Conte Sua História – Celebração do Sorriso
Depoimento de Filipe Fernandes Pontes
Entrevistado por Rosana Miziara
São Paulo, 09/07/2017
Realização Museu da Pessoa
CN_CB023_Filipe Fernandes Pontes
Transcrito por Mariana Wolff
MW Transcrições
P/1 – Filipe, começar da maneira mais prosa...Continuar leitura
Conte Sua História – Celebração do Sorriso
Depoimento de Filipe Fernandes Pontes
Entrevistado por Rosana Miziara
São Paulo, 09/07/2017
Realização Museu da Pessoa
CN_CB023_Filipe Fernandes Pontes
Transcrito por Mariana Wolff
MW Transcrições
P/1 – Filipe, começar da maneira mais prosaica possível, você pode falar o seu nome, o local e sua data da nascimento?
R – Olha, o meu nome é Filipe… completo, né? Filipe Fernandes Pontes. Eu nasci no interior de São Paulo, numa cidade chamada Ribeirão Preto, e hoje estou aqui, dia nove de julho, São Paulo, 16 graus e muita história para contar.
P/1 – Que data você nasceu?
R – Três de outubro de 1986.
P/1 – Seus pais são de Ribeirão Preto?
R – Ribeirão Preto.
P/1 – Seu pai e sua mãe?
R – Aham.
P/1 – E seus avós?
R – Todo mundo é de Ribeirão Preto.
P/1 – Seus avós também?
R – Todo mundo.
P/1 – Me fala um pouco da origem da sua família. O quê que os seus avós faziam?
R – Meus avós, eles…
P/1 – Paterno e materno.
R – Tá. Os meus avós eram italianos, né, vieram de navio para o Brasil, talvez naquele período de guerras e vieram para o Brasil e aí, a minha avó conheceu o meu avô que também era um imigrante, trabalhava na fazenda e eles transaram no cafezal e como origem teve a minha mãe, né? Minha mãe, que por sinal, conheceu o meu pai num farmácia (risos)…
P/1 – Como que eles se conheceram?
R – Numa farmácia. O meu avô de parte de pai e mãe eram portugueses que vieram para o Brasil para trabalhar mesmo, né? Aí, o meu pai conheceu a minha mãe numa farmácia e dali, eles começaram um relacionamento.
P/1 – Mas como numa farmácia?
R – Bem conturbado, porque a minha vó paterna não aprovava o relacionamento. A velha novela (risos) de época, né? Era assim.
P/1 – Por quê que ela não aprovava?
R –
Porque o meu pai, ele… porque assim, eles começaram vendendo tecido, né, lá em Ribeirão e daí, as coisas foram acontecendo e ele montou uma empresa lá e tal e ele tinha uma boa condição financeira, então, na cabeça da minha vó, minha mãe era apenas uma… queria dar o golpe do baú (risos), porque tinha uma origem mais humilde, tal, a mesma história de sempre, né? Mas não era verdade, né, então hoje tiveram uma família linda, de quatro homens, somos em quatro lá em casa, eu tenho um irmão gêmeo, tá, idêntico a mim, tenho um mais velho e um pequeno que vai fazer 15 anos. Aliás, já tem 15 anos, né?
P/1 – E você mora em Ribeirão até hoje?
R – Não, hoje eu moro em São Paulo, por conta das gravações, os shows e tal. Então, aqui é mais fértil, né, para esse tipo de coisa. Outros lugares não têm tanta relevância, assim, como a cidade de São Paulo, para teatro e tudo.
P/1 – Vamos falar um pouco da sua infância. Como que era
a casa da sua infância?
R – A minha casa? Por ter cinco homens, contando com o meu pai, era bastante bagunçada, né? Por ter cinco homens, era bastante conturbado o ambiente, minha mãe, coitada, eu não sei como que não enlouqueceu, porque era complicado, era muito barulho, muita bagunça, bastante brincadeira. Nós éramos uma família bem felizes, assim, né, de saudável, meu pai sempre muito atencioso, dava bastante carinho pra gente, trabalhava bastante, mas quando ele tava com a gente, era só zoeira. Era bem legal. A minha mãe também, era um lar bem feliz, assim.
P/1 – Que tipo de zoeira?
R – Ah, meu pai entrava na brincadeira, né, a gente pegava umas caixas d’água, enchia de água, era piscina, que eles gostavam de zoar assim, né? Pegava não sei o que, fazia futebol, meu pai ia lá, comprava bomba, a gente soltava bomba, que a casa era grande, tinha um quintal grande, tinha uma… a gente chamava de rocinha (risos), era uma plantação de um monte de coisa e tinha tudo quanto é fruta e o meu pai entrava lá na onda, meu pai gostava de plantar arvores frutíferas, né, e era bem gostoso isso. Os cachorros corriam, e tal. Meu pai, ele foi assim, um pai muito presente. Eu agradeço muito a vida por isso, porque tive muitos amigos que não tiveram esse privilégio e parece que isso faz sentido, né?
P/1 – Tem alguma lembrança da infância que quando você lembra, você sorri ou que era engraçada, que te marcou?
R – Ah, diversas! As nossas bagunças, né?
P/1 – Conta uma história pra gente.
R – Ah, eu lembro uma vez que a gente tava… nós estávamos… eu tenho irmão gêmeo, então, a gente era uma dupla de demônio, mesmo, né? Então, a gente… nossa, bagunçava muito. Minha mãe era sócia lá da diretora, minha mãe não aguentava minha mais na escola. Diretora não aguentava mais, e era engraçado que uma vez, a gente tava no… minha mãe foi num loja, né, oculista, ver óculos e tal e a gente: “Vamos brincar lá no quintal?” “Vamos”, aí a gente deu uma volta assim, a hora que a gente olhou bem o lugar que a gente tava, nossa, era um estacionamento, assim, cheio de carro, né? Aí, tinha uma escadinha: “Olha que legal!”, um pé de goiaba forrado, assim, mas a goiaba tava do lado de lá, só que… as goiaba tudo caía pro lado de cá, né? Sabe quando a árvore tá plantada do lado de lá, mas as folhas vêm tudo pra cá? Falei: “Legal, vamos subir”, subimos. Aí, só que era aquele telhado assim, sabe? Um fininho assim, eu não sei explicar, um forradinho? Subimos. Aí, estamos lá e tal, aí pegando goiaba e tal, aí eu pisei assim e só senti, “rôôô”, aí a hora que eu olhei assim… isso é filme, eu olhei assim, o meu irmão vindo assim, eu falei assim: “Vai dar merda, ele vim aqui vai dar merda”, que eu já tinha sentido o “rôôô”, aí ele veio, pá! Caiu os dois, caiu o telhado inteiro em cima de tosos os carros do estacionamento. A minha mãe só escutou o barulho: “Pow”, maior barulhão, parecia que tinha caído um avião. Aí, ela só fez assim: “É os menino”, ela fez: “É os menino”. O pai teve que pagar todos os carros. Foi o maior prejuízo que eu já dei para o meu pai até hoje, pagou a pintura de tudo, foi um desastre! Parecia filme, mesmo, telhado caiu por cima de todos os carros que estavam estacionados em baixo, assim, foi bem legal.
