P1 – Boa tarde Dr. Carlos Alberto. Primeiro, eu quero agradecer sua presença aqui na nossa entrevista para o projeto Memória em Aracruz. Eu vou pedir primeiro para o Senhor falar o seu nome completo, local e data de nascimento, por favor.
R – Boa tarde. Meu nome é Carlos Alberto Vie...Continuar leitura
P1 – Boa tarde Dr. Carlos Alberto. Primeiro, eu quero agradecer sua presença aqui na nossa entrevista para o projeto Memória em Aracruz. Eu vou pedir primeiro para o Senhor falar o seu nome completo, local e data de nascimento, por favor.
R – Boa tarde. Meu nome é Carlos Alberto Vieira, eu nasci em Minas Gerais em Uberlândia mas vivi e fui criado em Campinas, estado de São Paulo, de onde a família do meu pai se origina. A família de minha mãe era de Minas Gerais. Estudei no Colégio Culto à Ciência em Campinas que é um colégio famoso e até hoje respeitado. Continuei meus estudos até que, num determinado momento, achei que deveria prestar concurso para o Banco do Brasil e suspendi os meus estudos enquanto fui começar o trabalho de bancário no Banco do Brasil. Em seguida resolvi voltar à escola e então me dediquei ao estudo de Economia tendo me formado na Universidade Católica de São Paulo e feito algumas pós-graduações na Fundação Getúlio Vargas. Eu fiquei no Banco do Brasil até 1961, 62 por aí, depois sai do Banco do Brasil, quer dizer, mesmo no Banco do Brasil fui morar em Brasília um pouquinho antes da inauguração de Brasília, onde fiquei uns três anos, vim para o Rio de Janeiro onde assumi a presidência do Banco do Estado da Guanabara, naquele tempo, hoje é o BANERJ, onde fiquei por cinco anos como presidente na época do Negrão de Lima, governador. Eu acho que fui bastante feliz naquela empreitada, em seguida voltei ao Banco do Brasil depois de cinco anos de mandato na presidência do BEG, fui ao Banco do Brasil e fiquei cinco anos dirigindo o Banco do Brasil em Nova York. De lá eu sai e fui convidado a assumir a presidência do Banco Safra onde já estou há 32 anos, no Banco Safra. É claro que durante essa vida toda, além dessas atividades assumi outras atividades sendo conselheiro, membro de diretorias de inúmeras outras empresas mas, a minha vocação e profissão sempre foram de banqueiro e então, até hoje, eu continuo trabalhando em banco. Então, essa é minha profissão e vocação.
P1 – Quando foi a primeira vez que o Senhor teve contato com a Aracruz Celulose?
R – A Aracruz Celulose me traz de volta à época em que eu dirigia o Banco do Estado. Foi quando ela começou a dar os primeiros passos. Eu tinha um grande amigo, ainda tenho, um grande amigo que na ocasião foi diretor financeiro da Aracruz, o Hernâni Gouveia, que foi ministro e foi presidente do Banco Central. Já naquela época ele dava as boas notícias desse novo projeto que começava a se fixar no Espírito Santo. Simplesmente por admiração e por vislumbrar projeto de muito futuro eu me lembro daquela data, mas só foi a mais ou menos há 12 anos, quando a Aracruz estava numa transição, porque ela foi controlada parcialmente pelo BNDES, Grupo Lorensen e Souza Cruz, Companhia Souza Cruz. Foi então que o BNDES resolveu vender a participação que tinha de majoritário e controlador para o setor privado para que através do setor privado, e só o setor privado, essa empresa pudesse se alavancar e ter maior crescimento. Foi então que mais uma vez conversando com o ministro Gouveia, que conhecia de perto essa atividade, essa indústria, eu levei para o meu grupo e tentei despertar o interesse por essa modalidade industrial. Embora a vocação do meu grupo fosse toda financeira, uma atração, que eu poderia dizer semi financeira, foi exercida sobre a nossa cultura. É que apesar de ser uma indústria ela é uma indústria que exporta 96% do que produz, assim sendo, ela gera dólares e gerando dólares ela se constitui numa autodefesa contra a desvalorização dos Reais. Como se fosse uma operação de ETE, como se fala na linguagem financeira. E foi daí então, que houve um leilão promovido pelo BNDES e nós demos o lance vencedor. Através dessa operação capitaneada pelo BNDES a figuração que ia ter a Aracruz foi de três sócios igualmente possuidores de igual número de ações de controle, ordinárias e 10% nas mãos do BNDES dessas ações ordinárias. Então, o desenho foi que houvesse 30, 30, 30 e 10%, formando os 100% dessas ações ordinárias para controlar a companhia. Como nós compramos, nós ficamos com 30%, a Souza Cruz já era acionista, ficou com os outros 30 e Lorensen, que era um dos pioneiros, ficou com os outros trinta. E de lá para cá, através de um acordo entre os acionistas a vida da companhia tem se desenvolvido dentro de uma maior harmonia, dentro de uma sistemática organizacional muito bem plantada, eu