Ponto de Cultura - Museu Aberto
Depoimento de Renato Farias
Entrevistado por Sonia London, Larissa Gomes de Valdir Júnior
São Paulo - 24/07/2007 -
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista PC_MA_HV037 Renato Farias
Transcrito por Luany Promenzio
Revisado por Paloma Fukusig
P/1 – Eu queria q...Continuar leitura
Ponto de Cultura - Museu Aberto
Depoimento de Renato Farias
Entrevistado por Sonia London, Larissa Gomes de Valdir Júnior
São Paulo - 24/07/2007 -
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista PC_MA_HV037 Renato Farias
Transcrito por Luany Promenzio
Revisado por Paloma Fukusig
P/1 – Eu queria que você dissesse o seu nome completo o local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é Renato Leite Farias da Silva. Nasci em Pedro de Toledo, São Paulo, no dia 08 de outubro de 1960.
P/1 – E o nome dos seus pais e dos seus avós?
R – Nome do meu pai, Jaconias Leite da Silva, da minha mãe, Carmen Farias da Silva. O nome do meu avô paterno é Oséias Leite do Santos, da minha avó Maria Leite Batista e dos meus avós maternos Rosa Perseliana e do meu avô eu não estou lembrado.
P/1 – Qual é a origem do nome deles?
R – O
meu pai era filho de holandês, descendente de holandês nascido em Ilhéus na Bahia. Aqui no Brasil você tem essa miscigenação.
P/1 – Os seus avós eram holandeses?
R – Eram, os paternos. Os maternos, o meu avô era português, veio pro Brasil e casou com uma filha de índio com escravo. Isso no litoral paulista, em São Sebastião. Ele inclusive levou a minha avó pra Portugal e então nasceram os filhos.
P/1 – E você sabe o que eles faziam?
R – Por parte de pai, meu avô era um fazendeiro, tinha duas ou três fazendas em Ilhéus, de cacau e de gado. Da família da minha mãe, o meu avô veio de Portugal, não lembro qual que era a atividade principal dele, mas foi pra um lugar tradicional de pesca, São Sebastião. Então eram pescadores.
P/1 – E o que fazem seus pais? São vivos?
R – Meu pai era administrador de empresas, escritor e músico. Ele era músico nato, tocava violão muito bem por sinal, era autodidata. Nós sempre respirávamos música em casa. Ele era escritor e também pastor evangélico.
P/1 – E a sua mãe trabalhava?
R – A minha mãe sempre foi do lar. Ela era uma pessoa muito prendada em todas as atividades domésticas desde costura à culinária. A gente sempre disse que ela segura as pessoas pela boca.
P/1 – Os dois estão vivos ainda?
R – Meu pai não, minha mãe sim. Minha mãe nasceu em 1927, então ela tem 80 anos, bem vividos.
P/1 – E o que eles estavam fazendo lá em Pedro de Toledo quando você nasceu?
R – Na verdade Pedro de Toledo só está na minha certidão. Meu pai estava trabalhando lá. Ele era gerente administrativo geral do DER [Departamento de Estradas e Rodagem], responsável pela pavimentação e por toda a estrutura dessas cidades. Ele fazia parte desse pólo de pavimentação, a parte burocrática de toda essa pavimentação dessas cidades. Eles moravam em Santos e ele foi transferido pra Pedro de Toledo. Na verdade ele deu um upgrade na cidade de Pedro de Toledo, uma cidade muito tradicional de plantação de banana. Do lado tem Itariri, perto de Mongaguá, onde eles foram fazer toda a estrutura.
Quando eu nasci e quando um outro irmão meu nasceu, nós chegamos a morar lá mas muito pouco tempo. Eu vivi lá acho que não chegou a um mês, talvez dias. Minha mãe foi pra lá ter neném, porque meu pai trabalhava lá e então era muito mais fácil. Isso é uma coisa que no Brasil era normal: as pessoas serem registradas no lugar onde o pai estava. Hoje não, você tem que ser registrado onde você nasceu mesmo, mas eu nasci lá.
P/1 – E ai depois você voltou pra Santos?
R – Depois eu voltei pra Baixada Santista, meu pai se instalou em Cubatão por
conta do trabalho dele. Todo meu início de vida e todo meu desenvolvimento foi na Baixada Santista, especificamente em Cubatão.
P/1 – Como foi a sua infância em Cubatão?
R – Minha infância foi muito boa, eu desejaria que todos tivessem uma infância assim. Por que eu digo que foi boa? A gente tinha pouco acesso à mídia embora Cubatão já fosse considerado uma das cidades mais poluídas do mundo, senão a mais. Somos em seis irmãos e por incrível que pareça o meu irmão mais velho dos homens, o Roberto Farias, junto com meu pai, contaminava a
gente com a música. Depois nós passamos a ter televisão mas a gente ouvia muito rádio e meu pai era uma pessoa que, como escritor, ouvia muito rádio, gostava de saber das notícias pra poder escrever os livros, os versos dele. Ele era poeta e naturalmente ouvia algumas rádios com música. Ele ouvia na rádio e à noite fazia um sarau. A gente ia dormindo, ia caindo um pra cada lado e ele tocando violão. Com a boca ele imitava o instrumento chamado bandolim. Então ele ficava: “bralalalalala”. Fazia melodia com isso e acompanhava com o violão. Só que hoje eu lembrando do que ele tocava, eu acredito que uma pessoa pra tocar como ele teria que ter uma boa escola de música, uma boa universidade. Porque ele ouvia um concerto pra violão na rádio e tocava. Tinha uma rádio de Santos que tocava muitos concertos espanhóis, acho que deveria ser de espanhóis. E na música espanhola é sempre muito tradicional a presença do violão. Ele tocava aqueles acordes e era uma linha muito difícil, melódica e harmônica. Harmônica é a linha do acompanhamento, muito difícil. Nós fomos acostumados com isso. Naturalmente todos os filhos estudaram música, os seis: três mulheres e três homens. Da parte dos homens, nós passamos a ser instrumentistas, estudávamos a música e instrumento. No meu caso, eu comecei a ter contato teórico e prático com a música à partir de seis anos. Mais especificamente com sete anos e comecei a estudar música mesmo, intensivamente, com o maestro Rosalino de Carvalho, que até hoje é vivo. Na verdade ele que deu início para meu irmão e para meu outro irmão. Eu sou o caçula.
P/1 – Como é que era Cubatão? Você falou: “eu tive uma boa infância apesar de ser uma cidade que tava mesmo na mídia, pela questão de ser bastante poluída”, mas apesar disso teve uma boa infância lá. Como foi isso?