P/1 – E vocês tomavam bronca, depois?
R – Não, não. meu pai não deixava, minha mãe que era brava, meu pai adoçava tudo, sempre: “Bate nos menino, não, que é isso? Só dá bronca! Não precisa bater”, era bem assim. Antigamente tinha esse negócio de bater, hoje em dia, não tem mais, né? Hoje em dia, não pode. Então, minha mãe, ela… meu pai freava bastante ela, assim, no impulso e tal. mas também, tudo ficava nas costas da minha mãe, né, coitada. pô, quatro homens, cara, dentro de casa! Cinco, né? Pô, é difícil, né?
P/1 – Com quantos anos você entrou na escola?
R – Entrei na escola com seis? Seis anos.
P/1 – Que lembranças você tem desse período da escola, alguma professora? Amigos?
R – Olha, da escola, eu não sei da escola, a escola… engraçado você falar isso, porque foi na escola que assim, da terceira série, eu sofria vários problemas, né? Até a quarta série, decorrente eu era muito quietinho e tal, então eu sofria muito bullying, né, eu era muito zoado na escola e tal. Eu sofri muito com isso. Aí depois, eu descobri o poder da comédia (risos), engraçado isso, né?
P/1 – Quando você tinha nove anos?
R – Dez! Que eu poderia fazer as pessoas rirem, falei: “Nossa, isso é engraçado”.
P/1 – Como que você descobriu?
R – Tava na quarta série e eu… engraçado isso, sabe, nunca tinha pensado nisso, bom essa nossa entrevista. Porque assim, eu tava na quarta série, aí eu descobri que eu… eu imitava as pessoas, né, só que eu era tão pequeno, de discernimento mental, que eu não sabia que isso era engraçado, né? não sabia que isso era engraçado, você imitar alguém. Você não sabe que é engraçado, mas quando eu fazia, as pessoas riam de passar mal. Aí, eu falei: “Nossa, então, eu descobri o poder da comédia, né?”, e dali em diante, juntava o meu irmão, né, a gente fez peças, eu imitava um professor, ele imitava o outro, eu imitava o inspetor, ele imitava o outro, tal… e aí, com o tempo, a gente fazia apresentações na quadra da escola com o colégio inteiro. Então, eu passei de bullying para o líder da escola.
P/1 – E quando que você começou imitar…
R – Por causa da comédia…
P/1 – Com quem você aprendeu?
R – Eu não sei, isso aí é uma coisa que eu olho a pessoa e faço um desenho, assim, do tipo da pessoa e vou treinando a voz, características.
P/1 – Mas você começou sozinho? não teve inspiração de ninguém na infância?
R – Não, não porque com o tempo, né, você vai vendo o tipo de pessoas, né, para imitar, é engraçado isso, porque você olha assim, tem o tipo A, tem o tipo B, tem um tipo C, essa aqui é tipo F, então você vai… é um grupo de… existem grupos, então, dali, você vai…
P/1 – Você lembra de alguma história dessas, da época da escola?
R – Nossa, era muito legal! A gente…
P/1 – Conta uma pra gente.
R – Da época da escola? Olha, eu baguncei muito na escola, muito, mesmo! Só que eu era o tipo do aluno que eu bagunçava, mas eu só tirava nota dez, eu sempre estudei muito, porque eu gostava de estudar. Eu gostava muito de estudar, mesmo! E o meu irmão, não, o meu irmão não gostava, mas eu adorava estudar. E as pessoas não entendiam: “Nossa, o moleque só bagunça, sobe na cortina, explode privada, raspa, faz bomba com borracha, a bomba explode, fede a escola inteira”, eu fazia isso, né? “E só tira dez”, eu dava aula para os meninos: “Olha, é assim que faz”, eu sempre fui muito bom de conta e aí, ninguém entendia, era o maior barato. E aí, uma história legal? Deixa eu pensar. Tem a da… não, eu já falei, né, da bomba no banheiro. Aí, tem várias. Ah, eu sempre fazia pegadinha com as pessoas, né, tipo assim, sabe aquela balinha do… tinha uma balinha na época que chamava Dadinho, lembra um quadradinho de amendoim? Era o maior sucesso essa bala na época, né? E eu tive a brilhante ideia de pegar caldo Knorr e cortar igual e embalar de novo. Aí, eu chegava todo, todo (risos), nossa, eu resgatando umas coisas do baú. Aí, eu chegava assim, aí eu pegava uma verdadeira: ‘Nossa, que delicia, muito boa, sente ó”, aí dava dez segundos, vinha uma menina: “Me dá uma bala?” “Claro, toma”, aí daqui a pouco… [som de vômito]. Eu era bem assim, esse tipo de… eu era um vilão, assim, um bom vilão, pode-se dizer assim, pode-se colocar assim.
P/1 – Nessa época, você tinha alguma coisa assim: “Quando eu crescer, eu quero ser…”? Que ideia que você tinha de profissão pra seguir?
R – Carreira artística, nunca…
P/1 – Quando era criança.
R – Quando era criança? Assim, pelo fato da gente matar o pessoal de rir, né, na escola, todo mundo falava: “Você vai ser artista, vai ser isso, vai ser aquilo…”, mas eu nunca me olhava, não me enxergava assim, né? Mas quando eu era criança, eu nunca tive esse sonho de ser jogador de futebol, eu queria ser piloto de Formula 1, mas aí, também… eu não sei, nessa época… eu não sei, eu não sei. Mas eu sabia que eu seria alguma coisa, que eu faria muito bem e que ganharia muito bem por aquilo. Isso eu sabia que eu seria alguma coisa e seria um destaque, isso aí eu… isso eu sabia, que eu ia fazer alguma coisa muito bem, alguma coisa dentro de mim falava. E você vê que… mas assim, eu sempre tive essa coisa de estudar e tal e foi indo até o cursinho e tudo. Aí no cursinho, o pessoal falou: “Você tem que ser humorista, tem que ser ator” e eu fiz vestibular e passei em todas as universidades federais, aí.
P/1 – Pra quê que você prestou?
R – Prestei Física, gostava muito de Física, até hoje. Amo Física. Aí, abandonei a faculdade, abandonei tudo (risos).
P/1 – Que faculdade você entrou?
R – Entrei na UNESP para fazer Física.
P/1 – Chegou a
cursar?
R – Não, porque aí, eu tava fazendo, teve um dilema tão grande, aí eu passei, uma pressão: “Vai lá fazer”, porque assim, eu fazia muito concurso em Física, essas coisas, né, de Calculo, e o pessoal: “Vai fazer, vai estudar, rapaz, vai…”, só que eu dentro de mim, eu não… “Eu vou tentar, eu vou tentar ser artista, eu quero tentar”, pensei comigo: “Porque se eu morro, a vida é muito curta”, eu cheguei a essa conclusão nessa época, que a vida é muito curta, é um… eu quero tentar, ué, eu não vou morrer amargo, com esse caroço dentro de mim, com essa dúvida: será que eu poderia fazer? Será que ia dar certo? Não, vamos tentar, vamo lá.
