P1 – Boa tarde, Ênio.
R – Boa tarde.
P1 – Eu sou a Vanessa. Eu queria que você falasse de novo o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Ênio José de Resende, local de nascimento?
P1 – Isso.
R – São Gotardo, Minas Gerais, 20 de ...Continuar leitura
P1 – Boa tarde, Ênio.
R – Boa tarde.
P1 – Eu sou a Vanessa. Eu queria que você falasse de novo o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Ênio José de Resende, local de nascimento?
P1 – Isso.
R – São Gotardo, Minas Gerais, 20 de janeiro de 38.
P1 – Ênio, qual é a empresa que você trabalha?
R – Na minha. Consultoria. Eu já estou com dezenove anos de consultoria própria, depois de ter trabalhado trinta como empregado.
P2 – Comenta como é que você chegou na consultoria, fala um pouco do seu desenvolvimento profissional.
R – Eu comecei como office boy com treze anos de idade e depois tive uma rápida carreira, em alguns anos eu mudei de cargo umas seis ou sete vezes até chegar a assessor gerente de RH. Eu fui chefe de pessoal – é o nome – com dezoito anos de idade. Eu fui precoce, comecei a trabalhar mais cedo e fui chefe com dezoito anos de idade, gerente com 25, 26, por aí.
P2 – Em que empresa?
R – Eu comecei no SESI, depois entrei na Klabin Azulejos como gerente de Recursos Humanos, no SESI eu saí como assessor de diretoria, depois de ter exercido o cargo de chefe de pessoal – na época não chamava gerente de Recursos Humanos, mas poderia ser. Entrei na Klabin Azulejos, fui para a Camargo Corrêa, para a Odebrecht, voltei para a Camargo Corrêa e virei consultor.
P2 – A sua formação foi para a área de Recursos Humanos?
R – Não. Inicial, não. Inicial foi para ser professor, aliás, eu esqueci de falar que eu exerci o magistério durante dez anos, paralelamente, porque eu trabalhava no SESI de meio-dia às seis – o horário naquela época era de meio-dia às seis – e estudei de manhã, por isso eu pude estudar de manhã e depois pude dar aula de manhã. Só que me frustrei como professor, é uma história (risos)... Essa é uma história, que a gente sai com aquele idealismo todo da faculdade depois de um curso de didática, chega na escola particular e eles não te deixam exercer a didática. E aí foi uma frustração, resolvi ficar só em RH, mas estive envolvido com treinamento e desenvolvimento todo o tempo, quer dizer, continuei sendo um educador, professor.
P1 – Como é que foi o seu envolvimento com o grupo?
R – Na volta eu fui... São Paulo, Minas, Minas, São Paulo, Rio, Minas, São Paulo de novo... Na última vinda, na Camargo Corrêa – eu sempre mantendo esses contatos que o pessoal de RH costuma manter, de troca de informação – acabou que nós resolvemos formar um grupo, ficamos sabendo de outros dois grupos que existiam, dois ou três: “Vamos formar o nosso grupo?” E formamos, mas como nós não tivemos um número suficiente, acabou que encontramos com o GERHOF, que é um outro grupo que juntou conosco e formamos. O grupo tem 25 anos, mas o meu tem 23, o original, que chamam GERH, então juntamos e está comemorando 25 porque o GERHOF nasceu primeiro. Estamos aí já.
P2 – Como é que o grupo se articula, Ênio?
R – Nós temos uma organização de funcionamento que passou por várias fases, isso inclusive é um pouco de história. No início, como com a maioria dos grupos, tem uma diretoria por ano ou por dois anos. A partir de certo tempo nós dispensamos a diretoria, não tem mais líder formal, nós nos reunimos em empresas, fazendo rodízio, e temos um coordenador permanente. Ele não chega a ser... É um líder informal permanente, que é o Darcy Garçon. Você já deve ter ouvido falar de alguma maneira, uma figura. Foi a evolução do grupo. Hoje nós temos a organização básica de funcionamento do fórum nosso, que fomos o criadores desse fórum anual, os outros grupos acho que não têm ou se têm, recentemente. É dessa forma que a gente funciona: a gente faz uma programação anual, tenta fazer, definimos os próximos três ou quatro responsáveis pela reunião com as empresas que vão patrocinar e definimos temas de interesse. Acontece dessa forma.
