P - Então Ednaldo, para a gente começar, eu queria que você dissesse o seu nome completo, local e data de nascimento. R - Stella, o meu nome é Ednaldo Novaes Rebouças, nasci no dia 11 do 10 de 1966. P - E onde você nasceu? R - Eu nasci no município de interior da Bahia, chamado Itiruçu....Continuar leitura
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Então Ednaldo, para a gente começar, eu queria que você dissesse o seu nome completo, local e data de nascimento.
R - Stella, o meu nome é Ednaldo Novaes Rebouças, nasci no dia 11 do 10 de 1966.
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E onde você nasceu?
R - Eu nasci no município de interior da Bahia, chamado Itiruçu.
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Certo. E você, na verdade, hoje mora em?
R - Eu moro em Aracaju, faço parte da Filial Bahia e faço sede em Aracaju, Sergipe.
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E você veio para Aracaju para trabalhar no Aché, não? Como é que foi essa...
R - Não, eu estava... Eu morava em Salvador, quando teve oportunidade, eu vim para Aracaju com esse objetivo; trabalhar no Aché. Já fui contratado na Bahia para fazer sede e trabalhar em Sergipe.
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E antes de entrar no Aché, você já tinha trabalhado na indústria farmacêutica?
R - Não, não, foi a primeira oportunidade, primeiro contato e amor à primeira vista.
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E você trabalhava em que área?
R - A minha área é Contabilidade, eu sou formado em Contabilidade, trabalhava em Salvador nessa área encontrei oportunidade de conhecer e vim para Aracaju trabalhar no Aché.
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E por que você decidiu ir assim, sair da sua área e entrar no Aché, quais eram as razões?
R - Stella, veja só, na época que eu estava, que eu vim para Aracaju, Salvador, morava lá, eu estava desempregado e morava com o pessoal lá, dividia um apartamento em Salvador que, uma das meninas que morava comigo, é irmã de um representante que trabalha no Aché e ele sempre ia lá, contato com a gente, falava com a gente, até que ele disse: “Ednaldo, por que você não vai lá na filial e faz uma entrevista lá? Uma coisa que você, aparentemente, se identifica.” Eu achei até um pouco estranho, não tinha noção do que era isso. Eu falei: “Está bom. De repente, a gente descobre talento, descobre aptidões que a gente desconhece, que está oculto entre a gente. Eu acho que vou lá tentar. Quem sabe, eu me identifico.” E estou até hoje.
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Mas aí, você estava então, você fez essa seleção aonde?
R - Em Salvador.
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Em Salvador.
R - Na filial, exatamente. Justamente há 11 anos atrás praticamente.
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Como foi a prova de seleção?
R - Olha, muitíssimo concorrida, viu? E hoje ainda é mais extremamente concorrida. Naquela época, eu fiz, eu estava concorrendo com, mais ou menos, oito ou nove colegas, não lembro exatamente, mais ou menos esse número. E eu sei que desses ficaram dois. Tinha três vagas, duas para a capital, na Bahia, Salvador e tinha essa vaga para Sergipe. Então, o meu gerente durante o procedimento normal, ele perguntou: “Tem uma vaga disponível para Sergipe, alguém se habilita a ir?” Eu falei: “Eu me candidato a ir.” “Você conhece Sergipe?” Falei: “Não, sou do interior, talvez para fazer, trabalhar no interior de Sergipe, talvez a coisa de interior me identifico mais.” Aí, justamente, disse: “Está bom, você está sendo candidato. O processo é eliminatório, você sabe disso e a vaga é para Sergipe, você está habilitado, então boa sorte.” E normalmente fiz o processo de seleção. E o curso prosseguiu com aquela, obviamente, aquela expectativa, ansiedade, que é normal, né? A gente fica tanto quanto preocupado, mas graças a Deus, foi tudo bem e vim para Sergipe trabalhar no interior.
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E aquela história do carro, como era? Tinha que ter um pré-requisito para entrar, era ter um carro, conta para a gente essa história.
