Projeto Instituto Camargo Corrêa
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Jose Milton Gerônimo Barbosa
Entrevistado por Fernanda Prado
Mogeiro, 19 de maio de 2011
Código: ICC_HV40
Transcrito por: Rosângela Maria Nunes Henriques
Revisado por Jordana de Oliveira Pradal
P/1 – Milton,...Continuar leitura
Projeto Instituto Camargo Corrêa
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Jose Milton Gerônimo Barbosa
Entrevistado por Fernanda Prado
Mogeiro, 19 de maio de 2011
Código: ICC_HV40
Transcrito por: Rosângela Maria Nunes Henriques
Revisado por Jordana de Oliveira Pradal
P/1 – Milton, queria que você começasse falando para gente o seu nome completo, a data e o lugar onde você nasceu.
R – Está bem! Meu nome é José Milton Gerônimo Barbosa, nasci no dia 21 de março de 1979, na cidade de Mogeiro, aqui mesmo.
P/1 – E o nome dos seus pais?
R – O nome da minha mãe é Josefa Ferreira Barbosa, e o nome do meu pai que é falecido; faleceu em 1992, José Gerônimo Filho, Irmão.
P/1 – E qual que é a atividade de seus pais?
R – Bom! Meu pai enquanto vivo ele era mecânico, um pouco eclético, ele mexia com tudo, era pedreiro, mecânico, agricultor, desenhava, pintava, era um pouco de tudo. E minha mãe que é viva, graças a Deus, ela é doméstica aposentada, também trabalhou na agricultura.
P/1 – E na agricultura eles plantavam o quê? Trabalhavam com o quê?
R – É que nossa região aqui é muito produtiva, a maioria dos agricultores costumam plantar milho, feijão, amendoim, que por sinal a gente sabia que era uma região muito fértil na produção de amendoim, mas então descobrimos que é a primeira, primeiríssima na região nordeste, em produção de amendoim e fava.
P/1 – E você tem irmãos, Milton?
R – Tenho sete irmãos, são três homens e quatro mulheres.
P/1 – E você está onde nessa escadinha?
R – Ah sim! Eu sou o quarto, tem o Josinaldo que tem 40 anos, Maria José que tem 37, Maria das Neves que tem 36, eu que tenho 30, vou fazer 31; tem Alexsandro que é 29, aí vem Márcia que tem 25, e Maria Aparecida 27 e só, encerra.
P/1 – Certo! E como que era a sua casa de infância aqui em Mogeiro?
R – Aqui hoje em dia, a gente observando, fazendo uma comparação com os outros tempos de antigamente, estamos vivendo... A maioria do pessoal vive bem melhor se comparado ao passado;
era bem humilde, nós éramos pessoas bem humildes mesmo! Sabe o que é humilde? De chegar e procurar alguma coisa para comer e não encontrar? Porque apesar da terra produzir, só que a gente depende do quê? Do tempo né, para produzir. Graças a Deus, o inverno está bem melhor, mas a gente já teve período de inverno bem seco mesmo, de não conseguir lucrar, de não fazer a colheita perfeita, direita, então o pessoal que sobrevive disso se prejudica, sofre.
P/1 – E como era a casa? Como
era com sete irmãos?
R – Vixe Maria! Bom, assim, os mais velhos foram para o Rio de Janeiro onde eles estão agora, foram bem cedo, aí ficaram os mais novos que no caso , sou eu, meu irmão e minhas outras duas irmãs, que são caçulas. A gente ficou. Foi justamente nessa época que eles foram, que aconteceu a morte do meu pai, então minha mãe teve que “se virar” com a casa, dar conta, levar a gente para o roçado, pra poder colher e sobreviver.
P/1 – E porque eles foram para o Rio?
R – Justamente para conseguir uma vida melhor, e poder de lá mandar algo para cá, como eles ainda fazem, mesmo minha mãe aposentada e eu trabalhando, eles ainda mandam .São casados, se casaram lá, fizeram suas famílias. Eles ainda continuam mandando, não mandam muito, mas ajudam para a gente poder sobreviver, porque foi muito difícil mesmo.
P/1 – E quais eram suas brincadeiras favoritas? Do que vocês gostavam de brincar?
R – Com certeza não tem como esquecer ainda não. Hoje desse tamanho eu ainda brinco. A gente brincava de “pique-esconde”; de se esconder mesmo! De “polícia-ladrão”; “barra-bandeira”; a “brincadeira do anel”. Brincava também na água; lá a gente brincava de “estou no poço”, que era uma brincadeira muito interessante. Juntava aquela turma de meninas, a gente de dentro da água pegava uma pedra, dizia uma frase que eu me recordo, que era assim: “Galinha gorda, gorda ela, cadê o sal? Está na panela, vamos ver quem goza ela?” que no caso a pedra que era a “galinha”, e aí jogava a pedra para trás, [vup] ; e a gente mergulhava e tentava encontrar aquela pedra. Era uma brincadeira muito boa. “Toca-ajuda”; “toca-gelo”;“toca-cor”; deixa eu ver mais, a gente brincava de “bola de gude”; “pião”; e o que mais? “Passarai”; “boquinha de forno”; e outras e outras e outras... que era uma coisa muito boa, que a gente não vê hoje mais as crianças brincando.
Tivemos um projeto na escola , que foi resgatando as cantigas. Quando a gente chegou aqui para fazer esse trabalho, eles não sabiam cantar nenhuma! Eu canto uma cantiga, quem lembra? Quem sabe cantar? Um só levantou a mãozinha, “Eu sei tio”. E eu: “Canta!” . Ele cantou: “atirei o pau no gato”; a famosa! Mas foi a única que saiu. Então, a gente fez um trabalho resgatando as cantigas de roda. Hoje em dia todo mundo canta.
P/1 – Que legal! E qual a primeira lembrança que você tem da escola?
R – Da escola? Logo de início eu não fui para a escola, minha mãe me matriculou na creche, que não deixa de ser uma escola né? Acho que foi lá que eu desenvolvi, eu puxo, acho que uma veia de meu pai. Que é uma veia de desenhar, como eu sei desenhar! Eu gosto muito de desenhar e pintar , e acho que puxei dele, foi lá que eu desenvolvi realmente essa habilidade da pintura e desenho na creche, então eu me recordo muito bem. E hoje em dia as “tias” que cuidavam da gente quando éramos pequenininhos, estão vivas, e agradeço muito a elas pela lembrança muito boa que tenho; eu cantava muito, brincava, pintava, adorava pintar.
P/1 – E se lembra o que é que
sentiu quando você foi pela primeira vez?
R – Acho que eu tinha quatro, cinco anos, eu fui muito feliz porque lá tinha um parquinho, eu lembro que tinha um parquinho! Tinha muito brinquedo, uma calçada bem alta, tinha uma gangorra que dava direto à árvore, eu lembro que subi nessa gangorra e fui lá até a árvore, fiquei pendurado na galha,
fiquei muito feliz! Não tive remorso não, não chorei,
isso eu lembro; não chorei.
P/1 – Como é que foi depois da creche para a escolinha? Era longe da sua casa?
R – Não, como é cidade pequena tudo é perto, tudo é bem próximo um do outro, então quando eu completei cinco, seis anos... aí tive que sair, porque chega uma certa idade que sai da creche, acho que foi com cinco anos, justamente. Aí com seis, minha mãe me matriculou na escola, que é chamada hoje “Maria das Dores Chagas”, bem pertinho da minha casa, atravessou a rua já está na escola, então como eu já tinha esse entrosamento da creche, de lá fui direto para a escola.
