Projeto: A Economia Solidária na Vida das Pessoas
Entrevista de Maria Rosalina dos Santos
Entrevistada por Bruna Oliveira
Entrevista concedida via Zoom (São Paulo/Queimada Nova), 26/06/2023
Entrevista n.°: IPS_HV010
Realizada por Museu da Pessoa
Transcrita por Mônica Alves
Revisada por Bruna Oliveira
P/1 - Maria, para começar eu queria que você dissesse o seu nome completo, a data e o local do seu nascimento.
R - Sou Maria Rosalina dos Santos, eu moro no Quilombo Tapuio, no município de Queimada Nova, no Estado do Piauí e eu nasci em 03 de setembro de 1964. E, hoje, dia 26 de junho de 2023, tenho a honra de fazer parte dessa história do Museu. Que bom que a gente vai manter uma memória viva, sendo viva.
P/1 - E quais os nomes dos seus pais?
R - Os meus pais, em memória, que são falecidos. É Vicente Francisco dos Santos e Rosalina Ana dos Santos.
P/1 - E como você descreveria eles? Com o que eles trabalhavam? Como eles eram?
R - Os meus pais eram agricultores. O meu pai teve uma trajetória de vida cansada, trabalhada, para criar seus oito filhos. Então, o meu pai além de agricultor, trabalhar na roça, ele, por um bom período, tinha uma outra renda que ele conseguiu de, como a gente chama no Quilombo, “tocar boiada” para o fazendeiro, levando o gado de Queimada Nova, no Piauí, até Petrolina, em Pernambuco. Ele percorria ‘tocando’ esses gados, uma distância de 200 km a pé, ‘tocando’ o gado. Então era uma semana de viagem de Queimada Nova à Petrolina. Essa era a fonte de renda para fazer complemento do que vinha da roça para sustentar a família. Ele fez isso um bom período e já não dando mais, não sendo o insuficiente, nos anos 1960, ele começou a fazer viagens para São Paulo, trabalhava o período de seis meses em São Paulo e seis meses ficava na roça. Tudo isso para tirar o sustento e criar os seus oito filhos. E nós, os filhos, ficávamos com a minha mãe, que também era uma mulher muito, como se diz,...
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Entrevista de Maria Rosalina dos Santos
Entrevistada por Bruna Oliveira
Entrevista concedida via Zoom (São Paulo/Queimada Nova), 26/06/2023
Entrevista n.°: IPS_HV010
Realizada por Museu da Pessoa
Transcrita por Mônica Alves
Revisada por Bruna Oliveira
P/1 - Maria, para começar eu queria que você dissesse o seu nome completo, a data e o local do seu nascimento.
R - Sou Maria Rosalina dos Santos, eu moro no Quilombo Tapuio, no município de Queimada Nova, no Estado do Piauí e eu nasci em 03 de setembro de 1964. E, hoje, dia 26 de junho de 2023, tenho a honra de fazer parte dessa história do Museu. Que bom que a gente vai manter uma memória viva, sendo viva.
P/1 - E quais os nomes dos seus pais?
R - Os meus pais, em memória, que são falecidos. É Vicente Francisco dos Santos e Rosalina Ana dos Santos.
P/1 - E como você descreveria eles? Com o que eles trabalhavam? Como eles eram?
R - Os meus pais eram agricultores. O meu pai teve uma trajetória de vida cansada, trabalhada, para criar seus oito filhos. Então, o meu pai além de agricultor, trabalhar na roça, ele, por um bom período, tinha uma outra renda que ele conseguiu de, como a gente chama no Quilombo, “tocar boiada” para o fazendeiro, levando o gado de Queimada Nova, no Piauí, até Petrolina, em Pernambuco. Ele percorria ‘tocando’ esses gados, uma distância de 200 km a pé, ‘tocando’ o gado. Então era uma semana de viagem de Queimada Nova à Petrolina. Essa era a fonte de renda para fazer complemento do que vinha da roça para sustentar a família. Ele fez isso um bom período e já não dando mais, não sendo o insuficiente, nos anos 1960, ele começou a fazer viagens para São Paulo, trabalhava o período de seis meses em São Paulo e seis meses ficava na roça. Tudo isso para tirar o sustento e criar os seus oito filhos. E nós, os filhos, ficávamos com a minha mãe, que também era uma mulher muito, como se diz, trabalhadeira, ela não encarava o serviço, o importante era ter o suficiente para não ver os filhos passarem fome. Então nós somos de uma região, além de sermos do Nordeste, a região do Piauí, que é onde a gente mora, é a região da Caatinga, região do Semiárido, que as chuvas são variadas. E muitas vezes, como as chuvas não são regulares, não se consegue tirar uma boa safra da roça, então tem que buscar os complementos extras, para o complemento do sustento da família. Mas uma coisa é certa, o meu pai também, naquela época não existia escola, e o meu pai era contratado pelos pais de família, como ele sabia ler e escrever, era contratado pelos pais de família para dar aula, ensinando a ler e escrever os seus filhos em suas residências. Então assim sendo, o meu pai foi um bom mestre, não só para os filhos dos outros, mas para nós, que nos ensinou a trabalhar na roça. O meu pai dizia assim: “Olha, se não é seu e se não lhe deram, não pegue!”