P/1 – Voltando um pouquinho, na sua adolescência, como é que foi se formando essa coisa do humor?
R – Então, é o que eu te falei, né…
P/1 – No colégio… no primário, no ginásio você foi saindo desse…
R – Do bullying ao líder da escola.
P/1 – Líder da escola, e aí, o quê que mudou nisso e como é que isso foi se formando na adolescência?
R – Então, na adolescência, eu era uma pessoa assim, que eu brincava muito, realmente, eu tocava o terror, mas eu tinha um foco assim, que muitos amigos meus não tinham, tipo, pessoal saía, zoava, bebia… eu não, eu queria estudar, eu queria… ficava em casa estudando. Sábado à noite, eu tava estudando, tava todo mundo nessa discotecazinha de menor idade, eu ficava estudando. E aí, eu lembro que eu gostava muito de fazer peças, né, eu escrevia peças pra apresentar na escola. E isso fazia muito sucesso, os professores paravam a aula pra (risos): “Não, agora vamos lá…”, era muito engraçado isso, porque eu pegava uma historinha dos bastidores, dos professores, tipo: um cara desmaiou, professor passou mal. Pegava aquela historinha, juntava com todos os professores e fazia a historinha do professor, que era um professor bonitão, né, que as meninas tudo… eu fazia ele desmaiava… criava histórias. e era muito sucesso… muito divertido.
P/1 – Você escrevia e você atuava?
R – É.
P/1 – Seu irmão também?
R – Meu irmão também (risos) tava na brincadeira.
P/1 – Você lembra de alguma dessas que você escreveu e atuou pra contar pra gente?
R – Essa foi demais. Essa daí foi… eu lembro que teve uma que era… que a gente fez, que era do Alex, né? Isso virou um bordão na escola. Tinha a mãe do menino (risos) que ela falava assim: [imitando a voz] “Alex, vamos embora Alex”, a mãe do menino ia buscar ele assim na escola e isso virou o bordão da escola, que a gente fazia: [imitando a voz] “Vamos Alex”, aí eu fazia o Alex que era um menino super tímido, tadinho. E o meu irmão fazia a professora, aí eu fazia a mãe do Alex, fazia o Alex e o meu irmão fazia a professora. Aí, eu lembro que a professora invadiu assim… essa professora não gostava que a gente… era a única: “Por que vocês não imitam aluno que tira dez, hein?”, só que aí, eu tirava nota dez, aí ela ficava sem graça, muito engraçado. Mas eu sempre fui assim, eu sempre fazia brincadeira.
P/2 – Fazia bullying também?
R – Fazia bullying também. Porque a criança não tem essa… eu acho que não tem esse termômetro que o adulto tem. E é uma maldade, né, o bullying é uma maldade, né?
P/1 – Bom, mas e aí? Essa peça… conta mais, você tava imitando o Alex, a mãe…
R – Teve várias. Teve uma que foi muito engraçada também…
P/1 – Encena uma pra gente, conta!
R – Ah tá! teve uma também que foi assim, a Doraci que era uma professora muito legal, e aí, ela… tinha várias histórias, aí tinha uma que ela teve filho, né, aí a gente fez o parto da Doraci, foi muito engraçado, aí ela: [imitando a voz] “Vou ter o filho aqui, mas vocês… vou ficar duas semanas sem dar aula”, meu irmão fazia o parto que era o marido dela, imitava o marido dela, aí eu fazia o bebe nascendo: [choro de criança], nossa, o pessoal manchava de rir, era muito bom. Aí, eu levei isso pra vida, assim.
P/1 – Aí, você chegou na faculdade de Física, você decidiu não cursar?
R – Não. Aí, eu falei: “Vou tentar”, mas tentar, eu tinha certeza que eu ia conseguir, sabe, eu tinha um negócio dentro de mim: “Vai lá que você vai arrebentar, vai conseguir”, eu não tinha o: “Ah, será?”, não, eu tinha certeza que eu ia… aí, dia 23 de março de 2007, eu falei: “Tô indo para o Rio, eu vou estudar teatro lá num tablado, tá?”, falei isso no jantar, assim, em casa, aí todo mundo ria, aí o meu pai falou: “Ah sei, aqui na rua Rio de Janeiro, que é aqui em cima, tá”, todo mundo bem… ninguém me levava a sério. Falei: “Dia 23…”, isso era novembro, ainda, falei: “Ó, dia 23 de março eu vou para o Rio de Janeiro, vou estudar teatro no tablado e vou morar lá, talvez, pra sempre”, ninguém acreditava, ninguém, minha mãe, ninguém. Eles zombavam de mim, brincavam. Só que chegou uma semana antes, eles começaram a ver que… eu fui mesmo, dia 23… escrevi um poema pro meu pai, um poema pra minha mãe de despedida, que eu sabia que era pra sempre, né, eu tenho esse poema até hoje, um poema pro meu pai, um poema pra minha mãe.
P/1 – Como era o poema, você lembra?
R – Não lembro, não lembro. Não lembro, mesmo.
P/1 – Mas aí, você ia prestar a prova do tablado?
R – Não, eu entrei para fazer lá, já tava com…
P/1 – Por que a inscrição não tinha uma prova?
R – Não, era curso livre lá, tinha um curso livre.
P/1 – E quem que pagava? Quem financiava pra você?
R – Meu pai me ajudava, meu pai me ajudava, bastante, inclusive. Só que aí tem o momento triste da história.
PAUSA
R – Daí, eu tava no tablado, aquela coisa toda e aí, teve um episódio, um episódio que marcou a família, né? Que o meu pai tava com uns investimentos e passou por um problema gravíssimo que… crise, né, as lojas, tudo. Acabou que o meu pai ficou quase que perdemos tudo. Aí, ele pegou… eu lembro até hoje, ele pegou, ligou e falou assim: “Filipe, eu não sei, eu acho que não vai dar mais pra você ficar aí, não, tá?”, aí, aquilo pra mim foi um… nossa, aquilo lá foi o fim do mundo para mim. “Não aceito”, dentro de mim: “Não aceito, não vou aceitar voltar para Ribeirão Preto assim, derrotado, o cara não conseguiu, voltou. Ninguém vai achar que foi falta de dinheiro, vão achar que você fracassou. Não aceito isso”. Aí, eu lembro que nessa época, eu fiquei sem dinheiro, mesmo. Fiquei sem dinheiro na cidade.
P/1 – Como que você morava no Rio?
R – Morava num apartamento, como eu tava sem dinheiro…
P/1 – Você morava sozinho?