R - Isso era um requisito indispensável, né? Até 11 anos atrás, a companhia não dava carro, você tinha que ter um carro. E nessa época, o carro passava até pela vistoria, você tinha que apresentar o carro para saber se o carro estava apto a trabalhar, para viajar, porque numa capital é diferente, né? É pista, coisa mais fácil, então muitos carros, talvez fica mais fácil trabalhando. Mas, era para o interior e esse tempo atrás aí, a estrada é muito esburacada, sabe? Pior do que é hoje, obviamente. Então, o carro passava na vistoria para ver se estava apto a viajar, para não causar transtorno para a companhia. De repente, eu ligo da estrada: “Olha, o carro quebrou, estou aqui sem poder prosseguir o trabalho.” Então, tudo isso é transtorno, é gasto, é dificuldades. E nessa época, quando eu fiz a entrevista, a primeira coisa que o meu gerente comentou foi o seguinte: “Você tem carro?” Me calei por alguns segundos e disse: “Sim, eu tenho um carro.” Aí, perguntou o carro, qual o modelo, o ano, tal. Eu disse: “Eu tenho um Fusca, 1980, está em perfeito estado.” Ele disse: “O carro está aqui com você?” Eu falei: “Não, esse carro está lá no interior da Bahia porque esse carro é meu e de meu irmão. Está fazendo serviço de chaparia, tal, uma coisa que precisa fazer.” Disse: “Rapaz, esse negócio não está certo, carro seu e de seu irmão, de repente você está precisando do carro, o seu irmão está precisando também.” Eu falei: “Não, mas eu já entrei em contato com ele, disse que qualquer oportunidade que tiver, qualquer necessidade, eu posso pegar o carro.” E aí deu-se o processo seletivo, tal e o gerente sempre perguntou: “E o seu carro?” Eu falei: “Não, o carro está ótimo, já liguei para lá ontem, o carro está lá na oficina. Daqui uns dois, três dias, está saindo.” E o curso, na época, era 15 dias. Então, no final do curso, ele disse: “Ednaldo, você tem 48 horas para providenciar essa documentação e trazer o carro para aqui, para a gente fazer uma vistoria. Pronto, você está aprovado, sucesso, boa sorte. Traga o carro aqui, dentro de 48 horas.” Aí, eu me mandei lá para o interior da Bahia, para a minha cidade, muito embora eu nasci em Itiruçu, mas morei muito anos em Jaboaquara, fica no Norte da Bahia. E quando eu cheguei lá... Só que, na verdade, eu não tinha comunicado o meu irmão desse carro, ele não sabia de nada. Eu sabia que ele tinha um carro, então fui nessa esperança, falei: “É agora ou nunca.” Eu cheguei lá, contei para o meu irmão a situação, que estava fazendo parte de seleção, já fui contratado, que eu tinha que apresentar o carro. Ele disse: “Infelizmente, o carro que eu tinha, eu vendi, tem mais ou menos 15 dias.” Eu fiquei paralisado, fiquei desesperado, não sabia o que fazer. Eu assumi o compromisso com a companhia, depositaram confiança em mim, tal, que eu tinha que apresentar esse carro e o tempo passando. Aí, providenciei documentação toda, que eles pediram e o tempo passando, eu ficando cada vez mais preocupado. Eu falei: “Poxa, a minha situação é essa, me ajuda, não sei o quê...” “Mas eu não posso.” E o meu irmão, ele é paralítico, ele é deficiente e disse: “O único carro que eu tinha, eu vendi, eu estou aqui de pé, você sabe que eu não posso andar a pé.” Eu fiquei desesperado, eu contei a situação toda para ele, tal. “O que eu posso fazer por você?” Aí, ele comprou um Fusca, me lembro até hoje, um Fusca 1980, cor verde e ele até comprou um valor maior do que ele tinha vendido o anterior. Só que eu contei até a situação para o dono do carro, que era uma oportunidade muito boa para mim, ele facilitou o complemento para mim ficar pagando mensalmente. Eu tinha carteira, dirigia, mas não tinha muita habilidade em dirigir. Aí, vim para Salvador com esse carro, só quem trouxe foi um colega meu porque eu fiquei preocupado em dirigir em BR, tal, fiquei preocupado. Aí, apresentei o carro a filial, ao meu chefe de treinamento. O carro era em perfeito estado, muito bonito, conservado, que ele disse: “Não precisa nem fazer vistoria.” Olhou motor, tal, o carro em perfeito estado.