. E nisso a gente cresceu e estamos até o dia de hoje com esse ensinamento do meu pai. “Me deu, recebo. Não me deu, viu, deixa onde viu”. Então esse é um jeito educativo… e, da mesma forma, era a recomendação também da minha mãe, a minha mãe dizia: “Boca fechada, nem diz e nem escuta. Então se o assunto não lhe pertence, não entre no assunto”. Era um jeito educativo que eles tinham de ensinar, a gente cresceu com esses ensinamentos. O meu pai e a minha mãe, eles tinham o dom de benzedeira e de benzedor, o meu pai salvou muitas vidas de criança e até de adultos a partir da reza, benzimento. Assim também é a minha mãe. Já essa sabedoria, nem todos nós, os filhos adquirimos, então a gente se esforçou, eles se esforçaram, mas eu acredito que é uma coisa que vem do dom. E aí, talvez, nem todos nós, os filhos, herdamos esse dom, mas entre nós, apenas duas das filhas, assumem essa missão de continuar o benzimento. E assim a gente foi crescendo, fomos crescendo no colo da família, no seio da família. Aí os meus irmãos quando se tornaram jovens foram para São Paulo, trabalhar em São Paulo, mas a gente sempre ficou em casa. E daí, ainda criança, comecei a participar da vida eclesiástica, nos trabalhos pastorais da comunidade. É um pouco isso, não sei se você quer saber de mais alguma coisa.
P/1 - Eu queria saber se quando você era pequena, qual era, se tinha um cheiro, uma comida que lembra essa época da sua vida?
R - Ah, tá. Por eu ser da roça, então o forte da roça é a agricultura, a alimentação da gente era e, ainda continua, até os dias de hoje sendo, posso dizer 80% da roça. E assim, entre todas as comidas, uma que eu sempre tenho desejo por ela, porque eu acho que foi por ela que eu fui alimentada desde criança, é cuscuz com leite, mas o cuscuz tirado a massa do pilão, pila o milho, coloca de molho, no outro dia tira a massa, seca no quibano e assa o cuscuz, a massa natural e o leite que tira da vaca. Então tudo isso vinha da roça e acho que é por isso que marcou muito, porque quando criança, foi um dos pratos preferidos da minha vida, cuscuz com leite.
P/1 - E como era….
R - E que só tem gosto, só tem sabor, se for dessa massa pilada no pilão, aquela massa que vem do mercado, não é o mesmo sabor.
P/1 - Maria, e como era o Quilombo na época que você era criança? Como era a sua casa? Como era o entorno?
R - Então, o Quilombo quando criança, a minha casa, a casa dos meus pais era uma casa pequena, muito pequena para o tanto de filhos que tinha, mas assim, era pequena, mas aconchegante. Quando pequena, o meu pai trabalhava o dia todo, aí quando chegava à tardinha terminava a janta, ascendia o fogo no terreiro e aí a gente sentava ao redor do fogo no terreiro e ele ia contando histórias, eles contando histórias. O meu pai era muito de contar histórias, a minha mãe era de ensinar orações, ensinar a rezar. Então ficava até tarde contando histórias e a gente sentado ali só escutando e, às vezes, perguntando também. Então assim, o que a gente tem na memória, no início da nossa comunidade, do nosso Quilombo, foi justamente porque a gente teve a oportunidade de ter essa escuta, tá? Aí lá para a chegada da noite, não tinha rádio, não tinha televisão, não tinha nada, então quando ele cansava de contar história, aí a gente se agasalhava para dormir, e nenhum podia dormir sem antes pedir a bênção. Então a gente tomava a benção e ia dormir. Era uma coisa muito sadia. E assim eram as demais famílias que moravam ali no Quilombo, essa tradição do fogo no terreiro a noite, sentar para contar história para os filhos. Essa era a diversão que a gente tinha. E assim a gente foi crescendo. É que são coisas que hoje são um pouco estranhas para gente, porque a gente foi criado nessa tradição, desse jeito, com esse modo de vida. Então, durante o dia a gente fazia as lidas, a noite era fogo no terreiro para a escuta das histórias. Aí, às vezes, as famílias vizinhas faziam aquelas trocas também, às vezes, vinham, um vizinho vinha, aí completava aquela roda de conversa no terreiro até tarde, aí depois pronto, lá para às tantas da noite, que a gente não sabia, nem tinha horário, porque ninguém tinha relógio na época. Quando o pessoal começava a chegar, a gente já imaginava que estava na hora de dormir, aí nos despedimos, os vizinhos ou as vizinhas saiam, às vezes, vinham e traziam os filhos também, aí a gente ia brincar. A gente tinha brincadeira de roda, de gangorra, então assim, era uma vida muito tranquila, muito sadia, a gente não tinha tempo nem de brigar com as outras crianças, nem de pensar besteiras. É uma vivência muito forte, de irmandade.
