Memória Petrobras
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Fernando Lemos da Cruz
Entrevistado por Morgana Mazeli e Andréa Farias
Rio de Janeiro, 06 de maio de 2009
Código: MP_COMPERJ_HV009
Transcrito por Keila Barbosa
Revisado por Rebecca de Almeida Santana Silva
P/1 – Fernando, ...Continuar leitura
Memória Petrobras
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista de Fernando Lemos da Cruz
Entrevistado por Morgana Mazeli e Andréa Farias
Rio de Janeiro, 06 de maio de 2009
Código: MP_COMPERJ_HV009
Transcrito por Keila Barbosa
Revisado por Rebecca de Almeida Santana Silva
P/1 – Fernando, queria começar a entrevista pedindo para você dizer seu nome completo, local e a data de nascimento.
R – Fernando Lemos da Cruz, sou carioca, embora só nasci no Rio e depois mudei logo para Niterói, e nasci em 20 de dezembro de 1956.
P/1 – Diz para mim o nome dos seus pais.
R – João Lemos da Cruz, meu pai, e a minha mãe, Maria Alice Lemos da Cruz.
P/1 – E os seus avós?
R – Maternos?
P/1 – Os dois.
R – Maternos... ah, tô dizendo que eu ia esquecer [risos]... Florinda, a minha avó, é que já são falecidos há bastante tempo, né, e Manoel Martins. A minha avó paterna eu não conheci nem meu pai conheceu, porque ele tinha dois anos quando ela faleceu, e Alfredo era o meu avô.
P/1 – E qual era a atividade profissional dos seus pais?
R – Meu pai era comerciante. Minha mãe ajudava-o no comércio e trabalhava em casa também. Não tinha uma atividade, assim...
P/1 – E você sabe um pouquinho da história da família? Você me falou que o seu pai é português, você sabe por que ele veio para o Brasil?
R – Sei, meu pai veio para o Brasil naquela época que lá em Portugal não tinha muita coisa que fazer. Eles eram assim... da área agrícola, né, trabalhavam em fazendas na Serra da Estrela, e pouco trabalho e pouco emprego, vieram tentar a vida no Brasil. Na realidade, o meu pai veio sozinho, meu avô veio antes e ele viajou sozinho... Tinha 11 anos, ele viajou sozinho, a mãe dele era falecida, veio para cá e ficou. Estudou aqui no Brasil, chegou a se formar em contador, mas aí depois ele ficou trabalhando no comércio, ficou comerciante. E da família da minha mãe, os pais dela eram portugueses também, só que eles fugiram de Portugal [risos]. Meu avô, por parte de mãe, ele era de uma família rica e a minha avó, ela era uma pessoa do povo, né, uma pessoa, assim, de classe média, média baixa, e a família dele nunca ia querer que ele casasse com ela. E aí, como eles estavam namorando, ela já estava esperando um filho, estava grávida,
eles fugiram para o Brasil sozinho. E ele abandonou tudo o que ele tinha em Portugal e vieram para o Brasil, tentar a vida no Brasil, começar do zero aqui. Aí a minha mãe, quer dizer, ela foi fabricada lá em Portugal, só nasceu aqui no Brasil [risos].
P/1 – Legal. E Fernando, você tem irmãos?
R – Não, sou filho único. Minha mãe tentou, mas só conseguiu nascer eu.
P/1 – Então, conta um pouco para mim como é que foi a sua infância, onde é que você morava, como é que era a sua casa?
R – Bom, eu sempre morei em Niterói, né. Eu morei no Rio de Janeiro até um ano de idade, nem me lembro dessa fase, né, mas mudamos para Niterói. Bom, até os quatro anos de idade eu morei em casa, me lembro que tinha cachorro, tinha galinheiro, adorava brincar em casa, né. Depois nós mudamos para um apartamento, mas também um apartamento grande, e na minha época de infância você brincava na rua livremente, o trânsito era pouco, a violência parece que a gente não tinha. Então eu adorei, eu tive uma infância que eu considero maravilhosa, eu soltava muito... aqui no Rio é pipa e em Niterói é cafifa, aqui dá um nome diferente. Adorava soltar pipa, né, bola de gude, pião, jogar bola, andar de bicicleta e foi uma infância que eu realmente gostei bastante. Muito legal. Hoje em dia é difícil eu acho, numa grande cidade, né, as crianças terem uma infância assim com tanta liberdade como a gente tinha na época. Até porque os meus filhos tiveram, mas uma liberdade contida, né, mora dentro de condomínio, então dentro do condomínio eles têm aquela liberdade, mas já não... é difícil de fazer isso na rua como a gente fazia naquela época.
P/1 – E dessas brincadeiras aí, das várias que você falou era soltar cafifa a sua preferida? Ou tinha alguma outra?
R – Com certeza. Eu arranjei até uma doença no olho, nos dois olhos, que eu já tive que operar, _________ é uma pelezinha que o médico me falou assim: “É uma doença típica de país tropical quando as pessoas têm muito contato com o sol” e eu acredito que seja do sol da cafifa [risos].
P/1 – Ficar olhando para...
R – Nas férias então era o dia inteiro, né, acabei... Mas a gente jogava muita bola também, a gente tinha time na rua, né, tinha campeonato que a gente fazia entre a gente, andar de bicicleta. Era bastante interessante, divertido.
P/1 – E Fernando, conta como foi é que foi quando foi que você começou a estudar, seu primeiro contato, lembrança da escola.
R – Bom, minha primeira lembrança foi no jardim de infância, acho que com três para quatro anos de idade, me lembro que a minha mãe me “botava” no jardim da infância. Lembro-me que eu chorava à beça quando ela ia embora, eu era muito agarrado com a minha mãe naquela época, ela ia embora e eu chorava. Nos primeiros dias eu lembro que ela voltava, né, e aí ela ficava um pouco comigo, e aí depois eu fui me acostumando, aí foi, aí a gente vai se adaptando, né. Mas também em Niterói, Jardim de Infância, na alfabetização, curso primário, aquele negócio todo.
P/1 – Descreve um pouco para mim da sua escola.
R – Bom, eu me lembro que eu estudava... eu estudei o curso primário no Colégio Brasil, em Niterói, ele ficava no Fonseca, hoje nem existe mais. Era uma área muito grande, era uma área que tinha... o colégio era um colégio rígido, né? Naquela época, na época da Ditadura, você tinha que formar de manhã cedo, cantar o Hino Nacional, Hino à Bandeira, né, aquelas coisas todas, mas era um colégio legal. O colégio era bom e tinha uma área livre muito grande, tinha vários campos de futebol, tinha morro que a gente subia e escalava, tinha... era muito bom. Eu tinha muitos colegas, então era atividade normal, né, de estudar, brincava bastante. A lembrança que eu tenho muito lá do Colégio Brasil era essa, assim, de muitos colegas e muita área, quando você é pequeno até parece que as coisas são maiores do que realmente são. Então aquilo era uma imensidão para mim, pra gente, né. Era um Colégio legal, bacana.
P/1 – E você, tem alguma lembrança de alguma coisa que aconteceu na escola que tenha te marcado?
R – Bom, no jardim de infância que eu chorava nos primeiros dias, isso daí eu lembro até hoje. Depois, já no curso primário, eu me lembro que eu quebrei a cabeça uma vez, eu estava correndo, brincando de pique, aí esbarrei num outro menino lá, eu bati numa quina, aí abriu aqui [risos] e eu tive que ir para o médico. Na.... tem um... nesse Colégio, antes do Colégio Brasil, eu estudei no Colégio no curso Marília Matoso, ficava ali no Ingá, também em Niterói. Isso daí até a alfabetização, até o segundo... a primeira série e a segunda série, depois eu fui para o Colégio Brasil. Uma coisa que me marcou é que nesse Colégio, nessa época, quem fazia bagunça, né, alguma atividade assim não muito adequada, eles botavam de castigo num quarto escuro. Um absurdo esse negócio. Era uma sala escura, tipo um porão que tinha assim e deixava a criança lá dentro [risos], de castigo. Aí eu me lembro disso até hoje, eu por um bom tempo eu tinha medo de dormir totalmente no escuro, de repente vem daí.
P/1 – Você passou muito tempo nesse quarto escuro?
R – Algumas vezes [risos]. Não, eu não era muito bagunceiro, não, mas toda criança, né, sempre tem seus momentos, assim, de bagunça, né. E eu me lembro de troço que me marcou. Eu me lembro disso aí até hoje.
P/1 – E das matérias, Fernando, o que você mais gostava de estudar?
R – Olha, eu me lembro que português eu odiava, matemática eu gostava, geografia acho que talvez fosse a matéria que eu mais gostava. Gostava muito de geografia. História eu não podia gostar, porque História... eu gosto de História hoje, mas na minha época eu não gostava de história, porque na época da Ditadura a gente não estudava história, decorava data e fato: aconteceu isso em tal data, fulano fez isso e acabou, parava por aí. A gente não tinha... você não entendia o conceito, não conseguia entender realmente o que tinha acontecido, não existia a vontade de ninguém ensinar isso daí, né, não era recomendado [risos]. Então eu odiava história porque eu ficava decorando e eu detesto coisas que decore. Mas hoje em dia eu até leio livros de história do Brasil e acho interessante. Hoje eu gosto, mas naquela época talvez geografia e matemática eram as matérias que mais gostava mesmo.
