Um século de desenvolvimento industrial no Brasil - 100 anos da White Martins
Depoimento de Anna Paula Baratta de Rezende
Entrevistada por Isla Nakano e Débora Querido
Rio de Janeiro, 28 de setembro de 2001
Realização Museu da Pessoa
Entrevista WM_HV004
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães...Continuar leitura
Um século de desenvolvimento industrial no Brasil - 100 anos da White Martins
Depoimento de Anna Paula Baratta de Rezende
Entrevistada por Isla Nakano e Débora Querido
Rio de Janeiro, 28 de setembro de 2001
Realização Museu da Pessoa
Entrevista WM_HV004
Revisado por Teresa de Carvalho Magalhães
P/1 – Bom, Anna Paula primeiro eu queria te agradecer por ter vindo até aqui contar a sua história, e eu queria, para a gente deixar registrado, que você falasse seu nome completo, local e a sua data de nascimento.
R - Eu sou Anna Paula Rezende, nasci no Rio de Janeiro em nove de dezembro de 1968.
P/1 – E qual que é o nome dos seus pais?
R - Herbônio Martins Pereira e Ângela Maria Baratta de Paula Pereira.
P/1 – Seus avós...
R - Aí vai ser difícil porque eu só conhecia uma avó que é a Nicésia, os outros três eu não conheci. Então de verdade... (risos)
P/1 – E me conta um pouquinho dos seus pais, atividade deles e dessa sua avó que (risos)...
R - Minha mãe, até acho que antes de eu nascer, um pouco depois, ela trabalhava num fundo de investimento, mais um banco, com o irmão dela e a partir provavelmente de uns quatro, cinco anos ela ficou como dona de casa, então se dedicou a criação dos filhos, eu tenho uma irmã sete anos e meio mais nova. E o meu pai sempre foi comerciante, né, então é mineiro... Minha mãe é carioca, então... De fazenda, veio pro Rio de Janeiro novo para morar com os irmãos e aí, eu diria que no Rio ele conseguiu na realidade trabalhar, mas com nível de escolaridade mais básico, tipo segundo grau, não fez faculdade, e aí virou comerciante, e aí conseguiu na realidade dar conta de criar a família, as duas filhas. Eu sou advogada, minha irmã também é advogada.
P/1 – Como que seus pais se conheceram? Um é de Minas, o outro é do Rio...
R - Não, meu pai já estava no Rio...
P/1 – Já estava no Rio? E aí se conheceram aqui no Rio...
R - Não, meu pai já estava no Rio, porque ele veio para cá cedo e eles se conheceram aqui... Meu pai já é mais velho que a minha mãe, 10 anos, então eu acho que isso aí já tem outro impacto, já tava com, acho que a minha mãe 28 anos, meu pai quase com 40 anos, não sabendo se ia casar ou não, e aí casou com a minha mãe então mais tarde. Então se conheceram acho que no Rio, mas assim especificamente o local eu não sei.
P/1 – E você tem uma irmã né?
R - Tenho uma irmã mais nova.
P/1 – E o que que ela faz? Qual que é a atividade dela?
R - Ela é advogada.
P/1 – Advogada também? Você sabe qual a área que ela trabalha?
R - Também, de empresa, comercial.
P/1 – Bom, Anna Paula, agora eu queria que você descrevesse um pouquinho, contasse um pouquinho da sua infância para gente... Como que era o bairro que você morava, a sua casa?
R - Morei a vida toda no bairro do Leme, aqui no Rio de Janeiro, desde que eu nasci até quando eu me casei. Então tive uma infância bastante familiar, muita convivência com família. A família dos meus pais é grande, a minha mãe tem oito, nove irmãos e meu pai também, e eles são os caçulas. Meu pai hoje está com 83 anos, minha mãe com 72, então assim, para ser caçula você vê que algumas pessoas já se foram, mas a infância muito ligada a família, a gente tinha uma casa em Mendes, que é perto daqui, perto de Vassouras, Barra do Piraí, e que a gente ia muito, e o outro meu tio, por parte da minha mãe, tinha um sítio em Miguel Pereira, então a gente ia muito. Então convivência familiar muito grande, muitos tios, muitos primos... Em Miguel Pereira menos, mas em Mendes uma questão mais rural de você poder subir em árvore, estar em contato com a natureza, com as pessoas, amigos próximos... Ia ao curral tirar leite de vaca, assim na hora, levar o copo com açúcar e café, e botar assim né... Hoje não pode mais, até por uma questão de higiene ou que seja, né? Mas na época você podia fazer essas coisas mais ligadas à natureza. Então eu brinquei muito, subi muito em árvore, outra coisa que a gente estava lembrando de infância, de comer goiaba do pé, aí você vê o bichinho da goiaba, aí você joga a goiaba fora, pega outra goiaba (risos)... Então tem umas coisas assim, acabam te marcando. Só tive uma avó que eu te mencionei quando você falou de nome dos avós, minha avó era super presente, morava também no Leme com duas tias solteiras, e marcou muito porque era domingo, se juntava na casa da avó com os tios, com os primos, uma família muito grande. Então acho que eu cresci nesse meio assim, bem familiar, de poder viajar, de aproveitar muito mais nível Brasil sem ter muita exposição, muito local, muito Rio de Janeiro. Com 11 anos eu já, meus pais não foram, mas eu fui pros Estados Unidos, aí você já começa a ter uma outra visão... Com uma amiga minha, com a mãe dela e com a avó, e aí você já começa a ter um outro cenário, que para hoje a realidade é diferente, a gente está em um mundo mais globalizado, mas naquela época era mais... Você sonhava um pouco em ter uma Barbie, essa é da época de vocês, vocês conhecem, e a gente tinha Susi, na época que vocês provavelmente não ouviram falar, ou se ouviram é o relançamento da Susi, que era a Barbie brasileira (risos). Então tinha uma coisa de se almejar, algumas questões que são mais simples, que hoje a gente acaba tendo acesso. E aí com.... Então estudei na mesma escola desde o jardim até a oitava série, e aí na oitava série eu decidi na realidade que eu queria mudar de colégio, o colégio que eu estudei aqui é o Sacré-Coeur de Marie, que é um colégio de freiras em Copacabana, e depois eu decidi que na oitava série eu ia mudar para um colégio mais forte, que é o colégio Santo Agostinho aqui no Rio, então decidi mudar para fazer um científico mais puxado, até porque tinha a questão de passar no vestibular. Nesse meio tempo eu conheci, no científico, o meu marido, então com 15 anos eu conheci o meu marido, então estou casada até hoje. Eu tenho 42 anos, então dos 15 aos 42 são quase 28 anos de convivência (risos).
P/1 – (risos) Então deixa eu só voltar um pouquinho para a gente entender algumas coisinhas nesse processo.
R - Volta.
P/1 – Como que foi essa história de você ir pros Estados Unidos? Com a sua amiga, com a mãe dela, aos 11 anos?
R - Foi uma oportunidade, a gente... Assim, quando você falou até de infância, aí voltando. Tirando essa parte familiar e de família, existia, a gente frequentava desde pequena calçadão, que era quando as mães iam para praia levar os bebês para andar no calçadão, ficar na praia e por aí vai. Então eu tive um grupo grande de amigas e amigos desde pequenininha, então provavelmente até os 14, 15 anos a gente convivia muito. E numa dessas, essa minha amiga foi com a mãe e com a avó, que era viúva, e me chamou para ir junto... Então meus pais deixaram. Porque é aquela questão, mais antigamente era diferente, mais provinciano, eles não falavam inglês e não iriam, e aí surgiu essa oportunidade e eles me deixaram ir com essa minha amiga para Disney, para Orlando, Miami e tal... Então eu fui com eles nessa ocasião, porque ela era minha amiga desde pequenininha, a gente se conheceu, sei lá, com meses, andando no calçadão as mães, então você tinha amizade de um longo tempo, então por isso que eu acabei viajando com elas.
P/1 – E como que foi essa viagem? Quais foram os momentos mais marcantes dela? O quê que você lembra?
R/1 – O quê que eu lembro? Eu estava até comentando isso outro dia que foi, essa marcou. Essa viagem foi super boa né, porque é diferente, a Disney se hoje já é um sonho de consumo, em geral já é mais acessível, naquela época era muito, porque você não tinha tanta facilidade de viajar, as coisas não eram tão... Zero de globalização nesse sentido, então tinha aí uma atração toda especial. Então ir para Miami era descobrir muita coisa nova que não tinha no Brasil, de roupa, de xampu, de remédio, de aspirina, de coisas simples que você vê no dia-a-dia, mas que... De sabonete, tudo era muito diferente, você não tinha esse tipo de, não é nem de sofisticação, mas de diferenciação, de coisas novas, de produtos, de brinquedos em especial, nessa época tinha brinquedo, você comprava Mickey, Minnie, de ir para a Disney, visitar... Então assim foi super bom. E uma coisa que marcou, até não foi totalmente positivo mas marcou, até pelo nível de seriedade do país. Eu estava, acho que eu fiquei meio que passando mal e eu não queria atrapalhar a excursão, para você ver eu tinha menos de 12, tinha de 11 para 12, e você vê um nível de realidade muito distinto de segurança, e aí a gente estava almoçando e eu falei “Ai eu não estou me sentindo bem, eu vou ficar aqui no almoço e espero vocês voltarem, eu fico aqui sentadinha esperando vocês.”, para não atrapalhar o programa, não estava me sentindo bem mas eu podia ficar sentada, só que nisso eu fiquei sentada esperando elas e dormi, porque eu não estava me sentindo bem. E acordei no hospital da Disney, então alguém me viu dormindo, provavelmente chamou a segurança, ou acionou, eu não acordei, me levou pro hospital... Eu acordei na maca do centro de atendimento médico da Disney, e elas conseguiram me achar lá também não sei como. Então assim, é alguma coisa interessante, e aí falando de Disney também, com 15 anos eu levei a minha irmã para Disney, numa excursão com os outros amigos, meus pais não iam eu não sei porque, vou perguntar para eles um dia. Mas levei minha irmã para Disney, eu tinha 15 e a minha irmã tinha sete anos e meio, então responsabilidade por dinheiro, por controlar as coisas, mas tinha, óbvio, que uns amigos deles, amigos nossos também, amigos deles há, sei lá, 30 anos, 20 anos que foram com a gente, quer dizer, eu fui com eles na excursão. E aí eu fui com a minha irmã na montanha russa, Space Mountain, que é a montanha russa no escuro, e aí você vai, você senta, botei minha irmã na frente, no que eu botei a minha irmã na frente, a gente começou a subir, o carrinho, e aí eu para apoiar, eu apoiei o pé meio que assim, do lado de fora. No que eu apoiei o pé do lado de fora, a montanha russa clareou, aí eu falei “Poxa vida né, como é que aconteceu isso? Eu vim aqui na montanha russa, e a montanha russa parou de funcionar... ”, e você fica numa expectativa enorme, aí daqui a pouco veio o segurança e falou assim “Tá tudo bem? Tá? Não, porque a gente viu o seu pé para fora na filmagem, e por questão de segurança a gente parou para você se adequar e a gente continuar”. Então assim, umas coisas que chamam atenção num outro mundo, numa outra etapa, da preocupação, e não tinha nada de mais, eu não tinha feito nada absurdo, mas eles estavam com medo de, sei lá, se eu tinha apoiado o pé se podia acontecer alguma coisa. Então tem assim, essas questões que são interessantes. Então, foi com 15, fui com 11 e depois com 15.
P/1 – E a sua fase de escola, assim, você lembra do seu primeiro dia de aula? Como que era essa coisa de comprar de material, das classes, dos professores?
R - Lembro, assim, tem alguns fatos interessantes. Acho que o primeiro dia de aula eu devo ter dormido e aí alguma coisa aconteceu nesse sentido que eu não sei porque os professores acharam que eu não estava preparada ainda para entrar na escola, aí eu voltei um ano depois. (risos) E aí eu pulei um ano, então não sei porque eu acabei ficando, talvez, fui mais novinha e aí acharam que não tinha uma maturidade, ou porque eu dormi, não sei qual foi avaliação, mas eu sei que voltei depois, e depois acabei pulando um ano, que teoricamente, não faz muita diferença, mas me beneficiou porque eu entrei para a faculdade com 17, normal é você entrar um pouquinho depois. Então eu fiquei um ano para frente. E aí a escola é excelente, enorme, uma escola religiosa, então dá para lembrar da gente ir muito à missa, as freiras uma graça, super velhinhas, então de você ter aula de religião, de ter uma cultura bastante pessoal de conhecer todo mundo, uma escola grande, com espaço, mas muito personalizada no sentido de você conhecer as pessoas, de ter tratamento especial, de ter laboratórios grandes de ciências, óbvio que tudo para tecnologia daquela época, né? Se a gente hoje comparar até da época que eu estudei, um pouco mais no científico e depois, hoje quando eu olho as minhas filhas, óbvio que tem uma diferença grande. Mas um colégio grande, com área verde, com um entrosamento de cantina, das crianças falarem, de brincar, de hora de recreio, de ter balé depois da escola, jazz depois da escola, de fazer apresentação em auditório, então assim, foi um, o momento de escola foi muito bom, de lembranças muito boas.
