Projeto Memórias do Comércio 2020-2021 – Módulo Bauru
Entrevista de José Aparecido Faustino (Paraná)
Entrevistado por Guilherme Foganholo e Cláudia Leonor
Bauru, 9 de fevereiro de 2021
Entrevista HV024
Transcrito por Selma Paiva
P1 – Boa tarde, então, Paraná!
R1 – Boa tarde!
P1 – É assim que você gosta de ser chamado, então? Paraná, é assim que você é conhecido?
R1 – É, aqui na cidade e em toda a região aqui todo mundo me conhece como Paraná, porque o nome da empresa é Paraná Autopeças e Acessórios. Então, eu acabei ficando conhecido como Paraná. Às vezes eu falo meu nome, ninguém sabe quem é. Então, por isso que eu falei pra você: coloca Paraná, que daí o pessoal me conhece.
P1 – Entendi. Bom, obrigado aí oficialmente, então, por você aceitar o nosso convite, tá?
R1 – Eu que agradeço.
P1 – A gente vai começar aqui, então, eu vou pedir pra você repetir o seu nome completo e o local e a data do seu nascimento, Paraná.
R1 – Eu me chamo José Aparecido Faustino, sou nascido no dia 26 de março de 1956, estou com 64 anos. Pertinho pra fazer 65 anos. E eu vim do Paraná, né? Trabalhava no Paraná, numa loja pequena de autopeças, aí eu acabei indo pra São Paulo e fui trabalhar em autopeças também lá em São Paulo e depois eu acabei vindo, tinha uma tia que morava aqui em Bauru, acabei vindo pra Bauru. Em 1979 eu comecei com uma loja pequenininha, tinha cem metros quadrados, eu e meu primo. Meu primo se chama Sandro e ele veio trabalhar comigo, ele tinha 14 anos de idade e hoje ele é meu sócio aqui na empresa. E, na verdade, quem toca a parte de peça, hoje, é ele. Eu fico mais na administração. E nós hoje estamos aqui com 82 funcionários, estamos com uma loja hoje com três mil e quinhentos metros de área total construída, temos estacionamento pra cinquenta carros e fizemos dessa pequena loja, hoje é um shopping, né? A gente tem acessórios, tem mercado. Eu não sei se vocês foram no Mercado OK em São Paulo, já.
P1 – Não.
R1 – É aquele estilo, só um pouco menor. Um pouco, não, bem menor, porque a cidade também não comporta uma loja daquele porte aqui, né? E estamos aí, tocando, né? Paraná, hoje, tem a televendas também. Vendemos pras oficinas da região, aqui. Vendemos pra Botucatu, Jaú, Pederneiras, Piratininga, Lençóis, Agudos, Duartina... a gente faz um raio de cem quilômetros aqui.
P1 – Entendi, então, Paraná. Bom, a gente vai entrar em detalhes, então, sobre essa história, obviamente, mas primeiro vamos voltar lá atrás, um pouco. Queria falar lá atrás, como foi sua infância. Você lembra o que seus pais faziam? Com o que eles trabalhavam?
R1 – Olha, eu vim... na verdade, meu pai era lavrador. Meu pai tinha um pequeno sítio lá no Paraná, uma pequena terra. Eu sou nascido na cidade de São Jorge do Ivaí, uma cidade ali perto de Maringá. Depois, quando eu tinha seis anos de idade, meu pai foi pra Jesuítas. É uma cidade perto de Cascavel. Meu pai tinha um pequeno sítio lá, onde a gente plantava café, tudo e eu fiquei com ele na lavoura até os 17 anos. Quando eu completei 17 anos, eu fui trabalhar numa pequena autopeças que tinha na cidade lá, porque me convidaram pra ir trabalhar lá e eu fui. Aí, eu fiquei lá até os vinte anos, trabalhando nessa autopeças. Depois eu fui pra São Paulo e acabei arrumando um serviço numa rede de lojas que tinha no ABC, na época, que chamava Tropical Autopeças. E aí, eu fiquei lá trabalhando com eles, fui trabalhar em São Caetano, numa loja que eu fui ser gerente lá, aos 21 anos, 22 anos. Aí, quando foi com 23 anos, eu vim pra Bauru e abri uma lojinha pequena aqui.
P1 – No local que é de hoje ou já em outro local?
R1 – No mesmo lugar que é hoje. Aí eu aluguei um salãozinho de cem metros quadrados...
P1 – Fala o endereço pra gente, pra registrar aqui.
R1 – O endereço é Rua Araújo Leite, 3-1, porque aqui em Bauru é quadra e número.
P1 – Certo. Tranquilo.
R1 – E aí, era uma loja de cem metros quadrados que eu comecei, né, como eu disse, aí meu primo Sandro veio trabalhar comigo, ele tinha 14 anos de idade e aí eu comecei a crescer e eu fui comprando umas casas antigas que tinha aqui, depois eu comprei também outro salão do lado e a loja foi crescendo.
P1 – Você tinha uns vinte e poucos nessa época e o Sandro tinha 14 também já em Bauru?
R1 – Quando eu montei a loja, eu tinha 23 anos, porque a loja hoje tem 41 anos. Meu CNPJ é do dia 6 de março de 1979, pra você ter uma ideia. Eu tinha 23 e o Sandro tinha... não... é isso: o Sandro é bem mais novo que eu, ele tinha 14. E estamos juntos aí, mandando ver.
P1 – Legal. Bom, pra registrar aqui também, a gente estava perguntando da sua infância e o nome dos seus pais, pra ficar registrado também, como era o nome do seu pai e da sua mãe?
R1 – Meu pai se chama Argemiro Faustino, já faleceu, é falecido. Minha mãe é Maria de Lourdes Braga Faustino, ainda é viva, está com 85 anos. E é isso aí.
P1 – E você lembra, assim, antes dessa parte mais de trabalho, se você tinha amigos, na sua infância, lá no Paraná? Você lembra de brincadeiras de infância, coisa do tipo, assim? Gostava de futebol, como era?
R1 – A gente tinha um time de futebol lá que disputava campeonato juvenil, depois fizemos futebol de campo, eu joguei no time do Banestado. Então, a gente tinha time lá, tinha muito amigo, era muito gostoso morar lá. Quando eu fui pra São Paulo, eu sofri muito, no começo, por ter deixado meus amigos, né? E eu ainda era menino, muito jovem, mas eu não fiquei lá porque a cidade era muito pequena e não havia possibilidade de crescimento, né? Por isso eu saí de lá na época.
P1 – Isso que te motivou a sair, então? Você já estava pensando em algo maior, numa cidade maior?
R1 – Não foi só eu que saiu, né? Saíram vários amigos meus, que hoje tem uns que ainda estão em São Paulo, outros voltaram pra lá, outros estão em São Carlos, outros estão em Curitiba. Esses são os amigos de infância, né, que permanecem até hoje comigo.
P1 – Interessante. Paraná, você tem irmãos? Como era sua família, assim?
R1 – Na verdade, a gente era em quatro irmãos. Aí, aconteceu um acidente com meu irmão, ele faleceu e eu perdi outro irmão ano passado. Agora só estamos eu, minha irmã e minha mãe. Mas eu tenho as minhas filhas agora, tenho três filhas também, então a família cresceu. Mas ainda não tenho neto, não. (risos)
P1 – Ainda não tem netos?
R1 – Não.
P1 – Entendi. Bom, então descreve pra gente, então, como que é foi esse começo, assim: o primeiro trabalho que você teve, o que você aprendeu na área, assim, que você já começou, né, com autopeças, que você falou.
R1 – Você diz lá no começo?
P1 – Isso. Como é que era? Você tinha já uma familiaridade com aquilo? Você já sabia mexer, assim, nas peças?
R1 – Não. Quando eu fui trabalhar com autopeças, eu saí da lavoura, porque eu trabalhei com meu pai até os 17 anos, comecei a trabalhar aos nove anos e trabalhei com ele até os 17, na lavoura. Daí tinha um menino que estudava na mesma sala que eu e o irmão dele tinha autopeças. Daí ele falou pra mim assim: “Meu irmão está precisando de um menino pra trabalhar, você não quer?” Aí eu falei: “Vou”. Só que eu não entendia nada de autopeças, né? Eu cheguei lá e daí ele começou a me ensinar e Jesuítas era uma terra vermelha, então passava aqueles carros, assim e a rua ainda não tinha asfalto e era puro poeirão, então tinha que ficar limpando as prateleiras, né, cara, quando passava os caminhões e a gente gostava muito quando chovia, porque daí a gente vendia corrente. Você não chegou, não sabe disso: naquela época tinha muito viajante, né, mascate, tinha... pra você ter uma ideia, isso foi em setenta e pouquinho. Então, a gente vendia corrente pra acorrentar os carros, passar em volta do pneu, porque senão o carro, na lama, patinava pra trás e não ia pra frente.