A turminha que entrou comigo na creche também foi direto para a escola, então não teve um estranhamento, não teve muito dificuldade em me adaptar não.
P/1 – E o que é que você se lembra da escola com carinho?
R – Da escola, sem dúvida eu lembro do “Maria da Dores Chagas”. Estudei do pré, chamava prezinho nessa época, até a quarta série, e de lá eu tenho muitas lembranças, tenho boas lembranças. Lembro das professoras, lembro também da merenda que tinha uma sopinha, que era uma sopinha escura, que chamava “sopinha de conchinha”, hoje em dia a gente comenta com a galera, com o pessoal que estudava, rapaz! Aquela sopinha de conchinha que não tem mais, o pessoal não lembra mais.Era muito difícil, porque na época as escolas não tinham os utensílios para servir,
eu me lembro; como a gente era muito humilde,
lembro que eu levava uma “baciinha” de doce, e eu comia a merenda nela, o copo para tomar água, era um copo de geléia,
era muito difícil mesmo! Me lembro que eu chorava às vezes, porque sempre têm aqueles alunos que possuem mais condições, eu pedia a minha mãe, e não entendia o porquê; criança não entende! “Mãe, compra uma bolsa para mim, compra uma bolsa para poder levar o material?”. Ela: “Não posso”, porque se fosse comprar uma bolsa ia faltar para alimentação também. Aí eu lembro que eu levava meu material numa sacola da bolacha “3 de maio”. Hoje em dia ainda existe essa bolacha. Quando eu a vejo, olho para ela e me recordo na hora, vem logo a lembrança, [eta]! Levei meus cadernos nessa bolsinha, os lápis eram guardados numa caixa de retrós de linha, era muito bom, era muito bom mesmo! Apesar das dificuldades, eu agradeço muito o método, porque com o passar do tempo, tudo vai mudando, mas eu agradeço muito pelo método o qual fui estimulado a aprender, porque se eu sou assim hoje, eu agradeço as raízes que foram criadas lá no início. Boas lembranças eu tenho da escola “Maria das Dores”.
P/1 – E você seguiu estudando na mesma escola quando terminou a quarta série? Você mudou de escola de novo?
R – Pois é, tive que mudar mais uma vez da creche. Fui para “Maria Dores Chagas”, e dela, fui para a escola “Otávia Silveira”, que hoje funciona como “Uiracy Rodrigues” que foi de lá que vocês vieram. Então na época, era “Escola Estadual de Primeiro e Segundo Grau Otávia Silveira”, onde eu fiz da quinta série - que na época era série não era ano-, até o terceiro ano. Lá foi assim, quando eu estava na quarta série, eu era louco para chegar na quinta para conhecer a escola, porque era a maior escola da cidade. Então tinha aquela euforia, aquela vontade de que o ano passasse rápido, para chegar na quinta série. Ia ia ter pessoas maiores do quinto ao terceiro ano. Quando cheguei, não tive dificuldade também. Estranhei um pouco, porque eram novas disciplinas, novos professores, 45 minutos de aula para cada uma, aquela agitação toda, a escola maior, mas eu consegui me adaptar, fiz muitas amizades, aprendi bastante lá, e também com os professores da época.
P/1 – Tinha alguma matéria que você se interessasse mais?
R – Tinha sim, das novas disciplinas. Tanto que hoje dou aulas de inglês. Me identifiquei com inglês, eu amava as aulas, adorava! Na quinta série, eu “peguei” logo um professor, que ainda hoje ele dá aula, a gente conversa muito, sou parceiro dele, trabalhamos na mesma escola chamada “Reginaldo”. Então na primeira aula eu já fiquei: “Menino! Que coisa fantástica! essa palavra significa isso? caramba! Esse trecho quer dizer isso, professor?”. Ficava encantado pela disciplina e ele ia me motivando, estimulando, me incentivando com o método dele da época. Fez com que eu me apaixonasse na quinta série pelo inglês. Daí então, tudo foi acontecendo.
P/1 – Quando você foi se aproximando do
colegial,
chegou a mudar de turma, estudar de noite?
R – Pois é, aconteceu uma mudança, da quinta série, sexta série, sétima série e oitava série. Eu estudei na parte da tarde, sempre a tarde, justamente isso. Quando fui para o primeiro ano científico, não tinha como trazer o transporte; trazer, transportar os alunos para o turno da tarde, também não formavam turmas, justamente por conta dos alunos, das famílias; o fato dos pais trabalharem na agricultura e os filhos ajudarem os pais. Então não teve como formar turmas a tarde,
formaram-se a noite. Foi
onde eu estranhei, estranhei demais, eu não gostava. O primeiro ano foi muito difícil, não gostava de jeito nenhum, dormia cedo, ajudava a minha mãe,
“largava” dez horas, dez e meia na época, então era muito difícil.
P/1 – Você ajudava a sua mãe com o quê? Quais eram suas atividades? Como que eram divididas as tarefas?
R – Pois é, em casa eu colocava, colocava não, quero dizer, coloco ainda, eu ainda ajudo ela, graças a Deus! Colocava a água na jarra; porque a gente armazenava água em formas, tonel; tinha que ir para os açudes, com carrinho de mão, com baldes dentro para poder pegar essa água para tomar, cortar lenha, buscar lenha no roçado; para fazer a fogueira para cozinhar os alimentos; pastorear as cabras; porque ela criava cabras, porcos, ia buscar ração, comida para os bichos; desse jeito.
P/1 – Tinha alguma dessas atividades que você gostava mais de fazer, ou alguma outra que você achava mais difícil?
R – Eu gostava de buscar comida para cabra; porque a cabra, eu não sei o porquê, acho que a “bichinha” não tinha nem opção que eu dei a ela.
A cabra ela come capim claro, só que nesse dia eu disse para mamãe que não tinha capim, ao invés de trazer o capim eu trouxe folha de cajarana; tinha saca de folha de cajarana. Cheguei em casa, despejei as folhas no chão, a minha mãe: “Cadê o capim da cabra?”. E eu: “ Oh mãe, o capim está seco, não tem como pegar capim para a cabra não”. Ela: “Mas rapaz, deixe de história, você vai buscar o capim dessas cabras, ou vou te dar uma pisa?”. E eu: “Mas não tem capim, não tem mãe!”. E ela: “Então vamos ver se ela come a folha da cajarana.” Não, é que a “danada” se deu com a cajarana? E o leite que ela produzia, a gente comia a papa , por isso que sou assim forte, pela
papa do leite da cabra. O leite ficou mais forte com a folha da cajarana, e aí foi a tristeza maior do mundo, porque chegou um certo tempo que a dificuldade foi tão grande que a gente teve que vender a
cabra, foi o maior “chororô”. A cabra era tão boa; porque na maioria das vezes, as cabras dão cria de dois bodinhos, a da gente dava cria sempre de três, então teve que vender. Quando ela falou: “Vou vender a cabra”, foi aquele “chororô” das crianças. “Ah!”. “Vender a cabra não mãe, não faça isso!”. “Pelo amor de Deus, a gente dá um jeito, a gente pede esmola, a gente vai pedir jejum na casa do povo, mas não vende a cabra”. Mas foi o jeito vender, porque o rapaz que ia comprar deu um preço tão bom, que ela não teve como dizer não, aí vendeu. “Minha filha”, para se acostumar com isso foi difícil, foi muito difícil, mas teve que vender a “bichinha”.