P/1 – E tinha uniforme? Você lembra como é que era o uniforme?
R - Tinha, tinha uniforme, deixa eu lembrar do uniforme... Eu não lembro do uniforme, eu não lembro (risos).
P/1 – (risos) E das festas da escola, você lembra de alguma mais marcante? Que você gostava mais, alguma época do ano, festa junina, dia dos pais, dia das mães...
R/1 – Não, tem a festa junina que era o máximo, que era muito legal, quadrilha, bem tradicional, quadrilha, barraquinha, e tinha umas apresentações de final do ano que eu lembro especificamente do auditório e de eu ter sido o Pato Donald, provavelmente remetendo à Disney. (risos) Então tem aí uma de história e depois umas apresentações que a gente fazia um pouco de, dentro de um outro auditório direcionado a balé, então... Agora festa de dia das mães e dia dos pais eu já não lembro nas escolas.
P/1 – E Anna, me conta uma coisa, você foi crescendo, as matérias foram mudando, o que começou mais a te interessar na escola? Alguma matéria específica, algum professor que te marcou bastante?
R - É... De matéria, no sexto ano eu fiquei chateada, porque eu sempre fui boa aluna, na média e direitinho, da média para cima, mas boa aluna, e no sexto ano eu fiquei em recuperação em matemática, uma professora chamada Ione, mas isso eu lembro, então marcou. E aí depois eu passei bem, na recuperação, mas isso de alguma forma marca, matemática, e eu me considero boa em matemática, apesar de eu ter feito Direito, quase que eu fiz Engenharia, que aí depois a gente entra nessa seara, mas quase que eu fiz Engenharia em algum, no segundo ano no científico, eu estava na área biomédica, e ia fazer engenharia por ser uma ciência mais exata, em termos de profissão você tinha muito segmentado, né? Então médicos, engenheiros, professores, na época, advogados... Então você tinha uma, talvez menos opção, porque hoje, de novo, você tem várias opções, então quase que eu fiz engenharia e acabei optando por Direito.
P/1 – E o que te levou a escolher o científico na hora?
R - Na escola que eu estava, que era o Sacré-Coeur, eles tinham na realidade, o científico era recém criado e tinha o curso normal, e normal eu sabia que eu não queria fazer porque eu não queria ser professora e aí eu fui pro científico, que hoje eu acho que é o ensino médio, e na época o científico tinham três áreas né, biomédicas, humanas e tecnológicas. E aí eu optei por fazer biomédicas, sabendo que eu não ia exercer medicina, apesar de ter feito um teste vocacional e ter dado medicina, mas eu passo mal e tal, então não ir ter chance de fazer medicina, e aí eu optei... Tecnológica eu achava que era mais complicado ficar lidando muito com física, com matemática pura, e aí eu escolhi a área biomédica que eu achei que era um meio termo entre as duas. Mas eu escolhi por conta de não saber ainda exatamente o que eu ia fazer, tanto que no segundo ano científico eu optei por fazer vestibular para engenharia, e aí eu passei, podia pedir liminar na justiça, mas de verdade eu tinha que terminar normal o terceiro ano. E no terceiro ano eu optei por direito, por achar que é uma carreira mais abrangente, que te dá opção, nenhuma porque tem uma questão de mulher, em termos de mercado de trabalho, de posicionamento, e uma questão de direito te dar um leque grande de atuação, você poder conviver com várias matérias e você, se não quiser exercer a profissão como advogar em si, você poder ter a opção de fazer concurso, você poder ser juíza, procuradora, promotora, então te dá aí uma questão de, não a questão da estabilidade em si, mas se você tiver o seu mérito você pode optar por uma outra carreira, que aí é mais específica e tem a ver com o governo, aí tem a ver sim com uma questão mais estável, mas com uma questão de posicionamento interessante, e em especial por também ter a questão de ser mulher, né? Que nessa época tinha uma questão do meu pai dizer “Você não pode depender de marido, você tem que ter a sua independência financeira, profissional”, ou seja, fiz científico por isso, para cursar uma faculdade boa e depois conseguir uma colocação de emprego boa.
P/1 – Como que foi essa coisa de considerar ser mulher na hora de escolher a sua carreira, como que era na época essa coisa de mulher na engenharia, o quê que passava na sua cabeça?
R - Eu queria fazer engenharia porque era uma área forte, ou seja, te dá uma bagagem grande quando você compara até com outras faculdades e, de novo, te abre um leque grande, então engenharia é uma faculdade pesada, que te abre um leque grande, não tinha muita mulher na época fazendo, só que nisso, o meu namorado, que é meu marido, tinha entrado há um ano para engenharia, e aí eu comecei a ver no primeiro ano, meu último ano de científico, e o primeiro ano de faculdade dele eu comecei a acompanhar as matérias, e falei “não, não é isso que eu quero”. Livros enormes de cálculos, super pesados... Assim, adoro isso, não tenho problema nenhum com ciências exatas, mas não dá, eu tenho que fazer uma outra coisa ligada mais, talvez à pessoas, e aí veio a mudança de engenharia para direito, então passou por isso. Engenharia por ser mais pesado, só que eu falei “mas não é isso, não vou ser feliz.”, e então a gente mudou. Falei a gente por que de alguma forma meu pai também influenciou, da gente definir o quê que podia ser interessante. E deu certo.
P/1 – Era isso que eu ia te perguntar, seu pai, como que foi essas conversas sobre o quê que você ia fazer? E a sua mãe?
R - Minha mãe menos, mas meu pai me influenciou bastante, de estar conversando de onde você pode ter a sua independência, de onde você pode estar realizada, que alternativas você tem, então a gente conversou muito até para dar uma guinada de engenharia para direito.
P/1 – Anna, antes de a gente passar para sua fase de faculdade eu queria te perguntar um pouquinho dessa sua adolescência, o que você gostava de fazer, quais eram os lugares que você passeava...
R - É, adolescência foi namorando, com 15 anos eu comecei a namorar meu marido e casei com 24 anos. Então de verdade eu não tive aquela coisa assim “vamos sair só com amigas”, muitos namorados... Não tive isso, uma coisa assim, tinha vários amigos, com as namoradas, que a gente saia muito para ir a cinema, teatro, depois de uma certa idade, viajar. Porque aí na casa de amigos nossos, de amigos, os pais do meu namorado tinham uma casa em Rio das Ostras, a gente tinha casa em Mendes, então acabava juntando grupos de meninas e meninos e a gente saindo muito, para jantar, para ir a cinema. Então assim, não foi uma fase de badaladas absurdas, mas tudo muito em grupo, então eu tinha grandes amigos que são até hoje, então eu tenho grandes amigos que eu conheci nessa fase de 15, 16 anos que até hoje são meus amigos, e os filhos, e a gente mantém esse vínculo até hoje. Então, eu fui no Rock in Rio um, gente, está acontecendo o Rock in Rio agora de novo aqui no Rio, fui no um e fui no dois, (risos) e vou nesse, então quinta feira estarei no Rock in Rio. (risos)
P/1 – Me conta um pouquinho, você trocou de colégio, você foi pro Santo Agostinho, né?
R - Foi.
P/1 – Como que foi essa mudança de colégio? Você sentiu alguma diferença, foi difícil o processo de adaptação?
R - O processo de adaptação não foi muito difícil não. Assim, um era colégio de padres, acho que eles tinham recém colocado mulheres no colégio, porque ele era só masculino, então você entra no primeiro ano, eu acho que até a oitava série ainda era masculino, abria feminino no científico. Então você chegava com os meninos se conhecendo, mas as meninas todas novas. Então tive um círculo de amizades bom, mas muito momentâneo. Aquelas amizades duraram o tempo de colégio, não fiz ali amizades que eu guardo até hoje, as minhas amizades que eu guardo até hoje eu fiz, de fato, na infância, então tem algumas pessoas do calçadão, que a gente chama, de pequenininho e depois nessa minha fase de adolescência. Mas da escola mesmo não tive problemas de adaptação, o colégio é ótimo, puxado e muito bom, mas de fato não tem assim uma... É muito “by the book”, no sentido de o foco é estudo, o colégio é puxado, tinha sarau na escola nessa época de adolescência, então tinha sarau, de ver as pessoas cantando, acho que uma curiosidade da gente ver hoje... Está dando interferência? Não?
P/ - Você quer...
R - Não, não preciso atender não, é só para saber se precisa que desligue.
P/1 – Ah não, não precisa.
R - E uma curiosidade é que no ano acima de mim estava o Paulinho Moska, então ele cantou no sarau, então a gente via ele, então é interessante, né?
Porque o colégio é muito tradicional e você tinha pessoas que no sarau se despertavam para música, então você já tinha um outro estilo mesmo, você vê aí pessoas super tradicionais, seguindo então provavelmente profissões muito mais específicas, você vê no sarau o Paulinho Moska tocando na banda, e ele é um sucesso hoje, ou que seja, virou um artista conhecido. Então, é da minha época lá de Santo Agostinho. (risos)
P/1 – Esse sarau, ele acontecia sempre na escola?
R - Todo ano.
P/1 – Você chegou a se apresentar alguma vez?
R - Não, eu não tenho esse dote artístico, essa veia não fez parte... (risos)
P/1 – (risos) E Anna, me conta um pouquinho agora como foi a sua entrada no vestibular, último ano de escola, você chegou a fazer cursinho, foi difícil, como que foi? Você estudou muito?
R - Estudei, não fiz cursinho, porque o colégio já era puxado, e eu entrei para PUC, queria fazer PUC ou UERJ, mas aí por uma questão de proximidade, até conhecimento mesmo, de você estar talvez num ambiente muito mais parecido, eu optei por PUC. Eu gostei muito de fazer PUC, foram quatro anos e meio de direito, eram cinco, eu acho que isso é relevante, e eu me formei antes, eu puxei os créditos para época de férias, que você podia, não sei se hoje pode mais, mas você podia adiantar crédito nas férias. Então eu me formei meio período antes, então assim, e aí de novo, meu namorado na época estudava na PUC, ele fazia engenharia na PUC, (risos), então eu também conheci muita gente na PUC. Porque aí você tem pessoal de psicologia, algumas pessoas do Santo Agostinho também foram para PUC, então você acabava tendo um ambiente bastante comum, de várias pessoas. Então até hoje, a gente vai chegar lá na White, mas outro dia uma pessoa da White, um outro diretor de um país hispânico falou “Você estudou no Santo Agostinho né?” eu falei “Estudei.”, “E na PUC também né?” eu falei “Estudei...”, então a gente era de uma outra turma... Quer dizer, você acaba tendo, conhecendo as pessoas e tal. (risos).
P/1 – E me conta, como é que foi entrar na faculdade? Esse primeiro ano, as matérias, conta um pouquinho.
R - Entrar na faculdade foi, não foi muito diferente não. De verdade assim, era um outro estilo, eu no primeiro ano de faculdade eu comecei a fazer um intensivo de francês, então eu ficava o dia inteiro fora de casa. Eu puxei o máximo de matérias que eu podia, então você fazia, não sei se era de sete ou oito até às duas da tarde, às duas da tarde eu saía e ia pro francês, ficava de três às cinco, alguma coisa assim, e ia chegar em casa de noite. Eu queria, aquela coisa, investir o máximo que eu podia no período que eu podia, então estava na época de estudo mesmo, tinha que achar que é ralação mesmo, que as coisas tinham que acontecer, então foi um período bom, e aí o que eu posso ressaltar na faculdade que eu acho que é interessante, que eu acho que faz um pouco de parte de personalidade, eu escolhi para fazer monografia, o professor mais difícil em direito, que é um cara que todo mundo, assim, tinha, era totalmente a ver porque era um cara super pesado, a matéria era direito tributário, a gente já viu que tributos não é uma coisa simples, então eu escolhi direito tributário para defender monografia, para montar a tese, eu falava “Não, eu tenho que superar esse cara, se o cara é bom, se ele tem, apesar de ser temido, vai ter um gosto diferente se eu conseguir passar e fazer uma, e defender lá a monografia com ele”, e aí eu saí com louvor da monografia, então assim, ele me deu 10, historicamente. Então assim, foi acho que uma conquista, saindo da faculdade, de você se desafiar a construir algumas coisas que são diferentes, você podia “Não, mas faculdade eu levo aqui, pego um professor mais tranquilo, defendo uma monografia porque eu preciso passar...”. Mas aí tinha uma questão acho que de uma personalidade de você procurar... Eu acho que eu já descobri isso, a gente procura algumas questões, não sei se é o ambiente ou a gente procura, acho que faz parte de personalidade. Então antes da faculdade é isso, e aí antes da PUC, conversar com as pessoas, eventualmente almoçar na PUC, então aí tem uma dinâmica, e é porque é pertinho. Você é paulista, né?