P/1 - E me conta um pouco como foi essa entrada na comunidade eclesiástica? Como que foi? Como você se envolveu lá?
R - Então, aí a comunidade, a gente não pertencia… Queimada Nova ainda não era emancipada, a gente pertencia ao município de Paulistana. Paulistana era uma paróquia, aí veio um padre italiano, não, da Alemanha, e esse padre ao chegar na paróquia, começou a fazer umas visitas para fazer um trabalho pastoral para que as comunidades pudessem se unir em torno da palavra, em torno dos serviços sociais. O nome dele era padre Otto, e ele começou a chamar leigos e leigas para o anúncio da palavra. E na região da gente, tiveram alguns leigos e leigas que assumiram, eles faziam visitas nas comunidades, faziam reuniões, faziam esse chamamento. E o meu tio Adriano, foi um desses leigos que foi chamado para essa missão. E quando ele começou a assumir, um dos primeiros serviços que ele começou na comunidade foi a catequese. E a partir daí, eu comecei a participar da catequese. Começou também a fazer o trabalho com a juventude, formando grupos de jovens, então eu, ainda adolescente, comecei a fazer parte do grupo de jovens. E aí, foi participando do grupo de jovens que veio toda essa vida que eu tive, essa dedicação, essa doação para o outro. E na Pastoral da Juventude, quando estava com um ano, dois anos, que eu participava do grupo, eu fui eleita para fazer parte da Coordenação Diocesana, fazendo um trabalho com a juventude, não só da minha comunidade, não só da minha paróquia, mas também, da Diocese. E foi a partir daí que eu comecei a minha militância para fora da comunidade, porque até então só era na comunidade. E participando, assumindo a coordenação, a gente passava por alguns processos de formação. E foi nesse processo de formação que eu comecei a despertar, não só despertar, mas eu senti essa necessidade de ser fazer um trabalho social, trabalho social em defesa da causa dos menos favorecidos. E nesse decorrer de tempo, vem a emancipação de Queimada Nova, ela se desmembra de Paulistana e passa a ser município. E eu já estava nessa militância e aí uma companheirada do movimento social, do movimento sindical, assim que o município é emancipado, eles trabalhavam logo a fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, para que a categoria tivesse a própria organização. E foi quando foi feita uma assembleia para discutir a criação, a fundação do sindicato do município. E como eu já vinha dessa trajetória, nessa participação com o grupo de jovens, trabalhando a questão social, então o meu nome foi escolhido para assumir a presidência do sindicato na fundação. Para mim, foi assim, eu fiquei um pouco tensa, em intenção de dizer não, porque era uma atividade que eu não tinha vivência, mas pelo acúmulo de conhecimento que eu já tinha na Pastoral da Juventude, a insistência foi tão grande que eu acabei aceitando. Assumi a presidência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município, que foi fundado em 14 de setembro de 1992, eu ainda em fase de adolescência, mas acabei aceitando o desafio. E hoje eu faço essa avaliação de que tudo tem o momento e eu acredito que aquele momento era o momento mesmo, de eu assumir a direção para fazer a diferença. Então, o sindicato existe até os dias de hoje e muitos agricultores e agricultoras que não sabiam quais eram os seus direitos e seus deveres, hoje, eu vejo sendo beneficiados, tendo os seus direitos e fico feliz por ter podido contribuir nessa garantia de direitos e fazer chegar os direitos até eles. Então, eu fiquei por um período na direção do sindicato e, uma coisa vai envolvendo a outra, nessa participação, eu comecei também a fazer a defesa de direitos por segmentos, além dos agricultores, eu comecei a fazer um trabalho específico também com as mulheres agricultoras, a questão de gênero, trabalhar a questão do combate à violência. E aí como também tem todo um público de comunidades negras, eu comecei também a fazer esse trabalho fazendo esse recorte racial, porque era uma necessidade muito grande dos negros e negras das comunidades também se auto conhecer e lutar pela garantia dos seus direitos. E aí comecei a fazer um trabalho com as Comunidades Quilombolas, comecei pelo meu município e hoje a gente estendeu esse trabalho para todo o estado do Piauí.
P/1 - Maria, e como você chegou a CONAQ em si?
