Meu nome é Laís, eu nasci em 1995. Só tenho a minha mãe, e ela trabalha em uma fábrica de materiais reciclados. Quando eu tinha onze meses de vida, minha mãe me deixou sob os cuidados da minha avó, e foi a minha avó quem me criou, por isso a nossa relação era de mãe e filha, e nós nos d...Continuar leitura
Meu nome é Laís, eu nasci em 1995. Só tenho a minha mãe, e ela trabalha em uma fábrica de materiais reciclados. Quando eu tinha onze meses de vida, minha mãe me deixou sob os cuidados da minha avó, e foi a minha avó quem me criou, por isso a nossa relação era de mãe e filha, e nós nos dávamos muito bem.
Quando minha mãe conseguiu um emprego e melhorou a situação dela – porque antes ela não tinha condições de me criar –, quis que eu fosse morar com ela, mas a minha avó já estava muito apegada a mim, então continuei com ela.
Quando eu tinha doze anos de idade, minha mãe quis que eu morasse com ela, e para que ela e a minha vó não brigassem, eu fui. Eu tenho duas irmãs mais novas, e a minha convivência com elas sempre foi muito boa. Acontece que, na época, a minha mãe estava com o pai da minha irmã mais nova, e nós não nos dávamos bem. Ele era muito implicante, brigava por besteiras. E como eu e a minha outra irmã não éramos filhas dele, o comportamento dele com a gente era diferente.
Esse meu padrasto me batia, também, quando eu era mais nova, e chegou a agredir a minha mãe. Hoje nós somos amigos, nos encontramos na rua, conversamos. Eu até o ajudo quando ele precisa de algo, não guardo mágoa de ninguém. Mas, na época, antes de a minha mãe se separar dele, eu ficava muito nervosa com tudo isso, sentia muita raiva. Por causa desse convívio conflituoso, pedi para voltar para a minha avó, porque nós nos dávamos bem, ela não me batia. A única coisa ruim lá era que ela não me deixava brincar com os brinquedos e, quando a minha prima nasceu, ficou com todos os brinquedos. Eu fiquei triste com isso.
Na escola, cheguei a sofrer bastante bullying, colocavam apelidos, nos tratavam com desdém, como se fossem melhores que todo mundo. Mas depois que eu mudei de escola, isso melhorou, o pessoal respeitava mais. A minha matéria preferida na escola sempre foi Português, e a minha maior dificuldade era a Matemática. Gosto muito de escrever poesias, escrevo até hoje.
Mas, morando novamente com a minha avó, conheci um rapaz que era colega do marido da minha avó, ia em casa de vez em quando. Ele bem mais velho do que eu; ele tinha 39 anos, e eu, apenas 14. Começamos a conversar e ele gostou de mim, e assim começamos a namorar. Por um tempo eu escondi isso da minha avó, saía com ele e dava desculpa que estava indo para outro lugar. Eu tinha um sentimento muito forte por ele; quando ele viajava, eu ficava muito mal, não conseguia nem comer, só chorar. Ele me dava muitas coisas de presente, tudo o que eu precisasse ele me dava: celular, roupa...
Depois, quando a minha mãe descobriu, os meus tios ficaram na cabeça dela, dizendo que ela não podia permitir esse relacionamento, porque ele era bem mais velho do que eu. Foi por isso que, com 14 anos, voltei a morar com a minha mãe.
Eu gostava dele, chorava de saudade, mas hoje em dia eu vejo que não teria sido bom pra mim. Ele era muito mais velho, já tinha dois filhos, até. Além disso, não queria que eu estudasse, falava que não queria uma mulher para ficar estudando. Era ciumento e... Muitas vezes eu não o queria, mas ele ficava falando: “Você tem alguém, já aconteceu”, e eu me sentia muito mal com isso. Teve um período que a gente até se afastou, porque ele descobriu uma coisa... Tenho vergonha de falar... Ele descobriu que eu conversava com uma menina, pelo celular, estava interessada nessa menina.
O meu contato com o ViraVida aconteceu por causa de uma amiga da minha mãe, que trabalhava lá. Eu fui fazer as entrevistas, mas tinha tanta gente, que eu achei que eu não iria conseguir passar. Mas passei, fui selecionada, e fiquei tão grata, que fui até a igreja que frequento para agradecer. Porque depois que a minha avó faleceu – faz apenas cinco meses –, voltei a frequentar a Igreja Batista, com a minha mãe, que é evangélica. Me deu saudade de ouvir uma palavra de consolo, então voltei, e até fui cantar no coral.
Mas o ViraVida foi a mão de Deus na minha vida, foi uma oportunidade única. Aqui, encontrei amizades em que eu posso confiar, com que converso, escuto, ajudo. Nos outros lugares, antes daqui, sempre me senti excluída: “Ah, você é tímida demais, é muito parada”. Hoje eu me superei. Por exemplo, quando teve o evento do dia do Combate ao Abuso e Exploração Sexual, no dezoito de maio, eu fui convidada para ser cerimonialista. Eu estava com muita vergonha, mas deu tudo certo. Inclusive, nesse evento, declamei uma poesia.
Depois do falecimento da minha avó, fiquei um tempo sem escrever, voltei apenas agora, e a minha inspiração, pra falar a verde, era essa pessoa com quem eu tinha uma relação à distância. Esse relacionamento não deu certo, mas me inspirou. Gosto de escrever poemas sobre amor, felicidade, autoestima, e me inspiro nas leituras de Fernando Pessoa, Machado de Assis, William Shakespeare.
Hoje faço atividades com as crianças da igreja, é o que me dá alegria. Espero, ainda, fazer um curso técnico de Administração e, posteriormente, faculdade de Psicologia, porque gosto de conversar com as pessoas, entende-las, dar conselhos, ajuda-las. Também sonho em publicar o meu livro de poesias e ver a minha mãe e as minhas estabilizadas, felizes.
"Nesta entrevista foram utilizados nomes fantasia para preservar a integridade da imagem dos entrevistados. A entrevista na íntegra bem como a identidade dos entrevistados tem veiculação restrita e qualquer uso deve respeitar a confidencialidade destas informações."Recolher