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Um Fusquinha.
R - Um Fusquinha.
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Que cor?
R - Cor verde, ano 1980, muito bonito. Eu tratava ele como se fosse um amigo mesmo, cuidava muito bem dele. E apresentei o carro. “Pronto, está tudo bem, você já está contratado, amanhã compareça aqui à nossa filial às 7:00, que nós vamos de carro até Sergipe.” Eu não tinha nem noção onde era Sergipe. Sabia que era um Estado, tinha no mapa, não tinha noção, que distância. E nesse percurso aconteceu um episódio interessante. Como eu peguei o carro para viajar, então de Aracaju... De Salvador para Aracaju fui eu que estava conduzindo o veículo. Na estrada estava um pouco chuvosa, chovendo leve, uma garoa assim, que estava empatando a minha visibilidade. E tem um trecho desse percurso, que existe uma contra-mão, uma bifurcação, né? Só que eu vinha conversando com ele e ele... Eu não prestei atenção, passei direto na contra-mão. Nisso, vinha dois veículos de lá para cá, um caminhão e um ônibus e dando sinal para mim. Eu sem entender nada: “Poxa, esse cara está maluco, não está me vendo aqui, o que está acontecendo?” Eu fiquei desesperado no volante. A minha salvação, porque acho que ele achou que “aquele cara é doido, não sei o que está acontecendo.” Ele abriu um pouquinho para o lado esquerdo e eu passei no acostamento da contra-mão ainda e ele do outro lado, na mão única, no sentido obrigatório, me passou um caminhão buzinando, como se tivesse me despertando que eu estava na contra-mão. E essa contra-mão era, mais ou menos, acredito que uns 100 metros numa ponte assim. Aí, quando eu tive noção do que estava acontecendo e nisso, o meu colega, ele acordou, estava assim, meio dormindo, acordou, disse: “Você está na contra-mão, cuidado” Eu tentei segurar o volante assim, para passar aquele perigo. Aí, parei no acostamento assim, respirei com ele, o alívio, por ter salvado uma situação daquela porque eu ia, praticamente, não sei se falta de intenção, eu não conhecia o trânsito. Mas uma coisa também que me chamou, me marcou bastante. Todas as vezes que eu passo nessa estrada, eu lembro desse episódio. Aí, vim para Aracaju, fui apresentado ao meu supervisor e pronto, me deu o roteiro, aquela coisa toda de material para trabalhar e fui trabalhar com ele.
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Você começou a trabalhar no setor de viagens?
R - Exato, justamente a vaga era para o setor de viagem, interior e norte da Bahia. Comecei atuar, eu trabalhei, acredito que uns quatro anos, fazendo todo o interior de Sergipe mais uma parte do norte da Bahia.
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Aí você ficou craque no seu Fusquinha?
R - Ah, nossa Aí, dominei totalmente, né? É aquela coisa de prática, né? E aí pronto, fiquei um motorista exemplar. Eu fiquei trabalhando no interior, depois tive a oportunidade de voltar para a capital, fazendo a periferia e...
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Ednaldo, você lembra do seu primeiro dia de trabalho como foi?
