Depoimento de Walter Raimundo da Costa
Entrevistado por Valéria Barbosa e Ana Paula Soares
Estúdio da Oficina Cultural Oswald de Andrade
São Paulo, 04 de novembro de 1994
Transcrita por Lúcia Marina G. A. Oliveira
P - Bom, senhor Walter, eu queria começar com o senhor falando o seu nome completo, o local e a data de nascimento do senhor.
R - Walter Raimundo da Costa, data de nascimento, 9 de agosto de 1936, nasci na cidade de Panelas, Pernambuco.
P - O nome dos pais do senhor e o local de nascimento.
R - Joel Raimundo da Costa o nome do meu pai, Sabina Honório da Costa o nome da minha mãe, da mesma cidade também.
P - De Panelas?
R - Já está ligado já ou está...? Desculpa eu ter falado...
P - Tudo bem, e qual que era a atividade do pai do senhor?
R - Ele é agricultor, na época, quer dizer, sempre foi porque nunca teve assim uma cultura, não sabia nem escrever o nome dele, né, e a minha mãe doméstica, sempre cuidou da casa, dos afazeres de casa.
P - Como é que era a... no caso a agricultura, né, que o senhor falou.
R - É, a agricultura lá no Norte, na minha cidade principalmente era... feijão, milho, cana, é isso daí.
P - E esses produtos eram comercializados ou era só pra subsistência?
R - Não, era comercializado sim, era. A gente plantava pra vender e sobreviver, né, trocava, às vezes, por outros alimentos pra gente, né, chegava lá na mercearia do seu Juvêncio e: "Um saco de feijão por tanto de carne", dizia. Arroz a gente não sabia o que era, só sabia assim de (riso), só era umas poucas pessoas que comiam na cidade, arroz, comia, quando comia era o feijão mesmo com farinha e quando tinha uma mistura tudo bem, se não tinha estava do mesmo jeito também.
P - E era comercializado, existiam feiras?
R - Existia, existia sempre.
P - Conta um pouco da feira, como é que era?
R - Bem, a feira da minha cidade era no sábado, então muitos daquelas cidades vizinhas a Panelas, tinha Cupira, Jurema, Altinho, Lagoa dos...
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Entrevistado por Valéria Barbosa e Ana Paula Soares
Estúdio da Oficina Cultural Oswald de Andrade
São Paulo, 04 de novembro de 1994
Transcrita por Lúcia Marina G. A. Oliveira
P - Bom, senhor Walter, eu queria começar com o senhor falando o seu nome completo, o local e a data de nascimento do senhor.
R - Walter Raimundo da Costa, data de nascimento, 9 de agosto de 1936, nasci na cidade de Panelas, Pernambuco.
P - O nome dos pais do senhor e o local de nascimento.
R - Joel Raimundo da Costa o nome do meu pai, Sabina Honório da Costa o nome da minha mãe, da mesma cidade também.
P - De Panelas?
R - Já está ligado já ou está...? Desculpa eu ter falado...
P - Tudo bem, e qual que era a atividade do pai do senhor?
R - Ele é agricultor, na época, quer dizer, sempre foi porque nunca teve assim uma cultura, não sabia nem escrever o nome dele, né, e a minha mãe doméstica, sempre cuidou da casa, dos afazeres de casa.
P - Como é que era a... no caso a agricultura, né, que o senhor falou.
R - É, a agricultura lá no Norte, na minha cidade principalmente era... feijão, milho, cana, é isso daí.
P - E esses produtos eram comercializados ou era só pra subsistência?
R - Não, era comercializado sim, era. A gente plantava pra vender e sobreviver, né, trocava, às vezes, por outros alimentos pra gente, né, chegava lá na mercearia do seu Juvêncio e: "Um saco de feijão por tanto de carne", dizia. Arroz a gente não sabia o que era, só sabia assim de (riso), só era umas poucas pessoas que comiam na cidade, arroz, comia, quando comia era o feijão mesmo com farinha e quando tinha uma mistura tudo bem, se não tinha estava do mesmo jeito também.
P - E era comercializado, existiam feiras?
R - Existia, existia sempre.
P - Conta um pouco da feira, como é que era?
R - Bem, a feira da minha cidade era no sábado, então muitos daquelas cidades vizinhas a Panelas, tinha Cupira, Jurema, Altinho, Lagoa dos Gato, fazia aquela cidade ali, a feira. Então vinham os caminhões assim, como são os daqui, mas com mais gente, pra vender, e trazia - que a gente não chama de barraca, a gente chama lá de torda, torda seria a mesma coisa que aqui, coberto com a lona, tudo, né -, e trazia sapato, roupa, alimentos, trazia até pão, biscoito e essas coisas pra vender também na cidade. Só que ficava, a feira ficava o dia todo, 4, 5 horas da tarde era que começava a desarmar, né, e... aquilo pra gente era comer um pedaço de quebra-queixo lá da cidade, que o cara trazia da outra cidade era um colosso, tomar um copo de caldo-de-cana.
P - O que é o quebra-queixo?
R - Quebra-queixo é um tipo de doce feito com queijo, coco ralado e açúcar, aí vai dando um tempo naquilo, vai ficando escuro, amarronzado assim, né, e aquilo quando a gente mastiga, mas demora, né? (riso)
P - Eu queria que o senhor falasse, seu Walter, pra gente sobre a sua infância. Como é que era, as lembranças que o senhor tem de criança, das brincadeiras, da casa que o senhor morava...?
R - É, como a gente é de família pobre, naquela cidade a gente era pobre mesmo, não tinha que está... Eu, quando eu comecei a entender de gente, eu vi que na época existia dois partido político, então eu imaginava, o meu pai não já pensava como eu, mas eu imaginava, eu digo: "Eu vou ter que ter amizade com as duas, as pessoas, os donos dos partidos, né", que eram os coronéis da cidade, José Rufino e Mané Guilhermino era do outro partido. Então eu tinha amizade com todos eles pra não haver problemas porque havia muita, como até hoje existe naquela cidade, ou parou, né, em Exu lá no interior de Pernambuco também, né. E a minha infância foi assim, pequeno com nove, dez anos, com sete, oito anos, teve a Segunda Guerra e aquilo pra gente era mais difícil ainda, não existia nada pra se comer, não tinha o querosene pra gente acender o candeeiro dentro de casa, entende, é... as notícias chegava assim quando tinha um rádio pra se escutar. Já pobre (riso), ainda mais numa situação dessa na... Daí a gente fomos passando os tempo, né, eu fui procurando a... eu sobreviver, com nove, dez anos eu comecei a fazer carrinho de tábua e vendia pros meninos, filhos de pessoas que tinha melhor... O cara, o menino chegava pra mim lá, o filho de uma pessoa lá, de uma família e: "Walter, você faz um caminhãozinho pra mim, quanto você faz?" Aí eu dizia: "Tanto." Aí eu e o meu irmão, esse, porque o meu outro primeiro irmão veio logo pro Rio, e ficou eu e o outro que foi assim, eu nasci em 36, ele nasceu em 35 era pra falar de primeiro, e a gente era muito unido os dois. "Então vamos pegar a encomenda de fulano e vamos fazer um caminhão." E ia lá na mercearia do seu Juvêncio comprava um caixão, prego, e chegava em casa, fazia, quando era uma hora assim já estava pronto, levava lá pra ele e recebia o dinheiro. Então a gente já pensava: "Bem, eu não vou precisar pegar os trocado que o pai dava pra gente no sábado, às vezes quando a gente vendia as coisas na feira, né, pra ele. E, ali a gente já ia comprando mais coisas pra ter, pra quando um pedir, a gente já tinha mercadoria pra não precisar de estar indo se não tivesse, então já ia saindo. Então todo dia a gente começamos a fazer e... eu tinha mais criatividade de fazer as coisas, meu irmão mais caprichoso. Quando eu bolava as coisas e ele: "Ah, tudo bem vamos..." E com o passar do ano, né, aí fomos fazendo carros maiores, de dois metros de comprimento com rodas grande pra ir buscar frutas nos sítio como, mais ou menos, como daqui no Ipiranga vamos supor, e estradas difíceis de terra, né, e a gente fazia um pra mim, um pra ele, fazia um outro pra outro primo. Ele pagava, fazia pro outro primo, pra outro rapaz. E a gente, no domingo de manhã, ia buscar frutas lá no sítio, ia quatro, cinco, oito carros daquele, na rampa a gente puxava, um empurrava atrás e outro ficava com uma corda na frente, nas descidas a gente amarrava a corda e montava nos carro, aí saía dirigindo, direção na mão, freio no pé, tudo direitinho, né. E passado o tempo a gente vai mudando, vem... eu não sabia nem o que era adolescência, pensava que era doença, (riso) e vem mais a cabeça, porque você pode ver uma coisa hoje, o filho do rico tem o estudo, mas não tem a malícia, não tem a cabeça pra imaginar, pra sobreviver, e o moleque de rua, ele não passa fome, ele é mais esperto, eu vejo moleque vendendo coisas aí em ponto de ônibus, a pessoa dá o dinheiro e ele dá o troco certinho, aquilo não se atrapalha em nada, ali ele vende um doce, um caramelo, uma coisa qualquer, aquilo é... Então era o que a gente tinha, trabalhava mais com a cabeça do que... quem tem muito, chegava lá na mesa e tinha o prato bonito pra comer e a gente não, era... deixa eu ver... o pai falava: "Vamos pescar lá no rio, lá no córrego..." - era um rio e a gente chama tudo rio, né, córregozinho com um metro de largura é tudo rio lá -, "pra fazer a mistura de hoje, de amanhã e depois." "Vamos." E passava por debaixo da cerca lá do dono das terras lá e a gente ia se arrastando 20, 30 metros pra ninguém ver a gente, né, passava por dentro de erosões assim pro vaqueiro não ver a gente lá longe, se escondendo e...tudo, tudo essas coisas da vida, né.
