Projeto Memória dos Brasileiros - Ação Griô Nacional
Depoimento de Manuel Bispo dos Santos
Entrevistado por Ana Nassari Cláudia Leonor
Lençóis, Bahia, 08/10/2007
Realização Museu da Pessoa
MB_HV047
Transcrito por Luisa Fioravanti
Revisado por Paulo Ricardo Gomides Abe
P/1 – Para começar...Continuar leitura
Projeto Memória dos Brasileiros - Ação Griô Nacional
Depoimento de Manuel Bispo dos Santos
Entrevistado por Ana Nassari Cláudia Leonor
Lençóis, Bahia, 08/10/2007
Realização Museu da Pessoa
MB_HV047
Transcrito por Luisa Fioravanti
Revisado por Paulo Ricardo Gomides Abe
P/1 – Para começar então seu Manuel, diga o seu nome, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Manuel Bispo dos Santos. Nasci no dia 25 de dezembro de 1937.
P/1 – E o seu local de nascimento?
R – Eu nasci em _______________. Agora houve um erro porque o meu irmão me registrou aqui em Salvador, então eu tenho o problema desse erro, pois eu não pude consertar e sou feliz em Salvador por esse motivo. Porque o meu irmão me registrou aqui!
P/1 – E você disse que te registraram com outra data de nascimento?
R – Foi, exato. Porque eu nasci em 1935 e minha mãe, no dia do batizado, foi ela que me registrou, e eu vim descobrir isso quando eu fui me casar. Porque no batistério estava 1935 e os padrinhos, antigamente, eram muito responsáveis pelos garotos que batizavam. Eles tinham cadernetas e ele pediu permissão para o pai dele, tinha 18 anos, e pediu permissão para o pai dele para poder me batizar! Se hoje ele tem 90 anos eu tenho 72! É uma coisa tão fácil, certo? Ele descobriu que eu nasci em 35, mas só que meu irmão, que me trouxe aqui para Salvador, botou que eu nasci em 37, que foi quando eu me batizei. Esse foi um problema. Agora eu nasci _____ pequenininho, como todo mundo nasceu.
P/1 – E só depois então que você ficou sabendo que a data estava errada?
R – Foi, fiquei sabendo quando eu já estava com 20 anos, namorando e casando e foi aí que eu vim a saber.
P/1 – E como foi? Você ficou feliz?
R – Não, não fiquei muito feliz, não, porque eu... Todos vão servir o exército com 18 anos e, quando eu fui servir, tinha 20, por causa da idade. 20 anos, já sabendo que eu estava forte, bonito e maravilhoso. Eu fui já (mauro?) com 20 anos servir a base aérea.
P/1 – Seu Manuel, conta um pouquinho da tua infância. O que os seus pais faziam? Como que era?
R – Meu pai trabalhava na roça, era muito inteligente, tinha uma cerraria, ele cerrava aquelas madeiras que se chamavam __________, botava aqueles troncos em cima e tirava as ripas, barrote na mão, no serrote. Ele foi um homem muito bem valorizado por Getúlio Vargas, na época em que eu nasci, em 35, houve uma lei _______, onde o meu pai foi considerado o primeiro homem de Santo Amaro! Eu tenho que falar muito do meu pai, mesmo. Considerado o primeiro homem de Santo Amaro por causa da Lei ____________, que quem comprasse o terreno tinha que pagar! Ele foi o único que pagou Santo Amaro por obrigação. Então Getúlio Vargas deu um título a ele para tirar dinheiro do Banco do Brasil e emprestar para quem ele quisesse. E ele, já foi um Griô e eu puxei a ele. Daí para cá ele cresceu de uma maneira que no final da história eu vou contar o que aconteceu na história dele, então precisava ________ na roça, ele ia no Banco do Brasil e tirava: “Toma aqui, para plantar a roça!”, não ficava com nada de ninguém, mas só que o pessoal perguntava de ________na roça, quer dizer, duas _________, uma dele e a outra. Porque se o cara não pagasse a conta, ele, com aquela roça pagava a conta, cobria a despesa. Ninguém mais cobre depois dele e, quando ele faleceu, foi uma multidão de gente, e até hoje eu chego em Santo Amaro da _____________, aquelas pessoas de idade, se eu tomo uma cerveja, eu tomo e não pago. Se eu pedir uma bebida, eu não pago, independente do lugar que eu vou beber. É muito importante o meu pai.
P/1 – Ele emprestava dinheiro, era isso?
R – Emprestava dinheiro. Tirava do banco, emprestava sem cobrar juros, não cobrava nada. Ele era avalista, ele pegava o dinheiro e dava para você trabalhar, e a roça era de meia, então, se você não pagasse com a sua meia, ele pagava com a meia que ele recebia sua, e então ele cresceu _______ comprando vaquinha, aí de uma foi para outras. E deixou a gente mais ou menos. Até hoje eu tenho um terreninho lá que tem a minha vaquinha, _________________Catarina, botamos o nome Catarina porque eu tinha uma namorada de nome Catarina e botei o nome da vaquinha de Catarina e o bezerro Curió, nasceu agora em ___________, tem ______________, de minha irmã, de meu filho, tem diversos, então vou dizer para vocês, santo amaro foi uma honra. Agora vou contar a minha história mesmo, já contei de meu pai...
P/1 – E a tua mãe?
R – A minha mãe não deu muita sorte com o meu pai, porque o meu pai era muito bonito e arrumou uma negra e deixou a minha mãe. Eu sou filho caçula dela, mas além de mim o meu pai tem mais 14 com outra criatura.
P/1 – Você é o único então do casamento com a tua mãe?
R – Não, tem cinco! Eu sou o caçula. Meu pai teve mais de 20 e tantos filhos! Com a sorte teve 14. Agora o privilegiado era eu, porque quando eu estudava eu comia na casa de minha mãe e comia na casa da outra, eu tinha duas mães.
P/1 – Você se dava bem com as duas?
R – As duas!
P/1 – E tinha um monte de irmão também?
R – Irmão eu tenho até hoje.
P/1 – E como que era com os seus irmãos na tua infância, vocês brincavam do quê? Quais eram os jogos prediletos?
R – Eu estudava, eu era mais velho que os meus outros irmãos, porque eu era o caçula, mas não da segunda esposa dele. E eles iam para o colégio comigo porque o colégio era muito distante, assim mais ou menos de 18 a 20 quilômetros que a gente andava para ir para o colégio, uma dificuldade, de manhã. _________ nós conseguimos estudar, porque nem todos os meninos tinham a oportunidade, que _____________ montado a cavalo, não é? Tinha o seu cavalinho para montar, ia montado, botava o meu irmão, a minha irmã ia com outro e a gente ia os quatro estudar juntos e era uma bênção, a professora. _________ sete anos de idade. Quando eu comecei a estudar, eu tinha cinco anos, eu já ia para o colégio. Meu pai me levava, __________ que eu parecia com ele, pareço até hoje. _____________ quando eu passo hoje, com esse cabelão branco assim... O que acontece, não é? Eu, com sete anos de idade, fui escolhido para fazer uma palestra, um poema entre os 20 meninos que estava no colégio. Meninos de 14, 15 anos e eu fui escolhido, com esse talento todo, as pessoas escolheram, com aquela roupinha __________, sapatinho. Meu pai sempre cuidou da gente. A gente era sempre bonitinho para demonstrar que ele era o Camilo da ____________, a gente tinha aquele poder de chegar bonitinhos para a professora. Eu fui chamado para fazer esse poema e um dia a escola, acho que foi 2 de julho a festa, se não me recordo, de 1944! Só que quando eu tinha sete anos eu já tinha nove (risos), sem saber, e era muito crescido, então aquela história, se eu fui com cinco anos para a escola eu fui com sete! ______________________________, mas eu nunca tive essa idade assim. Porque ela diminuiu a minha idade e eu fiquei sem saber, só agora que eu fui saber, quando eu fui casar, porque eu nunca procurava o meu batistério, nunca achei. Então esse poema foi assim. Ela mandou o menino sair, a menina ficou na sala ____________ um poema, eles chegavam __________________________, meu chapeuzinho. Até hoje eu gosto de chapéu. “Boa tarde, moça da varanda, papai não está em casa, o senhor pode voltar”. Voltava. Um dia eu insisti, “Boa tarde, moça da varanda!” Então a professora respondeu: “Papai já está em casa, você pode entrar!” Com esse poema eu recebi o _________ do melhor menino da sala. Daí para cá eu fiquei fazendo os poemas.