R - Ah, sem dúvida, marca muito, onde todo mundo tem uma história para contar o primeiro dia, né? Sem falar naquele episódio óbvio que é a literatura, que parece um leque, uma coisa normal de todo mundo. Não tem segurança, de modo que você estudou. Eram 15 dias de curso e você estudou, você se preparou, mas era uma coisa óbvia. Você de frente com o médico, você ficava nervoso, você ficava... Estava inseguro, então a literatura, às vezes, o pessoal até tomava para dar sequência. Mas, isso é coisa de tempo, a gente foi dominando e foi se identificando. Mas teve um fato interessante foi a minha primeira propaganda. Eu fui visitar um médico na cidade de Maruim no Sergipe, interior do Sergipe, e esse meu supervisor é um cara assim, bem comediante, sabe? Brincalhão, me identifiquei muito com ele. A princípio, devo ter pensado: “O que eu vou encontrar lá, com o meu supervisor?” Mas foi um cara que me ajudou muito e não está mais com a gente hoje, mas ele é muito brincalhão. E eu me lembro do doutor Casimiro, na cidade de Maruim no interior de Sergipe, ele disse para mim: “Ednaldo, esse médico é albino. Você se aproxima bastante dele, com a literatura bem próxima a ele porque ele não enxerga direito.” Aí, bati na porta, me ensinou o procedimento qual era, bati na porta: “Dá licença, doutor.” Quando eu olhei, tinha um médico bem escuro. Para mim, aquilo foi um choque. Fechei a porta lentamente e fiquei sem ação: “O que eu ia fazer?” Ele disse que o médico era albino, quando eu chego lá o médico totalmente de cor diferente. Eu voltei, entrei para o lugar errado, consultório não é esse não, esse não é albino. Aí, ele me empurrou à sala dele, ele tinha uma boa afinidade com o médico, empurrou e começamos a prosseguir o trabalho, mesmo assim, trêmulo, nervoso, né? Mas, ele me deixou bastante a vontade, o médico, também. Todo mundo dando risada, sem entender por quê, mas foi a brincadeira que ele fez comigo, mas que me deixou tanto quanto embaraçado naquela circunstância.
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Aí, já quebrou o gelo...
R - Ah, com certeza, quebrou o gelo e a partir daí já começou trabalhar sozinho e fui tocando, fui me identificando, fui adquirindo cada vez mais aptidão para isso, graças a Deus.
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E nessas viagens que você fez, quando você estava no setor de viagem, quais que eram as diferenças de característica de uma região para outra, enfim?
R - Olha, Stella, onde eu comecei a trabalhar no interior do Sergipe, não sei se todo interior é assim, mas existe uma característica diferente da capital, que hoje eu convivo e sei diferenciar. O pessoal, o médico de interior é um médico mais hospitaleiro, até mesmo pelas circunstâncias, o médico de capital, talvez, ele... O dia dele é mais atarefado, é muita coisa, tal, a concorrência também é maior, então o médico de interior deixa a gente mais a vontade e muito mais receptivo. Eu convivi com ele durante quatro, cinco anos, trabalhando no interior. Foi uma experiência assim, incrível e desde que eu convivi no interior, têm algumas situações também interessante, engraçada, sabe? Logo quando eu entrei também, eu estava junto com o meu supervisor e foi o primeiro contato... Meu contato a essa cidade. Foi na cidade de Itabaiana, interior do Sergipe. Eu fazendo propaganda normal, já estava mais seguro, já era a terceira, quarta semana que eu estava trabalhando, já me sentia mais à vontade, mais seguro de passar a mensagem para o médico. Eu me deparei com o médico, inclusive o meu supervisor do lado, me dando maior força e tal. Me deparei...
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Só um minutinho.
R - Fica à vontade.
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Então, Ednaldo, você estava contando o caso de Itabaiana, eu vou pedir para você repetir essa história.