P1 – Ficava atolado, né?
R1 – Então, o dia que chovia, a gente fazia festa, né, porque era o dia que mais vendia, né? Então, a gente vendia corrente pro pessoal, ali na hora, pra passar pra ir pra Foz, pra Cascavel, o pessoal, os vendedores passavam tudo ali, né? Uma cidade perto, Assis Chateaubriand. Então, era isso. E daí, quando eu saí de lá, que eu fui pra São Paulo, eu cheguei em São Paulo e encontrei outra pedreira, né, porque daí eu fui trabalhar numa loja super grande, na época era uma das maiores lojas que tinha, de autopeças, no ABC e eu fui trabalhar lá. Então, no começo, eu tive um pouco de dificuldade. Mas, como eu conhecia os produtos, então rapidinho eu me saí bem, comecei a ser um dos principais vendedores da empresa. E depois de um ano que eu estava lá, aí já mandaram eu ser gerente de uma loja que nós abrimos em São Caetano, isso tudo muito rápido, eu era muito jovem também, mas uma coisa que acho que meu pai me ensinou muito era trabalhar, né? Então, não tinha preguiça de trabalhar. Começava às sete da manhã, parava dez, onze horas (risos) da noite, todos os dias. E aí eu fui crescendo na empresa e aí chegou um dia que a gente não combinou mais referente ao salário, daí vim pra Bauru, tinha ajuntado um dinheirinho e montei a loja aqui em Bauru.
P1 – Entendi.
R1 – Entendeu?
P1 – E a questão, assim, de escola, como é que foi a sua relação? Você gostava de estudar? Você era um menino que era complicado?
R1 – Não. Eu não tinha muito tempo pra estudar, mas já no Paraná eu terminei o segundo grau; aí em São Paulo eu não consegui estudar, porque eu trabalhava muito; aí, quando eu cheguei em Bauru, tem um colégio aqui que chama...
PROBLEMA NO ÁUDIO
P2 – Você estava falando da sua escola.
R1 – Aí tinha um colégio aqui que se chama Liceu Noroeste e tinha o curso de Contabilidade. Aí eu me matriculei lá e trabalhava de dia e fazia o curso à noite. Aí consegui concluir, sou contador também, formado e depois eu também soube... tipo assim, uma coisa que me ajudou muito, por eu entender essa parte de contabilidade. Então, eu tinha uma visão como era. Mesmo muito jovem, quando eu abri a loja, mas eu tinha uma visão... eu era um bom vendedor e tinha conhecimento na área de contabilidade. É lógico que eu arrumei um escritório de contabilidade, tudo, mas isso me ajudou muito. E depois dos 45 anos eu vim fazer uma faculdade de Administração, na USP aqui de Bauru. Só que eu fiz dois anos e depois eu tranquei, não consegui mais, não quis ir mais, porque eu ficava muito cansado, eu falei: “Já estou numa idade que eu tenho que cuidar da minha empresa”. Deveria ter terminado o curso, mas acabou, assim, não terminei. Mas foi muito legal.
P1 – Bom, antes da gente falar um pouco de você vir vindo pra Bauru, mas como foi, o que você achou de São Paulo? Primeiro contato que você teve com São Paulo. Você falou que teve dificuldade, por causa que você sentia saudades dos seus amigos, mas o que você achou da cidade, você que veio de cidades menores, como foi morar lá um tempo?
R1 – São Paulo, na época que eu cheguei, não era violento.
P1 – Era por volta de que ano que você chegou lá? Em setenta e...
R1 – 1974. 1975 eu cheguei em São Paulo. Era uma cidade ainda muito tipo assim: eu acho que não tinha a violência que tem hoje. Apesar que nós estávamos vivendo uma ditadura ainda, mas não tinha a violência que tem hoje. Então, eu também fiz amigos lá em São Paulo, nas lojas que eu trabalhei. Eu sempre fui um cara bom de relacionamento e tipo assim: eu sempre gostei de jogar bola. Então, a gente fazia... fizemos... íamos jogar bola aos domingos, né? Então, isso facilitava muito, pra me relacionar com as pessoas. Então, eu fiquei em São Paulo, acabou sendo muito legal. Eu fiquei de 1975, até 1979 em São Paulo, quatro anos e quando eu cheguei em Bauru, eu estranhei muito, né? Até eu pensei: “Poxa, por que eu fui sair de São Paulo?” Achei a cidade de Bauru, na época estava com cento e cinquenta mil habitantes, acho que cento e sessenta mil e era uma cidade muito pacata, né? Eu tinha acabado de sair de São Paulo, quando eu cheguei aqui, eu estranhei demais. Eu estava querendo voltar. É que deu muito certo meu negócio aqui, por isso que eu não voltei. Então, eu acabei ficando aqui. Hoje eu não quero trocar Bauru por São Paulo, de maneira alguma, porque eu tenho muito amigo que tem loja em São Paulo, mas eu vou aí, eu vejo a correria, de vez em quando sofre um assalto, então é complicado. Então, hoje, pra mim, aqui, eu acho que eu vou ficar aqui pra sempre, nessa cidade, porque é uma cidade também que me acolheu muito bem, eu sou um cara muito respeitado na cidade, todo mundo gosta de mim e eu gosto muito das pessoas aqui... mas também, em Bauru, outra coisa: eu parti pro ramo de construção aqui. Eu gosto muito de mexer com construção, então eu faço algumas coisas pra alugar e também faço casa em condomínio, pra vender. E é um ramo, assim, que eu gosto muito também.
P1 – Paraná, você foi pra São Paulo, lá, ficou uns anos lá, então e o que te trouxe, exatamente, pra Bauru? Como você escolheu Bauru? Como você veio parar em Bauru?
R1 – Porque a irmã do meu pai morava aqui em Bauru, na época e eu vim num final de semana - depois que eu estava em São Paulo fazia uns três anos – passear em Bauru. E daí minha tia e meu tio me levaram nos lugares aqui, da cidade, eu passei um final de semana aqui, aí minha tia falou pra mim: “Vem pra cá, você sempre é do interior”. Ela tinha um sobrinho dela que tinha uma loja de acessórios, até me convidou pra vir trabalhar com ele e tal, mas aí eu falei: “Tia, eu estou muito bem em São Paulo, mas eu posso vir, sim. Quem sabe uma hora, né?” E aí acabou dando certo de eu vir pra cá. E eu acabei montando meu próprio negócio aqui, porque eu tinha muito conhecimento, já, com esse negócio de peças de carros, então eu falei assim: “Eu vou montar”. A cidade de Bauru eu achei que estava precisando de uma loja, porque o pessoal aqui ainda estava meio bem devagar no negócio, né? E quando você trabalha em São Paulo, você pega outra bagagem, né? E, como eu era comprador da empresa que eu trabalhava em São Paulo, então, além de comprador, também eu era vendedor, então pra mim foi muito fácil, porque eu tinha tipo assim: os fornecedores todos na mão. E quando eu abri aqui, eles me ajudaram muito também, sabe? Eu abri o negócio praticamente sem dinheiro, mas as pessoas me conheciam e sabiam do meu talento, na época e eles também sabiam que eu era uma pessoa muito correta e acabou, no fim, dando tudo certo.
P2 – Paraná, como você escolheu o ponto aqui em Bauru, assim? Porque você veio de fora, né? Você veio visitar seus parentes e tudo. Como você escolheu o ponto que você está? Como é que foi a organização da empresa?
R1 – Eu vou te falar: isso aí foi uma coisa assim, que eu vim de carro pra cá, eu fiquei olhando a cidade. Eu mesmo, sozinho. E aí eu vi uma esquina que estava fechada, na Rua Araújo Leite e tinha uma plaquinha de uma imobiliária. Aí eu falei: “Nossa, esse lugarzinho aqui...”. Você conhece Bauru?
P2 – Conheço, eu sou daqui.
R1 – Ah, você é de Bauru?
P2 – Sou de Bauru.
R1 – Então, tá. Tem a Igreja da Nossa Senhora Aparecida, na esquina debaixo tinha uma porta com a placa aluga-se e era da imobiliária. Eu liguei lá, o cara falou: “Nós estamos alugando aí”. Daí eu fui até a imobiliária e ele veio, abriu pra mim o salãozinho, né, pequenininho, mas eu gostei do lugar, falei: “Não, é aqui mesmo” e aí acabei montando meu negócio aqui. E aí não saí mais desse lugar aqui. (risos) Na época todo mundo falava: “Você é louco! Não vai vingar nada aqui embaixo, não sei o que”, (risos) mas sei lá, eu acho que tudo tem um porquê na vida. Faz parte.