P/1 – Então foi a primeira vez que você fez um poema? Esse foi o poema? Você se lembra qual foi o poema? Se você se lembrar do poema que você falou o outro dia.
R – _______________ foi o verso no final, mas eu disse assim. Então eu cheguei para a menina e disse, a menina também era inteligente, eu disse: “Menina, se tu é minha, tu não brinca com ninguém, brinca com eu ____ faz ciúme ________.” Ela disse: “Sabe, não jogue pedra em mim, não, que eu estou lavando louça. Jogue um beijinho de longe que papai e mamãe não ouça!”. E nós dois éramos pequenininhos e fomos escolhidos pela professora, pelo pessoal de Santo Amaro que foi, o meu colégio foi do interior, Santo Amaro foi uma cidadezinha, como eu te falei, 18 quilômetros, três léguas, cada légua são seis quilômetros, então, ia chamar nos dias das festas e a gente ia sair daquela roça, era ___________ que a gente tinha, e iam buscar, montado a cavalo, porque nesse tempo não tinha bicicleta, não tinha carro, não tinha nada. A dificuldade da gente agora passou. Quando eu fui para Santo Amaro estudar, eu vi Besouro Preto jogando Capoeira e eu me interessei pela Capoeira, minha mãe ficava na roça e eu fiquei na casa da minha tia lá, só escondido da minha tia para jogar. Não tinha academia, eu jogava na rua. Besouro estava jogando na rua com a gente, ensinando, nesse tempo não podia jogar Capoeira porque a polícia pegava, prendia os mestres todos. Mas o Besouro era valente, bravo e, quando chegava, ele mandava os meninos correrem, os alunos correrem e _________ tudo sozinho. Nesse tempo não tinha arma, os policiais andavam com um cassetete deste tamanho e quando batia em Besouro ele pulava para lá, passava rasteira e os caras caiam, Besouro ________________. Então Besouro foi preso e, além de preso, amarrado, se ele fosse solto brigava com tudo que era soldado. Besouro preto malandro. Então eu comecei a Capoeira, na realidade com 12 anos que eu fui para Salvador, mas já tinha 14, né, ________ isso tudo, eu cheguei lá e meu irmão era polícia, me pegou: “Ah, meu irmão joga Capoeira!”, e me levou para Mestre Caiçara, Largo de Julho.
P/1 – E lá podia jogar?
R – Lá em Salvador já podia jogar! Já estava mais civilizado?
P/1 – Mas por que no Rio a pessoa era presa quando jogava Capoeira?
R – Porque era proibido, Capoeira era de malandro. Quem jogava Capoeira era malandro. Não existia e a Capoeira era uma luta, chamava Batuque, era a Capoeira. Essa Capoeira veio da Angola e meu pai tomava conta de engenho porque lá era mais, a minha mãe era bem pretinha e o meu pai era bem claro, e meu pai tomava conta do engenho. Os "negos" iam para a Senzala. Em Santo Amaro tem 15 engenhos, fora de Cachoeira que são mais 15, são 30 engenhos na região do Recôncavo Baiano e é tanto como eu falei, que eu fiz essa música: “Não mal trata esse negro, não. Esse negro foi quem me cuidou, de calça lascada e camisa furada foi o meu professor! Não bate nesse negro, não. Não maltrate, não, esse negro foi quem me ajudou, de calça lascada e camisa furada foi o meu professor!”. Caiçara ______ jogando, _____________________ isso aí. Meu irmão me levou para uma roda de Capoeira em Campo Grande, Salvador e então Caiçara, um dos grandes mestres, Bimba Caiçara. Aquela roda de Capoeira bonita, eu cheguei para jogar a minha malícia que eu aprendi a jogar com Besouro Preto, o mais valente do mundo, na época dele. Eu fui jogar essa Capoeira lá. Quando a roda formou, o Caiçara foi brincar comigo, brincar pensando que eu não sabia, pensando que eu sou cigarra, que eu não canto e levo o dia, Sabiá do Mato Grosso __________ passa longe do bico dele, vontade dele também consolar. Ele deu um vacilo e eu dei uma rasteira nele. Ele caiu e a turma deu risada, mas meu irmão era polícia e polícia nessa época era respeitado. Hoje em dia que não tem muito valor, que tem que sair armado porque se sair armado o ladrão mata, então quer dizer, é uma realidade, é um mundo assim que nós estamos.
_________________, me tapeou e me chamou para a roda de novo. Quando eu fui me deu uma cabeçada desconcertante, mas não me deu ¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬_________, me tirou fora da roda e disse: ______________ _________ e me abraçou e disse: “Você vai ser um grande mestre de Capoeira!” Falou com perdão, e meu irmão, por sinal, faleceu agora, ele tinha 54 anos em São Paulo, onde eu tenho os meus afilhados lá em São Paulo, que é filho dele, mora na Vila Maria. Tem outra menina que mora em Guarulhos, que eu batizei lá em São Paulo. Na época que eu estava lá, e eu me sinto muito orgulhoso de conhecer São Paulo, mas _____ 15 anos, porque eu estava nos 15 anos. Quando eu fiz 18 anos e era 20, na realidade, eu fui para o exército. Essa história é muito engraçada. Eu fui para o exército só que o exército, _____________A que era muito forte, fui para o exército e do exército _______ grupo _________. Mas o exército não estava precisando e me mandou como voluntário para a base. Prestei para a base aérea. Fiquei um tempo na base e na base me perguntaram: “Para onde você quer ir?” “Quero ir para São Paulo porque tenho um irmão lá!” Me botaram num avião de carga, ______________, e eu fui para São Paulo. Lá em São Paulo, eu não fui nem procurar o meu irmão, porque naquela época a base dava 15 dias para você comer e beber de graça se tinha boa conduta. Os colegas disseram: “Ah, tem um serviço na Fundição Brasil!” Eu fui trabalhar na Fundição Brasil em 1956, há 50 anos atrás, 50 anos, não é 50 dias, 51. Eu trabalhei na Fundição do Brasil na Mooca. Não fui para a casa do meu irmão, aluguei uma pensão na Rua Ezequiel, 56, onde os donos da pensão são meus compadres, para você ver como eu era querido. Eu já era bom de Capoeira, defesa pessoal, bom em tudo, baiano zangado, forte, valente e bravo! E teve um campeonato de... Você pesquisar isso na ____ esportiva lá, tem junto, eu fui campeão brasileiro de queda de braço! E está o meu nome lá: Braço de Ferro da Bahia, disputando com 72 vilas de São Paulo, Vila Maria, Alpino, Diva, eu representei a Vila Maria, porque eu morava lá, tinha a Vila Guilherme, sobe a ladeira, Vila Maria Alta e Vila Maria Baixa. Vila Monhões, Vila Alpina, Vila Diva, eu conheço São Paulo assim, porque eu fazia coleta lá. Aqui a gente chama __________, mas lá é coleta, você fazia coleta lá.
P/1 – Coleta de quê?
R – Carga, então você ia nas empresas, as empresas _______ carga. Você tem um pacote para Salvador e a empresa vai buscar na tua casa, mandar para o Recife, Paraná, qualquer lugar, estou falando da minha vida um pouco. Quando foi, eu trabalhei até 1970 e pouco. Eu sei que eu sofri um acidente. Vou pular um pouco porque essa história é um pouco longa, eu quero contar a minha data agora, a alegria que eu estou tendo agora, se não eu vou contar muita coisa aqui.
P/1 – Mas se quiser falar, não tem problema, não estamos com pressa!
R – Então o que aconteceu? Eu trabalhei na Fundição Brasil, trabalhei um ano e pouco na Fundição, e a minha mãe ficou doente aqui. E eu pedi umas férias na empresa e a empresa não me deu. Eu esperei receber o meu dinheiro. Olha como eu era valente. Quando eu recebi o dinheiro, eu peguei, abandonei tudo lá e vim ver a minha mãe. Eu acho que a melhor pessoa do mundo, até hoje, é a minha mãe! Eu não faço brincadeira, não xingo nem um milímetro assim, não gosto de brincadeira, não gosto que falem da minha mãe, porque a minha mãe me criou com o maior carinho, maior amor, aquela dificuldade, mexendo farinha e trabalhando na roça, um serviço brabo, pesado, para me dar. Ali na roça poucos meninos estudavam, poucos e eu tive a bondade, o privilégio de estudar, de vir para a cidade, para a roça, vim para a cidade para estudar e depois meu irmão achou o meu talento e me trouxe para Salvador, foi o que eu acabei de contar, a Capoeira, certo? Então essa maravilha que eu ganhei, eu estava tão bravo _________ minha mãe, quando cheguei aqui eu entrei na Petrobrás, fiz um curso e o passei na Petrobrás. Aí trabalhei...
