Depoimento de Frederico Augusto do Nascimento
Entrevistado por Marcia Trezza
Sorocaba, 12 de dezembro de 2018
Entrevista número PCSH_HV667
Realização: Museu da Pessoa
Revisado e editado por Bruno Pinho
P/1 - A gente vai começar, Frederico, a entrevista. Fala para mim o seu nome completo, a cidade que você nasceu e que data.
R - Meu nome é Frederico Augusto do Nascimento, eu sou natural de Jacareí, estado de São Paulo, Vale do Paraíba. E eu nasci no dia 10 de maio de 1976.
P/1 - Qual o nome dos seus pais?
R - O nome do meu pai é Guido do Nascimento e da minha mãe é Maria Aparecida do Nascimento.
P/1 - Qual a origem deles? Eles são também da região? Vieram de outro lugar?
R - Até onde eu sei, que eu tenho conhecimento e recordação, eles são naturais de Jacareí também. Com um pouco de história ali da região mais rural, que era Santa Branca, por parte da minha mãe. Santa Branca, Salesópolis, ali.
P/1 - E seu pai de Jacareí mesmo?
R - Que eu saiba, sim.
P/1 - A atividade deles, ou atual ou quando eram mais jovens?
R - O meu pai já é falecido. Ele faleceu quando eu era muito jovem, quando eu tinha cinco anos de idade. Ele era projetista lá na General Motors de Caçapava, se eu não me engano, é onde era a fábrica. Minha mãe, na época, ela trabalhava como vendedora no comércio e daí depois ela migrou um pouco para trabalhar em convênios médicos, venda de convênios médicos. E hoje ela é aposentada e vive cuidando da casa.
P/1 - Você disse que quando seu pai faleceu você era bem novinho. Você tem alguma lembrança dele, apesar de você ter cinco anos?
R - Sim, tenho bastante recordações. Eu tenho algumas fotos, que eu lembro dele. E, particularmente, eu lembro bastante do dia que ele faleceu, porque no dia que ele faleceu, ele saiu do trabalho, ele passou mal no trabalho e ele me pegou no trabalho da minha mãe. Minha mãe trabalhava na mesma rua da minha casa, numa butique. E ele passou, disse que estava se sentindo mal e que ele ia para casa descansar. Daí, perguntou para minha mãe e falou “deixa que eu já levo o Frederico para lá”. Daí nós fomos e ele passou mal lá, teve o ataque cardíaco e veio a ter o óbito lá. Nesse meio tempo, minha mãe e meus tios chegaram e socorreram ele. Então, essa cena eu lembro bastante, ela marcou bastante, vamos dizer assim, a memória.
P/1 - Lógico. E você estava sozinho com ele quando aconteceu?
R - Sim, estava sozinho com ele.
P/1 - E você que teve que chamar as pessoas?
R - O que eu me recordo muito bem é que eu tentava acordá-lo, porque na verdade ele não emitiu som nenhum, não fez nada. Ele deitou no quarto de som que ele tinha e ele não se mexia. Eu ia lá e falava “pai, acorda”, mas ele não se mexia, então eu me recordo que eu fiquei meio preocupado, estranho ali. Mas eu não tinha acho que maturidade para saber o que eu tinha que fazer, como chamar alguém. Mas eu me recordo que minha mãe conta que ela chegou não muito tempo depois, mas também não pouco tempo. Acredito que num intervalo de uma hora, duas horas que ele tinha me pego lá no serviço dela. Porque como ele tinha falado que não estava se sentindo bem, ela ficou também preocupada e foi lá ver. Mas foi mais ou menos isso daí que aconteceu.
P/1 - E antes de acontecer isso, teve alguma situação que você lembra de fazer junto com ele, algum costume?
R - Sim, eu me recordo muito que toda, eu acho que era toda quinta feira, que tinha o seriado dos CHiPs, dos policiais CHiPs. Era o dia da pizza, então ele fazia a pizza, fazia a massa e fazia as pizzas para gente jantar assistindo o seriado. Ele também gostava muito de música. Ele tinha uma aparelhagem legal de som e ele gravava muitas fitas de músicas da época. Então, eu tenho bastante recordação dele gravando no quarto de som, fazendo essas gravações com os equipamentos e tudo mais. Então são essas poucas bastantes recordações que eu tenho desse período aí.