P/1 – E teve algum professor que foi mais especial, assim, na sua história?
R – Olha, embora eu não gostasse de português, tinha uma professora de português, a Terezinha, que era o nome dela, que uma vez , no início do ano assim, ela escrevia frases no caderno de cada aluno e ela escreveu uma frase no meu caderno que eu guardo até hoje, e eu acho que isso é verdade, e ela botou assim: “Querer é poder.” Se você quiser alguma coisa, quando você quer realmente, você vai conseguir. Isso daí é uma coisa que me marcou, ela escreveu no meu caderno e aí eu tinha... foi no curso Marília Matoso, acho que eu estava na segunda série. Não, foi no Colégio Brasil, na terceira ou quarta série do primário. É uma coisa que me marcou e eu guardo até hoje. Eu tenho isso como uma verdade para mim.
P/1 – E você acha que já dessa época os seus estudos te influenciaram para a atividade profissional que você tem hoje?
R – Não, não. Uma coisa interessante, né, eu cheguei a essa carreira de engenheiro e eletricista primeiro porque eu gostava, inicialmente eu estava entre odontologia e engenharia. Eu queria fazer carreira de dentista, que eu achava legal, só que eu não consigo tratar de ninguém que esteja com dor, passando mal, sangue, essas coisas assim, o primeiro a desmaiar vai ser eu, né. Falei: “Então, pô, como é que eu vou fazer isso?”. Nessa carreira da área médica eu já comecei a abandonar, então: “Vou para Engenharia.” Aí papai tinha uma loja, né, ele era comerciante e aí às vezes eu ficava lá na loja, ajudava um pouco, ficava lá com ele, coisa e tal, não sei o que lá, e tinha um rádio daquele rádio à válvula, velho pra caramba, que o rádio toda hora dava defeito, toda hora dava choque, aí eu levava choque naquele rádio e eu tentava consertar, mexia, normal, vira e mexe eu levava um choque. E eu estava começando a ficar intrigado com aquilo, aí falei: “Pô, vou fazer engenharia elétrica [risos] para entender melhor isso aqui.” Acho que saiu daí, entendeu? [risos] Começou por aí [risos].
P/1 – E agora Fernando, eu queria conversar um pouco sobre a sua época da juventude, assim, do seu grupo de amigos: quem era, eram da escola, da rua?
R – Tinha algumas pessoas da escola, né, que moravam perto, mas a maioria era o pessoal da rua mesmo, né. Tinha amigos assim, quando eu era bem novinho, eu tinha uns amigos, tinha um amigo que era o ______ Cláudio, até nunca mais tive o contato com ele, que ele, na época ele morava em Tribobó e Tribobó naquela época lá era... ele morava num sítio, hoje em dia é uma cidade, naquela época morava num sítio, o pai dele era médico, né, e inclusive o pai dele era o meu médico alergista, foi aí até essa coincidência que o pai dele já era o meu médico e eu comecei a estudar com ele e aí coincidiu uma coisa com outra. E às vezes, normalmente em final de semana, no sábado eu ia pra casa dele. A casa dele tinha piscina, tinha cavalo, que a gente andava a cavalo, né, então, a gente às vezes passava o dia. Era um grande amigo meu que eu tinha lá, e às vezes ele ia lá pra casa também e tudo, então era um grande amigo que eu tinha. Mas isso mais na época de ginásio, né, mas aí depois, mais velho um pouco aí tinha aqueles amigos de perto de casa, de jogar bola, de sair à noite para festinhas, essas coisas assim.
P/1 – E essas festinhas aí que vocês iam eram como?
R – Festinhas, a gente nunca era convidado, né. A gente nunca [risos]... e naquela época a gente combinava assim, tinha uma esquina lá que a gente se reunia de dia de sábado e cada um trazia as novidades: “O que tem pra fazer hoje?”, “Ah, hoje tem festinha não sei onde” “E vamos em qual?” “Vamos nessa.” A gente nunca era convidado, em algumas conseguíamos entrar, outras não, às vezes entrava em uma e estava ruim, aí ia para outra. Era assim. Na época tinha baile também que às vezes... mais tarde a gente ia pra baile, né, em Clube, com conjunto... essas coisas. Essa atividade normal: praia, né. A minha juventude foi... conseguia fazer bastante coisa, me divertia assim com os colegas, né: ia a baile, ia à festinha, ia à praia, jogar bola, andava muito de bicicleta, adorava andar de bicicleta, eu ando até hoje, né. Eu gosto de bicicleta.
P/1 – E agora, Fernando, você até já contou um pouco como é que foi que resolveu que ia fazer Engenharia Elétrica, mas havia na sua família alguma expectativa que você seguisse uma determinada carreira?
R – Havia. Era o sonho do meu pai e da minha mãe que eu me formasse em qualquer coisa, mas que eu me formasse. Isso aí havia. Não havia aquela cobrança, né, mas havia a expectativa.
P/1 – De que você tivesse, de que você fizesse um…….
R – Tivesse um nível superior, qualquer curso [risos] eles queriam que eu fizesse.
P/1 – E quando você por fim escolheu Engenharia Elétrica, você já tinha uma expectativa assim, de carreira futura, o que você imaginava?
R – Não, eu simplesmente escolhi porque eu... me deu... achei interessante, né, essa área de engenharia. Eu estudava... eu sempre estudei ali, sabe que é você estudar o mínimo possível para poder passar de ano? Até no vestibular eu fui assim, só foi cair a ficha assim na faculdade, entendeu? Até o vestibular você estudava aquele mínimo possível para passar e passou tá bom [risos]. Mas eu... gostava dessa área técnica, desta área tecnológica, né, e estava na época entre engenharia civil ou elétrica ou mecânica. Eram as três assim que eu estava mais em dúvida. Química, eu nunca gostei de engenharia química, minha esposa é engenheira química, trabalha na Petrobras também e eu detesto engenharia química, detesto química, né. Aí eu acabei optando por elétrica mais por... influenciado lá pelo tal rádio que eu tentava consertar e levava choque, mexia no _________, tinha hora que eu conseguia consertar e tal, mas deve ter sido por aí. Aí comecei a me interessar, né, a olhar o que era o campo de trabalho da engenharia elétrica, quais eram as atividades, comecei a me interessar e eu achei interessante e segui essa carreira.
P/1 – E Fernando, quando que o trabalho entrou na sua vida?Foi só depois de formado ou antes você já trabalhava?
R – Eu, quando... foi em que época isso? Eu quando terminei... ah, eu esqueci de dizer esse detalhe: eu, quando terminei o ginásio, o meu pai, umas das frustrações da vida dele é que ele queria ter sido piloto de avião ou da Aeronáutica, alguma coisa desse tipo. Aí ele queria que eu fosse da Aeronáutica. Aí começou a falar comigo, começou a conversar comigo, me influenciou, me botou num curso preparatório para fazer prova pra oficial da Aeronáutica. Aí eu fui, né, mas eu estava vendo que aquilo ali não era a minha praia, eu estava vendo que não... Eu comecei a fazer esse curso e tal, fiquei quatro, cinco meses fazendo esse curso e falei para o meu pai: “Eu não... não dá, esse negócio de ser militar, de ser oficial da Aeronáutica, não é comigo.” E aí, quando eu parei de fazer o curso, não deu para continuar as atividades. Aí eu trabalhei esses seis meses; ele tinha um amigo lá que tinha um laboratório, vendia medicamentos. Então eu trabalhei esses seis meses nessa... é uma distribuidora de medicamentos que eles distribuíam medicamentos para a farmácia. Então a gente fazia toda a contabilidade: o que chegava, o que saía, aquele balanço do tipo de um controle do almoxarifado. Então eu trabalhei seis meses nisso daí. Aí no outro ano voltei aos meus estudos normais, aí trabalhava às vezes lá na loja do meu pai, assim, ajudando, mas poucas. Às vezes ele tinha que sair e resolver alguma coisa, minha mãe não podia ficar e eu ficava lá, aquele tempinho assim: “Ah, fica uma horinha aí enquanto eu... daqui a pouco eu volto.” Mas era uma coisa assim, esporádica. Depois só em estágio mesmo. Trabalhei em estágio, já na... fiz estágio na área de engenharia elétrica e quando eu me formei, eu comecei a trabalhar.
P/1 – E nessa época em que você estudava, e até aí, antes trabalhava nessa empresa, a Petrobras já era uma...