R - Então, justamente quando a gente avança nesse trabalho de mapeamento, construção de diagnóstico, de resgate histórico das Comunidades Quilombolas do estado do Piauí, a gente foi convidado para participar de um encontro a nível nacional. E aí a gente foi participar e, a partir desse encontro, foram escolhidas as coordenações, os representantes dos estados e foi a partir desse encontro que o meu nome foi convidado a representar o estado do Piauí na Coordenação Nacional. E aí como eu nunca fui de fugir dos desafios, aproveito que estou dando essa entrevista para vocês, dizer que aqui também é um desafio, acabei aceitando fazer parte para que o Piauí estivesse conectado a nível nacional nessa luta em defesa de direitos, em defesa e em garantias de direitos. Então, foi a partir dessa participação que eu comecei a fazer parte da CONAQ e ao fazer parte da CONAQ, eu entendi que não dava para eu estar ali só para representar o Piauí, era preciso estar nessa coordenação para somar com os demais, para a gente fazer essa luta a nível nacional, a gente formar essa grande rede de articulação em defesa e garantia de direitos de Quilombolas do Brasil. Então eu já tive a oportunidade de poder contribuir não só com o meu estado, mas com diversos estados do Brasil, nesse sentido, de fazer essa motivação, de fazer esse chamamento para que a gente possa, de fato, sermos, nós, os autores e autoras da nossa própria história. Porque foram mais de 500 anos dos outros falando por nós, pensando por nós, decidindo por nós e aí nunca, nunca é a mesma coisa. Eu vou fazer a defesa da causa Quilombola com sentimento de pertencimento, é totalmente diferente de quem faz a defesa apenas com o imaginário. Então, foi pensando nisso que, cada vez mais, eu tenho me envolvido na luta e defesa da nossa própria causa. Continuo fazendo a defesa dos agricultores e agricultoras em geral, a defesa das mulheres, mas agora eu tenho centrado muito, com força, nessa defesa da causa Quilombola, por entender também que nós somos a maior parte desse país em quantidade, mas também é a maior parte desse país em exclusão e invisibilidade. Então, somos nós que temos que assumir essa luta pensando nisso, não para sermos… para que a gente possa fazer uma luta, como se diz? Que a sociedade pode imaginar que a gente está fazendo uma luta separada, não, nossa luta é para que a gente possa ser incluído no contexto social, no direito à oportunidade, ou seja, queremos ser iguais.
P/1 - Maria, e quando começa também, como foi a sua história no CONAQ e também ligada à Economia Solidária? Como entra a economia solidária nessa ação?
R - Ótima pergunta! Então, as Comunidades Quilombolas em si (e isso vem desde os nossos antepassados e isso vai passando de geração em geração), vivem a verdadeira Economia Solidária no seu modo de vida, no seu modo de fazer, no seu modo de cultivar. Até no seu modo de comercializar, é uma verdadeira Economia Solidária, tipo, nos Quilombos, há muito quilo da partilha, então a partilha da Comunidade Quilombola é muito forte. E a Economia Solidária, ela não se dá apenas pelo mercado, ela se dá pela vivência, se você chega na casa de um quilombola, você não tem tal produto, você tem esse, aqui a gente chama de “vizinhar”, você “vizinha” com isso aqui e a vizinha lhe “vizinha” com isso aqui. Então há essa troca de partilha, por exemplo, a Semana Santa no meu Quilombo, na Semana Santa do meu Quilombo, só as famílias… tem família que só cozinha quarta, quinta e sexta, três dias na semana, tem família que só cozinha um dia, só faz uma refeição durante esses três dias, ou na quarta, meio dia, ou na quarta de noite, por quê? Porque as mesas comunitárias, por exemplo, lá em casa eram na sexta-feira, dentro do Quilombo na Sexta-Feira da Paixão, no almoço, só se faz dois almoços na comunidade, aí toda a comunidade vai para esses dois almoços, à noite, só são duas jantas e na Semana Santa, todas as famílias do Quilombo partilham. Aí tem a partilha para a mesa do jejum de cada família. Por um outro lado, a Economia Solidária no Quilombo, a comunidade é muito de produzir, quando se fala do mercado da Economia Solidária, então é muito de produzir. E aí os produtos, aquilo que tem o suficiente, é essa parte é que vai ser comercializada, mas vai ser comercializada de acordo, por exemplo, se for para um mercado convencional, o preço é um, se é para a própria comunidade, o preço é outro, o preço é de acordo com as condições da comunidade. Então, nunca é de explorar o teu próximo aqui. Então, isso também ainda é muito forte na comunidade. Um outro exemplo que eu posso colocar como Economia Solidária, é tipo, o meu irmão, ele teve um quiosquezinho na cidade, que a gente botou o nome de Bodega Quilombola, é do meu irmão, podia ser uma coisa particular dele, mas todas as outras Comunidades Quilombolas que produzem, que tem a seriguela, o tomate, pimentão, o cheiro verde, o mel, a abóbora, o milho verde e o feijão verde, todas as outras comunidades juntam os seus produtos e botam na Bodega Quilombola, que é de uma pessoa, vai se tornar Bodega Quilombola Comunitária, porque eles trazem o produto deles, trazem, vendem, no final da feira, eles só pegam o apuradinho deles e cada um vai suprir a sua necessidade. Então, para a gente, a Economia Solidária é isso, é você ser solidário com o outro. E isso a gente tem, isso vem desde os nossos mais velhos e, naturalmente, vai passando de geração em geração. Não sei se respondi à pergunta, mas, para nós, Economia Solidária é você ser solidário com o outro, é compartilhar, é haver um compartilhamento.