P/1 - Você tem alguma música que você quando ouve, lembra dele?
R - Não, não tenho. De bate-pronto, não tenho nenhuma que eu lembro. Mas, bastante o gênero musical acho que da Elis Regina, do Chico Buarque, a bossa nova, se eu não me engano. A antiga nova bossa nova, não sei como a gente fala. Mas era bastante esse tipo de música que ele gostava. Você falando agora, Márcia, uma das coisas que me veio na memória foi o Milton Nascimento. Ele gostava muito do Milton Nascimento, ele escutava muitas músicas e uma música que, assim, interessante você ter falado, que talvez pulou aqui foi Travessias, do Milton Nascimento. Então essa música eu acho que ele escutava muito e de alguma forma o Milton Nascimento ficou aí.
P/1 - Muito bom. E da sua mãe? De quando você era criança, que lembranças você tem?
R - A minha mãe, eu tenho uma lembrança muito forte dela a partir do momento que o meu pai faleceu. Porque daí foi o momento que ela, vamos dizer assim, virou pai e mãe. Teve que realmente sacudir a poeira e tomar conta da gente. Naquele momento que meu pai faleceu, ela estava grávida da minha irmã. Então, quando meu pai faleceu, ela esperava a minha irmã, ela estava por volta do quinto para o sexto mês ali de gravidez. Para ajudar isso, ela teve a minha irmã e teve que tomar conta da casa naquele momento, ajudar e tudo mais. Eu me lembro muito desse papel firme e forte dela para poder cuidar da gente e dar condições para gente. Coisas que me marcam muito da minha mãe, eu não lembro dela no papel de mãe como cuidadora, que faz carinho, mas sim no papel do homem da casa mesmo, do firme, de trabalhar e buscar as condições, dar condições para mim e para minha irmã, da gente poder estudar e poder ser alguém na vida. Então, coisas que eu me recordo bastante é isso, que ela falava assim que trabalhava bastante para dar condições da gente estudar. Porque até tem uma frase que é bastante marcante, que ela fala assim “eu posso te dar estudo. E daí depois disso, é com você. E essa minha parte, eu vou fazer bem”. Então, tanto para mim quanto para minha irmã, ela batalhou muito atrás disso. Em paralelo também, me lembro que ela, como que eu posso dizer, valorizava a gente poder ter momentos juntos e viajar. Conforme ela ia tendo condição, a gente teve bastante oportunidade de viajar. E naquela época me parece que era, na época de oitenta, era mais fácil viajar. Era pegar um ônibus e passar a noite dormindo no ônibus e você ia para vários lugares nos Brasil. Hoje em dia, a gente talvez queira viajar mais de avião, quer mais comodidade. Mas a gente teve um bom período que a gente viajou. Então, assim, eu vejo dessa fase bastante disso. Então, foi uma parte de muita ternura, mas atrelado com muita responsabilidade e preocupação de poder entregar. E até mesmo da preocupação que ela tinha de estar ausente e falhar como mãe, porque ela tinha que fazer o papel do pai para trabalhar. E também logo, em paralelo também que aconteceu foi que ela decidiu não ter nenhum outro relacionamento. Eu não sei se foi atrelado com ciúmes nossos, quando a gente nós éramos pequenos - principalmente talvez meu, que era um pouquinho maior. Ou também por uma decisão de, de repente, poder focar na família e não nela. E alguma preocupação, de repente, de não dar certo e ia impactar, mas ela abriu mão desse lado pessoal, vamos dizer, dela de ter um relacionamento para poder cuidar da gente e tomar conta. Então, é isso que eu me recordo bastante da minha mãe e daquele momento.
P/1 - E você falou que vocês viajavam bastante. Teve alguma viagem, assim, que foi bem marcante?
R - Olha uma bastante que eu me recordo é que a gente foi para Foz do Iguaçu, foi passear lá nas Cataratas e nós fomos passear na Itaipu. Eu me lembro muito dos detalhes, alguns detalhes do passeio. Por exemplo, no Paraguai, quando a gente foi almoçar e eu pedia mais. Eu falei “posso repetir?” E ela falava assim “pode”. Lembro disso como se fosse hoje. Fotos da catarata, eu me recordo os momentos que a gente tirou as fotos e tudo mais. Essa daí foi bastante...