P/1 – Você voltou para ficar, então?
R – Não voltei para ficar. Não me deram férias. Quando eu recebi o dinheiro no fim do mês, eu peguei e larguei meu serviço lá. Tirei outra carteira e deixei a carteira lá presa, trabalhei na Petrobrás aqui, dinheiro pouco, mas ___, ir para São Paulo para trabalho? Naquela época tinha muito serviço, emprego aqui, placa ali, e eu já tinha aprendido na Fundação Brasil ser maquinista, ________, ___________ em máquina de esteira, que fazia aquelas peças de polimã. Vocês sabem o que é polimã? Aqui não, aqui chama ___________, lá é polimã, não sei, você não têm, não. __________ de saia que eu sei fazer, aquela banheirona dos burgueses tomar banho, chama banho de __________, foi eu que fiz aquilo ali. Para você ver, eu saí em um ano e oito meses daquela Fundição, e aquela Fundição era assim. Hoje não existe isso, mas eu disse: “Olha, ajudante de diversos!” Eu era ajudante de diversos, veja a dificuldade que era e a qualidade que era a boa vida que a gente tinha. Se você não aprender com três meses você _______ nada! Quer dizer, entrava 100 e ficava um. Todo dia tinha vaga para cem e só ficava um ou dois, porque o serviço era tão brabo, mas tão brabo, que só ficava quem fosse macho mesmo. Era pegar assim, 13 carrinhos de terra por hora, eu me lembro como se fosse agora, 13 carrinhos de terra por hora, e eu botava em 20 minutos os 13 carrinhos. Ou seja, no meu período de horário, menos da metade eu fazia a minha tarefa. Então, o mestre da máquina gostou de mim e começou a me ensinar malandragem, __________, botava a cabeça para tirar a peça, o vermelho para parar, o azul para coisa, outra para suspender, outra para bater, então eu aprendi rápido. É tanto que quando o mestre saiu de férias eu ________ por 60 dias lá na firma, eu também, três dias se passaram, passaram. Eram três dias o teste, aí eu passei. 90 dias você trabalhava para aprender a profissão: “O que você quer ser?” “Quero ser maquinista!” A máquina corria assim, de lá para cá, eu queria ser maquinista. Pronto, maquinista. Quando ele saiu de férias, ele disse: “Meu ajudante, muito inteligente ____________________________?” Ele disse, ele tinha 13 anos na firma, era um homem de prestígio, de história. “Me ajudou até aqui e quero que fique na minha máquina.” Fiquei na máquina dele, quando eu estava com cinco, seis dias, mas tinha um segredo a máquina, a máquina __________ peças no período de seis da manhã ao meio-dia, _________, não é? E toda a peça você tem que limpar o _______, o _____________ é o que bota terra. Então ela fica com aquela poeira e você tem que passar um oleozinho que é para poder, quando a peça sair, não sair bexigada, que não serve, bexigada, era _______ de caminhão, era sanitário, que hoje chama-se _________, não é, banheira de sala, ______, que eram essas pias pequenas, então a gente fazia isso aí na Fundição Brasil. O que aconteceu? A gente saiu de férias e com 15 dias chegou uma máquina americana lá. Você vê o que é uma pessoa ter sorte, porque tudo na vida é sorte. Não é sorte eu estar aqui com vocês? É sim! É uma sorte vocês me escolherem para dar essa entrevista e a qualidade que vocês tem também! Depois eu falo da tua qualidade, eu falo da minha e depois vocês falam da de vocês quatro que estão aqui, que são da idade de ser meus netos, meus filhos, certo, com todo o respeito! O que aconteceu com essas máquinas? Quando (Surucaba?) voltou eu dei a maior surpresa nele, chegaram essas máquinas para o __ e o americano chegou lá e disse que as _________ mais_________ vai trabalhar nessa máquina, eu vou escolher dez e os que tirarem _________ mais linda. Eu caprichei, ________, pegava o óleo, passava no _________, enxugava a tampa, quando bateu as seis máquinas, as minhas peças, gente de dez anos, oito anos, aqueles coroas lá, tudo se passou, quando pegou as seis peças minhas foram as melhores. Então a _________ no meu como, eu era ajudante, não era nem maquinista ainda, me _______ e disse: “Eu quero esse rapaz para treinar!” Começou a me treinar.
P/1 – Assim você virou maquinista?
R – Eu virei maquinista de uma máquina que não existia lá na firma, aquela que chegou americana _________. Passei a treinar com o americano. Quando precisava de __________ aqui, você sabe __________ fora e não tirava as peças boas, ele: “Ah, tem que cuidar dessas peças mesmo e tal! E quem foi que lhe ensinou?” “Foi o mestre (Surucaba?)!” O americano disse: “Quando chegar você vai ensinar ele!” O americano gostava de tomar uma cachacinha e eu era forte e o vigilante tinha medo de mim, medo de baiano. Eu entrava na cachaçaria com o americano aqui dentro para beber, ___________________, a minha cunhada era costureira, costurava o _________ por dentro, pegava __________, pegava aqui dentro. Quando chegava lá: “Toma aqui, doutor!” O americano tomava o negocinho dele lá, todo o dia trazia uma cachacinha para ele. Ele me ensinou uma malandragem, quando (Surucaba?) chegou, acho que foi com 32 dias, e aquela máquina nova, olha a gente fazia seis peças e seis horas que era das 12 às seis. A máquina fazia 16 peças por hora, a máquina. Para você ver como evoluiu, essas máquinas americanas são inteligentes, certo? E eu fazia 16 por hora, as peças, 16 por hora, quer dizer, em seis horas eu fazia 96 peças, não é?
P/1 – É isso.
R – Eu também sou bom em Matemática, Matemática eu sou fera. Não vou voltar a história, mas naquela época, a Sabatina, está dentro da história isso, a Sabatina no colégio, hoje, tinha a Sabatina lá na escola, professora Liu, o nome dela era Joaquina... Eu botava os meninos tudo em fila. A irmã dela era pequenininha assim e perguntava as perguntas, saía perguntando, cinco vezes, seis, quem não soubesse, o último, e eu era menor porque era da fila, e eu ficava menor, quando ninguém dizia, chegava em mim, eu já estava preparado! Cinco vezes seis 36, ____ fora, nada, nove vezes 19 é fácil fácil, nove vezes nove é 81, 171, pronto, ____ todo mundo aí, pá pá pá, dava bolo em todo mundo, _________ difícil, dava madeira em todo mundo lá, eu era muito forte. E até hoje, graças a Deus, eu agradeço a Deus por me fazer assim, certo, também o meu avô foi descendente de índio, e é por isso que eu sou forte assim, a minha mãe pretinha e o meu pai claro, quase da qualidade, viu? Por isso que eu gosto de toda a raça! Então, quando eu saí da Fundição que eu vim para cá na Petrobrás, e fiquei pouco tempo também na Petrobrás porque eu fui muito injustiçado na Petrobrás. Eu fiz um curso, e as máquinas que eu trabalhava em São Paulo eram as mesmas máquinas que tinham na Petrobrás, só que eu entrei na _________, ________ era serviço braçal. Enquanto eu tive a oportunidade de fazer um curso, eu fiz para a Produção. Quando eu fiz para a Produção, o curso, tinha duas vagas e três pretendentes. Eu não era bom em ditado, mas era bom em matemática, matemática eu tirei 10, História eu tirei 10, agora, no ditado, acho que tirei seis e o cara tirou 10 no _______________ dele, mas o _________ disse: “Não, eu não quero o cara que tirou 10, não no trabalho!” Para você ver o que é racismo. Quando eu fui: “Ah, o rapaz está doente, o médico disse que estava doente. Eu disse: “Se estou doente, forte desse jeito, me mande para o médico!” Eu já trabalhava na Petrobrás, ele me mandou, fui para Salvador, Candeas, Petrobrás mandou para a _______________, eu fui no, nesse tempo era Cruz Vermelha, mas acho por Socorro, nesse tempo não era, não, era ____________, hoje é _______________, mas antigamente era Cruz Vermelha _____________, fiz exame: “Ah, você não quer trabalhar ________?” eu disse: “Não!” ______________________________, o médico, vou falar dele porque ele já está morto, posso falar a vontade porque não vai me matar, não é? Então o que aconteceu, o racismo. Ele disse que preferia perder o emprego do que me aprovar! Na minha cara! Eu disse: “Doutor, eu vou dar bênção à minha mãe em Santo Amaro, vou dar um beijo em minha namorada, vou receber meu dinheiro que eu tenho aqui de uns quatro meses aqui da Petrobrás, tenho um salário ainda para receber, quando eu receber o dinheiro já vou acertar a conta e o senhor vai me dizer que vai ou não me aprovar, que eu já estou aprovado!”. Está aqui o resultado ____________, do Hospital da Clínicas, mesmo ainda _______ salvador dos exames que eu fiz, __________ fazer exame. Quando cheguei lá no posto, ele estava examinando lá um pessoal,____________, pedi licença ao vigilante: “Entra!” “Doutor, é o seguinte, aqui os papéis que eu trouxe de Salvador!” Já tinha recebido meu dinheiro também ____________________ acho que foi 59. Quando eu cheguei, entrei no posto e disse: “Doutor, eu queria que o senhor aprovasse isso daqui, que assinasse.” “Eu prefiro sair da Petrobrás do que assinar! Um nego ganhar 16 contos e eu ganho 15 e sou médico ________, não é para você!” segurei ele: “Você vai apanhar ou vai aprovar!”, ele tremendo na minha mão lá, e eu apertando o homem, o segurança besta chegou e um batendo no outro e o homem sofrendo lá na minha mão. O enfermeiro me deu uma cadeiradazinha de leve... Eu queria estrangular o cara, mas quando o cara me deu a cacetada eu fui pegar o outro e ele escapuliu, ________________.