R – Não. Eu, a Petrobras [pausa]. Bom, o que aconteceu: eu me formei em 1980 e eu fazia um estágio no Arsenal de Marinha, aqui do lado, né. Eu fazia um estágio no Arsenal de Marinha e eu tinha uma chance de trabalhar grande lá, na área que eu estava trabalhando no Arsenal de Marinha era uma área de projetos lá e eles estavam aproveitando estagiários, estavam aproveitando pessoal. Eu tive uma chance grande e veio uma crise justamente nessa época, só o Arsenal de Marinha acho que eles demitiram mais de 2 mil pessoas e não aproveitaram nenhum estagiário. Aí eu fiquei [risos]... falei: “Fiquei desempregado.” Aí, em... quer dizer, eu sabia que eu não ia conseguir mais nada lá e aí em 1980 mesmo, um colega meu, que também era formado em engenharia elétrica, ele se formou seis meses antes de mim….não, um ano antes de mim e ele fez prova para a Petrobras, para engenheiro de produção. Só que engenheiro de produção não é esse engenheiro de produção que existe hoje na Petrobras, é o engenheiro de produção antigo, que agora acho que a gente chama de engenheiro de petróleo, é o pessoal do AIP [Acordo de Individualização na Produção] né. Antigamente era engenheiro de produção, era Processo de Processamentos e Engenharia de Produção, então é aquele engenheiro de petróleo. É o pessoal que trabalha na área de exploração e produção de petróleo. Você fazia um curso na Bahia de um ano. Aí eu fui conversar com esse colega meu, o Walberg, né, que ele está até hoje no AIP: “Walberg, como é que é isso daí na Petrobras, trabalhar nessa área de produção de petróleo?” Ele falou assim: “Pô Fernando, você é igual a mim, né, fez engenharia elétrica, esquece. Você não vai mais ver eletricidade, você vai fazer um curso de petróleo de processamento de petróleo, de extração, de exploração de petróleo, mas eletricidade mesmo você não vai ver mais nada.” E isso me frustrou um pouco, porque, eu falei: “Eu queria trabalhar com eletricidade, né.” E naquele ano, o único concurso que tinha aberto para a Petrobras era nessa área ou na área de processamento para engenheiro químico também. Ai eu falei: “Pô, não gostei muito não.” Fiz a prova, não estudei, fiz a prova por fazer, não passei, é claro, mas eu também não fiquei muito frustrado não, porque eu tinha feito a prova mais para ter um conhecimento de como era a prova e comecei a trabalhar num Estaleiro lá em Niterói, a CEC Equipamentos, que pertenceu ao Grupo Estaleiro Mauá. A gente fazia equipamentos para navios e começamos a trabalhar fazendo módulos de plataforma para a Petrobras. Foi aí que a Petrobras começou a aparecer realmente, eu trabalhando numa área em que eu gostava, eu trabalhava na engenharia elétrica montando os módulos de plataforma para a Petrobras. Eu já namorava a minha esposa...eu namorava não, a gente casou em 1983. Isso, a gente casou em 1983, a minha esposa se formou e aí ela não tinha emprego também, foi fazer uma pós-graduação em Programa de Álcool que começou naquela época, né, que era o Pró-Álcool. Aí veio uma prova da Petrobras para engenheiro de processamentos, engenheiro químico, e aí ela fez, passou. Ela passou na Petrobras primeiro do que eu, ela passou em janeiro de 1983. E aí, eu continuei trabalhando lá no estaleiro. Aí quando chegou no meio do ano, veio uma inscrição para a Petrobras para trabalhar na engenharia de equipamentos. Aí ela me explicou: “Não, Fernando, estuda que vale a pena, a Petrobras é assim, é assado, tem esses benefícios que aí fora não tem, não sei que lá e tal.” Aí eu estudei bastante, né. Foi aí que eu passei nessa prova, entrei, mas aí entrei na área que eu queria mesmo que é a área de engenharia elétrica, de equipamentos, entendeu?
P/1 – E que função você exerceu inicialmente?
R - Engenheiro eletricista mesmo, na área de manutenção, né. Comecei a trabalhar na Plataforma de Enchova, na época eu morria de medo de andar naquele helicóptero lá em 1983, na época tinha tido muitos acidentes, né? Eu trabalhei uma época em terra, eu fiquei em Macaé, na época a gente não tinha filho, aí eu trabalhei em Macaé em terra, e era muito ruim, ficava de segunda a sexta em Macaé. Você é casado de novinho, ficava de segunda a sexta em Macaé, final de semana vinha prá casa e ficava nessa vida. Fiquei uns quatro ou cinco meses nessa vida, aí depois eu comecei a embarcar na Plataforma de Enchova, aí ficava 15 dias embarcado e 15 dias em casa. E aí chegava em casa e minha esposa trabalhando, meus colegas todos trabalhando, não tinha filho, não tinha o que fazer. Aí, enfim, ficava vendo televisão, naquela época nem televisão a cabo tinha, né, [risos] era só canal aberto. Aí um dia ia à praia, outro dia ia pescar, outro dia ia ao cinema, aí no sexto dia acabavam as atividades e o que eu vou fazer? Aí eu comprei um Atari, né, um vídeo game. Na época era Atari, né, ficava jogando vídeo game e fiquei viciado naquele negócio, falei: “Pô, tô de de saco cheio desse negócio aqui.” Aí eu comecei a tentar e falei: “Ah, vou ter que sair dessa vida de embarcar, porque esse troço pra mim não vai dar certo, não. Não é o tipo de vida que eu quero, não.” Aí eu comecei a correr atrás, ver se eu conseguia uma permuta tudo, até que eu consegui uma permuta com um engenheiro, que ele era da sede, ele foi... ele era do abastecimento, ele foi para a Bacia de Campos, eu fui prá Reduc [Refinaria Duque de Caxias] e uma pessoa, que é o Mauro, que era da Reduc, veio para o abastecimento, e essa foi uma triangulação. E aí, foi aí que eu vim pra Reduc, aí fiquei trabalhando na Reduc também na área de manutenção. Eu fiquei 17 anos na Reduc, foi o local em que eu fiquei mais tempo.
P/1 – Aí desses 17 anos lá da Reduc, tem alguma história para contar?
R – Ah, tem muitas. Tenho até uma saudade muito grande de... embora o trabalho fosse pesado, né, porque é a área de manutenção e operação. Eu trabalho na sede, né, terminou aqui quatro e meia, cinco horas, daí às seis horas você vai para casa, e aí você trabalha numa refinaria, na área de manutenção ou operação e você tem uma função de engenheiro e depois eu fui gerente lá também, aí você tem bip, né, naquela época não tinha nem celular, mas tem bip, né, tinha telefone em casa e tudo, e qualquer problema que acontecia, você era chamado de noite, você era chamado de final de semana. Às vezes no final de semana você estava muito bem em casa, fazendo um churrasquinho, teu telefone tocava, eu me lembro disso, eu chegava até arrepiar, né. Dava aquela arrepiada, será que eu vou ter que... aconteceu alguma coisa e às vezes acontecia, e você tinha que voltar, tinha que ir para a refinaria. Mas o ambiente de trabalho era muito bom, né, e trabalhar com o pessoal assim, eletricista, com mecânico, todo eles têm muita história, você cooperador, você... é um trabalho mais descontraído, eu acho que o trabalho aqui na sede, né, o pessoal fica cada um na sua baia, né. Cada um tem o seu trabalho e tudo assim, e tem alguns momentos de descontração e tudo, mas eu acho que numa unidade assim, você tem... até porque você fica isolado de tudo ali, eu acho que você cria um vínculo de amizade maior e tem mais descontração para trabalhar. Eu achava o ambiente de trabalho muito bom, muito bom mesmo. Não que aqui não seja bom, o ambiente que a gente trabalha é bom, mas é que a Sede num todo é um pouco diferente, né. Não é especificamente aqui, já trabalhei em outros lugares da Sede, lá no abastecimento, mas é que o ambiente é diferente mesmo, né, mas é um ambiente assim, que cada um fica na sua, não... Lá é uma descontração, um brinca com o outro, conta piada e tal. Já tem uns casos lá que as pessoas um encarna no outro, né. Então... mas o trabalho... embora o trabalho seja mais pesado, mas o ambiente é muito bom de trabalho. Eu acho bacana.
P/1 – E aí, depois que você saiu da Reduc, você foi prá onde?