P/1 - Qual era tua sensação? Você consegue descrever a sua sensação, assim, com ela nesse almoço?
R - Olha...
P/1 - Nas Cataratas?
R - Era meio difícil. Talvez um mix de sentimento nesse momento, aqui, para tentar relembrar um pouco de estar feliz, um pouco de talvez ser criança e querer só achar que é legal. De querer comer, beber alguma coisa. Mas eu imagino que eu estava bastante feliz. Ali, eu não consigo talvez mensurar corretamente isso.
P/1 - Mas a sensação era boa?
R - De estar bem, sim, bem.
P/1 - E você falou que ela se preocupava bastante com os estudos. Você lembra das primeiras escolas, se você foi para escola cedo?
R - Me lembro, essa parte também é uma parte bastante interessante, porque ela investiu. Realmente, ela investiu. Ela não mentiu, ela investiu. Ela me colocou me lembro que desde muito cedo em escolas particulares e eu tinha muita dificuldade de acompanhamento nas escolas particulares. Eu tinha, desde aquela fase, alguns problemas pneumológicos, da asma. Então, eu faltava muito e a escola era uma escola particular que puxava bem. E eu tive bastante dificuldade a ponto que nós chegamos e eu saí da escola. Ela preferiu tirar da escola, porque eu não estava conseguindo acompanhar. Daí, foi interessante que nesse momento eu mudei para uma escola estadual. Eu saí de uma escola particular e fui para uma escola do estado. Na escola do estado, eu era o melhor aluno da sala. Então assim, mesmo sendo o pior na particular, quer dizer que o ensino ali ajudou bastante ajudar lá nas escolas do estado. E daí eu segui minha carreira, minha história de vida, até a oitava série da escola do estado, que foi indo muito bem. Daí foi onde eu fiz um colegial técnico, numa escola de São José dos Campos, a ETEP. Eu me formei lá e comecei a minha carreira de estágio, trabalho, faculdade e tudo mais.
P/1 - Então. Voltando a essa escola estadual. Quando você mudou da particular para estadual, você gostou?
R - Eu gostei.
P/1 - Como foi?
R - Da particular, é interessante você falar, só puxando um gancho, eu me recordo da particular, eu me recordo que foi bastante difícil, mas eu não tenho nada marcante que eu faça voltar muito nela. Mas nas escolas estaduais, eu me recordo que eu me identifiquei muito com as pessoas, com o um jeito da vida das pessoas, talvez um pouco mais simples e eu me identificava muito lá. Eu lembro bastante coisa. Eu naveguei em umas duas escolas estaduais. Porque, em um primeiro momento, não consegui na escola estadual próxima da minha casa. Então, eu fui para uma próxima da casa da minha tia, que daí eu tinha que andar de circular e tudo mais. Mas eu me recordo bastante de interações de amizades, de ter um relacionamento bom e depois, quando eu mudei para escola próxima da minha casa, é bastante interessante falar isso. Porque atualmente eu voto nessa escola que eu estudei. E nessa última eleição, eu tive a chance de andar pela escola de novo, estava andando com a minha mãe. E eu falei assim para minha mãe “olha, mãe. Eu lembro que aquela ali foi minha sala da terceira série. Me lembro que aqui era a cantina, lembro que aqui era a quinta série, a sexta série, a oitava série foi ali”. Então, foi bastante marcante essa participação nas escolas estaduais. Os amigos que eu criei, todos ainda tenho vários contatos até hoje e é um barato. Esse daí eu tenho uma recordação boa, vamos dizer assim.
P/1 - E você, nessa escola que você se identificou bastante, principalmente na segunda. Teve alguma história que você até hoje lembra um acontecimento?
