Querido diário, vou te contar uma história. Escolhi uma história que dura quatro meses e é o seguinte: no começo da quarentena, ainda em março, final do mês, no dia 24, para ser mais preciso, a minha família, aqui em casa, decidiu fazer uma coisa que muitas famílias fizeram, eu acho, que fo...Continuar leitura
Querido diário, vou te contar uma história. Escolhi uma história que dura quatro meses e é o seguinte: no começo da quarentena, ainda em março, final do mês, no dia 24, para ser mais preciso, a minha família, aqui em casa, decidiu fazer uma coisa que muitas famílias fizeram, eu acho, que foi montar quebra-cabeça. Só que não foi um quebra cabeça pequeno. Nosso quebra cabeça tinha quatro mil peças. A gente tem uma mesa grandona, aqui na sala, uma mesa de vidro redonda bem grande mesmo. E para você ter uma noção, as peças do quebra-cabeça ocuparam a mesa inteira de tantas peças que eram. A imagem era muito difícil de montar, era uma imagem toda borrada colorida. Enfim, bem complicada, mesmo, e, esse quebra-cabeça, já tínhamos tentado montar em outros momentos da vida. Mas eu me lembro bem que, por duas vezes, a gente chegou a tirar da caixa, olhou para o “tamanhico” das pecinhas e para a complexidade do desenho e foi:
"Não, esquece, guarda de novo". Lembro até que, por conta desses momentos, umas pecinhas ficaram perdidas, tipo, perdidas não, mas elas saíram da caixa e, aí, eu encontrei no chão uma ou outra peça perdida e guardei dentro da caixa, novamente. Depois, a caixa ficou guardada, sei lá onde e, aí, alguém da minha família tirou da gaveta. Em março, a gente foi montar e eu tinha certeza que deveria estar faltando alguma peça, mas a gente falou assim: “Ah, estamos aqui de quarentena, vamos montar". E demorou quatro meses para a gente conseguir montar. E, ao longo desse tempo, eu fui tirando todo dia, praticamente a gente montava um pouquinho e todo o dia eu ia tirando uma foto dele. O objetivo era ir tirando várias fotos de cima para ter todas as imagens do progresso! Entendeu? E, assim, confesso que houve momentos, nesses quatro meses, nos quais que eu achei que a gente nunca ia terminar essa mesa. Ela ficou cheia de poeira um momento, porque a gente ficou bastante tempo sem aula, e, nesse momento, nesse tempo sem aula, todo mundo - eu, meu irmão, meu pai - se dedicava bastante ao quebra-cabeça. Então, a gente avançou bastante, mas, depois que as aulas voltaram no estilo EAD, com prova e entrega de trabalho e tudo mais, eu fiquei muito mais afastado. Então, começou a encher de poeira, o quebra-cabeça, todo mundo já tinha perdido a "vibe". E, aí, chegou as férias, a gente virou e falou “Bom, ou a gente destrói isso ou a gente termina de montar”. Aí eu falei: “Não, de jeito nenhum vamos destruir. A gente já ficou meses montando, até aqui". E eu confesso que eu fui um dos que mais se empenhou! Porque todo dia eu sentava e montava muito. Assim, eu descobri um padrão nas peças que a cada quantidade, para cima ou para baixo, ou de um lado para o outro, se repetia o formato da peça. Então, tinha várias peças com o mesmo formato no quebra cabeça e isso me ajudou a montar. E, no final das contas, em julho, dia 13, quatro meses depois, a gente terminou e não sabíamos o que fazer com um quebra cabeça tão enorme, desse tamanho. Meu pai construiu uma moldura de madeira, a gente colou o quebra-cabeça inteiro com uma cola especial e fez um quadro. Penduramos esse quadro no corredor. E ele está aqui, pendurado: o trabalho de uma quarentena inteira de quatro meses.Recolher