R – Eu saí da Reduc, né, nessa área de ... trabalhei muito tempo na área de manutenção, quando eu saí da área de manutenção que eu fui descobrir como a área de manutenção é ruim [risos]. Eu falei: “Pô, você trabalha num lugar onde você está sempre devendo, onde você tem sempre compromisso com aquela rotina pesada do dia a dia.” E eu fui trabalhar na área de empreendimento, na Reduc mesmo, e me identifiquei muito com essa área de empreendimento, gostei de trabalhar nesta área de projetos, de empreendimento, né. Achei interessante você começar a trabalhar num empreendimento onde você vê aquela coisa ali nascendo e crescendo e tudo, e você depois você vê a situação ali, aquilo está dessa forma, eu participei disso daí, né, eu lutei pra ficar dessa forma e tal. É interessante. Eu comecei a trabalhar nessa área de empreendimento da Reduc, me transferi para o abastecimento Sede, para a área de empreendimento. Estava há seis meses trabalhando lá na Sede e quando eu saí... quando eu estava na Reduc eu era gerente de manutenção da área elétrica, aí quando eu saí da Reduc para vir para a Sede, eu... a Reduc não queria me liberar, aí eu falei: “Meu Deus! Meu tempo de Reduc esgotou, 17 anos acho que eu já tinha que sair.” E saí. E eu saí, mesmo sem função gerencial. Vim para Sede como engenheiro, para trabalhar como engenheiro mesmo no abastecimento. Fiquei trabalhando lá seis meses como engenheiro, eletricista também, mas aí já é uma atividade ligada a empreendimentos, né, não é mais uma atividade na área de elétrica. Aí estava há seis meses trabalhando na sede, veio um convite do Cenpes [Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello], porque eles estavam precisando de um gerente de manutenção no Cenpes que tivesse experiência de manutenção. Eles queria “botar” uma pessoa com experiência em manutenção de refinaria que eles nunca tinham tido lá, só uma pessoa... Aí veio um convite, aí eu voltei para a área de manutenção no Cenpes [risos]. Falei: “Pô, agora que eu já tinha me livrado disso.” E voltei prá lá. No Cenpes é mais tranquilo que a refinaria, bem mais tranquilo. Aí fiquei no Cenpes, trabalhando lá um ano e pouco nessa área de manutenção e surgiu o projeto de ampliação do Cenpes, o Cenpes 2, e eu fui o primeiro coordenador desse projeto, lá do Cenpes 2. Eu comecei a trabalhar nesse projeto. Fizemos um concurso, entre quatro arquitetos, buscamos aí quem seriam os quatro arquitetos mais renomados do Brasil. Chamamos o Niemeyer, mas o Niemeyer não participa de concursos [risos]. Participou na época lá acho que foi o Ruy Ohtake, o Zanettini, que ganhou, o Roberto Loeb, e mais um outro que eu me esqueci agora. Foram quatro projetos, né, foi bacana... Desenvolvemos quatro projetos, né, fizemos um memorial descritivo com tudo o que a gente queria no Cenpes. O Cenpes, ele é... o Cenpes é interessante; quem não trabalha no Cenpes, acho que falta uma divulgação do que é o Cenpes. Eu, por exemplo, conheci o Cenpes, a engenharia básica do Cenpes, que é o que a gente tinha contato. Cenpes tem muito mais coisa... a área de pesquisa do Cenpes é fantástica e a gente que trabalha na Petrobras não conhece. É uma pena realmente isso daí, porque o Cenpes é fantástico. E a gente, né, fez um memorial descritivo com todas as necessidades que tinha lá no Cenpes 2 para poder desenvolver o projeto, como a gente queria o projeto, né, que ele... com as características ambientais, que o Cenpes tem que ser o exemplo da... um projeto ecologicamente correto, né, e aí fizemos toda essa descrição e os arquitetos prepararam o projeto, tanto o projeto no papel como a filmagem, uma maquete eletrônica e uma maquete mesmo física, que ficou exposta lá no Cenpes algumas semanas. Depois a gente criou uma comissão para decidir qual seria o melhor projeto composta de pessoas notáveis do Cenpes, né, e convidamos também a Professora, esqueci o nome dela agora, mas ela era a coordenadora da carreira de Arquitetura na UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro], que também participou da comissão, e elegemos o projeto e está sendo constituído lá agora. Aí depois saí e vim para a área petroquímica, quando eu cheguei a trabalhar nesse início do projeto lá, até eleger o projeto que é esse projeto vencedor lá, que é o do arquiteto Zanettini, trabalhei mais um pouco, aí depois vim para a área petroquímica para trabalhar aqui.
P/1 – E na área petroquímica já foi ligada ao Comperj [Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro] a sua atuação?
R – Não, na área petroquímica eu acompanhava alguns projetos de ampliação da aPQU, também eu acompanhava... e eram dois projetos: o projeto de Ampliação da aPQU e o Comperj. A aPQU é a Petroquímica União de São Paulo, né, e o Comperj, que na época era o UPB, Unidade Petroquímica Básica. Na época, no Comperj ou na UPB, só tinha o engenheiro Vitor, né, o Vitor Paes, que ele era um coordenador de projeto, e era uma estrutura matricial, porque na realidade as pessoas que trabalhavam para a UPB, elas trabalhavam nas gerências normais existentes e tinha aquela atividade também em relação ao UPB. E a minha função era também trabalhar nessa área de equipamentos ligada a UPB. Aí comecei a trabalhar ali e aí quando estruturou a primeira gerência do Comperj, a primeira Gerência Geral do Comperj, aí o engenheiro Vitor me convidou para trabalhar no Comperj, trabalhar nessa área de equipamentos e serviços, aí que eu entrei na Gerência de Equipamentos e Serviços e fiquei até março passado.
P/1 – E aí, quando foi que você começou a trabalhar no Comperj?
R – Foi em 2005, desde 2005.
P/1 – Então a gente vai dar só uma paradinha ...
[pausa]
P/2 – Você chegou no Comperj em 2005.
R – É, 2005.
P/2 – E como é que foi essa chegada? Quais foram os desafios que você teve, qual foi a sua atribuição principal, o que era realmente o seu trabalho, o que você tinha que fazer?
R – Bom, na época a gente começou a fazer a primeira estrutura do Comperj, eu me lembro que era o gerente de equipamentos e serviços e eu tinha uma pessoa que trabalhava comigo, contratada, o Paulo Leite, né. Um dos maiores desafios que a gente teve foi formar a equipe. A gente... era um projeto enorme, o maior projeto individual da Petrobras, né, até hoje, e a gente era uma equipe de meia dúzia de pessoas e a gente tinha um prazo para desenvolver o projeto, um prazo para implantar o projeto e um prazo assim, bastante exíguo. Então isso aí era um desafio enorme, né, e um projeto inédito, uma coisa que não existe no mundo. O Comperj, ele vai fazer produtos petroquímicos a partir de óleo pesado, isso não existe no mundo, né. Existe atualmente a matéria prima Nafta ou o Gás Natural. Então é um complexo, né, onde ele tem uma refinaria, uma unidade de primeira geração e segunda geração e temos uma unidade que é o FFC Petroquímico, né, que é uma unidade também desenvolvida pelo Cenpes, inédito no mundo. Não existe, essa unidade de processo de tecnologia não existe no mundo. Então, era um baita desafio que a gente teve, né. E a gente tinha que planejar tudo o que ia existir lá dentro do Comperj, né, como quais seriam as instalações que a gente precisaria ter nessa fase de planejamento de estrada, o local, só prá identificar o local a gente levou um ano e meio, foi um dos grandes atrasos que a gente teve, né, foi o local, onde seria o projeto. A UPB, que é o Comperj, ele nasceu em Itaguaí no município de Itaguaí, começamos a trabalhar e desenvolver todo o projeto para Itaguaí. E aí depois Itaguaí, que mostrou não muito adequado, né, devido aos problemas ambientais e proximidade de cidade ali perto, e aí a gente teve que escolher outro local. E aí ficamos aí quase um ano, né, nessa escolha de local e teve um componente político no meio na época. Na época o Governo do Estado queria que o projeto fosse para o Norte Fluminense, né, e aí a gente demorou bastante tempo até escolher o local de Itaboraí. Esse foi um grande desafio, tivemos dezenas de desafios. E aí você escolher o local, definir como é que você vai trazer a água, como é que você vai chegar com os equipamentos, os grandes equipamentos lá no local, por onde você passa o emissário submarino, como é que chega a carga lá do petróleo, né, como é que faz o escoamento dos derivados, se as estradas estão preparadas, e aí você tem que ter a ... Um dos grandes desafios que a gente tem no Comperj hoje em dia, tecnológico tem bastante coisa, mas eu diria que tecnológicos não são nem um dos maiores desafios não, um dos maiores desafios que a gente tem são coisas que não dependem só da gente da Petrobras, porque tem contatos com Prefeituras, tem contratos... tem contatos com órgãos ambientais, com Governo do Estado, com Governo Federal, né, Marinha, Capitania dos Portos, né, com o Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis], Feema [Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente], então quer dizer, são coisas que você depende também de legislação, você depende da atuação de outros órgãos, e não fica só na nossa mão. Isso é um grande desafio, você poder costurar toda essa conjuntura de problemas que a gente tem aí prá resolver [risos]. A gente vê que é um desafio grande, né, você conseguir ter todas as licenças ambientais, desapropriações de terreno para você passar duto, desapropriação para você poder passar estrada, linha de transmissão, a própria desapropriação do terreno do Comperj, né. Então, quer dizer, são grandes desafios esses daí... E a gente começou isso tudo com uma equipe pequena, foi crescendo a equipe e até hoje tem uma equipe adequada, né, sempre apoiado pela engenharia, trabalhando junto com a gente. A engenharia também começou com uma equipe pequena, que hoje é um grande desafio na Petrobras, é você conseguir gente, né, porque um monte de projetos, né, então as pessoas... você não tem uma disponibilidade de você formar uma equipe, né, você vai formando, mas com muita dificuldade.
P/2 – O que vocês levaram em consideração para desenvolver essa equipe?