R – Depois eu ficava sabendo através da mídia que Cubatão era uma cidade bem famosa com relação à poluição, mas na verdade Cubatão é uma cidade que tinha na minha época e ainda tem várias áreas verdes, parques. Dentro de um parque lá tinha uma casa chamada casa da música onde meu irmão fundou a Banda Municipal de Cubatão. A nossa vida era escola; praticar esportes, eu fazia atletismo; depois ia pra Casa da Música, estudava e tocava o dia todo até a noite. A gente voltava onze, meia noite. Então pra mim foi uma infância boa porque eu não abdiquei de nada que uma criança tem que abdicar, nem das brincadeiras. A gente atravessava escondido, minha mãe vai ouvir isso ela vai ficar brava comigo (risos), mas ela sabe. A gente atravessava uma linha de trem e a
gente ia pra Serra do Mar. A gente ia pra uma reserva em lugares que acho que ninguém nunca tinha pisado. Comer palmito selvagem, frutas selvagem e ver animais selvagens de pequeno porte e tal. Foi uma infância legal porque eu tava numa cidade que na verdade que era industrial, mas a indústria ficava bem longe. A cidade ela te oferecia os parques, ela tinha as escolas muito boas. Estudei numa escola Afonso Schmidt, uma escola muito tradicional em música inclusive, que dava muita ênfase. Tinha a banda da escola que depois eu toquei na banda. E fora isso, você tinha a cidade na beira da serra, então você tinha toda essa floresta que você poderia ter contato. Então a gente tinha contato com a natureza, tinha contato com esportes. Cubatão se destacou também na minha época, na minha geração, por ter uma equipe de atletismo que eu fiz parte também, que viajava pra São Paulo, interior, viajava pro Brasil. Depois como na verdade eu já quis me especializar na área de música, eu deixei o atletismo de lado. Mas Cubatão foi e até hoje é um grande seleiro pra músicos que estão hoje no mundo todo, nas sinfônicas, como professores de universidades.
P/1 – Sobre essa questão de uma cidade poluída, vocês sentiam isso na época? Como é que vocês lidavam com isso? Como é que é a população ali? Com é que as escolas...como é que tratavam isso?
R – Muita coisa era mito. Tinha poluição sim, eu lembro que minha mãe tinha que lavar o quintal a calçada sempre muito bem porque tinha mesmo uma fuligem. Mas isso na década de 80 houve um investimento muito grande, inclusive de instituições, de organizações que vieram de fora, europeias, americanas, que investiram na despoluição, também dos rios. Tinha um rio lá que a gente ia pescar, pegava-se peixes grandes. Eles conseguiram colocar equipamento e hoje não tem esse nível de poluição, mas o pessoal atribuía a poluição à temperatura da cidade, que na verdade era uma estufa, ela está no encosto ali da Serra do Mar. O calor era intenso, fora do normal. Isso por conta da poluição, do oxigênio que era muito pesado, mas hoje não. Hoje inclusive é uma cidade que você anda, dificilmente você anda numa rua onde não se tem árvores. Tem algumas ruas, algumas avenidas lá que você parece que está andando num túnel cheio de árvores, porque as copas delas se encontram. Então pra mim foi muito bom.
P/1 – Você fez a primeira escola, a escola primária lá em Cubatão mesmo?
R – Eu fiz lá em Cubatão, lá no Colégio Afonso Schmidt, inclusive foi onde meu irmão fundou a banda, que depois foi adotada pela prefeitura como banda e depois passou a ser a banda de música principal, a principal do Brasil, que ganhou todos os concursos. Inclusive a banda foi culpada por acabar com vários concursos porque várias bandas não se inscreviam mais, “porque a banda de Cubatão vai ganhar, o que a gente vai fazer lá?”. No concurso nacional de bandas, que antigamente acontecia com a Rádio Record e a TV Record, eles fechavam a Avenida São João e vinham bandas do Brasil todo, inclusive até tinha banda de outros países, da
Argentina que já vinha participando do concurso. Esse concurso de bandas da Record era tão famoso quanto o carnaval. Todo mundo parava e assistia porque era televisionado e era uma tradição muito grande. O Brasil na verdade foi um país que ele recebeu influência da Espanha, a Espanha é muito tradicional em bandas. A banda era um dos organismos mais importantes em todas as
cidades do Brasil, porque todo mundo ia pra praça, pro coreto ver a banda tocando. Nós perdemos isso, mas está se resgatando e Cubatão era tradicional disso, era as retretas nos concertos, retretas na praça, isso era tradicional.
P/1 – E na escola, a vida na escola, o que vocês brincavam, do que você gostava, além da banda?
R – É difícil você ouvir alguém falar assim: “Eu adorava a minha escola. Eu adorei estudar”. No meu primário, eu tinha tudo o que eu queria naquela escola. Eu tinha a banda, a equipe de atletismo, que depois passou a representar a prefeitura, a cidade, depois até a Baixada Santista. Na escola eu tinha a minha atividade normal dos estudos, eu tinha o atletismo que eu adorava, tinha um rio atrás da escola que a gente pulava, um rio proibido mas a gente pulava pra nadar. Eu tinha a banda e tinha os amigos, tinha todos os amigos, então eu vivia integralmente na escola. Pra
mim foi a melhor coisa da minha vida. Outra coisa que eu achava importante é que eu nunca repeti, desde da minha primeira série, do meu primeiro ano até o terceiro colegial eu estudei com pelo menos 30% das mesmas pessoas. Você vê a pessoa começar a andar junto com você, literalmente caminhamos juntos. Muitos daqueles, inclusive alguns músicos depois de décadas, 20, 30 anos. Eu encontrei um camarada que era o presidente da câmara e estudamos juntos, a outra secretaria de educação, a outra de cultura, o vice-prefeito... Eu só não estudei com ninguém que fosse prefeito da cidade. É uma coisa muito legal que não acontece na metrópole.
P/1 -
Você ficou lá em Cubatão até quando?
R – Eu fiquei em Cubatão até 1979.
P/1 – Então você fez o colegial lá?
R – Eu fiz o colegial lá.
P/1- E como foi a adolescência?
R – Adolescência foi boa, boa não, foi excelente, por quê? Porque na verdade Cubatão é 15, 20 minutos de Santos. A minha adolescência praticamente foi em Santos, que era na verdade o point. Então nosso point era em Santos e passei a freqüentar praia, que tinha vários atrativos pra mim.
P/1 – Quais?
R – Esportes. Claro que todo adolescente começa a procurar uma namorada. Não só isso que é natural do ser humano, mas na praia de Santos era legal que você via grupos de choro, você não vê mais, grupo de samba que não tem nada a ver com os grupos de samba de hoje. Era uma coisa agradável porque na orla marítima de
Santos, nós temos do canal um ao canal sete. Em cada canal tinha um grupo, um encontro de músicos ou de chorinho ou de samba. Na praia tinha aquela música ao vivo que, além de ter qualidade, não era uma coisa agressiva, não era uma coisa alta, não tinha aquele negócio barulhento. Era uma coisa agradável, você ia pra praia, que legal! Sol, areia, chorinho, samba, era uma coisa super agradável. Eu tive até um estímulo pra tocar instrumento de percussão vendo isso. Embora meu direcionamento pra música foi pra música clássica. Isso fez com que eu tirasse essa barreira que existe entre música clássica e música popular. Eu convivia com as duas coisas. Minha adolescência foi isso. Também gostava de esportes radicais, gostava de motos. A única coisa que eu nunca gostei, nunca experimentei, nunca me apeteceu foi o surfe e Santos não era um lugar tradicional de surfe e sim o Guarujá. Depois passei a ir pro Guarujá e passei a ter contato com os surfistas.
P/1 – E que esporte você gostava?
R – Eu sempre gostei muito de atletismo, gosto de velocidade. Quando fazia atletismo, eu gostava de fazer 100 metros rasos, salto em altura e gostava muito de salto com vara. Estou vendo o Pan acontecer, eu estou lembrando dos esportes. Mas uma coisa que eu sempre gostei foi velocidade, sempre gostei de sentar num carro potente, inclusive eu fiz muita coisa com relação a velocidade escondido da minha mãe.