P - E a época da escola, o senhor tem lembrança?
R - Fui preguiçoso pra estudar. Quando a professora não aparecia lá na escola era pra mim era uma vitória aquilo, né, eu ia chegando no, tinha o motor, o prédio do motor que fornecia luz pra cidade das 6 até as 9 e meia, 10 horas da noite só. Então o grupo era ao lado, aí eu ia andando e olhando, quando via que a porta estava aberta, (riso) mas quando a porta estava fechada aí eu gostava, pra não fazer nada, pra eu brincar com os meu brinquedo, pra... entende, fazer qualquer coisa pra um colega assim que chegava lá pra pedir, da nossa idade, né. E, fui preguiçoso pra estudar, e quando eu fui pra estudar pra música eu gostei, que o maestro queria que a gente fosse lá, podia ter luz ou não, a gente tinha que estar lá na casa dele pra aprender aquilo lá, né.
P - Conta com mais detalhes pra gente a história de estudar música, de tocar na banda...
R - O meu pai era músico, meus dois tio eram músico e o meu irmão mais velho músico também. E o pai brincava sempre com a gente: "Quando vocês crescerem, quando tiver com uma certa idade, vai aprender música também." Aí um dia a mãe falou: "Bem, como é, você não vai levar eles lá pro seu Luís pra eles começar a aprender?" O pai: "Vou levar." Aí falou com o seu Luís, quando foi uns dias depois nós fomos lá, eu e o outro meu irmão. Ele até brincou com a gente e dizia: "Ah, esse aí não vai dá nada, né." Mas o pai disse: "É, se for igual ao mais velho, vai ser bom" - que era o meu irmão mais velho, o Josias. Aí eu comecei a aprender igual com meu irmão tudo tal, primeiras lições tudo, depois com quatro meses, aí o maestro disse que a gente já ia pegar o instrumento. Como eu estudei a clave de fá, não, de sol, junto com meu irmão, aí eu fui pegar o instrumento que era da clave de sol. Aí não fiz nada, meu irmão deslanchou logo, né, já... saiu já com instrumento de palheta, já tocando clarineta e tal, já foi soltando a escala ali tudo. Aí meu maestro disse: "Acho que você vai pegar um instrumento de bocal, de..." Aí ele me deu o instrumento trombone, aí foi bem, aí fui tal, dali há uns seis meses a gente já começamos a ir fazer segunda parte na banda de música, né. E tinha outros colega que queria ir também: "Ah, vê como é, eu queria também entrar." Eu digo: "Ah, fala com o seu Luís." Aí, dali eu fui me soltando assim de uma forma que é... a gente aprendia mais a música ouvindo no rádio do que mesmo a partitura porque vai pegando o vício de aprender a música de ouvido do que ler. Eu estava já meio habituado a ir pra um ensaio, pra um dobrado, ou pra... frevos de carnaval como era, escutar eles primeiro ensaiar pra mim pegar o instrumento e num instante tocava, eu escutava e já ficava na idéia, né. Mas eu tocava, chegava circo lá na minha cidade eu ia, aí tinha um engraxate lá da cidade que era o único, o Paulo, aí ele me chamava, né. Às vezes eu estava lá na casa, eu já tinha namorada com 16, 17 anos já tinha (riso) namorada, aí: "Walter, olha tem um circo aí e eles estão querendo falar com você." E eu ia lá, o circo ficava um mês lá e eu tocava, toda noite eu ia lá, tocava e recebia, né, como também eu ia completar a banda de música da cidade vizinha e a orquestra também, pra tocar bailes. Os baile lá era mais aos domingos, não era nos sábado nem na sexta, era nas sede dos clube ali, aqueles salão bem feito, pista de dança, a laterais com mesas e as famílias sentava toda ali, ali no canto um palco mais alto pros, pra gente tocar, né. E eu começando a pensar e falava pro meu pai: "Pai, eu vou embora dessa cidade, aqui não dá futuro." "Não filho, não faça isso, você vê fulano, já tem negócios aí, ciclano tem negócios também, você pode arrumar um negócio." E eu jogava bola também no time, também era...
P - Qual time?
R - O timezinho da cidade, né, o Panelas Futebol Clube lá (risos) E... então era também considerado lá, não era o Pelé, mas era considerado lá no meio da turma lá, né. Aí chegou um dia que eu falei pro meu pai, nisso o meu irmão já estava no Rio, já tinha vindo embora pro Rio, o Valfrido, e quando ele escrevia ele falava pra mim como era o Rio, era uma beleza aquilo, o mar, o mar eu nunca tinha, eu não sabia nem... porque nem cinema via, o cinema era branco e preto, era ambulante na minha cidade. Quando a gente chegava o dia de hoje, que olhava lá assim na distância como daqui em Santana, na estradinha que vinha, aí olhava assim, via que era... era um calhambeque, era um carro que hoje é caríssimo, aquilo, o cara tinha uma charrete, (riso) calhambeque, ele trazia, era o cinema ambulante, armava lá no salão que era o açougue, botava um pano lá na parede, branco, um alto falante atrás, trazia os fio pela parede, ligava lá o som, tinha o filho que anunciava o filme, a comédia e o seriado que passava, né, aquilo era, aquilo pra gente, o sábado era ...era uma coisa Se não tivesse o cinema, era triste. Aí a gente ia aprender a andar de bicicleta porque tinha bicicleta de aluguel na época, né. Aí foi quando eu falei com o meu pai que ali não tinha futuro: "Não, o que é isso, tal." Eu digo: "Não, eu estou com vontade de ir embora pro Rio, o Valfrido, o senhor está vendo, o Valfrido está indo bem lá." E o Valfrido mandava dinheiro pra gente lá, mandava fotografia, eu via o cara bem mais vestido, e eu lá com aquela roupa, tamanco de madeira no pé, (riso) se tiver, se quisesse e... posso continuar assim mesmo?
P - Pode.
R - Aí chegou os anos 58, que nós estamos passando daquilo que eu falei, de que eu trabalhei na oficina de rádio e de móveis, né. Aí eu falei pro meu pai: "Vou tocar um carnaval e vou embora."
P - O senhor tocava em carnaval?