P/1 - Perfeito! Eu queria perguntar se teve alguma política pública da Economia Solidária que atingiu, de uma forma positiva, a sua comunidade. teve o projeto Brasil Local de Rede Quilombola, eu queria saber se você foi de alguma forma impactada por ele e de que forma isso aconteceu?
R - Então, ao fazer parte da CONAQ, da coordenação, assim, a CONAQ, ela participa de vários conselhos e aí nesse período que teve o Conselho Nacional de Economia Solidária, eu tive a oportunidade de participar como conselheira, representando a CONAQ. Então foi um período de muita vivência, de boas experiências e de boa convivência. E, ao fazer parte do conselho, na época, quando o conselho estava trabalhando esse processo da política de Economia Solidária através do Brasil Local, eu tive a oportunidade de trabalhar esse período com as Comunidades Quilombolas aqui no estado, não foram muitas, mas algumas foram contempladas, mas mais nesse sentido do processo informativo. Então assim, de receber apoio financeiro para investir como incentivo na Economia Solidária, a gente nunca recebeu, mas o processo informativo foi muito importante, porque, a partir dali, a gente conseguiu motivar várias mulheres para formar grupos para trabalhar juntas, para produzir juntas. A gente tem um grupo que até os dias de hoje ainda existe, na produção do remédio caseiro, do xarope. Então foi o resultado desse período do Brasil Local no processo de formação, que foi muito importante. Nós temos também um grupo de mulheres que trabalham a produção do sabonete artesanal, que é um sabonete também medicinal, que é o sabonete de aroeira. Então também é fruto desse período. Então, nós temos um outro grupo de mulheres, que também até os dias de hoje, trabalham a questão da produção de material de limpeza, isso também é resultado desse período. Então, assim, o Brasil, o projeto da Economia Solidária através do Brasil Local, ele chegou nessas comunidades, não com porte de recursos para que eles tivessem esse capital de giro, mas talvez muito mais forte, porque a formação ninguém tira, quando você adquire ninguém tira, você pode usar ela para buscar esses apoios, esses outros apoios que faltam.
P/1 - Maria, você chegou a conhecer o professor Paul Singer? Se sim, você tem alguma memória com ele?
R - Você não vai querer me fazer chorar agora. Então, assim, eu tive a oportunidade de conhecer ele, de conviver nesse período e quando se fala em Economia Solidária no Brasil, ele é essa pessoa. Aquele jeito humano, humilde que ele tinha e o carisma também que ele tinha para ver essa política avançar no Brasil. Então eu tenho uma memória boa e eu digo assim: “Obrigada!”. A palavra é gratidão a Deus por eu ter tido a oportunidade de aprender muito com uma pessoa muito sábia como ele.
P/1 - E tem alguma memória, alguma história muito marcante para você desse período na CONAQ que você queira compartilhar com a gente?
R - Então, eu acho que eu já compartilhei um pouco, mas é dizer ,assim, eu acho que aquele período ali, foi um período de abrir caminhos, abrir caminhos, apontar caminhos e dizer que um outro Brasil é possível a partir da Economia Solidária. A marca que fica desse período, a marca que ficou e continua vida desse período é que essa é uma política, que ela deve ser trabalhada em primeira mão. Não existe um Brasil de fato, não existe uma humanidade de fato, uma humanidade que possa viver com dignidade, se gente não trazer em primeira mão a economia solidária. Não é o agronegócio que desenvolve o país, não é o agronegócio que fortalece o país, quem dá sustentabilidade para o país é a Economia Solidária, porque a Economia Solidária, ela cabe a todas as pessoas, ela traz dignidade para todas as pessoas, de todas as cores, de todas as raças, de todas as crenças. Por isso eu entendo o carinho que o nosso mestre tinha pela Economia Solidária, é porque é o alicerce que sustenta o país.
P/1 - Maria, eu queria te perguntar sobre essa militância, se tem algum momento que foi desafiador para você durante toda essa trajetória? Se teve um momento, assim, o mais marcante de toda ela? Se você quiser compartilhar.
