Projeto CDI
Realização: Instituto Museu da Pessoa.
Entrevista de: Marcos Magalhães
Entrevistado por Karen Worcman e Lídia Ferreira
Data 14 de agosto de 2004
Código: CDI_TM023
Transcrito por Thaís Ramos Cechini
Revisado por Stella D’Avansso
P/1 - Bom, senhor Marcos, eu queria come...Continuar leitura
Projeto CDI
Realização: Instituto Museu da Pessoa.
Entrevista de: Marcos Magalhães
Entrevistado por Karen Worcman e Lídia Ferreira
Data 14 de agosto de 2004
Código: CDI_TM023
Transcrito por Thaís Ramos Cechini
Revisado por Stella D’Avansso
P/1 - Bom, senhor Marcos, eu queria começar pedindo para o senhor dizer o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R - Marcos Antônio Magalhães. Nascido em Cercânia, Pernambuco, em julho de 1946.
P/1 - E o senhor já é presidente da Philips há quanto tempo?
R - Sou presidente da Philips desde janeiro de 1996. Então, oito anos e meio.
P/1 - E qual foi o seu primeiro contato com o CDI [Comitê para Democratização da Informática]? Como foi o seu primeiro envolvimento com o CDI?
R - Com o CDI? Foi por vias transversais. O Rodrigo Bagio me enviou uma carta ao presidente mundial da Philips solicitando apoio, solicitando patrocínio. E, como de praxe na Philips, a carta foi devolvida para mim a partir da matriz, solicitando avaliação do plano. Eu tinha um conhecimento muito superficial do CDI. Já tinha escutado sobre o CDI, mas, naturalmente eu não tinha uma opinião própria sobre a instituição. Então, solicitei a Flávia Morais, a nossa diretora de responsabilidade social, para ir até o Rio e obter informações mais precisas sobre o CDI. Ela foi, encontrou o Rodrigo, conversaram, e o Rodrigo como sempre, uma pessoa muito envolvente, muito charmosa e a Flávia voltou bastante entusiasmada com o CDI, com o objetivo, com a filosofia, com a visão. E acabamos marcando um encontro eu e o Rodrigo. Então, nesse encontro, nós trocamos muitas idéias sobre responsabilidade social. Eu expus a filosofia da Philips do Brasil nessa área e depois confirmei que nós iríamos encontrar uma forma de ajudar o CDI. Então, elaboramos um projeto, um projeto de expansão do número de escolas, do número de EICS. Não só no Brasil, mas no exterior. Criamos um projeto bastante amplo e aí nós alavancamos os recursos e repassamos esses recursos para o CDI. Acho que o Rodrigo ficou entusiasmado com a velocidade. Em seguida voltou, me procurou, e me convidou para fazer parte do conselho do CDI. Apesar de uma agenda muito atribulada, eu achei que seria interessante participar. E, assim, até hoje eu participo do conselho. De uma forma, nós procuramos dar algumas contribuições. Uma das primeiras observações minhas foi que o CDI estava caminhando na época para certas escolas, extremamente diversificadas e que careciam de um sistema de gestão. Gestão da pedagogia, gestão da administração das escolas. Então, uma das primeira contribuições nossas foi através de um especialista da Philips, ajudar o CDI a instituir um sistema de gestão de qualidade. E assim foi feito com indicador de desempenho.
P/1 - Em que ano foi isso?
R - Isso há dois anos atrás. Cerca de dois anos atrás.
P/1 - Esse seu primeiro contato com o CDI então, antes desses dois anos, qual foi o ano que o Rodrigo mandou a carta?
R - Isso foi, eu acho, 2002. Foi em seguida. Foi um sucessão. Ele enviou a carta, tivemos o contato, conseguimos o recurso, em seguida veio
o convite para o conselho, estive no Rio para sentir e gostei muito do grupo. Do Paulo Ferrari, do Márcio, da Júlia, de todo mundo que participa do conselho. Um grupo entusiasmadíssimo, criativo, excelente senso de humor, que para mim é super importante. E, certamente, todos buscando contribuir para que o Rodrigo tivesse a base, a sustentação, a plataforma necessária para transformar a sua missão em realidade. É um projeto belíssimo é um projeto de alcance social atingindo diretamente os indivíduos em classes que realmente necessitam, criando condições para ver aquelas pessoas, para que aquelas pessoas consigam degraus na escala social. Então, por tudo isso, e pela seriedade, pelo resultado atingidos pelo Rodrigo, eu achei que seria realmente interessante continuar contribuindo.