R – Olha, a equipe eu achava fundamental, né, e eu sempre busquei na equipe que eu tenho, que eu tinha até o mês passado na gerência de Equipamentos e Serviços, pessoas experientes. Não adianta, né, na minha visão, não adiantava eu colocar na equipe novos profissionais, com pouca experiência, para desenvolver um projeto deste tamanho. A gente precisava de pessoas que tinham assim experiência na área industrial, principalmente o ideal em refinarias, mas que não fosse na refinaria, mas que pelo menos tivesse uma experiência na área industrial. Que você mexe com uma ou outra pessoa com menos experiência, tudo bem, agora, a maior parte da equipe tinha que ser calcada em pessoas bastante experientes. Isso aí que é o fator principal que eu buscava e até o pessoal brincava comigo: “A sua equipe só tem velho, são os velhinhos lá”, mas é que realmente a gente pegava pessoas assim com 20 anos, 30 anos de experiência, que é fundamental para você desenvolver um projeto onde você não tem nada, né, você... é o projeto que você chama de Grife (Ud?),
onde você tem um campo e você vai transformar aquilo ali numa cidade, numa refinaria e que você tem que implantar tudo, entende? Então, realmente a experiência ela pesa, né, nesse momento.
P/2 – Só para checar meu entendimento. Então, era a sua atribuição a infraestrutura do local?
R – É, a gente decidiu... a gente fez grande parte do planejamento, a gente descreveu com a nossa experiência, né, minha e de pessoas que trabalharam comigo em refinaria e em área industrial. Então a gente fez todas as especificações técnicas, como é que a gente vai querer que os equipamentos mecânicos sejam, como é que a gente vai querer que todo o sistema elétrico vai ser, como é que a gente vai querer que todo o sistema de instrumentação e automação, como é que ele vai ser, como é que vai ser os equipamentos de caldeiraria ou de fornos, vasos, as torres... Todos os critérios do projeto a gente definiu. Então a gente fez um conjunto de especificações técnicas, na área... em todas as especialidades, na área de elétrica, de instrumentação, automação, na área de civil, na área de mecânica, na área de equipamentos dinâmicos, na área de equipamentos estáticos, na população, tudo, e desenvolvemos todos os critérios do projeto, como é que a gente queria que os equipamentos e os sistemas que fossem implantados depois. Isso é um grande trabalho que a gente fez na época. Ah, menos da área de processos, que tinha um pessoal de processos, todas as outras áreas, né, a gente é que definiu os critérios do projeto de como seria o Comperj.
P/2 – A parte de contratação já foi com outra equipe?
R – Outra equipe, né. Os contratos, os grandes contratos são feitos pela engenharia, embora a gente participe da especificação do escopo do contrato, né, do escopo do serviço. A gente participa e faz este escopo junto com a engenharia, tá. Estes critérios de
projeto que a gente fez, calcados nestes critérios do projeto que os projetistas desenvolvem os projetos básicos, né. Então, tem projetos sendo desenvolvidos pelo Cenpes, tem projetos sendo desenvolvidos pela (Access de Paris?), tem projetos sendo desenvolvidos pela (Oli Passos?), em Houston, nos Estados Unidos, tem projetos sendo desenvolvido pela (Stones?) também em Houston, e todos estes projetistas, eles se baseiam nos nossos critérios de projeto, para saber que na hora...
[pausa]
P/2 – É, acho que a gente já está concluindo. Então retomando o que você estava falando...
R – Onde é que eu estava? [risos]
P/2 – Estava falando que as especificações eram com vocês...
R – Ah, tá... isso...
P/2 – Isso já era o embrião da gestão da qualidade do Comperj, né?
R – Sim, com certeza, porque nessas especificações, o que você... quando você define os critérios do projeto, o que é isso? Você define, você pega toda a experiência que você teve, né, de coisas que você já trabalhou e você viu que dão certo, então vamos fazer desta forma que é uma forma adequada, e você pega também tudo o que você não quer que você já viu que são coisas ruins, que não dão certo, né, e aí você também evita colocar aquelas coisas daquele tipo ali. Por isso que eu achei interessante você ter uma equipe muito experiente nessa época, porque é a mesma coisa, você vai fazer um projeto da sua casa, né, se você no projeto ali definiu o que você quer, o que você não quer, se você definir bem o que você quer, né, tudo bem, aquilo vai ser projetado do jeito que você quer, se você não souber definir, vai ficar por conta do projetista. O projetista que vai definir e depois você, poxa, vai chegar lá na sua casa e falar assim: “Não era bem isso que eu queria”, mas que você ao definir e de repente você não tinha experiência para definir o que você queria e deixou aquilo por conta de outra pessoa fazer, né. E quando você faz um projeto dessa envergadura, tem mais um agravante, que é o seguinte: você vai ter de 60 unidades de processos e se você não definir uma padronização, se as coisas não forem padronizadas, cada projetista faz o seu projeto diferente do outro e aquilo vira uma loucura. Porque depois as pessoas que vão trabalhar nessas unidades, tanto os operadores quanto o pessoal de manutenção, né, se você tem um sistema elétrico todo padronizado, se você tem máquinas rotativas padronizadas, se você tem equipamentos padronizados, a pessoa que treina, opera e faz a manutenção dos equipamentos, então ela vai saber fazer a manutenção nos demais equipamentos, porque aquilo tudo é padronizado. Se são diferentes, vira uma loucura, você vai ter que treinar as pessoas em dezenas de equipamentos diferentes, fica mais arriscado de você não ter uma boa capacitação e muito mais difícil e muito mais caro. Outra coisa também, se você tem equipamentos padronizados, você vai ter que ter sobressalente para aqueles equipamentos. Se você tem um equipamento que ele é padrão, você tem um sobressalente que cobre vários equipamentos, se você não tem padronizado, para cada equipamento você vai ter que ter um sobressalente, você vai ter que ter um almoxarifado enorme, um custo imobilizado enorme, entendeu? Então essa é uma preocupação que a gente teve e tem que se ter num projeto desse tamanho. Tanto você definir bem os critérios de projeto, do que você quer, como você tentar padronizar o máximo possível. Esse foi o nosso grande objetivo, né, a gente fazer essa definição, estabelecer os critérios do projeto, contratar os projetistas e acompanhar e analisar, né, os documentos e os projetos que eles estão desenvolvendo, para ver se eles estão realmente dentro do que a gente pediu. E isso é um trabalho enorme, que são centenas, milhares de documentos, que você tem que checar em todas as áreas, né, se aquilo realmente está dentro, conforme você especificou. Então, esse, até agora, esse tem sido o nosso trabalho.
P/2 – Assim, pensando, você deixar um legado assim, uma dica para quem está se preparando para assumir uma gestão de empreendimento, uma gestão de...
R – Equipamentos e Serviços?
P/2 - ... é, de Equipamentos e Serviços, e vai ter que fazer especificação de um projeto de grande porte, não sei se a Petrobras vai fazer um outro projeto tão complexo quanto
o Comperj, mas...
R – Tem as refinarias existentes, também são bastante complexas.
P/2 – Mas o que é que você deixaria como conselho? O que é que você: “Olha, para você fazer esse trabalho muito bem feito, você precisa considerar essas variáveis, você precisa tomar cuidado com esses pontos...” O que você deixaria de recomendações?
