Praia Pedra do Sal, 17 de outubro de 2019. O óleo já atingia as praias de Salvador a pelo menos 6 dias. Agora já não era mais com os meus vizinhos do litoral Pernambucano, o desastre ambiental entrou sem permissão no meu quintal, nas praias que significam tanto pra mim. O som do mar batendo nas...Continuar leitura
Praia Pedra do Sal, 17 de outubro de 2019. O óleo já atingia as praias de Salvador a pelo menos 6 dias. Agora já não era mais com os meus vizinhos do litoral Pernambucano, o desastre ambiental entrou sem permissão no meu quintal, nas praias que significam tanto pra mim. O som do mar batendo nas pedras não me trazia mais a sensação de calma ao qual eu estava habituada, agora eu sabia que cada nova onda trazia consigo um material tóxico, de cor escura e cheiro forte o suficiente para fazer o olho lacrimejar. 8:00 horas da manhã e eu já tinha os pés na areia, protegidos com uma bota 7 léguas, luvas de borracha nas mãos e uma máscara emprestada do laboratório da faculdade. Não se tratava mais de pequenas manchas, as poças que antes abrigavam águas cristalinas e peixinhos coloridos agora não passavam de óleo.
Por minutos que pareceram uma eternidade, me vi sem ação. Éramos 8 ou 9 voluntários, a maioria composta por moradores das casas próximas, nossos sacos de lixo ameaçavam derreter rápido demais, nossas mão sentiam a alta temperatura da substância escura e grudenta, tínhamos apenas um carrinho de mão e nenhuma pá. Foi feito o pedido de socorro, precisávamos de reforços. Quando se está em uma situação que requer um alto gasto de energia (física e, principalmente, mental) a corrente de suporte é a diferença. Nosso time se multiplicou rápido, os surfistas deixaram as pranchas e marcharam em direção a praia com a rapidez que requer para pegar uma boa onda, os estudantes deixaram as salas de aula para colocar em pratica o que não pode ser ensinado, aqueles que podiam faltar ao trabalho o fizeram, aqueles que trabalhavam para limpar a praia se entregaram como nunca antes, aqueles que estavam longe perguntavam como podiam ajudar. Fui voluntária naquela manhã de muito óleo - e em muitas outras limpezas que a sucederam - e em nenhuma delas eu estava sozinha. Ser voluntária, no dicionário, é o ato de ajudar quando necessário. Na prática, ser voluntario é fazer a diferença. E nada faz mais diferença do que a união. Hoje consigo quantificar o óleo através de números divulgados nos jornais: Até o momento em que pisei na praia haviam sido retiradas 22 toneladas de óleo das praias de Salvador, após aquela manha de limpeza foi alcançada a marca de 26 toneladas, e isso só se fez possível pelo esforço de todos aqueles que sujaram as mãos, que enviaram doações, que cobraram respostas do poder público, que apoiaram pesquisadores, a todos aqueles que formaram uma correte no litoral nordestino, mesmo vivendo no outro lado do mundoRecolher