P/1 – Sou. (risos)
R - Pois é, então, vocês moram em São Paulo mas a PUC assim, tá no meio de tudo o que acontece aqui... Agora tem mais faculdade aqui no Rio, então foi...
P/1 – E Anna, e essa escolha de direito tributário, como que ela se deu no meio da faculdade? Você gostou da área, você experimentou outras áreas?
R - Não, para monografia eu escolhi mais por isso, eu gostava em geral das matérias, mas eu me senti desafiada pelo professor, né então eu escolhi “Não, eu vou fazer uma monografia que seja diferente e num professor que tenha...”, porque eu queria quase assim, por mais que você tire notas boas na faculdade, você tem aí uma média razoável, mas eu queria no final dizer o seguinte “Poxa, fiz uma faculdade que foi desafiadora”, no sentido de, no final porque depois, óbvio que no meio das matérias tem algumas que são melhores, outras são piores, você passa por todas as áreas de direito, mas no final eu queria alguma coisa que pudesse ser reconhecido como diferencial. E aí eu acabei optando por direito tributário, apesar de não ter exercido ou escolhido essa área para seguir, e apesar de no final da faculdade, quando eu estava para me formar, um dos caminhos que se ainda contrata, mas que na época contrataram, eram essas empresas que a gente chama “Big Four”, que são empresas de auditoria, a “Ernst & Young”, a “Andersen Consulting” que hoje é a “Accenture”, a “KPMG”, essas empresas contrataram recém formados, em especial de direito, para trabalhar em tributário. E eu por acaso fiz programa trainee para essas empresas e passei, só que aí eu optei por um estágio, que eu estava num banco, e aí eu acabei ficando estagiária nesse banco, e depois fui contratada.
P/1 – Me conta, como que foi fazer estágio? Você fez algum outro estágio antes do banco? Ou o banco foi o seu primeiro?
R - Eu fiz dois estágios antes do banco, esse que eu fiquei.
P/1 – Qual foi o primeiro?
R - Foi numa, esse foi por indicação, BANERJ na época que era um banco do estado do Rio, que depois abriu falência. E eles na realidade estavam querendo trabalhar com, exatamente com a falência do banco numa carteira hipotecária específica, aí pediram indicação de um professor onde o professor me indicou e eu fui fazer estágio lá. Aí fiquei um tempo estagiando, depois surgiu uma oportunidade no Banco Brasileiro Iraquiano, e aí por precisar de inglês, eles terem uma estrutura de trabalhar com diferentes questões, porque o BANERJ era muito... Era interessante mas era específico, como era uma área muito específica, depois eu falei “O que mais eu vou aprender aqui?” e não tinha chance de ser contratada. Então abriu oportunidade no Banco Brasileiro Iraquiano e aí eu fui. Aí na realidade eu não sei por que eu saí desse estágio, acho que eu pedi para sair depois de um tempo e aí depois eu acabei entrando para um estágio no Banco da Bahia, que é um banco privado, que hoje não é um banco comercial, é um banco de investimento, então hoje ele faz parte do grupo BBM, e eu fui convidada, indicada, que seja, entrei em algum programa deles e acabei ficando como estagiária e aí eu me formei, falei para eles que eu estava participando de processos fora, na época de último período de formatura e “ok”, aí acabou surgindo uma vaga no banco, então depois do estágio eles acabaram me contratando e eu optei por ficar lá ao invés de trabalhar até... Por que aí eu poderia seguir direito tributário, aí fiquei no banco como advogada.
P/1 – E no seu primeiro dia de trabalho, você lembra? (risos)
R - Eu não sei se eu lembro do primeiro dia não, eu lembro do entorno... (risos)
P/1 – Quais que eram as suas funções? Eu queria que você contasse um pouquinho suas funções nos três estágios, assim, o quê que você aprendeu, quais foram os primeiros desafios...
R - É, o primeiro era avaliar, no BANERJ, que a gente estava lidando com parte de hipoteca, era avaliar se os bens dados em garantia eram adequados, se os contratos, a assinatura, a formalização dos contratos estavam em linha, quem eram as pessoas que estavam aplicando por empréstimo... E aí você trabalhava com a pessoa de crédito, que era bastante específica, com análise financeira e tinha a parte jurídica que eu entrava junto com a equipe do banco. Tive uma chefe na época que era uma graça, que me ajudou muito, então esse era o trabalho específico, não variava muito disso. Mas foi super importante até por ser o primeiro emprego, primeira exposição, as pessoas eram super solícitas, então tinha outro clima, muito mais de… Não era um ambiente privado onde você tem uma outra dinâmica até de negócio, porque é um banco que você passa por concurso, então as pessoas são concursadas, então tem um outro tipo de dinâmica. Depois disso eu fui pro Banco Brasileiro Iraquiano e aí já lidava com um pouco de tudo, porque aí você tinha um gerente administrativo que cuidava da parte jurídica, assessorado por escritórios externos, então eu fazia um pouco do link dos escritórios com os assuntos do banco, não tinha efetivamente um departamento jurídico montado, eu acho até que eu saí por conta disso. Porque eu precisava nessa época aprender, e você não tinha esse mesmo aprendizado porque você não tinha pessoas muito específicas no jurídico, então eu lidava com os contratos do banco, específicos de operações financeiras, aí mandava para fora para validar, aí óbvio que tinha contatos padrões, com ações eventuais cíveis ou trabalhistas do banco, então eu acompanhava isso com os escritórios. E aí depois eu fui, aí sim, pro Banco da Bahia, que aí eu já tive mais qualificação profissional, com um jurídico bastante estruturado, e aí a gente fazia todas as análises de crédito, todas as aplicações financeiras, os contratos de financiamento, toda a parte comercial do banco, todo direito comercial, societário, aí você começa... Eu entrei numa visão mais abrangente de exercer, na realidade, advocacia. E aí saí de lá para ir num programa trainee para ir para a Coca-Cola, abriu um programa trainee, eu achava que o banco era mais familiar, e eu queria trabalhar numa multinacional. E aí abriu o programa trainee da Coca-Cola e eu fui trabalhar, acabei sendo selecionada, até por insistência porque não tinha vaga no jurídico da Coca. Então foi super interessante, essa trajetória é interessante. Porque na Coca eu comecei em RH, apesar de ser advogada, então como não tinha vaga no jurídico, eu fui para Coca orquestrando mudar de área, então eu entrei, pedi para seleção, falei “Olha, então já que não tem, RH pode ter uma questão afim com o jurídico, que tem relações trabalhistas, tem uma questão trabalhista, me coloca no processo trainee”, então por muita insistência com a supervisora na época, que era a Luiza, eu acabei entrando, conseguindo, ela me colocar dentro do programa, passei no programa e entrei para a Coca-Cola para trabalhar em RH. Isso ninguém sabe viu! Então, entrei lá atrás para trabalhar em recursos humanos, aí trabalhei um pouco fazendo... Conhecendo a área, então passei pela área médica, pela área de recrutamento e seleção, pela área de remuneração, fiz alguns projetos específicos, e depois a gente apresentou um projeto em RH pro gerente da época. E aí eu fui bem e me efetivaram como analista de recursos humanos, isso em menos de um ano. Só que no ano seguinte abriu trainee pro jurídico, aí eu fui lá falar com o meu chefe “Olha, gostaria de migrar, assim, sou advogada, gostei muito de ficar aqui com vocês em RH, mas eu quero ir pro jurídico”. Um deles não gostou muito da ideia, tanto que falou “Olha se você não passar não tem jeito de você voltar”, me ameaçando... Mas tudo bem, os outros não, mas teve uma pessoa específica que não gostou muito dessa minha atitude. E aí eu entrei pro trainee do jurídico, passei e fui pro jurídico, aí fiquei seis anos no jurídico da Coca-Cola. Aí eu passei como trainee, virei advogada, e aí fiz de tudo na Coca em termos de direito, então assim, conhecendo a empresa inteira, meu chefe era um show, tive apoio dos advogados, e aí contato com Atlanta, eu era responsável por contato com todos os fabricantes do Brasil, fazia link de Atlanta com os fabricantes locais, a gente avaliava os tipos de contrato que a Coca estava exposta, muito foco em marketing, porque a Coca tem aí, é uma empresa de marketing, então tem um produto que a gente vê que, em termos de consumo, está na mesa de todo mundo todo dia, e muito contrato de marketing... Teve uma ação específica que eu participei que foi o máximo da gente, hoje é a AMBEV, mas a Pepsi implicava muito com a Coca, então botavam anúncios, e aí em frente a Coca uma vez eles copiaram um anuncio nosso, a gente entrou contra a Pepsi no CAD, para questionar que eles não podia fazer cópia, e nisso eles colocaram, porque era um anúncio de um macaco, em frente a Coca-Cola, a sede do prédio da Coca-Cola, eles criaram um boneco inflável de macaco enorme, para implicar com a gente, olha que show! (risos) Então, eu fui para São Paulo para a banca examinadora do CAD para defender que a gente gostaria que eles tirassem o anúncio que, de alguma forma, usava nossa imagem da Coca para alavancar a venda deles, ou pelo menos para chamar atenção para a Pepsi. Então tiveram alguns momentos interessantes por a Coca ser muito conhecida, reconhecida e ter uma imagem muito grande junto ao público, e aí tiveram “n” coisas da gente estar muito presente em show, então Coca-Cola é patrocinadora oficial de grandes eventos, então a gente fechava todos esses contratos de eventos, de patrocínio, de marca, de novos produtos, quando você fala de marcas e patentes, então teve de tudo, então assim, divertido, foi um período divertido na Coca. Continuo?
P/1 – Eu sou quero voltar um pouquinho, eu já vou te perguntar sobre ela, mas eu quero falar do seu período no jurídico. Essa sua fase no RH, que você mudou de área o que foi mais difícil para você, que você teve que aprender, e que também talvez tenha agregado valores diferentes não sua formação?
R - Em RH? Foi interessante você poder entrar numa empresa e poder ver como é que funciona a relação dos benefícios de salário com as pessoas que trabalham na empresa, de como que você trabalha plano médico, porque eu estava, de novo, de uma outra formação e vindo de jurídico, então com uma formação muito específica. E aí você entra em RH e começa a entender como que as empresas operam, como é que eu vou conceder os benefícios, como é que eu remunero, quais são as estruturas salariais, qual é o impacto que você tem nas pessoas, em termos de sofisticação de recursos humanos não tinha o mesmo conceito, mas a Coca já tinha, por ser multinacional, já tinha algumas questões muito interessantes de clima organizacional, de pesquisa de clima, um pouquinho depois ela criou o conceito de universidade corporativa dentro da Coca, então já tinha alguma questão muito interessante do ponto de vista de RH. Mas eu entrei, de novo, nesse período que hoje eu sou recursos
humanos, mas eu não pensava que nesse período eu iria na realidade acabar indo para RH. Uma outra área que eu também peguei, que quando eu fui para... Não, mas aí isso foi lá mais para frente, nessa época na realidade eu estava neste básico de RH, mais para frente eu já tenho uma outra história. Vamos, o que mais?
P/1 - Assunto do jurídico, qual foi o seu primeiro desafio e as primeiras funções que você precisou desempenhar?