R – A gente foi meio que cobaia nesse projeto, né, porque a Petrobras ela não fazia, embora ela tenha uma carteira de investimentos muito grande na área de AIP e na área de abastecimento também. Na área de abastecimento, que é a que eu conheço mais, essa carteira de projetos é muito grande, mas é uma carteira de pequenos projetos, né, são centenas de pequenos projetos, não é que sejam pequenos, né, em comparação com o Comperj é pequeno, porque você está ampliando refinarias existentes, né. Até então, a gente vinha, antes da refinaria do Nordeste e do Comperj, o abastecimento ele vinha ampliando as refinarias existentes. Eu botava uma unidade de tratamento, eu ampliava uma unidade de coque, né, fazia mais uma caldeira, ampliava mais algumas unidades de tratamento de HDS, então quer dizer, você tinha várias unidades dentro de uma refinaria existente e isso é muito diferente do que você pegar um campo que não tem nada e ali você tem que chegar com tudo: você tem que chegar com o petróleo, você tem que chegar com água, você tem que chegar com energia elétrica, você tem chegar com estrada, né, você tem que escoar produtos sólidos, você tem que escoar produto líquido, né, você tem... É bem diferente e a gente meio que ficou de cobaia. O que eu acho que é importante nisso daí, uma coisa: a definição do local, tá? A definição do local é fundamental, acho que é fundamental para você ter um projeto adequado, né. O nosso local, ele é um local bom, tá, a área em si é uma área boa, mas ela, em termos de logística, a gente tem algumas dificuldades, por exemplo, chegar com equipamentos de grande porte lá no nosso site é uma dificuldade que a gente tem, porque a gente tem equipamentos no Comperj, né, tem reatores de até 1600 toneladas. Começamos a fazer um estudo da viabilidade de se transportar equipamentos nas estradas brasileiras e chegamos à conclusão... chegamos ao resultado de que as nossas estradas comportam, no máximo, equipamentos de 250 toneladas, até quatro metros de diâmetro e 30 metros de comprimento, esse é o máximo. A gente tem equipamentos de 1600 toneladas, de 250 a 1600 é uma diferença muito grande, a gente tem equipamentos de 90 metros de comprimento e aí a gente tem equipamentos de 12 metros de diâmetro. Então, a primeira conclusão que a gente teve lá: não vamos conseguir fazer o Comperj transportando os equipamentos pelas estradas normais existentes no Brasil. A gente precisa fazer uma estrada especial, que um dos equipamentos chegue por mar, pela Baía de Guanabara, né, e aí, eles com uma estrada especial, com equipamentos, né, que eles chamam de linha de eixo, são umas carretas que elas têm 200, 500 ou 800 rodas, vários eixos, né, e cada eixo deste ele tem uma suspensão independente, então ele consegue transportar estes equipamentos. Então tivemos que estudar várias alternativas para poder chegar estes equipamentos no local. Agora nós estamos tentando licenciar uma alternativa, que quem chega ali em São Gonçalo na praia da Beira, a gente vai dragar um pedaço da Baía da Guanabara ali e ali vai fazer um cais e uma estrada que vai até o Comperj, para estes equipamentos chegarem ao Comperj. Então, isso daí é fundamental e a gente teve e está tendo um pouco de dificuldade com essa localização nossa. Acho que a localização em relação à logística, né, isso é fundamental, tanto a logística para a chegada dos equipamentos como a logística depois de escoamento da sua produção também, isso é importante. As condições ambientais do local são importantíssimas, fazer uma boa avaliação ambiental do local, né. Essa avaliação ambiental, atmosférica e depois também como que você vai sair com os seus efluentes, não só as condições atmosféricas, como também os seus efluentes líquidos depois, como é que você vai sair com seus efluentes líquidos, isso daí é importantíssimo. Uma outra coisa importante... são tantas, mas vamos ver essa: o terreno, né, você fazer uma boa avaliação do terreno, tá. A gente fez uma boa avaliação do terreno, mas a gente também, o nosso projeto com o time que a gente tinha, a gente não conseguiu fazer uma avaliação adequada, quando a gente começou a fazer a terraplenagem, achamos 30 sítios arqueológicos dentro do Comperj. Cada sítio arqueológico, a diferença de você fazer uma unidade, ampliar uma unidade dentro de uma refinaria para fazer uma coisa nova, são essas coisas que você não encontra, né. A última refinaria que a gente fez foi a Revap há 30 anos atrás e há 30 anos atrás a Legislação Ambiental, se você encontrasse um seixo arqueológico, o trator deveria passar por cima, né, não sei se foi assim, mas deve ter sido. Acho que foi, né. Antigamente não se dava muita importância para isso, quer dizer, hoje você encontra esses sítios arqueológicos, você tem que parar, você tem que chamar o pessoal do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), você tem que fazer um projeto de resgate daquele sítio e esse projeto ser aprovado pelo Iphan, e fazer o resgate do sítio arqueológico. Então, quer dizer, isso tudo conta tempo, né, e nós encontramos 30 sítios arqueológicos.
P/2 – Quanto isso impactou no cronograma? Você tem noção?
R – Ah, alguns meses aí, com certeza. Alguns meses a gente levou e custo também, né, isso daí vai impactando em prazo e em custo. Então isso daí é uma coisa importantíssima para você ter uma... se você tiver tempo ou investir bem nessa investigação do seu terreno, né, o local... O local, a investigação do terreno em si, a logística tanto para a entrada de equipamentos e para o escoamento depois da sua produção, a água também, como é que você vai... você tem uma estimativa de quanto você vai precisar de água, como é que vai chegar a água no local que você precisa, como é que você vai escoar o efluente depois e uma avaliação ambiental e uma avaliação social, né, uma avaliação social do seu entorno. Isso é o que a gente tem feito e isso é bastante importante, tanto essa avaliação social… a gente no Comperj está desenvolvendo coisas que não tem em outro projeto, a gente tem esse Centro de Integração que a gente está fazendo, né, porque a Petrobras ela chegava em algum local ou implantar algum empreendimento e todo mundo reclamava, assim como aconteceu na Bacia de Campos, em Macaé, né. O pessoal falava assim: “Pô, a Petrobras tem emprego aqui à beça, né, um monte de gente de fora empregado aqui e o povo de Macaé não consegue se empregar na Petrobras.” Por quê? Porque às vezes é uma cidade pequena, o povo tem baixa instrução, né, então você não consegue. Então, baseado nisso, o que a gente está fazendo? A gente está fazendo este Centro de Integração, que é uma coisa, não sei se ele vai realmente cumprir o objetivo, mas o objetivo é importantíssimo, né, a premissa que ele foi feito é muito importante: você dar treinamento para as pessoas locais, do local, você dá treinamento para as pessoas poderem disputar uma vaga no mercado de trabalho. Você dando aquele treinamento específico para o camarada trabalhar, ser um eletricista, ser um mecânico, ser um operador de máquina de elevação de carga, né, ele vai ter... a gente não pode garantir um emprego depois, né: “Olha, você faz um curso aqui, treina, porque depois você vai ser empregado.” A gente não pode garantir isso, mas a gente pode garantir o seguinte: que ele vai ter muito mais chance de disputar aquela vaga do que se ele não tivesse esse treinamento. Então isso daí é importantíssimo,
você desenvolver a região, o social, porque antigamente….é o que eu entendo como desenvolvimento sustentável. Você fazia um empreendimento antigamente, você se preocupava se ele ia dar lucro: “Vai dar lucro?” “Dá” “ Então vamos fazer”. Até 30 anos atrás era assim, se deu lucro, vamos implantar, meio ambiente a gente não ia se importar muito, não, e social então, nem se fala. Então, implantava o empreendimento. Depois, né, a gente veio evoluindo, graças a Deus, e começamos a nos preocupar com o meio ambiente. Então a gente via as condições assim: “Tem que dar lucro, mas eu tenho que atender às leis ambientais, eu não posso poluir muito, meus efluentes eu tenho que ter um tratamento, né”. Então a gente começou, eu estou falando a gente, não é a Petrobras, isso aconteceu no mundo inteiro, então você se preocupava com tem que dar lucro, isso é fundamental, e tem que atender às condições ambientais. E mais recentemente, né, não só atender às condições ambientais, mas você atender também o social, você tem que ter algum retorno para a sociedade, algum retorno para a população, a população do entorno, e a população que vai ter uma convivência mais que direta, mais perto, ela tem que ter alguma vantagem com aquilo e não chegar uma indústria naquele local ali, só para poluir, para o camarada gerar o lucro dele e ele não ter nada ali, na realidade ele só vê a degradação do local. Então, o desenvolvimento sustentável, eu vejo assim, é um triângulo equilátero, um vértice é o lucro, é a rentabilidade, as condições ambientais é o outro vértice e as condições sociais, o outro vértice. O que eu vejo hoje em dia, é que a gente tem que ter cuidado, né, porque isso é uma coisa importante, o Comperj é da Petrobras e onde a Petrobras chega todo mundo fala: “A Petrobras vai resolver o nosso problema de esgoto, nosso problema de água, o nosso problema de estrada.” A gente não é Prefeito e nem Governo do Estado, né, a gente é uma empresa que está implantando e às vezes eu costumo falar isso daí, se a gente desequilibrar esse triângulo, também for muito pelo social e só ver o social e esquecer a rentabilidade, você inviabiliza o projeto. Esse triângulo não pode ser desequilibrado, ele tem que ter... o lucro tem que continuar existindo. Se não tiver lucro... você fazer um projeto para dar prejuízo, ninguém vai fazer. Então essas coisas são importantes colocar nesse contexto aí, porque às vezes está dependendo a Petrobras chegar em um local, né, e as pessoas daquele local vê como se a Petrobras fosse resolver todos os problemas e tem que resolver todos os problemas. E é uma coisa... se for querer resolver todos os problemas você vai inviabilizar, talvez, todo o projeto. Isso é uma coisa que tem que tomar cuidado.
P/2 – Com tantas variáveis, né, que você tem que se preocupar e tem que estar sempre provendo uma solução para contornar e tal, exigiu uma relação com várias partes interessadas, né, o Poder Público, instituições, sei lá, de repente...
R – ONGs?
P/2 – É... ONGs, academias, de repente, né, não sei... Mas quais foram essas partes interessadas que logo no começo que você estavam começando a fazer o planejamento, você tiveram que considerar e tiveram que manter um relacionamento? E como foi isso? Foi bom, teve alguma falha, algum erro nesse comecinho, com esse relacionamento, com as partes interessadas? O que poderia ser melhor?