P1 – Nesses 25 anos, Ênio, quais foram as grandes questões que o grupo abordou?
R – Sempre procurando estar discutindo coisas do presente e do futuro. Nós nunca olhamos para o passado, a não ser como referência, essa é uma característica. Inclusive, todo o nosso fórum, embora nem sempre tenha chamado de Olhar para o Futuro, sempre procurou olhar para o presente e para o futuro. Agora tem um tema, que é um tema – inclusive sobre o qual eu tenho dois livros – que se for fazer um balanço ele é um dos preferidos, que é ética. Nosso grupo tem interessado por ética por várias vezes, merece destaque isso.
P2 – Que tipo de colaborações esse grupo trouxe para o desenvolvimento das pessoas dentro das empresas? O que vocês refletiram que vocês acham que agregou para que se pudesse levar isso para as empresas?
R – Quando o grupo começou... Eu só fiquei dois anos como gerente de empresa desde que o grupo foi fundado, mas eu tenho quase a certeza que a maioria dos membros do grupo levam coisas interessantes e tentam colocar em prática nas suas empresas, porque nós discutimos muitas coisas aplicáveis, úteis, importantes, que eu acho que dentro das possibilidades, da oportunidade, a maioria deve tentar ou levar para as suas empresas. Acho que o resultado prático deve ser muito bom.
P1 – Dentre essas discussões, como é que fica a gestão desse conhecimento que é gerado dentro do grupo?
R – Cada empresa faz a sua gestão. As empresas têm os seus planos de ação, planos de trabalho, e eu acho que eles devem, ou quando não têm algo claro, políticas definidas, acho que o resultado do grupo sempre deve contribuir para que eles passem a ter.
P2 – Aí o senhor está dizendo da atuação das pessoas do grupo nas empresas.
R – Nas empresas.
P2 – Eu estou dizendo: dentro do próprio grupo, vocês fazem gestão do conhecimento? Tem alguma...
R – Acho que só fazemos isso o tempo todo, a nossa matéria-prima é conhecimento. O tempo todo.
P1 – Mas existe alguma forma de sistematização desse conhecimento?
R – No grupo, não. A gente acredita que haja na aplicação depois, na empresa. Há um esforço de se guardar atas, guardar material dos eventos, que graças ao Darcy, que é quem sustenta praticamente o grupo, e agora, eu diria que mais recentemente, parece que há um cuidado maior... Até por causa do recurso da informática, há um cuidado maior de guardar documentos, informações, relatórios e atas, etc. Acho que para ficar como um arquivo, que inclusive está disponibilizado agora no site, que acabou de ser inaugurado aqui. Então nós estamos evoluindo, acompanhando a evolução da (risos) tecnologia, mas se você perguntar por documentação lá dos primeiros anos, nós não temos nada. Inclusive houve agora um esforço para a gente tentar lembrar das coisas dos primeiros anos.
P2 – Dentro desse esforço todo, eu queria que você contasse para a gente alguma história, algum episódio interessante que tenha acontecido nas atividades do grupo durante esse tempo que você está nele.
R – Ah, uma história interessante – aliás, até foi falado na última palestra agora –, que numa fase de adolescência do grupo ele costuma ser rigoroso e mais exigente e nós tivemos uma fase burocrática, que tinha que acompanhar e quem falhasse duas ou três reuniões era expulso ou era ameaçado. Eu cheguei a ser ameaçado, um dia, eu acho que eu estava com quatro ou cinco faltas e um sujeito, um dos membros, veio me abordar, fazer uma preparação do espírito, (risos) como se fosse. É um dado interessante. Depois chegou, num certo ponto de maturidade do grupo, se decidiu: “Não, você pode falhar o tempo que quiser.” Tem gente que ficou dois anos fora, morando no exterior e voltou para o grupo, então agora há essa liberdade. A ideia é de ficar no grupo quem tem interesse. Se eventualmente você tenha que mudar de local, mudar de endereço, mudar de país, mudar de cidade, o grupo está aberto para recebê-lo de volta. Mas isso é uma evolução da metade da história do grupo para cá. Os primeiros tempos foram meio rigorosos, burocráticos, etc. Esse é um dado interessante que eu acho que merece destaque.