P/1 – Que coisas?
R – A Stock Car eu adorava. Pra mim o carro tinha que ser de um Opala pra cima. Eu gostava de sentir o ronco do carro, gostava de motos potentes. Pra mim motos teriam que ser de 750 cilindradas pra cima e antigamente era acessível. Você mesmo como adolescente você podia comprar uma moto de 500 cilindradas. Claro, quem fosse de classe média, mas não precisa ser de classe media alta. Antigamente os carros eram muito mais acessíveis . Meu primeiro carro eu tive com 15 anos. Tive um fusca.
P/1 – Quem te deu esse carro?
R – Eu comprei com o meu trabalho já. Com o meu trabalho. Eu comecei a trabalhar na verdade com 14 anos em
serviço burocrático. Eu me espelhava no meu pai e já fazia algumas atividades de música.
Na banda nós já ganhávamos. Nós tínhamos uma bolsa, no começo uma bolsa de estudos e depois nós tínhamos um salário pra tocar na banda municipal.
P/1 – Com o dinheiro da banda você conseguiu comprar o carro?
R – Consegui. Eu consegui com o dinheiro da banda e já trabalhando. Com 14 anos comecei a trabalhar em escritório e já ganhava um salário. Eu não gastava. Em Cubatão não tinha o que gastar, como eu falei no início, você tinha acesso ao esporte, à todas as coisas, à diversão. Você ia pra Santos, gastava o quê? Gastava o ônibus e a gente não gastava mais, a gente não tinha essas baladas que você tinha que pagar ingresso, que você tinha que gastar. Em um ano eu juntei dinheiro pra comprar o meu primeiro fusca, porque eu achava bonito quando ia com a minha irmã, que tinha um fusca bonito, num posto de gasolina e a minha irmã falava: “O senhor poderia ver o óleo? Verificar o óleo?”. Eu achava bonito, falei: “Nossa um dia eu vou ter um carro e vou chegar no posto de gasolina e falar pro frentista”. Aí eu comprei meu Fusca, comprei um Fusca 65 e encostei todo poderoso no posto de gasolina e falei: “O senhor poderia verificar o óleo?”. O camarada me conhecia porque desde pequeno eu freqüentava o posto de gasolina. Ele voltou e falou: “O óleo está bom, não precisa trocar o óleo, precisa trocar o carro”. Então eu saí nervoso e fiquei um bom tempo sem aparecer naquele posto. Depois eu reformei o meu fusca e fui trocando meu carro.
P/1 – E você corria?
R – Não, era o meu carro normal, mas desde os 16, 17 anos eu ia ver algumas corridas em Santos. Depois quando eu tinha que vir pra São Paulo estudar música na Escola Municipal de Música de São Paulo, eu aproveitava e ia pra Interlagos ver os treinos de Stock Car.
E aquilo sempre me fascinava.
P/1 – E você correu?
R – Comecei a ter uns carros mais poderosos: Chevette, depois Opala,
Dodge, eu entrei em alguns treinamentos e fiz um curso escondido, eu adora aquilo. Minha mãe não entendia porque eu chegava com o carro tão sujo, porque eu vivia procurando mecânico. Eu destruía os carros porque você tinha que destruir. Mas era uma coisa saudável. O Stock Car era uma competição que antigamente visava mais a velocidade, a destreza, a direção defensiva, que você tinha que se defender, mas não era tanta. Hoje o publico quer ver um bater, o outro capotar. Um fica batendo no outro, não era muito a tradição. Quando eu comecei a ver isso, eu comecei a me desinteressar por esse tipo de esportes e só ver. Eu gosto mais de automobilismo do que futebol. Eu nasci praticamente do lado da Vila Belmiro. Você respirava o Santos do Pelé, eu adorava. Eu cheguei a ir no Santos e na Portuguesa tentar no juvenil, fiz alguns treinamentos, testes. Mas esse tipo de esporte não tinha muito a ver com a minha atividade principal que eu queria na minha vida que era ser músico. Porque eu como músico, como instrumentista, principalmente como instrumentista de sopro, eu iria ter que usar minha mão, minha boca, então se levasse uma pancada, quebrasse um braço... Comecei a ter a noção que eu teria que evitar algumas atividades.
P/1 – Então você sempre teve essa certeza de que você ia ser um músico?
R -
Tive.
P/1 – Como que foi então a sua vinda pra São Paulo?
R – Eu vim várias outras vezes pra outras coisas. Minha vinda pra São Paulo, que eu fui andar por São Paulo mesmo, eu acho que eu tinha nove anos. Tinha dois anos que eu tinha começado a estudar música. As mulheres vinham sempre a São Paulo pra montar os enxovais. Eu vim com a minha irmã mais velha e nós viemos pra região da Estação da Luz, Rua Direita, São Bento. Aí eu olhei um prédio assim bonito e falei: “Marlene o que é isso?”, “Isso aqui é um teatro de ópera, é Theatro Municipal de São Paulo”. Ai eu falei: “Eu vou tocar aqui”. Eu não falei: “Eu gostaria”. Eu falei: ”Eu vou tocar aqui”. Depois, quando eu já era profissional, saí de São Paulo, do Brasil e quando eu voltei, cheguei em São Paulo eu fui convidado pela direção do Theatro Municipal pra entrar numa orquestra do Theatro Municipal. Eu sabia desde os oito anos de idade que eu queria tocar ópera, desde os nove anos eu sabia e eu falei: “Eu vou tocar aqui”. E se realizou, né?
P/1 – Como foi o percurso até chegar lá?
R – Até hoje eu vejo que desde os sete anos de idade, desde quando eu comecei a estudar, ter aula com meu professor Benedito Rosalino de Carvalho, eu nunca mais parei de escutar música. Da música eu nunca tirei férias. E eu me sinto um privilegiado de como foi a minha carreira. Com nove anos eu já tocava. Com dez, 11 anos eu já tava mudando de instrumento, porque eu não comecei no trombone.
P/1 – Você começou com o quê?