R – Olha, esse projeto, essa área, talvez até quando vocês entrevistarem a Cláudia Labruna, ela pode descrever bastante disso, que é a área dela, né, Relacionamento Institucional, eu achei muito importante ter essa área desde o Início, é uma gerência que a gente teve desde o início e eu te diria que é umas das gerências mais atuantes que a gente tem, não que as outras não sejam mais atuantes, mas é por que você, esse relacionamento hoje com a comunidade, com os Órgãos Governamentais, né, e com os Órgãos Ambientais, ONGs, né, ele é muito importante, porque se você não tiver isso hoje, você inviabiliza o projeto. Hoje, você para ter uma licença ambiental, você tem que fazer, como é que se diz, você tem que fazer aquelas reuniões com todo entorno, né, com toda a comunidade, foram feitas várias reuniões e se você tiver alguma coisa contra ali, alguma mobilização forte da comunidade, você inviabiliza o projeto, né. É uma área que foi bastante importante, o contato com... a gente ia desapropriar todo esse pessoal, né, lá dessa área. É uma área de 45 milhões de metros quadrados, onde só tinha fazendas ali, criação de gado, né, alguma plantação ali, de cítricos, né, laranja, tangerina, e a gente desapropriou aquilo ali, com pessoas, e tinha pessoas que trabalhavam ali naquele local e provavelmente pessoas de baixa instrução. Provavelmente pessoas até que você ia ter dificuldade de colocar no Centro de Integração para fazer o cara virar um mecânico ali, eletricista, né, ou um técnico em eletrônica, porque provavelmente o cara já está com 40, 50 anos de idade, trabalhando no campo a vida inteira, mal sabe ler e escrever, às vezes nem sabe, para você botar e treinar... então, quer dizer, então essa pessoa não vai ter chance, vai ser desapropriado do local dele, vai ficar desempregado, então é uma preocupação que a gente teve. E outra coisa importante que a gente está fazendo nesse projeto, a gente em torno no Comperj, a gente está fazendo um cinturão verde, né, que é que é uma coisa importantíssima para o meio ambiente e é uma coisa importantíssima
para o lado social, que é onde você vai aproveitar essas pessoas, que estariam desempregadas ali, e são essas pessoas que vão trabalhar no plantio de todo esse cinturão verde, e depois trabalhar na manutenção desse cinturão verde. Então eu achei uma coisa fundamental isso daí, né, essa preocupação ela é importantíssima. Foi uma coisa fundamental porque você começa a ter uma boa aceitação, né, no local e isso é importante hoje.
P/2 – Você falou também que no começo, quando não tinha, o Comperj ainda não tinha uma estrutura ainda, você trabalhou, acho que no começo você trabalhou muito mais matricialmente do que hoje, né.
R – Não, até 2005, né, o projeto ele só... a gente tem uma sistemática de projeto da Petrobras que é dividida em fases, né: fase um, fase dois.... fase um que é a fase de planejamento e desenvolvimento do negócio, a fase dois que é o projeto conceitual, a fase três que é o projeto básico e a fase quatro que é a implementação. A gente está terminando... um projeto desse tamanho eles se misturam, a gente está entre a fase três e a fase quatro, né, algumas coisas ainda... algumas partes do projeto a gente está na fase três, desenvolvendo alguns, terminando alguns projetos básicos e fazendo alguns projetos de pré-detalhamento, e já estamos construindo alguma coisa que é da fase quatro, já estamos fazendo terraplenagem, fazendo a subestação provisória, infraestrutura, tá. Então, a fase um desse projeto, e até uma parte da fase dois, ele foi feito na estrutura matricial, e até comporta. Acho que a fase um, principalmente, dá para fazer e acho até que deve ser feita com uma estrutura matricial. Agora, da fase dois em diante, eu acho que você já tem que ter equipe dedicada, é importante você ter uma equipe dedicada, e ainda mais num projeto desse tamanho. Quando o projeto é pequeno, tudo bem, dá para você se virar, mas um projeto desse tamanho, ele comporta você ter uma equipe dedicada. E a primeira equipe dedicada nasceu quase no final da fase dois, na metade para o final da fase dois. Foi aí que foi o engenheiro Vitor, né, que era o gerente geral, Hélio, o gerente de equipamentos e serviços, o Baleroni, engenheiro da área de processos, o Valdir, planejamento, a Luísa (Negue?), nessa parte de avaliação Técnica-Econômica, né, apoio, é a parte de gestão, e o Relacionamento Institucional, que é a Cláudia Labruna. Acho que foi uma estrutura boa, né.
P/2 – A estrutura foi em 2005?
R – É, em 2005. Foi a primeira estrutura que a gente teve e aí já é aquela estrutura projetizada, né, uma equipe dedicada para o projeto.
P/2 – Então no comecinho, antes dessa estrutura, como foi? Vocês precisaram fazer parcerias internas para identificar essas pessoas que iam compondo essa matriz, né?
R – Sim.
P/2 – E como é que foi esse comecinho, de...
R – Bastante complexo, né, você pode imaginar porque o abastecimento com a carteira de projetos que tem e todo mundo nas suas áreas, cheio de atividades, você tem que parar uma parte do seu tempo para se dedicar a mais àquela atividade. A estrutura matricial, ela é um pouco complicada, né, quando você tem uma carteira de trabalho muito grande, porque aí você... porque o que acontece? Tinha o Vitor lá, que era o coordenador de projeto, né, que ficava lá solicitando as coisas a todo mundo e tal, não sei o que, mas o cara que está trabalhando ali, ele tem o chefe dele que também pede outras coisas, né, então, na hora de balancear uma coisa ou outra assim, às vezes fica meio complicado, não é não? Não é o ideal, não, como você ter um equipe projetizada, né, e tal, algumas coisas você precisa uma dedicação um pouco de tempo maior, que às vezes fica difícil de você ter, né.
P/2 – Você acha que tem que ter um perfil para conseguir trabalhar dessa forma em uma equipe multidisciplinar?
R – O perfil do gerente, né, para poder...
P/2 – Das pessoas que vão trabalhar na, assim, nessa estrutura.
R – Olha, o perfil do gerente para trabalhar numa equipe desse tamanho assim, a primeira coisa ele tem que ser um camarada que ele consiga motivar as pessoas, né, para manter a equipe bastante motivada. Isso é importante, né, você manter a equipe motivada. Trabalhar numa estrutura matricial, ele tem que ser um grande negociador, né, além dele ser um grande motivador ele tem que ser um grande negociador para ele poder negociar com as outras gerências, né, para que as outras gerências disponibilizem pessoas para uma parte do tempo poder trabalhar para ele ali. Eu acho que é uma tarefa bastante complicada, inclusive tu perguntou no início aí.
P/2 – Assim, olhando para essa história, esse início da história do Comperj, né, essas fases que você já teve a oportunidade de participar, assim tão ativamente, eu queria que você dissesse, contasse para gente, uma experiência que marca quando você
pensa no Comperj, é a primeira coisa que te vem à memória. Também queria que você dissesse pra gente o que você já aprendeu nesse curto período de atuação que você vai levar para outras oportunidades semelhantes de atuação.
R – A experiência que marca a gente é essa que eu já descrevi, de você, durante a sua fase dois, a fase foi um bom planejamento, a gente fez... eu considero que a gente fez um bom planejamento, mas eu considero que a gente teve alguns problemas de localização, talvez a gente não explorou tão bem quais eram os problemas que a gente iria ter com a localização, né, talvez se a gente tivesse explorado mais, a gente evitaria, estaria evitando alguns problemas que a gente está tendo hoje, tá. Isso daí é uma coisa que realmente eu tenho essa... é uma coisa que eu fiquei... que marcou, né. Qual foi a outra pergunta que você fez?
P/2 – E o que você aprendeu ou já aprendeu com o Comperj?
R – Poxa, a gente já aprendeu tanta coisa [risos] que é difícil descrever [risos].
P/2 – Descreve aí [risos].
R – Se hoje eu fosse começar um outro projeto desse tipo, eu faria tudo o que eu fiz no Comperj, não faria nada diferente, até porque eu acho que a gente acertou bastante coisa. Mas nessa, na localização do terreno, do site, a gente... eu teria uma preocupação muito maior do que a gente teve. Isso daí realmente foi uma experiência que a gente não teve na época, eu acho que a gente não deu o enfoque, assim, todo que... não avaliou tudo o que poderia, o que deveria ter avaliado. Acho que se a gente tivesse uma avaliação mais profunda, né, talvez a gente definisse algumas coisas diferentes do que está hoje. Mas também a gente, o que acontece com o nosso projeto, às vezes a gente faz uma estimativa de prazo e às vezes a gente tem prazos apertadíssimos, prazo apertado e sem equipe, não dá para você trabalhar com as duas coisas, entendeu? Isso é uma dificuldade que a gente tem no início dos projetos, na Petrobras, né, às vezes você começa um projeto de grande porte e equipe mesmo você fica com dificuldade em formar, dificuldade de local para a gente trabalhar. A gente não tinha local para trabalhar. O Comperj já trabalhou no Edise, foi para o Metropolitan, voltou para o Edise, Banco do Brasil, e agora a gente está aqui. E aqui já está ficando espremido também, já está expandindo para o oitavo andar, quer dizer até local para trabalhar, toda a infraestrutura, né... Quando se pensar num projeto desse tamanho, é importante, além do planejamento do projeto em si, você planejar toda a infraestrutura que você precisa para trabalhar, a equipe né, planejar, não só planejar, mas planejar e formar a equipe, local para você trabalhar, tudo o que você vai precisar. Isso são coisas que a gente teve que definir, um pouco de deficiência no início. De ficar planejando como é que eu quero o Comperj, como é que vão ser as instalações, todas essas coisas. Agora, qual é a equipe que eu tenho para trabalhar? Quer dizer, está adequada? Né, e a gente realmente ter essa equipe no tempo certo, eu acho que isso é fundamental. Isso é uma coisa que talvez tenha tido alguma dificuldade no início.