P2 – Mas por que o pessoal achava que você era louco, assim? Por que está no Centro, mas já é saindo pra um outro bairro, né?
R1 - É, porque tinha lugares, assim: Nações Unidas estava desenvolvendo mais; tinha Duque de Caxias, mas eu não sei, achei que aqui as autopeças viriam pra cá, como agora tem muita loja perto de mim, aqui, eu acabei sendo referência desse negócio e as pessoas vêm mais pra cá, né, também.
P2 – Acabou ficando um lugar especializado em autopeças, pneus.
R1 – É. Hoje é um polo de autopeças e de acessórios, de oficinas, tudo nessa região, né? Acabou crescendo pra esse lado. Eu não sei se o outro lado também, sei lá, talvez daria certo, mas eu acho que é o lugar certo, na hora certa. O que tem que ser, é. (risos) A gente correndo atrás, o que tem que ser, é.
P1 – Paraná, no local, como era? Descreve pra gente como era quando você começou a loja aqui em Bauru. Tinha outras lojas em volta? Não tinha? Você falou que foi o primeiro ali de autopeças e virou uma referência, hoje existem vários lá, mas como era o entorno da sua loja, logo na inauguração, ali nos primeiros anos?
R1 – Então, falando das autopeças, tinha, pra cima de mim, mas eu sou na quadra três, na quadra oito tinha uma autopeças chamada _________ (Kigut Goto? 31:00), que até hoje não tem mais. No lugar que ela estava tem um pessoal que mexe com acessório, que chama Nagami Acessórios. E, na Presidente Kennedy tinha uma autopeças que era uma... não era bem uma autopeças, era uma distribuidora de peças, chamava Auto Americano, ficava muito próximo daqui. Então, tinha essas duas empresas que eram aqui perto e tinha um rapaz que coloca vidro, que até hoje ele está aqui perto de mim, que chama Bettio Vidros, entendeu? Também, isso daí acrescentou pra mim, porque eu falei: “Eu vou pra uma região onde o povo está indo, né? Tinha o (Kigut? 31:45), tinha esse Bettio Vidros, Auto Americano. Então, foi isso que aconteceu.
P2 – Tinha o Pradão, já?
R1 – Ah, sim, o Pradão na Antônio Alves. Exatamente. Tinha. Eu conheço... agora não estou lembrado o nome dele, mas ele comprou muito comigo. Ele veio a falecer, acho que faz uns dois anos agora, quem está lá é o filho dele.
P2 – Isso.
R1 – É. O ‘seu’ Pradão, na Antônio Alves. É pertinho aqui, de mim.
P2 – É perto. Ficou tudo concentrado, mas o que você está falando é interessante, porque cada um tem um ramo muito específico de atuação, né?
R1 – Com certeza.
P2 – Que nem vidro, autopeças...
R1 – É. Fica uma região pra esse ramo, mesmo, né?
P1 – Você, então, sempre gostou ali da região, nunca pensou em sair dali ou fazer outro tipo de negócio, abrir outra loja? Como que foi a sua ideia, assim? Como é que você vê ali?
R1 – Então, sair daqui eu não penso, porque uma que eu fiz, tipo assim: sou muito conhecido aqui no lugar e cresceu muito a minha loja. Hoje é uma loja referência. Pra vocês terem uma ideia, quem diz isso não sou eu, é o pessoal da Cofap, empresas grandes, ________ (33:12) Embreagem, NGK, que a minha autopeças é a maior numa região aqui de... minha loja de autopeças, no varejo, é maior que lojas de Ribeirão, de São José do Rio Preto, entendeu? É uma loja estilo loja de São Paulo, mesmo, né?
P1 – Hum hum. E, assim, você teve um boom de crescimento em algum momento ou foi um negócio gradativo?
R1 – Quando eu comprei a loja, quando eu montei a loja, quer dizer, tive um boom, assim: em três anos, foi uma coisa incrível. É uma coisa, assim, muito interessante isso daí, até comento, às vezes, com amigos meus: eu montei a loja, em um ano eu consegui comprar o salão do lado, porque eu tinha muito movimento e cresceu, mesmo. Foi um negócio, assim: nem eu mesmo esperava da forma que foi, entendeu? O crescimento foi muito rápido. E, dali pra cá, só foi crescendo, aumentando. Eu não tenho do que reclamar, eu nunca tive problema, graças a Deus, financeiro com a minha empresa, entendeu? Então, eu não posso... eu sou uma pessoa, assim, que eu acho que é lógico que a gente também tem um conhecimento muito grande e a gente também tem pé no chão, a gente não faz coisas que não dá pra fazer. Eu nunca tomei dinheiro em Banco, graças a Deus! Nunca tomei dinheiro emprestado. Sempre fiz as coisas com o pezinho no chão. Então eu acho que, por isso também, as coisas dão certo, né? E a autopeças sempre esteve, assim, em evolução, aqui em Bauru, sempre estamos evoluindo, né? E agora, recentemente, faz o quê? Três anos que eu inaugurei aqui o mercado, que é coisa que eu não tinha aqui, que é um mercado de peças, de produtos, não só peças, mas tem muitos itens dentro dele. Eu tenho, inaugurei também a colocação de acessórios, coisa que eu não tinha. Então, hoje eu tenho uma loja de autopeças com mercado, agregando valores dos acessórios, né? E trabalho hoje aqui com um total de itens, mais de quarenta mil itens de giro dentro da minha empresa.
P2 – Nossa!
R1 – Então, é mais ou menos isso.
P2 – Paraná, a autopeças é mais pra carro, ou engloba moto e caminhão também? Como é?
R1 – Não. Eu só mexo até caminhonete, só. Eu não mexo com caminhão. Nem moto. Também hoje eu não trabalho com caminhão, nem moto. Eu acho que caminhão, Bauru é uma cidade que tem poucos caminhões e já tem uma pessoa muito forte no ramo, que é uma outra autopeças, então caminhão eu deixo pra eles. E moto tem a Super Moto, tem o pessoal que trabalha com moto, eu não quis me envolver com moto também. Só tomar conta da autopeças já não é mole. (risos)
P2 – Quarenta mil itens é muita coisa, né?
R1 – Mais de quarenta mil itens eu trabalho aqui. É complicado. É bastante. Sempre estamos fazendo linhas novas, atualizando, a gente está sempre atual, né? Porque hoje se lança muito carro no mercado, é uma coisa absurda. Quando eu comecei, pra você ter uma ideia, não tinha nem a Fiat, hein! Tinha a Chevrolet, Ford e Volkswagen. Hoje tem uma imensidão de montadoras que vende carro no Brasil. Até a Ford está indo embora, (risos) agora, mas, então, outra também: antigamente, quando lançaram o Fusca, ficou muitos anos do mesmo jeito, tipo assim, vendendo as mesmas peças e tudo, mas hoje a evolução é mito grande, principalmente no motor, nas mangueiras d’água, mudou muito, né?
P1 – Vocês buscam atender todo mundo?
R1 – Sim. A gente procura atender todo mundo, sim. Hoje a gente vende pra todas as oficinas de Bauru. Bauru é uma cidade que tem mais de trezentas oficinas. E a gente vende pra todas. Bauru tem uma frota de trezentos mil carros, só na cidade de Bauru. E tem mais a região, também, que agrega muito valor, né?
P1 – E você falou assim que Bauru era bem menor, quando você chegou e eu acredito assim, não sei qual a sua opinião, mas o que você acha? Que o crescimento da cidade ajudou você, a loja crescer também? O crescimento de habitantes.
R1 – Com certeza.
P1 – O desenvolvimento urbano, assim, de Bauru, como é que você viu isso? Viu isso trabalhando aí no comércio, né, esse tempo todo. Como você viu esse desenvolvimento aí?
R1 – Então, como eu também te disse que eu gosto de mexer também com o ramo imobiliário, eu percebi uma mudança muito grande na cidade, né? Cheguei aqui a cidade acho que tinha cento e cinquenta mil habitantes. Eu não tenho certeza se é isso, mas eu acho que é. E hoje é uma cidade que tem quatrocentos mil habitantes. Então, a cidade evoluiu muito, cresceu muito. Deveria ter o quê? Cinquenta mil carros, cem mil carros, no máximo. Hoje tem trezentos (mil), né? Então, teve uma evolução muito grande.
P1 – Certo.