R – Não, morava no apartamento de um amigo meu. E eu falei pra ele: "Olha, deixa eu ficar aqui no quarto de empregada, eu te pago tanto” “Tá bom” e eu sem dinheiro pra nada, eu só lembro… eu lembro que eu só almoçava, por incrível que pareça, só almoçava, um refeição por dia, eu falava: “Nossa!”, tudo para estudar no Tablado. e aí, eu fui vivendo de milagres, né? Eu lembro que no Tablado, a mulher me chamou pra conversar e falou: “Não vai dar mais pra você ficar aqui”, foi humilhante, foi… a mulher chegou acho que no meio do curso assim e falou: “Não vai dar mais pra você ficar aqui”, aquilo pra mim foi o fim do mundo. Nossa.
P/1 – Porque você não tava pagando.
R – É. Aí, eu falei: “Nossa!”, aí eu não aceitava aquilo, aí eu lembro que como eu fazia imitações, descobriram as minhas imitações e me chamaram pra fazer uma participação no Faustão. Aí, o cachê, 1.500 reais, na época. Era um dinheiro bom, aí eu paguei o curso todo e tal. Aí, eu fui vivendo de milagres.
P/1 – Foi a sua primeira aparição, assim, no público?
R – Foi, foi. Na verdade, foi a segunda, que eu tinha participado no “Se vira nos 30”, aí eu fiz lá uma besteira.
P/1 – “Se vira nos 30”, o quê que você fez?
R – Eu fui imitar lá o pessoal da novela da época que era “Pé na Jaca”, que eu imitava o Murilo Benicio, aquela coisa assim, [imitando a voz] eu imitei o Fabio Assunção também lá fazendo o “Paraiso Tropical”, só que no ganhei nada, não aconteceu nada, só que aí, durante esse período, no final do ano, teve uma repescagem e aí que teve os 1.500 reais, do nada, me chamaram do nada e eu paguei o curso.
P/1 – Onde?
R –
O Tablado que tava atrasado. Paguei o curso inteiro.
P/1 – Mas te chamaram depois do “Se vira nos 30”?
R – É, teve uma repescagem no final do ano, que eram aqueles que não ganharam, os melhores que não ganharam, pra irem no final do ano e eu fui. Na crise danada, sem pagar curso, nada, foi um milagre. Aí, beleza. Aí, paguei o curso e aí, na época, passou-se um tempo e eu continuei nessa situação…
P/1 – Morando no quartinho de empregada.
R – E eu lembro que era um quarto de empregada tão pequeno que a cama não cabia, eu dormia de perna pra cima, só o corpo pra cima, levantado, assim. Dormia assim (risos), dormia de perna pra cima. E aí, eu até me emociono (choro/emoção), até me emociono mesmo, de verdade, porque foi muito difícil (choro/emoção). Eu lembro que eu falei assim: “Não, eu não aceito fracassar assim, não”, eu lembro que eu falei com Deus: “Eu não aceito, vixi, voltar sem nada assim” (choro/emoção). E aí, eu falei do fundo da alma assim: “Não aceito voltar, eu não aceito”, e aí, eu fiz uma participação há muito tempo atrás na “Malhação”.
P/1 – Te chamaram?
R – É, há muito tempo atrás e aí, o pessoal falou assim: “Vem aqui porque o Luciano Huck vai estar aqui, gravando aqui”, e eu falei assim: “Sério?”, nossa, mas num perrengue danado, não nem dinheiro para a passagem, falei: “Eu vou, eu vou ai”, aí cheguei lá, entrei na gravação, tudo e era o Luciano que tava lá. Aí, eu… e o pessoal sabia que eu imitava, que eu fazia imitações, aí eu comecei a imitar: [imitando a voz] “Estamos aqui na Central Globo de Produções com pessoas incríveis, mas ___00:26:13___ pessoas incríveis”, comecei a imitar, o pessoal ria e tal. Quando o Luciano Huck chegou, o Luciano falou assim; “Nossa, o quê que é isso?”
“Ah Luciano, desculpa aí, atrasou a gravação, tinha um cara te imitando e tal” “Quem é? Quero saber”, aí imitei ele pra ele e a mulher do “Vídeo Show”: “Posso gravar?”, gravou. E eu não sabendo de nada, nem tchum pra isso, só que isso passou na televisão, no “Vídeo Show”. E aí, passou um dia, aí a mulher me ligou na sexta-feira e falou: “Passamos hoje a sua brincadeira, nós vamos passar na segunda de novo, porque o diretor quer que passe segunda de novo”, falei: “Beleza, pode passar”. Só que na segunda-feira o diretor da Globo viu, o cara que manda em todo mundo lá, um dos donos lá da Globo, aí ele falou assim: “Vem aqui na minha sala” (risos), só que até então, o pessoal… chegou uma menina e falou: “O fulano quer te ver”, na minha cabeça, eu pensei que era alguém que queria dar parabéns, alguém que tinha gostado, alguém que queria que eu imitasse mais para ele ver, só que eu entrei na sala do cara, não sabia que o cara era o dono de tudo lá. E eu sentei…
P/1 – Você lembra o nome dele?
R – Comi os biscoitos tudo que tava lá… era Ari Nogueira o nome dele. Comi os biscoito tudo lá da mesa dele, lá (risos), tava com fome, tomei o café, eu não sabia que o cara… eu só sabia que ele era muito importante quando eu tava saindo, que ele tinha me dado o
endereço pra mim ir, eu tava saindo, esbarrei com o cara que era o diretor da “Malhação”, da novela: “O que você tá fazendo aqui?” ‘Eu vim falar com o seu Ari, ai” ‘Você veio falar com o seu Ari? Eu não consigo falar com o seu Ari, eu tenho que marcar data, o cara não me atende nunca, como que você…?” “Eu tava falando com o seu Ari”, aí eu “tuuuu”, caiu a ficha. Aí, me deu o endereço para encontrar o Mauricio Shermann que é o diretor de núcleo de humor do Zorra. Aí, eu falei: “Caramba, vamos lá”.
P/1 – Como É que foi a conversa com ele? Você chegou lá…
R – Foi assim, eu peguei o endereço e fui lá. Aí, eu bati lá na porta, só que não tinha cara de Zorra, eu era muito menino, eu tinha muito cara de menino. Aí, eu falei: “Vim falar com o seu Shermann” “Tá bom, senta ai”, aí eu sentei, fiquei esperando, esperando. Aí eu vi que todo mundo começou a trabalhar. Falei: “Bom, alguém chegou”, porque tava todo mundo conversando, daqui a pouco todo mundo começou… a hora que eu olho, vi um senhor… porque eu não conhecia quem era Shermann, ninguém, eu não sabia, nunca tinha visto. Aí, ele chegou e falou… o senhor, né, falou: [imitando a voz] “Oh garoto, muito bem, rapaz. Eu vi você, rapaz”, ele para uns quatro segundos, é muito engraçado. [imitando a voz] “Escuta, oh…” “Filipe” “Filipe, você tem cara de pau?”, falei: “Ah, não sei se eu tenho cara de pau, né?”, menino de tudo eu era, nossa, aí me pegou pelo braço e falou: “Então, vem cá”, e me levou numa sala, estava todo mundo lá, a equipe inteira do Zorra, assim, numa mesa. Todo mundo, todo mundo. Aí, ele sentou e falou assim: "[imitando a voz] “Pode começar aí, começa aí, garoto. Faz o que você sabe fazer”, aí fiz todas as imitações, ele bateu na mesa e falou: [imitando a voz] “Eu vou ficar com o menino”. Aí, pra você ver, nossa, eu fiquei muito feliz. Eu sai de lá, para quem conhece o Rio de Janeiro, isso ficava no Leblon, eu fui da praia do Leblon até Botafogo andando, assim. Liguei para o meu pai e falei: “Pai, olha, consegui”. Foi muito legal. Nossa, muito bom. E assim começou a
minha carreira. Do dia pra noite.