R - As primeiras funções foi dar uma, uma das primeiras foi dar uma ajustada e uma avaliada em todos os processos que estavam pendentes, então eu entrei para pegar um arquivo enorme de processo e para acompanhar qual era, o que estava acontecendo com os processos, se a gente deveria continuar, se deveria mudar a estratégia de processo trabalhista, saber que processos a gente tinha muito tempo ou não, se a gente faria acordo ou não. Então eu fazia uma avaliação geral e passava isso para o meu gerente, que eu já estava aí como advogada. E o outro processo grande que foi bastante interessante é a parte toda de cuidar dos contratos de fabricação junto com os fabricantes de Coca-Cola, porque a Coca-Cola era uma multinacional que trabalha por franquia, então ela vende o xarope e os fabricantes em todos os estados do Brasil é que de fato recebem o concentrado de xarope e colocam água, açúcar, envasam e distribuem. Então essa relação com os fabricantes, de saber como é que a Coca-Cola opera, foi bastante interessante então assim, eu acho que esses dois marcaram o início de quando eu entrei no jurídico da Coca.
P/1 – E agora, você já tinha parado para pensar na questão do gás, no processo de produção? (risos)
R - Não, hoje eu paro para pensar, (risos), porque quando você entra na Coca-Cola você vê qual é a cadeia toda produtiva, o que precisa para fazer, e aí você vê que a White Martins é um player muito, assim, é um fornecedor muito importante para Coca-Cola, então pro setor de alimentos e bebidas. Então hoje quando eu olho, na White Martins, os tanques, você começa a remeter o que faziam as bolhas da Coca-Cola, o quê que faz o gás, essa efervescência que o refrigerante tem, então vem de lá... Então hoje você faz esse link e você começa a ver, e te dá orgulho até de saber que hoje entrando na White e vendo a Coca-Cola como cliente dá um orgulho enorme de saber que a White está lá dentro, e que a gente está dentro de uma marca, assim, tão prestigiada, e que a White de verdade foi escolhida, quer dizer, as duas se escolheram, a Coca assim... A White Martins está na história da Coca e de alguma forma a Coca está presente, hoje, por eu ter esse link com a Coca e com a White. Então isso eu não podia imaginar que ia acontecer, e até mudar um pouco de segmento porque a Coca apesar de ser uma indústria, funciona muito mais numa coordenação das fábricas, e a White Martins é uma indústria, com fábricas, que opera, com o número de empregados significativo que a gente chega daqui a pouco lá.
P/1 – E Anna, como que era esse contato com Atlanta que você mencionou?
R - É... A gente, no jurídico menos, mas tinham reuniões lá fora, a gente tinha muito “conference-call”, de ter que manter contato, ter aprovações, renovações de contrato, saber se uma franquia estava indo bem ou não, para saber se ia renovar contrato ou não... Então assim, tinha uma questão, um contato próximo de reportar as principais questões do Brasil, até porque era uma operação bastante relevante pros Estados Unidos.
P/1 – Você sentiu alguma diferença cultural, trabalhar com pessoas de outro país, você aprendeu alguma coisa nesse processo?
R - Não, trabalhar com outras pessoas é super interessante porque assim, cada um realmente tem uma cultura. Então eu acho que o brasileiro, o quê que a gente leva muito? E a gente até brincava, numa época um pouquinho mais a frente, mas nessa época já tinha, e a gente sempre teve na Coca, muito contato com estrangeiro, porque a Coca acredita e desde essa época já acreditava muito em globalização, eu já não estou falando quando eu era tão pequenininha, já estou falando com 20 e poucos anos. Então a Coca é uma empresa global e que movia talentos globalmente, então tinha muito expatriado no Brasil, tanto que a língua quase da Coca era inglês, porque o presidente falava inglês, teve uma época que o diretor de recursos humanos falava inglês e não falava português, então você acaba desenvolvendo essa skill né, porque não tem jeito, tem que falar, e é o inglês. Então você trazia uma flexibilidade grande do brasileiro, uma força de trabalhar enorme, uma vontade de aprender, e você tinha do americano uma questão mais estruturada, mais a longo prazo, de pensar em consequência, de avaliar cenário que talvez o brasileiro não tivesse tanto porque ele lidava com um cenário bastante tumultuado, inclusive nessa época, hoje não é verdade, mas assim, a gente tinha inflações altíssimas, então você lidava com uma dinâmica de economia de um governo mais instável. Um país promissor, mas talvez não tão estabilizado, e a gente até brincava que “Brasil is not for beginners”, então não é para iniciantes mesmo, porque você tinha uma situação que era pros americanos chegarem aqui e entenderem que a nossa inflação por mês podia a 20% ou a 60%, num país onde a inflação anual era 8-12% era inimaginável você conceber isso. Então quando as pessoas vinham para cá tinha um aprendizado que acho que parte-a-parte, e de todo os países, mas em especial o pessoal mais americano, vinha para cá, mas você tinha pessoas da Europa, do Canadá, vindo para cá para poder trocar experiência. Então assim, do ponto de vista de cultura, muito interessante, América do Sul muito presente, na época America Latina, no sentido de... Também têm México, que hoje na White a gente trabalha com o Conceito de América do Sul e na Coca a gente trabalhava com conceito de América Latina. Então assim, mas muita integração entre os países, discussão de melhores práticas, o que você pode estar aplicando, o que que é diferencial para um mercado que você pode aplicar, às vezes tem gente dizia aqui “Não, mas está muito frio no sul...”, “Não, mas eu vendo nos Estados Unidos e no inverno e está tranquilo, as pessoas tomam refrigerante”. Então você começava a ter algumas justificativas que não cabiam, então, você começa a aprender coisas bastante diferentes.
P/1 – E essa questão da Coca patrocinar os eventos, teve algum show, algum evento mais marcante, alguma história pitoresca que você lembre?
R - Não sei se é pitoresco, mas a Coca patrocinava e a gente acabava mesmo tendo ingresso, Rock in Rio foi um, a Coca patrocinou e deu ingresso para todos os funcionários da Coca, né... Porque a gente queria estimular a presença, você quer motivar essas pessoas, e aí já que a gente está lá dentro, você acabava distribuindo ingresso, então assim... Parintins é um evento grande que a Coca faz, que hoje tomou uma outra proporção mas quem desenvolveu o conceito de Parintins foi a Coca, que descobriu isso na Amazônia. Até porque a Coca tem uma fábrica em Manaus, que produz concentrado, então está muito presente na região, descobriu essa questão aí dos Bois-Bumbás, e hoje está na Caras e tal, aparece em vários lugares, mas assim a gente começou com isso do zero. Então como é que você tem esse apelo de desenvolvimento da região, num papel acho que social também, e ao mesmo tempo você promove uma questão local de folclore, de trabalhar um outro papel que é desconhecido das pessoas, então eu acho que Parintins é um case, fora o marketing puro, que você acaba desenvolvendo região, é uma outra dinâmica que você deu para cidade.
P/1 – E o seu desenrolar na carreira da Coca? Quais que foram os próximos passos, o quê que foi acontecendo?
R - Isso, e aí na Coca eu fiquei no jurídico um tempo, e comecei a prestar bastante consultoria, do ponto de vista de dar parecer, muito específico para recursos humanos. E aí uma época o diretor de recursos humanos, isso em 1997, me chamou para trabalhar com ele, meio que numa função, eu já estava como gerente jurídica, e o diretor de recursos humanos me chamou para trabalhar com ele. Então eu fui pro jurídico, eu aceitei, e porque que eu aceitei? Porque, provavelmente, meu marido trabalhava na Coca também que um ano depois de mim ele entrou para Coca, então ele entrou para a Coca e podia ser expatriado, e como ele podia ser expatriado eu queria continuar a trabalhar, aí a gente volta na história que você tem que ter independência, trabalhar e por aí vai. Então eu não queria ser esposa de expatriado, e aí eu falei “Se eu migrar para RH ainda tenho uma oportunidade aqui, em dois, três anos eu consigo ser transferida junto com ele, e aí ele trabalha na área que for, e eu posso trabalhar em recursos humanos em qualquer parte do mundo, que é diferente de direito”. E aí eu aceitei, aceitei e adorei trabalhar em recursos humanos, e aí nessa época, quando eu trabalhei em recursos humanos eu fui para trabalhar muito com assessoria a esse diretor, uma parte que eles chamavam de Ombudsman, que era um pouco de relação com empregados, então assim, qualquer questão que algum dos funcionários tivessem, eles iam me procurar para conversar, para ver o que podia fazer de diferente, e a parte de comunicação. Então nessa época eu assumi comunicação interna num contato muito grande com a área da comunicação da própria Coca, então o quê que a gente podia fazer de evento interno, externo, para motivar os funcionários. Então assim, foi uma transição interessante porque eu tive um suporte muito grande dele, e aí eu fiquei em RH, fui em 1997 para RH, e saí em 2005 quando eu saí da Coca. Mas nesse tempo todo eu tive oportunidades, tive vários chefes, tive oportunidade de passar por todas as áreas de recursos humanos, ainda com comunicação, então me deu aí uma experiência bastante boa, e aí sim você já começa a pegar esses lados até mais culturais, porque aí você tem uma exposição muito grande a Atlanta para saber quais são os direcionamentos, o que eu quero da empresa, o que eu quero oferecer como proposta de valor para os funcionários, como é que eu trabalho a América do Sul e como que eu trabalho a América Latina dentro desse contexto que é um pouco diferente do contexto americano e... O que mais? E aí eu tinha que sair da Coca por quê? Me ofereceram, que é até engraçado que aí você volta na carreira e vê que coisa interessante. Hoje na White eu sou responsável pela área de recursos humanos, que a gente chama de talentos, e pela parte de comunicação, e eu nessa época na Coca eu não tinha mais para onde ir em RH. Porque eles achavam que, acreditam e até, você não colocava uma pessoa direto do país na posição de diretor, então eu já era gerente sênior só que para eu virar diretora eu tinha que ter uma experiência internacional, você tinha que rodar por outros países e eu não tinha mobilidade, porque meu marido não tinha sido expatriado, eu esperava que ele fosse, mas ele não foi, ele saiu da Coca, não foi expatriado e eu mudei de carreira mesmo. E aí eles me ofereceram a diretoria de comunicação, aí eu falei assim “Não, né, não dá... Eu já mudei, já sou advogada e já trabalhei no jurídico, trabalhei em RH, não é com essa idade agora que eu vou mudar de carreira” (risos), eu falei não, então... E aí surgiu uma oportunidade fora, para área de recursos humanos, para virar diretora, aí eu saí da Coca. Mas magoada, engraçado, saí magoada com a Coca, falei “Ah, meu deus do céu, vou ter que sair, vou ter que pedir demissão daqui...”. E aí eu.... Mas resolveu depois de um tempo, mas você sabe, né? Porque eu fiquei 15 anos lá, então assim, passei por muitas áreas, muitos presidentes, você conhece muita gente, então foi um show trabalhar lá.
P/1 – E Anna, esse seu retorno pro recursos humanos esse período na Coca, como que era relação com os operadores? Que aí você tinha um contato mais direto, a relação com os empregados, a relação, sabe, de trabalho...
R - Eu gostei muito de ficar em RH, assim, só fazendo uma comparação, eu adoro o jurídico, no sentido de... Porque te dá um background muito grande de você poder avaliar contrato, avaliar o que está acontecendo, ter noção de algumas questões que trabalham com organização, só que hoje eu já não me veria mais sentada numa sala avaliando, mexendo com coisas muito mais específicas, eu comecei a ter contato com as pessoas e gostei disso, então estar sabendo do que está acontecendo, o que você pode melhorar na vida das pessoas, qual é o impacto que você pode ter... Então assim, eu adorei, eu então assim, não consigo me ver voltando para jurídico, acho que o jurídico me deu uma bagagem boa, mas essa questão de estar resolvendo as questões, de estar podendo participar de algumas decisões que afetam a vida das pessoas, em especial no bom sentido, ou mesmo até quando... Por exemplo, eu fui em 1997 pro RH, em 1998 a gente fez uma reestruturação grande, na realidade três reestruturações seguidas na empresa, muito ruim você lidar com o desligamento de pessoas. Quer dizer, grande para a proporção que a Coca tinha, estou falando de 50 pessoas, mas assim, grande para a proporção que a gente considerava em termos de empresa. Mas você poder na realidade ajudar essas pessoas até a fazerem uma transição, como é que essas pessoas saem, que tipo de benefício você prorroga, de pacote, de poder dar a essas pessoas uma assistência médica prorrogada até elas poderem ter outro emprego com limite ‘xis’, então você poder avaliar também qual é o impacto, apesar de um momento difícil, positivo que você pode causar das pessoas é interessante. Então eu acabei gostando de lidar com essas áreas de, primeiro recrutamento, treinamento, essa questão de falar com as pessoas, aí depois eu assumi outras área de recursos humanos, mas assim, super gratificante. Então, poder comunicar quando entrou comunicação interna, o que você comunica, o que você acha que é interessante motivar, qual é a percepção que as pessoas têm... E quando você fala de recursos humanos, uma coisa é o que eu faço e outra coisa é como que você percebe, então como é que você lida com frustração e expectativa? Porque você pode ter uma pessoa que está te vendo, e recebendo tem outra. Então eu acho que esse é um aprendizado grande, a tua intenção não necessariamente vai ser reconhecida, e como é que você lida com isso, então isso é interessante.