P2 – Gigantesca. Mas descreve pra gente essa pergunta anterior, que o Gustavo fez: como era Bauru, quando você chegou, Paraná? Lá em 1979, pra 1980.
R1 – Era uma cidade bem pacata, né? Bauru era uma cidade bem interiorana ainda, né? Tipo assim: supermercado tinha pouquinho na cidade, pequenos. A cidade era bem, assim, muito gostosinha, mas muito pequena. Ela foi, com o passar do tempo, evoluindo, né? Mas era uma cidade pequena, tudo era muito fácil, de trânsito muito rápido. Então, eu acho que esses... também quarenta anos não é mole, não, né? O negócio foi... parece que foi ontem, né? Mas já faz quarenta anos. Então, acho que teve uma evolução, sim, apesar da gente não ter tido, aqui - você é de Bauru, você sabe - bons políticos, bons prefeitos. Isso aí eu acho que atrasou um pouco a cidade. Mas a cidade evolui de uma tal maneira, assim, muito grande, pro lado da zona sul, né? Eu percebo isso, entendeu? Mas tem seus problemas, como toda cidade brasileira tem, né?
P2 – Mas como era aqui, quando você chegou, assim? Onde você ia, onde você foi morar? Que bairros você frequentava?
R1 – Morar, eu fui morar bem aqui, em frente a minha loja. Tinha um sobradinho aqui e eu acabei alugando um apartamento em cima, aqui. Eu vim morar aqui.
P2 – Na sobreloja, né?
R1 – Não, não é sobreloja. É do lado meu, aqui, tem um sobradinho. Existe até hoje. Eu morei aqui, nele, entendeu? Eu ia, na época, no _______ (41:09) Tênis, no BAC, não sei se você lembra do BAC.
P2 – Fala um pouquinho do BAC, qual a importância do BAC.
R1 – Eu pulei dois carnavais lá. O BAC era um clube maravilhoso, né? Onde ia muita família, tudo. Era um lugar que... o Pelé jogou bola no BAC, né? Pena que depois, mais pra frente, foi vendido e hoje é um supermercado lá.
P2 – Isso.
R1 – E também o Tênis Clube de Bauru foi um lugar maravilhoso, que hoje também não tem mais no Centro da cidade, foi pro campo, né? Ali, uma zona rural que hoje também é urbana, está dentro da cidade, praticamente.
P2 – É.
R1 – Mas está meio fora, também. E tinha o Bancários também, que a gente ia nas domingueiras, à noite, dançar, não sei se você... não é da sua época, você é bem mais jovem, mas tinha.
P2 – (risos) Mas peguei ainda.
R1 – Pegou? (risos) Que legal!
P2 – Bancários era famoso, né? A discoteca, né?
R1 – Era, né, famoso. E teve também aquela boate, o Camarim. O Ciente, não sei se você chegou a ir.
P2 – Fala do Ciente. O Ciente marcou uma época, né?
R1 – O Ciente era assim... eu fui, mas eu vou falar pra você: eu tenho um amigo de lá até hoje, que é engenheiro, era um pessoal de Engenharia que fundou o Ciente. Mas quando eu cheguei em Bauru... o Ciente foi até 1982, então eu fui acho que um ano, dois anos, lá, só, entendeu? Mas era muito legal, muito bacana.
P2 – Eram três andares, era grande, né?
R1 – Era grande. E depois o pessoal foi tudo pra o Camarim, né? Que era na... eu não lembro o nome da rua, agora. Na Praça Santa Terezinha.
P2 – Isso.
R1 – Depois foi o Al Capone. Não sei se você chegou a pegar o Al Capone. E aí tem o Armazém Bar, que até hoje tem ainda. É, o Armazém era muito gostoso, tocava muito rock, essas coisas. Eu gosto de rock. Templo Bar, que ainda existe até hoje também, entendeu? Os meninos aí não são de Bauru, né? Os meninos aí são de fora?
P2 – São. (risos)
P1 – Eu sou de Jaú.
P2 – Você é de Jaú?
P1 – Ahn han.
R1 – Tá. Quando vir aqui em Bauru, chega aqui na loja, vem tomar um café.
P1 – Então, mas eu falei com o senhor, talvez o senhor não lembre, mas foi naquela semana que tudo caiu aí, digamos, que começou o lockdown, em março.
R1 – Ahhhhh.
P1 - Eu conversei brevemente com você, a gente tinha marcado, só que aí mudou toda a dinâmica, né? Mudou...
R1 – Ahhhhhh, estou lembrado. É você, então? Beleza!
P1 – Fui lá. Foi um encontro bem rápido, mas eu nunca tinha ido na loja e eu achei interessante, sim. É exatamente como você descreve: um shopping de autopeças, muito grande e muitos funcionários. Me assustei até quando você falou 82. Eu imaginava que tinha bastante, mas nossa, são bastante, sim. Imagino que deve ter toda uma logística aí com armazenamento, pra pegar as coisas. Muitos funcionários, muita logística pra isso.
R1 – É. A gente é assim: o vendedor nosso vende, vai pra separação, a separação separa e leva na expedição, que solta a mercadoria. Então, é feito todo um processo, entendeu? Esse sistema eu também trouxe de São Paulo, pra Bauru, porque não tinha esse sistema em Bauru, entendeu? Eu trouxe. O pessoal que faz meu sistema aqui é de Campinas, que eu tenho um amigo lá em São Paulo que tem uma autopeças bem grande lá e ele que me indicou esse pessoal aí, daí eu acabei pegando um consultor deles também de São Paulo, que me deu uma força aqui e tudo.
P2 – Por que é tudo informatizado hoje?
R1 – Tudo informatizado. A gente é tudo informatizado, porque não tem como controlar isso aqui, se não for informatizado, né? Quando eu comecei era tudo papelzinho ainda, mas hoje (risos) é tudo informatizado.
P2 – Era tudo no papel, Paraná?
R1 – Lá atrás era, tinha aquelas maquininhas de dar corda, sabe? Vocês, acho que não chegaram a pegar essa época, as maquininhas que faziam isso, depois voltava. Eu fazia as quatro operações, nem papel eu gastava, entendeu? E tinha o pai do Padre Beto, que consertava pra mim quando dava problema. Era meu vizinho, morava aqui na minha frente e ele era consertador dessas máquinas aí, né?
P2 – De somar? Aquelas máquinas de somar?
R1 – Era de somar, multiplicar, dividir, tudo. Era uma maquininha tipo assim: eu falava maquininha de dar corda, né? Que você ia pra frente, pra trás, fazia tudo. E você não precisava colocar papel. Eu tenho umas aqui, até hoje, guardadas, entendeu? É muito interessante isso aí. Não precisava nem papel. Eu falo assim: “Nossa, hoje eu tenho setenta computadores aqui dentro. O que gasta de papel, meu Deus! É uma coisa de louco!” (risos)
P2 – Paraná, mas nessa época, também, quando você chega aqui, tem muita inflação, né? Teve aqueles planos econômicos todos. E, assim, que beleza chegar, assim, hoje. Como é que foram esses desafios dos planos econômicos? Corta zero, tira zero, muda a moeda, faz tudo na mão?
R1 – Então, isso aí foi, realmente, na época, um problema, mas você lembra uma época que faltou mercadoria? Não sei se você era dessa época, que faltou mercadoria.
P2 – A época do Sarney.
R1 – É. Foi a época que eu mais ganhei dinheiro. Por quê? Porque eu tinha um amigo em São Paulo que tinha uma distribuidora muito grande em São Paulo, chamava Gigio. Eles tinham a maior distribuidora do Brasil. E eu tinha muita amizade com eles. Então, eles me ajudaram muito. Eles me arrumavam mercadoria, entendeu e num preço bem justo. Aí eu vendia pra todas as retíficas daqui de Bauru e da região, porque eu acabei ficando com mercadoria, então o pessoal me procurava muito. Nessa época foi a que eu mais vendi, assim, porque eu tinha o produto, né? E eu corria atrás. Eu ia pra São Paulo, eu tinha uma caminhonete, saía daqui seis horas, chegava em São Paulo dez horas, carregava a caminhonete, às vezes vinha embora no mesmo dia ainda ou às vezes dormia lá e no outro dia cedinho eu vinha embora. Chegava na porta da loja, a loja era pequena naquela época, mas fazia fila de gente, porque todo mundo queria mercadoria. Foi uma loucura aquilo! E a remarcação de preço nem se fala, né? Nossa, era uma coisa de louco! Você comprava de manhã, quando era à tarde, o preço já tinha mudado.
PROBLEMAS DE CONEXÃO DOS 48:18 AOS 59:01 = 10:41
R1 – Oi!