R - Tocava Tocava. Eu completava a orquestra de outras cidades. Às vezes eu estava lá na minha cidade assim no domingo de manhã, aí chegava o jipe lá de Cupira, o Zequinha chegava lá, às vezes eu estava jogando sinuca lá com os amigos no salãozinho da cidade lá, né, e os cara: "Ô, o Walter está aí?" "Está, ele está lá dentro jogando sinuca lá." Aí entrava: "Ô Zequinha, o que é que há?" "Não, é pra você ir com a gente, pega o instrumento pra completar, hoje tem baile lá em Cupira e nós vamos lá." Aí ele me levava e o prefeito me pagava, eu completava a orquestra lá com ele lá e me trazia depois de volta 2, 3 horas da manhã, ele trazia de novo eu pra... Ia na outra cidade, (em Quipapá), fui em Altinho tocar carnaval, toquei até perto de Recife, toquei em Caruaru, Catende, em Garanhuns, em várias cidade eu toquei carnaval, tanto com meus colega da cidade como eu ia completar a orquestra de outra cidade pra tocar carnaval também. Aí nesse ano eu toquei o carnaval e vim embora para o Rio. Fui a Caruaru, peguei um ônibus e vim, aquilo, e eu digo: "Que distância vai ter daqui lá?" A gente andava pouquinho ali, de uma cidade a outra, 30, 20, 15 quilômetros e rodar 2.600 quilômetros era uma diferença enorme, né. Mas vim, quando eu cheguei no Rio tudo, cheguei de noite, fiquei em Duque de Caxias lá, aquele lugar tudo... Achava tudo diferente, só via pessoa de cor, né, eu digo: "Puxa, saí da minha cidade, eu era o mais escuro na minha cidade." (riso) Aí meu irmão sumiu, pra ir lá na casa das pessoas que ele trabalhava. Aí foi, no dia seguinte ele voltou, fiquei lá no hotel e depois: "Vamos, vamos lá pra casa do meu irmão." Eu digo: "Aonde mora o meu irmão?" "Ele mora em Nova Iguaçu" - esse meu irmão mais velho, o Josias. Aí foi a minha decepção quando eu cheguei lá, né. Pensava que ia... a casa nossa lá na cidade era humilde, mas era uma casinha... feita num lugar bem diferente, em cima de uma pedra. Era um lajedo que nós chamamos de pedra lá, o pai construiu ali em cima, não fez alicerce nem nada e a frente de casa era tudo pedra, ali chovia, secava num instantinho, tinha uma fenda assim de dois metros e pouco de natureza, era água que a gente pegava pra beber e fazer comida dali, né. Aí quando eu cheguei lá na casa do meu irmão era um barraco de madeira, aquilo, caia água pra todo canto, a mulher dele era uma senhora de cor, daquelas serpentes. (riso) Eu digo: "É..." Aí quando ela me viu ela: "Mais um vagabundo pra dentro de casa." Eu digo: "Que coisa, aonde foi que eu vim parar, né." E arruma, o meu irmão disse que tinha emprego pra mim logo rapidinho e nada... Aí um negrão lá, que eu chamava ele de Bekão, aí eu comecei a jogar no time de Nova Iguaçu, mas o interesse era trabalhar pra receber e pagar pro meu irmão porque eu só comia e bebia e vivia lá sem... Trabalhei numa demolição de um prédio lá em Copacabana, cheguei lá com a mão fininha, trabalhei, saí da minha cidade ali tudo levinho, tudo sem muito peso assim pra fazer, pegar uma marreta de dez quilos pra derrubar tijolo ali eu digo, quando foi 10 horas, 11 horas do dia, eu estava com cada bolha na mão que era uma coisa, né. Aí falei pro cara lá, eu digo: "Ó, não dá pra trabalhar nesse negócio." "Ah, você é mole e tal." Eu digo: "É, mas não tem condições..." Aí fui embora, me pagaram aquele meio dia, passou mais uma semana eu arrumei pra trabalhar lá em Nova Iguaçu, fazer o esgoto, no chão. Eu ficava: "Estava lá na minha cidade tudo era pobre, mas pelo menos não estava... não tinha um emprego desses, tinha uma outra coisa mais, tocava lá com os... na orquestra, ia tocar um carnaval, ia tocar um bar e fazia um jogo de futebol, aquela alegria no campo toda e aqui eu estou dentro duma vala dessa aqui com um metro e tanto de profundidade..." E foi passando o ano, quando chegou... veio a Copa de 58, nem liguei se o Brasil... como é que foi a festa nem nada, aquilo pra mim, eu só fiquei sabendo que foi, o Brasil foi campeão assim como um jogo hoje aqui: "Como é que foi o resultado, como é... "Aí eu arrumei um emprego lá com... não era bem um emprego mas era um trabalho pra trabalhar de pintor, pintar apartamento, pintar loja tal, aí um rapaz me arrumou isso aí e disse: "Olha, você vai ficar uns dias comigo lá no meu apartamento em Copacabana. Aí eu comecei a melhorar um pouco, ia juntando os trocados... eu digo: "Primeiro arrumar o dinheiro da condução, porque se um dia se eu tiver que voltar já estou com os trocado da... comprar a passagem e ir embora, né." Aí foi quando chegou setembro deu mais saudade ainda de casa, aí eu comprei uma passagem e fui embora pra minha cidade lá, foi aquilo, foi uma viagem assim, eu adoeci na viagem, quando cheguei na Bahia estava com uma gripe, uma febre que chega... a temperatura de trinta e poucos graus e eu sentindo frio dentro do ônibus, né. Aí pedi pro motorista... e também me desarrumou o intestino, eu fiquei e não peguei nenhum ônibus pra Caruaru, pra Recife, pra Pernambuco, eu peguei pro Ceará, desci em Crato, que é pra cima de Petrolina no sertão de Pernambuco, né, já divisa com Ceará. O ônibus disse, o rapaz, o motorista disse: "Você fica por aqui?" Eu digo: "É, eu vou ficar por aqui, aqui eu me viro pra ir pra Caruaru." De lá de Crato pra Caruaru, eu saí de lá era uma e pouco da tarde eu cheguei onze hora da noite em Caruaru, peguei uma carona num caminhão de um gaúcho e eu tossia que era uma coisa, gripe, né, que eu tinha pegado. No fim eu fiz amizade com esse gaúcho, era ele sozinho, né, no caminhão, eu... ele queria que eu fosse trabalhar com ele, queria que eu fosse até Recife, depois vinha pra cá, e eu ficava trabalhando com ele, mas eu... aquele momento era ir pra minha cidade. Aí cheguei na minha cidade era uma sexta-feira, aliás, cheguei em Caruaru na sexta-feira de noite, dormi numa pensãozinha lá, dos Guararapes, quando foi na manhã seguinte eu sabia onde o ônibus da minha cidade vinha, onde parava, aí eu fui lá pra ver quem era que vinha pra mim rever as pessoas ali com esse tempo todo, aí chegou um, chegou outro chegou... "Ô, o Walter de Joel está aqui, você voltou, tal." Eu digo: "É, estou voltando aí." Mas uma coisa eu tinha melhor um pouco, eu estava mais gordo, né, eu me dei bem no Rio, né, estava mais cheio todo... uma, a camiseta - na época a gente usava camiseta Hering toda enroladinha até aqui em cima assim, como tem algum garoto hoje fazendo isso -, a calça, eu estava com uma calça jeans e a dobra, ela, a gente comprava calça comprida e dobrava até aqui assim, ficava aquela parte mais clara dela até aqui assim, aquilo era o uso da época, né, e um tênis no pé, eu estava todo esporte assim, duro, né, estava duro. (riso) Aí fui pra minha cidade, quando eu fui chegando lá na cidade naquele ônibuzinho velho poeirinha aí eu fui vendo já o meu pai estava... eu tinha escrito dizendo que estava voltando, mas não disse o dia que voltava. Aí foi aquela alegria, encontrei a namorada, e a namorada lá toda satisfeita, tal e no domingo ia ter a parada de sete de setembro, ia ter futebol, e aquilo pra mim foi, era outro mundo de novo pra mim. Foi quando o pai falou com o maestro e aí o maestro perguntou se eu queria pegar um instrumento, eu peguei o mesmo instrumento que eu tinha deixado lá, comecei a ensaiar de novo e o maestro disse: "Vamos falar com o Zé Rufino, que era o prefeito, pra gente segurar o Walter aqui pra ele não voltar mais pra lugar nenhum, ele é jogador, ele toca na banda de música, eu gosto muito dele, tal." Aí arrumou pra mim trabalhar na prefeitura, não fazer nada de manhã e descansar à tarde, né (riso), mas carimbar uns talãozinho