Professora Gracildes Melo Dantas, nasce 18 de junho de 1920, em uma cidade denominada Picos do Maranhão, localizada no interior, hoje é a cidade Colinas. O lugarejo não havia escolas públicas, apenas particulares. A localização era de difícil acesso e realizada através do rio que banhava a cidade, o “Itapicuru”. As famílias que tinham condições mandavam seus filhos para cidade vizinha, Caxias, onde havia escolas primárias e secundárias. Mas acontecia muito de faltar dinheiro e os jovens ter que voltar para casa sem terminar o estudo secundário.
Visto essa dificuldade, a população reuniu esforços e abriram uma escola, as pessoas que tinham mais conhecimento ajudavam a lecionar, transmitiam seus conhecimentos. Professora Gracildes lembrou de seu pai, ele contava, que quando pequeno deixou a escola muito cedo, aprendeu a ler, escrever e as quatro operações com professor que veio de São Luiz do Maranhão para a localidade trabalhar, ele explicava de forma muito clara, que os alunos aprendiam mesmo. Foi neste período que seu pai obteve conhecimento que serviu de base para o futuro. Ela também teve contato com esses saberes repassados pelas pessoas da região, sendo que o primeiro contato com números e letras foi em casa.
Quando chegou em Cuiabá por volta de 1934, frequentou o curso anexo a escola normal, era o 1º e 2º anexo, depois cursou quatro anos de formação na escola normal. Era a única escola de formação de professoras, não tinha curso superior na cidade de Cuiabá, os jovens que quisessem estudar curso superior, geralmente iam para o Rio de Janeiro. Assim que terminava o ensino primário de quatro anos, a próxima etapa a ser cumprida era prestar o exame admissional para o curso secundário. Lembrou-se de sua irmã Gracinda quatro anos mais nova, reclamando da quantidade de perguntas e da dificuldade da parte oral do exame. Ela conseguiu entrar para o curso anexo e frequentou durante um ano. Neste período ficavam morando...
Continuar leituraProfessora Gracildes Melo Dantas, nasce 18 de junho de 1920, em uma cidade denominada Picos do Maranhão, localizada no interior, hoje é a cidade Colinas. O lugarejo não havia escolas públicas, apenas particulares. A localização era de difícil acesso e realizada através do rio que banhava a cidade, o “Itapicuru”. As famílias que tinham condições mandavam seus filhos para cidade vizinha, Caxias, onde havia escolas primárias e secundárias. Mas acontecia muito de faltar dinheiro e os jovens ter que voltar para casa sem terminar o estudo secundário.
Visto essa dificuldade, a população reuniu esforços e abriram uma escola, as pessoas que tinham mais conhecimento ajudavam a lecionar, transmitiam seus conhecimentos. Professora Gracildes lembrou de seu pai, ele contava, que quando pequeno deixou a escola muito cedo, aprendeu a ler, escrever e as quatro operações com professor que veio de São Luiz do Maranhão para a localidade trabalhar, ele explicava de forma muito clara, que os alunos aprendiam mesmo. Foi neste período que seu pai obteve conhecimento que serviu de base para o futuro. Ela também teve contato com esses saberes repassados pelas pessoas da região, sendo que o primeiro contato com números e letras foi em casa.
Quando chegou em Cuiabá por volta de 1934, frequentou o curso anexo a escola normal, era o 1º e 2º anexo, depois cursou quatro anos de formação na escola normal. Era a única escola de formação de professoras, não tinha curso superior na cidade de Cuiabá, os jovens que quisessem estudar curso superior, geralmente iam para o Rio de Janeiro. Assim que terminava o ensino primário de quatro anos, a próxima etapa a ser cumprida era prestar o exame admissional para o curso secundário. Lembrou-se de sua irmã Gracinda quatro anos mais nova, reclamando da quantidade de perguntas e da dificuldade da parte oral do exame. Ela conseguiu entrar para o curso anexo e frequentou durante um ano. Neste período ficavam morando no colégio das Freiras e nas férias voltavam para Araguaiana na casa de seus pais, transcorrido este primeiro ano de estudo voltaram empolgadas para o interior, mas assim que chegaram tiveram que voltar para Cuiabá porque receberam um telegrama informando que o curso anexo tinha acabado e o estudo de sua irmã não valia mais nada tendo que estudar mais um ano para entrar no Liceu Cuiabano
O trajeto de Araguaiana até Cuiabá era uma estrada de quase 600 km, e quando a viagem era boa, durava em torno de sete dias. Faziam a primeira parte do percurso até localidade indígena de Sangradouro, a cavalo, de Sangradouro até Cuiabá de caminhão.