R – Meus dois irmãos tocavam trompete, conhecido como piston e eu não gostava. Eu sempre tive essa voz meio grave e rouca. Gostava de velocidade, de potência e de instrumentos mais robustos. Eu passei pelo trompete, pela trompa que é aquela de instrumento enrolado, depois fui pra um instrumento pouco conhecido chamado bombardino que parece uma tuba, mas ela é pequena, média. Em 1973, o meu irmão, que já era maestro da banda e multi-instrumentista, dava aula pra todo mundo, cada instrumento ele pegava e tocava. Houve uma reestruturação da banda depois que a FUNARTE [Fundação Nacional de Artes] iniciou um projeto de doação de instrumentos e ele olhou e falou: “Olha, você que toca clarinete você vai tocar oboé, você que toca sax vai tocar fagote,você que toca percussão vai tocar tímpano”. Porque ele estava transformando a banda de música, que era aquela bandinha simples, numa banda sinfônica, mais profissional. “E você vai tocar trombone. Eu olhei pra ele e o fulminei. Falei: “Eu não gosto de trombone”. Ele virou as costas e falou: “Está aí seu instrumento”. Fui pra casa e ele ainda levou o instrumento pra casa e o colocou em cima da minha cama. Eu dormi na sala, porque eu adorava o instrumento que eu tocava, o bombardino, porque era um instrumento, tinha um som. O meu irmão do meio, o Reginaldo Faria, chegou:” Renato, trombone é muito bonito”. Eu falei: “Eu não gosto do nome, não gosto desse instrumento”. Um outro amigo meu, que tocava trombone mas era um outro tipo de trombone, não o de vara, era um trombone a pistão, levou pra mim um disco do Raul de Souza, que é um trombonista, meu padrinho. Quando eu coloquei aquele disco que eu vi, falei: “Ah!”. Na verdade eu não tinha referência de trombonistas na minha cidade e na Baixada Santista. Então eu ia me espelhar em quem? Quando eu vi aquilo, eu peguei o instrumento. Eu vi que o trombone tem uma particularidade que você pode tocar glissando, quer dizer, você pode tocar de uma nota pra outra: “Poooooo”. Você não faz isso em outros instrumentos, só instrumentos de corda, instrumentos clássicos, violinos, violoncelo. Você faz “pooooo” sem fazer “taltaltaltaltal”, o piano você também não faz isso. Quando eu vi isso eu falei: “Poxa, que interessante”. Aí eu fui pro corredor de casa e comecei. Não tive professor de trombone no início. Sou autodidata mesmo com meus irmãos músicos. Eles tinham tempo pra dar aula pra todo mundo menos pra mim, então eu ia olhando e tentando fazer nos instrumentos que eu tocava. Fui descobrindo sozinho. Eles me falavam as posições, a digitação, mas eu tive que me virar sozinho. Com o trombone eu comecei a descobrir algumas coisas e me interessei. Eu não largava instrumento, se eu pudesse eu não ia pra escola, não ia praticar esportes. Eu tive que abrir mão de alguns dos esportes, eu vinha da escola correndo, eu ficava o dia todo. Em casa o muro era baixo e eu não sabia o porquê do meu pai tinha chamado um pedreiro, ele foi subindo até que o muro ficou alto, porque tinha um vizinho meu que jogava casca de tomate, casca de banana, tudo de lixo que tinha na mão ele jogava e eu ia pro outro lado, no corredor.
Depois eu encontrei esse meu vizinho e falei: “Você não sabe mas é o grande responsável. Eu fui persistente porque você ouviu aquilo e jogava lixo, mas mesmo assim eu não desisti”. Eu peguei o trombone e com 14 anos já era profissional. O que significa isso? Eu já angariava dinheiro com o que eu tocava e ainda tocava mal. Então eu comecei com 14 anos, trabalhava em administração de empresas, passei a trabalhar em escritório e no final da tarde pra noite e no final de semana eu me dedicava ao trabalho com a música, na banda e no conservatório. Com 16, 17 anos eu já era o primeiro trombone da sinfônica de Santos. Até então não tinha passado por nenhum professor profissional que tivesse me dado aula. Eu fui ouvindo aqui, ouvindo ali, perguntando aqui e ali, não tinha internet. Só ouvindo rádios, ouvindo discos. Comecei a ter contato com músicos de outros sítios quando nós viemos pra São Paulo competir nesse concurso nacional. Comecei a ter contato com músicos do Rio, do Sul, de Minas, você via as bandas boas, os trombonistas. Ai eu comecei a ter mais referências. Comecei a assistir concertos e com 17 anos eu já era profissional, já era primeiro trombone da Sinfônica de Santos; trabalhando no meu trabalho normal e estudando. Com 19 anos, o principal trombonista do Brasil, que foi o meu professor e era o primeiro trombone da ópera de São Paulo, Gilberto Galhardi, perguntou pra mim: “Você quer ter aula comigo?”. Falei: “Quero”. Daí eu vim pra São Paulo ter aula. Estudei em São Paulo em 79. Já passei a ser profissional aqui em São Paulo, comecei a fazer cachê em algumas orquestras sinfônicas, a tocar em algumas big bands, algumas orquestras de baile, antigamente tinha aquelas orquestras muito boas e muitos músicos do Theatro Municipal e da Orquestra Sinfônica de São Paulo tocavam nessas grandes orquestras. Todo canal de televisão tinha uma orquestra que acompanhava os artistas que vinham de fora, eram essas orquestras faziam aqueles bailes, grandes bailes de música de qualidade. Então eu vim pra São Paulo, eu vim pra estudar em São Paulo e eu já estava trabalhando. Com 19 anos eu já era profissional, já era professor da rede municipal, professor de música da rede municipal de Cubatão e maestro das bandas. Meu irmão era maestro da Banda Sinfônica Principal. Na rede municipal nós tínhamos as bandas marciais e eu era responsável por oito bandas. Então eu dava aula em todas as escolas e isso eu foi importante da praia,
de aprender instrumentos de percussão, porque as bandas de escola eram comportas por sopros e percussão e eu dava aula de todos instrumentos pra eles. Como nossa banda marchava, eu também tinha noção de ordem unida, que era como marchar, a postura, o sentido, descansar, como fazer uma formação de banda. Eu era fascinado por isso. Assistia aos filmes que mostravam a guarda real da Inglaterra, quando eu via a banda já eu olhava aquele negócio, aquele garbo. Os soldados tinham muito garbo, aquela postura. Eu adorava isso. Meus alunos eram o meu laboratório. Como eu já tava em São Paulo, eu levava pra lá todas as informações que eu tinha aqui. Então comecei a tocar nas orquestras aqui, comecei a participar de vários grupos, comecei a gravar com vários artistas. Até 2001 eu tinha uma agenda, que eu perdi, que eu já tinha participado de 600 gravações com vários artistas famosos. Passei a ser profissional de estúdio também porque o músico que grava normalmente todo mundo assiste aos shows, todo mundo ouve os CDs e quando vai ver o artista vê uma banda acompanhando. Dez por cento dessas bandas que acompanham os artistas era de músicos que gravaram. Normalmente são os músicos profissionais, especialistas, que vão pro estúdio e gravam, fazem toda parte para o artista cantar em cima. Depois, no show, as bandas utilizam muito a questão do playback. Eles tocam, mas existe uma seqüência lá que já vem tudo gravado no CD, no estúdio.
P/1 – Você tocava todo tipo de música, você diz que lá em Santos você tocava clássico, como que é isso?
R – Uma coisa que a banda me deu foi o seguinte: uma banda de uma cidade é obrigada a tocar os dobrados, os hinos pátrios, os temas de filmes, as músicas do momento, a música popular, o samba... Na minha geração, na minha época, a música MPB, a música brasileira tinha qualidade. Hoje se você for buscar qualidade nas músicas que estão hoje na mídia, você não vai encontrar. Você vai encontrar muito mais apelação, apelação sensual, do que a qualidade da música. O que eu questiono muito. As rádios que tocam MPB, não se toca mais Chico Buarque, não se toca mais até o que se chama de brega, o Roberto Carlos, que é o rei. Não se toca Tim Maia, toca-se pouco de Djavan, uma imensidão desses grandes artistas, Baden Powell, Tom Jobim... Quando você tem pouco dinheiro, você vai e pede no restaurante um comercialzinho, pra você pegar três, quatro reais. Às vezes a qualidade daquela comida talvez seja pra preencher aquele momento. Mas não tem a qualidade. A nossa música comercial caiu muito de meados de 90 pra cá. Como professor universitário, professor de música, presidente da Associação Brasileira de Trombonistas, eu sou obrigado a juntar todos os músicos de todos os gêneros, tanto do clássico, do popular, quem toca forró, quem toca frevo, quem toca samba; eu tenho que juntar eles pra passar alguma coisa.