P/1 - E aí, quer dizer, além desses recursos, houve esse apoio para implementar um sistema de gestão?
R - Isso. De gestão de qualidade e aí nós...
P/1 - E a sua participação no conselho.
R - E a participação no conselho, contribuindo no dia-a-dia da operação e assim por diante. E, em seguida, no ano seguinte, que foi
o ano passado, conseguimos mais recursos. Recursos para melhorar algumas escolas, várias escolas. Para expandir outras escolas e também recursos, exatamente, para criar um série de materiais em torno dos 10 anos do CDI. Entre outros.
P/1 - O que é que o senhor assim, que aspecto do CDI o senhor acha que tem um diferencial em relação à outros projetos de inclusão digital?
R - Olha, precisa-se conhecer a história do CDI, para se entender que é, de fato, algo muito diferenciado. Começa pelo histórico dele, começa pelo desprendimento dele de largar uma carreira de sucesso ainda muito jovem. E dedicar realmente o seu tempo, a sua inteligência, e até uma parcela do seu próprio capital para ajudar o próximo, para ajudar os outros. Então começa por aí. Segundo lugar o tema de competência. Não adianta você sonhar se você não tem a competência para executar, implementar. E nisso o Rodrigo se mostrou extremamente competente. E agrega-se à isso a integridade e seriedade. Aí é outro ingrediente, fundamento. Você pode seguir as instruções, você pode ser competente, mas se você não é íntegro, essas coisas não têm realmente futuro. Então, quando você soma esses valores, que eu claramente pude identificar através de alguns contatos e participando do conselho, é que eu percebi que estava confrontado com uma coisa diferenciada. Uma coisa de vanguarda, porque, o analfabetismo de informática vai se mais e mais um elemento de segregação e de separação de classes. Nós já temos hoje a segregação sócio-econômica. E nós temos uma segregação racial associada à isso. Os mais pobres são os negros e os menos educados são os negros. E mesmo que esses se eduquem, se eles não rompem a barreira digital, se eles não conseguem ter acesso à essa tecnologia, a segregação vai continuar. E, através do CDI, esses pontos, esses temas são enfocados com bastante propriedade. Temos uma visão, temos uma missão, temos objetivos, temos uma pedagogia, um projeto político-pedagógico muito bem definido, temos um modelo de gestão bem operacionalizado. Temos agora um modelo de, um sistema de gestão de qualidade. Acompanhamos a performance das EICS. Tem uma capacidade de expansão muito grande. E, ademais, acho que o mundo começou a conhecer o Rodrigo. O número de prêmios que o Rodrigo têm recebido, nacionais e internacionais, esse número representa um reconhecimento muito forte que as pessoas aqui e em outros países, percebem que há, realmente, um diferencial. Então, qual é um dos pontos focais da minha contribuição? É a expansão. Quer dizer, expansão com o pé no chão. Expansão com qualidade. Foi uma das razões que eu, uma das primeiras coisas que eu resolvi contribuir, foi com um sistema de controle de qualidade. Não havendo só quantidade. Que é um problema hoje da educação do Brasil, né? 98% das crianças na escola. Fantástico. Só que não aprendem. Então, não é grande coisa falar em quantidade, tem que ter qualidade. E isso é uma preocupação muito grande, muito forte no CDI. Então, eu acho que nós temos que replicar. Temos um governo, temos uma metodologia, um modelo de sustentação econômica, um sistema de preparação, um treinamento dos coordenadores pedagógicos, dos responsáveis pela EIC, enfim. Eu acho que os ingredientes estão todos lá para que a gente possa ter esse programa do CDI. Se o governo fosse um pouco mais esperto, ele adotaria a tecnologia a metodologia do CDI nesse país. Mas, como nesse país, cada um quer ser dono do seu próprio governo, ministério _________________, governador não tem e deputado, e não anda nada. Então, eu acho que CDI já demonstrou que pode fazer, como pode fazer e o custo é extremamente baixo. Agora, qual é a nossa preocupação? Uma das preocupações que nós temos? É ______________ da criança que passou pelo processo. Nós temos uma preocupação, ainda não conseguimos encontrar o caminho, mas vamos trabalhar nisso, e fazer um acompanhamento do jovem pós CDI. Ele conseguiu emprego? Onde? Como é que nós podemos ajudar? E aí é que entraria, de fato, o governo, contribuindo e ajudando o estabelecimento com empresas para que pudessem absorver essas pessoas. Ou seja, a cadeia não está completa ainda. Mas é uma preocupação que nós temos. Então são dois aspectos fundamentais do governo. O CDI é uma instituição objetiva, séria, competente. Tem uma metodologia, é replicável. Agora, nós temos dois objetivos pela frente. Um é aumentar a velocidade de replicação e segundo, é encontrar um mecanismo de acompanhar o jovem após a conclusão do curso.