Por não se adaptarem a morar no sistema de internato no colégio das freiras, no qual tinha que levantar de madrugada para rezar, seu pai conseguiu que seu compadre as recebesse em sua casa. Mas passado algum tempo a mulher do compadre não quis que as meninas continuassem em sua residência, porque teve ciúmes do seu companheiro, ficando receosa de elas quisessem namorá-lo. Ele então as levou para casa de sua irmã, que as recebeu com carinho, no entanto o ambiente era de extrema pobreza, a casa não tinha luz, não tinha banheiro, não tinham muitos alimentos e lembrou-se bem de um espelho quebrado pendurado na parede, mas ficaram ali e não contaram nada para seus pais, para que não sofressem com a situação. Passados dois meses a senhora veio lhes informar que não podia mais sustentá-las ali. Choraram tentando achar uma solução, neste momento chegou uma moça e se inteirou do motivo pelo qual estavam lamuriando. A moça era filha do farmacêutico e professor Agostinho que ministrava aulas no ginásio Liceu Cuiabano e intercedeu para que seu pai ficasse com as duas meninas que estavam se esforçando para concluir os estudos na capital. Ele concordou em dar abrigo e elas ficaram muito contentes, a casa não tinha luxo, mas era um lugar seguro para morar, professora Gracildes ficou ali até se formar.
Ao lembrar da escola normal, as professoras que mais estimava lhe viam a mente, entre elas estavam professora Célia Nunes, Ana Leite e Tereza Lobo. Uma dessas professoras pediu para ela escrever uma carta para avaliar sua escrita assim que chegou na escola. Ela escreveu e a professora ficou admirada, essa boa escrita era herança dos estudos iniciados em Araguaiana, esta localidade era bem pequena e não havia outras diversões. As distrações giravam em torno de leitura de livros e ouvir seu pai contar histórias, com isso aumentou bastante seu vocabulário.
No período de estudo na escola normal se esforçou muito para sempre tirar o primeiro lugar todos os anos, porque anunciaram, que quem tirasse o primeiro lugar teria uma vaga de professora na capital. Sentiu-se vitoriosa quando saiu seu nome com nota em primeiro lugar no diário oficial, sua mãe e madrinha aconselharam esperar nomeação, porém esperou um ano após a formatura, como não houve nenhuma movimentação sobre o assunto, por parte dos dirigentes da escola normal, nem da secretaria de educação ou de alguma pessoa que pudesse intervir para cumprir a promessa anunciada, ela resolveu voltar para Araguaiana.
No entanto, ali não dava para ser professora porque tinha o colégio dos padres, conseguiu então, ser nomeada para a cidade de Barra do Garças, levou em sua companhia sua madrinha, que carinhosamente a chamava de Dindinha, esta não tinha formação na escola normal, mas tinha muita experiência com alfabetização na região de Araguaiana, começou como auxiliar na primeira turma de cinquenta estudantes, mas logo conseguiu ser nomeada também. E as crianças foram divididas, o 1º ano para Dindinha que tinha experiência em alfabetizar, professora Gracildes ficou com 2º, 3º, 4º e duas crianças para preparação para o exame de admissão. foi a primeira professora normalista de Barra do Garças. O chefe político da região cedeu uma casa para que elas organizassem a escola, lecionou ali por dois anos e meio.
Ao casar-se com José Martins Dantas foi nomeada professora primária, e, seu esposo guarda da escola de São Vicente, mas não chegaram a trabalhar no lugar. Ela e sua irmã casara-se com dois irmãos e, em uma visita para sua irmã na cidade de Cáceres, ficou morando na cidade por um ano, trabalhando em uma escola particular montada pelo coronel Cândido. Seu marido conseguiu emprego com melhor remuneração em Cuiabá, então vieram morar e construir a vida. Já instalada na capital, seu companheiro não quis que ela trabalhasse. Só voltou a lecionar mais de quatro anos depois quando seu marido faleceu em um acidente de avião. Essa situação a deixou muito aflita, pois ficou com dois filhos pequenos para criar.