P/1 – Quando você terminou a escola, como foi seguindo suas atividades a partir daí, já tendo se formado no colegial?
R – Então, eu terminei o segundo grau, o terceiro ano foi em 1999. Eu terminei o terceiro ano, aí veio para a cidade, um programa que se chamava “Alfabetização Solidária”. Veio justamente quando eu estava terminando o ensino médio; o segundo grau. Abriu as inscrições para os jovens receberem uma capacitação, e ensinarem essas pessoas idosas; as pessoas que não tiveram condições de aprender no seu tempo “normal”, aí eu fui e me inscrevi nesse programa. Me submeti a um teste; tinha que fazer um teste, ele eliminava e selecionava as pessoas. Muita gente se inscrevia, e eu consegui ser classificado. Aí a turma teve que ir para Mato Grosso do Sul, receber esse treinamento. Foi minha primeira viagem de avião, tenho até em casa as fotos, e as passagens de lembrança; os bilhetinhos. Lá demorava 20 dias. Recebia a capacitação completa, e no final um certificado. Ao retornar a gente teria que aplicar o que aprendeu lá, justamente com os idosos aqui, no programa “Alfabetização Solidária”. Foi meu primeiro emprego.
P/1 – Conta melhor então para nós, como foi essa viagem, essa experiência de andar de avião?
R – “Vixe Maria”!
P/1 – Super longe daqui...
R – Muito complicado,
porque já é outro clima lá no Mato Grosso do Sul, na cidade de Ponta Porã. O clima é muito frio, as minhas unhas ficaram roxas, eu falei assim: “Eu vou morrer, vocês vão “pagar o pato”, e eu “vou arrochar a goela” de vocês”. Eu falava com a coordenadora desse jeito, porque minhas unhas ficavam roxas direto, porque era frio. “Frio?”.“Mas você está sentindo frio, José Milton?”. “Eu estou, olha como que estão minhas unhas, roxas direto”. Eu não conseguia me concentrar para desenvolver as atividades lá, por conta do clima, mas era assim, uma cidade muito bonita, o pessoal muito acolhedor, a cidade fazia fronteira com o Paraguai, com a cidade de Pedro Juan Caballero. Tivemos a oportunidade de visitar essa cidade, aí ia para a feira no Paraguai, comprava aquelas bugigangas, lembrancinhas; mas a gente foi muito bem recebido lá, um pessoal muito acolhedor, muito cativante, muito bom mesmo. Na faculdade, inclusive, os treinamento eram na “Faculdade Madre Sul”, que era uma faculdade particular, onde elas ministravam o curso de Pedagogia e de Administração, se eu não me engano, Ciências e Letras, era isso mesmo.
P/1 – E você ficou com medo de andar de avião?
R – Fiquei com muito medo; porque as passagens eram dadas, eram pagas pelo governo federal, aí eu não sei porque a gente só viaja do meio para trás do avião. Durante o ano, a gente fazia duas viagens, quer dizer, depois eu conto essa história, então a gente sempre pegava do meio do avião, do meio para trás, para frente viajava outra classe. Viajavam as pessoas mais chiques, mas como nós viemos do interior, aí jogava a gente da turbina para trás [risos]. Era muito complicado, eu sentia muito medo, tanto que eu dizia assim: “Se derem 100 reais, 1000 reais, eu não viajo mais”.
Não sei onde eu estava com a cabeça, que viajei de avião, senti muito medo, muito medo mesmo. Eu ficava apavorado, principalmente, quando passava nas nuvens carregadas, sacudia as asas nas turbulências e aí eu, pronto, vai cair agora, e eu quebro essas janelas e pulo, porque não vou morrer nesse avião. Eu sentia muito medo, principalmente, na subida que dava aquele friozinho que a gente sente quando desce da roda gigante, eu me lembro logo dela: “Ah meu Deus, vai cair, “vai se embora”, vou cair e vou morrer, minha mãe vai matar e enterrar!”. Mas deu tudo certo. Eu fiz ainda seis viagens, porque depois da primeira viagem; uma coordenadora da cidade que acompanhava o grupo, acompanhava uma equipe de 20 facilitadores, vamos dizer assim, depois dessa primeira viagem; a coordenadora de Mato Grosso do Sul, que dirigia a cidade, o “Projeto na cidade”, teve a ideia de selecionar um coordenador pedagógico para ajudar a coordenadora, aí como eu desempenhei bem a função, quando era alfabetizador, ela me selecionou, então fiquei indo sempre, todas as vezes que tinha viagem eu ia,
fiz ainda seis viagens, andei seis vezes de avião, indo e vindo.
P/1 – Como foi seu primeiro emprego, alfabetizar; esse processo de ensinar?
R – Foi muito gratificante, porque a gente vê uma pessoa, principalmente, mais velha que a gente, por ter mais experiência de vida, mas precisa de um apoio, de uma ajuda, eu via no rosto dela aquela vontade de querer aprender. Aprender as letras, aprender as sílabas, a formar palavras, a fazer uma carta; eles tinham essa necessidade, então eu contribui na vida das pessoas dessa forma. E na época de alfabetizador, eu tinha 20 alfabetizando, 20 alunos e depois desses 20, eu consegui ainda alfabetizar mais 15, os outros ficaram em processo, e eu consegui alfabetizar 15. Foi muito gratificante, eles ficaram muito felizes e a gente fez uma festa, eu entreguei certificado. Pessoas alfabetizadas que não iam mais sujar os dedos para assinar, e hoje em dia, quando eu vou na comunidade, inclusive na comunidade mais para cima aqui, chamada “Acará”, eles me agradecem, a gente faz a maior festa quando a gente nos encontramos, foi muito bom.
P/1 – E como você seguiu sua carreira, como chegou seu período de faculdade?
R – Pois é, nesse ano desse primeiro emprego como alfabetizador, eu necessitava de um emprego, eu não fiz vestibular, fiz no ano seguinte. Fiz para educação física, e não passei, ou melhor, eu não fui fazer uns exames; porque tinha que fazer uns exames físicos, e era eu sozinho para ir para Campina Grande,
não sabia também das coisas, eu fiz só a inscrição. Me chamaram, me ligaram: “Venha fazer os testes, você pode passar”. Os testes também contavam para aprovação do vestibular; contava um número de ponto, aí eu não fui fazer os testes, porque um colega disse que ia comigo e não foi,
para mim ir só, não deu . No ano seguinte eu me inscrevi num projeto “Logos” - instituto educacional-,
a cidade tem “Logos II “, que capacita para o magistério. Fiz esse projeto, eu fiz o treinamento, fiz como o curso como se diz... me preparei para ensinar de primeira a quarta série. No ano seguinte, eu me inscrevi no vestibular, já particular, eu já estava trabalhando, já tinha condições; na Universidade da UVA [Universidade Vale do Acaraú], que tem aqui na cidade vizinha, tem um pólo; eu me inscrevi nesse vestibular e passei,
eu cursei Pedagogia.
P/1 – E o que é que te fez inscrever-se
no “Logos”? Como é que foi...?
R – Como eu já tinha sido selecionado, já tinha dado aula,
tinha aquela experiência com sala de aula; com os idosos, eu resolvi me inscrever no Logos, para ver se eu conseguia entrar. As portas estavam se abrindo! Eu queria
uma vaga nas escolas públicas, trabalhar com criança, polivalente; por isso eu me arrisquei e fiz o treinamento Logos, e participei.