P/1 - Então, esses contribuíram, vamos dizer, os principais desafios para os próximos 10 anos?
R - Para os próximos 10 anos sem dúvida nenhuma. Na minha opinião é replicar isso, buscar uma grande velocidade mantendo a qualidade, e conseguir encaminhar o jovem, após ser submetido ao processo do CDI.
P/2 - A contratação de coordenadores pedagógicos foi um projeto apoiado pela Philips?
R - Foi. Isso é para mim um coisa fundamental, porque está ligado ao tema qualidade. Se você tem um projeto político-pedagógico, ali você tem que ter um disciplinam e é um projeto provado que funciona. Você tem que evitar improvisação. Você tem que ter absoluto controle do conteúdo. O que a gente estava percebendo, é que alguns CDIs mais criativos começavam a derivar. Começavam a querer reinventar norma, porque o pessoal dessa área é muito criativo. Então, nós chegamos à conclusão de que era fundamental que cada regional, e no final, cada EIC, tenha um coordenador pedagógico. E aí, formular uma parcela importante de recursos que nós conseguimos para o CDI. Foi exatamente capacitação e admissão de coordenadores pedagógicos.
P/2 - Dificilmente, o financiador tem uma noção tão clara do projeto que ele está apoiando.
R - Mas precisa ter. Sabe o que é isso?
P/2 - É isso que eu queria perguntar, se é uma qualidade sua, se é uma política de responsabilidade social da empresa? Ao quê se deve isso?
R - O olhar tem uma combinação dos dois. Eu acredito na ética da co-responsabilidade. Para mim, a chave é essa co-responsabilidade. Responsabilidade social já foi vista como filantropia, quer dizer, toma aí e não me enche o saco, faço bem ali à dois orfanatos, à casa de velhinhos e vou para o céu, não é? Depois as empresas começaram a olhar e, realmente a gente precisa contribuir, fazer um processo de seleção e dava o recurso. Um pouco mais profissional a forma de enfocar. Eu só acredito em projetos de responsabilidade social estruturante, quando há uma co-responsabilidade de vários setores. Ou seja, o setor empresarial, o terceiro setor. E, em muitos casos, o governo não o governo com recursos, porque eu não acredito nessa forma. Porque aí é uma outra discussão, mas porque, muitas vezes, o governo tem vários projetos e ele é o dono do recipiente em benefício. Quando a gente fala em um projeto na área da educação, que é um ponto focal da Philips. Eu não sou dono das escolas. São os Municípios e os Estados. Então, eu não posso imaginar um projeto de educação que o Estado não seja parceiro, não é? Então, eu vejo sempre esses três elementos. O terceiro setor, a empresa como elemento de transformação social, porque a empresa está anos luz à frente do governo quanto à gestão, valores e etc. O terceiro setor que é focado, extremamente ágil, que tem uma coisa muito objetiva. Eu gosto muito da agilidade do setor. Embora tenha muito romantismo, e o governo, que realmente é o que mais atrapalha. É lento, é ineficiente, é corrupto. Mas no caso do CDI, o elemento governo, ele é minimizado. E nós
vamos diretamente lá em uma favela, não gosto muito dessa palavra. Em uma comunidade onde a gente pode ajudar a contribuir. Mas o papel do governo vai se importante no contexto de réplica. Você realmente multiplicar, porque tudo no Brasil é por atacado. Não tem nenhum problema no varejo. Tudo é por atacado, tudo é grande. Então, voltando à sua pergunta, eu acredito no conselho de co-responsabilidade. Então, todo o programa da Philips envolve, em geral um processo que a gente chama de inside out. Primeiro nós temos dentro de casa. E depois nós saímos. Então, nós inventamos o CDI dentro da empresa. Então, dentro de cada unidade da Philips, seja um escritório aqui, que seja uma fábrica, você tem uma escola. Para o nosso pessoal de limpeza, para os nossos terceirizados, os familiares desse pessoal. Então, a gente consegue experimentar dentro de casa a realidade dessa proposta. Então, eu tenho já EIC no Chile, eu tenho EIC no México, eu tenho na Argentina, eu tenho aqui no Brasil em todas as nossas unidades. E foi uma forma de nós mantermos a nossa política de também ter dentro de casa a experiência, para você poder, realmente, melhor contribuir. Então, passa pela ética da co-responsabilidade que é uma coisa que eu acredito, e passa pelo conceito Philips que é fazer para incluir. E uma das formas de fazer é você ter dentro de casa.