R - Tem vários acontecimentos, mas alguns interessantes são que nós tínhamos um amigo de sala, que era um amigo que sempre apanhava de todo mundo. Então todo mundo brigava com ele, me lembro que acabava a aula a gente saía todo mundo correndo atrás dele, para pegar ele. Também me lembro que conforme a gente foi evoluindo na série, quinta, sexta série tínhamos um grande amigo que morava na casa que era na frente da escola. Então, a gente saía da escola e ia jogar vôlei na rua, na frente da casa dele. A gente, ao invés de dar a volta e sair pelo portão, pulava o muro para ir mais rápido. Então a gente fazia muito dessas coisas aí. Mesmo sala de aula, em prestar atenção, não prestar atenção, a professora Pia brigar, chamar atenção; das aulas de Estudos Sociais e das aulas de Educação Artística; bastante imagens assim vêm à cabeça agora.
P/1 - Tinha alguma, entre aspas, arte que vocês faziam? Vocês aprontavam alguma coisa assim, nas aulas?
R - Não, propriamente dito. Não arte fora do planejado, mas era arte de criança mesmo da época. De não prestar atenção, ficar conversando muito. Me lembro que a gente tinha muito disso. A professora entrar, estar aquela conversa e ninguém parar, ela chamar atenção, pedir silêncio. Dessas coisas eu me recordo agora.
P/1 - E professor, qual você lembra dessa época? Teve algum marcante?
R - Olha, duas professoras me vieram muito rápido na cabeça, que foi a professora Adelaide, de Educação Artística. As aulas muito lúdicas e assim, me recordo que ela realmente buscava um meio de ensinar a arte para gente da Educação Artística de uma forma diferente. Eu me recordei da professora de Estudos Sociais, mas eu não me lembro o nome dela e eu acho que ela foi fundamental da formação da pessoa. Porque eu me recordo que toda semana ou toda data comemorativa, ela pedia para fazer um trabalho. Por exemplo, o dia do índio. Então, ela pedia para fazer um desenho sobre o dia do índio e descrever o que era o dia do índio. Ela pedia que fosse nas antigas bibliotecas cidade e que a gente fizesse as leituras, a pesquisa lá, para gente poder montar esse caderno de Estudos Sociais. E era legal que sempre no final do ano, a gente montava um book, porque era no caderno de desenhos que a gente fazia. E era muito legal ver esse trabalho. Ela continuou várias vezes, vários outros anos com a gente e também me recordo muito fortemente dela querer ensinar para a gente o hino nacional. O patriotismo, a importância. Então o porquê das estrelas, o porquê da cor da bandeira, estudar o hino nacional, pedia em prova isso, a explicação. E a terceira professora que eu lembro foi a professora de português, a dona Pia, que era muito difícil. Eu diria para você que o português não é meu forte, a matéria português.
P/1 - Você falou que a professora de estudos sociais pode ter influenciado na pessoa que você é. Como que você sente isso?
R - É interessante.
P/1 - De que jeito?
R - Sim, eu acho que pode ter influenciado e eu acho que ela trouxe a condição de formar pessoas, pessoas éticas, pessoas que têm cultura e conhecem a história do seu país. Hoje, eu faço um paralelo com meus filhos. Eu acho que a preocupação é você explicar e dar um caminho, um direcionamento que a pessoa cresça dentro do modelo que você acredita que seja correto. Então, voltando naquele momento, eu acho que esse trabalho que a gente não entendia na época, a gente só via como um trabalho de escola muito chato, que dava muito trabalho, hoje eu vejo que é uma base para você. Por exemplo, você precisa montar alguma coisa, você tem um assunto. Então, vamos pesquisar? Onde vamos pesquisar? Na biblioteca. A partir de como? De livros. Então, ela deu um caminho e ela ensinou a gente a formar esse caminho. Então, eu acho que isso foi a primeira base, então você quer chegar em algum lugar, você tem que entender as etapas e os passos ou até mesmo planejar as etapas e passos para chegar lá. E depois, por que ela ajudou também a formação? Eu acho que ética, você aprende. Então, quando ela ensinou os estudos sociais e você vai estudando as datas, o motivo das datas, isso vai criando um valor na pessoa. E, assim, eu acho que um pouco do patriotismo que ela também aplicou, porque ela via isso como uma importância, ela forçou bastante, ensinou a gente a como gostar da bandeira, a entender a bandeira, o hino. Então, eu acho que isso ajudou a fazer essa construção aí.