Uma amiga ajudou a conseguir uma vaga de professora no Liceu Cuiabano. Foi até a referida escola para conversar com o diretor, senhor Gercy Jacob, e ficou sabendo que a professora Tereza Lobo iria se aposentar. O diretor mandou recado para que fosse conversar, pois assim que houvesse vacância, o cargo de professora seria dela.
Não demorou muito saiu a publicação, com a aposentadoria, conseguiu a turma da quinta série, porém não recebeu orientação por parte da escola sobre os procedimentos que deveria seguir, mas como a professora Tereza Lobo tinha sido sua professora na escola normal, foi até ela pedir ajuda para organizar os planejamentos e relatórios, em conformidade com o Liceu Cuiabano. Estava se adaptando ao local de trabalho, quando nos primeiros dias, recebeu as avaliações, sem saber o que fazer, passou uma tarefa para a classe e em sala começou a corrigir, o inspetor, que era o senhor Fenelon Muller, passou pela porta e perguntou o porquê de não estar dando aula e que o trabalho de correção deveria ser feito em outro momento.
Professora Gracildes participou de um centro espírita, no qual existia uma sala que estava inativada, por conta dos vários morcegos que tinha no local, e ela procurava um lugar que pudesse montar um curso de admissão. A sala foi cedida pelo presidente do centro, o senhor Praeiro. Mas o trabalho de afugentar os bichos ficou em suas mãos. Então, foi instruída a colocar urtiga, assim, quando voassem bateriam nas urtigas. Funcionou, logo a sala estava livre dos morcegos e pronta para receber os estudantes. Além de frequentar o centro espírita, ela atuou como uma das diretoras da Federação Espírita de Mato Grosso, contribuindo para ações desenvolvidas em várias frentes, uma delas era organização do “Lar Espírita Monteiro Lobato”.
O salário, ou, como chamavam, “vencimento” de professora era muito pouco para sustentar as despesas de casa sozinha. Mas a vida foi melhorando quando uma de suas irmãs e mãe vieram morar com ela. Sua irmã Gracilma estudou comercio e administrava o dinheiro. A parede da casa que moravam estava caindo, precisaram então fazer um empréstimo para a reforma e assim iam se equilibrando, quando terminava um empréstimo sempre precisavam recorrer a outro. Professora Gracildes morria de medo de dívidas e avaliou que se não fosse este receio, teria montado um bom colégio.
A escola de admissão funcionava manhã e a tarde lecionava no Liceu Cuiabano em turmas de quinta série. Ficou nestas duas jornadas de trabalho por cinco anos e quando surgiu o anúncio do concurso para INPS - Instituto Nacional de Previdência Social, um emprego federal, com salário muito melhor que de professora, resolveu arriscar e fazer as provas, lembrou que na época pensou assim: “com este salário, mais com que ganho como professora particular, eu vou para frente!” Com pesar teve que deixar as aulas no Liceu.
Trabalhou também no Ginásio Brasil, era uma escola particular, localizada na rua Joaquim Murtinho, número 269 e tinha como um dos donos o professor Antônio Cesário de Figueiredo Neto, ele que coordenava os estudantes e professores. A pedagogia aplicada era a “moda” dele, isso queria dizer que os professores podiam seguir do jeito que quisessem, mas sempre recebendo direcionamento. Ele entrava e assistia a aula dos professores para depois, ajustar o que diagnosticava o que pudesse melhorar. Professora Gracildes, lembrou-se, que a orientou a não correr com os conteúdos, pois ele preferia que fosse pouco conteúdo, mas bem ensinado. Ela não deu atenção e acelerou com a matéria, quando chegaram as provas apenas os cinco alunos inteligentes foram aprovados, a partir dali começou a dosar mais as lições. A turma mais avançada dessa escola era frequentada pelas filhas do professor Cesário Neto, e, nesta turma ele mesmo dava aula de português, mas assim que as garotas saíram da escola ele repassou a turma para ela, que ficou ministrando aulas de Português e História.