R - Eu estava com o meu supervisor, encontrei no consultório, como eu estava contando anteriormente, já tinha uma certa segurança com o trabalho e tal, já me sentia mais seguro. E fomos visitar um médico, mas foi o primeiro contato meu com esse médico em Itabaiana, interior do Sergipe. E o médico, ele era um pouco fechado aparentemente, mas muito extrovertido. E nessa época existia as quatro divisões do Aché que era Parke-Davis, Prodome, Novoterápica e Aché. O Aché era o que eu trabalhava. Nós trabalhamos com a fichinha de bolso, onde tinha os dados médicos, alguns comentários, endereço do médico e, no verso dessa ficha, tinha alguns dados para serem sempre alterados. Por exemplo, o hobby do médico, produtos de uso familiar, se alguma família do médico usava algum produto nosso, para a gente ser solícito, né? E beneficiar o médico. E depois que fizemos a propaganda, eu peguei a ficha, olhei, tinha o hobby do médico desatualizado, estava em branco. Eu, normalmente, estava atualizando as fichas de endereço, tudo, perguntei: “Doutor, qual é o seu hobby?” Não conhecia o perfil do médico direito, ele olhou para mim assim: “Não sei.” Botou o dedo assim, falou assim: “Você me respeite, eu não uso hobby, eu uso pijama.” Estela, essa situação me deixou assim, extremamente embaraçado, perdi mesmo... Se tivesse um buraco aí, eu entrava. Eu não sabia como me comportar mesmo ali. E o meu supervisor do lado morrendo de dar risada e eu sem entender por quê. “Eu fiz alguma pergunta errada, na hora errada, o que eu fiz?” Eu fiquei irritado, eu fiquei nervoso, eu fiquei preocupado: “Poxa, que mancada eu dei.” Eu perguntei o hobby do médico, ele me disse que não usava hobby, usava pijama. (risos) Aí, contei ao meu supervisor, bateu nas minhas costas, disse: “Fica à vontade, ele é assim mesmo. Está brincando com você.” Me pediu desculpa, me deixou mais a vontade e falou que foi uma brincadeira. Aí, falou qual era o hobby dele. Aí, eu preenchi a ficha, já estava um pouco mais calmo, agradeci e tal. E nisso, eu tirei proveito disso porque nas visitas seguintes, que era uma missão, quando eu voltei para ele, ele me identificou na segunda visita e disse logo: “Olhe, eu não uso hobby, eu uso pijama, viu?” (risos) Mas aquilo marcou.
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Ficou.
R - Ficou marcado. E toda vez que eu ia visitar ele, falava, a primeira coisa que ele falava era o seguinte: “Eu não uso hobby, eu uso pijama.” E isso criou uma afinidade entre eu e ele, toda vez a gente comentava sobre isso, tal. E a gente acabou também tirando proveito da situação, né? Criou uma afinidade por causa desse episódio que aconteceu. Então, foi uma coisa bem marcante que aconteceu comigo, que eu me senti numa situação extremamente embaraçosa mesmo.
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Então, para a gente... Assim, você tem mais um caso para contar, que eu gostaria que você contasse, depois a gente continua, já é outro assunto. Eu queria que você contasse aquele caso que você falou do rio, que o rio encheu, como é que foi essa história, aonde foi?
R - Nessa época, Stella, a gente trabalhava sempre em dupla, viajava sempre com um colega, não viajava sozinho. Cada um com o seu carro, mas sempre viajava. Constantemente, acontecia assim, três colegas viajar, mas a questão talvez de um roteiro, tal, sempre acontecia. Mas eu estava com um colega. E na cidade aqui de Conde na Bahia, uma cidade de litoral até existe um rio chamado Rio Itapicuru. A gente chegava em Conde, visitava os médicos e teria que se deslocar... Tem uma vila, mais ou menos, uns três quilômetros, e quando eu cheguei na cidade estava época de chuva, época de inverno e o rio estava muito cheio. E a ponte que atravessava da cidade de Conde para a vila estava praticamente submersa. Você tinha visibilidade da ponte, dá para ver as madeiras, a ponte de madeira, só para pedestres, não tinha passagem de carro, não tinha ponte. E ele disse: “Poxa, nós temos que visitar o médico.” E aí? Só que não dava para passar calçado porque ia molhar o sapato, molhar a meia, tudo, entendeu? Dava para você... Dava para ver a ponte, mas a água estava em cima da ponte. “Certo, então vamos tirar o sapato, vamos andando.” “Rapaz, nós não vamos.” Eu tirei o sapato, arregacei a calça, botei os sapatos nos dedos, a pasta do lado, e vamos andando.
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E levou a pasta?