P/1 – E Anna como, você teve algum período de crise, algum desafio que você precisou enfrentar nesse tempo de Coca-Cola, como que você resolveu a situação?
R - Eu acho que desafio foi esse período de desligamento, a gente passou por três, eu fiquei depois de 1997 a 2005 e a gente fez três desligamentos, e dois deles em um ano. No início do ano e no meio do ano, alguma coisa assim, isso para mim doeu, porque você está mexendo com a vida das pessoas, algumas daquelas pessoas não iam manter a mesma qualificação ou posição indo para fora, e aí são decisões difíceis que você acaba, como empresa, tendo que tomar e que de fato não são adequadas e agradáveis. Porque tem uma outra parte que é boa de você estar fazendo, mas essa na realidade não é das mais agradáveis, quando você acaba mexendo com a vida das pessoas, então essa, assim, marcou. E aí a gente fez várias outras coisas boas, de desenvolvimento, de trabalhar carreira das pessoas, aí sim isso é bom, como é que você pega brasileiros e manda pro exterior, como é que essas pessoas percebem carreira, e aí vê que as pessoas tiveram. A Coca também é uma empresa sólida, que valoriza as pessoas que estão lá dentro, então assim, tem outras questões que são boas, mas assim, essa foi marcante em RH, logo no início, eu até falei “Eu não quero mais brincar de fazer isso”, isso não é o que eu quero fazer em recursos humanos, eu quero fazer coisas que sejam percebidas como diferenciais, e não você estar trabalhando com reestruturação.
P/1 – E depois da saída da Coca?
R - Aí da Coca eu fui para, aí uma pessoa me acessou de mercado para eu trabalhar, aí sim, assumir um cargo de diretoria numa empresa, que é a Icatu Hartford que é uma seguradora multinacional, mas na realidade com uma parte familiar, e para dar uma outra cara a recursos humanos. E aí eu aceitei, eles com uma equipe ótima. E aí a gente começou a mudar, então tinha um RH que já estava, tinha uns conceitos relevantes e a gente começou a mudar, então com uma equipe super boa a gente fez vários trabalhos de comunicação interna, trabalhando muito com marketing para saber qual é o ‘approach’ que a gente tinha junto com os funcionários, o que a gente podia passar de imagem, toda parte de remuneração, recrutamento, mas um outro escopo de empresa, né? Porque quando você fala de Coca-Cola é muito reconhecido e é muito presente na vida do dia-a-dia das pessoas, quando você fala de Icatu era muito mais conhecida por um público mais corporativo e seguradora, então você tinha um outro público para estar trabalhando, e aí eu fiquei lá cinco anos. Acho que uma coisa que é relevante... Precisa trocar?
P/1 – Vamos, vamos.
R - Vamos trocar então e eu falo da Icatu daqui a pouquinho.
(troca de fita)
P/1 – Bom, a gente estava na saída da Coca, a entrada lá em Icatu Hartford?
R - Isso, e aí lá em Icatu que eu estava falando, então assim, foi muito bom porque um, eu entrei para assumir RH, então aí você pode já com mais experiência, mais idade, já tendo passado por outras áreas, poder de verdade mudar e colocar a tua cara e o teu jeito em algumas coisas. Eu acho que na Icatu, o que mais eu acho que faz uma ressalva que é super importante é que eu tive oportunidade de fazer uma transição com o presidente que estava lá que me contratou que é ótimo, mas em especial pegar a nova presidente que foi a Maria Silvia Bastos. Então hoje ela é a que está, agora até ela saiu recentemente de lá, ela está como prefeita do comitê olímpico de 2016, então foi muito bom trabalhar com ela, em termos assim, de ter uma visão do Brasil, de ter trabalhado no governo muito tempo, então tem uma questão de ser uma pessoa pública, extremamente renomada, conceituada, ficou como consultora da Varig, e aí ela foi para Icatu. E aí você vê uma gestão feminina, você pega uma presidente mulher, num ambiente financeiro, que é bastante masculino, em especial também, com especial nesse grupo de gestores, diretores também homens, então como é que ela na realidade lidou com essa, como é que ela lidou com a situação, como é que ela administrou, gerenciou, então assim, teve um papel importante em algumas mudanças que a gente fez na empresa, de saber, de formalizar processo, de tratar os acionistas, tanto brasileiros quanto americanos, então assim, foi um momento bastante rico de carreira, um porque você estava, eu estava assumindo uma área como um todo e eu fiquei cinco anos lá, e dois por você ter a oportunidade de trabalhar com uma pessoa, que na realidade é muito reconhecida no mundo empresarial, de consultoria, de destaque, por ser mulher, então eu acho que aí teve um a mais, né? Quando você trabalha numa empresa e pode, quando você trabalhar numa multinacional, você de fato acaba tendo muito vínculo com a matriz, então com políticas, e quando você trabalha nessa empresa aqui, que nem Icatu Hartford que nesse momento era 50% brasileira e 50% americana, você tem um acordo entre os sócios, então você consegue uma agilidade brasileira, porque você tem os sócios muito próximos, então você executa, faz, acontece, e você tem uma outra questão de planejamento que é o pessoal dos Estados Unidos, onde você apresenta os planos, a prova, então você tem aí um mix de trabalho bastante interessante. Então esse foi aí... E aí depois eu saí da Icatu e aí eu estou na White, e agora aonde vê aonde você quer chegar...
(risos)
P/1 - (risos) Deixa só eu perguntar mais um pouquinho. Fala mais um pouquinho dessa questão de uma gestão feminina e do seu papel também de liderança de diretora mulher, o que você enfrentou que foi difícil, que você precisou aprender, que você precisou reaver na sua postura...
R - É... Na Icatu a gente, assim, a liderança feminina da Maria Silvia tem um peso, então assim, como presidente, mas eu não era a única diretora, você tinha até um balanço bastante razoável, você tinha uma diretora jurídica, uma diretora de compliance e uma diretora, uma ombudsman, que também estava no nível de diretoria, então eram quatro mulheres comigo, e aí provavelmente tinha mais uns oito homens, nas áreas mais de negócio, financeira. Então não teve nenhuma questão específica na realidade por ter esse papel feminino, mas a gestão feminina é que eu acho que tem aí um diferencial. Quando você fala de presidente, dá orgulho de você poder olhar isso e de poder passar essa dinâmica de ter um ‘board’, uma diretoria que você tenha mais ou menos um equilíbrio entre homens e mulheres. Então assim, a gestão dela bastante participativa, com reuniões onde se discutia as questões, trazia o que estava acontecendo na empresa, muito presente para todo mundo discutir, saber, então não teve nenhuma outra dificuldade... A dificuldade um pouco era saber o seguinte, o quê que a gente ia fazer de diferente. Eu substituí também uma diretora que era mulher então isso não mudou muito a dinâmica da organização, o que mudou foi a gente botar outras práticas em RH, outros
conceitos e dar continuidade a um trabalho que estava sendo feito, e a gente deu uma organizada. De fato é isso, é continuar o trabalho que tinha mas organizar, que a Maria Silvia tem uma questão muito pragmática de organização, ela foi acho que secretária da Receita do Estado, então ela organizou toda essa parte de tributos, deixou o cofre cheio para próxima gestão. Então assim, tem aí uma questão muito ética de postura, de valor que é super legal você poder ver isso, na vida anterior dela e poder trabalhar com isso na gestão de uma empresa.
P/1 – E esse novo, essa mudança de funções assim, agora um cargo de diretoria, de você poder, não sei, talvez exercer novas funções... Como que foi isso?
R - Bom, isso é quase assim, eu tive uma chefe que falava para mim assim “Be careful what you asking for, because you can get it.” (risos) Então, cuidado na realidade com o que você almeja, porque você pode conseguir, depois que você conseguir vê o quê que você vai fazer com isso. Então tinha uma responsabilidade assim, até muito grande do que quando a gente olha, está no início de carreira que você olha uma pessoa e diz assim “Poxa, será que quando eu chegar lá...”, um “se eu vou chegar”, dois “se eu chegar, será que eu vou agir dessa forma? Esse é o modelo de liderança que eu quero ser?”. Aí você pensa nisso para saber o seguinte, “Será que eu não vou falar com todo mundo que nem esse cara faz? Ou será que eu vou falar com as pessoas que nem esse outro faz?”. Então você começa a definir o que gostaria de ser, e aí você começar a ter uma questão, seguinte “Será que eu estou conseguindo ser o que eu desejei antes?”, porque tem até isso, você precisa saber, quando você está num outro nível sempre você fala de alguém, concorda? Sempre tem alguém falando de alguém, não tem jeito, faz parte. Então se a gente agora está aqui você vai falar de quem está fora no sentido de “Poxa, a gestão está ótima, tem isso aqui para melhorar”, e quando você está mais para baixo também. Então eu acho que você fica numa questão de, como é que, se eu tinha expectativas antes, se eu tava em outra área de uma empresa, que era o jurídico, eu estou fazendo, eu estou procurando entender o que as pessoas estão querendo para a gente poder seguir nessa linha? Então eu acho que esse é um desafio, agora que você está lá, que você tem a área que você gostaria de ter, o quê que você faz com ela? Então eu acho que tem esse questionamento de saber, o que de diferente você pode fazer, o quê que você pode deixar de marca, então tem esse questionamento.
P/1 – E Anna agora na White, como que foi essa entrada? Conta essa história para a gente. (risos)
R - (risos). E aí na White! E aí eu saí da Icatu, da Icatu Hartford, teve uma mudança, a Hartford saiu e a Icatu ficou, estava num processo de transição onde eu assumi, eles estavam mudando, redefinindo algumas questões e nessa transição eu acabei saindo. Aí eu fiquei um tempo em casa, e aí porque tinha uma questão pessoal, que meu pai teve uma questão, caiu, e ficou no hospital, aí eu fiquei uns dois meses meio que dando atenção... Nunca tinha ficado tanto tempo... E depois disso eu falei “Ah não...”, estava no meio de uma obra, que eu mudei de apartamento, falei “Ah vamos dar um tempo” e depois eu comecei a ver mercado para me reposicionar e eu soube que tinha uma posição na White e em algumas outras, tinha mais umas duas ou três posições no mercado. E aí você começa a saber, porque depois de um determinado acho que momento, você começa a saber o seguinte, um, você começa um pouco a escolher, acho que você sempre escolhe, mas talvez com menos noção de impacto futuro, mas a escolher “qual a empresa que eu gostaria de trabalhar e onde eu acho que de fato você tem a ver, o quê que você acredita, quais são os teus valores, com os valores que uma outra empresa tenha”.