P/1 – E ele aprovou?
R – Ele levou tanta porrada que caiu isso tudo e saiu pela janela, se mandou e foi embora. “Eu vou lhe matar, vou lhe matar!” Eu estava com o dinheiro, peguei o trem mesmo lá em _______________, vim para São Paulo de novo e foi quando eu voltei para essa empresa, quando eu cheguei lá, eu recebi quatro contos de reis, me deram quatro conto, que naquele tempo era cruzeiro, subi quatro cruzeiros. Comprei um jipe, comprei um terreno hoje em Guarulhos, onde a minha afilhada tem uma grande casa, certo, que eu comprei quando eu vim parar aqui para Salvador, pois eu vim embora do acidente. Eu passei para ela e foi aí que eu fui para São Paulo de novo onde eu fiquei até me aposentar.
P/1 – Então você ficou a primeira vez quanto tempo em São Paulo?
R – A primeira vez eu fiquei dois anos e pouco.
P/1 – E voltou para Salvador e ficou uns meses?
R – Fiquei meses o quê? Fiquei um tempão lá!
P/1 – Foi?
R - ____________, aposentado por lá. Fiquei um tempão na empresa de transporte ____________, _____ entrei na empresa, o meu irmão trabalhava lá também...
P/1 – Em Salvador?
R – Não, em São Paulo.
P/1 – Ah não, eu tinha perguntado em Salvador quando você voltou para Salvador visitar a tua mãe, você trabalhou na Petrobrás!
R – Não, quando eu voltei para Salvador eu fiz um curso na Petrobrás e passei, fui trabalhar em criação, mas só que tinha a produção, e eu queria ir para a produção porque eu já sabia, já tinha estudado até o segundo grau, o segundo ano do segundo grau, já tinha conhecimentos de máquinas de __________, tinha conhecimento de máquina de passagem e era bom de matemática. Escrever que eu não sou bom, o resto... Bom de Capoeira, bom de boxe, que eu brinquei de coxe, bom de defesa pessoal, que na mão eu era fera, então eu achei um lugar bom para dar conforto à minha mãezinha. E foi aí que o médico fez isso!
P/1 – Então você voltou para São Paulo?
R – Foi. Depois da confusão que eu tive com o médico, peguei o trem para não matar, porque senão eu matava. Quando eu cheguei em São Paulo, em 64, foi a Revolução, eu estava em São Paulo em 59, quando teve a Revolução aqui em Candeia, Salvador, e esse médico fugiu na ambulância, no posto, porque ele era racista, _____________, esse pessoal de qualidade, inclusive Nelson, Caetano, essa turma, o Padre Caetano que foi preso lá _____________ dos irmãos, então ____________ lá pelo Rio, negócio comunista, não é? Na época Comunismo? A Revolução, então esse médico foi para lá porque a minha madrinha trabalhava com a família desse médico, ele foi para o aeroporto. Quando é que na ambulância, quando ele chegou no aeroporto, pegou ele, levou para Fernando de Noronha e até hoje não se sabe onde é que ele foi! Jogou no ______________, os caras que eram comunistas jogavam lá e as piranhas nhac, estragava em cinco minutos, e até hoje não voltou. Eu voltei, fiquei lá um bocado de tempo, quando fui aposentado, em São Paulo que eu fiquei um ano e dois dias internado num hospital, no Matarazzo, acho que Matarazzo, Hospital Coração de Jesus no Alto das Perdizes. Tive uma no... E dois dias internado lá, foi um acidente bravo, muito pesado! Eu voltei, o médico teve sorte de ________________________, onde foi a cirurgia aqui, aqui assim, machucou aqui, fratura do crânio, e uma fratura aqui, que ver a marca, assim.
P/1 – Foi no trabalho?
R – No trabalho, eu nunca briguei assim para apanhar tanto, não.
P/1 – Foi então que o médico achou que eu devia voltar para Salvador, em 75. Voltei para Salvador, e você acredita que eu voltei para a Capoeira porque o meu irmão era da academia de Capoeira Três Amigos. Eu voltei para treinar Capoeira, um ano, um ano depois que eu estava na academia. Eu fui levado assim, para você ver o que é forma, coragem, me levava assim e o médico: “Vai para Salvador, para Bahia! Porque lá em São Paulo é frio!” Penetrava aqui dentro do crânio e eu só ficava com o nariz escorrendo e aquela história, nunca ficava bom. A minha cirurgia foi _________________, foi 800 conto na época, que a empresa pagou porque eu não tinha condições! Vim para cá, comecei a fazer exercícios aqui, exercícios ali, nem dei conta que eu melhorei! Eu nem dei conta! Um ano depois, eu jogando Capoeira com um professor Mestre_________ Cabrito, ele me deu uma rasteira, ________nessa casa. Caí apoiado no braço e ele disse: “Eh, você está bom!” E eu fumava, eu bebia, eu deixei de fumar porque eu não gostava de apanhar, eu era machista, me deu porrada tem que apanhar também. Defesa pessoal, boxe treinava, Capoeira da Angola e regional, _______________________ essa turma toda. Eu voltei para treinar a Capoeira, em um ano ____________ me deu essa rasteira e eu fiquei treinando. Quando um dia teve roda de Capoeira, eu peguei ele, dei uma rasteira nele e dei uma cabeçada e disse: “Mestre também apanha!” Uma semana depois eu _________ como Mestre de braço de ferro na Bahia!
P/1 – E você já tinha ganhado o campeonato!
R – Não, o campeonato que eu ganhei foi em 1960!
P/1 – Ah, mas já tinha, já era braço de ferro!
R – Eh, já era braço de ferro. Mas foi comemorado também na Capoeira que eu era braço de ferro da queda de braço, mas na Capoeira foi braço de ferro também. Na Capoeira o meu nome era Agonia porque eu não gostava de apanhar! Então a história minha é essa história. Então eu fiquei na academia do meu irmão de 1978 até o ano passado, nessa academia onde...
P/1 – Como Mestre?