R - Levei a pasta, normal, né? E a ponte era pequena. Às vezes, se passar duas pessoas assim, um tinha que retroceder um pouquinho para dar passagem para outra. Atravessando a ponte, a ponte é mais ou menos uns 100 metros. Chegando do outro lado da ponte, o colega disse: “Vamos calçar?” Eu disse: “Não, não vou calçar não.” Eu vou lá para o médico mostrar a ele que dificuldade que nós tivemos para chegar até aqui e que não medimos dificuldade para chegar até o consultório dele. Então, vamos lá, normal, descalço, lá tinha calçamento nessa vila. E, mais ou menos, acredito que mais, um quilômetro a gente teve que andar. Andei descalço, para mostrar ao médico que tinha o interesse de visitar, que nós tínhamos um objetivo para aquilo. E, na verdade, não foi nem para tirar proveito da situação, né? Então, a gente trazia para o nosso objetivo que era o receituário. Então, eu fiz até um pouco de chantagem com ele, até eu disse: “Doutor” Quando ele me viu assim, de tênis na mão, sapato na mão, eu disse: “Doutor, olha a minha situação, está vendo? Que dificuldade nós tivemos para chegar até aqui para visitar o senhor, para trazer informação para o senhor, para sermos importante para o senhor.” E ele começou a dar risada. “Rapaz, sente aí.” “Não, estou a vontade, doutor. Mas eu vim fazer questão de vim aqui descalço, você sabe que a ponte está praticamente submersa, mas não medimos dificuldade, estamos aqui, visitando o senhor.” E fiz a propaganda normal, descalço. Ele: “Não vai calçar o seu sapato, não?” “Não, eu vou terminar a propaganda, depois da propaganda, do trabalho, do dever cumprido, eu calço o sapato.” E retornei. Só que eu sabia que na entrada da vila normalmente, na saída, eu tinha que calçar o sapato... Tirar o sapato novamente, mas eu fiz aquilo para mostrar para ele. Calcei, quando chegou no início da ponte, eu tirei o sapato, atravessei a ponte novamente, cheguei na cidade. Aí quando eu peguei o carro, dei sequência ao meu trabalho. E em outra oportunidade também nessa época de chuva, como encheu muito o rio, eu cheguei nessa cidade, no início não dava nem para passar.
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Em outra cidade?
R - Nessa cidade de Conde mesmo. Então, a gente voltou sem visitar os médicos porque, praticamente, foi um temporal muito, sabe? E alagou muito a coisa e não tinha nem como passar de carro. Então, foi uma coisa assim, bem... Nós tivemos que voltar sem visitar o médico. Não tinha nem como tirar o sapato, nada. Só se passar de barco, né? Aí não tinha recurso e gente voltou.
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E tem algum outro lugar que você tenha que usar um meio de transporte diferente para ir, que não o carro?
R - Não, Stella, não me recordo, mas sempre de carro, sempre acesso de carro. Já aconteceu da gente, quando aconteceu isso, em Conde, teve que passar andando... Ah, tem um episódio também que aconteceu, que tinha que andar bastante porque depois que eu passei a trabalhar em Aracaju, na periferia, a gente visitava uma cidade que fica do outro lado do Rio Sergipe, que é chamado Bairro dos Coqueiros, que é o interior do Sergipe também, né? Só que tem a travessia de balsa e não ia carro, tinha que atravessar de balsa. E quando cheguei lá, tinha que andar... Eram três quilômetros, um quilômetro e meio para ir, tanto para voltar. A gente ia andando porque o carro não ia até lá, entendeu? Deixava o carro do outro lado da cidade, atravessava de balsa, andava três quilômetros, visitava o médico e voltava.
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E Ednaldo, em relação a produtos, tem algum produto que tenha te marcado mais?
R - Com certeza, tem.
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Qual que é?
R - Eu tive a oportunidade de lançar vários produtos, como Deprozol, Novatrex, produtos que eu lancei que não teve sucesso, foi retirado de mercado, foi descontinuado. Mas um produto que eu me identifico bastante, que eu gosto, que eu abraço, que eu visto a camisa é o Biofenac. Eu lancei várias apresentações dele, então quando houve essa mudança recentemente, de produtos, de linha, eu fiquei: “Poxa, eu vou perder...” Mas graças a Deus, eu fiquei com o Biofenac, um produto que eu gosto muito de trabalhar, me identifico bastante. E quando a gente chega para o médico, depois de tanto tempo, você trabalha com médico durante 11 anos, quer dizer recentemente tem mais pouco tempo com os novos médicos da capital, mas o médico já olha para mim com cara de Biofenac, né, depois de tanto tempo de convívio com esse produto, identifica-se bastante. Então, esse produto para mim seria um produto assim, chave, que eu me identifico e visto a camisa dele.