P1 – Acabou a bateria?
R1 – Acabou. Eu não sabia que eu estava com pouca bateria.
P2 – Não, tranquilo. Vamos remarcar, pra terminar? Que tal?
R1 – Pode ser.
P2 – Quando que é bom pra você, Paraná?
R1 – Pode ser amanhã.
P2 – Que horas, assim? Umas cinco?
R1 – Esse horário, mesmo. Dezesseis horas.
P2 – Fechou, então.
R1 – Desculpa aí, tá?
P2 – Não, imagina! A gente está super acostumado. A gente, na hora, falou: “Acabou a bateria”. (risos)
R1 – Foi, mesmo. Fiquei triste, com isso, mas...
P2 – Mas está indo super bem, super bacana. A gente está adorando.
R1 – Então tá.
P2 – Eu adorei aquele pedaço do Ciente e do Camarim, viu? (risos)
R1 – Então tá.
P2 – O senhor sabe qual a brincadeira aqui em Bauru?
R1 – Não.
P2 – Onde está o cachorro do espelho do Camarim? (risos)
R1 – Onde está o quê?
P2 – Lembra aquele cachorro de espelho que ficava no começo do Camarim, ali, enfeitando onde pagava? Todo mundo fica: “Quem herdou o cachorro do espelho, aquele dinamarquês, aquele enfeite lá?”
R1 – (risos) Ah, verdade! Boa lembrança!
P2 – Volta e meia o pessoal faz um bolão: está escondido na casa de quem? (risos)
R1 – Legal.
P2 – Maravilha, né? Paraná, então fica assim: amanhã, 16 horas, combinado?
R1 – Eu vou vir com o celular, amanhã, bem carregado.
P2 – (risos) Tá bom, então. Mas a gente anotou onde a gente parou, tudo, aí a gente retoma a partir dali, tá bom?
R1 – Tá bom, querida. Um abraço!
P2 – Então tá, outro, bom descanso! Obrigadão, viu?
R1 – Obrigado vocês, tchau!
R1 – Tchau, tchau.
PARTE 2
P2 – Que bom que deu certo, né, Paraná?
R1 – Maravilha! Até que enfim deu certo! Vamos continuar!
P2 – Bora lá!
P1 – Paraná, você estava falando aí, então, das fases que você passou com sua empresa, dos momentos difíceis que a gente passou, não na empresa, mas no país, ali, na década de oitenta, com a inflação, você comentou um pouco dos planos econômicos também. Eu queria saber o que você pode retomar, um pouco, desse assunto, assim, o que você lembra daquele momento mais incerto pro país, né?
R1 – Então, isso aí foi, aconteceu aí no Plano Cruzado, por volta de 1986, que eu acho que o bicho pegou mesmo, que estava faltando mercadoria, né? É isso que nós estávamos falando aquele dia, mas eu tinha um amigo em São Paulo, que ele tinha uma distribuidora bem grande e tipo assim: eu saía daqui após as 18 horas, que eu fechava a empresa, pegava uma caminhonete que eu tinha e ia até São Paulo e voltava carregado. E, no outro dia, estava todo mundo esperando na porta da loja, lá, que eu abrir a loja às sete e meia, assim, já estava muita gente esperando. Então, pra mim, foi um período até que eu ganhei muito dinheiro, nessa época. Ganhei bastante, mesmo. Foi uma época, acho que o país passou por uma dificuldade, mas como eu tinha esse pessoal que me ajudou muito lá em São Paulo, então, pra mim, passei, assim, mais tranquilo, entendeu? Passei aquela fase mais tranquilo, porque eu conseguia arrumar mercadoria e vender, né? Embora tinha uma tabela, era tabelado, mas a gente conseguia ganhar alguma coisa. Como vendia bastante, porque eram poucas as lojas que tinham peça, né? Então, a gente acabava vendendo bastante. Então, foi uma superação muito grande, né, nesse período. Teve lojas aqui que não conseguiram superar. Mas eu passei por essa fase, deu tudo certo e vida que segue, né?
P1 – Vida que segue! Isso ainda no final dos anos oitenta.
R1 – Isso.
P1 – E como foi nos anos noventa? Aquela época de início foi diferente também, com a nova moeda? Ou também não afetou muito você?
R1 – Depois saiu a URV, né? Aí eu tinha comprado bastante coisa a prazo e também teve uma facilidade pra quem comprou a prazo, porque ia pagar e tinha bastante desconto, né? E, como eu vendia a prazo também, também dei desconto e recebi desconto, mas eu acho que eu recebi mais do que eu dei, entendeu? Como eu tinha comprado muito, então, pra mim, foi vantajoso pagar essa URV. Aí, depois, logo, já veio o real. Aí conseguimos tocar, passamos por todas essas fases aí e conseguimos crescer um pouco nesse período. Mesmo com todas as dificuldades, a gente conseguiu crescer um pouco. Foi pra frente.
P1 – Bom, Paraná, queria falar um pouco também sobre os seus clientes. Como você vê os seus clientes? Você tem um contato próximo com eles? Você está sempre lá na loja? Tem uma... não sei, faixa etária, ou algum perfil de cliente? Como vocês trabalham a relação de vocês com os seus clientes?
R1 – Olha, a gente tem bastante mídia aqui. A gente está na Rádio 96, está na 94, está na Jovem Pan News, Bauru News, estamos na Ativa FM e trabalhamos com Facebook, Instagram. Então, a gente está bem forte nas mídias, aí.
P1 – Faz o papel de divulgação, que você fala?
R1 – Sim. E tem algumas oficinas também que a gente pinta, põe Paraná lá, em destaque. Então, estamos bastante na mídia. Nosso cliente, assim, pega eu acho que dos dezoito, vinte, até os noventa anos.
P1 – Sim. Pega todas as idades, ali.
R1 – É. Eu tenho aqui, já estamos na terceira geração, né? O pai, o filho e agora já está vindo o neto aqui, comprar a peça. Outro dia mesmo peguei... um senhor chegou aqui, eu fico no escritório, mandou me chamar, que ele era um mecânico que tinha uma oficina muito boa aqui em Bauru e quem, hoje, está na oficina dele, é o neto dele, tomando conta da oficina. Então, é incrível. Aí, eu fui cumprimentá-lo, estava ele, o filho e o neto, os três. O filho e o neto trabalham na oficina hoje. Ele já aposentou. Porque você vê: eu cheguei em Bauru em 1979. Esse pessoal já tinha cinquenta anos. Com quarenta, já estão com noventa, entendeu? Então, meus clientes antigos, ainda tem muitos, mas muitos já faleceram, entendeu? Mas hoje a gente uniu aqui as três, quatro gerações aí. Estamos dos 18 (risos) até sei lá, noventa e lá vai cacetada! Então, é muito bom isso.
P1 – Bom, eu queria falar com você também, Paraná, sobre a questão da pandemia. A gente tinha falado rapidamente na parte 1. Falando um pouquinho mais aqui, agora, quando a gente fez o contato com você foi logo naquela semana ali que foi o início, digamos assim, no Brasil, forte, assim, da pandemia. Eu queria conversar, ouvir um pouco de você disso, assim, como foi esse tempo, foram mudanças, vocês tiveram que se adaptar? O que você pode falar, assim, dessa experiência toda?
R1 – Foi assim: a pandemia chegou acho que foi numa sexta-feira, aí falaram: “No sábado não pode abrir mais nada”. Mais ou menos isso. Aí a gente veio aqui, trabalhou com as portas fechadas, atendendo por telefone. O meu televendas, aqui, é bem forte. Aí consegui atender, naquele sábado, por televendas. A partir de segunda-feira, como minha loja tem um estacionamento bem amplo e tem uma grade por fora, grande, eu fechei os portões e a gente atendia ali, falava assim: “Agora a gente está atendendo na cerca”. A gente começou, os clientes chegavam, eu deixei dois vendedores lá, eles anotavam o que o cliente queria, passava pra um que ficava intermediando, que não era vendedor, mas é um rapaz bem ágil e ele passava pros vendedores. Aí vendia, separava, o cliente pagava, levava a maquininha de cartão e assim a gente trabalhou acho que aquela quarentena, 14, 15 dias. Depois, um dia, estava formando muita fila lá, aí o pessoal chegou aqui e falou: “Olha, vocês, agora, são essenciais, pode abrir as portas e atender, com uma certa porcentagem de gente dentro da empresa”. Tipo assim: você tem tantos metros quadrados, pode entrar cinco, seis, dez pessoas, no máximo. E a gente, daí, começou a atender dessa maneira. E foi, foi, até que deu uma liberada, mas hoje nós ainda temos uma moça na porta, pra medir, aferir a pressão, temperatura, tudo... pressão, não, desculpa, temperatura. E o gel, né? A gente não deixa entrar ninguém sem máscara. A gente tem uma caixinha aqui que, se a pessoa chega sem máscara, a gente dá uma máscara pra ela. E a gente mede a temperatura, passa um ‘alquinho’ na mão e a pessoa pode entrar. Também estamos limitando um pouco, ainda, a entrada. Não podemos deixar entrar mais do que 15 pessoas, né? Geralmente, deu 15 pessoas, a moça dá uma travadinha lá, mas também outro já sai, é muito rápido e está indo dessa maneira. E estamos nos virando, aqui. Agora Bauru também entrou em outra fase vermelha aí, mas hoje nós somos serviços essenciais, né? Então, a gente está conseguindo driblar bem essa pandemia. E a gente também tem um televendas muito forte, uma entrega muito forte. A gente tem 15 motoqueiros, que andam Bauru e região. Então, está tranquilo. É aquela história: poderia estar muito melhor, mas está bom. Não podemos reclamar.
