P - Para começar, eu quero que você diga o seu nome completo, local e data de nascimento. R - Sou Paulo Rogério Carvalho, nasci em 19 de agosto de 71, em Santa Cruz do Rio Pardo, Estado de São Paulo. P - E quando é que você entrou no Aché? Quando foi isso e de que forma você entrou no A...Continuar leitura
P -
Para começar, eu quero que você diga o seu nome completo, local e data de nascimento.
R - Sou Paulo Rogério Carvalho, nasci em 19 de agosto de 71, em Santa Cruz do Rio Pardo, Estado de São Paulo.
P -
E quando é que você entrou no Aché? Quando foi isso e de que forma você entrou no Aché?
R - Eu nasci nessa cidade, Santa Cruz do Rio Pardo, cidade pequena, próxima de Bauru e aí eu me casei, novo, com 19 anos, e aí mudei para Itu. E aí, o que aconteceu? Eu vim para trabalhar e vim para ser gerente de posto de gasolina, com meu sogro, na época. E ali eu comecei o contato com o público que ia no posto, casado, recém casado, eu tinha um filho novinho, minha mulher estava grávida e tal. Aí eu trabalhava no posto e comecei a entrar em contato com bastantes pessoas ali, e tinha um propagandista naquela época do Aché. Nem sabia o que era propaganda, o que era propagandista, nada. E eu vi um cara assim com uma... Ele tinha uma Parati na época, uma Parati branca. Isso foi em 91, aproximadamente. E ele chegava com essa Parati branca, sempre cheia de amostras, abarrotada. A gente só via a cabeça do cara dentro. E eu perguntei: “O que você faz?” Ele chamava Ruy. Ele falou assim: “Eu faço propaganda médica.” Falei: “O que é propaganda médica?” “Você visita médicos, hospitais, hospital-escola, faculdades. Você vai a um médico, leva amostra, leva conhecimento científico, leva uma série de coisas.” Eu disse: “Você acha que eu me enquadro nesse perfil aí?” Ele falou assim: “Não sei. Você tem formação?” Falei: “Tenho segundo grau completo e vou entrar numa faculdade. Sempre em busca de uma coisa melhor.” Ele disse: “Está bom. Um dia a gente conversa.” E aí passou 91, 92... Em 93 ele chegou para mim e disse: “E daí, você está a fim de entrar no Aché?” Falei: “Lógico que eu estou.” Nem sabia o que era Aché, nada. (risos) Falei: “Quero. É melhor para mim?” “É. Você vai ganhar mais.” Falei: “Então está bom.” Chegou para mim e falou: “Preenche essa ficha aqui.” Aí preenchi uma ficha direitinho e ele falou: “Olha, você vai estar indo para São Paulo tal dia, fazer uma entrevista com um cara lá.” Aí, não deu certo, desmarcaram a entrevista e ele falou: “A pessoa, o gerente vai te entrevistar em Salto, que é próximo de Itu.” “Então está bom.” “Ele chama Brás, assim, assim, assado.” Aí me deu o cartão, carrego até hoje comigo.
P -
Que legal
R - Aí me deu o cartão do Brás e foi quem me entrevistou. No dia da entrevista, estava com ele previsto ser próximo da... Não sei se você conhece Salto? A imagem de Nossa Senhora de Mont Serrat, ali tem uma santa, enorme. Então tem um bar próximo dali. E a gente estava no bar. E por ironia do destino, ele estava ali e tinha vários candidatos, uns 30, 40 candidatos em um boteco. (risos) Aí chegou a hora do almoço... E tinha uma obra do lado, sendo demolida. Então os caras entregando as fichas para a gente preencher e “blém, blé, blém”...
P -
Dentro do bar?
