olhinho deles brilhando, eles chorando por tal situação, você conversando com eles. E agora eu tenho uma aluna minha, dois, três anos e você vê o quanto que ela cresceu, o quanto que ela desenvolveu e que você fez parte disso. Então é muito especial.
P/1 – Você quer fechar? Você estava falando do bom de ser educadora, da experiência em ser educadora.
R – Eu tava falando, né... Quanto está em silêncio...
P/2 – Você tinha acabado de contar a história da aluna, né?
P/1 – Você tinha concluído. É. Da Gabriela.
R – Aí eu falei que não tinha...
P/2 – Não tinha preço.
R – Que não tinha preço. Depois que você os vê dois, três anos e você vê que você contribuiu praquele desenvolvimento dele, não tem preço nenhum. Que bom que Deus me deu esse dom de poder passar isso, de poder contribuir, de poder ensinar. Porque é um dom você poder ensinar, você poder estar ali. Então eu só tenho a agradecer. Eu gosto muito.
P/1 – Eu vou encaminhar pro fechamento, só vou fechar uma coisa agora da sua vida pessoal. Então eu vou encaminhar pro encerramento, tem três perguntas finais, mas antes eu queria saber se durante a adolescência, juventude, nesse momento, nesse aspecto do lado afetivo, da vida afetiva, se você teve algum relacionamento importante, alguém mais significativo.
R – Relacionamento?
P/1 – É. Amoroso mesmo, na esfera amorosa. Alguém mais significativo, mais importante, que você gostaria de falar.
R – Na adolescência, é isso?
P/1 – É. Não precisa ser só na adolescência, mas assim na adolescência até o momento atual.
R – Então...
P/1 – Não?
R – É que faz cinco meses que eu separei, eu era noiva, mas não...
P/1 – Tá muito recente ainda então não quer falar.
R – É. Não.
P/1 – Não precisa falar. Não se preocupa.
R – Tá.
P/1 – Então eu vou encaminhar pro encerramento. Queria saber antes de fazer as duas perguntas finais de fechamento se tem alguma coisa que a gente não tenha perguntado que você gostaria de dizer. Qualquer coisa.
R – Eu lembrei um pouquinho mais da oração, não lembrei inteira ainda. “Senhor peregrino que me leve pro bom caminho, que me fez cruz na testa, que os anjos me guiem de dia e de noite. Amém”. Viu?
P/1 – Vai, de novo. Então vamos retomar da oração da sua bisa?
R – Uma oração que a minha bisavó me ensinou e eu lembro até hoje é a seguinte: “Senhor peregrino que me leve pro bom caminho, que me fez cruz na testa, que os anjos me guiem de dia e de noite. Amém”.
P/1 – É isso? Você quer contar um pouco da experiência do noivado? Mesmo?
R – Sim. Vou falar.
P/1 – Então se você quiser falar.
R – Bom, eu tive um relacionamento de quase seis anos, que foi uma pessoa também muito importante na minha vida, apesar de a gente não estar hoje juntos, mas foi uma pessoa que me apoiou muito na minha escolha, que me incentivava muito em ser professora, em estudar, em buscar coisas novas. Que foi bom pra mim, mas que hoje cada um seguiu sua vida, mas que foi uma pessoa que me apoiou muito nesse processo pra ser educadora, de profissão.
P/1 – Vocês se conheceram aqui no ICA?
R – Não. Não o conheci aqui no ICA, mas ele já veio no ICA, em apresentações, mas não o conheci aqui no ICA, não.
P/1 – Tá bom.
R – Eu queria falar da minha mãe, posso?
P/1 – Pode. Claro.
R – Bom, eu falei bastante coisa da minha mãe, mas eu acho que eu não falei o principal. É uma pessoa que eu admiro muito, apesar da gente ter tido nossas diferenças, de eu não ter sido criada com ela, uma pessoa muito trabalhadeira, uma pessoa que não tem tempo ruim. (emocionada) É uma pessoa fantástica, que eu vou lembrar muito dela e que apesar de tudo, tudo, tudo, eu amo muito, mas muito mesmo ela.
P/1 – Vocês moram juntas hoje?
R – Hoje em dia mora eu, minha mãe, meu irmão. Minha irmã amigou e eu tenho um sobrinho, então somos só nós três em casa.
P/1 – Queria que você contasse pra gente dessa experiência desse teste pro Criança Esperança. Como é que surgiu e como é que foi o processo, como é que você se sentiu?