P/1 – E como foi o seu contato com as crianças, depois de ter trabalhado com pessoas mais velhas? Como é que foi entrar numa sala de aula?
R –
Quando eu consegui a oportunidade para trabalhar com crianças, já não foi na escola do município, foi uma escola particular que me contratou; que me convidou. A escola me chamou, disse que estava precisando de um professor de inglês, eu já tinha uma certa habilidade desde o fundamental. Me perguntou se eu aceitava dar aulas lá uma vez por semana, de inglês,
então eu aceitei . Foi muito bom o contato com elas e eu me identifiquei com as crianças, eu percebi que falava a língua delas; eles
estavam tendo noção de vocabulário,
vi que estavam aprendendo muito rápido, percebi que o trabalho estava se encaminhando da forma correta, e que eu estava atendendo as expectativas da escola e das crianças, por estarem aprendendo também.
P/1 – E do seu período de faculdade como é que foi? Teve algum momento marcante?
R –
Do período de faculdade foram três anos, do curso de Pedagogia. O período marcante que tenho, que guardo comigo até hoje, foi da minha primeira disciplina na universidade fazendo a Pedagogia, da primeira e única, porque acho se eu não tivesse iniciado o curso direito, corretamente, eu não teria terminado do jeito que terminou, perfeito; tudo legal! Eu gostei, me identifiquei com o curso, e com a disciplina de “Didática”, com a professora Edinalda, que a gente chama de Nana; então, foi a primeira disciplina, em que ela marcou muito a minha vida na universidade, tanto que ainda hoje me lembro dela, dos trabalhos...
P/1 – O que é que tinha nessa aula que te marcou?
R – Depois que vieram as outras professoras, as outras ministrantes, eu comecei a perceber, e fazer uma comparação delas; claro que ninguém é igual. A metodologia que ela aplicava com a gente, aquilo me incentivou e abriu minha mente de um jeito assim e eu, caramba! A gente comentava com os outros alunos; porque as outras professoras não usavam a metodologia da professora Edinalda. Aquele jeito carinhoso, aquele jeito cativante,
a gente sabe que tem professor carrasco, professor rígido mesmo. Com o medo a gente não aprende nada não é verdade? Então ela abria a nossa mente, a gente conseguia dizer as coisas, pessoas que não falavam, discursavam maravilhosamente; então ela marcou muito, a metodologia de ensinar, o jeito dela, o material que ela trazia;
percebíamos que ela pesquisava muito. Ela trazia muitas coisas novas e aplicava com o assunto que programava.
P/1 – E aí? Dessa escola que você começou, particular; onde você começou
inglês com crianças, como é que você foi para a rede pública? Como é que foi seu percurso?
R – Essa escola particular se chamava, eu não falei o nome; “Centro Educacional Floresta Encantada”, ela ainda está lá; a professora: “Vem para cá para a escola de novo”. Justamente eu saí de lá, da particular, por um convite do município dessa gestão anterior, então eu tive; por ser uma renda maior; porque quem trabalha em escola particular sabe que o trabalho é dobrado, você ganha menos e trabalha mais, então me ofereceram mais, não é que estou trabalhando menos; eu estou trabalhando mais também,
mas em compensação o valor era um valor muito bom, nem se compara com o de lá. Recebi o convite da secretária, para trabalhar para o município, então tive que deixar a escola, foi o maior “chororô”: “Não, não”. Até hoje ela ainda chama: “Venha trabalhar novamente”, quem sabe? Eu não vou dizer não, porque o mundo dá tantas voltas, a gente pode parar lá novamente. Eu saí
por conta disso, do convite para trabalhar para o município, só que dessa vez não é em sala de aula; mas a gente está em sala de aula, porque o trabalho que a gente faz, não deixa de ser um aprendizagem para os alunos, não deixa de ser uma forma dos alunos aprenderem, a gente faz uma forma dos alunos gostarem de ler, de pegar um livro; ter prazer de pegar um livro, não por imposição, mas pelo prazer mesmo, é contribuir realmente.
Eu voltei para o município, eu voltei da particular para o município como Diretor, como eu já falei, e não como professor, bom..., mas não deixa de ser professor, porque esse trabalho aqui é como ser professor mesmo.
P/1 – Eu queria que você falasse um pouquinho das suas atividades, você é Diretor de uma escola?
R – Sou da Escola “José Benedito da Silva”, logo depois mais acima. Trabalho lá desde o finalzinho de 2009. Recebi o convite no finalzinho de 2009, 2010 e agora 2011. Pois é, eu trabalho lá como diretor, e procuro fazer o máximo, dar o melhor de mim, ajudar no que é preciso; porque escola é isso, escola é a nossa segunda casa, é a nossa segunda família, então eu procuro passar para elas essa união, principalmente, na educação. Se a gente não trabalhar de mãos dadas, de mãos unidas, a gente tende a fracassar, porque vê o fracasso que está, e se a gente trabalha com as mãos soltas, esse fracasso tende a aumentar. Lá eu procuro ser rígido dentro do possível, cobro muito delas, exijo muito dentro do possível também, dentro do limite; procuro tornar o ambiente sempre agradável, onde todos possam sentir o prazer de estar ali, pais, família e funcionários.
P/1 – E a gente sabe que agora que o município de Mogeiro conta com a parceria do “Instituto Camargo Corrêa” e “Alpargata S.A” para desenvolver algumas atividades, alguns programas em prol da educação; como é que foi essa parceria, o que é que você sabe dela? Qual a primeira vez que você ouviu?
R – Vou começar falando desse Instituto Camargo Corrêa juntamente com o Cenpec [Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária], eles se juntaram e tiveram essa brilhante ideia de criar esse projeto, “Ler, Prazer e Saber”; então, foi em agosto, eu não tenho certeza da data, ou foi setembro de 2009. Foi o tempo que a gente recebeu a nossa primeira capacitação. Gerava muito expectativa: “Tem alguma coisa a ver com leitura, “ler prazer e saber?”, a gente ficava se perguntando. Quando fomos para a capacitação; que é na cidade vizinha, no Ingá, a gente se surpreendeu com tudo, com o programa em si. Teve aquela abertura, a coordenadora veio, todo mundo falou, e depois a gente ficou com a ministrante que se chama Cristiane. Eu devo tudo a ela, eu tenho muita saudade, porque o prazer que eu adquiri na leitura, foi graças às técnicas que Cristiane aplicava na capacitação do Projeto. Ela não só conseguiu provocar isso em mim, como nos demais participantes, eu guardo ela no fundo do meu coração. Vou morrer e não vou esquecer de Cristiane, porque eu não tinha o hábito da leitura, não gostava de ler.Interessante que eu fiz faculdade por fazer, porque tinha que ter um curso superior; mas durante aqueles três anos que passei lá, eu não gostava de ler, tinha que ler como se fosse
uma obrigação para desenvolver as atividades. Fazer os resumos, as críticas, os trabalhos, a monografia; mas naquele tempo eu não gostava de ler, e esse projeto que o município “abraçou”, ele caiu do céu! Foi muito importante não só para mim, como para as crianças, para todo mundo no geral; porque a leitura é a base de tudo, sem a leitura a gente é cego, então ela conseguiu despertar isso em mim. Eu não gostava de ler tanto que no decorrer; porque teve várias etapas. Continuou 2009, 2010. Eu participei das duas formações, desde a primeira, até a última. Viamos a evolução do projeto, do desempenho dos participantes, e também devido a forma dela passar; ela vivia aquilo. Parecia até que, eu não sei, ela conseguia contagiar a sala, o ambiente que ela estava; de um jeito que realmente o nome se enquadra direitinho “Ler, prazer e saber”. Estávamos ali realmente por prazer, ninguém estava obrigado. A gente via a felicidade no rosto, tanto que chegava o último dia das etapas falávamos: “Ah meu Deus do céu, passa logo tempo!”. Era para chegar a próxima: “E traz Cristiane”; porque Cristiane é fantástica, muito capacitada, muito inteligente. Tem um jeito de lidar com as pessoas. E a outra Cristiane, sua xará, não ... Era Cristina; Cristina e Cristiane. Fazíamos propaganda mesmo da professora, olha! É isso e aquilo; a gente dramatizava, apresentava, fazia rodas de leituras, cantava. Saíamos comentando, lógico; tudo que é bom tem que comentar mesmo, e os outros participantes da outra turma: “Oxente”! O que tem demais naquela turma, que a gente não tem isso não faz aquilo”. “Ah! É um amuleto secreto, uma bola de cristal , de diamante que a gente tem ali”. Tanto que na primeira capacitação ia ser realmente essa outra professora, que não contagiava, não criava aquele ambiente; mas houve um imprevisto então veio a Cristiane. Quando tem que dar certo , dá certo mesmo! Quando Deus põe a mão em cima, e já era.