R – Como Mestre! Todo mundo me respeita e trata bem, bem recebido! Mas quando o meu irmão morreu, eu me desgostei de ficar lá sem ele. O nome dele era Mestre Mau, Marcelino dos Santos, Mestre Mau. Eu me desgostei e abandonei, mas por causa do meu talento, da minha qualidade eu fui escolhido na ________________ onde eu fui batizar o meu filho também. Foi um outro êxito, e o cara chegou, está gravando, mas eu vou falar isso, o cara me chamou de bunda mole. O americano que veio e me chamou. Eu dei uma rasteira nele porque eu também já sou professor de rasteira, e meti o americano com a cabeça no chão. Mas só que eu fiz o seguinte com ele, não sou malvado, não. Eu dei a rasteira e segurei para ele não cair. “Isso pode, Marinheiro”. Eu disse: “Pode isso com um Mestre como esse que está aqui, pode, Marinheiro?” E só não ia bater porque não quis, porque você ________________, você ____________ com os brasileiros e chamou de bunda mole por causa da idade, se atrapalhou, não é? Porque quando eu estava batizando o meu filho, o aluno tem que deixar o cara bater, empurrar __________, o martelo, e ele pegou e fez isso, me chamou de bunda mole, quando ele _________ marinheiro ele cumpriu o jogo, ______________________________________ quase bateu a cabeça, ____ força que quase bateu a cabeça, e pode? Isso aí ___________ braço de ferro, que eu estava sendo gravado também. E com mais ou menos 15 dias eu tive um telefonema que era para eu comparecer na academia. Achei que o cara quisesse me prender _______________________________ coluna ou qualquer coisa. Quando: “É, você foi escolhido também para fazer parte do nosso grupo. Ajudar os garotos aqui!” Agora em maio eu fui escolhido como Mestre Griô da Academia de Marinheiro, onde acho que a minha qualidade é muito grande, porque
nós começamos a estudar no mesmo colégio lá em Salvador. O colégio da Federação, _____________________________ perigoso, que tem muita violência e onde eu, quando passo, conto a minha história, os garotos me abraçam, as professoras ficam tudo de boca aberta, mexe para lá, mexe para cá, e é uma bênção quando chega ______________________________, se os malandros tiverem lá, alguma malandragem eu saí____________, eu sou muito querido, agora não porque eu me desgostei de carro. Mas quando tinha carro dormia aberto, para você ver o que é conhecimento! Já deixei aberto! E no mês passado a minha casa dormiu aberta, a chave, eu me esqueci, entrei e esqueci, o pessoal foi para o sítio, ia ficar lá sozinho, encostei e deixei lá, __________ cozinha aberta, ninguém foi lá, ninguém apareceu. De manhã a minha sobrinha: “Meu tio, você deixou aberta!” “Ai meu Deus do céu, ______________!” Será possível, e ninguém _________ ninguém fez nada. E lá ______________ tem um menino perigoso, o nosso vizinho, ele é perigoso. Então eu vou passar a contar outra história.
P/1 – Então deixa eu perguntar outra coisa para o senhor, quando foi que você voltou para Salvador que você ficou de vez para cá?
R – Foi em 1992, mais ou menso, que eu vim direto.
P/1 – E você já tinha o teu filho já? Quando foi que você casou?
R – Já os meus filhos, eu tenho desde 1965. Tenho 18 filhos!
P/1 – Ah, então conta esta história para a gente porque você não contou!
R – Eu casei com Dona Helena e tenho 10 filhos com ela.
P/1 – Quando é que você casou com ela? Como vocês se conheceram?
R – Ah, conhecemos quando pequenos, essa história é longa! Eu fui com 15 anos nela. Na realidade, eu também tinha 15, mas era 17. A minha tia me levou para conhecer e ela é filha de um tio meu, mas não é tio, é que ele mamou leite na minha avó. Meu tio nasceu em 1899, o pai dela também nasceu em 1988, só que a mãe dele não teve leite e a minha avó deu leite a ele. Então é irmão de leite. A minha tia considerava como irmão e me levou para conhecer essa morena bonita, onde me deu 10 filhos para criar, meu amor, minha vida!
P/1 – Ela morava onde?
R – Ela nasceu em Santo Amaro também?
P/2 – Como ela chama?
R – Helena. “Helena dos meus encantos! Vem me fazer um carinho, estou com fome, estou com sede e você não adivinha? Estou com fome de um abraço e uma sede de uma boquinha. Quando eu chegar em casa reconheça que a voz é minha!” É muito amor, muito carinho que ela me deu. Eu que fui muito ingrato, muito safado, não é? Porque eu consegui ainda esses meninos todos ___________.
P/1 – Mas a tua tia levou você para conhecer?
R – A minha tia me levou para conhecer essa garota e eu achei muito engraçadinha, bonitinha, dona moreninha, magrinha, como eu gosto! Eu falei com ela para namorar ela: “Ah, não quero, não sei o quê!”. Porque eu morava perto, comecei a encontrar ela no colégio, _____________?
P/1 – Não, é que tem que trocar a fita daqui a pouco, mas pode continuar.
R – O pai não queria, naqueles tempos velho machão que não gostava! ____________________________. Eu comecei a namorar, mas namorei pouco porque eu fui para a base, da base para São Paulo e “Vou ficar te esperando, vou mesmo, para casar com você!” Andei esse mundo todo, fui para Pernambuco, fui para São Paulo, passei no Rio, para Cubatão, passei uns tempos, fiquei esses tempos todos. Quando eu voltei em 58, eu ia me casar. Eu fiquei noivo, mas eu queria levar onde ela estava lá. Quando eu voltasse. Eu fiquei na Petrobrás uns tempos e quando foi em 59 eu voltei para me casar, e logo no Natal era o meu aniversário e eu fui acidentado no dia cinco do onze de 59, só que eu não me aposentei, porque eu fiquei trabalhando novamente. Eu melhorei mas fiquei trabalhando, depois que eu me aposentei, você entendeu? Eu ia me casar, mas devido ao acidente eu não pude me casar. Ela me esperou por muito tempo! Eu comecei a namorar ela em 1955, ou 54, por aí. Então ela me esperar desde 55 para casar? Ninguém espera hoje mais, não!
P/1 – Isso é amor!
R – Amor! E eu safado! Porque arrumei mulher em São Paulo, fiz um filho, outro filho e aí peguei e depois do casamento eu não tive o que fazer e arrumei mais seis!
P/1 – Sem ser com ela?
R – Sem ser com ela! _________________ minha Capoeira, a minha Capoeira é uma coisa séria. Saí daqui, vai para ali e passeando, não posso nem falar o que aconteceu! ________________________________!
P/1 – Vamos trocar a fita (risos). Então, continua contando a tua história com a dona Helena, vocês se casaram em 65?
R – Foi, casamos em 65.
P/1 – Ela veio para São Paulo?
R – Não, ela ficou aqui, mas depois ela foi e ficou um tempo lá. Um bom tempo, e a gente conseguiu lá umas cinco meninas, mais ou menos. Quando eu me mudei para cá, eu consegui mais umas meninas e foram 10 com ela. Nove mulheres e um homem. O homem
é Emanuel, meu filho, mas particular eu tenho seis, aqui em Salvador. Que foi dois antes dela, e ela sabe disso, e tem seis, por isso que eu estou falando. Os meus meninos me procuram, já ligaram três vezes hoje. São um amor de meninos. Eu acho que devo ter 14 ou 15 formados. Eu me sinto tão feliz na vida que são, para dizer a verdade, chega o dia dos pais, chega o dia 25 de dezembro, a festa é tão linda, tão maravilhosa lá em casa, os netos, os genros, eram tudo bonitinhos iguais a vocês assim. Levaram tudo, agora só tem um homem comigo lá em casa. Levaram tudo, tudo mesmo! Mas umas têm apartamento, tem casa. Eu estou muito feliz, a minha vida, eu realizei meu sonho. Minhas filhas todas criadas. Agora só cresceu muito a família porque tive duas gêmeas com dona Helena, que era a caçula, que eu dei um pulinho, e tive duas gêmeas, nasceram quatro de vez, é brincadeira, não?
P/1 – Iguaizinhas?
R – As minhas são quase iguais, uma é gordona e a outra mais magra, mas tem gente que troca as meninas.
P/1 – E quem seguiu você na Capoeira?
R – Uma filha minha, chama (Jaci____?), ela jogou muita Capoeira na academia com a gente e Emanuel também que é capoeirista.
P/1 – Quer ser mestre também?
R – Não, ele só joga por esporte mesmo, não quer levar à frente, não, porque está estudando, está se formando agora engenheiro, entendeu? Todas as minhas filhas, tem uma professora de universidade, tem uma que trabalha, é professora também, tem outra que trabalha no banco, tem outra que trabalha na área de saúde, tem outra que se formou agora também, trabalha numa fábrica, mas tirou o curso de enfermagem agora. Elas são todas inteligentes as meninas.
P/1 – Já tem neto e bisneto?
R – Eu tenho um bisneto por São Paulo, mas agora por aqui não tenho bisneto, não. Mas devo ter um bocado, devo ter uns 13, já tem rapaz com 18, 19, menina de 17 já moçona também, menina de qualidade a minha neta, muito inteligente, Michele, tem Ludmila, dos meninos eu devo ter uns cinco, seis netos na Capoeira. É uma tradição de família.