P/2 - E como isso foi visto assim, porque fazer aqui no Brasil, como foi replicar isso para outros países que não tinham esse conhecimento? Talvez nem existia o CDI ainda, não?
R - Alguns sim e em outros não. O CDI já existia no Chile. Já existia na Argentina, mas não era de conhecimento da Philips. E nós temos uma política de responsabilidade social da região, não é só para o Brasil. Nós temos um foco em educação.
P/1 - Era isso que eu ia pedir para o senhor detalhar um pouco mais.
R - O que é responsabilidade social? Não quero ser professor não, mas é que assim fica mais fácil para vocês. O guarda-chuva é a educação. E aqui eu tenho três pilares. Qualidade na educação. Do ponto de vista de qualidade. Esse é o nosso público alvo: ensino fundamental e ensino médio. Depois, educação para a saúde e educação para o meio ambiente. Quer dizer, nós focamos nesses três pilares. Todos os nosso problemas são 100% encaixados aqui. E o tema CDI está claramente focado no tema de educação e qualidade, quer dizer, se a escola ensinasse informática, não precisava do CDI. Então falta. Há uma carência na escola pública. A maioria quando tem um computador, no fim de semana o pessoal vai lá e rouba. Então, ele se encaixou perfeitamente. E aqui, o nosso conceito é fazer para incluir. E é o processo que a gente chama de inside out. Quando eu desenvolvo um programa na área de saúde, por exemplo, sistema de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, então temos o Doe Vida, que é um programa já no país inteiro. Os nossos voluntários vão para as escolas públicas fazer wokshops com jovens, adolescente sobre problemas de DST. E vários desses programas foram adotados por municipalidades. Então a gente treina os educadores e passa a ser parte do currículo. No meio ambiente, nós temos o Aprendendo Com a Natureza. Nós desenvolvemos toda uma metodologia, um material pedagógico já reconhecido agora pelo MEC, e várias escolas, inclusive no Estado de São Paulo, adotam esse material no currículo para a educação do meio ambiente. Tem um aspecto preventivo. Nosso foco, na realidade, é a criança e o adolescente. É a criança e o adolescente de ensino fundamental e médio, é o adolescente que quando falamos de doenças sexualmente transmissíveis e de gravidez precoce, etc. E é o jovem para quando eu falo em educação para o meio ambiente. Para eu aprender um formato dele.
P/1 - Todos esses projetos são desenvolvidos com parcerias com ONGs, ou tem alguns...
R -
A grande maioria, por exemplo, se eu falo qualidade na escola, eu tenho parcerias com o instituto Ayrton Senna, eu tenho instituto de qualidade de ensino da Câmara Americana, Instituto de Co-responsabilidade na Educação, lá em Pernambuco. Então, nós temos vários parceiros para suportar esse programa. Além das Prefeitura e do Governo do Estado, porque eles são, como eu falei, os donos das escolas. Esses problemas todos, também, são feitos em parcerias com ONGs.
P1 - E essa parceria que, dizer, no caso do CDI, ele envolve qualidade e envolve tecnologia, né?