R - Na minha militância, eu já tive a oportunidade de experimentar várias experiências em defesa da causa social. Como eu coloquei, eu iniciei trabalhando com a juventude, nesse sentido de compartilhar conhecimento, fazer defesa de direito das mulheres, dos agricultores e agricultoras. Já tive a oportunidade também de experimentar, fazer a defesa de direitos, poder de uma gestão, já tive dois mandatos de vereadora. E já tive a experiência também de atuar, de buscar outras oportunidades de fazer a defesa de direitos, por dentro ainda não tive a oportunidade, estou falando de candidatura de Deputada Estadual, enfim. E todos os momentos são desafiadores, não existe nenhuma trajetória, não existe nenhuma militância sem desafios. Agora, o mais desafiador e entendo que é o mais necessário, é a gente tentar esses espaços. Mas o mais desafiador é na política partidária, porque na política partidária, a sociedade brasileira tem esse espaço, como um espaço para homem, além de ser para homem, branco e rico, com condições financeiras, porque a eleição, ela está deixando de ser um espaço democrático e está passando a ser um produto comercializado, ou então, ela deixa de ser um espaço democrático e passa a ser um produto leiloado: “Quem dá mais?”. Então quem dá mais leva. E por que eu digo que entre todas as jornadas da militância esse é o mais desafiador? Porque é um espaço que é necessário a gente ocupar, porque é nesse espaço que percorre tanto a gestão da política, como a aprovação das leis para gestar a política. E se a gente não está nesses espaços para a nossa voz está lá fazendo parte, a gente vai ser sempre gestados pelos outros, que aí fazem a gestão do seu jeito. E aí é desafiador, por que? Porque a estrutura não financeira está com a gente, a estrutura de comunicação não está com a gente, a estrutura de mídia não está com a gente e aí a gente tem que disputar em pé de igualdade com um povo desse, né? Então esse é o espaço mais desafiador, mas esse é o espaço mais necessário da gente ocupar. Digo isso, porque tive a oportunidade de experimentar em mandado e vi que consegui fazer a diferença, porque a voz que estava lá, não era a voz de Maria Rosalina, era a voz daqueles que nunca tiveram voz. E quantas vezes eu já coloquei o meu nome à disposição para concorrer a uma eleição no municipal e estadual, não é porque a candidatura não é minha, eu sou apenas um instrumento, para que eu possa receber um voto de confiança do eleitorado, ou seja dos Quilombolas, ou seja dos agricultores e agricultoras para que eles possam ter essa voz ativa nesse espaço de poder e decisão. Então, eu nunca pleiteei uma eleição pensando na Maria, mas sempre pleiteei essas eleições pensando naqueles e naquelas que sempre são usados como produtos descartáveis no período de eleição e quando passa a eleição, aqueles que chegam a sentar nessa cadeira, a primeira canetada que usa é para retirar o direito dessa população. Então é desafiador, como eu já disse, mas é necessário. E assim que puder, eu vou continuar enfrentando esse desafio, por entender que somente a gente é capaz de falar por a gente.
P/1 - Maria, o que é importante para você hoje?
R - Muita coisa! O que é importante para mim hoje? Talvez ainda seja isso que me sustenta nessa militância, o importante para mim hoje é continuar essa luta, e continuar essa luta em busca de novas pessoas que possam assumir ela também. Continuar essa luta contribuindo, compartilhando para que outras pessoas possam ser protagonistas das suas próprias histórias, para que outras pessoas possam ser autores e autoras da sua própria história, para que tudo aquilo que foi tirado da gente ou que é negado para a gente, a gente possa ter força para conquistar. O pouco que nós temos hoje garantido em lei e que tem chegado nas comunidades, é fruto dessa luta, é uma conquista muito suada. Então para mim hoje o que importa, é continuar na luta acreditando que posso contar com outros e com outras para somar comigo em busca dessas conquistas.
P/1 - E você teve filhos?
R - Então, nós somos cinco irmãs mulheres e três irmãos homens. Então as cinco irmãs mulheres, todas as cinco são solteiras, inclusive eu, não porque eu não tive uma oportunidade de casamento, mas é porque quando a oportunidade de casamento surgiu, eu estava no foco da luta, na militância em defesa dessa causa e talvez não fui compreendida no momento. Aí foi pedido para fazer uma opção: “Ou casamento ou a luta”. E eu vi que, naquele momento, a necessidade maior era a luta. Então por essas razões eu acabei casando com o movimento, casando com a militância e aí não me casei, não tive filhos, “E por que tu não teve filhos? É obrigado ser casada para ter filhos?”. Não, mas porque vejo também que a missão de ser mãe, é uma missão muito árdua e eu via que no momento não tinha como eu parar para ter essa dedicação no cuidado dos filhos, e aí, colocar um filho no mundo, para ele ser criado de qualquer jeito, vejo isso como irresponsabilidade. Então, por essa razão não me casei e nem tenho filhos biológicos, porém eu já tenho um monte de filhos no Brasil inteiro, para quebrar a cabeça, para me preocupar e para fazer a defesa. Então é isso.
P/1 - E quais são os seus maiores sonhos hoje?
R - Então, o meu maior sonho e é por isso que continuo lutando, é para que as mais de seis mil comunidades de Quilombolas do Brasil, elas possam ter os seus direitos garantidos e efetivados, inclusive a regularização dos territórios, a titulação dos territórios para que possa dar garantia de vida e permanência do Quilombo. Esse é o meu maior sonho, porque as demais políticas públicas, são implementadas a partir da titulação.