que tinha uns fiscais que iam receber lá dos cara que vinha fazer a feira lá. Como tinha mais dois povoado que a gente chamava de distrito, tinha Cruzes e tinha Queimados, também batia os carimbo lá naqueles talãozinho pra eles. Eu ainda impus na época que: "Bem, eu preciso da terça- feira à tarde, quinta-feira à tarde pra treinar o futebol e também se eu precisar do instrumento eu quero um instrumento da prefeitura, eu... pegar o instrumento, posso ir em outra cidade e completar, como fazia antes?" "Ah, tudo bem, tudo certo." Aí nesse ano veio também a política e o meu, o partido do meu prefeito perdeu, não, no ano seguinte, em 90... em 59, eu trabalhei aquele ano tal. Antes que ele me desse a carta de demissão eu pedi já e saí, aí tinha já o candidato no meu lugar, era um amigo também, o Gildo. Aí eu falei pro meu pai, chegou o ano 60 houve posse do outro prefeito, aí eu fiquei por ali ainda... vendo se podia fazer qualquer coisa se não, estava com aquele Rio na cabeça ainda, meio chateado ainda, mas vi que não tinha, a coisa ficava pior ainda na época lá, né, não havia emprego assim, porque aquele emprego podia até eu ficar e me garantir, me casar lá, ter família lá. Aí chegou 61, é isso mesmo, aí o maestro disse: "Carnaval vai ser aqui na cidade. "Aí eu disse: "Seu Luís, eu não vou tocar o carnaval aqui." "Não, por quê?" Eu digo: "Porque os baile aqui começa 8 hora da noite e termina 3, 4 hora da manhã, se eu vou tocar fora, em outra cidade, completar uma outra orquestra tenho certeza eu vou começar um baile 10 horas termino uma e meia... Lá o último baile está certo, de terça pra quarta-feira, mas aí vai ser... vou estourar o meu beiço. Aí ele... o pai veio falar comigo, porque ele tinha pedido pro pai falar pra me convencer. Eu digo: "Não pai, eu não vou tocar, eu prefiro brincar o carnaval aqui do que tocar." "Ah, e você vai ficar sem tocar?" Eu digo: "Ah, eu vou ficar." Na semana pré-carnavalesca o maestro dessa cidadezinha de Cupira me liga no telefone do correio - que era o telefone de manivela, aquele rararara botava duas peçinha, falava aqui, falava lá -, me chamando pra ser... não estava com contrato, eu disse que não tinha, ele disse: "Olha, eu preciso de um trombone, um pistom e um clarinete." Eu digo: "O pistom eu arrumo, que era o meu tio e eu vou junto." E ele disse: "Então vamos, você vem pra cá que, vem quinta-feira de noite." Isso era na terça ele foi na... quarta eu avisei ao secretário do prefeito, ele: "Ah, não tem problema." Eu digo: "Só venho na quarta-feira que vem, heim." (riso) Aí fui lá, toquei o carnaval na praia de Tamandaré. Foi uma beleza, ganhei quase dobrado do que na cidade que eu morava, né. Aí eu cheguei para o pai e disse: "Pai, agora eu vou embora mesmo." "Ah, você não devia ir, que a gente pode fazer um negocinho aqui." Mas não tinha como, aquilo era uma ilusão dele pra mim querer ficar porque ele gostava muito de mim também. Eu já fui em Caruaru, já comprei a passagem, já estava certo. Aí já tinha avisado os colega do Rio, o meu irmão, que voltava. Fui pra Caruaru ia viajar como amanhã, cheguei hoje em Caruaru, de noite assisti um filme lá e fui dormir e sonhei que ia perder o ônibus de manhã, e perdi, a minha bagagem, a minha malinha lá na empresa, quando eu me levantei (fim da fita 041 / 01-A) de manhã, cheguei, era de frente ao hotelzinho que eu estava ali, eu digo: "O ônibus que vai pra Rio e São Paulo?" "Faz uma meia hora que saiu." Aí eu corri numa praça que tem lá, aluguei um jipe porque não tinha carro de aluguel assim, táxi, era jipe os táxi de lá. Eu digo: "Tenho que pegar um ônibus que vai aqui na frente, São Caetano, Belo Jardim ou Pesqueira, está por aí por perto." O cara soltou o jipe, cheguei lá o ônibus estava bem na saída de Belo Jardim, né, bem na saída assim. O jipe parou na frente, eu paguei pro rapaz aí falei com o motorista e ele disse: "Ah, por isso que esse lugar estava vazio aqui, eu pensei que ia pegar gente lá em Arcoverde e tal." Aí me sentei ali do lado do motorista, era um ônibus com porta atrás, o motor na frente mas a porta era quase no meio do ônibus. E eu vi que ele estava sozinho no ônibus, eu digo: "E você, não vem outro motorista não?" Ele disse: "Não, esse ônibus vai pra reforma em São Paulo e eu estou indo sozinho levar. E você?" Eu digo: "Eu vou pro Rio." Ele disse: "Você não quer ir dando uma mão pra mim, você não vai gastar nada daqui pra lá." Eu digo: "É pra já." O que precisa de fazer, não é, pôr água no radiador do carro, olhar os pneu, qualquer coisa assim, ver se está cheio, ver se está... os parafuso de roda tudo. Aí vim cheguei no Rio, desci lá na Penha é... perto de Vila da Penha, na Avenida Brasil, e de lá fui lá pro quarto do meu irmão, esse que eu já tinha ficado com ele. No dia seguinte eu fui falar com o rapaz, já no outro dia eu comecei a trabalhar. Aí veio, eu trabalhei o ano, eu cheguei aí em abril, trabalhei normal o ano todo, o inverno, né, quando chegou em novembro teve uma greve violenta de trânsito lá no Rio que só funcionava os trem. Aí eu falei, eu tinha um amigo aqui na Duque de Caxias que nós jogamos bola junto lá na minha cidade, Cícero, eu estava sempre em contato com ele, ele me escrevia, eu escrevia pra ele, ele me escrevia, eu escrevia, e a minha namorada lá de Pernambuco tinha vindo pra casa da irmã dela aqui em São Paulo. E daqui ela me escreveu dizendo que estava me esperando aqui, aí a vontade foi mais, né, pra vim, que era a Ivone essa daí. Aí eu peguei, aproveitei essa greve, peguei um Cometa e vim embora, desci aqui na Duque de Caxias, já olhei, vi a Avenida Duque de Caxias eu digo: "Outra." Encontrei o meu amigo aí perguntei onde ficava o Carandiru, a Avenida Tiradentes que eu ia pegar uma condução pra ir pra, no endereço dela. Era uma sexta-feira do mês de novembro, aí ele me ensinou, eu voltei de lá de perto da Avenida São João até aqui na Duque de Caxias, na Avenida Tiradentes e no ponto me informei lá com a senhora, até me lembro dela, espanhola: "Ah, eu moro lá nessa rua tal assim, lá no Carandiru a gente desce junto tal." Peguei uma condução cheia, era 6 hora da tarde aquilo lotado e eu, era cobrador, era... tinha um cobrador, não era como hoje, o cara vinha dentro, pagava e dava um bilhetinho pra gente dá pra o motorista lá, um papeletizinho...
P - Tinha roleta?
R - Não havia esse negócio, e ele passava todo o ônibus por dentro ficava até a porta de trás, né, pra gente entrar. Aí desci no Carandiru, desci por ali, a mulher junto comigo tal, cheguei lá bati palma e veio um cara forte assim, mais forte do que ele, italiano, né, e fala: "Que é que você quer?" Eu digo: "Eu sou o namorado da Ivone assim..." "Ah, você é o Walter, entra aí, entra aí." Aí entramos, tal, aí foi aquela: "Pretende ficar por aqui ou volta pro Rio?" Eu digo: "É, está uma greve danada lá no Rio eu vim ver inclusive ela e os amigo aqui de São Paulo e tal." "Pretende ficar em São Paulo?" Eu digo: "Se eu arrumar negócio aqui eu fico por aqui." Ele: "Amanhã é sábado, nós vamos ver um emprego pra você, o que você sabe fazer?" Eu digo: "De tudo, cavar terra a... cobrador de ônibus o que preciso (riso) eu trabalho, pintar, o que for." Aí vim com ele no sábado, vim do Carandiru até Santana de pé e pegamos um ônibus. Aí eu olhando a cidade aqui pra o centro, tudo diferente, não existia o metrô, a Avenida Tiradentes era mais estreita, tinha um monumento aqui na frente desse, eu não sei como é o nome desse prédio aqui é... só de tijolo aqui na frente da Rua São Caetano que faz esquina com o jardim, tinha um monumento bem na frente ali, um negócio bacana um....