R - Dentro do bar. Quebrando as paredes, cai uma coisa, cai outra e você não ouvia o que o cara falava. E eu sendo entrevistado por ele, fazendo os testes. Aí eu passei nos testes, oral, teste escrito, que tem sempre uma coisa de praxe que o Aché faz. Aí ele me deu esse cartão: “Você vai para São Paulo.” E aí começou a série de entrevistas para o Aché, entrevistas com supervisor, gerente, diretor... Aí voltava para o supervisor de novo, o gerente de novo e aí eu entrei no Aché no dia quatro de outubro de 1994. E aí eu comecei a conhecer um pouco da função do Aché.
P -
Você se lembra do primeiro dia de propagandista?
R - Perfeitamente.
P -
Como é que foi?
R - Olha, na época eu tinha um carro, um fusca, só que eu não trabalhava com ele. Trabalha em carro comunitário. Carro comunitário o que era? Eu e mais um cara dentro do carro, que é essa pessoa que me colocou na empresa. Só que ele tinha 15 anos de Aché e agüentar um cara novo, junto ali... Não é por falar não, mas eu ficava mais tempo com ele do que com a minha esposa. Eu ficava com esse cara segunda, terça, quarta, quinta e sexta, dormindo em hotel.
P -
E quem é que dirigia o carro?
R - Ele. Ele era... Só ele é que dirigia o carro. (risos) Eu não podia pegar o carro. Podia, mas era assim. A empresa nunca deu um carro, vem um carro com um cara lá... Então ele falava: “Você, não. Você fica aí.” Falei: “Então, está bom.” E eu ia, feliz da vida, trabalhando no Aché, salário diferenciado, melhor condição de vida para minha família. Em 94, minha esposa já estava grávida de novo do segundo filho e então eu precisava melhorar e aquela coisa toda. E aí nós entramos para trabalhar em Itu, Salto, Itapetininga, Tatuí, São Roque, Sorocaba, Itapeva. O setor era enorme. E eu devo muito a essa pessoa que me indicou na empresa. E que me ensinou muito, também. A gente tinha muita desavença em muitas coisas. Mas porque você fica todo dia com o cara. Almoçava com ele, jantava com ele, dormia com ele. Dividia o hotel com o cara e eles chamavam lá o casal de propagandistas. (risos) Você tinha muita... Você criava uma afinidade muito grande com a pessoa. O meu primeiro dia de propaganda foi com ele. Lógico, como tem que ser, foi sacanagem dos caras. Cheguei numa clínica, tinha um monte de gente de branco, e tinha um rapazinho novo: “Fala com o doutor, aí.” Aí eu fui lá. Treinado, decoradinho. Falei com um, vou lá. “E fala com a outra doutora, fala com a outra doutora também.” Não era médico coisa nenhuma. Era tudo enfermeiro, enfermeira, tudo pessoas que estavam passando na clinica ali. Então, o primeiro dia, você acaba nunca esquecendo mesmo. A minha primeira propaganda foi feita em Itu, para o médico, e até hoje eu visito ele.
P -
Você falou dos hotéis em que você ficava hospedado. Você lembra desses hotéis como é que eram?
R - Olha, vou falar uma coisa para você: não era mole, não. (risos) A gente fala de hotéis, mas, por exemplo, eu me hospedava em Itapeva, que eu já comentei contigo. No setor, as cidades mais pobres eram ali. Era chamado o “ramal da fome”. Itapeva, Apiaí, Itararé, Capão Bonito. São cidades próximas da divisa com o Paraná e são cidades muito pobres. Então, você chega na cidade e você não tem muito recurso. O Aché tinha uma diária até legal de hotel. A gente pagava parece que 35, 45 reais o hotel. Então você chegava lá e tinha que enfrentar o que estava lá. Chegava no hotelzinho e geralmente é um quarto para dois, a gente dividia o quarto para um dar apoio para o outro. Mas era muita bagunça, hotel simples. Eu lembro que a gente estava tomando café da manhã, e a menina chegou assim, estava tudo cheio de casquinha de pão, sujeira, e eu falei: “Você precisava limpar aqui.” Ela falou: “Espera aí.” Zepp... Jogou casca de pão, resto de... (risos) Falei: “Puxa vida. Está valendo.” Pelo Aché a gente fazia qualquer coisa. Mas as histórias mais engraçadas aconteceram mesmo nesse setor.
