Olho para trás, no espelho do tempo, e vejo a imagem de uma garotinha de seis anos que foi pela primeira vez à pré-escola. Tudo era novo, grande e imensamente diferente. E ela, como pássaro solto, descobriu o universo escolar...
A imagem se desfaz, o espelho se quebra e o que vejo hoje é pal...Continuar leitura
Olho para trás, no espelho do tempo, e vejo a imagem de uma garotinha de seis anos que foi pela primeira vez à pré-escola. Tudo era novo, grande e imensamente diferente. E ela, como pássaro solto, descobriu o universo escolar...
A imagem se desfaz, o espelho se quebra e o que vejo hoje é palpável: um garotinho de seis anos, que já aos quatro meses, como pássaro precoce, arriscou pequenos voos fora do ninho para o universo escolar... Hoje ele vai para o primeiro ano; a nomenclatura mudou: mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, já dizia Camões. Mas o novo, grande e imensamente diferente ainda provoca sensações.
Acordei com um pensamento latente: levá-lo em seu primeiro dia de aula na escola grande. Mas como? Tenho que trabalhar! Lembrei da folga pendente e, curiosamente, às 8h00 da manhã recebi telefonema da coordenadora. Não hesitei: pedi a folga.
Quando soube que teria direito a esta folga, duas semanas atrás, fiquei pensando em como iria aproveitá-la: para passear, emendar um feriado, viajar... Então, neste turbilhão matinal de intuições maternas resolvi tirar Um Dia de Mãe. Foi a melhor escolha que eu poderia ter feito...
Meu pequeno Abner sorriu quando falei que iria levá-lo à escola. Sua ansiedade começou a transparecer e quase não almoçou. Fez até ânsias de vômito! Nosso almoço foi como um ponto de encontro: conversamos muito, como não fazíamos há muito. Não foram conversas, aliás, foram confissões, desabafos e eu pude ler a alma do meu filho...
Ás 13h00 levei-o até a porta de sua sala e ele, rapidamente entrou, meio assustado, meio contente. Não sei explicar. Só sei que pude sentir no ar que agora ele estava pertencendo a outro mundo, dando seu primeiro passo para a Formação.
Decidi que este dia tinha que ser diferente. Quando busquei meu caçulinha, o Gegê, passei no mercado e comprei um bolo de chocolate, do tipo de festa. Também comprei quatro velas daquelas estrela. Precisava marcar meu “dia de mãe que leva o filho no primeiro dia de aula do primeiro ano”!
Cheguei antes das 18h00 ao portão da escola e de repente o vi sair na porta. Um sorriso instantâneo se abriu e acenou para mim: “Oi Mãe”! Quantas emoções cabem nestes monossílabos...
Ele estava radiante, não sei se pela experiência nova ou se por eu estar ali à sua espera. Contou-me em detalhes seu dia.
Quando o pai chegou, anunciei a surpresa: um bolo para o Primeiro Dia!!! Foi uma festa. Cantamos Parabéns para escola e todos curtiram muito. Mais tarde, aconchegando o Abner em sua cama para o final do dia vi que ante o simples pensamento de que o Dia de Mãe havia acabado e que amanhã seria ele e a babá novamente fez o seu medo voltar. Ele me confessou baixinho que seu dia não foi tão legal assim e que tudo era muito diferente. Também baixinho, juntei os cacos do espelho e arrematei:
“Filho, isto sempre vai acontecer na sua vida: hoje a escola é nova, amanhã vai ser um emprego, uma faculdade e é natural se sentir perdido. Mas vai melhorar, você vai ver. A mamãe já passou por isto...”
Eu te amo.
Andreia Suli
04 de fevereiro de 2013Recolher