P - Onde tem a Pinacoteca ali?
R - É, isso mesmo, e a Avenida Tiradentes era mão e contramão somente e um jardim no meio, né, mas era mais estreito, hoje é mais larga.
P - Como é que era São Paulo naquela época senhor Walter?
R - Era bastante rua de paralelepípedo, né, era bonde, o trânsito que tinha era mais bonde do que a CMTC que tinha na época também uns ônibus antigo até hoje esses pau velho que anda pra Santana, pra Pinheiros esse não tinha que existir, aquilo lá era novo na época, aquilo era ônibus elétrico todo, as portinha, janelinha tudo, né. Mas era assim, eu achei estranho porque o Rio é plano, né, só a subida de morro é que era... então a gente ali no Rio andava de bicicleta pra lá e pra cá sem ter problema. Aqui quando eu vi a descida ali da Prestes Maia, a Paula Souza, Senador Queiroz, subi, depois comecei, eu trabalhava na Paula Souza, no 512. Aí eu, um dia, dois dia depois que eu estava trabalhando o chefe lá chegou pra mim e disse que eu tinha que ir na Rua XV de Novembro e Rua Boa Vista pagar uns título no banco. Eu não sabia o que era nada disso (riso), aí tinha um rapaz que era sobrinho dele e me ajudou bastante, esse rapaz foi um cara 100%, o José. Eu digo: "Zé, como é que é esse negócio aqui?" Logo que eu entrei na firma pra trabalhar eu olhei o nome da firma, Ribeiro Silva & Cia. Ltda., portugueses, né, aí eu entrei fiquei ali e tal, o cara disse: "Que é que você veio fazer?" Eu digo: "Ah, o seu Zé Oliane me mandou aqui hoje." "Ah, falou com o seu Osvaldo, tudo bem, que é que você sabe fazer?" Eu digo: "Ah, eu escrevo a máquina e qualquer coisa assim que queira, até pra... carregar caminhão eu sei fazer também." "Não, você vai trabalhar no escritório." Nisso toca o telefone de lá daqui. "Atende o telefone aí." Aí era um português falando atrapalhado, eu acho que era da Ilha da Madeira, difícil pra entender, né: "Olha, você me anota uns pedido aí e tal." Eu digo: "O que, que é que ele fala, quem tá falando?" Aí ele: "Como é o nome do senhor?" E o cara perguntava quem era eu, e ficou aquilo, entende, aí o rapaz chegou imediatamente, o Zezinho, o Zé e diz: "Ó, o rapaz é novo aqui, vocês estão pondo o rapaz pra atender o telefone." Ele pegou o telefone era um vendedor com nome de Fausto, né, e pra dar vários pedido pelo telefone, aí eu me sai daquela tal, mas eu tive sorte lá, trabalhei de 61 até 70 quando faliu a firma. E depois eu fui trabalhar na Sadia, não bem na Sadia, aí teve muitas é... muitas passagem na Ribeiro Silva, né. Logo, aí nessa semana que eu trabalhei eu cheguei pro chefe e disse se eu podia ir no Rio buscar minhas coisa que eu tinha vindo pra cá assim com pouca coisa. "Ah, pode ir buscar." Eu digo: "Ah, amanhã é sábado, eu viajo hoje à noite e no domingo de manhã, na segunda-feira eu estou aqui já." "Ah, pode ir tal." Aí... fui no Rio, falei com meu irmão ainda recebi uns trocado que eu tinha trabalhado lá. Aí arrumei uma pensão pra morar pertinho do emprego, né, ficar lá na casa das pessoa lá não, eu tinha que, na Rua São Caetano, era uma espanhola. E tinha o trenzinho da Cantareira, tinha a Maria Fumaça que saía ali da... perto Rua João Teodoro, ia pela Cruzeiro do Sul, um ia pro Horto e o outro ia pra Guarulhos, era uma linha assim, né. Tinha a estação Tietê, não, tinha a estação Carandiru, depois tinha a estação lá em cima de Santana, tinha a estação Santana, Carandiru, Parada Inglesa, Tucuruvi. E no domingo era o meu divertimento, ia passear de trem, porque aqui eu não tinha amizade ainda pra voltar a jogar bola com os amigos, né. Aí foi quando meu concunhado disse: "Você precisa de casar." E ela querendo casar também, né. Eu digo: "É." Aí virou... logo veio 62, aí fizemos um casamento rápido assim, ali simplesmente no meio das famílias, tal, porque não tinha condições financeira pra fazer. Arrumei um cômodo de cozinha pra morar muito gostoso, na semana de lua de mel o cômodo de cozinha encheu, ficou um tanto assim de água, eu tive de mudar de lá, arrumei um outro melhor, mais pra cima, perto da Rua Maria Cândida e ele me ajudava, o que eu ganhava era bem, mas ele gostava de me ajudar, ele trabalhava na aeronáutica e trazia bastante coisa de lá pra mim, carne, feijão, arroz, um monte de coisa. Depois os irmão dela disse: "Olha, você precisa de comprar um comodozinho pra, nada de morar de aluguel." - e ele tinha imobiliária em... na Vila Gustavo -, e eu já arrumei. E com os patrões eu já arrumei dinheiro pra pagar lá o comodozinho que eu comprei, lá numa baixada em Jardim Brasil lá pra, perto do parque Edu Chaves, e eu fui fazendo as coisa lá, botei, é fiz pia, botei forro no cômodo de cozinha, botei, arrumei, passei pra frente e comprei uma casa na Vila Gustavo e o tempo foi passando, né. Quando a firma começou a... a dançar, né, vamos dizer assim, os sócio começaram a tirar só o dinheiro sem pôr nada, e foi, pediram a concordata, e da concordata veio a falência, nisso eu fiquei desempregado, e fui vendo aonde eu podia arrumar emprego. Fiz ficha aqui, fiz ficha ali, fiz ficha lá e tal, aí um amigo lá da Vila Gustavo disse: "Você quer trabalhar comigo no interior, vamos vender tapetes, bijuterias." Assim, a gente saía de porta em porta nas cidade do interior vendendo, nisso veio um desentendimento com a... mulher, com a Ivone.
P - A primeira esposa?
R - É, ela, porque eu estava desempregado, mas eu mantinha a casa mesmo assim batalhava de uma forma ou de outra pra não faltar nada em casa, mas foi mudando tal e... chegou a separação, fizemos normalmente, amigavelmente, ela foi embora com as criança e eu pagava pensão, né? Aí arrumei esse outro emprego na Sadia, os dono da Sadia, Bruck e Frederico Bruck, na Paula Souza, no 212, e depositava o dinheiro, não queria ver a... ela de jeito nenhum, as criança de vez em quando eu fui um pouco muito frio pra ver as criança, né.
P - Quantos...
R - Aí ela foi morar no interior.
P - Qual o nome dos filhos?
R - É, o Hosmilton e Walter, né, Júnior. Aí foi quando chegou 71 pra 72, eu fiquei na casa ainda que eu tinha lá na Vila Gustavo, e um dia eu chegando do futebol - eu passei uma boa parte da minha vida assim estou contando já a frente já, da Ribeiro Silva (riso) pra Bruck já foi - aí eu estava assim na parte alta da... a casa que eu tinha, na parte alta, e lá em baixo tinha um córrego e do lado de lá tinha uma moça lá com um garoto, andando, passeando, eu comecei a mexer com ela, e essa foi a minha... (riso) Aí desci pra conversar com ela e, porque durante esse tempo que eu fiquei sem, apareceu várias candidatas, né, que eu, não servia, uma não servia, a outra já tinha filho, a outra não... não é que a gente queria melhor, mas uma pessoa que fosse adequada pro gosto, pro meu gosto, né. Aí foi quando eu achei que era essa, Maria, que até hoje, né, que eu... O interessante que a minha primeira mulher da minha cidade, conheci pequenina, estudando junto comigo no colégio, a família toda e fiquei só nove, nove anos com ela, e essa que conheci aqui em São Paulo tenho um casal, né, o...