P -
Você lembra de alguma viagem que tenha te marcado? Porque hoje você não viaja muito, não é?
R - Não.
P -
Mas alguma viagem...
R - A que mais marcou foi quando eu fui visitar os médicos de Apiaí, que só o Aché visitava, e era até engraçado. Você chegava na cidade lá, cidade muito pequenininha. Então todo mundo chegava: “Ôpa, tem gente nova na área. Os propagandistas chegaram aí.” E os médicos recebiam muito bem. Se você abusasse, você ficava lá e dormia na casa do médico, ainda. “Vem almoçar comigo. Vem tomar um whisky mais tarde.” “Vamos tomar um vinho.” “O que nós vamos fazer hoje?” E essa recepção calorosa era muito gostosa, porque eu tinha setores distintos. Eu trabalhava em Sorocaba, que tinha consultórios, naquela época:
“Não, marca hora. Senta ali, propagandista fica ali naquela salinha.” Você ia no outro lugar, os médicos te abraçavam. Só faltavam carregar você no colo. E prescrevia. Produto do Aché se prescreve muito até hoje. Mas o mais engraçado foi essa viagem que eu fiz para lá, eu e o Ruy, amigo meu no mesmo carro. E no retorno, nós íamos lá no início, tinha lá um acampamento de Sem Terra. E logo cedo – isso era às seis e meia da manhã - você tinha que sair cedo para chegar lá... Eram 140 quilômetros de estrada, do hotel onde a gente se hospedava até chegar em Apiaí. Aí chega lá, o acampamento Sem Terra. “E aí, Ruy? O primeiro obstáculo do dia. Vamos tentar reverter esse negócio aí.”
Chegamos lá, os caras com bandeiras, com tora, com lenha, um monte de coisas no meio da pista, pneu. Falei: “E aí?” Falou: “Você que usa bigodão, vai lá, que impõe respeito.” (risos) Aí chegou: “Olha, vamos visitar os médicos em Apiaí, estamos levando medicamentos para eles, tem caso de vida ou morte e não sei o que...” Aí eles foram lá consultar o chefe deles, se deixava a gente passar. Passamos. Fomos para Apiaí, já com a preocupação de
voltar, porque à tarde a coisa ia pegar. De manhã nós pegamos eles na boa e deixaram a gente passar. Na volta, quando voltamos de Apiaí para cá, visitamos os médicos, voltamos... Chega ali, filas. Quilômetros. Tinha mais de cinco quilômetros de estrada, caminhão, essa coisa toda. Falei: “E agora?” “Agora, não vão deixar a gente passar.” E não deixaram mesmo. Você tinha que andar cinco quilômetros a pé, para pedir para eles deixarem você passar. Aí chegamos para um tio ali, um senhor na estrada e perguntamos para ele: “Tem algum atalho?” Ele falou: “Tem. Você entra aqui no sítio da fazenda do “seu” Antonio e tal, corta para cá e você vai sair lá na outra pista.” (risos) “Então, vamos embora.” E pegamos essa estrada. Isso era por volta de cinco horas da tarde. E aí foi a história. Você vai, abre porteira, e vaca vem correndo atrás de você. O carro do cara era vermelho ainda, vermelhão, e fecha a porta do carro, e sai correndo, e fecha a porteira, deixa a porteira aberta, e sai o gado para a roça... Falei: “Meu Deus do céu. Parece que já passamos por aqui hoje.” (risos) E fomos indo. E vai, sai correndo e tal... Conseguimos chegar na cidade. Mas é muito engraçado isso aí. O médico não imagina o que você passa para ir visitá-lo. Aí, toda essa história, cortamos o acampamento Sem Terra e chegamos em Itapeva. Às nove horas da noite, sujo, embarreado, carro todo sujo. Essas coisas. Isso era terça feira. Tinha que ficar lá quarta, quinta e sexta ainda para trabalhar. Mas ser propagandista é uma coisa fantástica. Aí, continuei na empresa trabalhando. Sempre muda.