Algumas empresas são mais agressivas, outras empresas talvez não acreditem tanto, ou sejam mais negligentes com algumas questões, né? “Não, olha eu sou muito focada em custo, então eu não dou benefício, ou eu sou muito focada nisso, eu deixo de fazer...”. Então assim, acho que você começa a perceber o seguinte, que tipo de organização eu quero trabalhar? Eu quero trabalhar numa empresa nacional, numa multinacional, eu quero fazer uma consultoria... Então você começa a abrir um leque que talvez quando você está numa empresa e você muda convidada para outra você não pensa, então eu acho que tem um questionamento importante, que você começa a fazer e aí dizer o seguinte “O quê que eu posso fazer de diferente para a empresa e o quê que a empresa também, de alguma forma, tem a ver com o seu estilo?”, porque eu acho que é importante, é uma decisão importante pros dois lados. E aí dentre esse momento tu teve aí uma oportunidade de estar conversando com a White, e o processo foi bastante rápido, eu fui numa entrevista... Quer dizer, rápido médio, mas eu fiz uma entrevista específica com a pessoa que eu sucedi e passou um tempo, aí provavelmente de alguma questão interna, e aí logo depois, dois meses depois, aí parou o processo, dois meses depois eles me chamaram e em uma semana eu fui contratada. Então assim, dado o primeiro momento, passou um tempo, depois foi super rápido, e aí você questiona, você começa a conhecer. “Eu conheço a White Martins”, é uma empresa extremamente sólida, no mundo corporativo acho que ela é muito mais visível, porque diferente da Coca, qualquer pessoa na rua sabe quem é a Coca-Cola, está presente na sua mesa, no supermercado, no bar, em qualquer lugar, da White já é mais difícil, ninguém usa os gases da White Martins. Eu até faço uma analogia que é interessante, a gente vende gases, soluções, mas na realidade é para utilizar um produto que ele é intangível, você fala ”Cadê o ar? Como é que eu tangibilizo a molécula do ar? Como é que eu vendo para alguém alguma coisa que é intangível?”. E eu ainda coloco, eu envaso o ar e coloco a disposição de um terceiro, porque é isso que a gente faz, você não consegue ver, e aí quando a gente fala de misturas do ar, eu pego uma molécula disso, uma molécula daquilo e digo que aqui tem exatamente a mistura que você quer, que você me pediu, mas você não consegue perceber... Porque a Coca-Cola eu consigo beber, ou qualquer produto, a água eu consigo, eu tangibilizo, vejo se água tem algum gosto ferroso ou não. Então tem uma questão na White, de você perceber como medicinal, quando você está andando na rua você vê os tanques da White Martins em especial perto de hospitais, que isso é presente na tua realidade, ou quando você vê alguém que você precisa também no hospital precisando de ar, né, ou seja, de oxigênio para uma operação, ou para máscara, ou que seja. E aí você entra e vê que a empresa, já tem um conhecimento, a gente que... Eu já vinha de empresa, ela é muito presente no mundo corporativo, como uma das 100 maiores, extremamente sólida no Brasil financeiramente, de um grupo multinacional, a White tá fazendo 100 anos ano que vem, então você tem toda uma trajetória que, de fato, você não consegue tangibilizar, mas ela é muito presente. E aí você começa a ver os valores da White, que é qualidade absurda, então eu tenho que ter qualidade, e uma confiança absurda junto com segurança, então eu acho que isso é extremamente relevante, as pessoas precisam confiar que a gente é uma empresa extremamente séria, até porque é, e acho que prova disso é estar no mercado há 100 anos, é participar de um grupo multinacional, é ter uma expansão na América do Sul, América Latina, tem México, então a gente está presente em vários países, é líder no mercado, quando eu falo de Brasil e América do Sul, uma das maiores do mundo, então você pega esses valores e você começa a linkar... A Coca também tinha valores de qualidade muito fortes, eu preciso ter um produto igual em todo lugar do mundo, e a White acho que tem muito isso, como empresa, como Praxair. Eu tenho que ter qualidade, eu tenho que ter confiabilidade, eu volto de novo lá, empresas americanas com padrão muito alto de exigência, de segurança, então segurança acima de tudo. Teve uma frase na White que me marcou a beça “Acidentes são evitáveis”, não porque às vezes você diz o seguinte “Não, mas um acidente aconteceu”. Não, não, a White acredita que acidentes não acontecem. E se acontecem é porque você, de alguma forma, deixou que ele acontecesse porque acidentes são evitáveis e você é responsável pela sua própria segurança. Então acima de tudo a gente quer que as pessoas tenham alto nível de consciência de qualidade, segurança, confiança e aí de eu prover soluções pros clientes. Então eu entro numa, se eu puder fazer uma analogia, de eu pegar um produto de consumo, porque eu estou lidando com o que as pessoas ingerem, então é muito sério quando você lida com alimentos e bebidas, e é tangível e eu trago para um mundo totalmente intangível, porque é isso, eu boto lá alguma coisa que ninguém vê num tanque e que se eu digo que é líquido, se você abrir a torneira ele evapora, então eu acho que aí uma questão muito interessante de como é que a empresa conquistou esse respeito e essa presença no mercado, com todas as outras empresas, porque no fundo a gente fornece para pessoa jurídica e não para, em especial, para a pessoa física.
P/1 – Conta para a gente, como que foi esse processo de você entender essa coisa intangível assim, sabe, de você fazer essa ponte, sabe, do gás com a vida das pessoas, sabe, como que foi isso quando você entrou na White? Você já conhecia, você já entendia?
R - Não, assim, o processo foi... Assim, um, eu dei uma sorte muito grande, porque o presidente sabendo que estava vindo uma pessoa de fora para lidar com a área de recursos humanos e comunicação que é um área sensível, porque você permeia o ambiente interno, o ambiente externo e lida com a vida das pessoas, eu fiz uma transição de seis meses com o ocupante anterior do cargo que tinha 30 anos de empresa. Então assim, eu visitei fábricas com ele, ele me falava “Olha esse é o tanque é ‘xis’, aqui a gente faz a mistura, aqui a gente faz a separação dos gases, eu caio a temperatura ‘xis’, boto nesse tanque, depois eu pego o gás, caio mais a temperatura, boto nesse tanque”, e vai, engenheiro, né? Tudo bem que eu tenho afinidade com engenharia, matemática, mas guardadas as devidas proporções, eu conseguia me meter mais na vida da Coca, ou seja, porque eu consigo ver, tangibiliza todo o processo, e da Icatu também porque era seguro, então eu entendo, eu compro o seguro, você compara seguro, todo mundo está naquele... Agora da White, falar do processo de fabricação, de inovação é muito complexo, ainda é complexo. Eu entrei para a White em outubro do ano passado, então vou fazer um ano de casa, agora é complexo entender, e aí você começa a ver o seguinte, quais são os valores, e aí você começa a fazer os links, assim, e aí é dizer o seguinte, se eu estou em RH e em comunicação, que é isso que a gente trabalha, e eu quero que a empresa tenha uma boa imagem dentro e fora, como é que faço as pessoas perceberem o quão bom a gente é, e o quão bom você pode confiar? Então você tem aí uma questão de poder, na realidade, chamar atenção pro que a gente faz e tangibilizar isso na vida das pessoas, então se a gente quer recrutar, se eu estou falando até de recém formado, talvez a White não seja tão conhecida, ou a Praxair, nesse meio porque as pessoas não convivem com esse produto diariamente, ou com essa solução que a gente dá pras empresas. Mas e eu digo o seguinte “Olha, a White está presente em bebida, todo alimento que está congelado é o gás que a gente fornece, toda bebida gaseificada é o gás que a White fornece, todos os hospitais em cirurgias que, eventualmente você passa, é a White que fornece, toda parte de siderurgia, metalurgia, é a White que fornece o gás para que os processos, na realidade, sejam realizados”. Então você começa a ver que a White está presente na vida de todo mundo, então eu acho que esse é um desafio que eu acho que a gente tem, que é por isso tão importante tangibilizar, porque as pessoas não tem essa real dimensão, se eu perguntar “Onde é que a gente aplica gás?”, não é de pronto que todo mundo vai saber, e talvez nem eu antes de entrar para lá, de saber como é que a gente está presente na vida das pessoas. Então eu acho que a gente tem um desafio de poder mostrar e poder, eu acho que é por isso é tão forte esse valor de qualidade, confiabilidade, dar soluções, tratar de forma diferenciada, porque eu acho que tem essa questão com o produto, que é um produto quase, é um commodity, o ar está aqui, você pode se apropriar dele e a gente se apropria e faz alguma coisa que dá valor, dá significado para vida das pessoas de forma diferente.
Então, é complexo, mas é interessante.
P/1 – E Anna, você lembra do seu primeiro dia de trabalho na White?
R – Lembro, esse eu lembro! Esse é recente! (risos). Esse é super recente. Meu primeiro dia foi muito bom, de novo, como ele sabia que, o Sergio Breyer, ele estava fazendo uma transição comigo, ele convocou uma reunião com todas as pessoas da área de recursos humanos neste hotel, neste hotel? Foi nesse hotel, não? Não, foi não. Então ele convocou uma reunião para eu conhecer a equipe toda, então a equipe toda se apresentou, então eu pude sentir um pouquinho, né? Se eu já tinha tido uma conversa com ele antes, então informal antes de eu começar a trabalhar na White, e no primeiro dia ele me deu quase um banho de loja “Olha, isso aqui que a gente faz”. Então as pessoas puderam se apresentar, falaram dos projetos, do quê que elas acreditavam e no final eu falei um pouquinho da minha experiência, então assim, foi bom, você já poder conversar com as pessoas, trouxe as pessoas de fora do Rio, para poder conversar, então foi super bom.
P/1 – Como que foi a recepção? Das pessoas, e como que foi essa relação?
R - Recepção foi ótima, assim, em especial por quê? Porque as pessoas de RH, ou dessa área que trabalha com talentos e sustentabilidade, que a gente chama que é comunicação, elas vinham, em geral, de dentro da empresa, então não eram pessoas que tinham um olhar do mercado, então você estava trabalhando na White, essa pessoa mesmo já tinha trabalhado em finanças, suprimentos, já tinham pego outras áreas, não eram pessoas de RH, então eu acho que tinha uma expectativa de vir uma pessoa de fora, com uma visão, com mais recursos humanos, com práticas de recursos humanos, para dizer o seguinte “Então, o quê que a gente pode fazer diferente? Dado que a gente já tem esse sucesso todo, que a gente já atingiu isso, em RH o quê que a gente pode fazer de diferente, de práticas que a gente possa estar aplicando?”. Então assim, a receptividade foi super boa, tanto da área quanto das outras áreas da empresa, assim, da área específica que eu estou trabalhando quanto das outras áreas. E nesse um ano, até abril eu fiz essa transição com essa pessoa, e partir de abril eu assumi a área como um todo e a gente aí está fazendo várias iniciativas, então assim, super diferente. E uma outra coisa que eu acho que é relevante mencionar é que a White tem uma outra, um nível de abrangência... A Coca provavelmente tinha aí no início uns 800 empregados, chegou eu acho que a ter mil, quando a gente tinha algumas fábricas e indiretamente tinha mais, mas diretamente... A Icatu, 1200 e eu estou falando agora de Brasil e América do Sul, de 4200 a 5500 pessoas, então você tem um desafio de mobilização das pessoas, disseminação de cultura que é bastante interessante, então eu acho que tem um desafio adicional quando você fala de pessoas.
P/1 – Queria que você falasse um pouquinho dessas iniciativas (risos), que estão sendo feitas, que...
R - É, assim, eu acho que tem aí uma questão interessante de foco, até da presidência, dos diretores, uma expectativa grande do que você pode fazer de diferente de RH, e em especial, assim, o quê que a gente tem feito como proposta? Eu acho que é uma integração grande, da área de RH com a área de comunicação para saber o seguinte: Qual é a proposta de valor que a White tem? Se eu vendo isso tudo para fora, como é que eu passo isso tudo para dentro ou ao contrário? O quê que eu digo para dentro que eu posso falar para fora? Empresa extremamente inovadora, trabalha muito criatividade, óbvio que a gente não pode ser criativo porque eu tenho processos industriais, que envolvem muita segurança... Mas como é que a gente pode trabalhar inovação dentro desse conceito? Que soluções eu posso ter pros clientes? Como é que eu trabalho isso internamente no modo de fazer as coisas? Então tem uma parte de comunicação, de integração nisso no dia-a-dia, uma questão grande de desenvolvimento, como é que a gente prepara a White para mais 100 anos de sucesso? A gente sabe que essa é uma empresa vencedora, ela está aí há 100 anos, é líder de mercado, e eu acho que o quê a gente tem é desafio em geral. Quando você está ganhando você não mexe no time. E acho que até não é nem o caso da White porque eu acho que assim, a gestão que eu conheço eu acho que mexe, se questiona para sempre estar aprimorando, mas eu acho que em geral da empresa, quer dizer, “Porque que eu preciso fazer isso se eu já tenho sucesso?” Então a gente tem que fazer isso porque tem que cada vez mais subir o meu grau de exigência porque o mercado está mais competitivo, está mais globalizado e eu tenho que manter essa minha posição e continuar quase superando as expectativas dos clientes, não mais alcançando, eu tenho que superar. A gente falava na Coca e na Icatu e acho que na White que eu acho que as empresas tem que, não é começar, mas assim, é atender as necessidades que você nem sabe que tem. Provavelmente a gente não sabia que tinha necessidade por computador, até ele ter. Celular: a gente diz, antes a gente saia de casa sem celular tranquilamente, você chegava no lugar, ligava, tinha orelhão, hoje se você sai sem celular você parece que, né? Minha filha de nove anos tem celular, então assim, e como é que você lida com isso? Porque você é meio contra, mas faz parte hoje, então você quer dizer “Olha você está na escola, eu estou aqui do lado de fora, sai”, é mais fácil do que parar o carro, ir lá. Então assim, isso dá uma outra dinâmica pro mundo, então como é que a gente prepara uma empresa vencedora nesse outro ambiente para estar se reinventando, mas de novo, com um produto que não muda. Assim, é o ar. Então de novo, eu tenho soluções inovadoras, mas o meu produto não muda, é a molécula de oxigênio. Então eu trabalho com essa questão, mas então, como é que eu tenho tecnologia para aplicar nesse produto que ele não mudou, então eu acho que aí a gente tem um desafio grande de mostrar pras pessoas que a gente precisa sempre estar continuando nessa conquista, assim, como é que a gente vive os próximos 100 anos? E como é que a gente registra isso?