Professor Cesário Neto foi professor na escola Normal “Pedro Celestino” e professora Gracildes lembrou que ele tinha excelência no ensino de português, pois lembrava perfeitamente das explicações dadas no período em que foi sua aluna. Seu forte era a conjugação de verbos e ensinou que os verbos deter, manter, entreter era composto de ter e seguia a mesma conjugação.
Ela também enfrentou o desafio de trabalhar no ginásio com turmas noturnas, eram estudantes que não tinham oportunidade estudar e que estavam estudando o quarto ano para se juntarem a turma que estudavam para o exame de admissão, muitos eram ex-alunos que já tinham uns 20 anos e estudavam para conseguir emprego. Para os estudantes com mais idade, que não tinham a possibilidade de frequentar os quatro anos de primário no Liceu Cuiabano, o governo instituiu um exame, que dava a oportunidade de concluir os quatro anos do primário em um ano só, os que fossem considerados aptos poderiam entrar no segundo grau. No entanto, não era todos os estudantes que optavam por realizar o exame, muitos jovens, mesmo fora da idade de cursar o ensino primário, preferia cursar ano a ano, para depois fazer o exame admissional. Lembrou-se de um aluno chamado Omar, que com seus vinte anos, com idade que já deveria ter concluído o ensino secundário, ia para o Liceu Cuiabano com o uniforme vermelhinho, mas ele não se importava. Se dedicou aos estudos e fez o exame para escola de Direito, que era o primeiro e único curso superior que havia em Cuiabá, e, por fim tornou-se juiz da capital. O exame de admissão era feito para conseguir entrar nas escolas de ensino secundário e era realizado com provas escritas e orais, estas provas eram muito temidas pelos estudantes. Um dos avaliadores do exame de admissão era o professor Nilo Póvoas, este, tinha a fama de ser muito ranzinza e ficava muito bravo quando fazia as perguntas sobre personagens da história do Brasil e os estudantes não sabiam. Ele perguntava, e quando respondiam errado o nome de alguma personalidade, ele falava indignado: foi sua mãe viu! A turma toda não se continha e caiam na risada.
Professora Gracildes, suas irmãs e mãe gostavam de criar crianças, uma dessas crianças se chamava Wilson, que tinha muitas dificuldades de aprendizagem, mas que com muita dedicação conseguiu com que fosse aprovado no exame, cursasse o secundário e mais tarde formou-se em Letras, mesmo demorando muito mais que outros estudantes, ela conseguiu encaminhá-lo para a vida. Por este e outros motivos acreditava ser uma pessoa predestinada a lecionar porque era uma atividade que gostava muito de fazer e mesmo depois de se aposentar continuou dando aulas para pessoas que iriam prestar concurso, mesmo assim, só fazia orientação, pois não podia corrigir mais nada. Não conseguia mais dar aulas para turmas grandes por conta da sua perda de visão, sendo esta, uma das coisas que lamentou na velhice.
Mesmo com a visão prejudicada, tinha dois alunos para sua distração. Um deles andava desaparecido e de repente apareceu sem marcar, reclamando que tinha ficado de recuperação por dois décimos. Conversou com ele sobre a situação, que sabia que isso iria acontecer, porque nas aulas de reforço que ela o ensinava, estava sempre desatento, mas que iria ajudá-lo.
Senhora Gracildes apontou pontos fracos que observava sobre a educação, alunos que ela tinha contato, e que frequentavam a oitava série, não estavam completamente alfabetizados e que muitos pais permitiam que os filhos passassem de ano sem base. Sendo que o maior prejudicado seria o estudante que certamente encontraria dificuldades futuras. Enfatiza que corrigia muito seus alunos, principalmente na pronúncia das palavras que trocavam a letra “L” pela letra “R”, muito característicos do linguajar cuiabano, chamava isso, de “pequenos defeitos de pronúncia”. Mas reconhecia que estava cada vez mais difícil os pais acompanharem os estudos dos filhos, pois a maioria dos pais trabalhavam muito e não tinham conhecimento suficiente de fazer o acompanhamento da aprendizagem.
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