P - Como que é o nome dela?
R - Maria Silva da Costa, não é, e tem o André Luís Costa e a Roberta Silva Costa que, modéstia a parte, é minha satisfação assim ter em casa, né. Então foi outra vida outra mudança totalmente assim, e eu saí de um escritório, na Bruck, de 71 a setenta... de 70 a 72 eu entrei pra trabalhar num escritório lá, o rapaz disse: "Olha, não tem vaga no escritório, tem no armazém." Eu digo: "Vai, não tem problema não." Aí eu botei um guarda-pó e carregava caixa, carregava perua, saía pra fazer entrega, voltava, saía, descarregava caminhão, carregava caminhão, eu não importei nunca com relação a, o tipo de trabalho que, o importante era querer trabalhar, né. Aí, em 68, lá na Vila Gustavo ainda, eu estava ainda com a primeira mulher, tinha um vizinho, um rapaz 100% disse: "Eu vou te levar num clube lá do Jardim Tremembé pra lá, pra você ficar sócio e... jogar bola, tomar banho de piscina tal." Aí eu fui com ele e já fiquei sócio, gostei, né, um clubezinho bem simples, pequeno também, não tinha muita coisa. E eu comecei a jogar bola com uns rapazes lá e fui fazendo amizade e tinha mesa de sinuca lá, e depois do jogo, ia jogar sinuca lá com os rapazes e eu mandava entrar um e eu ganhava daquele: "Ah, entra outro." Aí eu ganhava daquele, entra outro, aí tinha um senhor careca, gordinho, com a esposa e as filha dele lá sentada me olhando, aí uma hora que eu estava mandando um saí que tinha perdido, ele disse: "Agora eu vou." Ele veio foi difícil pra jogar com ele, aí perguntou o que eu fazia, eu falei que estava, mas já estava saindo da, não aí, é em 68, aí eu falei que estava trabalhando lá na Ribeiro Silva, depois saí, falei pra ele que, ficamos com boas amizade, eu ia na casa dele no sábado à tarde jogar bilhar tal, ele falou que tinha a loja, que era Walter Oliveira Rocha.
P - Aonde era essa loja?
R - Na Rua Barão de Itapetininga, 243. E eu saía às vezes de lá da firma, já na Bruck assim mais cedo do que ele fechar e ia lá tomar um cafezinho com ele e tal e conhecia as pessoa que trabalhava lá tal, no domingo ele jogava bola comigo e a gente jogava sinuca, fizemos boa amizade. Foi quando eu saí da Bruck e falei pra ele, disse: "Olha estou aí desempregado, estou vendo aí se arrumo um emprego aí que já saí da Bruck." Ele disse: "Olha, eu estou precisando de uma pessoa aqui assim de confiança como você que eu já conheço, já há três anos mais ou menos, o meu sobrinho trabalha comigo aqui que é o Toninho, ele vai sair daqui e eu queria um cara assim, se você quiser vim?" Eu digo: "Mas é pra já." No dia que eu estava indo pra lá, fui lá pra ficar lá na loja com ele, teve aquele incêndio da do Jo...
P - Joelma.
R - ... do, do Andraus, da Avenida São João, na hora que eu estava passando na Avenida Ipiranga houve a explosão lá do botijão de gás lá, e aquilo foi... Aí eu fui lá pra loja, depois a gente vinha ver o....as coisa feia ali tudo aí fiquei lá, tal, fui ficando, ficando e ele abriu mais outra loja em frente, no 250.
P - Na Barão de Itapetininga?
R - É, na Barão, era em frente, um magazine maior, né. E eu fiquei lá com ele e ele botou mais empregado no outro magazine que era mais variedade de roupas, né, camisa, gravata, meia, né, tinha mais coisa, calça, paletó, e lá era só, ainda o balcão de tecido e alfaiataria do mesmo jeito, né.
P - No caso da loja em que o senhor trabalhava?
R - É, de Walter Oliveira Rocha.
P - Era tecido...
R - E alfaiataria, também a mesma coisa, só que o nome mesmo era Walter Oliveira Rocha, tanto na etiqueta como o nome da loja era, aquilo era a mesma coisa, né. E o Lídio tinha alfaiataria no mesmo prédio no quinto andar, o italiano que é esse o dono hoje estava sempre lá com a gente que ele vinha no restaurante almoçar e ficava lá na loja, no balcão batendo papo com a gente. Tinha o Banco Souto Maior que hoje é o Banco Nacional que era uma agência ao lado, ele tinha conta lá também, e o Walter começou a desinteressar assim nos anos 75, 76... Setenta e sete foi quando ele vendeu pro Lídio. E às vezes paravam na rua, querendo saber se ele queria comprar a loja. "Ah, não dá." O outro amigo dele que tinha loja: "Ah, Antunes você não quer comprar essa loja, não dá pra..." Ele tinha perdido o crédito na praça, né. E o Lídio que foi o último que a gente não achava que ia comprar chegou: "Ah, quanto você quer?" "Eu quero tanto" aí já foi fazendo negócio, aí ele disse: "Lídio, você me faz um favor, vê se você fica com o Walter e com o outro rapazinho lá, o Getúlio, que eles são bem." E o Lídio não tinha muito ambiente de balcão era uma alfaiataria lá no prédio, interna, ele atendia assim na sala dele ali sem, né, e balcão é outra coisa assim, é lidar com quem chega, o público, a gente tem que estar com o espírito bom pra... (riso)
P - Eu queria que o senhor falasse um pouco sobre isso, como é que é a relação do atendimento mesmo no balcão?
R - O atendimento de balcão a gente tem que... ter assim um... eu não sei como podia explicar melhor, assim um... um conhecimento da pessoa porque chega uma pessoa chata, a gente fala chata porque quer as coisa mais em detalhes e a gente tem que atender: "Olha, eu não vou comprar hoje mas eu quero que você me mostre." A gente enche o balcão pra mostrar, não fazendo a coisa com falsidade, eu faço... aquilo eu faço com gosto, porque eu sei que ali eu estou plantando pra colher depois, não é. Como já aconteceu, teve caso inédito ali dentro da loja que a gente não, ainda era na época do Walter, era um fim de ano e a gente ficava até mais tarde um pouco na loja, até 10 horas da noite, e ele pagava pra gente o extra e o que vendesse ele pagava uma comissão pra gente. Eu terminei de atender um casal e entrou dois bolivianos ou dois chilenos com uma nota, vamos supor assim uma nota de cem, hoje, vamos considerar hoje o Real, né, se eu podia trocar aquilo lá. Enquanto um perguntou pro baixinho mostrar o tecido tal que estava ali em cima na prateleira, o baixinho foi, tirou o tecido lá pra mostrar, o meu amigo lá, o Getúlio, né, pra mostrar, isso era umas 7 e meia da noite mais ou menos e o outro chegou pra mim e disse: "Ah, daria pra o senhor me trocar essa nota de cem?" Falando em castelhano, né, e eu entendia bem, e eu tinha dinheiro na gaveta pra trocar. Eu peguei a nota dele, fui ver a... pra trocar por dez de dez, né. No que eu estava com dinheiro, aqui na gaveta tinha mais dinheiro, tinha mais ou menos uns 300, estou considerando hoje em Real, né, tinha uns 300 reais mais ou menos, ele estava próximo ali da ponta do balcão perto do espelho e botou a mão no dinheiro, mas, no que ele fez aquilo lá ele, eu vi que eles mexeu no dinheiro mas não dava pra perceber que ele tinha pego. Só que ele pegou numa agilidade e com... de paletó, ele estava, o dinheiro passou rápido por dentro da manga do paletó aqui, aí quando eu olhei que vi que não estava aquela quantidade de dinheiro aí eu peguei no braço dele lá e joguei ele na prateleira de tecidos ali. Na época a gente usava uma cinta que era... ainda vinha a moda da... o cinto largo, e uma fivela grande, e o que veio na minha cabeça foi puxar a cinta, desatei a cinta e puxei com aquela fivela pesada e malhei no cara (riso), ele saiu rua correndo, isso foi uma parte pitoresca um tanto fora de, não muito agradável, mas, aí eu fiquei com o dinheiro dele e ele, bati lá na mão do cara lá assim e caiu as notas que estava tudo ali dentro ali, numa rapidez que ele fez aquilo assim, que quando ele fez assim o dinheiro passou tudo pra manga de paletó assim. Aí o, sim, aí veio a época do Lídio, que comprou, e o Walter disse: "Você, se puder ficar com o rapaz aqui, com o Walter e com o Getúlio seria ótimo, né." Aí: "Não, eu vou pensar, tal." Mas no fim ficou, e graças a Deus ficamos até hoje, eu não sei se (riso) é...