P/1 – Você fez então faculdade de música?
R – Eu tenho mestrado em música.
P/1 – Você fez qual faculdade?
R – Eu comecei a estudar no conservatório em Cubatão, depois eu vim aqui pra escola que foi uma escola que todos os músicos clássicos e mesmo músicos populares, instrumentistas passaram: a Escola Municipal de Música de São Paulo. Pelo menos na minha geração tinha um corpo docente decente. Não que não seja hoje, mas eram os principais e maiores músicos que davam aula nessa escola municipal. Foi aí que São Paulo começou a me absorver muito profissionalmente e da mesma que eu abri mão do esporte pra estudar música, os trabalhos de músicas começaram a me absorver e não me dar mais espaço à dedicação pessoal como músico, porque você precisa estudar, não é somente você tocar. Pra você produzir, você precisa construir. Então todo mundo fala: “Poxa, que legal que você tem inspiração pra música”. Inspiração sem transpiração não se chega a nenhum lugar, porque você é um operário da música. Eu não queria ser um operário da música, eu não queria ser um tocador, eu queria pesquisar.
P/1 – E hoje no seu mestrado, o que você pesquisa?
R - Então antes disso o que eu fiz? Aqui no Brasil teve um projeto muito grande num estado que ninguém faz idéia que é o Estado da Paraíba. Um governador lá, que ele era Secretário da Educação, músico, pianista e violoncelista também: o Tarcísio Buriti. Nas viagens dele pra Europa, Estados Unidos, ele ia assistir às grandes orquestras. Ele falou: “Eu quero formar a melhor orquestra, uma orquestra como se tem na Europa, nos Estados Unidos, aqui na Paraíba”. E ele formou uma orquestra com 114 músicos lá, ele foi buscar músico na Irlanda, na França, nos Estados Unidos, na Argentina, no Chile... Músicos que tivessem a intenção de ensinar, não só de tocar. Eu prestei concurso pra ir pra lá e já sabia que lá tinha o melhor departamento de música. Até hoje é o melhor departamento de música do Brasil, na Universidade Federal da Paraíba. Fui pra lá, prestei um concurso pra tocar na orquestra do Recife, que foi uma reestruturação. Eu fui pra tocar nessas duas orquestras, a orquestra do Recife ensaiava de manhã e a orquestra de João Pessoa, na Paraíba ensaiava à noite. À tarde eu estudava na universidade. Entrei no curso superior e me formei lá na Universidade Federal da Paraíba. De lá, toquei nessa orquestra durante oito anos, nós temos dois CDs gravados e essa orquestra acompanhou vários artistas e vários solistas internacionais bons. Essa orquestra foi regida pelo maestro Eliasar de Carvalho, que foi meu padrinho de formatura, meu patrono. E aí eu comecei a ir muito pros Estados Unidos, porque vinham professores pra os festivais de Campos do Jordão, também fui professor do festival, mas na minha época de aluno, o professor vinha dar aula de um mês, eu sugava o professor até o último: “Onde o senhor mora?”. “ Eu moro em New Jersey.” Eu dava um jeito, comprava uma passagem pra New Jersey e ficava lá dois meses tendo aula com ele. Vinha um professor que era da França: “Onde o senhor mora?”.”Eu moro em Lyon.” Eu ia atrás dele . Fui pros Estados Unidos prestar um concurso pra pleitear uma bolsa pra poder fazer mestrado na Universidade Católica de Washington. Passei pra fazer performance, que seria o meu mestrado na Universidade Católica de Washington, em Washington DC, pra estudar com o primeiro trombone da Orquestra Nacional de Washington, Milton Stevens. Mas começaram a ter problemas políticos porque eu tinha bolsa, eu tinha uma bolsa que era aqui pelo Brasil e a Instituição que ia me dar essa bolsa começou a passar por uns problemas políticos. Começou a ser difícil estudar nos Estados Unidos. Voltei pra o Brasil, pra orquestra e pra universidade, já como professor. Depois, no final de 90, de 90 pra 91, eu tive que voltar pra São Paulo, porque aquela era a melhor orquestra, era o melhor salário, porque esse governador quando ele montou a orquestra ele falou assim: “Eu não só quero montar uma boa orquestra como eu quero dar um salário como o que as orquestras européias e americanas pagam”. E nós ganhávamos isso, só que lá teve um problema político, porque um governador, um prefeito, quando ele entra, ao invés de dar seqüência ao trabalho do outro, ele ignora, ele congela aquele negócio, prejudica inclusive. E na arte isso é muito visível. Você não pode destruir uma orquestra sinfônica. Então ai eu tive que voltar pra lá porque a situação financeira lá ficou muito ruim, e as condições... Então muitos músicos voltaram pra França, pra Irlanda, pra Argentina, pro Chile, pros Estados Unidos e eu pra cá. Eu que fui um dos poucos brasileiros selecionados pra tocar nessa orquestra. Eles foram fazer concurso, buscar os músicos do Brasil. Voltei pra cá e entrei nas orquestras sinfônicas aqui. No início da minha profissionalização eu tocava com cachê, como participação especial, mas passei a tocar na Orquestra do Estado de São Paulo, Teatro de Ópera de São Paulo e dar aula nas universidades daqui.
P/1 – Você toca música clássica?
R – E popular também. Como eu tava falando e acho que eu não conclui, a banda fazia parte de um repertório de uma banda sinfônica, de uma banda de música, você toca clássico-popular. Meu pai foi uma pessoa muito importante na nossa formação, meu pai e minha mãe, pra que nós não discriminássemos nenhum gênero e sim discriminássemos a música ruim. A
música tem qualidade. O que é qualidade? Às vezes quando você fala sobre qualidade, você fala é o músico formado na Universidade de Yale, na Juilliard School em Nova Iorque? Não! Qualidade é quando você não abre mão da autenticidade. O grupo de forró, o triozinho de forró que toca a zabumba, o triângulo e o acordeom, se ele preservara autenticidade ele sempre vai ter qualidade.
P/1 – O que você ta falando de autenticidade?
R – Autenticidade é o seguinte: você não pode pegar uma orquestra sinfônica e querer colocar a orquestra sinfônica num palco pra tocar samba. A especialidade dela é tocar a música clássica. Você não pode pegar uma banda de música, uma banda daquela bandinha tradicional e fazer essa banda tocar com a mesma fidelidade o que uma orquestra sinfônica toca, porque os instrumentos são diferentes. Uma banda são mais instrumentos de sopro, O que aconteceu com a música brasileira é que você pega a música sertaneja, nordestina, coloca num palco e implementa, nessa música que tem tanta beleza, uma série de coisas, instrumentos eletrônicos, coloca 25, 30 bailarinos quase sem roupa, como são as banda hoje de forró hoje. Perdeu a essência! Pra você ganhar o público, você está apelando pro visual sensual. E isso tem o seu lugar e a música está sendo muito usada pra isso hoje, então é difícil.
