Pregão ganhando a noite
(Mauro Leal)
Zé Quintino, o pregoeiro aposentado,
diariamente lava discretamente umas loucinhas,
e pela janela como quem não quer nada
se diverte de segunda a segunda com os autênticos
acionistas na servidão:
É a corretora Lelita, desembaçando os óculos,
e se arrastando adernada pela dor causada pelo esporão
em direção ao espoletado e badalado saguão,
conduzindo debaixo do suado sovaco o encarte do Atacadão,
ora mastigando cana caiana, banana, naco de pão,
e engordurada e rígida perna de galinha, o enterro dos ossos.
É o figuraça do controlador Zé do frango,
assoviando para os passarinhos e com alçapão armado
para capturar as avezinhas que passam a vida feliz a cantar,
e da sacada do sobradinho a porteira Esmeraldina,
dona dum desengonçado poleiro, que quando não está
na tensão pré-menstrual, à flor da pele com o coração na goela
está feito uma taquara rachada, rodeando a frenética
conglomeração procurando oportunidade para passar a mão, afanar,
enquanto a zona de confronto, é assombrada pelos meninos
se enforcando, trolando, berrando, dando pitomba, pedalando,
chutando bola, pisoteando e rolando sobre o chorume, juntos com
os cachorros maconhados, defecando, urinando, rosnando e cruzando,
rolas e pombos, arrulhando em meios aos detritos
e de criptococose o ar contaminando,
e em rodamoinho: fumaças, poeiras, folhas
e restos de obra e de festa pelos quatro cantos se espalhando
e os empresários apinhados inconstantes e gabolas,
alguns atravessando o salão agarrados aos seus improvisados assentos
e outros acocorados, perseguindo e disputando a sombra para se refrescarem,
e também encasacados ao sol para se aquentarem,
remontarem cena da infância, jogarem conversa fora,
policiarem os comportamentos desviantes da vizinhança
proferirem palavras de baixo calão
e vez por outra trocarem farpas,
rasgarem a taioba, e se baterem com o martelo.
Xô melancolia na parte da...
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Pregão ganhando a noite
(Mauro Leal)
Zé Quintino, o pregoeiro aposentado,
diariamente lava discretamente umas loucinhas,
e pela janela como quem não quer nada
se diverte de segunda a segunda com os autênticos
acionistas na servidão:
É a corretora Lelita, desembaçando os óculos,
e se arrastando adernada pela dor causada pelo esporão
em direção ao espoletado e badalado saguão,
conduzindo debaixo do suado sovaco o encarte do Atacadão,
ora mastigando cana caiana, banana, naco de pão,
e engordurada e rígida perna de galinha, o enterro dos ossos.
É o figuraça do controlador Zé do frango,
assoviando para os passarinhos e com alçapão armado
para capturar as avezinhas que passam a vida feliz a cantar,
e da sacada do sobradinho a porteira Esmeraldina,
dona dum desengonçado poleiro, que quando não está
na tensão pré-menstrual, à flor da pele com o coração na goela
está feito uma taquara rachada, rodeando a frenética
conglomeração procurando oportunidade para passar a mão, afanar,
enquanto a zona de confronto, é assombrada pelos meninos
se enforcando, trolando, berrando, dando pitomba, pedalando,
chutando bola, pisoteando e rolando sobre o chorume, juntos com
os cachorros maconhados, defecando, urinando, rosnando e cruzando,
rolas e pombos, arrulhando em meios aos detritos
e de criptococose o ar contaminando,
e em rodamoinho: fumaças, poeiras, folhas
e restos de obra e de festa pelos quatro cantos se espalhando
e os empresários apinhados inconstantes e gabolas,
alguns atravessando o salão agarrados aos seus improvisados assentos
e outros acocorados, perseguindo e disputando a sombra para se refrescarem,
e também encasacados ao sol para se aquentarem,
remontarem cena da infância, jogarem conversa fora,
policiarem os comportamentos desviantes da vizinhança
proferirem palavras de baixo calão
e vez por outra trocarem farpas,
rasgarem a taioba, e se baterem com o martelo.
Xô melancolia na parte da via
de onde mais se vigia.
Sobretudo um espaço de negociação das surreais ações
que fortalecem os laços sociais.
Do amanhecer ao esquecer das horas,
sob o vento cortante ou sol escaldante
um imperdível espetáculo lúdico.
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