P - É, senhor Walter, o senhor falou que o outro sócio estava perdendo crédito na praça?
R - O outro dono da loja, né, que ele, o sócio dele era a esposa dele, como é também o Lídio, o sócio é a esposa dele.
P - Ah, tá. Por quê?
R - Ele perdeu o crédito porque ele começou a fazer certos negócio, ele começou a, primeiro a se meter com políticos e com gente assim de... de delegacia, delegados, entende, então, às vezes ele pegava, vamos supor, hoje tinha dinheiro pra pagar uma duplicata no banco, ele pegava o dinheiro botava no bolso e, eu digo: "Mas, seu Walter, vamos pagar essa duplicata." "Não, deixa pra depois, deixa pra depois." E aquilo foi rodando, um botou no protesto outro também protestou e daí veio... outro problema assim que chegou um cara muito esperto lá na loja e disse se ele não queria fazer um negócio com as duplicata da Alcam, e ele pegou as duplicata tinha carimbo, tinha assinatura tudo direitinho, a duplicata vamos supor de um mil reais hoje ele comprava pra vender, pra vencer no dia 30 de novembro, vamos considerar isso tudo hoje. Ele dava 700 reais pro cara, primeiro negócio deu certo, segundo negócio deu certo, o terceiro negócio o cara... aí ele foi, era negócio maior, né, porque o cara foi esperto, o primeiro negócio o cara mesmo depositava pra ele ter o dinheiro lá pra pegar ele na virada.
P - Senhor Walter, eu queria que o senhor falasse um pouco sobre essa relação de funcionário com o patrão, né, no caso, a experiência do senhor.
R - Bem quando... o Lídio comprou ele perguntou pra mim como era... a ética da loja, como era o trabalho, porque lá em cima ele tinha um tipo de trabalho e queria ver como era que a gente trabalhava lá. Eu falei pra ele assim: "Que eu trabalhava ali no balcão."O atendimento ao público e aos cliente que nós tínhamos na época que era pouco, ele tinha muito mais lá em cima do que a gente ali no balcão, eu digo: "Agora é mais interessante, você como sendo patrão agora...", até hoje eu trato ele de você porque a gente tinha uma certa amizade já, né. Eu digo: "E você, como é que você quer que a gente faça, porque a gente trabalhamos aqui, o freguês chega eu faço uma ficha do freguês, pego aqui a ficha dele, que é um freguês já conhecido ou se é um freguês novo, eu vou fazer uma ficha com o nome dele, o endereço, o telefone e essas coisa e como é que ele gosta da roupa; passo no meu livro e daqui vai pra alfaiataria com esse papel, e uma amostrinha grampeada pra nunca ter erro que foi aquela roupa que ele encomendou, né." E ele propôs o tipo dele como era é que tinha que fazer, ao jeito dele, quando ele comprou lá eu digo: "Ih, eu não sei se a gente vai dá certo, com essa pessoa tão..."Ele era de uma forma que se a, tem uma maquininha de escrever lá em cima no mezanino, se ela ficasse um, passando um pouco o carro dela dois centímetros ou três centímetros ele achava que estava errado, tinha que ficar certinho ali, o tecido na prateleira você vê, é tudo cheio nas tabuazinhas ali, tinha que ficar a parte da aureola que é aquela bordado na ponta do tecido tudo retinho, não tinha que ter um, dois centímetros pra cá, o outro centímetro pra cá tinha que ser certo porque pegava no pé da gente. Eu digo: "Vai ser duro pra gente aí." Mas fomos se entendendo e tal, foi mais... Agora, com relação também ao empregado eu digo: "Olha, você vê os empregado que nós temos...", ele tinha, os empregados que nós tínhamos lá em baixo ele tinha lá em cima também. Mas o outro acertou com todos nós, o Walter Oliveira Rocha, pagou tudo direitinho, né, e ele ficou comigo, com o rapaz e ficou com um outro senhor lá da alfaiataria porque ele precisava também e... o outro não agüentou ele, era um espanhol, né, os dois não se beijaram bem e não tinha como, é... reclamava até do atendimento dele no telefone quando a mulher dele ligava pra cá às vezes pra... claro, você, a minha senhora vai ligar pra mim pra falar qualquer coisa, um problema qualquer, e ele o italiano reclamava, mas hoje ele está, eu acho que ela chegou a ver lá alguma vez lá que ele estava lá em cima, estava todo (riso).
P - Atualmente o senhor é gerente da loja?
R - Eu sou.... logo depois que ele comprou, ele antes ele ia sempre à Itália, ele fechava a alfaiataria lá em cima dava férias pros empregados e ia embora pra Itália, né, e falava pros fregueses: "Olha, não vem que eu vou tal", mas não ficava muito tempo, ele ficava um mês, um mês e meio no máximo. Aí quando ele comprou em 77 ele disse: "Agora eu vou ficar sem poder, nem tão cedo ir na Itália porque agora o negócio aqui..."E foi aumentando a clientela pra gente porque era mais fácil ali no balcão na, na rua a... o atendimento de que lá em cima. Daí um dia ele chegou pra mim e disse, porque eu tenho um apelido lá, não é, ele não me chama de Walter ele me chama de Paraná né, apelido... Que a turma lá no clubezinho me apelidou lá na, quando eu comecei a freqüentar lá onde eu encontrei, conheci o senhor Walter Oliveira Rocha. Aí ele: "Paraná, vamos fazer o seguinte você... está ganhando tanto aqui de ordenado, eu vou da uma comissãozinha pra você e você vai ser o gerente aqui." Isso depois de uns três anos mais ou menos, né. "E muitas coisas aqui eu quero que você faça, contas de banco você vai coordenar direitinho..." E ele foi soltando mais porque a gente fazia até, é: "Posso virá aqui um centímetro?" Podia, tinha que perguntar pra ele se podia ou não, né, e depois muitas coisa já foi passando mais a livre assim, e podia fazer, e só falava pra ele que tinha feito, tudo bem. Aí, ele querendo ir na Itália, eu digo, é, chegou 75, setenta e..., 85, eu digo: "Vai, se você quiser vai, a sua mãe está querendo ver você, nunca mais você foi, há mais de oito anos tal, e as suas irmãs também querendo ver." E aí em 86 ele disse: "Eu vou, será que vai dá certo, será que vocês vão tomar conta, será que a freguesia vai vir e vocês vão atender?" Eu digo: "Vai, deixa aqui com a gente, deixa aqui." Aí deixou ali,... e ia lá na porta e voltava: "Ah, esqueci, olha você vê, dr. fulano de tal, se ele vim vocês faz assim." Uma série de coisa que ele queria até que eu anotasse num caderno pra aquele detalhe tudo pra ele. Aí ele foi, ficou lá, ficou um mês somente porque ele estava mais, mas não me ligou, ligava pra filha dele aqui, que ele foi com a esposa, quando voltou estava as mil maravilha ele disse: "Ah, agora eu vou todo ano." (riso)
P - Todo ano ele vai e o senhor fica?
R - Todo ano, e ele cada vez ele, dois meses, depois passou pra três meses, agora só esse ano que ele foi sábado passado e volta em dezembro agora dia 11, porque o filho casou em novembro, em setembro e foi em lua de mel pra lá, ficou quarenta e cinco voltou ainda no dia 17, dia 18 do mês passado, e ele foi agora e disse que o mês que vem ele vai ficar uns seis meses pra lá. (riso)
P - Senhor Walter, como que é a clientela, assim... teve mudanças aí nesses (fim da fita 041 / 02A) anos todos que o senhor está trabalhando ali na Barão de Itapetininga?