R - É o tema da isenção social digital que, quando a gente fala no Brasil, em qualidade na educação, o que é que você está falando? Que o jovem se prepare para a vida, mesmo o jovem de classe mais baixa. Eu vou um exemplo aqui para você mais objetivo. Vamos considerar o Ensino Médio. Coloca o Estado de Pernambuco, né? Nordeste, porque eu sou pernambucano. Nós temos um projeto, nós estamos ajudando o governo a escrever um plano estratégico para a educação de lá. Mudar tudo. então, nós temos da primeira à quarta série, nós temos os programas, Se Liga e o Acelera, do Instituto Ayrton Senna. Com isso aqui nós atacamos um problema pontual que é a criança analfabeta na escola e a defasagem de crianças com 13 anos que cursam a segunda série do curso escolar. Então, é um programa de seis anos, 90 milhões de reais patrocinado por 40 empresas aqui de São Paulo. Da empresa Philips. Nós bancamos tudo isso. E então, a gente ataca esse problema de qualidade. Mas é um problema pontual. Há as crianças que são analfabetas e as crianças que são defasadas. Então nós temos que fechar aí nesse. Senão, daqui há seis anos o problema se repete. Por quê? Porque estruturalmente, a qualidade e a gestão da escola é tudo igual. Então, para essa __________ nós temos o Qualiescola. O Qualiescola é um metodologia desenvolvida pela, que é da Panamerica, eu sou presidente do conselho _____________ e aí, nós entramos na escola. Nós terminamos a direção e gestão escolar. Ter uma metodologia de português e matemática para elevar através de treinamento aos professores. Nós qualificamos os professores. E, durante dois anos, formamos multiplicadores. Entramos em uma cidade. Atendemos uma cidade. 40 escolas e entramos com o programa. E a prefeitura se compromete a manter, e etc. E nós fazemos um acompanhamento. Com isso, nós estruturamos. E qual é o passo fundamental? Trazemos a comodidade para dentro da escola. Criamos um conselho com a escola e um membro da comunidade. E eles passam a gerir a escola juntamente com o diretor. Sem esse passo, com o tempo, tudo desaparece. Porque aqui no Brasil, a comunidade não participa da escola. Quinta à oitava série, não existe nada no Brasil, nada de qualidade do antigo ginasial. Nós estamos desenvolvendo, e foi um outro recurso que eu consegui também para _____________, e à partir do próximo ano nós vamos lançar o Qualiescola. Que é um sistema de qualidade, de capacitação do professor para que tenha melhor eficiência nas escolas. Para quinta à oitava séries no país. E o ensino médio. Aqui é uma coisa muito mais séria. Porque não existe problema nenhum da rede _____________ ______________. É uma coisa maluca. Não tem. E nós estamos introduzindo, já começamos em uma escola com uma metodologia totalmente diferente. É aluno em tempo integral, professor em tempo integral e atividades fora de sala de aula de envolvem desde __________ juvenil, elaboração de plano de vida de cada adolescente, cada ano cada aluno elabora o seu plano de vida. Grêmios, desde cultural, jornal, etc. E todos os alunos desenvolvem e o programa de treinamento dos pais. Ou seja, educação você faz com três pilares. Você faz com o professor, você faz com pedagogia e faz com os pais. Os professores nós selecionamos, na rede do estado. Tem com mestrado, tem com doutorado, tem com pós-doutorado. E qual que é o tema? É o sonho de qualquer professor ensinar em uma escola só. Mas o estado está muito mal. Tanto é que estamos fazendo uma bolsa equivalente a 150% do salário que paga o estado. E aí entram as empresas. Esse instituto que eu criei lá, é o arrecadador de recursos que permite patrocinar essa bolsa para os professores. E dar ao professor tempo integral. Nós capacitamos os professores o ano inteiro. Nós passamos o ano inteiro capacitando professores antes de começar o ano letivo. Pedagogia completamente diferente. Ou seja, não só uma escola bem equipada com laboratórios de ciências, tudo. Laboratório de informática, biblioteca de primeira linha, mas todos esses programas de formação do jovem fora da sala de aula. E criando um conceito muito interessante, chamada a Outra Versão, que aluno, na minha época tinha que saber de cada matéria, não é? História, geografia, mas você não consegue, cada aluno _________ na sua _______________. Então, nós temos um dia por semana, aulas dadas por três professores, com quatro professores. Mostrando, por exemplo, que lá no Rio ______________, se coleta água. E aí começa a discussão de ecologia, de geografia. É a parte mais difícil para os pais, porque o perfil de alunos dessas escolas, a média de renda é de dois salários mínimos. Então, em geral, o intelecto dos pais é inferior ao dos filhos. alguns são analfabetos. Não tem importância. Nós estamos treinando os pais com um co-educador familiar. Ele sabe que ele nem precisa saber ler para acompanhar o processo de educação do filho. Cobrança, suporte, uma série de coisas. Então, é um processo que está indo extremamente bem, nós temos a primeira escola