P/1 - Maria, essa pergunta é um pouco reflexiva. Qual legado você deixa para o futuro?
R - Meu legado para o futuro. Meu legado que deixo para o futuro, é que novas lideranças poderão dar continuidade a essa jornada de luta em defesa da causa Quilombola, quando eu não mais existir.
P/1 - Tem alguma amizade, alguma parceria nesse tempo na coordenação e na CONAQ que você se lembre com carinho, que você queira falar aqui?
R - Essa pergunta é muito íntima. Tá, assim, tem. Na CONAQ, a gente constrói um laço familiar e a gente se torna irmão e irmã, e eu tenho uma irmã na CONAQ, que eu não vejo a CONAQ sem ela, e ela tem nome e o nome dela é Givânia Maria da Silva, ela é minha irmã na CONAQ, porque foi com ela e mais ela que a gente deu vários passos para a CONAQ que é hoje, se tornar a CONAQ. Então é uma marca de momentos fáceis, mas de momentos difíceis também, foi por isso que assim, eu a tenho como uma irmã, porque a gente foi capaz de andar juntas e até de superar as situações juntas. É isso.
P/1 - Maria, a gente já está chegando no final, foi um pouquinho curtinho, né? Por conta do tempo, enfim, mas eu queria te perguntar se tem alguma coisa que eu não te perguntei que você gostaria de contar sobre a sua trajetória de vida e também sobre a sua trajetória de luta?
R - Na trajetória de vida, acredito que eu consegui dizer o que eu sou. Na trajetória de luta, acho que só para deixar registrado um pouco de como é mesmo essa atuação. Então assim, no Estado do Piauí, a gente começou esse mapeamento das Comunidades Quilombolas de uma forma muito tímida, que a gente imaginava… há gestores no estado do Piauí, que dizem que no Piauí não existia nem negro, quanto mais quilombolas, e a gente fez toda esse resgate, não para provar para eles que a gente existe, que existia Comunidade Quilombola no Piauí, mas para dizer para a sociedade piauiense, que por mais que eles trabalhem para manter a gente na invisibilidade, a gente estava dizendo para a sociedade piauiense que, no estado do Piauí, as Comunidades Quilombolas existem. Então, hoje, nós somos mais de 200 Comunidades Quilombolas no estado do Piauí, de norte a sul do estado. O Piauí, ele está dividido em dois biomas, a gente tem o bioma Cerrado e o bioma Caatinga. As comunidades têm uma concentração maior do bioma Caatinga, mas elas estão em todas as regiões do estado. Hoje, a gente tem uma coordenação estadual formalizada, que assume essa missão de acompanhar essas comunidades, de levar formação, trabalhar organicidade, enfim. Em algumas dessas comunidades, alguns projetos já chegaram, mas podemos dizer que as nossas conquistas, a nossa luta avançou mais a partir do Governo Lula, isso precisa ficar registrado, porque foi de 2003 para cá, que a gente conseguiu botar o nosso debate na pauta do dia, levar a nossa pauta, o nosso debate para a pauta dos gestores, que até então a gente não conseguia. Então, a gente tem avançado um pouco aqui no Piauí, como eu disse, algumas comunidades estão bem mais envolvidas e desenvolvidas com algumas ações que chegaram, outras ainda não, mas por isso que a gente continua na luta e em busca. A gente tem contado, isso tanto a nível de estado, quanto a nível nacional, a gente tem contado com parceiros que são sensíveis à causa quilombola, que tem somado também nesse sentido do fortalecimento, da formação, das buscas por oportunidades. Então hoje a gente tem uma coordenação no estado do Piauí, é uma coordenação unificada e que faz toda essa luta, mas a nível Nacional também a gente tem essa luta unificada. E a gente tem contado a nível Nacional, a CONAQ tem contado com parceiros, tanto parceiros aqui do Brasil, como parceiros fora do Brasil. Então a gente entende que hoje no Brasil, a CONAQ, o Movimento Quilombola, é um dos movimentos mais fortalecidos na luta e defesa dos direitos e em busca de direitos também. Então acho que é um pouco isso que eu não tinha colocado, estou colocando aqui para deixar registrado que nós somos esse movimento em luta, resistindo para existir e acreditando que se um dia a Maria Rosalina não existir mais, outras lideranças irão dar essa continuidade, porque se nós hoje estamos lutando, é porque antes de nós alguém lutou para nós estarmos aqui hoje. Então nós temos essa tarefa também, de lutar e de promover outros vários para dar continuidade a essa missão, essa luta que vai passando de geração em geração.
P/1 - Maria, essa pergunta você só responde se você quiser. Eu fiquei curiosa, porque eu estava lendo um pouco sobre você e estava escrito que chamavam você de Maria do Povo, é verídico? Se for verídico, como surgiu esse apelido? Eu queria saber um pouco se você quiser contar.