P/1 – E você falou que participou dessas capacitações, o que você sentiu quando foi convidado? O que é que essas capacitações trouxeram para você? O que elas mudaram no seu cotidiano?
R – Eu fiquei muito feliz quando as meninas da secretaria disseram que tinha um projeto, que o município “abraçou”, e que teria essa capacitação; então elas observaram antes, observaram as pessoas que estavam mais próximas, que eram mais envolvidas, mais comprometidas com o trabalho. Elas tiveram esse cuidado e fizeram uma seleção, e disseram: “Olha, a gente selecionou você para participar do projeto “Ler, prazer e saber”, você aceita?”. “Eu aceito na hora”. “É um projeto novo, que vai falar de leitura”. E quando a gente chegou lá percebeu que realmente era um projeto muito importante, muito interessante, todo mundo preocupado; Instituto Camargo Corrêa, todo mundo preocupado em formar realmente, porque a proposta, o objetivo do projeto é exatamente esse, em formar leitores. Que os leitores leiam realmente por prazer, como a professora da gente diz que: “A gente tem que ler por vagabundagem”. Ler, pegar um livro e deitar no chão e ler,
por prazer mesmo! Esse é o objetivo dela. Esse projeto mudou muito, porque hoje em dia; já faz quase praticamente dois anos que a gente vê a diferença, quando comparamos o antes com o depois. Conversamos entre colegas, tal aluno antes, tal aluno depois. Já tem menino que pega o livro na biblioteca móvel, pega sem pedir permissão, sem precisar dizer posso pegar? Simplesmente pelo prazer da leitura, pegar o livrinho e ler, conta e repassa a história para os coleguinhas, então isso são frutos do resultado do projeto da capacitação.
P/1 – Como não dá para todos participarem, os que participaram da capacitação viram multiplicadores. Qual que é a importância de ser multiplicador? Qual o papel do multiplicador?
R – É mais uma função importante que a gente tem, porque como o projeto não poderia levar todos os professores para a capacitação, então esses 10 fazem a função de multiplicar; tem a função justamente de multiplicar o que foi repassado nas capacitações, repassar, mostrar as técnicas. A gente faz sempre um encontrão, onde se reúnem supervisoras, diretoras, secretárias, vice-secretárias, professores, sempre que a gente tem essa oportunidade de juntar todo mundo, tiramos um tempinho dentro da pauta desses encontros para replicar, repassar aulas, técnicas do projeto. A gente diz para o povão mesmo, aplica, pede para eles confeccionarem, repassa e ao mesmo tempo dá um tempo para a gente “repassar a bola”, para ver se realmente está saindo nos conformes. Não podemos receber uma coisa de um jeito e repassar de outro, porque se não foge da linha. Nesses encontros tiramos um tempo para fazer esses repasses, dessas técnicas, e culmina sempre os encontros com as dramatizações, e apresentações, que a gente sempre fazia nas capacitações do projeto.
P/1 – E porque o multiplicador é importante?
R – É importante porque ele está ali, o próprio nome diz ele
para multiplicar. Essa função de multiplicar; a pessoa não pode guardar jamais, a que faz isso está sendo muito mesquinha, muito egoísta em receber conhecimentos bons, boas práticas, boas maneiras. que facilitam o processo de aprendizagem e guardar; sabemos que tem gente que é egoísta e faz isto. A função do multiplicador é justamente essa, e é muito importante multiplicar aquilo que é bom, para que as outras pessoas que estão ao seu redor , cresçam
juntamente com ele. (troca de fita)
P/1 – E Milton, como é que funciona esse projeto “Ler, Prazer e Saber”? Vocês fizeram as capacitações, repassam para os outros professores...
R – Como ele funciona dentro da sala de aula, né? A gente repassa para os outros professores que não tiveram a oportunidade de ir, e eles aplicam dentro da sala de aula. Funciona da seguinte maneira, o município esse ano, está adotando uma nova forma de
planejar as aulas, que se chama “Sequência didática”. Dentro desse planejamento, os professores selecionam os textos que serão trabalhados durante o ano, e outros que eles pesquisam, que podem ser também trabalhados; trabalham as rodas de leitura com esses textos. Os mesmos são utilizados para trabalhar as disciplinas interligadas umas nas outras, e com os mesmos textos, trabalham nas rodas de leitura. Não só os textos como também esses livros que a biblioteca dispõe; livros riquíssimos, excelentes, autores fantásticos. Os alunos têm a oportunidade de ir até a biblioteca, monta-se a roda de leitura como o próprio nome diz, ou semicírculo. Eles têm a oportunidade de ir lá e selecionar o livro que gostar, da sua preferência, do seu gosto, porque é eclético; é um acervo bem diferenciado, que têm livros que atendem o gosto de todos os alunos. Podem ir e pegar esse livro, ler, e contar a história para os coleguinhas da sala.
Podem também fazer um empréstimo de livros, têm a liberdade de pegar esses livros e levar para a casa, e contar essas histórias também para os pais, para os irmãos que estão em casa, para os vizinhos; eles têm essa oportunidade também. Também podem apreciar, eles aplicam... uma das atividades que é apreciação, justamente tem um dia em que o professor diz: “Olha! Hoje vai ser só apreciação, vamos apreciar;” porque além desses livros a escola recebe outros livros, outros livros legais, bons. Então se forma aquela roda de apreciação, os alunos apreciam as obras dos autores. Leem também as histórias e levam para a casa. É dessa forma que as rodas acontecem.
P/1 – Como você se sente quando vai contar uma história para um grupo de crianças; faz todo esse ritual de contação de história?