P/1 - E quando você tinha essa idade, você já sabia o que você queria ser quando crescesse?
R - Olha, sim e não. Eu falo sim, porque eu tinha alguma coisa muito ligada, eu sentia um chamado, alguma coisa muito ligada com essa parte do projetista que o meu pai foi. Eu tinha uma afinidade muito boa com desenhos, letras técnicas, mas eu não tinha muito claro. Aí, teve um momento nessa construção, nesse caminho, que eu me engajei muito da igreja. A gente se envolveu muito com o movimento da igreja católica e eu senti uma potencial chance até de ser um padre, uma vontade. Mas passou, coitadinha da minha vó, que ficou triste porque ela queria ter um...
P/1 - Por que você acha que você teve essa vontade de ser padre?
R - Eu senti muita afinidade. Esse lado religioso eu acho bastante legal. Eu gosto de conversar bastante, eu acho que independente de religião, o caminho é único. E eu acredito muito que naquele momento, a proposta que ela tinha, o formato que ela tinha era bastante legal, bastante interessante. Mas depois eu perdi o interesse e percebi que meu caminho era mais, vamos dizer assim, mundano do que religioso. Daí eu tive a certeza que eu queria ir para essa área técnica, área da mecânica, área da engenharia. E foi onde daí eu fiz o curso técnico, depois fiz faculdade, depois MBA e fui evoluindo.
P/1 - Você acha que teu pai influenciou? Teve alguma influência aí? Ou não foi suficiente para...
R - Se teve alguma influência, hoje para mim é transparente. Eu não consigo reconhecer isso. Mas eu acredito que pode ter tido alguma coisa assim. Eu não lembro dele me falando nada disso, eu lembro da minha mãe falando muito. E talvez por ela falar muito, talvez surgiu essa vontade de querer ter alguma coisa espelhada.
P/1 - E você disse que jogava um vôlei, na infância. Tinha alguma outra brincadeira, assim, que você gostava bastante?
R - Sim, eu gostava bastante de andar de skate. Recordo que foi uma fase bastante marcante, a do skate. Essa fase já foi mais do meio dos quinze anos já, para mais de vinte anos. Acho que foi a década que o skate pegou bastante. Então nós tínhamos um grupo de amigos, que realmente a gente andava, fazia rampas, participava de campeonatos. Então, eu tive muito essa afinidade com o skate. Até hoje eu gosto, não consigo praticar mais, mas gosto muito das quatro rodinhas, acompanho. Outros esportes que pratiquei, sim. Bicicleta, bicicross, andava bastante e futebol. Mas o futebol nunca me apeteceu muito. Gostava, gostava principalmente de ser goleiro, porque nunca via graça em ficar correndo atrás da bola, como a maioria faz até hoje. Mas gostava de jogar bola e ficar no gol. Talvez, se eu soubesse que hoje em dia o futebol ia ser tão valorizado, talvez naquela época eu tivesse mudado de ideia.
P/1 - E como goleiro, teve algum jogo, algum lance, assim, que você quando lembra...
R - Não, não lembro.
P/1 - ou fica feliz ou dá risada?
R - Teve muito joelho ralado, muita luva rasgada, bola furada. Que naquela época, o que me marca bastante é que era futebol mesmo de rua. Naquela época, tinha poucos carros e a gente conseguia jogar, brincar na rua com o futebol ali. É isso que eu lembro.
P/1 - E o skate? Você lembra de você aprendendo a andar de skate?
R - Sim, o skate foi bastante marcante, como eu falei. Lembro de aprendendo, de juntando toda a turma, todo o ambiente que girava em torno, a rebeldia, o rock and roll, fazer rampa, pichar muro, pertencer a um grupo, festas, que a comunidade da sua galerinha formava, campeonatos de skate. Confusões entre turmas diferentes, então isso daí é bastante claro, me lembro até hoje bastante dessas fases aí.
P/1 - Você descreveu bem a cena, mas você consegue descrever um momento, uma situação? Você falou que faziam as rampas?
R - Sim.
P/1 - Então, como era isso? Descreve assim em detalhes.