P -
As regiões?
R - Faz um setor e aí você vai e se transfere para outro setor. Até é uma coisa que eu não acho legal, porque a partir do momento em que você começa a criar uma identidade com o médico, eles tiram você do setor. Não sei. Deve ter alguma explicação.
P -
Você já desenvolveu alguma estratégia para atingir o médico? Uma estratégia própria? Você tem?
R - Própria?
P -
É.
R - Olha, eu sou muito ligado em datas de aniversários. Então, o meu aniversário que é 19 do 8, eu procuro dentro da minha área, da minha jurisdição, ver os médicos que aniversariam no meu mês. E, por alegria minha, eu tenho muitos que aniversariam no meu dia. Então, a minha estratégia é sempre saber uma coisa que mexe com o outro. Ser lembrado.. Qualquer pessoa gosta de ser lembrado no aniversário. Então, eu pego um dado importante que é o seguinte: tem um médico de Itu, um ginecologista, que no dia 19 de agosto – não lembro o ano direitinho – eu comprei um bolo para ele, isso no final do dia. E a secretária falou: “Hoje eu vou visitar o doutor lá pelas sete e meia da noite.” Tudo bem. Falei: “Não tem nada, não.” Comprei um bolo, coloquei uma velinha simbólica porque o médico não gosta de idade, aquela coisa toda. (risos) Deixei lá, dentro do carro, o bolo ali, esperando acabar as consultas dele. Falei: “Vou ser o primeiro cara a lembrar dele hoje.” E aí, sete e meia, sete e quarenta, acabou. Acendi a velinha ainda dentro do carro e entrei com o bolo. O bolo, e cheio de caixinhas de amostras, de medicamentos, literatura...
P -
Você lembra que produtos eram? Que medicamentos?
R - Era o Biofenac, Sorine... Um dos produtos mais importantes era o Biofenac e o Sorine. Aí eu coloquei as caixinhas das amostras assim, cheguei para a secretária e ela falou:
“Estou indo embora.” “Não. Espera um pouquinho, que nós vamos fazer uma surpresa para ele.” Aí eu fui lá, peguei o bolo, bati na porta dele e falei: “Doutor Emersom?” “Pode entrar. Esse horário?” Eu falei: “Não é. Eu vim aqui cantar parabéns para nós hoje.” “Para nós?” Eu falei: “É. É nosso aniversário.” (risos) E aí ficamos ali. Foi muito legal e isso aí marcou muito. Todo ano esse médico manda cartão, manda e-mail. Ele não esquece o meu aniversário mais. E eu não esqueço o dele, também. Eu sempre me ligo nisso aí, dia do aniversário eu procuro saber, adequar meu modelo dentro dos médicos, vou em tal lugar...Nem que eu corra um pouquinho mais, mas não deixo de lembrar deles, não. O médico só prescreve mesmo para quem ele tem uma consideração grande, respeito. E você acaba ganhando a simpatia dele.
P -
Você acha que esse é o diferencial do Aché, do propagandista do Aché?
R - É o diferencial do Aché. Olha, eu vou falar uma coisa para você, com toda a propriedade do mundo: só o Aché faz isso. Só os propagandistas do Aché fazem isso. Sabe, se ligar em data de aniversário, hobby do médico, trocar uma idéia com o médico. Se o médico gosta de miniatura de carro, você compra uma miniatura para ele e leva lá. Coisas simples assim, mas que marcam.
Que marcam muito. Eu acho que o caminho é esse daí.
P -
Tem alguma coisa curiosa que você presenciou num consultório, um jeito do médico, de ser, que você se lembre?