R – Eu me sinto muito feliz, como os outros também tem que se sentir. Porque para a gente fazer uma criança gostar de ler, que passar isso para ela, tem que ter um jeito, tem que criar, não pode ser simplesmente chegar na biblioteca e pegar um livro e dizer “Olha senta aí que vou ler uma história”; não pode ser feito dessa forma, não é assim que a gente aprendeu nas capacitações. Tinha todo um ritual, como você falou, toda uma preparação do ambiente, o tom de voz, o tempo de parar no meio da história, questionar; perguntar para as crianças, porque isso e porque aquilo, aguçá-las. Momento de parar a história, para que ela seja prosseguida no dia seguinte. A criança fica com aquilo na mente: “Ave Maria! O que será que vai acontecer no capítulo seguinte”, igual a uma novela, então não pode ser de qualquer jeito. Me sinto muito feliz, e procuro da melhor forma possível passar isso para elas, enquanto pequenas, para que desde cedo elas tenham essa lembrança. É uma lembrança que eu não tive quando era pequeno, não tenho a lembrança nenhuma de uma pessoa sentar perto de mim; quer dizer...eu tenho. Na escola não, em casa; tenho minha mãe. Ela contava; meu pai também contava, então, na escola eu não tenho muita lembrança da “tia”, como a gente chama, te dizer: “Olha! Vamos prestar atenção que vai ter uma historinha bem legal”, não tenho recordação.
P/1 – E por que é que você acha que esse projeto é importante? Você incentivar a leitura vale a pena?
R – Para que as crianças cresçam sabendo dos seus direitos e dos seus deveres como cidadão na sociedade, saibam sempre procurar o caminho certo na vida, porque a leitura ela tem essa força, ela tem essa luz de direcionar a gente para o caminho; se bem que muita gente que é letrado, que tem conhecimento, não faz isso, Não faz, não é porque não sabem nada, mas é porque preferem mas fazer coisas erradas. O objetivo mesmo é preparar cidadãos críticos, participativos, que ajudem na construção no desenvolvimento do município, que sejam pessoas realmente de bem.
P/1 – Você um pouco antes no comecinho da nossa conversa, falou das cantigas, qual a importância da cantiga?
R – Muito importante, Ave Maria! Se eu pudesse eu saía cantando
em todo o canto, cantigas de rodas, principalmente as cantigas a gente brincava quando criança. Eu lembro que durante a infância, tinha até um certo tempo, tinha as músicas de criança, que eu me lembro, Trem da Alegria; claro, não é cantiga, mas tinha as músicas que
a gente não vê hoje na atualidade. Aquele repertório para o público infantil, repertório para o público adulto, é aquela coisa misturada. Então, é muito triste você ver um menino cantando [entrevistado canta]: “Segura o tchan amarra o tchan”; “Chupa que é de uva”, os meninos cantam isso, “Beber cair e levantar”, essas música sem letra; músicas que só ensinam coisas erradas às crianças. O propósito, o objetivo das cantigas de roda nas escola foi justamente esse, fazer com que as crianças cantem as cantigas, porque elas são músicas de crianças. Não deixem as cantigas morrerem, porque se as crianças são o futuro, e se elas não cantarem as cantigas, consequentemente não irá existir cantigas mais pra frente. Então, o objetivo da escola foi esse, fazer com que a escola toda; a escola hoje em dia canta as cantigas, todo mundo canta , é normal. Se canta em casa, brinca em casa. As crianças comentam, a gente pergunta
sobre a satisfação delas com relação ao trabalho. Tem que ter um resultado, se eles dizem que estão satisfeitos, cantam direto, uma hora e outra chegam aqui, estão cantando: “Atirei o pau no gato”, “Marcha soldado cabeça de papel”, “Ciranda cirandinha”, e outras.
P/1 – E hoje também, a gente teve o privilégio de assistir o grupinho apresentando; o grupinho da Trupe...
R – Da alegria.
P/1 – Qual a importância desse grupo? Como é que ele foi formado? Qual a relação dele com esse projeto de leitura?
R – Pois é, o grupo Trupe da Alegria foi criado já em outro programa, que é o SGI [Sistema de Gestão Integrado], dentro de outro programa. Vamos se adaptando um ao outro, para não ficar perdendo o tempo. Aproveita uma coisa que dá certo dentro de outra coisa, certo? A gente trouxe a trupe que é da SGI para dentro do projeto “Ler, Prazer e Saber”, porque a importância que a gente quer passar, quer deixar para eles, principalmente, para aqueles que estão dentro, vivendo. Que isso não fique só dentro da escola, que eles consigam levar isso para fora da escola, que é o que a gente está fazendo. Tudo que a gente faz dentro da sala de aula, dentro da escola, que dá certo, procuramos levar, adaptar para fora. Que os outros vejam e percebam que está dando certo, porque muda o comportamento completamente das crianças. Elas, como vocês viram aqui, vivenciam aquela história, sentem prazer de viver aquilo, coisas que eles não tinham a oportunidade. A gente leva o espetáculo “Trupe da Alegria” para fora da escola, elas apresentam na vizinhança onde moram, e
se sentem muito felizes, e conseguem no final de cada historinha, dar o seu recado como a gente viu aqui. Há pessoas que só querem as coisas de graça, querem que as coisas “caiam do céu” e as coisas não “caem do céu”. A gente tem que procurar suar, trabalhar com esforço para conseguir as coisas, em cada história sempre tem uma lição.
P/1 – E você falou que então essa “Trupe da Alegria” veio por conta do projeto SGI; o que é que tem nele que propiciou essa criação? Como é que funciona?
R – Pois é, o SGI já é outro programa que a escola trabalha. Ela “abraça” esse painel que vocês estão vendo aí, por trás de vocês. É um painel do desempenho das crianças que participam desse programa que é de extrema importância, fundamental assim como o “Projeto Ler, Prazer e Saber”, porque como vocês estão observando, a gente tem ficha de leitura, ficha de escrita, ficha de acompanhamento, eles monitoram todas essas fichas, monitoram a merenda, a limpeza, a sua própria aprendizagem que é o mais importante então para a escola; para a comunidade. É o sistema de gestão integrada dentro da escola, onde todos trabalham integrados, em prol da aprendizagem do aluno.
P/1 – E o que é que tem nesse programa, nesse SGI, que propiciou a criação do grupo?
R – Dentro do programa a gente trabalha com a ferramenta que se chama processo, criamos processos, que nada mais é do que, uma ideia que você tem e daquela ideia você elencar passos, ou seja; antes do programa chegar às escolas, a gente já fazia isso, só não se dava conta que aquilo era um processo. Quando a professora explicou para a gente: “Mas a gente já faz isso à tanto tempo e não sabe que isso é um processo?”; com o SGI demos nomes às ferramentas; painel de desempenho, positivo e delta, combinados, missão da turma, como está a merenda, tudo isso são processos. Elencamos esses processos passo a passo, primeiro passo eu faço isso, eu faço aquilo, e aplica-se à turma, que foi o que você viu aqui. É um processo de leitura, onde eles leram e através dela conseguimos fazer uma dramatização sobre ela, então teve todo o passo. Fizemos a seleção, a leitura do texto, selecionamos os alunos, confeccionamos os figurinos, ensaiamos várias vezes e apresentamos á vocês.
P/1 – E qual a importância desse projeto para a escola? O que é que ele traz que a beneficia?
R – Muito importante esse projeto para a escola, porque justamente em cima desse processo “Trupe da Alegria”, é que a gente conseguiu trabalhar. O quê trabalhamos? A inibição dos alunos, porque nem todo mundo é espontâneo, nem todo mundo é alegre. Então, a gente observou que tinha alunos muito presos, vinham de casa para a escola, ficavam quietinhos, no seu cantinho, calados; então, vamos trabalhar isso, vamos socializar, vamos fazer uma interação, fazer com que se misturem. Aos poucos, claro, devagar a gente foi pegando aqueles mais inibidos, aqueles mais presos de uma forma, e conseguimos jogá-los para dentro da “Trupe da Alegria”, que são justamente os alunos que vocês viram aqui. Estão entendendo que esses meninos eram presos, amarradinhos? Não conseguiam dizer, dar suas opiniões, ninguém abria a boca, nada, e hoje em dia já estão assim apresentando tranquilamente.