esse ano. No ano que vem vamos colocar mais três e depois mais quatro. Então são oito chamados Centro de Excelência do Ensino Médio. Por todo o estado. Petrolina até Recife. E esses centros vão irradiar para o restante da rede. Gradualmente a gente vai. Por que qual é o problema? Nós temos um milhão de alunos matriculados da primeira à quarta. Temos 700 mil no ensino fundamental. Temos 300 mil do ensino médio. Quer dizer, 70% abandonam a escola. Então, nós queremos melhorar isso aqui com cada escola de hoje. Queremos que essa população chegue. Mas aí é um desenvolvimento enorme, inclusive em estrutura. Ter uma estrutura para 300 mil anos, em tempo parcial. Eu quero colocar em tempo integral. Nós temos que dobrar e aumentar o número, aumentar a estrutura. Por isso é que é um desafio. Por isso é que a gente está colocando isso em forma de um plano pra ajudar o estado. Agora, tudo isso está sendo feito no estado pernambucano. Nós estamos criando uma blindagem. Os centros de excelência são agora, unidades autônomas, que tem um conselho gestor, que participam o terceiro setor, a universidade, federação da indústrias, clube diretor de logísticas, ex-alunos, ex-professores, etc. E tem uma institucionalidade própria. Com lei aprovada na assembléia. Para que o governador de plantão não comece a querer mudar tudo de novo. São unidades autônomas que tem um orçamento próprio. O estado, no seu orçamento anual, já sai o recurso direto para a escola, gerido pela direção da escola. Não fica aquele, escola, secretaria de educação, vai e vem, passa tudo no final do ano para atender a lei e não sei o quê. Então, todos esses aspectos jurídicos também estão cobertos, porque o desflagelo desse país é continuidade. Então, isso é parte do processo que nós procuramos fazer naquele contexto de fazer incluir. Ou seja, o objetivo é multiplicar esse modelo e uma vez, Pernambuco adota esse modelo, eu tenho certeza que outros estados como Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas, começam a ver que tem uma coisa diferente. Porque uma coisa vocês tenham certeza. Não faltam recursos para o governo. O recurso é mal aplicado porque eu descobri casos de incompetência para gastar. Eles nem sequer sabiam como gastar os recursos. E daí a corrupção que é o principal mal que tem o país.
P/1 - Essa visão tão clara da responsabilidade social e da política, ela é uma visão da região da Philips sua, da Philips sua? Qual é a construção dessa visão de responsabilidade? Desse fazer?
R - Veja, claro que, educação é o meu xodó. É uma coisa que partiu e é muito pessoal. E nós começamos há uns cinco anos atrás. Com um pouco mais de estrutura, o conceito de responsabilidade social, eu optei por educação. A Philips mundial sempre teve um foco em meio ambiente. E isso já vem de muitos anos. Era a bandeira e continua sendo agora. E eu não acredito em solução que diz que o sapato 42 cabe no pé de todo mundo, né? E as pessoas têm tamanhos diferentes de pé. A demanda social da América Latina ou do Índia, não tem nada a ver com Europa e Estado Unidos. Mas, eu participo do conselho mundial da Philips de responsabilidade social e eu levantei o tema. Porque nós precisamos primeiro abrir o leque e em segundo lugar, cada região, uma vez definidos certos conceitos básicos, a gente não pode partir cada um para um lado. E foi quando eu propus esse trinômio de qualidade na escola pública, saúde e educação. E aí, vários países no mundo começaram a adotar. Quer dizer, a Índia adotou, na Ásia, vários países adotaram esse conselho que nós já havíamos desenvolvido. Claro que na Europa, não faz sentido falar em qualidade da escola pública. Estados Unidos muito menos. Lá tem um detalhe. Você tem alguns problemas muito focados. Imagine alguns bairros de Nova York, que eu conheço, porque eu já visitei escola pública lá, porque é muito mais, porque eu já vi cenas de um professor dar aula atrás de uma grade, né? Porque a turma ________________. Mas, de um modo geral, eu gosto do modelo, ou seja, a escola pública é gerida pela comunidade e o governo entrega o recurso à comunidade. A maior punição da escola, quando ela não funciona, é voltar para ser administrada pelo governo, você imagina? Aqui é o contrário, quando você quer trazer a iniciativa privada para dentro da escola, todo mundo é contra. O sindicato é contra, o PT é contra, o PSB é contra. Porque não, vocês estão querendo minimizar o estatuto. É a mentalidade dos anos 30. Enquanto as pessoas não entenderem que os problemas sociais desse país são de tal tamanho que o governo sozinho não consegue mais resolver, a gente vai ainda continuar perdendo muito tempo em discussão dos tempos. Você não imagina. Nesse caso do ginásio, perdemos um ano e meio por discussão exotérica. Não só com o governo. Com sindicatos, com alguns deputados, denúncia dos Ministério Público que nós queríamos tomar conta da escola. Porque era, ou fazia para todo mundo ou não fazia para ninguém. Como se pudesse assim, criar ____________.