PAUSA
P/1 – Então, como é que foi a conversa com o Ari?
R – Ah tá, o Ari, eu cheguei na sala dele, né, eu não sabia que ele era o bam-bam-bam e aí, ele virou pra mim e falou assim: “Eu vi você, me mandaram o seu vídeo no Vídeo Show, é isso?”, falei: “É isso” “Olha, muito bacana o que você faz, você tem um talento enorme, tudo o que você fizer aqui na Globo você vai fazer bem, novela… só que eu queria te apresentar pro homem responsável pelo núcleo de humor da Globo, que é o Maurício Shermann. Tá aqui o endereço, vai lá e fala com ele ao meu nome, fala que eu te mandei lá”, e foi assim, foi uma conversa bem promissora, assim.
P/1 – E aí, você acabou indo lá e foi contratado? Aí, discutiram o contrato, o cachê?
R – Não, eu… conforme eu te falei, engraçado que do dia pra noite, né? Nossa, mas aquele dia no quarto foi uma revolta, eu tava revoltado, eu me vi naquela situação, sabe, porque assim, quando eu tomava banho, era um quarto de empregada que era metade e tinha um banheiro embutido, um mini banheiro, então, quando eu tomava banho, molhava tudo. E além de molhar, de eu dormir no molhado, aquilo ainda não arejava, mofava tudo as minhas roupas, era um… olha, e eu tava revoltado, eu falei: “Eu não aceito viver assim”, eu ajoelhei e falei com Deus mesmo: “Eu não… faz alguma coisa ai”, chorei sangue pra Deus. “Não aceito viver assim, não”. E aí, aconteceu tudo isso daí. E aí, do dia pra noite, eu tava… só tinha na época, dez reais, que eu só tinha o almoço, só almoçava no dia, do dia pra noite, eu já tinha o salário, já tava ganhando bem.
P/1 – Ganhava bem?
R – Ganhava bem. Eu ganhava muito bem.
P/1 – Aí você saiu do quartinho?
R – Sai do quartinho. Nossa, sai do quartinho!
P/1 – Foi morar onde?
R – Como eu não era casado, nem nada, eu queria economizar, eu fui morar na Miguel Lemos, num apartamento de um amigo meu, um apartamento grandão, uma salona e aí, eu tinha um quarto meu lá e aí, eu morava muito bem, perto da praia, era bem legal. E aí, as coisas começaram…
P/1 – Como é que foi a experiência de trabalhar lá?
R – No Zorra?
P/1 – Como é que foi o primeiro dia, assim?
R – O meu primeiro dia foi incrível! Assim, fui muito bem recebido. Engraçado isso, né, você vê os monstros que você sempre admirou, chegava em você e falava assim: “Pô, seja bem-vindo”, ___00:34:27___ chegava: “Seja bem-vindo”, aí chegava o Nelson Freitas: “Seja bem-vindo”, a Katiuscia Canoro, né, que fazia a Lady Kate: “Olha que bonitinho! Seja bem-vindo”, e tal, é muito gostoso, o Zorra pra mim foi um… o Shermann, era uma bagunça muito gostosa.
P/1 – O quê que você fazia no Zorra? Quem era o seu personagem?
R – Fazia imitações. Tudo quanto é imitação, eu fazia. Satirizava as novelas, passava a novela, eu zoava a novela inteira. Acabava a novela, entrava o meu quadro, fazia o Felix: [imitando a voz], fazia Fagundes: [imitando a voz] “Eu queria conversar com a…”, eu zoava todas as novelas que passava na Globo. Tony ramos foi um sucesso também, que ele fazia o Caminho das Índias e eu: [imitando a voz] “Aribaba, que coisa bonita. Isso que… isso que e olhem a carne da sua preferencia”, era muito legal. [Imitando a voz] No final, você decide. Era muito bom, a gente fazia muita zoeira. E olha, era muito gostoso, o Zorra foi um período, assim… e o ambiente, né? O ambiente era maravilhoso, um passava a mão na bunda do outro, era uma brincadeira, uma zona. E a gente ganhava pra se divertir, mesmo. O Zorra era muito gostoso. E como tudo na vida tem um ciclo, né?
P/1 – Você ficou quanto tempo?
R – Fiquei cinco anos lá.
P/1 – Qual foi a história mais marcante que você viveu nessa época de Zorra?
R – De Zorra? Nossa, eu vivi um boom muito gostoso, que foi na época da “Avenida Brasil”, que foi uma novela que parou o país, foi um fenômeno! Há muito tempo que a Globo não tinha uma novela com esse impacto, né? E eu fazia o Tufão, a gene zoava, fazia o Tufão: [imitando a voz] “Eu não tenho medo da Carminha. Carminha, sua prostituta”, era muito legal, aí eu fazia o Tufão, aí o Rodrigo Fagundes fazia a Carminha, era uma zona. Era muito engraçado. Essa pra mim foi a melhor época.
P/1 – Você imitava a Carminha?
R – Eu imitava o Tufão. Foi a melhor época, a época do Fagundes também, que foi em 2013 que eu fazia o Fagundes e o Felix na mesma cena. Eu gravava um lado e depois eu gravava o outro. E era uma coisa que eu sempre quis fazer, que o Chico fazia isso, né, gravava dois personagens na mesma cena. Ele fazendo com ele mesmo. E o Shermann deixava, eu fazia três personagens falando comigo mesmo na mesma cena. Foi um presente, assim.
P/1 – Você que fazia o seu roteiro?
R – Não, tinha redatores.
P/1 – Quem que eram os seus ídolos, assim, você tinha modelo?
R – Nossa! Chico Anysio, eu me espelhava no Chico Anysio, até hoje, minha referência é o Chico Anysio e no mundo de hoje, né, que essa coisa de personagem tá acabando, né, que hoje em dia é tudo humor espontâneo, humor da realidade, né, do cotidiano, então essa coisa de personagem tá ficando um pouco mais de lado, o que eu acho um absurdo, porque os personagens estão aí, né, no dia a dia, eles existem. E eu imitava o… e o dia que eu conheci o Chico Anysio também foi um dia incrível! Eu não esperava, tava no corredor, sai do estúdio assim, e aí, o Shermann chegou, que tava conversando os dois, né, e o Chico tava mal, coitado e aí, o Shermann falou assim: “Vem aqui conhecer o menino, o menino, vem aqui conhecer o menino”, aí eu cheguei, aí o Shermann falou: “Imita o Tony Ramos ai” [imitando a voz] “Chico Anysio, que coisa bonita, hein!”, aí o Chico: “Nossa”, aí o Chico ficou conversando… nossa, achei aquilo incrível! o Chico ficou lá conversando comigo um tempão. Aí, ele falou assim: “Olha, vou falar uma coisa pra você, você pode imitar as pessoas do dia a dia que você achar engraçado, porque você imitando as pessoas, ninguém vai saber que e imitação, você pode imitar o cara do coco lá que vende coco na praia, ninguém vai saber que é imitação. Foi assim que eu criei a maioria dos meus personagens”. Nossa! Aquilo lá foi… foi muito bacana. Foi muito legal. E várias histórias, assim, de encontrar com ídolos, né, no corredor, assim.