P/1 – E o que é que é que... As ferramentas do SGI, o que é que elas mudaram no seu comportamento, na sua prática?
R – Na minha prática teve extrema importância, porque como eu lhe disse, a gente trabalhava e não sabia como direcionar aquele trabalho, como aplicar, de uma forma que começasse e terminasse; tivesse início, meio e fim. Isso veio facilitar demais a minha vida, por exemplo, nosso planejamento de aula isso ajudou demais; as ferramentas do SGI. Porque iniciamos, tem o meio e tem o fim, deixa eu ver mais, o monitoramento, a monitoração dessas ferramentas; a gente consegue ter um certo controle de tudo que está acontecendo, por quê? Por fazer o monitoramento; sabemos quem estamos avançando, a gente sabe quem veio à reunião, sabe o pai que não veio, isso facilita demais na nossa vida trabalhando dentro da escola.
P/1 – E o seu papel no SGI é de parceiro? E como é que funcionam suas atividades nessa parceria; o que é que você faz?
R – Eu auxilio a minha colega Leozira, ela é a gestora da escola. O projeto está dentro da escola que ela trabalha, claro que não impede de eu levar para a minha, porque algumas ferramentas também aplico. Então se teve uma ideia, de unir e formar dupla dentro do programa, justamente quando foi feito a escolha, eu fiquei na seleção com ela porque estava sozinha até então, a partir daí trabalhamos juntos para desenvolver o programa. A minha parte é de auxiliá-la justamente porque o trabalho maior é dela; ela tem que prestar conta dos portfólios, mostrar, relatar, fazer os relatos de tudo que acontece, para a consultora. A professora que ministra o projeto para gente, cabe a ela a função de fazer os relatos, de mostrar fotos, relatar fotos, mostrar desempenho, mostrar os resultados de todas as ferramentas que são aplicadas na escola, e onde eu entro? Eu entro justamente nessa parte da sala de aula, na aplicação de roda, em orientar, dar suporte aos professores: “Olha, assim é melhor, assim não dá certo, faça assim que dá certo”. Na parte dos gráficos eu faço também, faço os cálculos. Meu apoio com relação a ela é justamente nessa parte.
P/1 – Para você que também está em outra escola e consegue ver essas realidades diferentes, o que é que você percebeu que mudou aqui nessa escola?
R – Ah! Mudou muito, ela que está desde o começo, a gestora, que me conta, eu pergunto, eu não sei o porquê, a gente tem uma visão de não ver a coisa andar. Eu não sei se eu estou correto te dizendo isso, porque quem está de fora vê mais do que quem está dentro, consegue enxergar melhor, então a gente recebe umas visitas do outros facilitadores, da consultora, e percebe que a escola conseguiu andar, andou, está dando passos longos; passos curtos chegando em passos longos; a gente está conseguindo diferenciar, porque realmente os meninos percebem essa diferença, essa mudança, eles dizem: “Olha só”, principalmente os que estão no quinto ano, já passaram o tempo todinho, jardim, primeiro ano, segundo ano. Eles dizem: “Caracas!”. Eu estou gostando demais desse SGI, eu gosto muito de fazer o monitoramento, porque são eles mesmos. A gente monitora, capita, a gente coleta os dados do painel e passa para as nossas fichas, que são arquivadas na secretaria, na diretoria, mas essa parte de monitoramento é justamente os alunos que vão lá no nomezinho deles, o nome de cada um, e diz como estão na leitura; bom, ótimo, ou preciso melhorar, isso eles percebem. Não tinham isso antes, eles comentam mesmo: “Caracas! Não tínhamos isso antes, e agora eu tenho que fazer esse monitoramento para saber como eu estou e me comparar com o resto dos coleguinhas?”. Eles vão lá pintam suas carinhas, contente, carinha triste, que precisa melhorar, ótima;
eles conseguem fazer essa diferença e perceber a mudança que não acontecia isso antes.
P/1 – E com esses dois projetos que você falou agora; você consegue perceber mudanças no aprendizado ou no comportamento dessas crianças?
R – É visível! Como eu disse, estamos caminhando com passos curtos para chegar em passos longos, mas a gente consegue ver uma evolução das crianças com relação aos projetos, porque a gente sabe que o Brasil inteiro tem um problema muito sério e muito grave a respeito da leitura, então a gente caminha para resolver esse problema dentro da nossa realidade, conseguimos ver já uma certa mudança, um certo comportamento, como eu já lhe falei, tem aluno que não lia, que já chega lá hoje, lê dois livros, três livros, quatro livros, até 10 livros, e isso é muito importante para o aprendizado dele.
P/1 – E na escola, a relação com todos os personagens, todas as pessoas da comunidade escolar, o que é que esse programa SGI mudou no cotidiano? Por exemplo, do Auxiliar de Serviços Gerais da merenda, dos pais?
R – Eles percebem, principalmente, que vem e vão, trazem e levam seus filhos, comparecem sempre que há reuniões que precisa da presença deles aqui. A gestora Leozira faz a reunião, relata tudo, tudo, fala “tintim por tintim” o que é cada coisa dentro do programa, para que possam entender a sua importância, porque o programa não pode ficar apenas contido dentro de uma sala de aula, o SGI não é só sala de aula, ele se estende, ele verticaliza até a casa, ultrapassa os muros da escola, então os pais também acompanham e veem o desempenho dessas crianças; a gente também monitora os pais. Analisamos se o pai está monitorando o filho; apresentamos o resultado: “Olha, você não tem direito de falar sobre seu filho que não está aprendendo, porque você não está participando, não está vindo para a escola, cadê sua participação?” . Eles sabem, tem uma ficha ali também no painel de desempenho que contém o nome de cada pai, de cada aluno. O monitoramento SGI, os projetos, eles se estendem para fora da escola, eles veem, observam os alunos, dizem se estão gostando da merenda, se a merenda está boa, se está ótima, eles observam os arredores da escola, veem que a escola é limpa; porque o funcionário da limpeza está trabalhando perfeitamente, se a merenda está gostosa é porque a merendeira está fazendo com amor, então observam tudo, e todo mundo ali, um observando o outro, fazemos o acompanhamento também, temos que apresentar, porque pode deixar de acionar.
P/1 – E qual que é o foco?
R – O foco disso tudo é aprendizagem, a gente trabalha em cima disso tudo, para melhorar a aprendizagem dessas crianças, porque se não for dessa forma...
P/1 – Como você vê essa parceria do Instituto com o poder público, com esse foco na educação e na aprendizagem?
R – Como eu já disse, “caiu do céu”, graças a Deus que nossas escolas estão unidas, cheia de projetos ótimos, maravilhosos, que vêm para somar, somar com a gente, melhorar o desempenho dos alunos na leitura, na escrita, no aprendizado de uma forma geral, e de extrema importância. Agradecemos demais esses parceiros, todo dia, se a gente pudesse todo dia dar um abraço em cada um; porque cada dia que passa, a gente vai matando um leão e vemos que vamos conseguindo com muito trabalho, com muito esforço, mas a gente só consegue as coisas dessa forma. Eles vieram justamente para dar essa luz, para melhorar como está melhorando; temos resultado, muito importante por demais!