P2 – Você tem mais algum outro causo para nos contar?
R – Não sei se é causo propriamente, mas é um registro. Esse fórum já está sobrevivendo não sei se há 25, mas pelo menos 24 anos, e é um sucesso permanente. Eu acho que está mais para 23 do que para 25. Quase todos os fóruns superam o anterior, nós só tivemos uns dois ou três que houve uma decaída, mas no geral nós estamos sempre procurando superar os eventos anteriores, acho que é um registro que também merece estar. Agora registro de aspectos sociais ou que mereçam algum destaque de forma folclórica não me ocorre no momento.
P2 – Em cima dessa participação sua tanto dentro de empresa, como consultor, qual foi o grande aprendizado que você teve com esse grupo?
R – Ah, sim. Deixa eu aproveitar a sua pergunta para lembrar que o grupo surgiu para reunir gerente de Recursos Humanos, diretor de Recursos Humanos, e no princípio só podia ser. A partir de certo ponto, principalmente depois que começou a haver desemprego, se permitiu que tivesse... Quem entrou no grupo fica, independentemente se perder o emprego, se muda de profissão. O grupo não é fixado, o critério não é representar uma empresa. Eu saio da empresa e continuo no grupo, essa é uma característica interessante, também. Voltando a sua pergunta...
P2 –No meio desse teu histórico de trabalho eu queria que você colocasse o que esse grupo trouxe de aprendizado para você. O que você acha que foi marcante nesse teu processo de aprendizagem?
R – É uma possibilidade de constante renovação e atualização. Como eu disse, o grupo tem característica de estar tratando de assuntos sempre atuais e chamando palestrantes ou apresentadores de alto nível. É uma exigência, essa é uma característica do grupo: eles não se contentam com qualquer palestrante. Uma das coisas que eu diria que me faz permanecer no grupo é exatamente por ajudar numa constante atualização. Eu acho que é um grande benefício isso.
P1 – Na sua opinião, quais são os desafios dos próximos 25 anos para o grupo?
R – É uma boa pergunta (risos). Um desafio seria sobreviver, considerando que a maioria dos membros do grupo já estão em idade e sempre precisando renovar, deixando entrar uma maior quantidade de gente nova, para ele sobreviver. Eu acho que ele vai sobreviver. Um dos desafios é esse, é cuidar da sua sobrevivência. O outro é conseguir – com as dificuldades que cada vez mais as pessoas têm de sair da empresa para se reunir – ter reuniões tão atrativas que favoreçam essa disposição de vir, porque houve uma fase aí que nós estávamos só diminuindo a presença nas reuniões mensais, de chegar, de um grupo de sessenta pessoas, a ter doze, catorze pessoas nas reuniões, porque houve um período de início de preocupação em sair da empresa de um lado e talvez a própria temática tenha caído um pouquinho de interesse. Agora, parece que nós estamos de novo voltando aos bons tempos.
P1 – E como é o diálogo dessas novas gerações que chegam para aderir ao grupo?
R – Pois é, houve umas fases em que não se atentou e não se cuidou de renovação. Deixava o grupo andar e de repente, se alguém se apresentasse interessado, entrava na fila. Houve tempo de se decidir imediatamente, houve tempo que se deixou acumular nomes de candidatos para entrar e depois de um determinado mês: “Olha, vamos resolver. Tem seis interessados para entrar no grupo.” E o grupo elegia, examinando o currículo com rigor, fazendo questão que entre gente que pudesse trazer algo para contribuir, não só para aprender, mas também para contribuir. De cinco ou seis currículos que estivessem na fila se escolhiam dois ou três, ou quatro, às vezes, e o grupo era renovado, mas isso estava acontecendo com mais raridade nos últimos tempos.
P1 – Isso acontece nessas reuniões mensais?