R - Detalhes assim? É muito legal, porque a gente lá em Jacareí tinha a rua Montesi. Era a rua que a minha tia morava e lá era uma rua, uma área, uma região. O Parque Itamarati é uma região que tinha muito, bastante um pessoal, uma galerinha nossa que morava lá. E paralela à rua Montesi, tinha a - como é mesmo o nome, fugiu o nome agora da avenida. E a avenida tinha uma descida e um amigo morava no final dessa avenida. E a gente comprava os compensados, fazia a montagem das rampas, pregava. O pai de um amigo ajudava e a gente sempre colocava a rampa no final da rua. Daí a gente vinha, descia e pulava, tirava fotos e fazia isso atrelado com o rock and roll da época e tudo mais. Então, era muito cotidiano isso, era quase todo dia. Saía da escola, ia para lá para andar de skate, pular na rampa e ficar todo mundo junto lá.
P/1 - Você consegue descrever a sensação de andar?
R - É uma sensação bacana, porque você está ali flutuando, você está surfando em cima. O vento na cara, o suor, sentir o calor, e a adrenalina de você conseguir fazer alguma coisa. Muita gente olha e vê aquela rampa de um metro, é baixinha. Mas a hora que você está em cima do skate, da rodinha, e a velocidade está vindo e você está chegando perto, é a hora da decisão. E tem gente que pula fora, tem gente que vai, tem gente que pula e cai. Então assim, é aquela sensação de estar conseguindo quebrar uma barreira que é um pouco do medo do desconhecido ali da hora. Era bastante bacana isso daí.
P/1 - E você falou que tinha o rock, tinha a música da época, festas. E aí, essas festas? O que acontecia? Teve alguma especial?
R - Não, todas as festas eram bastante intensas. Naquela época, eram os primeiros momentos que a gente começava a ter o contato com o álcool. Então a grande preocupação era o álcool e o álcool foi bastante presente nessa fase aí. Bebíamos bastante, acho que a minha mãe ficou de bastante cabelo branco naquela época, porque éramos muito jovens ainda. Dezessete, dezoito, talvez até com dezesseis anos a gente já começando. E a gente queria sair, queria viver a vida. Já tinha também a presença forte das drogas também. Então tinham pessoas no ambiente que usavam, então isso preocupava muito quem não estava lá. E as festas, em particular, eram muito assim regadas a bebida e ao rock and roll da época. Eram os punks da época, muita chutação, muita roda e sempre criava-se muito esse negócio de tribo. A tribo se reunia e a tribo curtia, chutava um ao outro e tal, mas era entre a gente. Se via uma outra tribo, aí era briga. Mas fora isso, era sempre bastante intenso, bastante alcoólico, vamos dizer assim. E não posso ser hipócrita de falar, tinha bastante maconheiro naquela época lá.
P/1 - E você falou que tinha chutação? O que é isso?
R - Quando o pessoal começa a dançar, vai fazendo a roda e vai levantando o pé bem alto assim. Hoje em dia, quando eu vejo os shows, eu falo assim para os meus filhos: “Olha, eu já entrei numa roda daquela dali”. Um chutava o outro mesmo, porque você se soltava ali, se jogava, vamos dizer assim. E você ia chutando com a perna solta mesmo. Às vezes um amigo, ou alguém não gostava, via você lá e aproveitava que a música incentivava isso e dava chute em vocês. Por isso que algumas brigas sempre surgiam nessas horas aí.
P/1 - Você lembras das bandas dessa época? Os nomes delas?
R - Sex Pistols era uma delas. Lembro bastante daqui do Brasil, eu gosto muito de uma que chama Plebe Rude, que a gente curtia muito na época. Essas daí são algumas que vieram à cabeça de bate-pronto aí.
P/1 - E os namoros? Aconteceram? Você lembra da primeira menina que você se apaixonou?
R - Lembro, lembro da primeira menina. Eu acho que eu estava nessa escola estadual e foi um barato, porque eu era bastante tímido ainda. E eu me recordo de uma cena especial, que acho que foi um aniversário dela. Minha mãe comprou um presente para ela e pediu para eu entregar, eu fiquei todo com vergonha de ir lá e tudo mais para poder dar. Foi uma cena engraçada. Isso daí me recordo, quando a gente pensa hoje em dia, uma vergonha desnecessária. Mas é a vergonha da criança não saber o que realmente fazer.