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E por que você acha que teve essa identificação?
R - Não sei. Foi uma simpatia, uma coisa assim, à primeira vista. Acho o produto, eu achei que um produto fácil de trabalhar, mecanismo de ação. Enfim, a parte de fisiologia, anatomia, me identifiquei bastante. Todo tempo do produto houve mudanças de produtos, passaram para outra linhas, o Biofenac continuou comigo, então eu criei essa afinidade com esse produto. E, hoje, me identifico muito, gosto muito e defendo esse produto. Hoje, para mim, é como se fosse produto chave e não é à toa que é um dos produtos principais do Aché, de um modo geral, é um dos produtos de ponta, de representatividade.
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O que mudou ao longo dos anos, desde de 1991 quando você entrou até hoje dentro do Aché?
R - Ah, muita coisa. Nossa, e como é brusca a mudança, em termos de filosofia de trabalho, tratamento, de treinamento. Enfim, é mais uma questão natural, tem que adaptando, tem que mudar mesmo, né? As empresas que não mudaram, eu acho que ficou lá atrás e parou no tempo. Só o Aché tem o processo evolutivo de mudanças, coisa muito benéfica. Quando eu entrei praticamente, 11 anos, ninguém pensava nessa hipótese, nem se cogitava hipótese de um dia a empresa mobilizar todo mundo, dar carro para todo mundo. Então aconteceu isso para a gente, há curto prazo, porque existia há, mais ou menos, uns sete, oito anos atrás, existe um projeto chamado Aché 2002, que era um projeto assim, audacioso, que ia motorizar todo mundo, dar carro. Nossa, há curto prazo até, uma coisa que chamou atenção, já começou. Primeiro foi carro para trabalho em dupla, dois representantes de linhas diferentes no mesmo carro, priorizava o setor de viagem, que é um setor mais puxado, mais extenso e depois foi, aos poucos, gradativamente, motorizando todo mundo, do interior, cidade mais próxima, capital. Você entra no Aché hoje, praticamente você está com veículo na mão. Então, uma mudança muito radical, fora outras coisas, que o Aché cresceu de forma assim, mais esplêndida mesmo. Mas a mudança é muito grande. Hoje, trabalha com mais segurança. Eu me lembro que, todo ano que eu entrava de férias, a gente não sabia se voltava no próximo ano, se voltava ou se estava empregado. Existe uma instabilidade muito grande e hoje não, graças a Deus, a gente sabe que a situação é outra. Existe até um ditado, a gente visitava alguma farmácia, algum médico, porque é uma rotatividade muito grande representante na época. O médico falava assim: “Que o produto que mais vale no Aché é o representante.” Porque, nossa, era impressionante, cada visita, um representante diferente. E hoje as pessoas que entram no Aché, a visão é outra e a gente abraça a causa mesmo. Têm pessoas aí que tem 20, 20 e poucos anos, 18 anos no Aché. Propostas vieram muitas de outras casas, mas particularmente eu, que tive muitas, mas eu não me deixei pela proposta tentadora porque nunca me senti satisfeito, gosto do que eu faço, me identifico, tenho aptidão para isso. Então, estou aí até hoje, pretendo passar mais, quem sabe 30, 40 anos no Aché.
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Pediria para você contar como é o seu dia de rotina?
R - Stella, eu não diria nem dia de rotina. Para mim, cada dia é um dia diferente. Eu me preocupo com as minhas obrigações do dia, para mim cada dia é um dia novo, um dia diferente, nunca a mesma coisa, a gente convive com pessoas, desde pacientes, atendentes, aos médicos. Então, é sempre uma novidade o dia-a-dia, né? Até as propagandas nossas não é a mesma. Você faz a propaganda com o médico aqui, a primeira propaganda do dia, lá para a décima oitava, décima nona, final da tarde, já é diferente, entendeu? Você faz de acordo com o perfil do médico, com as características do médico, você se sente à vontade. Enfim, então você muda muito, embora não fuja tanto do cronograma, que a empresa pede o que realmente é viável. Mas, cada médico tem um perfil diferente. Então, você consegue se adaptar. Então, por isso que eu acho que não se torna rotina, eu não me acho uma rotina e eu tenho prazer de acordar segunda-feira para trabalhar. Para mim, sexta-feira é como se fosse segunda. Não tenho essa preocupação: “Ah, que bom que já é sexta-feira. Ah, que horrível, já vai chegar segunda.” Não, para mim, tanto faz sexta como segunda, a disposição...