Se você pedir pra eu assobiar, pra eu cantar pelo menos a melodia, que letra eu não decoro, porque tenho tantas notas pra ver na minha vida. Eu sou maestro também. A parte que o músico toca é a parte dele. O maestro, a parte que ele tem lá na frente é a partitura, tem todos os instrumentos tão escritos ali. Então você tem no mínimo 20, 22 linhas pra você acompanhar rapidinho. Eu fui treinado pra isso, letra eu não guardo. Mas se você quiser que eu assobie ou que eu cantarole uma melodia da minha época, dos meus compositores da época sim. Agora se você pegar daqui a dez anos um contemporâneo, pegar um adolescente e falar pra ele: “Assobia uma música da sua época”. “Ah, como que era aquela música?” A dança não tem referência, não tem fidelidade, não tem autenticidade. Meu pai falava: “Não tente, se você for falar outro idioma, você pode ser super fluente no idioma, mas você sempre vai ter o sotaque brasileiro, santista e paulistano”. Entendeu? E você não pode perder isso. Inclusive como pedagogo e como professor universitário, o que eu digo é que eu luto muito pra buscar autenticidade. Pra isso eu fui estudar música antiga. Eu toco num grupo chamado Parafernália, que é o músico que toca música barroca e renascentista. Toco inclusive um trombone barroco, que é um instrumento de 1600, pra eu saber de onde surgiu o meu instrumento, pra eu não perder a autenticidade, não perder a identidade. Meu nome é Renato Farias Leite da Silva, mas a família Farias sempre foi famosa, então eu sou o Renato Farias. Não é que eu ignoro parte do meu nome, mas imagine que eu sou um artista, vou virar um cantor e eu vou colocar meu nome de Reblen, sei lá, qualquer outro nome. Você sabe que tem sujeito que não consegue mais, ele precisa pensar pra dizer o nome dele e é o que ta acontecendo no Brasil. As pessoas estão inclusive trocando nome. Então isso é uma coisa que eu digo sobre autenticidade, fidelidade e identidade que a gente ta perdendo, inclusive o nome. Duas a três vezes por semana estou no estúdio gravando com duplas sertanejas, sambistas, músicos e dificilmente eu acho alguém que utiliza o seu nome real. O meu pai sempre nos formatou pra ouvir todo tipo de música. Como eu disse no inicio, nós não tínhamos televisão, até uma certa época, a gente ouvia muito rádio. Então eu ouvia música popular brasileira autêntica e ouvia música popular norte-americana: Tony Bennett, Frank Sinatra, Barbra Streisand, Ella Fitzgerald...
Tinha a noite de jazz e sábado e domingo tinha ópera. Eu fui acostumado a ouvir tudo isso. Então pra mim não foi construído esse muro entre clássico e popular. O que eu levei pra minha vida profissional como músico foi o seguinte: Levar a disciplina de estudo do clássico para o popular. E levar alegria e o jogo de cintura, a malandragem da música popular pro clássico, para eu não ser um músico formatado, aquele camarada que senta na orquestra e não sente nada, ele não participa, ele não interage. E outra coisa eu não toco nada sem eu saber.
“Vamos tocar Beethoven.” “Quem é Beethoven?” Eu fui estudar sobre Beethoven. “Eu vou tocar Carlos Gomes.” “Quem foi Carlos Gomes?” Eu preciso saber. Quem foi Tchaikovsky, Frescobaldi, Mozart, Mahler? Quem é Chico Buarque, Tom Jobim? Eu fui estudar, por isso que eu me interessei muito pelo meio catedrático, pela universidade, porque é lá que você aprende isso. Senão você vai tocar nota, você vai ser um tocador. Porque o Schoenberg tem um tratado de Schoenberg que ele diz o seguinte: ”Pra você executar bem uma música, você tem que dar fidelidade à música, você precisa calçar o sapato do autor”. Então pra entender a música da Rússia, eu fui pra Rússia. Hoje eu tive a felicidade de voltar pra Rússia pra dar aula de música brasileira pra eles, porque é a minha propriedade, a minha identidade. E eu busquei a fidelidade.
P/1 – Fala um pouco da criação do seu instrumento, de como que você chegou nele e porque você criou esse instrumento?
R - Eu sempre tive a busca do porquê de tudo, sempre fui curioso. Eu destruía muitas coisas em casa, gostava de saber como que era um rádio por dentro. Da mesma forma como eu tive interesse em saber sobre os compositores, sobre a origem da música. Fui pro nordeste pra saber porque que eles tocavam daquele jeito, porque eles falavam daquele jeito. Eu tive em saber o porquê de cada instrumento. Por que que quando você sopra o som sai assim? Eu comecei a mexer nos meus instrumentos e foi uma coisa meio genética. O meu irmão mais velho, o Reginaldo que não é mais vivo, era um trompetista muito famoso no Brasil, músico clássico e se interessava pela construção dos instrumentos. Claro que a gente sempre quer imitar o irmão, mas na verdade nós dois começamos a fuçar e eu sempre tive vontade de pesquisar sobre os instrumentos. Depois que eu já era profissional, meu professor de trombone me falou: “Renato, tem uma coisa pra você ver: a música brasileira é muito rica e nós temos uma cultura muito rica, mas infelizmente a qualidade do nossos instrumentos fabricados aqui no Brasil é muito ruim”. Eu falei: “Eu não sei”. Eu não sabia mesmo. Porque eu não sei se eu tive a felicidade ou a infelicidade de todos os instrumentos que toquei serem importados. Eu tinha um primo que vivia dos Estados Unidos, vivia viajando e trazia nossos instrumentos. “Professor, mas a gente podia fazer um projeto!” Porque eu até então já tinha fuçado tudo. Foi quando eu voltei depois de profissional, depois de ter ido estudar na França, Estados Unidos, ter ido pra Rússia, pra Itália, pra Espanha, ter tido contato com várias comunidades instrumentistas e músicos e ter conhecido várias outra marcas de instrumentos. Eu sentei com ele e falei: “Olha, o senhor tem acesso à fábrica de instrumentos aqui no Brasil?”. “Tenho sim, tem uma fábrica aqui que foi fundada em 1904...”. Ele já me contou a história da fábrica, eu fui visitar e comecei a questionar a qualidade dos instrumentos deles. Eles perguntaram se a gente poderia fazer um projeto, porque o trombone já existia, só que a qualidade, as configurações deles não batiam com o instrumento que vinha de fora. Eu tinha e tenho até hoje todos os meus instrumentos. Alguns eu me desfiz, mas os instrumentos mais importantes da minha vida estão na minha casa. Eu sentei com meu professor e nós começamos a analisar marca por marca, detalhe por detalhe. Chegamos nessa fábrica, eles nos deram uma grande abertura, uma fábrica chamada Weril Instrumentos Musicais. Uma família de ítalo-austríacos que vieram no início de 1900 pro Brasil e hoje é a única fábrica no Brasil de instrumentos de sopro. Eles aceitaram nosso projeto e nós começamos a projetar a primeira linha de trombones profissionais do Brasil. Em comum acordo nós achamos que o trombone de vara da linha profissional seria a linha GG, Gilberto Gagliardi. Já que meu professor Gilberto Gagliardi tinha um nome na televisão, no meio sinfônico, no meio popular e o instrumento modelo dele é um trombone. Fomos pra fábrica, projetamos e nos surpreendemos já com o protótipo, porque nós somos muito rígidos. Meu professor sabia o que era instrumento bom, mas não sabia o que alterava a questão de material e isso foi uma coisa que eu pesquisei bastante. Nossa parceria foi assim. Depois ele faleceu e a fábrica perguntou: “Tem interesse na continuidade desse projeto?”. Falei: “Tenho tanto interesse que já tenho o projeto pronto, as sugestões e modificações pra gente fazer a geração dois”, que é esse que eu uso. Acredito que esse instrumento seja comercializado entre músicos profissionais em no mínimo 40 países. Hoje eu viajo muito porque sou o responsável pela pesquisa, pelo projeto, pelo desenvolvimento e pela atualização do instrumento. Todo equipamento precisa ser atualizado, da mesma forma de um equipamento eletrônico.