R - Tem. Tem. (risos) O fato mais curioso que aconteceu foi em São Roque. Tem um cardiologista na cidade, chamado doutor Sidney, e ele é uma pessoa muito estudiosa, sempre se preocupou muito em se atualizar, congressos. Até os laboratórios que tem linhas específicas de medicamentos para cardiologistas, investem muito nele. Pagam congresso para ele e tal. Estados Unidos, Harvard, aquela coisa toda. E esse médico passou por um momento difícil de saúde, ele ficou doente. E ele tem uma esposa que é, assim, uma figura muito cômica. Ela é toda destrambelhada, e tal, mas foi a pessoa que deu todo esse apoio para ele. Ajudou no momento mais difícil da vida dele, em que ele viu que estava beirando a morte. Então, quando ele voltou, ela deu toda... Ele ficou acho que uns três meses afastado. Ele voltou, e ele tem uma estima muito grande por ela. Então, eu cheguei no consultório, e ela tem toda essa particularidade dela, fui no consultório – foi um dos primeiros dias que eu estava indo trabalhar em São Roque – aí chego no consultório: “Ah, entra. O menino do Aché. Vem cá. Vem fazer sua propaganda.” Então você entra na sala, o paciente está lá sem roupa, o médico consultando... “Ah, pode entrar, pode fazer propaganda.” Acaba aquela situação constrangedora. Tudo bem. Faz propaganda, sai dali e dali a pouco, entra uma senhora. “Ca ca ri cá...” Com uma galinha. Duas galinhas vivas na mão. Caipira. “Olha, Ângela, trouxe duas galinhas. Sabe como é que é. A gente está sem dinheiro para pagar as consultas. Semana que vem vou trazer um porco.” (risos) É demais. É uma coisa de...Você pega um médico, concentradíssimo, um senhor doutor em cardiologia, um bom médico. Só que ele tem essa particularidade que é a esposa, uma figura cômica. Então, as pessoas pagam a consulta com galinha, com porco, dúzia de ovos. Você está lá, chega uma pessoa com uma dúzia de ovos na mão. (risos) Aí você fica vendo: “Que coisa mais estranha isso aí.” (risos)
Isso é muito engraçado. É em São Roque, isso aí. Eu acho que é um dos fatos mais curiosos que eu já vi até hoje. Aí, eu continuei na empresa até 98. O Aché viveu um dos melhores anos dele em 96. Foi quando o Aché atingiu um boom de faturamento, ganhou muito dinheiro. A gente ganhava bastante, também. Tinha o 13º, 14º, 15º e aí ia embora. Foi a época em que o Aché começou a ampliar. Contrataram 500 homens Brasil, e aí surgiu a portualidade, e aí eu fui promovido. Fui ser supervisor de vendas. Aí eu peguei uma equipe muito distante, era no setor de Lins, Bauru, São Carlos, Botucatu, Itapeva. Tinha mais de 100 cidades dentro do meu setor de trabalho. Nessa fase, eu comecei a abandonar um pouco a parte de propaganda, e você acaba não vivenciando isso que é gostoso, porque você fica um pouco sem privacidade O supervisor é o cara que fica ali, do lado do propagandista, atrás da porta, como o pessoal fala. Você fica ali, você fica sem privacidade nenhuma, porque tudo o que você vai fazer, o cara está vendo. Se você tem uma dor de barriga um dia, você diz: “Ô, meu, me leva no banheiro.”(risos) É sério. Então, você fica sem privacidade nenhuma. Então, o que eu trago dessa
fase de supervisão é uma experiência muito boa que eu adquiri, de contato com as pessoas, de você... Eu com 30 anos, supervisionando uma pessoa com 45 anos de idade. Então, você aprende muito, você ensina alguma coisa para a pessoa também. Então, o que eu trago de bom disso aí, dessa fase até 98, foi assim.
P -
E você tem uma peculiaridade porque você saiu da empresa e voltou para a empresa.