E olha, no final nós superamos tudo. Mas perdemos uma enorme quantidade de tempo preciosos em discussões que não agregavam nenhum valor. Meramente ideológicas ou muito pessoais. Ou o sindicato imaginando que ia perder o poder. E vai mesmo. E vai mesmo, porque ele desvirtuou o papel do sindicato. O sindicato tem um papel importante fundamental para a repercussão de uma classe. Mas o sindicato se tornou em um trampolim para uma carreira política. O pessoal viu a função de presidente de sindicato e diretor e aí depois, a sequência é ser vereador, deputado. Não é esse o processo. E quando chegava na assembléia dizendo que estava lá para defender os professores, não, estavam defendendo a posição deles. Hoje, sabe qual foi uma das reações dos alunos que, com o ginásio, depois de seis meses fizemos uma pesquisa? "Eu não sabia que professor gostava de dar aula". Você pode imaginar um adolescente? Por quê? Porque ele via o professor lá por obrigação. Quando ia. Mal humorado, mal pago, mal qualificado, mal tudo. E não é culpa do professor. É culpa do sistema que não funciona. Então, quando nós pegamos professor, capacitamos, pagamos adequadamente, demos condições, ele não tem que sair pegando três ônibus desesperado para lecionar em três escolas para conseguir o seu salário. Chega às oito da manhã e sai às cinco e meia da tarde. Tem tempo de estudar, de preparar aula. Por exemplo, avaliação de alunos, você sabe como é? É uma avaliação descritiva. O professor tem o seu formulário, aluno fulano de tal, primeiro semestre, pontos positivos aqui e acolá, é um aluno atento, é um aluno que tem deficiências aqui e acolá. Ele descreve tudo. E esse documento é discutido com cada pai. O pai leva para casa. Então o pai sabe. Não é que o filho tirou nota cinco. E aí, o que é que significa nota cinco? Se ele não tem um plano de ação por trás daquilo, não adianta nada. É o papel do co-educador. Então, tudo está interligado nesse processo de pedagogia. Uma nota, que é uma coisa que eu ainda, no início, reconheço que tive dificuldade. "Qual é a média?" "Não, não tem essa história de média" "Como não tem média?". Eu tenho que me reeducar. E depois, me convenci que, realmente, é um processo fantástico.
P/2 - Tomara que esteja sendo tudo sistematizado.
R - Ah, mas está. Sem dúvida nenhuma é um dos trabalhos. São duas principais, né? Quem não mede não sabe de nada. Então você tem que medir e avaliar, né? E quem não registra não tem memória nenhuma. Então, porque quando nós formos replicar isso para um número de 700, então a gente tem que estar com a metodologia pronta. E, a partir daí, a gente vai. Mas sem a comunidade dentro da escola, repito, não adianta. Então quando a gente vai escolher o município de Caruaru. Se não houver um grupo de pessoas que assumam a escola, está fora. Nós vamos fazer a apresentação para a associação comercial, para não sei quem. Chamar juiz, delegado, padeiro, açougueiro, quem tiver interesse no tema. E não é recurso financeiro. Claro que alguns, né? Devem contribuir, também é importante que contribuam. Mas a grande maioria não é isso. É participação. É acompanhamento e cobrança. Cobrar a prefeitura, cobrar o estado. Se alguma coisa for mal, interfere na escola, por exemplo, eu tenho uma fazenda lá perto de Pernambuco. E o prefeito da cidade, eu estava esperando que esse desgraçado perdesse a eleição e de fato perdeu. E ele já mandou avisar que a partir de segunda-feira não vai ter mais transporte escolar para os alunos da zona rural. Porque não votaram nele. Aí você olha, respira três vezes, aí pega o telefone, liga para o governador, secretário de educação, e aperta. Não tem cabimento. Se a comunidade estivesse dentro da escola, isso jamais aconteceria. O pessoal está muito distante. Porque eles são humildes e eles têm medo. Aí tem que entrar o promotor. O promotor tem que estar nesse processo. É aí que o ministério público tem que agir. É aí que eles têm que ter um papel importante. Porque para mim é o único órgão ainda não corrupto dentro desse país. Porque o restante, o judiciário é horrível, né?