P/1 – Quais outros ídolos?
R – Ah! Eu encontrei Antônio Fagundes, me elogiou a imitação: “Oh, muito boa a imitação”, Faustão também é um querido, foi incrível estar no Faustão, quem mais que eu encontrei? Leandro Hassum também maravilhoso.
PAUSA
P/1 – Aí, você estava lembrando, bom, dessas pessoas que você encontrou que te marcaram…
R –
É, que foi pra mim, assim, uma grande realização, assim, porque você admirar a pessoa e aí, você chega lá e você vê assim, a pessoa do seu lado e eu me continha, né…
PAUSA
R – E aí, você via a pessoa ali, era muito… é porque é diferente na televisão, né, a pessoa é baixinha, chega lá, é grandona. A pessoa é baixinha, chega lá, é alta. E eu via aquelas pessoas assim, falava: ”Nossa!”, era o maior barato.
P/1 – Você ficou cinco anos lá?
R – Cinco anos lá. Fazendo imitações, personagens. E aí, encerrou-se o ciclo, acabou, né? Eu tinha acabado de casar. Casei em 2014…
P/1 – Como que você conheceu a…
R – Aí, eu voltei da lua-de-mel, o cara falou: “Pode procurar outro trabalho pra você”, foi assim.
P/1 – Por quê?
R – Porque eles queriam renovar, não podia mais fazer personagem. Esse humor de personagens, como hoje tem na “A Praça é Nossa”, estão acabando com ele, eu não sei porque também. E aí, ele falou: “Não vai mais poder fazer personagem”, eu falei: “Tá bom”, aí eu sai. Desci as escadas, assim: “Nossa, meu Deus, e agora?”, tinha acabado de casar. Cheio de conta pra pagar. Falei: “Nossa!”, mas eu tranquilo, sou muito tranquilo assim. Eu sei que vai dar certo e aí de lá, eu fui pra Record. Você perguntou como é que eu conheci a minha esposa, né? A minha esposa, eu conheci ela… engraçada essa história, muito engraçado, também, eu era apaixonada por ela e nem o nome dela eu sabia, não sabia nem o nome dela. Tentava adivinhar o nome dela: será que é Mariana,… eu não sabia, eu já tava…
P/1 – Mas de onde você conhecia?
R – Já amava ela, eu conheci ela na igreja. Eu olhava ela assim, falava: “Nossa!”, e aí, o tempo foi passando, né?
P/1 – Qual igreja?
R – Eu vou na igreja, eu sou cristão.
P/1 – Igreja católica?
R – Não, vou na Igreja muito amada pelo Brasil, chamada Igreja Universal. E aí, ninguém botava fé, porque eu era artista e ela uma moça toda certinha, falavam: “Esse menino vai bagunçar a sua vida, sai fora dele”, tal, eu lutei sozinho, sem ninguém. Ninguém acreditava, só eu no relacionamento e eu consegui. Consegui. Aí hoje, estamos casados há três anos, já, feliz da vida.
P/1 – Aí, você saiu de lá e como é que você foi parar na Record?
R – Aí, eu sai do Zorra, aí passou um tempo, passou uns quatro meses, aí de novo, a mesma história (risos), as coisas começaram a apertar, né, aí eu falei: “Nossa, e agora?”, e aí, um cara me ligou do nada assim: “Tô vendo um vídeo eu aqui na internet”, falei: “Legal, bacana” “Pô, o vídeo é muito legal, você arrebentou, tal”, ficou uns cinco minutos falando isso, aí eu falei: “Ah, que bacana” “Porque nós estamos precisando de um cara assim, agora aqui na emissora para fazer um programa matutino que é o “Hoje em Dia”, você tem disponibilidade pra conversar com a gente?”, falei: “Claro, vão bora”, aí num dia à tarde, assim, compramos passagem, eu tava no Rio, vim pra São Paulo, vim pra reunião, aí dali, eu acertei tudo e vim embora, já, contratado. Aí… acertei salário, tudo… e fiquei na Record um ano e meio.
P/1 – Você veio para São Paulo?
R – Vim pra São Paulo, inclusive, aqui do lado, esse lugar tudo aqui me lembra onde eu fiquei aqui, quando eu cheguei na Record. Aí, eu fui para o Legendários, fiquei no Legendários um ano com o Mion, trabalhando com o Mion, pessoa incrível também e do Mion, eu fui pra…
P/1 – O quê que você fazia lá?
R – Fazia imitações, lá eu imitava a Sabrina, que era da Record, pediam para fazer, eu fiz. Foi muito legal [imitando a voz] “Oi gente, tudo bem com vocês, seus lindos? (risos)”, eu imitava ela. E aí, foi legal porque assim, uma imitação que nunca ninguém tinha feito e tal e aí, eu (risos), será que eu posso falar isso? Ah, vou falar. E aí, vinha a renovação pra assinar, aí eu falei: “Nossa, vou assinar”, aí eu viajei para os estados unidos. Aí, eu falei pra moça: “Olha, daqui uma semana eu volto e assino a renovação, tá tudo certo”, aí voltei de viagem: “Tá aqui Filipe?” “Tô” “Vamos assinar, hein”, aí tive um problema, não pude ir naquela semana, aí passou a semana, falei: “Tô indo”, aí tive um outro problema com o negócio da internet dos vídeos do YouTube, tive que ir lá em Santo André resolver, não pude ir. Aí, nesse dia que eu não pude ir, me ligaram da Band, do programa “Pânico”: “Tudo bem?” “Tudo bem” “escuta, você tá na Record?, falei: “Não, não tô”, aí me ofereceram um salário bem legal e aí eu fui pra Band. se eu tivesse assinado, hein! Olha só. E aí, eu fui pra Band, onde eu me encontro agora, no “Pânico”, na Band.
P/1 – E como é que foi essa entrada no “Pânico”?