R – Não. Houve época em que acontecia de três, quatro vezes por ano. Se fosse assim seria trimestral, mas nós já tivemos uns anos que não entrou ninguém no grupo ou então estão demorando mais. As pessoas, por exemplo, eu estou com um rapaz que está aqui comigo, que já é a terceira vez que ele vem no fórum. Eu estou criando a condição para ele entrar no grupo, porque ele é jovem, está querendo aprender, tem pouca experiência ainda, mas ele já é líder de um outro grupo no interior de São Paulo com quarenta empresas, mostra que ele tem realmente as condições exigidas pelo grupo. Até ontem eu já brinquei: “Essa é a última vez que você vem como convidado, a próxima (risos) você deverá ser membro do grupo.” É um rapaz que está aí. Eu respondi a sua pergunta?
P1 – Está.
P2 – Como é que você se vê no futuro do grupo, Ênio?
R – Eu próprio tive fases. Eu tive a fase de ajudar a criar, depois um período de trabalho... Nós tivemos, nos últimos vinte anos, um Brasil cheio de crises, cheio de altos e baixos e como consultor eu tive que, na época, correr mais por muito serviço. Tinha serviço demais. Noutra época, correndo porque tinha serviço de menos (risos), para poder compensar. Então, nessas fases, eu tive uma participação ativa menor. Veja você que eu estou há vinte e tantos anos no grupo e é a primeira vez que eu participo da organização de um fórum. É a primeira vez. Eu sempre ficava mais de observador, mais de participante-observador, e agora esse ano eu estou mais envolvido com a organização. No futuro espero até que eu possa repetir essa forma de participar.
P2 – Me diz uma coisa: no teu histórico de trabalho, se você pudesse, o que você mudaria?
R – Meu histórico profissional? Eu não mudaria, não deixaria de ser RH.
Apesar de todas as dificuldades ainda, eu acho que nas empresas é a área que é mais desafiada para inovações, para realizar coisas mais significativas, de criação, de desenvolvimento, renovação. Quanto a isso eu não tenho dúvida. Talvez eu mudasse a minha estratégia de atuação, que eu tenho dúvida se foi um erro ou se não foi. Alguém acha que foi graças a isso que eu adquiri mais solidez – até para escrever os doze livros que eu já escrevi –, mas do ponto de vista financeiro eu tomei prejuízo, porque eu sempre fui muito dedicado aos contratos de consultoria, eu próprio envolvido. Alguém até me chamou de consultoria boutique (risos), sem preocupação de crescer como consultoria, mas de atender bem as empresas. Eu sempre tive essa preocupação e do ponto de vista de realização profissional foi muito bom, mas do ponto de vista financeiro nem tanto. Então tenho essa dúvida existencial (risos), se eu deveria... Como é que é?
P2 – Você tem algum sonho?
R – Tenho, tenho.
P2 – Qual?
R – É muito sonho. Baseado nessa palestra anterior aí, eu espero trabalhar pelo menos por mais quinze anos e eu vou mudar agora o rumo. Os meus livros, eu não vou mais escrever para RH, vou escrever livros de grande alcance agora. O primeiro deles está pronto. É um sonho, eu até não sei se deveria falar aqui agora porquê eu estou antecipando, mas eu até quero interferir nos rumos do país com o próximo livro. Eu já tentei duas vezes com livro de cidadania, só que eu cheguei à seguinte conclusão – frustrações, conclusões, experiência –: que quem não é do ramo... Você tentar escrever algo não sendo do ramo, por exemplo, vou escrever algo sobre política não sendo do meio e nem jornalista, as pessoas não dão muita importância. A não ser que eu tenha um forte esquema de marketing, que eu não tive, mas agora eu vou insistindo nesse assunto. Só que agora vou cuidar da estratégia, eu vou arranjar condições para que o livro seja de grande alcance e tenha repercussão. Esse é o meu grande sonho, eu diria, é o principal.
P2 – A gente queria saber o que você achou de dar entrevista para a gente.
R – Muito bom, acho que foi uma boa iniciativa essa. O nosso fórum está cada vez mais interessante por causa dessas inovações e essa é uma inovação muito boa.
P2 – Muito obrigada pela sua participação.
R – Da mesma forma.Recolher