P/1 - Como começou, assim, um coisa um pouco mais pessoal, essa sua relação tão forte com a questão da educação?
R - Isso é genético.
P/1 - O quê da sua história?
R - Ah, a minha mãe foi professora primária por mais de 50 anos. A minha mãe se recusava a se aposentar. Ela dizia: "Se eu posso contribuir para formar crianças, por que é que eu vou ficar em casa?". E ela tinha uma adoração por criança que não aprende. Ah, aquela criança não aprende, manda para a Dona Maria. Então, ela tinha essa característica de desafio muito interessante. Então, lá em casa, a gente teve esse tema aí de educação como não só cobrança, mas mostrando que é a direção, isso. Mostrava lá no interior de Pernambuco, família grande e a minha mãe falava: "Quer ser alguém na vida, vai estudar". E ela tinha esse processo. E o meu pai, também muito exigente. E, ao longo do tempo, isso foi se tornando uma coisa praticamente visível para a gente. Se você tivesse uma educação adequada, você poderia crescer. E eu, seguindo essa linha, ao longo de certo período, eu comecei a dar aula. Também um pouco da genética. Eu ainda como estudante, depois ensinei na Escola de Engenharia do Recife depois de formado e tal. Então, eu sempre tive a educação muito perto, muito próximo. E, sendo eu um exemplo de um produto de escola pública que já funcionou, né? Sempre estudei em escola pública. E segundo, essa trajetória só foi possível porque eu tive a oportunidade de ter uma educação de qualidade. Eu falei, olha, eu posso e devo fazer alguma coisa para contribuir. Então, todo o meu enfoque é em educação.
P/1 - É sua história de vida, né?
R -Minha história de vida.
P/1 - Quando a gente, pulando pouquinho da educação para a memória. O que é que o mobilizou para ter esse movimento de apoio a fazer um registro, a fazer uma série de trabalhos dos 10 anos do CDI? Por que é que o senhor acha isso importante, o que o senhor espera? Qual é a sua expectativa?
R - Olha, eu acho que a história, a história da memória, é você medir e você registrar. Eu acho que o CDI, já coloquei isso anteriormente, já se provou, já se provou como instituição correta, séria, tem ambição, objetivos, tem metodologia, tem tudo isso. E 10 anos são um período longo e curto ao mesmo tempo. Longo porque uma instituição sobreviver 10 anos, mostra que tem uma competência. E curto, porque, nessa área, a aprendizagem requer muito mais do que isso. Mas eu acho que, nesse período, nós já temos uma consciência muito grande do que é que nós somos capazes de fazer. E você registrar tudo isso, informar a comunidade de um modo geral. Porque, apesar de tudo, o CDI não é ainda suficientemente conhecido. O CDI precisa ser mais conhecido. Porque eu ainda sonho que essa metodologia CDI seja a metodologia de inserção digital que o Brasil precisa. E que realmente agora, foco é uma das coisas que faltam no país. Todo mundo quer fazer do seu jeito. E eu não estou falando porque eu faço parte do CDI, faço parte do conselho. É porque eu estou, sem dúvida, convencido de que funciona. Funciona como modelo, funciona como gestão, funciona como metodologia. É replicável, é uma questão muito mais de tomar isso em uma amplitude maior. E aí entra o governo, das suas políticas de inserção. Para transformar isso no programa brasileiro de inserção social e digital.
P/2 - Vocês participaram da votação desse projeto também? Assim, da memória do CDI? De uma certa forma influíram também?
R - Então, é super legal para mim. Assim, o Rodrigo fez a proposta inicial. E eu falei: "Olha, eu apoio integralmente, porque eu acho que é fundamental para o futuro do programa, para o processo do próprio CDI. Para que a gente use isso como uma oportunidade, como uma fonte. E registrar a experiência".Recolher