diria que é exemplar a forma de condução e administração da Aracruz, que emprega técnicos e pessoas especializadas na indústria e técnica de produzir celulose. Enfim, não sujeito às intervenções de caráter político ou de interesses outros que não a própria indústria. E de lá para cá a empresa tem experimentado várias melhorias, alguns degraus de crescimento, de desenvolvimento e de evolução tem sido alcançados pela Aracruz. Logo depois que a gente adquiriu a parte ela cresceu de uma produção de mais ou menos 800.000 toneladas para 1.200.000 toneladas. Nessa fase, a Anglo América que era a Souza Cruz, perdão, a British Tobacco, que era Souza Cruz resolveu vender para Anglo América, então, os sócios tiveram uma pequena modificação de nomenclatura, porém a mesma sistemática de administração. Ficou então sendo: Safra, Lorensen e Anglo América. Desse processo a companhia começou a investir ainda mais no projeto de crescimento da produção. Ela, então, conseguiu alcançar de 1.200.000 a 2.000.000 de toneladas já tendo a Anglo América como sócia. Nessa etapa, foi que a Anglo América pouco depois de alcançar essa expansão, a Anglo América resolveu sair dos negócios de celulose e vendeu a posição para a Votorantim, que é um grupo brasileiro. Hoje, nós diríamos que, todos os controladores da Aracruz são brasileiros. Anteriormente sempre havia um parceiro que não era brasileiro. Foi a Anglo América, foi a British Tabaco, porém agora é a Votorantin. Então, os sócios são: Votorantim, Safra e Lorensen, mas o progresso e a cultura de alcançar cada vez maior produtividade e uma posição de destaque no mercado mundial continuou vigendo dentro da empresa. E assim foi que nós desenvolvemos uma nova associação. Desta vez é Aracruz, sócia da Torensos, através da aquisição de um projeto que participava também a Old Breeches que vendeu a posição e então em sociedade com as Torensos, que é uma empresa finlandesa, nós estamos já implantando uma nova fábrica com quase 1.000.000 de toneladas de produção. Nesse intervalo, enquanto nós estamos implantando essa nova unidade de produção, é claro que nós estamos continuando a plantar eucalipto em quantidade suficiente para atender a sede matéria prima dessas indústria. Na transição nós adquirimos também do grupo Klabin a Riocell que também acrescentou mais 400.000 toneladas a produção de Aracruz. Essa aquisição de deu
uns oito meses, nós já estamos absorvendo totalmente essa empresa que adquirimos que ela estava em muito boa situação. Por uma razão estratégica foi que Klabin teve que se desfazer dela, porém graças a qualidade da administração que a gente herdou, foi de assimilação facílima a Riocell que é em Porto Alegre, dentro dos padrões que é de Aracruz. Há mais ou menos um mês nós fomos ao sul da Bahia para lançar a pedra fundamental dessa nova fábrica que se chama Veracel, onde somos sócios da Stora Enso então, somando todas essas fontes de produção o grupo Aracruz vai dominar mais ou menos a produção de 2.400.000 toneladas de celulose.
P1 – Dr. Carlos Alberto, o Senhor lembra exatamente a data, o ano do leilão através do qual o Banco Safra comprou esse percentual da Aracruz?
R – Eu acho que foi 88. Não tenho muita certeza, mas isso pode ser conferido. Eu gostaria só de salientar que durante esses 12 anos que nós estamos parceiros da Aracruz aprendemos muito em termos de técnica de comércio internacional especialmente de um produto nobre como é a celulose; aprendemos também que no Brasil a qualidade de administração de empresa da qualidade da Aracruz é excepcional; convivemos e continuamos a convivendo com homens de estilos e qualidades excepcionais; administradores de vocação pura e que colocam acima de tudo o interesse da companhia, a produtividade, ganhos de qualidade, tudo que se possa imaginar em termos de propósitos benéficos para o empreendimento. Além da parte industrial que eu salientei, que sempre foi conduzida por técnicos de altíssima qualidade, de reputação acima de qualquer disputa ou qualquer discussão, nós também tivemos na parte de floresta a melhor assistência que poderíamos desejar, quer dizer, os formadores de floresta, os administradores, os silvicultores que se especializam nessa função dentro da Aracruz, criaram espécies especiais, desenvolveram uma espécie de clone que hoje é o forte da empresa, onde ela consegue produzir qualidades e quantidades de formas incomparáveis ou de difícil competição no mercado onde ela atua. Então, eu poderia só para arrematar, dizer que se constitui motivo de grande orgulho, de grande satisfação nós fazermos parte deste grupo que é a Aracruz.
P1 – Posso fazer mais uma pergunta?
R – Pois não.
P1 – O Senhor conheceu a Aracruz, digamos assim, nos seus tempos heróicos?