R – Como na época eu era monitora de dança, tinha um professor, o Wellington Vitor, muito bom que tinha uma academia também. Então ele falou: “Denizia, você dança muito”. E aí tinha um amigo nosso também que fazia aula aqui no ICA, o Tiago Barbosa, falou: “Vamos. Vai ter o teste do Criança Esperança”. Olha, foi em 2007. Faz muito tempo. “Vai ter o teste do Criança Esperança, você não quer ir?”. E eu nunca tinha participado em teste nenhum. Fiquei meio de ir, falei: “Não, Wellington, aí, passar vergonha, não sei o que.” “Não. Vamos montar uma coreografia, a gente vai ensaiar...” e era individual esse teste “...nós iremos pelo menos pra participar”. Aí estamos nós lá participando do teste, eu, foi muito bom, dancei um hip hop na época, o teste foi individual. Não passamos, mas valeu por ter ido, conhecemos pessoas também que dançam, do ramo. Então foi um dia muito bom que eu lembro, que a gente dá risadas, que foi uma oportunidade boa.
P/1 – Onde que foi o teste?
R – Foi em Campinas. Eu não lembro o nome do local, mas eu lembro que foi em Campinas o teste. Porque eram várias fases, aí se passava da fase ia até eu acho que em São Paulo, mas a primeira fase era em Campinas. Tinha pessoas de tudo quanto é lugar, né? Foi muito bom esse dia.
P/1 – Você se lembra da apresentação, do teste, do momento da apresentação como é que você se sentiu, como é que foi?
R – Lembro. No teste entravam cinco pessoas por vez, entrei com umas pessoas que eu nunca tinha visto na vida ali. Eu fui a única que dancei hip hop, os outros dançaram ballet, jazz. Tinha um professor na sala, era uma sala com espelho, uma sala de dança. Aí tinha um professor, ia um por vez, colocava a música, dançava e depois que o grupo terminava ele falava algumas considerações e depois saía a classificação. Não falava ali na hora.
P/1 – E você lembra como é que você se sentiu?
R – Foi muito novo pra mim, senti-me um pouco tímida, mas depois na hora da coreografia já me inspirei porque era uma música de movimentos muito fortes do hip hop, tudo. Não lembro o nome da música, mas aí eu me soltei, fiz o movimento, dei o meu melhor ali na hora, mas eu já tava sabendo que eu não ia passar porque tinha pessoas muito boas que eu acho que dançavam a vida inteira, né? Mas valeu a experiência, valeu essa emoção, essa adrenalina de ir lá conhecer, ver como é que é, participar de um teste, esse nervosismo que dá, foi muito bom.
P/1 – Vou fazer as duas perguntas finais então agora pra gente encerrar. A primeira é quais são os seus sonhos.
R – Quais são os meus sonhos? Esses dias mesmo eu tava me perguntando isso daí. Porque até cinco meses atrás eu tinha outros, agora to renovando aí. Um é terminar...
P/1 – Retomar, quais são os seus sonhos?
R – Os meus sonhos até cinco meses atrás eram uns, agora são outros. Primeiramente é terminar minha faculdade, o ano que vem eu termino Pedagogia. O segundo seria comprar meu próprio imóvel. O terceiro é começar outra faculdade voltada mais pra parte artística, eu acho que eu vou fazer artes visuais, ainda não sei. Acho que só. Não sei se seria um sonho, mas eu, como posso dizer? Eu fazer tudo que me faça feliz, passear, conhecer lugares, fazer coisas pra minha mãe também, sair, divertir-me, fazer curso. Mas tudo voltado pra minha felicidade, pro meu desenvolvimento. E também ter uma carreira profissional estabilizada, sabe? Fazendo aquilo que eu gosto, dedicando-me a outras pessoas. Não ia falar, mas encontrar o príncipe encantado, né? Ter um lar feliz, encontrar uma pessoa boa, que uma possa contribuir pra outra. E é isso.
P/1 – Tá ótimo. E por fim como é que foi contar a sua história?
R – Contar a minha história? Contar minha história foi viver tudo de novo. Você vê tudo que você passou, que às vezes a gente não para pra pensar em tudo isso e perceber o quanto que eu vivi e o quanto ainda eu tenho pra viver ainda. Quantas coisas boas que eu vivi, quantas lembranças de pessoas muito especiais pra mim que contribuíram pra eu ser o que eu sou hoje, que foram fundamentais pro meu desenvolvimento, que foram fundamentais pra minha formação como cidadã. Acho que é isso.
P/1 – Tá ótimo. Obrigada então, Denizia. A gente encerra por aqui.
FINAL DA ENTREVISTARecolher