P2 – O movimento caiu?
R1 – Não. Meu movimento, aqui, por incrível que pareça, não caiu. Eu tive um aumento o ano passado, na média de 10%, referente a 2019. Pra 2020 eu tive 10% de aumento. Janeiro eu tive um movimento muito bom, em torno de... não vendeu igual dezembro, mas vendeu igual novembro do ano passado, até um pouquinho mais e fevereiro, até aqui, está sendo ótimo, entendeu? Muito bom. As vendas estão superando a minha expectativa, entendeu?
P2 – Na sua opinião, por que você acha que você está com essa venda boa, assim?
R1 – Eu acho pelo seguinte: como eu tenho muito fornecedor, falta muita mercadoria, entendeu? Tipo assim: as indústrias. Mas eu tenho muito distribuidor, que me atende há muito tempo. Então, eu estou conseguindo. Não tem tudo em um lugar, eu pego no outro, consigo, entendeu? Tipo assim: vou pedir na fábrica, não tem o amortecedor de um determinado carro, no distribuidor tem, eu pego do distribuidor, entendeu? Então, eu estou tendo mercadoria. Isso está me ajudando muito, porque às vezes as pessoas vão por aí e não encontram, ou ligam e não encontram e acabam vindo aqui, porque a gente já trabalha com bastante itens, né? Com quase cinquenta mil. E estamos bem sortidos de mercadorias, então isso eu acho que está fazendo a diferença também. Nosso preço não é o melhor preço, é um preço compatível com as outras autopeças. Até eu acho que, por a gente trabalhar aqui 100% com nota, tudo certinho, a gente tem um preço até um pouquinho maior, mas nosso atendimento é bom e a gente tem mercadoria e de qualidade. Então, eu acho que isso faz a diferença hoje, entendeu?
P2 – Televendas aumentou?
R1 – Aumentou, sim, em relação a 2019, que eu te falei: 10 a 15%, já.
P2 – Bastante, né?
R1 – É. Pela venda que nós temos, que é expressiva, sim, o aumento foi legal. Muito bom. Não tem do que reclamar.
P2 – Paraná, e assim: em relação a pandemia, como é que você vê os seus vizinhos, o pessoal aí do seu quarteirão, da sua rua? Tem modificação?
R1 – Olha, na minha frente, aqui, tem um supermercado Casa do Arroz. É um mercado familiar, doméstico, né? Mas eu vejo assim, que eu tenho conversado com eles, com os proprietários e eles também tiveram um aumento no mercado, viu, de quase 20%, ele falou pra mim. Eu acho que o mercado está vendendo bastante também e as outras coisas aqui: salão de cabelo, também esse daí reclamou um pouquinho, mas agora disse que já está melhorando. Você sabe, né? Restaurante, esse pessoal que tem salão também, está sofrendo mais, né?
P2 – Hum hum.
R1 – Mas aqui em volta da gente é mais, também, residência, né?
P2 – Os serviços essenciais ajudam muito, né?
R1 – Sim. Oficina mecânica tem duas perto de mim, aqui, estão sempre lotadas, entendeu? Eles são meus clientes. E foi o que eu conversei ontem com uma das oficinas, ele falou pra mim: “Olha, o movimento está grande, está faltando profissional. Eu não estou conseguindo encontrar mecânico porque, se eu encontrasse, eu pegaria até dois, três. Mas não estou encontrando. Eu também tenho essa mesma dificuldade aqui: encontrar profissional formado. Quando a gente precisa de um, principalmente na parte de venda de peças, na instalação de acessórios, na troca de óleo, essa mão de obra está escassa, principalmente vendedor de peça. Está muito escasso. É uma disputa aqui na cidade, por vendedor. (risos) As pessoas estão, sei lá, indo pra outras áreas, mas tem áreas que dá pra pessoa ganhar bem, entendeu, viver bem. Então, fica assim: pessoal estuda, tudo, mas na prática é um pouco diferente. Lógico que a pessoa, se puder fazer um curso superior, é ótimo, mas eu acho que ser um vendedor de peças também é muito bom. Desde que a pessoa goste, que a pessoa treine, né?
P2 – Mas tem que conhecer, não tem?
R1 – Você tinha comentado, só, que traz um gasto, mas por outro lado traz uma qualidade maior no serviço da sua loja.
R1 – Com certeza. É isso daí. Eu acho que o profissional qualificado ajuda muito, né? Eu tenho muitas pessoas qualificadas aqui, entendeu? Tem vendedor que está comigo aqui há mais de vinte anos. Então, esse pessoal é altamente qualificado. É uma das coisas também que ajudam muito, porque na hora que a oficina pede a peça, ele quer encontrar um vendedor que tenha qualificação. Pra não mandar errado, porque se manda errado, já gera um transtorno, porque o cliente, também, dele, está esperando. Aí a peça chega errada. Eu acho que isso aí tudo faz diferença, entendeu? Não é só o preço. Faz diferença o bom atendimento, a qualidade no atendimento, né? Isso ajuda muito.
P2 – E como você treina o pessoal, assim? Tem que conhecer peça, carro... como é que...
R1 – É assim: os meus vendedores aqui, a maior parte eu formei aqui. Começaram como motoqueiro, daí foram trabalhar no estoque, aí aprenderam ver o que era uma peça, eu falava: “Gente, aprenda a conhecer: embreagem, peça de motor, tudo” e aí eles foram aprendendo. Depois, aos pouquinhos, fui colocando no balcão. E eles foram pegando. Então, hoje, os meus melhores vendedores foram formados aqui mesmo, entendeu? Mas tudo assim: não é do dia pra noite. Demora dois, três... pro cara se tornar um bom vendedor, três anos, quatro anos. Eu digo: é uma faculdade, praticamente. Porque o cara tem que se dedicar e tem que ter vontade, né? Saber, também, conversar com o cliente. Entender a peça. Eu não digo que o vendedor de peça precisa ser um excelente vendedor. Ele só tem que conhecer o produto, porque o cliente vai ligar e falar: “Eu quero amortecedor, terminal, batente, essas coisas”. Se ele entender, eu acho que ele vai vender. Não é como trabalhar numa loja de roupa, que você tem que falar: “Ficou lindo, ficou não sei o que”. Não é nada disso. O cara tem que ter conhecimento. Se ele tiver conhecimento, ele vende. Eu tenho um vendedor meu aqui que eu brinco com ele ainda, é um brucutuzão, mas é um dos caras que mais vende, porque tem muito conhecimento. Então, o que manda aqui... é lógico, tratar bem os clientes, ser educado, mas tem que ter conhecimento. Se tiver conhecimento, vende.
P2 – Entendi.
R1 – Entendeu? É um ramo meio fora da curva. É meio diferente. Porque você chega aqui pra comprar quatro amortecedores, não quer saber se ele é bonito, se ele é... você quer saber, quer os quatro amortecedores e acabou, entendeu? Talvez você venha até com a marca na cabeça, que o mecânico fala assim: “Vai lá no Paraná e pega Cofap ou (Amon? 18:35) ou Nakata”. A marca pode ser, mas ninguém fica olhando se é bonito ou é feio e você não tem que empurrar, você tem que... o cara vai comprar aquilo que realmente precisa. Porque ninguém compra peça pra fazer estoque, né? Você quebrou seu carro, você tem que arrumar naquela hora. Você tem filho pra ir buscar na escola, tem que ir ao trabalho, não é verdade? (risos)
P1 – Uma emergência envolvida, né?