Uma coisa que eu adoro é que eu era uma pessoa que não teria condições financeiras de sair de Cubatão, que vinha pra São Paulo estudar com dificuldade, mas a música e o trombone me levaram a ter pelo menos 28 a 35 carimbos de países diferentes no meu passaporte desde 79. Dez anos depois que eu comecei a estudar música. Eu não sei mais o que é comprar uma passagem de avião, porque a música já me proporciona isso e a última coisa que pra mim foi super gratificante foi ter feito um projeto da Weril, o fabricante de instrumentos, em parceria com as universidades. Eu, músico, comecei em Cubatão, conhecida na mídia como uma das cidades mais poluídas do mundo. Fui pros Estados Unidos, pra várias universidades: Texas, Nova Iorque... Pra dar master class, workshop e aulas de música brasileira pra instrumentos de metal. Fui pra vários países da Europa, entre eles Espanha, França, Itália, Bélgica, Áustria, Rússia, Finlândia, Estônia e por aí vai. Países que eu nem lembro, também para dar esses cursos. Fui pra Universidade de Oxford na Inglaterra para dar aula de música brasileira e passar o meu conhecimento, quer dizer, compartilhar, já que a gente não é dono de nada, apenas um elemento numa engrenagem, dentro de um contexto muito grande.
Graças a Deus, isso faz com que eu tenha orgulho de ter morado em Cubatão, de ser brasileiro, de ter estudado, porque eu poderia ter outra profissão. Quando você decide, por exemplo, que vai ser médico, você não precisa saber nada de medicina. Agora um músico, pra ele entrar num conservatório, numa universidade de música, ele já tem que tocar e bem. Não adianta você falar que vai ser músico, você não vai entrar. Você pode ter uma boa nota no vestibular em português mas se você não tocar, se você não tiver polido, vai entrar pra estudar a história da música, porque você não pode tocar nada que você não conheça. Saber sobre os compositores, fazer análise da música, o porquê daquela música, daquele jeito, naquela época que é um contexto social, é uma manifestação da época... O HD de um músico é muito complicado e um músico tem que ser um matemático por excelência porque a música é matemática, são cálculos, tempo justo, você tem que saber todas as operações matemáticas porque está tudo ali. Complementando, o músico é um químico muito grande. A folha de música é retangular mas eu falo pros meus alunos que a folha é quadrada, é branca e é escrita em preto. Então você tem que fazer com que isso se torne redondo e colorido, você tem que transcodificar.
P/1- O Renato e agora, qual o seu sonho?
R – Eu vejo meu sonho em tempo real. Eu toquei 22 anos nas maiores orquestras sinfônicas do Brasil. Hoje eu saí porque, por conta de tudo o que eu passei, eu me destaquei. Eu tenho orgulho, mas não sou uma pessoa orgulhosa nem arrogante. Hoje saí da cadeira da orquestra e sou solista, viajo pra vários países e pelo Brasil todo como solista. Vou na frente da orquestra, toco e a orquestra me acompanha, como um violino faz concerto pra violino e um piano faz concerto pra piano. Eu também tive acesso a música clássica em todos os melhores lugares, os melhores professores... Eu adoro jazz, por exemplo. Eu fui estudar jazz, tenho duas big bands, duas orquestras de jazz. Outra coisa que me interessava era música de raiz, autêntica. Eu fiz um projeto junto com um músico que já deu um depoimento aqui, o Toninho Crespo, de buscar a música tradicional brasileira, a bossa nova, o samba, o samba rock, da onde que veio, conhecer os compositores que ainda estão vivos. Hoje eu faço um trabalho de pesquisa também em cima disso. E outra uma outra coisa que eu sempre fui apaixonado é a Broadway. Quando cheguei na Quinta Avenida em Nova Iorque e vi aquela luminária toda falei: “O que que é aquilo lá brilhando, aqueles nomes?”. Eu não entendia uma palavra em Inglês na primeira vez que eu fui lá: “Isso aqui é a Broadway”. “O que é Broadway?” “Broadway é o coração artístico dos Estados Unidos, onde tem os musicais.” Talvez eu seja o músico de sopro que mais participou dos musicais. Estou desde 2000 nas montagens dos principais musicais que vem da Broadway aqui pro Brasil. Em 83, eu já participei de uma montagem, o Chorus Line, que lançou a Cláudia Raia aos 15 anos. Eu voltei a trabalhar com ela no ano passado, no Sweet Charity, ela já com 40 anos. Fui inclusive um dos maestros da orquestra. Essa década pra mim está sendo a década da materialização dos meus sonhos. Eu venho participando desde o musical os Miseráveis, participei depois da Bela e a Fera, do musical Chicago, em que toquei e
fui maestro-assistente do maestro Miguel Briamonte. Depois participei Sweet Charity
e agora estou no musical Miss Saigon, que é a produção mais cara da história da Broadway. Todos os outros musicais que vieram pro Brasil até agora geraram em torno de oito ou nove milhões e esse é uma montagem de 24 milhões, que está no Teatro Abril. Também estão em cartaz o musical My Fair Lady, daqui a pouco tem o West Side Story. Na década de 80 existia uma resistência entre os artistas queriam que nos teatros do Brasil só tivessem peças nacionais. E hoje estamos num mundo globalizado. Desde 2000 está sendo montada a Broadway no Brasil, pela Cia Brasil. A gente está trazendo todas os musicais que até então só quem tinha dinheiro podia ir a Nova Iorque assistir, mas agora todos esses musicais vão ter aqui no Brasil.
Eles estão sendo montados exatamente como é em Londres e Nova Iorque.
Agora o grande sonho meu mesmo é que o Brasil volte a ter um ensino da música nas escolas, porque nos países europeus ninguém abre mão disso. Eu questiono muito o atual governo, os dirigentes, os ministros de cultura, sejam músicos ou artistas. Eu estou questionando mesmo o por quê de até hoje isso estar na gaveta. Porque antigamente, da minha geração, médico, engenheiro, juiz, piloto de avião... Eu tenho vários amigos que estudaram comigo, que foram pra outras profissões mas aprenderam a cantar, eles aprenderam pelo menos a cantar o Hino Nacional, o hino da cidade, o Hino à Bandeira e cantar o parabéns a você afinado.
Por que que eu digo isso? “Você é músico, então você está puxando sardinha pro seu lado.” Não! O ser humano não vive sem história, sem cultura e a música, a arte engloba todas essas coisas. Faz com que você tenha uma percepção, uma sensibilidade. E essa geração está perdendo muito a sensibilidade de buscar essas coisas, a essência da vida.