R - Isso. Em 98 eu fui promovido, fiquei três anos como supervisor de vendas e em 2000 a gente percebia que o mercado não andava bem, e tal, e não sei... O mercado em si levou a muitas demissões no Aché. E aí eu fui demitido da empresa. Foi aí que eu falo para você, que eu enfrentei um dos piores momentos da minha vida até hoje. Eu sou uma pessoa muito positiva, muito assim, alto astral sempre, mas foi um momento em que eu me vi numa situação muito difícil, sabe. Porque é uma empresa que te dá uma condição de você dar um padrãozinho de vida legal para a sua família, os filhos numa boa escola, minha esposa estava grávida de uma menina, que eu sempre quis ter uma filha. Eu já tinha dois filhos. Então, esse momento foi um dos momentos mais difíceis que eu passei, porque ela estava grávida. Isso foi em dezembro de 2000. Em primeiro de dezembro de 2000 eu fui mandado embora. E ela ia ter nenê em janeiro. Então, aquilo para mim... “Meu Deus...”
Tudo aquilo que eu estava construindo no Aché, de repente foi por água abaixo. Você começa a falar: “Quem sou eu? Não tinha valor na empresa? Será? Por que isso? Por que fui demitido?” Você começa a questionar: “Será que eu fui incompetente?” Sei lá. Uma série de pensamentos. Mas, quando eu fui demitido da empresa, eu fui visitar minha mãe, que mora lá em Santa Cruz do Rio Pardo. E visitando a minha mãe, ela falou assim para mim: “Mas eu não me conformo que você tenha sido mandado embora do Aché.” Ela estava inconformada. E ela falou assim: “Não se preocupa não, porque você vai voltar para a empresa.”
Isso foi por volta de uns 15 dias depois da minha demissão. Eu falei: “Mãe, isso não existe. Voltar no Aché, ninguém volta no Aché. Eu não conheço nenhuma pessoa que voltou no Aché.” Ela falou: “Então você vai ser o primeiro.” Eu falei: “Não acredito. E paciência, vamos tocar a vida, não existe só o Aché, vamos procurar outras coisas para se fazer.” Entrou janeiro, eu fui atrás de outras coisas para fazer...
P -
Nasceu sua filha.
R - Nasceu minha filha. Foi um momento assim, mágico. Eu aproveitei os contatos que eu tinha com os médicos. Eu assisti o parto da minha filha, uma coisa muito marcante, um momento muito gostoso. Porém, eu estava desempregado. E aí, os meus dois filhos mais velhos, olha só o que eles escreveram para mim.
P -
“Pai, você merece o amor de nós, para ter emprego.” Agora tem um outro, mais novinho, que nem sabe escrever ainda.
P -
“Pai, você merece o emprego.”(emoção) “O empergo.”
R - Então, você via... Os meus filhos, eles viam que eu estava numa situação difícil. Psicologicamente eu estava meio abalado. Então, eles viviam colocando recadinhos para me motivar, para me ver de novo com aquela busca, aquela energia. E eu vivia muito o Aché, eu era Aché. Então eu senti muito. Isso foi em janeiro. Fevereiro eu estava desempregado ainda, recebi um telefonema da filial de Bauru. O gerente falou assim para mim: “Você está bem?” Eu falei: “Na medida do possível eu estou bem, mas eu gostaria de estar trabalhando.” “Você voltaria para o Aché?” “Nossa... Eu voltaria para o Aché.” Ele falou: “Mas você era supervisor. Você vai voltar como propagandista.” Falei: “Eu tenho humildade suficiente, tamanha, muita para aceitar voltar como propagandista, e se brigar de novo, vou ser um supervisor de vendas.” Ele falou: “Mas você tem mesmo?” Falei: “Eu tenho.” “Ah, então está bom. Vou ver para você.” Mas ficou nisso. Passou-se uma semana, 10 dias com aquela angústia, querendo ir atrás disso. Aí recebi uma ligação: “Olha, não dá. Não pode ser recontratado como supervisor de vendas.” Aquilo
acabou o mundo para mim. Eu fiquei arrasado de novo.
P -
Novamente.