R1 – Uma emergência. (risos) Então, outra coisa que eu falo também: “É pra ontem. Ninguém quer pra amanhã”. Tipo assim: o mecânico pediu uma peça, que se não tiver na oficina dele em quarenta minutos, ele já liga reclamando: “Ó, o cliente está aqui no meu pé, aqui e a peça não chega, como faz?” entendeu? Então, tem que ser muito ágil também. É um negócio diferente. Outro dia eu liguei numa loja de material de construção, né, que eu até comentei com vocês que eu mexo com obra também, aí eu pedi lá areia, cal, cimento. Daqui a pouco, no outro dia, o mecânico me ligou e falou: “Olha, mas são nove horas da manhã e não chegou nada”. Eu virei pra ele e falei: “Meu, aqui, se eu não mandar uma peça em quarenta minutos, o cara me xinga. Faz doze horas que eu pedi a mercadoria e não chegou” “Ah, mas é diferente, tem que carregar o caminhão de pedra, de areia, tem que pegar o motorista, ia indo levar, quebrou a mola”. (risos) Então, são ramos, assim... nesse ramo tem que ser ágil, a autopeças.
P2 - Agora, deixa eu te perguntar assim: o seu público, né, é mais feminino ou masculino?
R1 – Ó, você sabe que o feminino tem aumentado muito, mas ainda é o masculino. Mas tem aumentado muito. Se eu fizer uma comparação pra você de dez anos atrás pra hoje, o feminino aumentou 1000%.
P2 – É mesmo?
R1 – Agora é direto chegar uma mulher aqui e pedir pra trocar o óleo do carro, pra ver uma lanterna que quebrou, um farol, entendeu? Às vezes deixa o carro na oficina e vem de Uber pegar a peça. Então, aumentou muito o público feminino. Eu tenho notado que tem aumentado muito. Então, se você falar pra mim assim: cresceu o masculino? Cresceu, mas o feminino cresceu muito mais, entendeu? Se você for comparar assim: entra cem clientes na loja, vinte é mulher e oitenta é homem, ainda, mas há dez anos era 98 por dois.
P2 – Entendi.
R1 – Então, está tendo um aumento significativo, né? E você vê, hoje, tem mulher trabalhando no Uber, tem mulher levando filho pra escola, buscando, vindo na autopeças, mecânica. Há uns determinados anos, era tudo cheio de fotografia de mulher seminua, aquelas coisas, sabe? A oficina cheia de graxa. Hoje não. Você vai no autocenter, é um negócio bonito; vem na autopeças, é um negócio bonito, limpinho. Tem oficina aqui em Bauru que parece uma clínica, entendeu?
P2 – Tem sala de espera, café, televisão, internet...
R1 – É. Nós temos uma sala de espera aqui cinematográfica, muito bonita. Se você tiver oportunidade de vir conhecer, pode vir, entendeu? Muito bonita, com assento, tudo certinho; com música; com ar-condicionado; com carros antigos na parede, desenhos. Então, é muito interessante. Mas são coisas, assim, muito diferentes, de quinze, vinte anos atrás. Mudou demais o mercado. E quem não for pra frente, ficou pra trás, entendeu? (risos)
P1 – Com certeza.
R1 – Eu vejo assim: ainda tem aquelas lojinhas que são da mesma maneira. O cara marca naquele papelzinho, entendeu, tudo pendurado. Ainda tem. Aquele negócio bem família, ainda. Mas eu acho que o negócio é modernizar. Não adianta. Todo o mercado, hoje, se você não o modernizar, você ficou no tempo.
P1 – Você sempre pensou assim, Paraná? Ou foi algo que você mudou através dos anos? Você sempre gostou, assim, de modernização? Você e o Sandro, que você comentou do Sandro também, com a gente.
R1 – É. Você sabe que eu tinha um pouco de receio até uns dez, quinze anos atrás, de modernizar muito a loja, porque eu achava que o mecânico gostava de chegar e ser daquele sistemão antigo ainda, mas a cabeça do povo foi mudando, eles foram vendo shopping, mercado, tudo foi melhorando, foi ficando mais bonito, restaurante, aí você também caminha pra aquele lado, senão você fica pra trás, né? Foi o que me fez, assim, também, despertou a minha curiosidade de modernizar a loja, foi isso também. Foi que eu estava vendo que eu estava ficando pra trás. Então, eu falei: “Eu vou ter que dar um upgrade no negócio aqui”, né? Aí eu comecei a ir pra São Paulo, ver aquelas lojas lá modernas, aí a gente conseguiu fazer aqui em Bauru.
P2 – Você chegou a ir pra São Paulo, conhecer outras lojas?
R1 – Sim. Em São Paulo existe uma loja de autopeças. Ele não tem mais uma loja, são várias lojas, chama Mercadocar. Uma hora que você tiver uma oportunidade, entra no Google e coloca Mercadocar. É uma loja gigante que tem na Barra Funda, eles hoje estão na Barra Funda, estão em Santo André, se eu não me engano Diadema, não, eu não lembro outro lugar que tem lá. Eu sei que é uma loja, hoje é estilo a minha. Eu copiei um pouco de lá. Só que ela é gigante, entendeu? Porque está em São Paulo, tem vinte milhões de habitantes, o mundo está lá, né? Tanto é que ela é 24 horas, na Grande São Paulo. E a hora que você for lá, você vai ver que está lotada. Não tem hora.
P2 – É mesmo?
R1 – É. Meia-noite, duas horas da manhã. O pessoal do Uber, o pessoal dos táxis, tudo arrumando lá, porque é uma hora, pra eles, que é mais tranquilo, então geralmente é à noite que arruma, mais à noite. Mas durante o dia também é muito carro, já fui lá, troquei o óleo do meu carro, pra ter conhecimento, né? E pra ver como que era. Eles trabalham, lá, também, com venda, com colocação de acessório, trocas de óleo e é muito interessante a loja deles lá. É até bonito de se ver. Você vai lá e está fervendo de gente, o dia inteiro. E à noite também. Eu já fui, assim, tipo de manhã, à tarde e à noite. Já fui duas horas da manhã, estava cheio de gente. Fui dez horas da noite, estava cheio de gente. Fui meio-dia, estava cheio de gente. Fui de manhã, estava cheio de gente. É muito interessante o mercado, lá. Chama Mercadocar.
P1 – Você consegue ver isso acontecendo em Bauru, em alguns anos, Paraná? Ou você acha que Bauru ainda está distante desse ponto? Porque agora, de uns anos pra cá, já tem mercados 24 horas, esse tipo de coisa. O que você pensa sobre isso?
R1 – Ó, Bauru, eu acho que... o meu horário aqui é até as 18. Eu já passei pras 19. De sábado eu atendia até meio-dia e meio, hoje eu atendo até as 17 horas.
P2 – Nossa!
R1 – Eu acho que há possibilidade, sim, daqui a uns anos vai chegar a 24 horas, entendeu? Porque como cresce esse mercado de Uber, desse pessoal, tudo, vai crescendo, se você tiver um horário mais assim, 24 horas, você vai atender mais esse público, entendeu? Eu acredito nisso. Não é pra já. Bauru eu acredito que ainda vai mais uns dez anos, mas vai chegar uma hora que vai, como já tem o Confiança, que é 24 horas aqui, o mercado, eu acho que os outros segmentos caminham pra isso. E é como São Paulo, né? Tudo caminhou. Se você vai em São Paulo, tem tudo 24 horas, né? E é lógico que Bauru é uma cidade que está crescendo muito e toda a região, então acho que vai acabar uma hora que vai chegar nisso daí, 24 horas. Eu acredito nisso. Que é o futuro, também.
P2 – Você tem muito cliente de fora, assim, dos arredores?
R1 – Tenho. Eu acredito que hoje a minha venda, 50% é de Bauru... não, 50% não, eu vou pôr 60% de Bauru e 40% é da região aqui, que é Piratininga, Agudos, Duartina, Lençóis, São Manuel... aquela cidade ali... então eu tenho 40% de venda da região.
P2 – Maravilha!
R1 – Que a nossa região, aqui, é muito boa, né? Você pega aí... eu não sei quantos mil habitantes, mas praticamente dobra, né? Bauru hoje tem trezentos e oitenta, quatrocentos mil, a região deve estar com mais de um milhão.
P2 – Acaba sendo, assim, vários comércios, a cidade acaba polarizando o comércio de Bauru, pras outras cidades.
R1 – Sim. Eu tenho cliente aqui que vem de Bariri, Jaú, Botucatu... é um raio de cem quilômetros. A gente atende um raio de cem quilômetros, entendeu? Tanto no televendas nosso, como as pessoas vêm aqui colocar um farol, lanterna, às vezes troca o óleo e a gente tem aqui a região toda.