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Será que essa coisa de acordar, de arrumar a mala, ver se as literaturas estão lá...
R - É gostoso isso, é gostoso. Com certeza tem, você tem que preparar. Na segunda-feira por exemplo, você vai começar a trabalhar em contato com o campo é bom que você vá preparado com a sua pastinha arrumada, pois você ganha mais tempo com isso. Então, eu procuro sempre, nos intervalos de um médico para outro, ir repondo a pasta. Mas, quando chega no final da tarde, eu sempre arrumo a minha pasta, no dia seguinte está pronta. Não precisa chegar para o médico já arrumando a pasta, ou às vezes, ficar ali improvisando. Eu sempre deixo arrumadinho porque facilita o meu trabalho, a gente ganha tempo com isso e é gostoso, está sempre organizado. A gente só tem a ganhar com isso.
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Está jóia.
R - É muito gostoso, muito...
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Você tem assim, tem alguma característica que você acha que seja mais forte do Aché? Qual é a principal característica do Aché?
R - Hoje, no Aché? Estela, são várias, viu? Diria que existe várias características do Aché. Hoje, o Aché é uma empresa extremamente nacional, muito bem conceituada, uma empresa de grande respaldo, de grande credibilidade e isso até lá fora. É óbvio que a gente de forma bem transparente, a gente chega no médico e vê a receptividade que os médicos têm com a gente, o funcionário do Aché, o representante. Tem um carisma. Então é uma credibilidade, um respaldo. Isso ao longo da sua história foi fazendo o seu nome, né? E hoje, a empresa é exemplar, uma empresa de grande porte e eu acredito que a grande característica da empresa, do Aché hoje, essa empresa está sempre renovando, essa ousadia no bom sentido de estar sempre buscando melhores condições de trabalho, sempre valorizando o funcionário. Hoje, é uma empresa que realmente valoriza muito o funcionário, não com o sentido de braço e perna, mas sabe que o funcionário hoje tem cabeça, tem coração. Enfim, é uma empresa muito voltada para isso, para as questões do social também, que é uma grande característica do Aché hoje, voltado para a questão social. É uma empresa muito fantástica. Eu tenho muito orgulho de fazer parte dessa companhia.
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E o que você acha desse projeto do Aché estar contando a sua história?
R - Estela, eu desconhecia. Tive oportunidade de estar aqui em Recife, fazendo esse curso, esse treinamento e foi passado isso para a gente, teria essa equipe fazendo, resgatando um pouco da história de cada filial, né? Eu acho muito interessante, muito bonito, louvável, parabenizo essa grande idéia e é bom resgatar um pouquinho da história de cada filial, as características de cada região, né? Você fazia tipo um documentário, eu acho muito interessante isso. Muito louvável.
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Está jóia. Você gostaria de deixar mais um registro no final, a gente já está encerrando. Fica à vontade.
R - Stella, a princípio, eu agradeço a oportunidade de estar aqui conhecendo essa filial co-irmã, que é a Filial Nordeste, eu faço parte da Filial Bahia, e essa oportunidade de estar aqui e... Hoje, estou representando a Filial Bahia porque eu acho que vocês não vão ter oportunidade de chegar. Gostaria muito... Aliás, muitos gostariam que vocês fossem até a nossa filial para conhecer e também pegar um pouco da história de cada um, pessoas que têm mais tempo no campo do que eu, pessoas que têm lá 18, 19 anos e que tem muita história para contar. Mas, infelizmente, não vai ser possível. Então, para mim, eu me sinto muito lisonjeado, muito orgulhoso de estar aqui, representando a Filial Bahia. Para mim é uma honra e eu espero que outras oportunidades também virão e que outras filiais também participem desse projeto.
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Está jóia, Ednaldo, eu queria agradecer, muito obrigada.
R - Eu que agradeço a vocês. Obrigado.Recolher