R - Teve, teve bastante mudança porque há o problema de São Paulo principalmente, nós tínhamos muito cliente, como tinha muitos escritórios ali pelo centro dos clientes nosso a maioria são italianos, turco, né, judeus tem muito, tem espanhol também, nós tínhamos ali muitos escritório de firmas e os cliente ia ali... era facilzinho ali na Avenida São Luís, na Avenida Ipiranga, na Rua São Bento, na Boa Vista, tudo ali pelo centro. Inclusive o Citibank que era na Avenida Ipiranga e que hoje é o Credicard, né, nós tinha uma freguesia por causa de um cliente nosso lá francês, ele levou pra gente mais ou menos uns 20, 23, 25 cliente lá da, do próprio banco, o Citibank. Era aquela turma lá dentro da loja assim, na hora do meio-dia assim eles ia na hora do almoço provar, né, e até hoje esse rapaz faz roupa com a gente, ele vem, às vezes liga lá da, de Paris dizendo que vem pra cá e ia trazer os pano, que ia ficar 20 dias aqui e vem de férias pra cá, que ele ficou muito tempo aqui e gostou muito do Brasil, né. Aí outros escritório de outros cliente nossos italiano mudou o escritório pra Santo Amaro, outro vai morar em Alphaville, deixa de morar no Jardins, outro muda pro ABC, outro muda pra São José dos Campos, outro muda pra Campinas, e enfim, vai ficando, ficou mais difícil pra eles vir. Então muitos param de... passa as firmas pros filhos, os filhos compram roupa feita, o pai quando vem faz calça esporte, não faz mais terno porque já não está em, na ativa, né, mas aparece outros, só que é bem menos a clientela agora de que antes. De primeiro a gente chegamos a fazer, mês de chegar a fazer 50, 60 ternos por mês, hoje a gente faz uma... um bom mês como foi esse passado aí, 28 ternos, 15, 17, 20 assim, roupa feita, confeccionada lá conosco.
P - O senhor tem algum cliente importante, algum freguês importante?
R - Temos, nós temos assim... importante nós temos assim como o Ibraim Abi Akel, tem o João Santana, tem o... ex-governador da Bahia, Nilo Coelho, que um tempo atrás houve aquele negócio, ele bateu no repórter lá com carro, né, machucou lá, e outro, o irmão dele que é dono da Linha Nordeste que... de aviação, né, que o meu filho é empregado lá no aeroporto, porque eu pedi pra ele né: "Dr. Roberto, dá uma mão lá pro André." "O que é que ele fez?" Eu digo: "Ele fez o curso de comissário de bordo, né." "Ele tem assim o brevê, não sei o que lá?" Eu digo: "Tem, tem tudo isso." "Então toma uma xerox aí que eu vou ver se ele, ele fica lá na minha empresa, mas eu vou ver se eu arrumo pra ele na Rio Sul", né, que é do amigo dele também. Temos o... não está na ativa, mas é uma pessoa importante também é o General Antônio Ferreira Marques, ele é um baixotinho, um cara forte aí, deu uma força pra mim também quando o filho ia fazer o exército eu pedi pra ele, ele quebrou o galho. né...
P - O André ou não?
R - O André. O André tem quase 1,90 de altura tem um físico bom assim, ele ia se dá bem, mas ele estava fazendo estágio na Caixa Econômica Federal lá de Itaquá e não queria, né... Eu digo: "É, eu falo com o general." Aí ele deu uma força lá pra ele lá e não precisou e... daí temos vários, né, assim de, alguns clientes lá de Brasília, temos assim, nós tínhamos o dr. Márcio, que foi um dos que era chefe de todos os juizes de São Paulo, né, era filho de Franca.
P - Senhor Walter, o senhor sente diferença no comércio da Barão de Itapetininga e nas outras ruas próximas?
R - A Barão é a melhor rua que tem ali pra comércio é... 7 de Abril não é boa, Dom José, nem a Vinte e Quatro de Maio, nem Marconi, nem, nenhuma daquelas ali, a melhor é Barão de Itapetininga desde a época quando que era mais ainda, naquela época a gente trabalhava, numa época dessa a gente vendia bastante no mês de novembro assim pra dezembro...
P - Que época?
R - Nos anos 71, 72, 75, né.
P - Como é que era naquela época a Barão?
R - A Barão naquela época, nós tínhamos ali... em frente tinha a Vienense, que era uma casa de chá com música ao vivo na parte da tarde assim e... era, tinha um rapaz tocando piano, tinha um cantor, tinha um senhor com um violino e as pessoa subia ali, as família rica vinha dos Jardins, vinha do Morumbi, parava os carro ali pra vim tomar um chá ali em cima, né, na Vienense que era no 1º andar ali do 262 e... tinha bonde ali na Barão, na Dom José de Barros, na Vinte e Quatro de Maio, na 7 de Abril, Xavier de Toledo. A frente do Mappin era um zigue-zague de linha de bonde ali, era a parada principal ali era um toldo enorme ali pra as pessoa ficar esperando ali porque saia pra vários lugares ali, pra Pinheiros, pra Vila Madalena, pra Lapa, pra Casa Verde e Consolação que era Rua Augusta, né, ia até, eu não sei se ia até a Cidade Jardim, o bonde, eu acho que ia até mais ou menos por ali. Que... São Paulo na época quando... quem vê hoje a Avenida Faria Lima é... aquilo era uma ruazinha, o nome era Rua Iguatemi, estreitinha assim como a rua aqui é... Três Rios aqui, uma rua assim com mão e contramão só, hoje é aquela avenida larga, né, como muitas outras que tem.
P - E a freguesia, ela tinha... a cafeteria Vienense tinha influencia da freguesia?
R - Tinha, em parte tinha sim porque tinha muito freguês que vinha, fazia, vinha às vezes escolher ou vinha fazer prova de roupa e... "Vamos, vamos tomar um chá lá em cima, vamos..." Porque aquilo era um, era fantástico aquilo lá, né, aquela casa de chá ali em cima era, a rua ficava com aqueles carrão tudo, carro, cada carro bonito, aqueles carro tudo importados, né.
P - Que carros?
R - Era... Citroen, era... Maverick já estava aparecendo era... os Cadilac, os carro bonito assim, aquelas capota que voltava e ia e tal, aquilo tudo, né, e... enfim era um negócio muito bonito na época.
P - Bom como é que... a gente está com o tempo... eu queria fazer uma pergunta pro senhor só pra gente tentar fechar. Bom, eu queria saber o que o senhor acha de estar aqui conosco hoje deixando gravado o depoimento do senhor, a história de vida do senhor, a história do comércio a... enfim de São Paulo também que foi o que senhor nos contou aqui hoje, né, o que é que o senhor pensa disso?
R - Olha, eu achei interessante, entende, eu fiquei até satisfeito e... até peço desculpa que tinha que ir embora mais cedo, mas a mulher vai esperar um pouco mais, entende. Eu esperava um, um outro jeito assim, seria... talvez assim se eu dissesse que não viesse e não conhecesse eu... e viesse uma outra pessoa que... fizesse o que eu estou fazendo aqui e eu conversasse com ela eu ia lamentar porque eu gostei bastante do papo, da entrevista, entende, e peço desculpa também de não citar mais coisa porque a cabeça da gente vai ficando um pouco mais parada, um pouquinho mais devagar, não é (riso) e, senão seria uma entrevista pra mais 3, 4 horas assim pra detalhar mais coisa. Mas eu gostei, realmente eu gostei de coração, realmente eu fiquei contente não por, pelas pessoas, ela que foi bem simpática e você, os demais também que faz parte da, não sei explicar melhor assim da, do conjunto, vamos dizer... (riso)
P - Da equipe.
R - Da equipe, isso daí entende.
P - Tá bom senhor Walter, muito obrigada foi...
R - Me desculpa de alguma coisa se faltei, porque eu devo ter faltado assim de uns anos pra outro passei mais pra contar outras coisa que, é o que vem mais na mente, porque às vezes posso ter até uma coisa mais assim de detalhe, até importante mais não ficou tão gravado, né, então a gente tem mais gravação daquilo mais, da época mais... (riso)
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