R - Então, como eu falei, quando iniciou a minha trajetória, eu fui catequista e catequizava no Quilombo, e uma das gurias… aí tinha um cântico que a gente sempre cantava: “Maria de Deus, Maria do Povo, Maria da singeleza da flor, vem caminhar vem com o seu povo”. E aí a gente cantava muito esse cântico nos encontros com as crianças, e aí uma das minhas sobrinhas começou a me chamar de tia Maria do Povo, mas isso dentro da comunidade, só que aí eu não sei como, essa Maria do Povo vazou para fora da comunidade e que aí foi para o município, se tornou Maria do Povo dentro do município e que de repente, aí esse Maria do Povo saiu para fora do município, no começou eu tentei ainda não aceitar, mas depois eu vi que era melhor eu aceitar de uma forma amigável, porque eu não ia mais conseguir tirar da boca do povo, e aí ficou Maria do Povo. E aí hoje é uma Maria de todos os nomes, se você chega no Quilombo, se você procura por Maria do Povo, você me encontra, mas até então, era Maria de Rosalina, não era Maria Rosalina, Maria de Rosalina, Maria do Povo ou Maria do tio Vicente, isso dentro da comunidade. Na minha militância, e aí andando nas idas e vindas, aí passou, além de Maria do Povo, o pessoal começou a chamar de Rosalina. Na verdade, Rosalina é minha mãe, é porque todas nós, as filhas, fomos registradas com o nome da minha mãe, tá? Aí o meu nome é Maria, mas no registro é Maria Rosalina, só que aí na minha militância o pessoal deixou o Maria e chamou só de Rosalina. Então por isso que em alguns lugares eu sou Maria do Povo, Maria de Rosalina, Maria do tio Vicente, Rosalina ou Rosinha. Então, eu tenho sempre dito que eu sou uma Maria de tantos nomes. E aí por isso a única coisa que fiz foi aceitar amigavelmente, todos os nomes e os títulos que as pessoas me dão.
P/1 - E o que você achou de contar um pouco da sua história hoje para o Museu da Pessoa? Como foi essa experiência para você?
R - Bruna, eu tenho sempre dito, que é difícil a gente falar do que a gente não vive, porque você tem que inventar, mas quando a gente vai falar do que a gente vive, você consegue dizer, você consegue transmitir os seus sentimentos, porque não é uma fala artificial, você está falando da vivência. Então, para mim, hoje, eu posso dizer para você que foi tranquilo fazer, posso dizer que foi tranquilo. Por um outro lado, é uma momento assim, para mim é um momento de gratidão a Deus por essas oportunidades, porque eu acredito que existem muitos historiadores no país, no Brasil, no mundo e, às vezes, a gente nunca é de parar para olhar para a gente, para ver que a gente também é capaz de fazer história e um momento desse, é um momento que vai proporcionar alguma coisa ficar registrado, para que outra pessoa possa saber que eu existo e que além de eu existir, eu consigo dizer alguma coisa sobre a minha existência. Então é um momento assim, de agradecer a Deus e a ancestralidade por essa oportunidade. As oportunidades na vida da gente, elas não surgem por acaso, as oportunidades na vida da gente, elas acontecem justamente porque elas são movidas por uma ação de vida. Então se nós estamos aqui como instrumentos, como instrumentos da ancestralidade, como instrumentos da divindade, esses momentos surgem na vida da gente. E quando surge, é Deus que nos ajeita, como esse instrumento da ancestralidade, e diga: “Vá, dá um recado”. E aí a gente fala do jeito da gente. Quem vai ter a oportunidade de escutar essa história, de ler essa história, eu não sei, que façam as interpretações. Quero dizer que não sou nenhuma acadêmica, nunca passei por nenhuma universidade acadêmica, porque a minha universidade foi a vida, então eu vivo em uma universidade, na universidade da militância, na universidade da vida. E, antigamente, eu tinha um certo receio, ou não sei se era vergonha, ou era medo, porque a sociedade também trabalha para inferiorizar a gente, nós, negros e negras, de dizer que a gente não sabe, que só quem sabe é quem estudou, só quem sabe é que tem doutorado, só quem sabe é quem passa por tudo isso, esses são os sábios da vida, mas eu me libertei disso a partir do momento que quem está nas universidades vem me estudar, aí eu comecei, “‘Pera’ aí, tem alguma coisa errada nessa gente, como é que eu só tenho o ensino médio, eu não sei de nada, por que eles estão vindo me estudar?”. Então, a partir daí eu aprendi que eu também sou historiadora, porque o que eles botam no papel foi o que eu disse, eles só transformam em conhecimento acadêmico, mas foi o que eu disse. Então eu sou formada na academia da vida, eu sou historiadora. Então esse momento aqui, está sendo um momento oportuno que vocês, que o Museu está me dando, para eu continuar escrevendo a minha história, contando a minha história. Eu só quero agradecer, agradecer mesmo de coração por essa oportunidade.
[ Fim da Entrevista]
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