P/1 – E Anna, me conta uma coisa, quando você entrou na White o quê que te impressionou, o que você aprendeu, o que você considera ser característica da White Martins assim?
R - Ah, isso que eu te falei no início, eu achei muito forte essa questão dos valores da empresa, achei muito interessante isso, como é que a gente vive isso no dia-a-dia. Então assim, se eu achava que na Coca a gente chegava numa fábrica e já tinha um grau de segurança grande, na White você recebe um manual, um botton para dizer área de emergência. Óbvio que as indústrias todas têm isso, quando eu estou falando de indústrias grandes e sérias, mas isso te causa, é quase assim, eu realmente acredito porque os caras têm muita seriedade, quando você chega, no que eles estão fazendo. Então assim, tem uma responsabilidade, aí eu entro até do ponto de vista social muito grande, na campanha, ou seja, na cadeia produtiva, de como é que eles se relacionam. Então acho que isso, de alguma forma, mostra a solidez da empresa e por isso que você tem os resultados que tem, de como a empresa gerencia essa cadeia produtiva.
P/1 – E conta um pouquinho para a gente dos desafios de uma liderança feminina, uma diretora mulher.
R - É, isso na White já é um desafio. (risos).
É, assim em 100 anos, ou quase 100 anos, eu sou a primeira diretora mulher na América do Sul. Então eu acho que isso tem um peso, mas acho que isso está em transformação na White, a gente tem gerentes mulheres, eu acho que está caminhando para ter mais, mas eu acho que, de fato, por ser uma indústria, provavelmente tinha alguma questão de, não é nem preconceito, pré-conceito de dizer “Não, mas as engenheiras não querem trabalhar aqui numa indústria pesada”, então vamos lá e pergunta para ela se ela não quer trabalhar, pergunta de fato se ela não tem interesse em se juntar a uma indústria. Porque não tem talvez a mesma atratividade que outras empresas de bem de consumo, mas eu acho que tem uma questão da gente quebrar alguns paradigmas de uma indústria. Porque é indústria pesada, e óbvio que talvez eu não tenha imposições de operação, mulheres, até porque tem uma questão de ter um esforço físico, de precisar de força para algumas questões, mas em outras posições a gente pode ter. Então eu acho que isso está aprimorando, eu acho que os diretores foram super receptivos, apesar de ser a primeira mulher, esse ano a gente já colocou mais duas, então são três. Duas diretoras, têm outras duas diretoras. Uma entrou em fevereiro, a outra entrou em junho ou julho, uma em RH e a outra em informática, em TI. Então de fato, eu acho que está mudando o cenário. E outro dia, estavam brincando “Mas por isso que é bom ter uma mulher aqui com outro ponto de vista”. Então você começa a questionar algumas coisas que antes não eram, e a dinâmica do grupo às vezes muda, então é interessante você olhar como é que você muda e repensa algumas coisas. E eu acho que faz parte de indústria, a gente sempre vai ser, provavelmente, vai ter uma população feminina menor, mas eu acho que o quê cabe é dizer o seguinte, hoje o mundo está mais globalizado e o quê que a gente diz e é fato, tanto a Praxair quanto a White, “A gente tem que buscar talento que seja feminino ou masculino, não importa”, e numa cultura, e a gente preza muito isso na White e na Praxair, né? A Praxair é reconhecida e a White Martins muito reconhecida pelo trabalho em nível de responsabilidade social que ela faz, eu acho que isso é importante ressaltar. Quando a gente fala de inclusão de pessoas com deficiência a White Martins foi pioneira, em 1900 e alguma coisa, então você pega esse histórico com alguém, porque eu acho que tem uma história para contar da White, de ter um programa hoje de deficiência muito forte, muito pesado das pessoas circulares e a gente ter isso como valor, a diversidade. Então eu acho que é natural. Hoje você tem mais mulheres no mercado de trabalho, mais mulheres se formam. Então eu acho que é natural, se no passado você tinha menos mulheres até cursando faculdade, ou talvez no nível executivo, ao longo dos anos isso aconteceu, e você não vai desconsiderar o trabalho, então eu acho que todas as empresas vão buscar essa linha, o talento está aí e eu vou buscar ele, e talvez quanto mais diverso for, mais eu consigo agregar de discussões produtivas. Porque é isso, eu tenho um pensamento diferente, se tiver todo mundo igual a gente não sai do lugar, todo mundo vai naquela mesma linha, se eu tiver alguém que consiga... Isso não importa se é homem ou mulher, porque a gente pensa muito diversidade “Ah não, eu tenho uma questão de raça, uma questão de gênero...”, e fica nisso, mas não é. Não é assim, o que a gente fez, onde eu nasci, onde eu fui criada, diferença entre estados, diferença de criação, de religião, então você entra primeiro em um, no que a gente abre aqui, eu tenho uma diversidade da própria forma que a gente chama de biológica e depois eu entro no social, e depois eu entro no organizacional. Porque, de novo, se eu pensar em diversidade eu tenho o operador, eu tenho o analista, eu tenho o gerente, eu tenho o diretor, isso já é diversidade por si só em uma organização, depois eu tenho áreas distintas, depois eu tenho formações distintas, né? Eu sou hoje advogada de formação que estou numa área de recursos humanos e comunicação. E aí você começa a ver engenheiros que trabalham em outras áreas, então eu acho que essa diversidade de pensamento que a White tem e que eu acho que o mercado hoje tem é muito benéfica.
P/2 – Eu queria fazer uma pergunta, nesse sentido, na verdade era de diversidade que você já estava falando. Com tantas unidades que você falou, o número de funcionários entre cerca de 4000 e 5000, como conseguir uma unidade aí? Dentro da diversidade, como manter um perfil desses colaboradores? Se é possível mesmo traçar um perfil, ou como juntá-los nesses valores?
R - É, um, eu acho que a gente tem aí, o desafio maior que a gente tem é a comunicação, saber o seguinte, como é que uma mensagem que a gente gostaria de passar para empresa toda passa. Então eu acho que acho a gente tem um desafio grande nisso, então hoje facilita, a gente têm meios hoje de comunicação muito mais potentes para fazer isso. Então eu posso fazer um vídeo, um DVD e passar, a gente faz teleconferências trimestrais, a gente bota a empresa toda na linha, não dá para fazer ainda videoconferência porque cai, fica mais difícil, mas vai dar! A gente chega lá! (risos) Mas hoje se faz teleconferência, então a gente fala trimestralmente com todos os funcionários da empresa, então o presidente dá uma mensagem, depois três ou quatro diretores dão uma mensagem corporativa que todo mundo escuta e pode fazer pergunta depois. Então isso eu achei fantástico, que você consegue atingir, óbvio que você fala, é um momento reduzido, mas é uma oportunidade de você poder dar a mesma mensagem pras pessoas ao mesmo tempo. Então eu acho que com a tecnologia a gente tem, óbvio, quadro de aviso, que você tem nas unidades, dentro do possível você pede pros gestores darem a mensagem, e cascatear isso, agora tem instrumentos formais, né? Quando você entra na empresa você passa por um curso, você tem manuais, você tem cartas de integridade, de ética, de diversidade, então a gente passa para todas as pessoas os valores. E quem destoa muito disso acaba não se enquadrando, acho que não é o caso porque, assim, é muito, senso comum. Assim, são empresas sólidas, tradicionais, então eu acho que tem aí uma questão que é relevante de perfil, mas você acaba procurando aquilo que você se enquadra. Provavelmente o que eu falei do Paulinho Moska, ele não ia se candidatar, ou gostaria de participar de um processo seletivo na White Martins, assim... (risos). Então de alguma forma você tem uma seleção natural, do quê que a gente se propõe, e do que a pessoa também quer, então de alguma forma depois você sabe que só se afina. Olha a área de comunicação, te interessa trabalhar, “Olha, a gente trabalha com a América do Sul, com ‘xis’ países, você vai comunicar...”. Então por mais que você trabalhe, você pode se interessar por vir para uma empresa assim, e trabalhar num meio que “Olha, a gente tá querendo motivar as pessoas, a gente quer fazer uma proposta de valor tanto da marca quanto da empresa pras pessoas, o quê que a gente tem de bom...”. Então assim, você começa a contar a história que a gente quer passar para pessoas, “te interessa isso?”. E dentro dessa história a pessoa se decide se junta à White ou não. Então acho que tem isso, de como é que a gente consegue permear, agora é uma empresa diversa, não tem jeito, porque a gente tem todas as... Desde o operador, que é um cargo talvez mais simples, mas essencial para a gente, que é a pessoa que faz mesmo o produto e coloca o produto e entrega o produto, até quem, de verdade, define alguma estratégia, que é o presidente, aí você vai para Praxair, então eu acho que isso tudo é muito valorizado, então... O que mais?
P/1 – Deixa eu te perguntar, você estava falando da questão da diversidade, dessa coisa do conceito, questionando o conceito, desconstruindo o conceito. Na prática como que vocês trabalham essa questão, a diversidade... Tem workshop, quais são os procedimentos, como que funciona trabalhar isso?
R - É, a gente, um, é quase assim, tem um conceito que é básico “Você só consegue entender e gerenciar...”, vamos falar mais assim: “Aquilo que você tem consciência”. Então quando você toma consciência que diversidade é maior do que raça e gênero, você começa a poder ser mais inclusivo, que é isso que a gente quer. Porque eu posso até ter pessoas diversas, mas que se elas não se incluem eu me sinto fora daquele ambiente, então assim, a gente começou um processo esse ano de diversidade formal mesmo, de conscientização. O quê que é diversidade para gente? O quê que é diversidade no mundo? Como é que a White pode trabalhar nisso? O quê que a gente já faz? Porque eu acho que é importante o seguinte, provavelmente a gente já vem com diversidade há muito tempo, acho que 1970 ou 1980 e alguma coisa que a gente trabalha com deficientes, e como é que a gente se sente parte nesse contexto? Então assim, em um momento diversidade para uma empresa carioca, que está no Rio, pode ser contratar pessoas de outras regiões do Brasil, porque eu tenho uma cultura no Sul, uma diferença, uma cultura no Nordeste, então assim, o quê que significa diversidade? Então é chamar atenção ao seguinte, a White já é uma empresa diversa, e o quê que a gente pode fazer para tornar, para continuar com que ela seja diversa, mas mais inclusiva? Eu posso colocar mais mulheres em cargos gerenciais ou de diretoria? O quê que isso me trás? E você começar a conversar sobre isso, então a gente começou a conversar sobre isso formalmente. Provavelmente eu vou mandar uma matéria para vocês que está saindo agora, que a gente agora fala numa revista que vai para casa de todos os empregados disso, de diversidade e inclusão, então tem um depoimento meu, tem um depoimento de outros diretores, então a gente via revista, via e-mail, via palestra, a gente fala isso na palestra, nesta teleconferência, então o que a gente quer é provocar essa reflexão, porque é isso, se eu ignoro, eu desconheço, e se eu desconheço eu não posso fazer nada, então assim, como é que a gente conhece e faz isso estar num outro papel.
P/1 – E me conta um pouquinho, com essa questão das teleconferências, muita gente te conhece, tem contato com você, como que é conversar com todos esses colaboradores, as pessoas de diferentes setores, como que isso acontece no seu dia-a-dia?
R - A gente conhece, né?