R – Maravilhosa, né? Foi muito gostoso, foi um programa que eu sempre quis trabalhar pelo tipo de ferramenta que eu tenho, né, que é as imitações, que é a brincadeira e tudo. E tá sendo incrível, tá sendo maravilhoso trabalhar lá, com grandes monstros, né, que eu também admiro muito. E Emilio, muito legal, pessoal e muito… fazem um humor bem diferente, eu tô tendo um pouco de dificuldade porque é um humor diferente, é um outro tipo de linguagem, entende? Não é uma cena que tem começo, meio e fim. O ator tá acostumado a fazer cena: “Me dá a cena ai”: tem que abrir a lata, tem que… você sabe, é mapeamento cênico, é um mapa. Lá não, lá dão o microfone pra você e falam: “A pauta é assim, vamos zoar”, e tal… e é tudo muito real no “Pânico”, entendeu? É tudo muito a realidade, então, por isso que o “Pânico” ficou bem famoso, porque…
P/1 – Você entrou quando no “Pânico”?
R – Esse ano, agora. Faz quatro meses que eu tô lá.
P/1 – Tem alguma história já assim, do “Pânico”…
R – Ah tem, vai passar agora, vai passar amanhã . Eu comi barata… que eu faço o Bear Grylls, né, que é aquele cara da… não sei se você conhece, que é aquele cara que faz assim: [imitando a voz] “Tá perdido no meio do mato, atrás de uma boa história”, eu faço ele, que tá caçando coisa e tal, né? E aí, eu fiz o Bear Grylls, aí me aprontaram uma sacanagem lá, por isso que é legal, porque é o real, entendeu? Não tem como você disfarçar. Estão olhando na sua cara que você de medo de… e eu morro de medo de barata e descobriram. Então, eles fazem pra… eu acho legal isso, eles fazem para sacanear e para ver o real, assim, né, não é cena, você tá vendo o cara morrendo de medo de barata, que lá em casa quem mata barata é a minha mulher e aí, eu fazendo o Bear Grylls, umas baratas de laboratório, assim, desse tamanho, assim, eu tive que comer. Então, é um desafio bem interessante. Fui enterrado vivo, já, com baratas em sacos no caixão. é bem… é gostoso, é divertido, porque é a realidade, né? E o desafio do “Pânico” é o seguinte, eu tô querendo acertar alguma coisa lá, não acertei nada ainda assim, de personagem, que faz muito sucesso, assim, tô atrás de um.
P/1 – Mas você tem contrato de quanto tempo?
R – Tenho um ano para estar mostrando o trabalho.
P/2 – Posso fazer uma pergunta de curiosidade? Qual que você falou que mudou que antes eram assim, piadas de personagens que hoje em dia não é assim? Você podia falar dessa transformação do humor?
R – Sim, é por conta… o humor vem se transformando, né, por causa da internet, essa coisa toda, o humor tá ficando mais cotidiano, tipo, cenas do cotidiano, como é o “Porta dos Fundos”, cenas… essa coisa do personagem, essa alegoria, ela tá ficando um pouco em extinção, né? Não é que tá em extinção, não tá se fazendo tanto quanto antes se fazia, tá caindo em desuso, então é um humor mais de identificação, entendeu? Por exemplo, eu tenho uma conta para pagar, aí eu chego num lugar: “Será que eu podia pagar?” “Não é aqui, não, é ali” “Ah tá” “Não é aqui, não, é ali”… aí, chega ali tem uma fila com um monte de gente com o mesmo problema que você. São Piadas desse tipo, de situações. Piadas de situações, que geram o humor cotidiano, que são essas situações, então o humor tá se inclinando a isso e os personagens estão cada vez mais sendo enterrados, aí, infelizmente. Eu sou um compositor, né, de personagens.
P/1 – Filipe, você pensando na sua trajetória, se você pudesse mudar alguma coisa na sua trajetória de vida, você mudaria?
R – Não, nenhuma. Nenhuma. Eu não mudaria nada, porque hoje eu sou um cara muito feliz, eu sou o cara mais completo do mundo, de ter uma esposa maravilhosa, que é amor mesmo, de verdade, companheirismo, amizade. Tenho a
profissão que eu gosto muito, tenho o meu show que eu viajo o Brasil inteiro com ele.
P/1 – Ah, isso que eu ia perguntar, fora da televisão, você tem algum…?
R –
Eu faço o show.
P/1 – Há quanto tempo?
R –
Há três anos. Quatro anos, desculpa.
P/1 – Como que é?
R – É um show que eu misturo imitação com personagens e stand up. Eu falo dos bastidores da TV e tal, conto histórias engraçadas e faço imitações no meio. Por exemplo, eu falo que… essa história é engraçada pra caramba, que o pessoal ia gravar um especial de Natal do Zorra, né, e tava todo mundo ali, e tal e começou a chover muito forte, mas uma chuva que ninguém entrava, ninguém saía, tava alagando tudo, tava um caos, tava um inferno e o pessoal preocupado, era muita gente, tal… aí, foi todo mundo para o restaurante pra se proteger da chuva, pra proteger o equipamento, que não podia molhar, era muita gente e tinha um senhor que tava parado jantando, ele parou de jantar e ficou do lado da janela olhando a chuva, cheguei perto pra entender o que tava acontecendo, ele continuou ali uns cinco minutos olhando a chuva: [imitando a voz] “Olha que chuva bonita, que chuva do cacete isso”, esse Tony Ramos era muito engraçado, aí os caras deram risada, e essas coisas são tudo verídicas, né, situações do Projac e tal. O dia que eu encontrei o Fabio Assunção, ele chegou pra mim e falou: “Cara, eu não falo assim não, parece que eu vou ter um infarto, eu não falo assim. Eu sou mais calmo, hein”, ele falando assim, comecei quase… quase comecei a rir e aí, esse tipo de… e tá fazendo muito sucesso, assim, graças a Deus.
P/1 – Você já viajou para quais lugares?
R – Brasil inteiro, já.
P/1 – Tem patrocínio, bilheteria, como funciona?
R – Patrocínio, nada. É bilheteria, a gente vai na raça.
P/1 – Você tem uma equipe de produção?
R – Tenho. Eu, a minha mulher, a minha mulher e a minha mulher (risos). Eu e ela na guerra. Eu e ela aí, no Brasilsão aí a fora, aí. Tenho um escritório que fecha os shows, né, que é parceiro da gente, mas quem vai a campo, mesmo, é eu e ela.
P/1 – Você faz uma média de quantos shows por mês?
R – Uns dois. Agora, uns dois. mas na época que eu tava no Zorra, que tava no auge, mesmo, que… porque é assim, auge e tal, aí eu fazia uns oito por mês. Uns oito por mês.
P/1 – Tem algum causo, assim, em alguma cidade, quando você chegou com o show?
R – Deixa eu pensar… rapaz, porque agora, assim, de surpresa. Deixa eu pensar… causo como assim, engraçado?
P/1 – Curioso, o que você achar que tenha te marcado.
R – Ah nossa! tem um… posso contar esse?
P/1 – Pode (risos).