P/1 – E quais são suas perspectivas em relação a essa parceria?
R – A perspectiva da gente? Pensamos bem alto, tanto que eu ia perguntar para você se o projeto “Ler, Prazer e Saber “vai continuar, se vai vir com uma nova roupagem ,se vai se estender com outro novo estilo, não sei, mas eu queria que continuasse, não parasse,
como os demais programas; que não parem por aí, que tragam mais práticas, boas práticas, inovadoras, para a gente continuar. Práticas que dão certo, que adaptamos a realidade das crianças, da escola, do município, que tudo dá certo.
P/1 – E queria perguntar, tem muito tempo que a gente falou dessa pergunta, mas você participou das capacitações, falou aqui sobre a importância de ser multiplicador, qual que é a importância dessas capacitações? Por que são importantes para o professor?
R – É muito bom, porque você sabe, hoje em dia, apesar da gente estar vivendo num mundo onde a tecnologia toma conta de tudo, é computador para cá, computador para lá, menino que sabe mexer no computador até mais do que a gente; sabemos que no meio de tudo isso, ainda tem professor que trabalha com aquela forma tradicional, que
entre aspas, não é correto, mas que de vez em quando é bom trazer o tradicional, para o modernismo, para o construtivismo. Eu vejo assim, que essas práticas, esses programas vieram abrir a mente dessas pessoas, mostrar que existem outras formas diferenciadas, daquelas que os nossos pais aprenderam lá nos tempos atrás, como minha mãe mesmo diz que ela aprendeu com a cartilha do beabá, e que se não soubesse a família do beabá ba, levava uma palmatória na mão. A palmatória “sumiu”, não leva mais “bolo” se não souber a família do beabá bo bom, mas ainda continua b com a ba, b com é be, b com o bo, b com u bu; ainda se adota esse método, que muitos falam que é incorreto, que existem outras formas, que esses programas mostram através de suas práticas, de suas técnicas, justamente novos horizontes, novas formas de ensinar uma criança a aprender, a crescer, a aprender novas coisas na escola; ler, escrever, calcular, interagir, se comunicar.
P/1 – A gente vê também que um dos programas trabalha com a questão da estrutura da escola, trabalha com mutirões, quero saber se você já participou de algum?
R – Não, já recebi o convite, que é o programa “Escola Ideal”, inclusive, essa daqui, ela também é parceira da “Escola Ideal”, ela recebeu a pintura, esse colorido bonito que vocês estão vendo aqui, foi realizado por esse programa. Eu recebi já, mas por conta de outras atividades; eu também estou fazendo outra faculdade, eu faço Letras agora, eu não tenho muito tempo de sair, vai a caminhonete cheia de gente, aí participa do mutirão, um pinta, outro risca, outro desenha, aí leva um dia inteiro até dois dias, três dias, dependendo do tempo, se ele ajudar. Mas vontade não me falta de participar, eu gosto muito dessas coisas, eu gosto de pintar, de me envolver com o povo.
A escola trabalha também com esse projeto, esse programa, “Escola Ideal”, que é um “parceirão”, deixa a escola da gente muito bonita, como vocês estão vendo, eles capricham mesmo na pintura, decoram.
P/1 – E porque é importante tem uma escola assim bonita e atrativa?
R – Essa pergunta é muito interessante, porque seria melhor uma resposta mais concreta das crianças, por que elas contam: “Tio, tia”, a escola da gente é linda agora, é muito bom estudar numa escola bonita”. E fazem a comparação. Antigamente a escola era morcego morando na escola, toda rabugenta, caindo aos pedaços, portas pretas, com cupim e a “Escola Ideal” veio justamente para fazer isso, essa mudança, tirar aquela “roupa velha” e colocar a “roupa nova”, como vocês estão vendo por aí.
P/1 – E agora voltando para uma parte mais pessoal, só para encaminhar para o final, eu queria saber como está o seu cotidiano, como você divide suas atividades?
R – Muito corrido, Meu Deus do Céu! Há tempo para tudo, eu ando com minha agenda, porque se não ando com ela me perco; porque é tudo destrinchado. Pela manhã vou para a escola onde trabalho como Gestor na “Escola José Benedito da Silveira” vou a tarde e dou aula de inglês na escola estadual, já vou com o material da universidade, porque quando saio de lá eu corro para dentro do ônibus e vou para a universidade em Campina, que começa às seis, e meia, chego lá atrasado inclusive, chego sete horas; porque o carro vai devagar, por conta já de outro empecilho, do tempo mesmo, então eu volto 11 e meia. Meia noite eu chego em casa, faço um lanchezinho, claro que eu não sou de ferro, tomo um banho e vou dormir, no outro dia tudo do mesmo jeito.
P/1 – E você é casado?
R – Sou casado. Dois anos.
P/1 – Como você conheceu sua esposa?
R – Como conheci minha esposa?
P/1 – É.
R – [Risos] Eu a conheci dando aula pra ela, por incrível que parece ela foi minha aluna, a gente se conheceu na escola. Ela vinha, quer dizer, ela morava no sítio com uma tia, então ela vinha de carro até a escola, que é onde eu dou aula. Quando ela tinha um trabalho, me pedia para eu fazer a capa, aí eu fazia; nessa capa do trabalho a gente foi se conhecendo: “Que isso? Eu faço a capa do trabalho para você e não ganho nada com isso?”. Foi acontecendo, ela foi me dando beijo, a gente foi se conhecendo através dessas capas. Aí a gente passou quatro anos namorando.
No ano seguinte a gente noivou e
em 2010 a gente casou. Vai fazer mais ou menos dois anos que a gente está casado.
P/1 – E qual que é o nome dela?
R – Maria José, chama Coradinha
P/1 – E vocês tem filhos?
R – Não, ela está grávida já está com três meses, vai fazer quatro.
P/1 – E quais são sonhos hoje?
R – Meus sonhos são de ver, um dia se Deus quiser, como eu estou na educação, não posso perder as esperanças; a esperança é a última que morre, ou melhor, ela nunca morre, porque a esperança é Deus, é Jesus. Jesus está vivo no meio de nós, mas, de ver esses números desagradáveis, que a gente vê a respeito de IDEB [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica]; de índice de evasão de alunos. Esse desempenho escolar das crianças, de ver um dia o desempenho positivo, de ver nossas crianças mais leitoras, crianças lendo, escrevendo, contando história e de se tornarem pessoas,
cidadãos de bem mesmo.
P/1 – E o que é que você achou de sentar aí de parar e contar um pouco sua história para a gente?
R – Achei muito importante, porque a gente sabe que o mundo é grande. Existe muita gente, as pessoas precisam conhecer outras pessoas e é dessa forma. Apesar da gente ter o dia a dia, ser tão corrido, não custa a gente parar e olhar “que texto legal”. Vamos ouvir essa história, contar sua vida, conversar com os outros, isso é muito importante. Hoje em dia a gente não vê, que as pessoas não param? Uma correria louca, para frente e para trás, a gente tem que parar, tem que procurar um tempo, existe um tempo para tudo. Isso é muito importante, achei muito legal estar aqui dividindo um pouco da minha história com vocês, espero que tenham gostado e, tocar a bola para frente, e não cochilar; porque “se cochilar o cachimbo cai” e seguir com os nossos programas maravilhosos e excelentes, que continuem cada vez mais.
P/1 – Está certo Milton, obrigada.
R – Por nada.
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