P/1 – E você estava falando da Capoeira, o quanto era bom ser reconhecido como mestre, qual que você acha que é a importância disso? As crianças aprendem bastante? É só criança?
R – Não, na verdade, a nossa academia e __________________, nós tiramos mais ou menos umas 20 mil pessoas da rua. Ontem eu tive o prazer também de orientar a Polícia Militar, defesa pessoal com o Mestre Paixão, _________ Cabrito, com o Capitão da Polícia Militar, Emilazio, Peixinho, Major Peixinho e a gente faz parte do grupo Afro-Bahia, onde fazia apresentação por esse mundo todo, Capoeira. E hoje eu me sinto muito feliz por estar no ___________, no grupo Griô, na Academia ____________ Marinheiro, onde me escolheu como Griô com potência e começamos o Griô, acho que foi cinco de maio, mais ou menos essa faixa aí, tem três meses. Eu tive a oportunidade de dar na academia diversas aulas e um colégio de ________ diretoras ___________ fizeram uma reunião e ela também passou nessa escola onde tem os alunos. Quando eu falo meus versos, minha histórias, eles gostam. Eu, no mês passado, fiz um relatório com os meninos lá da academia, e eles me falaram: “Tive Capoeira com não sei quem, não sei quem e eu o senhor deu quatro aulas e nós aprendemos mais do que um ano com o fulano!” Verdade mesmo! Eu dei umas aulas falando sobre o passado, o presente e o futuro. Quem que não gosta de ter uma vida saudável? Andar sem medo? Ter um emprego saudável, não é? Quem não gostaria de ter tudo isso? Hoje na qualidade de vida que nós temos é muito difícil, todo mundo gostaria de ter, e para a pessoa ter essa qualidade de vida tinha que estudar. Eu não tive oportunidade de estudar o suficiente porque merecia ter, mas foi porque eu saía cedo para cuidar de mim. Minha mãe não tinha condições, o meu pai largou a minha mãe meio velhinha. E foi atrás de outra negra. Mas de todos os cinco não deu nenhum malandro! Eu tenho um irmão na Petrobrás, tenho um aposentado, outro na CQR, aposentado, o outro aposentado pelo __________, o outro em São Paulo e os meus irmãos tudo homem. Agora eles têm mais capacidade do que eu, porque da Petrobrás eu não fiquei, esse meu irmão da Petrobrás, se eu falar o nome dele, André Bispo, ele trabalhou na Petrobrás. É uma história muito engraçada do meu irmão. Tenho que citar isso, meu irmão e o meu pai, toda a sexta-feira santa eu vou visitar ele. Na semana passada, eu estive na casa dele. Ele saiu em 1950, para arrumar um emprego. Veja que história linda. Ele disse à minha mãe: “Se eu sair e me empregar na Petrobrás...”, até __________, 80 e poucos anos, ele disse: “Se eu sair da Petrobrás, eu arrumar um emprego na Petrobrás, para a senhora nunca mais vai faltar nada! Nem para a senhora, nem para meus irmãos! Vocês tem que acreditar em mim, não em Deus! Porque o homem é falho, às vezes ele fala coisa que o Diabo duvida, não é? Mas meu irmão saiu, pediu a bênção da minha mão, porque a bênção é tão importante e se eu arrumar um emprego, minha mãe, não te falta nada! Pois ele chegou na Petrobrás, mais de 100 serventes procurando um serviço,
_______ chegou assim, com a cabeça na minha mãe! O _____ chegou assim e disse: “Faz favor, seu magrinho, vem cá!” É brincadeira, mais de 100 pessoas! Ele foi com a roupa diferente: “Vem cá, por favor! O senhor trabalha aqui?” “É, trabalho no campo, com animal, serra, não sei o quê!” Fez exame, não tinha nada, o homem se empregou! Esse é o __________, ele trabalhou 25 anos sem perder um dia, tirou prêmio ____________ na Petrobrás, o que assumiu de prêmio, tem dois filhos na Petrobrás, os dois eram compadres porque em Candeia não tinha campo para eles estudarem e eles estudavam lá na minha casa em Salvador e hoje os dois são meus compadres, padrinhos dos meus filhos, ___________ uma menina, um tem 50 anos, por causa da minha idade. Ele pediu à minha esposa para batizar e virar o meu compadre, ele comprou um carro, um (micro-ônibus?) agora e empregou na Petrobrás _________, é engenheiro da Petrobrás. O outro está em Macaé, chegou o mês passado, comprou um carro e deu para a mãe dele, que tem 83 anos, e o pai. _________ deixar na garagem para pegar __________ para passear. Nos 82 anos dele, isso é uma história muito linda, foi 50 quilos de carne no churrasco e 28 garrafas de cerveja. O meu irmão, e a história do meu irmão, ele saiu, se empregou e a minha mãe nunca mais faltou nada. O primeiro mês ele deu para ela, e no mês seguinte, _________ o meu irmão mais novo, ia levar ficava ___________ na manteiga, a manteiga ficava lá, o açúcar ficava se (perdendo?), o arroz ela não gostava, gostava de feijão mesmo, feijão brabo e ficava o arroz, a manteiga, o açúcar tudo lá. Eu também fui saindo, todo mundo foi saindo, meus irmãos foram para a cidade e ela pegou o ____________________ para criar, que é um menino surdo, que os caras abandonaram lá, ela criou esse menino e virou o nosso irmão. Foi a história do meu irmão, muito engraçada. Agora só para concluir a minha história, eu aprendi esses versos com o meu avô Nascimento, meu avô Nascimento ________________, e hoje eu com 72 anos, praticamente é um emprego que eu peguei esse Grupo Griô. Tem um salarioznho para poder vir para Lençóis, ir para Candeia, ir para _____________________, tudo de graça, mas também os garotos pra quem eu dou aula. Porque eu acabei não concluindo, está meio atrapalhada, mas quem ler vai ver, porque ao invés de eu ir à frente eu mudo para outra coisa, mas o menino da escola do grupo Griô teve de dizer: “O mestre ensinou qualidade de vida do passada, se o cara não tiver um passado bom, não vai ter um futuro bom. Então só você pode saber do futuro se o passado, depois do passado.” Então esse menino deu um show no relatório que eu fiz, e as professoras todas assim, me chamando e quando eu passo parece até que eu tenho dinheiro porque os políticos só vão no bairro, quando vai pedir de volta e beijando ______________, e o menino me beija e ____________ político. Eu passo por dez meninos, mexem me agarrando, acho a coisa mais engraçada do mundo!
P/1 – Você ensina os versos para eles?
R – Ah, isso aí é importante e que eu vou acabar falando agora. É, os versos, eu levo os versos para eles, os versos do meu conhecimento todo eu passo para eles. Então eu vou começar a falar dos versos agora. A minha vida é assim, eu estou muito feliz com o grupo Griô e com a (Ginguibaliça?), eu vou falar sobre o grupo todo, foi o grupo que me deu a oportunidade de eu estar com vocês, então tem que falar do grupo. A academia é a (Ginguibaliça?) do Mestre Marinheiro, onde a academia tem inglês, informática, espanhol, cursos, tem Capoeira mirim que é com a professora Luana, tem os professores Sapo, Marrom, eu, Michel, que é médico e é professor de Capoeira lá, Tutiba, Giba, Beijinha, Nenéu, que é o meu filho...
P/1 – Professor também?