R – É muito engraçado, cara. Tava eu, comecinho de carreira, aí o cara falou assim: “Filipe, bem cá”, num eventasso, assim, muito grande com uma estrutura enorme, foi feito no Costão do Santinho, lá em Florianópolis, um baita de um resort. Aí, me chamaram pra fazer lá a apresentação (risos). Só que assim, era uma premiação de corretores de imóveis, então, estavam as corretoras de imóveis de todo o Brasil lá, do Brasil inteiro e era premiação, que não era uma premiação baixa, era uma premiação alta, o prêmio dos caras, né? A remuneração. Falei: “Nossa!”, e aí, me chamaram. Eu entrei, só que aí, eu não entrei assim, o cara falou: “Olha, Filipe, não entra assim, não”, no ensaio: “Faz o Luciano Huck, aí na coxia que vai todo mundo achar que o Luciano Huck tá aqui, vai ser muito legal”, pior coisa que eu fiz na minha vida, porque como o evento era muito grande, tinha uma marca muito famosa, teria como o Luciano Huck estar ali, então foge da brincadeira você enganou o público e um público enganado é a pior coisa do mundo, que ele vai jogar contra você, depois. Aí, antes na coxia: [imitando a voz do Luciano Huck] “Olha só, gente, incrível, eu só vou entrar se tiver muito barulho”, aí a galera: “Aeeee”, achando que o Luciano tava lá, aí [imitando a voz do Luciano Huck] “Um, dois, três, loucura…”, entrei, aí a galera foi desmanchando assim, olha, foi se decepcionando, frustração. Aí: “Uuuuuuuu”, começaram a vaiar, né, porque eu enganei eles. Aí, eu na anciã de quere consertar, eu chamei um cara da plateia, montei assim: “Vem cá” [imitando a voz do Luciano Huck] “Você. Vem cá, vem aqui”, aí o cara veio e tal. [imitando a voz do Luciano Huck] “Gente, pessoa incrível, olha você tem 30 segundos para fazer dez flexões, dar cinco voltas pela arena e dar um beijo nessa moça linda”, pra consertar, né, tentei fazer. O cara conseguiu fazer tudo isso aí, por incrível que pareça, o cara conseguiu, não sei como. Aí, ele achou na cabeça dele que isso tava armado para ele ganhar, então ele achou que ele era o campeão, o cara. E o cara veio comigo chorando: “Não acredito, quero agradecer…”, o cara chorando de escorrer lágrimas (risos). E aí? Já tava numa M danada, já tinha errado na entrada, já tinha errado agora, um monte de troféu atrás com o nome dos caras e o cara chorando achando que tinha ganhado. Como é que eu faço? Não sabia sair dessa. Aí eu peguei um troféu e dei para o cara. “Tá ai”, e o cara chorava… tal. O cara achou que tinha ganhado. Depois, deu um rolo, mas essa história é engraçada, eu fiquei muito, eu também não sabia, não tinha essa malandragem de cena que eu tenho hoje, né?
P/1 – E hoje, quais são os seus planos para o futuro, seu sonho?
R – Meus planos futuros? Primeiro, quero acertar no “Pânico”, fazer um trabalho bem legal no “Pânico”, depois, eu quero ter filhos, dois filhos. Viajar bastante e continuar os trabalhos que eu tenho feito, aí, no sentido social que eu gosto muito, moradores de rua, presídios…
P/1 – Você faz para eles?
R – Faço.
P/1 – Quais são os projetos que você faz?
R – Presidio é maravilhoso! Presidio, a gente vai visitar os caras que todo mundo abandonou, né? Mulher abandonou…
P/1 – Você faz o quê? Apresentações?
R – Não, é uma coisa pessoal minha, eu vou lá com um grupo de evangelização, a gente vai pegar a Bíblia e falar de Deus para as pessoas.
P/1 – Há quanto tempo você faz esse trabalho?
R – Ah, já faz uns quatro anos. Aí, vai em morador de rua…
P/1 – Quando que você decidiu fazer isso? Como é que foi?
R – Então, porque é assim, eu acredito que quem dá, recebe, né? Então, é uma forma de… é
uma corrente natural da vida, isso, então, você planta o bem, você vai colher o bem. Então, eu acredito nisso, é o que a minha esposa acredita também e a gente vive uma fé que é a fé da Bíblia e que tem me feito muito bem, me salvou dos vícios, eu era um viciado em drogas, hoje eu tô livre.
P/1 – Você era viciado em quê?
R – Cocaína.
P/1 – Quando que você começou?
R – Comecei em 2000 e… 2008, por aí.
P/1 – Quanto tempo você ficou?
R – Ah, eu fiquei uns… 2008… até 2010, mas bem pesado, mesmo.
P/1 – Foi aí que você entrou pra Igreja?
R – Foi. Foi. Mas aí, eu descobri que na igreja… não é a Igreja, né, é a palavra de Deus, mesmo, é a Bíblia, é o Deus dá a Bíblia, não é Igreja, religião, a gente vive uma fé do que tá escrito, só. Não tem Igreja, assim, não. E lá, tá escrito que a gente tem que fazer essas ações, né, e a gente tem feito. Presidio é maravilhoso, presidio é… o cara foi abandonado por todo mundo.
P/1 – Você tem alguma história que te marcou no presídio?
R – Tem, no presídio tem várias. Mas morador de rua é mais forte. Porque o presídio, querendo ou não, ele tem um conforto ali, a gente leva uma Bíblia e tal. Agora, o morador de rua, ele tá no vício, a maioria, 90% e por estar no vício, ele não quer sair. Por mais que você dê uma casa, um colchão, um home theater pra ele, tudo pra ele, ele vai vender aquilo e vai… por conta do vício. Então, ele não quer sair dali, pra ele tá bom. Então, é um combate muito sério, assim, que destrói a vida do cara e leva ele pra morte, mesmo. Eu estive em várias vezes em situações do cara morrer e tal, por conta do vício, mas também trabalho com adolescentes de 11 a 14 anos que têm problemas familiares, também é muito forte, abuso sexual, essas coisas. Isso me alimenta a viver, isso é bom, me faz bem.
P/1 – O que você achou da experiência de contar aqui a sua história de vida para o Museu da Pessoa?
R – Pô, muito legal! Muito legal, vixi, até me emocionei, contei coisas que nunca contei, assim… você conseguiu tirar de mim um fluxo que tava aqui, tava escondido aqui em algum lugar. Foi muito bom. Agradeço, aí. Agradeço a vocês, aí, de verdade.
P/1 – Obrigada.
R – Eu que agradeço.
FINAL DA ENTREVISTA
Dúvidas:
Aí, eu… e o pessoal sabia que eu imitava, que eu fazia imitações, aí eu comecei a imitar: [imitando a voz] “Estamos aqui na Central Globo de Produções com pessoas incríveis, mas ___00:26:13___ pessoas incríveis”, comecei a imitar, o pessoal ria e tal. – Página 08.
Engraçado isso, né, você vê os monstros que você sempre admirou, chegava em você e falava assim: “Pô, seja bem-vindo”, ___00:34:27___ chegava: “Seja bem-vindo”, aí chegava o Nelson Freitas: “Seja bem-vindo”, a Katiuscia Canoro, né, que fazia a Lady Kate: “Olha que bonitinho! Seja bem-vindo”, e tal, é muito gostoso, o Zorra pra mim foi um… – Página 10.Recolher