P/2 – Só para aproveitar aqui e checar o meu entendimento, você participou na decisão do local?
R – Não. Isso eu não participei, não. Mas eu se tivesse essa experiência que eu tenho hoje, talvez eu pudesse ter influído nisso daí, entendeu? Na época, essa decisão do local tinha um grupo de trabalho definido, que definia esse local. A gente até trabalhou algumas coisas, prestou alguns serviços, algumas coisas, né, para... fez algumas visitas, tudo, né, mas eu não participei assim diretamente, ainda era na época da estrutura matricial, nesta época ainda não tinha a equipe formada. Mas, mesmo assim, né, se eu tivesse essa experiência que eu tenho hoje, com certeza eu tinha influenciado nessa decisão. Acho que tinha uma forma de ter influenciado.
P/2 – Só mais uma perguntinha: na sua atuação, na sua atribuição, o que você acha que você não teve tempo de fazer e que agora você tem outras preocupações, e ficou para trás? Que ficou faltando pensar ou realizar?
R – Olha, a gente vem trabalhando, eu até estou mudando minha atribuição, porque, quando a gente começou a trabalhar no Comperj, né, com o engenheiro Vitor como nosso gerente, ele colocava pra gente o seguinte: “Olha, vamos trabalhar... a gente aqui é o dono do projeto. Engenharia presta serviços pra gente, o Cenpes presta serviços pra gente, o Compartilhado presta serviços prá gente, o TI presta serviços pra gente, mas o dono do Comperj é a gente.” Então a gente tem... a nossa atuação é como se a gente fosse construir a nossa casa e depois a gente fosse morar nessa casa. Então, se a gente vai fazer uma casa, a gente vai gostar de ter depois para morar lá dentro. Então, essa sempre foi a nossa preocupação e foi baseado nisso que a gente definiu todos aqueles critérios de projetos, né, com a experiência que a gente tinha e buscamos pessoas experientes, que nos auxiliassem a definir bons critérios de projeto, com aquele pensamento, né: depois eu vou morar lá. Eu que vou trabalhar lá na manutenção, eu que vou trabalhar lá na operação, eu vou habitar lá, então eu vou querer trabalhar num lugar bom. Então esse foi o nosso pensamento e a gente vem trabalhando nesse projeto todo até agora com essa linha de pensamento. Teve uma mudança agora na gerência de implantação, né, saiu o Vitor e depois entrou o Egídio e agora veio o Eider, e o Eider deixou muito claro que é o seguinte, a gerência agora é a gerência de implantação do projeto, como ele mesmo diz: “Nós somos peões de trecho. Eu vou pegar, implantar. Implantou, eu vou partir para outro empreendimento.” E esse não era o meu pensamento. Meu pensamento era: eu estou projetando uma coisa que depois eu quero habitar lá, quero morar lá, eu quero ver como é que aquilo ficou e quero até trabalhar e ver o que eu fiz, né, e como é que foi desenvolvido tudo. Então, até uma decisão que eu tive agora, de sair dessa gerência de implantação e buscar um trabalho no Comperj S/A, né, que eu estou agora numa gerência provisória para depois eu trabalhar no Comperj S/A. E a gente agora vai começar a trabalhar em toda a infraestrutura necessária já para operar, para fazer manutenção, para ter toda a administração local. Porque é aquilo que eu tinha desde o início, né, você projetar uma coisa e depois você... projetar a sua casa e depois você ir morar. Eu não queria projetar a minha casa pra depois eu largar e partir pra projetar outra casa, né. Eu até... depende, né, tem gente que gosta de trabalhar nisso, mas o meu pensamento era trabalhar, fazer um projeto e depois você dar continuidade àquilo, até estruturar e deixar tudo operando, quando aquilo operou, aí depois... daqui a pouco eu me aposento também. Mas a minha grande decisão, até de sair daí, dessa implantação e trabalhar no Comperj S/A, é essa, porque agora a gente vai estruturar a empresa e ver o que precisa comprar de equipamentos, já para operar e fazer a manutenção, como é que vai ser a organização da manutenção, como é que vai ser a parceria com as outras empresas, o que vai ser os serviços que a gente vai fazer, quais são as sinergias, quais são os serviços que vão ser compartilhados, o que não vão ser compartilhados, como é que vai ser uma Prefeitura para administrar todo o site, entendeu. Então eu acho __________, eu acho que o outro caminho já está bem encaminhado, porque ele foi bem encaminhado né, pelo menos a gente acha [risos], nas diretrizes de projeto e o pessoal está dando continuidade nisso na implantação, e a gente agora... eu vou trabalhar mais nessa parte pra receber esses equipamentos, receber essas unidades de processos, fazer os testes de aceitação, né, testar os sistemas, ver se os sistemas estão operando, se está de acordo com o especificado e começar a estruturar toda a Operação e Manutenção do Comperj.
P/2 – Obrigada. Agora vamos trocar de novo.
P/1 – Então Fernando, agora o encaminhamento para o final daqui da entrevista, depois de ter explorado aí longamente a sua trajetória profissional, queria saber um pouquinho mais de você. Você comentou lá no início da entrevista da sua esposa, né, que ela trabalha aqui também, e como é que é o nome dela?
R – Solange, né, Solange Lemos. Ela trabalha no abastecimento também, ela é engenheira de processamentos, trabalha no Refino, no Edise.
P/1 – Vocês estão casados já há muito tempo?
R – Há 26 anos.
P/1 – E foi uma história que começou, ela engenheira também, começou na Universidade, como é que foi?
R – A gente começou a namorar cedo. Casamos antes de entrar, antes dela... casamos quando eu me formei, ela não estava formada ainda, não. Ela se formou um ano e pouco depois de mim, e aí ela entrou na Petrobras antes de mim, né, depois aí... Mas a gente casou antes de entrar na Petrobrás, todos os dois.
P/1 – E vocês têm filhos?
R – Temos três meninos, três homens, né [risos].
P/1 – Com é que eles chamam?
R – Renan, Bernardo e Gustavo.
P/1 – E eles são estudantes ainda, fazem o quê?
R – O mais velho está fazendo Geologia na UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro], o do meio está tentando Medicina e o mais novo é Engenharia Mecânica, está tentando vestibular também. Os dois do meio estão fazendo vestibular, o do meio e o menor estão fazendo vestibular.
P/1 – E Fernando, no tempo que lhe sobra livre, o que você gosta de fazer?
R – Ah, bom, eu gosto de estar com os meus amigos, adoro ir à praia, adoro viajar, ler... eu gostava muito e agora eu ando meio preguiçoso pra ler, eu tenho que voltar a ler um pouco, eu mesmo estou me cobrando disso. Mas adoro ir à praia, viajar para a serra, passear, fazer um churrasco com os amigos, bater papo, jogar conversa fora, né, é o que eu mais gosto de fazer.
P/1 – Acho que a gente está chegando ao fim. E tem de repente alguma coisa que a gente não tenha perguntado e você queira deixar registrado?
R – Bem, não vem agora, como eu te falei nessas horas assim de entrevista, às vezes eu esqueço quase tudo [risos].
P/1 – É normal...
R – Aí depois quando eu for para lá, para minha sala lá, eu vou... eu poderia ter falado isso, eu vou lembrar de um monte de coisas, mas no momento eu não estou lembrando.
P/1 – Então para encerrar, eu queria que você dissesse o que você...
R – Ah, uma coisa que eu queria dar uma mensagem aí, é desejar boa sorte e felicidades para todas as pessoas que estão trabalhando nesse projeto aí, que a gente realmente consiga cumprir, todas as exigências que a gente tem de prazo e de custo, né, e implantar realmente um grande projeto, porque o Comperj, eu vejo ele um grande projeto para a Petrobras e é um grande projeto para o Brasil. Ele é importantíssimo para o Brasil até para a gente ter consolidação da nossa tecnologia, desenvolvida no Cenpes. A gente parar de pensar que a gente é um país inferior, eu não vejo nada de inferior. A gente viaja aí para fora a gente vê que a gente não é pior e nem melhor do que ninguém. A gente é igual a todo mundo, depende de dedicação e de esforço;, a gente consegue fazer tudo. Então, desejar felicidades para todos nós para que a gente consiga realmente implantar tudo aquilo que a gente sonhou, né, implantar.
P/1 – Só para concluir, Fernando, eu queria que você dissesse, o que você achou de ter
dado aqui esta entrevista, de ter dividido com a gente a sua história, um pouquinho?
R – Eu achei bacana, é importante, se a Petrobras tiver um banco
de memória e depois, assim, pra poder resgatar e poder, tirar assim, a parte boa que todos nós temos,, eu acho que é importante isso daí. Eu acho que é um projeto bacana, parabéns para vocês aí, porque quem está desenvolvendo este projeto, é porque realmente eu acho que vale a pena isso, você ter... a gente não se dá conta muito do nosso trabalho, vai trabalhando aquele dia a dia e chega sábado, vai embora, passa a semana, vão passando os meses e os anos, e de repente você não registra nada. Pelo menos tem um momentinho aí registrado de uma parte da sua vida, acho que foi legal.
P/1 – Obrigada.
R – Obrigado a vocês aí.
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