Eu procuro ir à fábrica, não vou como eu gostaria, até porque tenho menos tempo, mas a intenção é que a gente possa prolongar isso. Mas você sente que tem assim, porque quis assim... Todo mundo, você cresce, então eu já fui estagiária, analista não, advogada. Então eu já passei por todos os meios, mas tem uma questão de você quando você fala na teleconferência, você vira quase uma entidade.(risos). Né? Porque assim, você escuta uma voz, e de verdade não dá para você falar com todo mundo, se relacionar com todo mundo. Quando você está um a um é super tranquilo, você vai visitar na fábrica as pessoas, você conversa, mas você sente que tem assim, não é o cotidiano das pessoas, então o que você está acostumado a lidar no seu ambiente. Então tem aí uma questão que é super legal, das pessoas quererem escutar, de quererem ver, e acho que a gente tem muito para compartilhar, e falta tempo. Acho que o mundo hoje está assim, de a gente poder estar mais presente porque hoje também se tem acesso a muita informação, está muito conectado, mas tem assim, eu acho que tem uma questão, do que eu te falei, tem um operador que me liga direto, descobriu o meu ramal e me liga direto... (risos) Então eu acho que tem também essa liberdade, e acho também que é uma questão de perfil, quando você é aberto ou não. Então o que eu falo, eu acho que em RH a gente tem que ser aberto, quando eu falo de duas áreas que são críticas para empresa que é recursos humanos e comunicação você tem que estar aberto para isso, você tem que escutar o que as pessoas estão falando daquilo que a gente passa e até saber o seguinte, como é que eu alinho a expectativa, porque a gente dá algum tom em organização, e como é que eu alinho com os pares, com os outros diretores, com a empresa, então, aos pouquinhos a gente vai permeando a organização.
P/1 – E a gente queria que você falasse um pouquinho sobre sustentabilidade. (risos)
R - É nesse contexto. Então falei sobre responsabilidade social, que é super relevante na White, a gente apóia vários projetos, e dentro desse mesmo conceito de segurança e consciência tem aí eu acho que a consciência ambiental da White, então eu acho que a White é uma empresa que procura ser 100% sustentável. Então assim, em tudo, com a emissão de resíduo, como é que a gente trabalha com o meio-ambiente, agressão ou não, se a gente já tem alguma questão, como é que a gente trabalha, então existe uma consciência, que é o que eu estava falando, uma responsabilidade, um grau de consciência, de segurança na White muito grande, e aí isso entra dentro do conceito de sustentabilidade. Sustentabilidade na White no fundo trabalha muito com responsabilidade social, então é como é que eu posso afetar a vida das pessoas de forma positiva, com projetos vários sociais, então a gente tem vários projetos que apóiam, de reciclagem, de cultivo nas fábricas, de água. Então você tem vários projetos em toda a White Martins e em todas as unidades que você possa aproveitar aí de alguma forma causar e agredir menos o meio-ambiente. Então dentro do conceito você tem responsabilidade social e toda parte ambiental, então você tem pessoas mundialmente focadas nisso, com reportes, então acho que tudo que a gente faz e todas as soluções ou equipamentos que a gente, de alguma forma, implanta ou constrói por conta do nosso produto está muito pensando nisso. Então eu acho que tem aí essa outra característica que é forte, que é fazer aí, ajudar a montar um planeta sustentável, né... Então, o que mais?
P/1 - Bom, agora a gente só vai voltar um pouquinho para parte pessoal, deixa só... Você quer fazer mais alguma pergunta?
P/2 – Queria só uma, mas eu acho que de uma certa forma, seria mais para completar assim... Como motivar os funcionários? Com todos esses desafios, como colocá-los sempre nesses valores? A gente está falando de workshop, parte prática, mas eu queria perguntar mais das mensagens mesmo, conteúdos práticos para motivá-los assim, que eu acho que isso tudo é um grande desafio, de forma geral.
R - É, a gente de fato faz pesquisa de clima para buscar saber qual é o desejo dos funcionários.
E aí você tem muito uma questão de alguma coisa prática, que é o tangível, que quando eu falo de remuneração e benefício, e aí a gente tenta se alinhar com as práticas de mercado, e o outro que é treinamento e desenvolvimento, que a gente também, aí sim eu tenho treinamentos específicos, muito técnicos, porque a gente é uma empresa que privilegia isso. E o que eu acho que a gente tem que trabalhar que é o que eu acho que mais motiva é quase a pessoa se sentir um pouco única, que eu acho que esse que é o grande diferencial se a gente puder ter. Como é que eu gero nas pessoas um senso de pertencimento maior? Eu tenho um propósito, eu, enquanto operador, enquanto soldador, ou enquanto gerente, não importa, eu faço algum trabalho que, de verdade, impacta. Técnico de meio ambiente, técnico de segurança... Então é quase que você dar um propósito para função das pessoas, e aí eu acho que isso tem muito a ver com liderança, então assim, é quase assim, quantas pessoas eu influencio? Eu influencio ‘xis’, essas ‘xis’ influenciam outras, e essas influenciam outras, então eu acho que é um trabalho constante de saber assim, como é que você influencia de forma positiva essa cadeia? E que não é simples não, porque motivação tem muito a ver com expectativa, e algumas expectativas eu crio. Eu acho que tem então um dizer que é interessante “A frustração é a gente que cria”, porque elas vêm de expectativas irreais que eu tracei, porque quem faz a expectativa é você, de alguma forma, e aí quando ela não é atingida a gente se frustra, então como é que se trabalha isso? Por isso que eu acho que é muito importante assim, certa expectativa clara, fala o quê que é, porque as pessoas não se frustram e aí não se desmotivam, porque desmotivação também vem com um pouco de frustração. Então a gente tem aí o desafio gerencial de estar conversando, de estar comunicando, de estar presente, que é o que você falou também, que é um desafio enorme de ter essa relação com as pessoas, então acho que não tem muito mágica não. E hoje acho que cada vez mais, que a gente tem esses meios de comunicação, que eu não sei se atrapalham ou facilitam, porque a gente deixou ter menos tempo para algumas coisas, o nível de informação é alto, as vezes você não dá conta do que você tem para ler, para fazer, para ver... Então como é que essa reinstalação pessoal pode se aprimorar, então, não sei se eu respondi, mas...
P/1 – Agora Anna, fala um pouquinho o que você gosta de fazer nas suas horas de lazer?
R - Nas minhas horas de lazer, atualmente tenho duas filhas, que acho que isso eu ainda não falei, uma de 13 e uma de nove, então assim, eu adoro viajar. Então assim, um, quando a gente pode em férias, é viajar e aí fazer, esquiar, sair, ir para a praia e nos fins de semana eu tenho uma casa fora, aqui na serra, então eu vou todo fim de semana descansar, ficar com as crianças. Por enquanto elas vão, porque daqui a pouco elas não vão querer mais ir, mas por enquanto elas vão, então assim, aí vê televisão, DVD, durante o fim de semana, descansar e aí viajar.
P/1 – Tá ótimo, e me fala um pouquinho agora da parte mais de avaliação agora, quais foram as lições que você tirou ao longo dessa sua carreira, dos lugares que você passou e da White Martins?
R - É... Eu estou em RH aí é meio default falar, mas eu de fato acredito que o mundo mudou muito, então eu acho que hoje colocam um peso nas pessoas muito grande, mas eu acho que tem mesmo, porque antigamente eu acho que tinha um peso grande nos processos, nos equipamentos, então você tinha aí, e ninguém muito conseguia copiar, então você tinha alguma tecnologia muito específica e que aí de fato talvez o equipamento fizesse a diferença. Hoje em dia, com acesso ao que você tem, isso se tornou muito básico, ou seja, eu posso, eu tenho um equipamento, eu posso comprar, eu coloco à disposição, eu tenho tecnologia, eu tenho ferramenta, eu tenho comunicação. E eu acho que as pessoas realmente começaram a ver que o que tem por de trás são as pessoas, e aí sem elas eu não consigo esse sucesso. Então eu acho que nesse momento todo, e aí várias formas, a Coca não mudou o produto, se eu tiver que fazer uma analogia, é o mesmo produto, só que aí eu tenho uma forma de abordagem diferente, que veio ao longo do tempo se aprimorando, até por comercial, né?
Pessoal da área de comunicação é o máximo ouvir, como é que começou lá com Carmem Miranda, lá atrás o comercial de Coca-Cola até hoje que ele vai a uma parte tecnológica. E é a mesma coisa assim na White, eu tenho uma tecnologia, agora como é que a gente criou ao longo desse tempo essas soluções, e que eu preciso de todas essas pessoas com uma especialidade enorme para fazer essa, qualquer empresa, e a White dar certo e continuar aí na liderança de mercado. Então eu acho assim, que tem uma mudança, que é isso, se antes eu dava muita importância a um determinado processo, hoje eu tenho esse processo que tem as pessoas por trás, e acho que isso gera aí uma questão grande de valor. E aí de novo, por isso que eu acho que, de novo, a gente está num mundo que fala muito hoje de consciência social, da onde eu quero trabalhar, porque hoje você de alguma forma escolhe. Então como é que eu quero passar mensagem, o quê que eu quero transmitir para sociedade? Acho que as empresas todas hoje têm um propósito, e tem que ajudar, o mundo sustentável, uma parte de responsabilidade social, então assim, qual é sua parte no mundo? Que eu acho que antigamente a gente não questionava isso, então você tinha aí uma questão “Não, eu tenho um emprego que vai ter isso, isso”. Hoje eu já acho o seguinte “Qual é o propósito, porque que eu estou fazendo isso? Qual é o legado que eu quero deixar?”. Então eu acho que isso hoje tem aí ao longo de você ver essa... Desde que eu comecei até hoje, tem 20 e poucos anos de experiência profissional, você tem aí uma outra visão de mundo, com tudo isso que a gente vive.
P/2 – Falando em legado, qual que é o legado que a White Martins deixa?
R - Eu acho que não deixa, porque ela vai continuar... É... (risos)
Então assim, eu acho que tem uma questão de desenvolvimento da sociedade e transformação dessa sociedade num mundo melhor. Quando a gente fala de adequar uma cadeia mais produtiva, mais sustentável, ser mais responsável do ponto de vista social, e estar em todos os processos produtivos de siderurgia, metalurgia, mecânica, alimentos, bebidas, hospital. Então assim, eu acho que a White tem um papel muito importante na sociedade, apesar de ele não ser tão aparente. Então eu acho que a gente tem aí o desafio de continuar com essa liderança e com esse direcionamento de sustentabilidade, de responsabilidade, de segurança, confiabilidade e qualidade.
P/1 – E o quê que fazer 100 anos significa? (risos)
R - Eu não participei dessa história, né? (risos) Mas é o máximo me juntar com 100 anos, porque assim, você vê o orgulho, eu fiquei 15 anos na Coca-Cola, acabei que a gente não falou de tempo. Então dá orgulho de você ver, independente de eu estar lá, então assim, você tem orgulho de empresas que são, que guardam esse conceito, essa história. Então acho que estar na White nesse momento guarda assim, um orgulho de fazer parte de uma empresa que é vencedora, que é líder e que tem esses conceitos de mundo muito bem definidos, porque ela podia ainda estar começando, não... Mas ela já é uma empresa sólida nesses conceitos, e que faz. Então acho que isso aí tem um adicional enorme.
P/1 – E o quê que você acha da White Martins estar contando essa história através de um projeto de memória oral?
R - Eu achei o projeto fantástico e diferente, porque a gente está acostumado com memória escrita, com livro mesmo, ou seja, isso aqui tudo vai virar um livro, óbvio, isso aí faz parte, não da para ser memória oral, ainda, a gente ainda não está nesse... Não, mas assim, eu achei que a iniciativa, né? E aí é uma questão assim, a área que está coordenando isso, que é a minha área, mas indiretamente, você tem aí pessoas responsáveis por estar vendo isso. Eu acho que é diferente, quebra paradigma, você entra num outro conceito de contar uma história, e quando aí você tangibiliza isso, porque as palavras acabam se perdendo, depois você tangibiliza isso num livro e coloca dizendo pras pessoas o seguinte “Olha tudo o que vocês fizeram”. Acho que é fantástico poder contar isso e dizer tudo o que, tudo que a White fez pela indústria ou pela sociedade na última, nos últimos 100 anos. E tudo que você, indivíduo fez, para White nesses últimos 100 anos, eu acho fantástico, então, muito bom.
P/1 – E como é que foi para você dar essa entrevista, contar a sua trajetória de vida?
R - Ah foi tranquilo, assim, não tem... Tem algumas coisas que a gente não lembra, assim, aí começa a resgatar ... (risos). Porque algumas coisas mais de, de início são mais, não delicadas não, mas são, você acaba já... Tem isso, tem isso... Não lembra de tudo, depois eu vou sair daqui e vou começar a pensar no que eu podia ter falado, mas é interessante.
P/1 – Bom, a gente te agradece, muito obrigada.
R - Não, obrigada vocês. Parabéns. E aí depois a gente espera ver isso, com o editor, não é? (risos).
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