R – Professor. E tem __________ que é professor de teatro lá da escola, tem a professora Lia que é da universidade, formada, tem Nelito que é da banda, que é um diretor, então é muito importante a gente estar num grupo deste maravilhoso e depois dessa idade, ainda ter essa oportunidade grande de estar aqui representando a minha Bahia com muita honra, vocês estão me dando esse prazer. E também falar sobre a qualidade de todos vocês que eu estou vendo aqui nesse momento. Eu não vou citar o nome, mas vocês estão fazendo um Projeto, o nome já __________ desse Projeto, a qualidade de vocês. Se vocês não tivessem qualidade, vocês não estariam aqui entrevistando um griô de Santo Amaro da _______, ouvindo esta história tão linda que eu falei para vocês. Eu fiz uns versos que dizem assim: “A dança não é vantagem para uma moça donzela, pois toda a moça que dança, por muito que seja bela, o seu corpo é conhecido desta e naquela, bom que seja o cavalheiro que dança com boa intenção, quer conhecer todas as moças que se acha no salão. Dá um beijo quando pode, quando num dá aperta a mão. Mas cada tem os eu pensar, a dança só ______ para quem não sabe dançar. Dança só para _________ não faz mal. A maioria das donzelas são iguais, é uma barbaridade essa tal ____________ de dança, a moça pode ser braba e chega ________ mansa, ____________ não quer, mas mulher que avança e francamente quando eu vejo uma mulher casada dançando o marido sai apreciando _______________ já me vou desculpando, gravei isso de um rapaz dizendo ’vamos dançar?’, os pais de família tem ficha para __________________ me ajudar. Hoje os pais de família são _______________ para que as suas filhinhas sejam civilizadas, isso tudo _______________________ de um jovem se casar, o rapaz lhe pede a moça e o velho com gosto lhe dá. Mas eu _________________ da moça civilizada, às vezes _______________ ao homem de ser casada, ________________ quem perde nada, _______ na vida ______________________ lamentar, foi moça e foi rapariga e nunca pode se casar, o culpado oi o teu pai que ___________ dançar lá. Tanto um rapaz, quanto uma moça, quando começam a dançar, um cheira o outro com vontade de beijar, _________________ falar, _____________________________________ bem. Quando a mulher se compreende e reconhece o próprio valor que ela tem, dá direito a sesmaria e mais ninguém, porque o homem que dança goza a tua mocidade, ____________________ corpo com o outro _______ de verdade. Uma vez eu fui dançar num baile particular, encontrei dona Helena e fui forçado a me casar, é por isso que com ela tive dez filhos para criar. Só tando eu na Bahia vi tanta moça, ____________________________________________, vantagem a dança não tem, mas reputação deixa a moça sem critério e o homem sem coração. Tocando corpo com corpo naquela devassidão, Zé Maria foi um homem, tenho que lhes dizer, ___________________________ está me ouvindo _________________.” Eu _________ de três ou quatro formas, se quiser escutar mais uma diferente eu sou capaz dessa capacidade toda.
P/1 – Esse é decorado ou improvisado?
R – Esse é decorado meu, quer dizer, o ABC da dança, eu falo de A a Z e também, se você quiser ouvir outro ABC eu posso dizer de outra forma sem falar nada disso que eu falei.
P/1 – Dá para improvisar o ABC também?
R – Dá sim, outro, você quer ouvir?
P/1 – Quero, se você quiser improvisar algum sobre este encontro aqui, sobre as histórias...
R – Eu vou dizer um ABC, umas palavras depois, a respeito, no final, para encerrar e vou fazer um ABC muito importante que eu fiz há muito tempo. Eu estou fazendo um ABC, mas não sei se sou capaz de decorar ele todo agora que eu estou fazendo esse livro, inclusive, aqui neste encontro, veio aqui uma editora e me convidou para esse livro, e esse livro vai ser segredo e eu não quero. Vai ser segredo esse livro, mas eu vou dizer um outro ABC para vocês conhecerem o meu talento. Eu vou falar um pouco do samba de Santo Amaro, que eu também faço samba, vou falar da qualidade de vocês, então, o ABC diz assim: “Adeus saco de limão lugar onde eu nasci, com eu for ________ para a Bahia saudades eu levo de ti. Sabe _______ é um lugar que tem _________________, então ____________ maior ladrão que existiu aqui na Bahia, e dizia: ‘Bem dizia o meu sócio que _________ condução’, que _________ por dinheiro fazia a pintura do cão. Eu cuidava que esta vida era de ter fim, eu canto no canto da feira com muita gente por mim, desenganado eu fiquei quando eu me vi prisioneiro, na minha prisão se ganhava muito dinheiro, mas o entusiasmo eu carrego ___________ e muita grandeza ____________________ tem até princesa. Fui preso para a Bahia, fizeram _____________________, eu fui montado á cavalo e o guarda de pé no chão. Gostaram quando eu fui preso ____________ crueldade, escoltado para a Bahia, ____ minha cidade, homem pobre nunca roubei porque não tenho quem roubar, mas um rico de carteira eu nunca deixei escapar. Entregue ________________________________ que eu chego outro dia __________________________ a tua valentia. Já estou preso minha gente, me mostre um bom delegado na mão direita está vindo na esquerda compensado. Lá em ______________ tinha um cara confiado disse que ___________ bem apegado, isso aí foi que ele foi pedir um pão para o cara para dar ao menino pobre er o cara não deu, ele foi lá, pegou o cara, amarrou, pegou um prego, botou no balcão, pegou o _______________ e tomou um chupão ______________, esse ladrão, é malvado esse ladrão. __________________________________________________________ cachoeira, corria por todo o campo ______________________________. Peço perdão minha gente, eu peço por caridade, toda a injustiça que eu fiz nessa pequena cidade, quero saber com certeza quem era o meu grande amigo, que almoça e jantava todos os dias comigo. Da ___________________ até Santo Antônio __________ cachoeira, corria por todo o campo __________________ feira. Só eu tando na Bahia vi tanta moça faceira, brancos e pretos gritavam’ Vem ver _________ da feira!’ Vigário José ________, com ele me confesse do pecado que eu levo da moça que matei. Choro hoje arrependido por conselho não tomar. Já me cortaram um braço e agora querem me enforcar! Eu sei que está sendo gravado a letra que vou falar, se eu fosse você me daria um gole d’água para a minha garganta molhar.” A Capoeira, eu tenho mais de dez musicas de Capoeira, já está sendo gravado? Eu tenho bastante música de Capoeira e para falar, a música eu não vou falar cantando porque tem as palavras. Tem uma música que eu fiz para a Bahia que diz assim: “Alô, Igreja do Bonfim...”
P/1 – Pode cantar se preferir!
R – Não, eu vou falando, é melhor. A ________ só cantar com berimbau, pandeiro para ter um ritmos. Diz: “Alô, igreja do Bonfim, e alô ,Mercado Modelo, subida do Pelourinho e abaixo sapateiro. Eu em lembrei da cidade alta, lembrei do terreiro, também da Praça da Sé, onde ficam as baianas vendendo acarajé. Me lembrei agora da Lagoa do Abaetê, meu Deus, meu Mestre que me ensinou a malandragem em volta do mundo que o mundo deu e que o mundo dá.” São músicas de Capoeira! Tem uma música que eu fiz também que diz: “Papai, marido está lhe judiando...”, preste bem atenção nesta música, “Papai marido está lhe judiando! Cadê ele? Está na roça trabalhando. Vai chamar ele papai meu marido está me chamando! Meu sogro escute a minha razão, eu saio de mansinho e agora vou chegando, enquanto panela no fogo queimando e menino na rede chorando, perguntei pela mulher e a mulher está no samba sambando. Se pegar apanha, apanha mãe, apanha filha, meu sogro também apanha para não sair reclamando, então disse: ‘Eu te corto a mão, valentão, eu te corto a mão! Eu só conheço homem do cotovelo para a mão, (pé de mão eu dou mueca, pé de mueca eu dou mão?) o segredo de _____________ quem sabe é Damião.”
P/1 – Muito bom!
R – Esse é
santamarense, é parte de samba: “Eu te meto na cadeia, e de dou muita pancada, depois tu vais dizer que Santo amaro _______________ malvado!” Tem um samba que eu fiz: “Eu pisei na folha seca de fazer chuá chuá, eu pisei na folha seca de fazer chuá chuá, eh bata na mão se quiser vadiar, na mão para poder vadiar, eh, bata na mão se quiser vadiar. Me chamo braço de ferro, não nego o meu natural, no lugar que não me ___________ eu gosto de estar, bata na mão para poder vadiar!” Eu tenho um samba muito bonito também que eu não posso deixar de falar para vocês: “Pega ali o ________________, mas leve o ___________________, eu dei um tiro na onça, olé, olé, _____________ jurubeba, olé o lá, espingarda negou fogo, olé o lá, quase que a bicha me pega. Olé o lá, mas pega a leona não, Ave Maria, meu Deus, olé o lá, se eu pegar __________ me aporriar. Eu vi a terra molhada, quando vi choveu, eu já ouvia mãe dizer,’ ______ senhora ela é a mãe de Deus’. Pega leona mão, mas é leoa mão. Oh, meu Deus, cadê a moça que eu não vejo ela falar? A outra também está aqui e me doeu o céu da boca, o de dentinho do_______________. Ele __________ imagina, eu digo sem imaginar, e me diga o teu nome que o teu nome eu vou falar.” Diga:
P/3 – Paulo!
R – “E Paulo mandou me dizer tem bebida na mesa para a gente comer, foi Paulo que mandou me dizer. Tem bebida na mesa para a gente comer.” Diga aí:
P/2 – Ana!