Eu já tive muita curiosidade em saber o que que significava o Museu da Pessoa. Eu achei legal assim porque a nomenclatura já vai pra o que eu busco, que é a autenticidade, identidade. Hoje você só vê termos que as pessoas pouco entendem e tem medo de perguntar. O Museu da Pessoa já é o que é, foi fácil eu entender. Pra mim foi muito importante, me senti inclusive privilegiado. Já dei entrevistas pra várias televisões: há um ano eu tive uma entrevista na BBC [British Broadcasting Corporation] de Londres; já fui no Jô Soares pra ser entrevistado e já fui com meu grupo. Inclusive eu estou aqui com isso que é o meu passaporte brasileiro: um grupo que montei com músicos lá de João Pessoa, da Paraíba, um sexteto de trombone, que chama-se Brazilian Trombone Ensemble. Existe uma história que todos os músicos que sentarem aqui contarão: primeiro a gente primeiro tem reconhecimento lá fora, porque é difícil conseguir um reconhecimento aqui no Brasil. Quando nós começamos a ir pra congressos e festivais lá fora, tudo mundo chamava de Brazilian Trombone. Só coloquei o ensemble que significa grupo. Nós gravamos dois CDs: O primeiro foi lançado na Europa e o segundo nos Estados Unidos. Um dos CDs mais tocados na Europa e Estados Unidos em programas instrumentais.
Pra mim foi muito importante saber que eu poderia contar minha história, porque todo dia eu leio minha história. Sabe por quê? Porque além de músico, a gente trabalha como autoprodutor. Eu acabei de chegar, no dia que teve o acidente no avião fatídico. Eu estava num dos vôos de Blumenau, de dar um curso de três dias lá, pra 45 músicos. Eu tenho que já chegar em casa, ligar meu computador e complementar meu currículo com a aula que ministrei no CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico], porque o meu currículo tem que ficar online também. Então eu preciso estar sempre mandando meu currículo e às vezes eu leio, releio e falo: “Nossa, pensar que eu já toquei em todas essas orquestras, em todos esses grupos, já toquei com todos os artistas, já tive em todos estes festivais”. Pra mim uma entrevista dessa é você reviver. Eu lembro cada item que eu falei pra vocês aqui, senti até alguns aromas. Eu trabalho com sensibilidade, então tem coisas que marcam, então pra mim foi muito bom e acho que pode servir de estímulo pras pessoas falarem um pouco da sua vida. Existe uma coisa muito importante que eu falo nas universidades. Tem gente que fala assim: “Você tem uns clichês, uns termos que ou a gente ri, ou a gente coça a cabeça e fala: nossa é mesmo”. Você vai nas bibliotecas das universidades de música, por exemplo, você tem história de música, a história das artes, tudo lá pra você achar. Você tem história dos gênios mas as história do músico, de quem está por trás disso, pouca gente sabe. Então às vezes eu fico pensando o porquê de alguns questionamentos. Todo mundo questiona um artista famoso que sempre se deu bem na vida e de repente o cara matou a família ou se matou, ou ele se enfiou nas drogas, ou ele teve um acidente drástico. Mas se você ler a história dele você vai saber, alguma conclusão você vai tirar, certo? Então eu acho importante a gente também se auto-analisar e saber da história do músico. Pra mim serviu muito buscar a história do músico porque graças a Deus eu não tenho nenhum vício, mas eu sou músico, toco pra felicidade das pessoas, pra entretenimento das pessoas, mas tenho que tocar pra eu ser feliz também. Não vou cultivar coisas que prejudiquem a minha saúde, que prejudiquem a minha vida social, tipo drogas. Isso é uma opção de cada um, a minha opção é essa. Eu eu gosto de me drogar com a música, eu gosto de me drogar com o instrumento.
P/1 – Ta bom então, você não quer tocar um pouquinho pra acabar esse encontro gostoso?
R – (música) Não preciso falar nada. Eu sempre vou enfatizar que o Brasil está no meu coração. Eu toquei que o Hino Nacional e toquei um trecho do Carinhoso, misturei um no outro porque eu vejo muitas pessoas fugirem da realidade, e o que compete a gente está na nossa mão, não está na mão de nenhum governante, não está na mão de nenhum presidente. A gente sempre procura transferir a culpa de muitas coisas que acontecem na vida da gente, no país da gente, com o nosso povo, nos dirigentes, nos políticos. Eu acho que está na mão de cada brasileiro fazer com que o Brasil seja a melhor nação. Nós não temos guerra. A gente se abala com acidentes, com algumas coisas que dentro do que acontece em alguns outros países e regiões não são nada, embora tenham levado várias pessoas - alguns acidentes levam várias vidas. Mas nós não temos guerra. Nós temos acesso a tudo nesse país. Então eu acho que compete a cada brasileiro colocar o pé no chão e falar: “Aqui é o meu país”. Eu direciono todo meu trabalho, toda minha vida, todas as coisas que eu aprendi pra o meu país. O Hino Nacional foi uma das primeiras melodias que eu aprendi a tocar. E quando eu ia pros Estados Unidos, tava sozinho lá e não conseguia falar com ninguém. Imagina na Rússia, lá na Estônia. Eu pegava e tocava o carinhoso. Uma vez eu toquei o carinhoso depois de fazer um concerto
numa sala super importante da Europa. Num país do Leste Europeu. Toquei com a orquestra e pediram pra eu tocar um bis. Eu poderia tocar uma coisa clássica, mas toquei o carinhoso, porque eu estava sentindo saudades do meu país, eu tava rodando. Tinha rodado uns 11 países mais ou menos, estava com saudade de casa, do Brasil, do feijão com arroz, do meu povo... toquei. De repente apareceram 15 pessoas brasileiras, que se eu não tivesse tocado aquilo eles não teriam ficado, eles teriam saído do concerto e ido embora. Quando eu toquei eu mexi com o sentimento deles. Eles estavam misturado com o povo, queriam se passar por nativos, estrangeiros, talvez por uma questão de orgulho, sei lá.
Então é uma coisa que eu nunca vou negar. Nasci em Pedro de Toledo, comecei na cidade poluída de Cubatão, estudei, lutei, sou brasileiro, vou ser sempre brasileiro. Você pode negar tudo, mas você não pode negar o seu pai, a sua mãe. Você não pode negar a sua raça. Eu eu tenho várias propostas, eu tive várias propostas. Inclusive, atualmente estou com várias propostas de ir para outros países, para dar aula em universidades, pra tocar em orquestras mas eu acredito que a minha missão ainda não está cumprida aqui. Eu tenho uma grande missão, meu professor antes dele morrer falou: “Você dê continuidade ao meu trabalho, tanto pedagógico quanto de pesquisa, trabalhar psicologicamente os seus alunos?”. O músico às vezes é preparado pra tocar, o artista é preparado pra atuar, pra estar no palco, mas ele não está preparado ainda. Nós não temos o preparo pra como encarar a fama, entendeu, para como encarar a vida de artista, como encarar isso. Então as vezes, a pessoa quando ela fica sozinha, fica um vazio, então você tem também que trabalhar o seu social, o seu psicológico, a sua saúde também, todas essas coisas. Então, eu acho que assim, o Brasil propícia tudo isso, o Brasil como país, não como situação política. acho que a gente pode fazer muito pra esse país. Eu fico super feliz quando eu saio tudo pra mim tem verde e amarelo. Eu vou viajar, na minha capa, no estojo do meu trombone todo mundo vê a bandeira do Brasil , vê o meu nome, entendeu? Porque é Renato Farias/Brasil, não tem jeito, não adianta eu querer fugir disso. Muito obrigado.
P/1 – Obrigada.Recolher