R - Aí foi o momento que eu comecei a entrar em conflito. Falei: “Meu Deus...” Mas, tudo bem. Passou-se uns 10 dias e aí eu recebi uma ligação de um outro gerente. Aí esse cara queria meu cartãozinho de novo. A pessoa que tinha me contratado na empresa, fez o processo seletivo, me chamou de novo. Ele era de Campinas. Infelizmente ele não está na empresa mais. Ele falou assim: “Você quer voltar para o Aché?” Eu falei: “Eu quero.” Mas falei para ele: “Mas pelo amor de Deus, se for, que seja agora.” “Então venha para Campinas.” Isso era umas nove horas. “Esteja aqui umas dez e meia da manhã.” Falei: “Está bom.” Vim para Campinas, aqui na Prodome, que tem a sede do Aché. Cheguei lá, ele falou assim: “Como é que você está?” Falei: “Estou bem, mas eu gostaria de voltar para o Aché. Eu faria de tudo para voltar para a empresa.” Ele falou: “Então você vai ser o primeiro recontratado da empresa.” Nossa, na hora em que ele falou aquilo para mim, sem brincadeira, me emocionei muito. Mexeu comigo. Ele falou: “Assina aqui e vai participar da reunião da empresa.” Como dessa reunião que está tendo agora aqui. Eu sentei lá e fiquei lá assistindo. Eu mesmo. Ah, que beleza, né? Aí liguei para minha família, de dentro da sala de reunião, liguei para minha esposa. Falei: “Olha, estou no Aché de novo. Estou aqui fazendo reunião da empresa.” “Você jura?” “Juro por Deus, pela minha mãe, que falou isso para mim.” Nossa, você imagina a gritaria que foi do outro lado do telefone, né? Aquele dia foi muita comemoração, o pessoal me recebeu muito bem. O carinho com que eles me receberam foi muito grande. E graças a Deus, eu estou aqui de volta.
P -
O que mais te agrada no Aché? Estou vendo essa empolgação aí.
R - O que mais me agrada no Aché? Existe uma filosofia dentro do Aché, de solidariedade, companheirismo. Você se identifica muito, eu me identifico muito com as pessoas, com os propagandistas, com os gerentes regionais, diretores. Você percebe que existe um calor humano ali. A pessoa quando vem conversar contigo, ele conversa com o Paulo Rogério do Aché, mesmo. Ele conversa, ele me trata bem, a gente dá risada, conta piada, fala de trabalho. A hora que é coisa séria é coisa séria. O treinamento no Aché é uma coisa terrível. O pessoal pega ali... A fama do Aché é que o treinamento é ali. Rédeas curtas. E é mesmo. Com muito prazer, sabe? É gostoso. Você está ali para trabalhar, para receituar. É isso aí que me motiva. Eu, nossa, sou Aché, assim, camisa 10. Com muita honra de ter voltado para a empresa e ser um dos 10 homens recontratados pela empresa hoje no Brasil. Eu falo isso de boca cheia. É muito gostoso. Para mim, para minha carreira profissional, repercutiu muito bem. Eu espero ficar agora mais uns cinco, 10, 15 anos e voltar de novo a lutar por uma supervisão. Eu estou muito feliz.
P -
E para acabar, eu queria te perguntar o que você achou dessa experiência de ter contado um pouquinho de sua história?
R - Olha, é muito gostoso você poder falar, contar uma história igual à minha, que é uma história muito positiva, muito feliz. Eu, com 30 anos, me considero uma pessoa vencedora na vida.
Porque eu comecei lá de baixo, tinha emprego que não tinha um ganho legal. Lutei, consegui, fui mandado embora, voltei...Então para mim, é a oportunidade de eu poder relatar isso para a empresa, você vê que eu estou falando para o Aché, e de repente possa ficar na memória da empresa. Isso é muito bom. Parece que você colocou para fora aquilo que você queria falar para o Brasil todo.
P -
Que bom. Muito obrigada.
R - Eu que agradeço a oportunidade.
P -
Valeu. Muito legal.Recolher