Eu sei. Não é exatamente uma Ode. Mas sempre quis escrever algo que tivesse Ode no título e creio não haver melhor oportunidade do que esta..
Tenho a impressão de gostar e ver significado e simbolismo em coisas que "passam batido" para a maioria das pessoas. Algumas dessas coisas me parecem f...Continuar leitura
Eu sei. Não é exatamente uma Ode. Mas sempre quis escrever algo que tivesse Ode no título e creio não haver melhor oportunidade do que esta..
Tenho a impressão de gostar e ver significado e simbolismo em coisas que "passam batido" para a maioria das pessoas. Algumas dessas coisas me parecem fascinantes e intrigantes o suficiente para merecer um espaço neste sitio e para que eu dedique algum tempo pensando e escrevendo sobre elas, numa tentativa de trazer esse sentimento para um universo um pouco mais palpável..
Não é tão simples quanto escrever um diário de viagem. Afinal, nos diários, os fatos estão lá. A ordem cronológica existe. Basta narrá-los. No caso das "coisas", é um pouco diferente. Até porque seu impacto é relativo, ou seja, pode variar de pessoa para pessoa..
Para mim, escrever este texto, é como abrir uma caixa cheia de imagens, lembranças, referências e sentimentos e tentar organizá-los, construindo uma narrativa que faça sentido. Quase como jogar as peças de um quebra-cabeça sobre a mesa e começar a juntá-las, uma a uma, até formar uma imagem acabada e inteligível do que quero dizer..
É uma introdução meio estranha, eu sei. Talvez tão estranha quanto o assunto deste texto..
Como disse há pouco, há "coisas" construídas pelo Homem que me causam um certo fascínio. Seja pela sua longevidade, pelo mistério que envolve sua construção ou mesmo pela sua função, motivo maior de sua existência. Em geral construções históricas me despertam curiosidade e interesse. Os Moais da Ilha de Páscoa são um bom exemplo. A Stone Henge é outro. Olhando para construções mais contemporâneas, gosto dos moinhos de vento, igrejas (especialmente as período colonial) e dos vastos campos de geradores eólicos. Mas os meus preferidos são, de longe, os faróis marítimos, cujo o nome em inglês: Lighthouses, me parece muito mais apropriado, bonito e sonoro..
O encantamento pelos faróis não é uma particularidade minha e nem é novidade. O Farol de Alexandria, o primeiro de que se tem notícia e talvez o mais espetacular de todos (considerando os recursos tecnológicos da época), foi construído entre 280 e 247 A.C., em Alexandria, no Egito. Media algo em torno de 120 metros de altura era uma das sete maravilhas do mundo antigo. Além de ser, durante muitos séculos, uma das estruturas mais altas no mundo. Acabou sendo destruído por três terremotos entre de 956 e 1323 D.C., dando lugar à Cidadela de Qaitbay (ou Forte de Qaitbay), em 1477..
Em minhas modestas andanças pelo Brasil, tive a oportunidade de conhecer alguns faróis. Entre estes, há belos exemplares. Alguns em áreas urbanas e outros em lugares relativamente isolados. A maioria deles bem cuidados e protegidos da depredação e da visitação pública. Mas há também estruturas mais modestas e pobres esteticamente. Projetos tão simples quanto uma torre quadrada rudimentar. Mas sempre repletos de simbolismo e significado que procuro corresponder com respeito e admiração..
Até a data da publicação deste texto, eram nove os faróis que faziam parte da minha coleção. Infelizmente não consegui fotografar apropriadamente a maioria deles. Algumas vezes por inexperiência, outras pela impossibilidade de ângulos melhores mas, na maioria absoluta das vezes, por causa de uma incompreensível pressa que não sei de onde vem mas que sempre me impede de observar com cuidado os detalhes, procurar ângulos mais favoráveis e, claro, obter melhores composições. O que certamente substituiria boa parte das palavras deste humilde relato..
O fato é que Faróis são sempre carregados de metáforas. Ilustram conceitos como adversidade, perigo, desafios, risco e vigilância. Por outro lado, também são sinais de orientação, salvação e segurança..
Um farol indica o caminho e serve de auxílio em águas agitadas, quer sejam essas águas financeiras, pessoais ou espirituais. Raramente algo ilustra mais a segurança e proteção em momentos de tribulação do que um farol..
São como entidades que trazem consigo alguns dos ideais mais elevados da humanidade. Tal qual um guardião, uma lâmpada acesa diante das mais terríveis situações. Um gigante solitário nos locais mais desolados, projetado para suportar as mais terríveis condições climáticas, permanecendo incansáveis em sua missão de orientar navegantes. São luzes que se elevam como uma estrela guia, representando, em última instância, a providência divina pois, um farol brilhando sobre mares violentos, são flagrantes símbolos de salvação e direção, levando aqueles que estão em perigo, seja de manifestações físicas ou de provações espirituais, à um lugar seguro e de descanso..
São estruturas muitas vezes centenárias, testemunhas mudas de um mundo em constante transformação, cuja função, apesar de toda evolução tecnológica, continua sendo de extrema importância. No passado, quase sempre eram operados e mantidos por um faroleiro. Hoje, muitos são automatizados ou operados remotamente, como se tivessem vida própria e consciência de sua missão..
Não sei explicar ao certo o que me atrai aos faróis, especialmente. Talvez sua relação direta com o mar. Talvez sua condição de isolamento. Talvez sua posição de sentinela e a certeza de que ele sempre estará lá. Brilhante como mais uma estrela debaixo de um céu limpo ou impávido diante das mais inclementes manifestações de fúria da natureza, sempre pronto a ser referência pois, uma vez que um farol é visto, todo o mar fica segundo plano..Recolher