R – Eu conheci, mas não de dentro. Eu conheci porque eu tinha amigos que, ou trabalhavam lá dentro, como eu citei o Hernâni Gouveia, alguns outros que estavam lá dentro, lutavam para que a companhia vencesse os obstáculos e fosse bem sucedida como conseguiu ser. Então, eu sempre acompanhei e tive a maior simpatia por esse projeto até o momento em que nós, digamos assim, já condicionados por essa boa impressão que a gente mantinha, fomos vencedores no leilão, quer dizer, pagamos um preço acima do que o leilão oferecia, tanto é que arrematamos e não nos arrependemos. Nós somos hoje muito felizes com esse tipo de investimento, diversificado como eu disse, porque a nossa cultura genuína é financeira, mas nesse negócio em especial nós diversificamos mas não nos arrependemos, pelo contrário, temos grande prazer em manter essa diversidade de investimento na nossa carteira, cuidando dela como o maior zelo, certos de que ela já deu e vai dar ainda muitos frutos e resultados futuros para o grupo Safra.
P1 - Qual é o papel que o Senhor entende que a Aracruz desempenha na economia, no processo econômico da história do Brasil mais recente?
R – A Aracruz hoje é uma das maiores do mundo em unidades de produção de celulose. Ela representa tecnologia avançada, produtividade acima da média de qualquer procedência. Então, ela coloca o Brasil na vanguarda de produtos agroindustriais, que é onde ela se classifica, e ela tem nível de competitividade e de produtividade superior ao dos países desenvolvidos, que é onde ela compete. Além do mais, exportando 95% do que produz ela é uma grande geradora de divisas. Ela gera dólares para a nossa balança de pagamento. Então eu diria que ela é uma empresa de vanguarda de grande interesse nacional porque ao mesmo tempo em que ela pratica insumos nacionais, mão de obra nacional e cultivo de florestas nacionais, ela transforma tudo isso em dólares e beneficia largamente a nossa balança de pagamentos. Ela é tão importante e respeitada que ela tem as suas ações, além de negociadas aqui na Bolsa de Valores, ela tem as ações dela negociadas na bolsa de Nova York através de ADRs e um grupo de poucas empresas como a Vale do Rio Doce. E poucas outras do Brasil tem essa situação privilegiada de poder participar desses mercados de capitais fora do Brasil, como no caso é o mercado de Nova York.
P1 – Antes de eu fazer o encaminhamento da pergunta final eu queria saber se o Senhor quer falar mais alguma coisa sobre a Aracruz ou sobre a relação Banco Safra /Aracruz?
R – Bem, eu vou dizer alguma coisa com relação ao sentimento que a gente tem com a Aracruz, quer dizer, embora sejamos profissionais do trabalho e das finanças, no fundo são os humanos que constroem essas máquinas de produzir dinheiro e de triturar madeira para transformar em celulose. É claro que no meio desse tumulto de se trabalhar, de se produzir e de se ganhar, as pessoas começam a aparecer e a gente começa a ver as feições das pessoas atrás dessas organizações e eu diria que atrás da organização Aracruz aparece logo uma imagem que é a do Sr. Lorensen, que foi o pioneiro indiscutível dessa atividade aqui no Brasil. Inspirado que ele foi por alguns amigos que ele tinha aqui no Brasil, ele que era imigrante, principalmente inspirado pelo Eliezer Batista, que era grande amigo dele, ele deu curso a esse projeto, lutou com grande dificuldade para obter os financiamentos e foi conseguindo e foi juntando recursos, recursos humanos e foi fazendo uma grande empresa que hoje é a Aracruz. Eu também gostaria de salientar que durante esses 12 anos em que nós fazemos parte, eu faço parte também do conselho de administração da Aracruz, eu tive oportunidade de conviver com luminares de administração, de técnica empresarial e de administração e eu gostaria, digamos assim, de nomear um símbolo que é o Carlos Aguiar, que sintetiza o espírito dos antigos diretores e ex funcionários da Aracruz como pessoas de personalidade irreparável, de qualidades excepcionais. São vencedores e querem colocar a companhia cada vez mais numa posição de maior rentabilidade e de maior destaque. O Carlos Aguiar merece incorporar toda essa homenagem porque ele sabe como distribuir internamente, porque ele é um líder e ele conhece todo o passado, o presente e vai conhecer o futuro da Aracruz . Então eu peço a ele que não seja só o objeto dessa minha homenagem, mas que ele transmita em todas as esferas, que ele conhece muito melhor do que nós, essa homenagem que o Banco Safra presta a essa organização que constitui um orgulho para nós sócios e também para o Brasil.
P1 – Finalmente Dr. Carlos Alberto o que o Senhor achou de ter participado dessa entrevista para o projeto Memória em Aracruz?
R – Eu achei uma entrevista muito construtiva, de grande valia não só sob o aspecto empresarial como também patriótico, porque essas entrevistas se mostradas ao público poderão mostrar que uma iniciativa, às vezes humilde, consegue triunfar e se transformar em um grande negócio, em uma grande organização que não só produz
riqueza interna como externa, também produz empregos em grande quantidade e propicia às famílias dos funcionários que ajudam a Aracruz, que hoje já estão se aproximando de seis mil, uma vida melhor, bem estar e a maior certeza de que estarão com seus futuros assegurados.
P1 – Muito obrigada Dr. Carlos Alberto Vieira.Recolher