P2 - Maravilha!
P1 – Bom, Paraná, chegando mais ao encerramento aqui da nossa entrevista, queria perguntar assim pra você, que contou pra gente aí a sua trajetória, sua história toda aí, né, como você olha pra trás? Você se orgulha? O que você sente dessa história toda que você contou? Você gostou de contar pra gente? Como é que foi essa experiência? Já tinha feito isso? Como foi essa experiência aí toda, pra você?
R1 – Eu contei essa história uma vez pro Jornal da Cidade. Até fizeram pra mim uma homenagem, a Câmara Municipal de Bauru, eu tenho até aqui o quadro.
P2 – Ah, a Moção de Aplauso!
R1 – Então, eu tinha contado essa história já pro Jornal da Cidade, ele fez uma coluna e me ofereceu essa Moção de Aplauso na Câmara Municipal, mas é a segunda vez que eu conto. A primeira foi pra eles e agora pra vocês, mas é um passado, assim, glorioso que eu acho que aconteceu na minha vida, eu acho que eu fui abençoado. Eu acho que todo mundo é abençoado. A gente foi abençoado, mas também a gente lutou por isso e teve momentos, lógico, um pouco difíceis, mas eu acho que tudo com... tipo assim, vontade e acreditar e ter fé - fé é aquilo que você realmente acredita - e que você vai atrás, você consegue. Eu sou uma pessoa, assim, profissionalmente, realizada, muito realizada, muito feliz com o que aconteceu na minha vida, porque também eu fui uma pessoa que, tipo assim, criei muitos empregos, ajudei, graças a empresa, pude contribuir pra muitos funcionários meus que não tinham... era casa alugada, hoje a maioria mora tem casa própria, compraram terreno, construíram a sua casa, entendeu, vivem melhor. Um dia, se vocês tiverem oportunidade de vir na minha loja, vocês vão ver que meus funcionários trabalham felizes, porque eles falam: “Não, aqui...”. Muitos me chamam até de pai: “O pai chegou”, entendeu? É tipo assim: o cara precisa de um dinheiro, acabou o gás, ele corre aqui pro escritório: “Acabou não sei o que”. Então, a gente está sempre ajudando também, são maravilhosos, me ajudam muito. Mas eu acho que isso, uma coisa leva à outra. Eu acho que, se eu os ajudo, eles me ajudam. Então, eu sou muito grato e muito feliz com isso. Não só de ter o meu crescimento, mas por ter feito pessoas serem felizes e estarem felizes onde estão, né, isso me deixa orgulhoso, sim, desse passado.
P2 – Maravilha! E do lado pessoal, você casou, tem filhos, filhas? Como é que é?
R1 – Não. Meu lado pessoal é meio enrolado, viu? (risos)
P1 – Se você não quiser falar, não precisa.
R1 – Não, posso falar, sim. Eu tive uma primeira filha minha, nasceu de um namoro que eu tinha com uma moça. Aí nasceu a primeira filha, aí a gente tentou viver uns dois, três anos juntos, mas não deu certo. Aí nós separamos, eu acabei dando a casa que eu morava pra ela, uma casa que eu tinha construído, falei: “Pode ficar com a casa”. Aí pagava pensão, tudo, cuidei da minha filha, muito. Entrou na faculdade, eu paguei cursinho e tudo, ela entrou na Unesp, fez um curso da Unesp, foi formada lá e depois, essa moça aí foi tipo assim: um namoro, que nós acabamos indo morar juntos e acabou, no fim, deu certo dois anos e pouco, depois não deu mais. Aí eu conheci uma moça e acabei me casando com ela. Aí nós tivemos duas filhas, né, que é a Bárbara e a Isabela. A primeira se chama Ingrid. E a Bárbara e a Isabela foram frutos desse casamento. Aí a Fabiana não foi eu que quis largar, foi ela. Eu tinha montado duas lojas pra ela no shopping, de roupa e também, tipo assim, ia pra São Paulo, fazia compra com ela e tudo, mas chegou um belo dia lá que a gente começou a não se entender mais, aí ela quis separar, aí eu falei: “Tá bom”. Aí ela falou: “Ah, eu vou mudar pra Santos” - que a família dela é de Santos – “e vou levar a loja pra lá”. Eu falei: “Pode levar”. Aí levou a loja, levou as minhas meninas, aí eu fiquei meio atrapalhado da cabeça, né? Porque a gente fica, né? Duas filhas pequenininhas. A Bárbara tinha acho que cinco e a Isabela tinha três. E foram embora pra lá. Aí, todo mês eu ia pra Santos, ver essas meninas. Todo mês. Aí comprei um apartamento lá e já ia, ficava todo mundo no apartamento, foi também, participei muito da...
P2 – Da criação?
R1 – É, da criação, das minhas meninas crescendo. Quando elas tinham férias, eu as trazia pra Bauru e ficavam e sempre as incentivando a estudar, sempre paguei bons colégios pra elas e hoje as duas também, uma se formou na Unesp e a outra se formou na Unisantos. E cada uma já ganha seu dinheirinho, estão todas formadas, graças a Deus! A Isabela tem 23, a Bárbara vai fazer 25 e a Ingrid tem trinta anos. Então, a minha vida... hoje eu tenho uma namorada, cada um vive no seu lar, porque eu comecei a ver que morar junto, pra mim, é complicado. Mas sou feliz, estou muito feliz. (risos)
P2 – Ai, que ótimo! Paraná, e elas nunca, não te ajudaram na loja? Não vivem o cotidiano da loja?
R1 – As meninas? Então, menina, não quiseram saber de autopeças. A Isabela é nutricionista, já montei consultório pra ela, tudo, lá em Santos.
P2 – Ai, que lindo!
R1 – E a Bárbara é bióloga, trabalha numa multinacional, um laboratório. E não quer saber de autopeça. Eu falei: “Mas vocês vão ganhar muito mais” “Ah, pai, mas não é o que a gente gosta. Eu gosto disso”. Eu falei: “Tá bom, então faz o que vocês gostam porque, se vocês fizerem o que vocês gostam, vocês vão ser felizes”. Eu gosto disso aqui que eu faço, entendeu? Então, eu não tenho sucessor, na verdade. (risos) Tem dois sobrinhos que trabalham aqui comigo, eu estou, tipo assim... eles já me ajudam muito. Então, talvez serão os sucessores daqui. E tem o Sandro, que é meu sócio, que é mais jovem que eu. Você vê: o Sandro também tem dois filhos e também não quiseram. A menina dele faz Medicina em Ribeirão e o menino faz Física na USP de São Carlos, também não quer autopeça. (risos) Eu acho que é pela tradição antiga, que era aquele negócio com graxa, com não sei o que, entendeu?
P2 – Ainda fica, né, uma...
R1 – É, fica aquele: “Não vou trabalhar com meu pai, porque é mecânica, é anão sei o quê”. Hoje, se elas vêm aqui, elas falam: “Nossa, pai, como mudou, né? Seu escritório é bonito, a loja é linda, tem ar-condicionado”. Então, mudou muito. Eu acredito que, se elas fossem pequenininhas nessa época, elas iam querer, entendeu?
P2 – O que você faz nas horas de lazer, Paraná?
R1 – Eu saio assim: às vezes eu vou pra... antes, agora não está nem podendo, né? Eu ia pro barzinho. Academia foi uma coisa que eu coloquei na minha vida, faz uns dez... desde que eu me separei, eu treino, né, um pouco, uma hora, uma hora e pouco, três, quatro vezes por semana. E gosto de passear também. Agora, não, porque está tudo parado, mas eu sempre fui de curtir muito praia. Às vezes eu pegava as minhas meninas, também gosto de viajar, ia pra Miami, Cancún, Europa. Eu sempre gostei de passear, assim, quando eu tiro uns dias de férias. Também gosto de viajar.
P2 – Maravilha!
PROBLEMA DE CONEXÃO
P1 – Tem que ter um encerramento formal, né?
P2 – É só agradecer, agora. Estava, assim, no finalmente, né?
R1 – Mais alguma coisa, gente?
P2 – Nossa, foi maravilhoso! Você acha que faltou falar alguma coisa?
R1 – Não. Bom, eu acho que foi legal, sim, o bate-papo aí. Foi legal. Muito legal.
P2 – Maravilhoso!
R1 – Eu fiquei muito feliz com essa entrevista de vocês, achei vocês muito legais, me deixaram muito à vontade e eu agradeço, tá? Agradeço de coração.
P1 – Obrigado, Paraná! A gente agradece também, por você ter aceitado o convite, em ter falado com a gente. Muito obrigada, então!
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