R – “Ana mandou me falar tem comida na mesa para a gente jantar, foi Ana que mandou me falar, tem comida na mesa para a gente jantar!”
P/1 – Cláudia.
R – “Como vai Cláudia, como vai vós “micê”, como vai de saúde, para mim é prazer. Ó Cláudia como vai vós “micê”, como vai como está, como vai vós “micê”, como vai vós “micê” para mim é prazer, como vai como está, Cláudia como vai vós “micê”, como vai de saúde para mim é prazer, você nem se ______________, ó, Cláudia para mim é prazer, me falando ____________, estou falando com você. Cadê Paulo que eu não vejo ele falar, já me dói o céu da boca e o dentinho do ___________. Paulo bata na mão se quiser vadiar, Paulo na mão para poder vadiar, seu Paulo bate para poder vadiar, é na mão para poder vadiar. Ua Uaé e bate quero ver cair, ao oaé bate quero ver cair, eu sou ___________________ que cheguei do sertão, eu ________ quiabo, abóbora e maxixe e _________ limão. Por favor menina eu não quero barulho aqui não, eu não quero barulho aqui, não. Ó, Ana, por favor. Ó, Aninha, eu não quero barulho aqui não, eu sou ____________, vim do sertão, __________ quiabo, abóbora, maxixe, _________ e limão, por favor, Aninha, não quero barulho aqui, não. Não quero barulho aqui, não, e não quero barulho aqui, não.” Essa Capoeira, a Capoeira tem isso . A Capoeira também tem essa, Capoeira diz assim: “Estou dormindo, estou sonhando, estão falando mal de mim, e estou dormindo, estou sonhando, estão falando mal de mim, se estou dormindo, estou sonhando, estão falando mal de mim, estou dormindo, estou sonhando, estão falando mal de mim, e é hoje, e é hoje que estão querendo e eu sou feito de manteiga e o sol está me derretendo, mas é hoje, é hoje que eu estou querendo, eu sou feito de manteiga e seu Paulo só está me derretendo! Eu vou embora como já dizia que vou, eu aqui não sou querido, mas na minha terra eu sou.”.
P/1 – Que ótimo!
R – É Capoeira, isso não é nem a metade...
P/1 – Tem muitas, não é?
R – Demais, agora eu vou fazer a entrevista com vocês, vocês querem que eu faça com vocês? Não, não falei quase nada do que eu ia falar...
P/1 – Pode falar então!
R – Ah, eu vou fazer uma prova com vocês, uma prova muito bonita que era de meu avô Nascimento. Dizia: “Minha mãe chamava Maria e meu avô Nascimento, se quiser me matar mate, porque eu não nasci para ser _____________!” Você está sendo gravada, não é? Então eu, Paulo, Ana e Cláudia? Então vou ver se eu acerto. Ana, você para dizer imagina, eu digo sem imaginar, eu quero que você me diga que é (Bafun bafun Bafun Bolá?), não sabe dizer? Não sabe falar? Então vou falar com Cláudia. Cláudia eu vou te perguntar, o que foi que a nega disse quando avistou a sinhá? Se você não dizer eu sou forçado a falar, a nega disse assim: ‘Para bater um pé no outro vou _________________!’. Paulo? Me diga quantas pintas tem um gambá? Duas no fio do lobo, duas na volta da ________, você para dizer imagina eu digo sem imaginar, num dia que eu estou zangado. Eu dou um pulo para cima e caio em outro lugar. Dei um pulo por cima de outro pulo, Paulo nunca vi pulo pular. No dia que eu estou zangado, _____________ cadeira de balançar eu dou um tapa no fulano por causa de um tostão de cana, embolou pai, embolou filha, eu também sou da família também quero embolar. E Paulo eu tenho medo de mim quando começo a _________, eu vou dizer a você, eu sou braço de ferro não nego o meu _______, no lugar que não me quer gosto de estar, faço _________ e missas boto o pé no altar, __________ muleta para danado caminhar.” Agora que vou dizer, agora que vou lhe falar, eu vou dizer um verso bonito para poder eu terminar: “Quem ___________ o verso que eu faço me acha inteligente, você ___________________ do que o meu coração sente. O meu coração ___________________________________, eu queria saber, Cláudia, se você é de São Paulo mesmo ou está comigo à brincar, você é de que lugar de São Paulo para de São Paulo poder falar?
P/2 -
Vila Madalena.
R - Vila madalena... Todos vocês?
P/2 – Ele é do Rio.
R – Rio de Janeiro? Eh, Rio está bom, está beleza. Eu achei vocês maravilhosos, todos vocês, pena não estar todos aqui, não estar todos aqui presentes. Mas é um grupo maravilhoso, que Deus, Senhor do Bonfim, Deus poderoso do Bonfim que é o meu protetor, tomei conta do trabalho de vocês, que dê muito êxito para vocês.
P/1 – Qual a sensação de participar deste encontro com tantos mestres?
R – Sinceridade, eu estou tão feliz de estar aqui no meio de vocês e é uma bênção de Deus, uma bênção porque são tantos saberes que eu, a Vanda Machado é uma pessoa digna e o rapaz que coordena aqui, acho que é Márcio e a esposa dele e que trouxe muita qualidade, esses grupos aqui fez coisas que eu nunca esperava na minha vida. A Vanda Machado é uma figura onde trouxe o pessoal de Cachoeiras e de Santo Amaro também, uma senhora de idade que botou mesmo tudo que sabia ela falou, foi uma bênção, fiquei satisfeito! O violeiro, o repentista também falando os versos dele, enfim, bem tratado no hotel, tratado bem, até o dono falando comigo, o pessoal não tem preconceito, isso é uma beleza mesmo e eu me sinto muito feliz por ser escolhido como Griô e vou dar de tudo que esse ano tenha mais um encontro desse, com tanto valor, tantas pessoas juntas aqui, o pessoal aqui de Araci que vieram para aqui também, um rapaz contando as histórias deles, história muito bonita, muito bonita mesmo, que eu, com essa idade, o cara morrendo não aprende nada. Mas quem está vivendo aprende, então eu aprendi muito aqui e se eu não tivesse um gravador, eu ia gravar na memória para poder nunca esquecer desse encontro maravilhoso, que tem diversos, que vocês todos brilharam! Adorei, se eu fosse de um nível elevado, eu ia pagar vocês suficientemente para ver todos os meses dentro de mim, mas infelizmente não é como a gente quer, esse Paulo é uma figura, é uma figura porque só a risada dele é uma bênção. E eu gosto de gente mago, que o meu é bem maguinho e mago tem beleza, é delicado e tem carinho. Cuido de seus velhos, de seus idosos, de seus Griôs e a minha nota para vocês eu vou dar 999! Só não vou dar 1000 porque eu sou professor de Capoeira, já tenho mais de 10 mil alunos e professor formado por mim, e eu nunca dei 10 a ninguém, quer dizer, nunca dei 1000, só dou 999, são nove que dez não ganham, vocês todos! E eu vou me despedir de vocês, com muita honra levando comigo essa recordação e eu espero que nós tenhamos outros encontros e vou terminar assim: “Adeus, São Paulo, que a Bahia vai embora. Adeus, São Paulo, a Bahia vai embora! Adeus, Rio de Janeiro, a Bahia vai embora! Adeus, Paulo Manuel, já vai embora. Adeus, Aninha Manuel, já vai embora. Adeus, Cláudia Manuel, já vai embora. Adeus, Paulo, Cláudia, já vai embora. Adeus, adeus, até outra hora. Adeus, adeus até outra hora, fica com Deus e Nossa Senhora, Fica com Deus e Nossa Senhora. Fica com Deus e Nossa Senhora, eu levo Deus e Nossa Senhora. Fica com Deus e Nossa Senhora. Adeus, adeus e até outra hora, adeus até outra hora!
P/1 – Nossa obrigada!
R – Desculpe você me pegou despreparado, sinceridade!
P/2 - Imagine, não...
P/1 – Foi a bênção do dia!
R - _________________, meu Deus, tomei o tempo de vocês todos!
P/2 – Mas a gente está aqui para isso!
P/1 – Foi maravilhosa a história.
P/2 – Queríamos agradecer muito ao senhor por ter contribuído com o Projeto e ter deixado registrado a sua história e experiência.
R – Agora ____________________________________________. Eu tenho uma história muito engraçada, vocês devem ter pegado o e-mail da academia! Tem uma história que é muito bonita de lá.
P/1 – É, vamos olhar no site...Recolher