P/1 - Mas você era de que idade? Era novinho.
R - Eu acredito que deve ter sido em algum momento entre doze a quinze anos de idade. Eu me lembro acho que de alguma coisa desse tipo aqui.
P/1 - E sua mãe comprou o presente. Você contou para ela que estava gostando da...
R - Isso. A minha mãe acho que acompanhava bastante e tal. Daí ia ter essa festa de aniversário dela, se eu não me engano. E daí minha mãe comprou uma correntinha, um pingentinho para eu poder dar para ela. E eu todo envergonhado. Eu não me lembro, eu não cheguei a namorar com ela, eu gostava dela. Daí eu fui dar o presente todo envergonhado e os amigos ficam naquele “ah, ele gosta dela” e tal. E estava na casa dela, acho que tinha os pais dela, acho que fiquei bastante envergonhado naquele momento.
P/1 - Você lembra dela abrir o presente?
R - Não, não lembro. Eu lembro da situação, que eu acho que o que me marcou bastante foi a vergonha mesmo de ter entregado. Não sei dizer se foi dentro da casa, se foi fora da casa, onde foi. Mas eu lembro que foi entregue e que eu fiquei bastante envergonhado nesse momento.
P/1 - Frederico, você falou da situação das festas, do punk, das drogas, bebida e tal. Você lembra um pouco como que você vivia nessa situação? O que era difícil ou não? Você falou da preocupação da mãe. Ou não tinha nenhuma preocupação da tua parte? Era bacana a curtição?
R - Olha, Márcia, era bacana a curtição. Eu sempre gostei muito de beber. Eu acho que isso daí vem um pouco talvez desse momento. Então, desde que eu me recordo que eu comecei a beber e foi tendo as primeiras preocupações da minha mãe, da minha família, teve um momento muito preocupante da parte dela, que ela não gostava, que ela falava “por favor” e tal. Mas talvez eu fui meio sem vergonha e nunca a obedeci. Então, sempre bebi, principalmente naquela época, refletindo, olhando e escutando eu falar, não era um negócio realmente correto. Talvez eu tivesse que escutá-la melhor. Mas, eu me lembro que eu bebi bastante e na minha cabeça, eu não estava fazendo nada de errado. A bebida sempre foi liberada, então a gente bebia muito. Lembro que a gente antes de sair, naquela época, nessa fase que você está achando que está virando gente, a gente se juntava na ou na casa de um amigo, ou na minha casa e fazia o famoso aquecimento. Tomava-se, daí ia para festa, tomava-se mais ainda na festa e depois voltava e dormia. Então, dessas coisas que eu me recordo, eu sei que ela nunca foi muito a favor disso, nunca gostou disso, na verdade. Acho que nenhum pai e mãe gosta disso. Mas, mais uma vez, escutando isso agora e falando isso agora, agora que eu sou pai, eu vejo que realmente vai ser uma coisa interessante para fazer com meus filhos aí.
P/1 - Você contou para gente no comecinho que você tem dermatite atópica. Em que época apareceu, Frederico?
R - Olha, Márcia. Eu me lembro, acho que desde que quando eu sou gente, que eu me recordo um pouco, eu tenho a minha dermatite atópica. Ela, de uma certa forma, sempre esteve presente na minha infância, juventude e agora, enquanto eu sou adulto. Teve picos, já teve momentos bons. Eu me recordo bastante de problemas pulmonares, bastante asma. Quando eu era criança, eu tenho uma passagem muito forte que eu me lembro. Nós fomos ao médico, num pediatra, eu era muito novo, logo após o falecimento do meu pai. Só não me lembro, realmente, qual que era o problema. Basicamente, o que eu lembro é que eu estava com os meus pulmões bastante carregados de secreção. E o médico, naquele momento, falou assim “nós temos dois caminhos. Um é ele tomar essa batelada de remédio aqui”. E se eu não me engano, eu tomei muito Aerolin, eu acho que é isso. Aerolin líquido, na época, para ver se desinflamava e tirava toda essa secreção. E se não desse efeito, eu me recordo que o médico falou “ah, nós vamos ter que operar para fazer uma raspagem”. Essa passagem eu lembro muito bem e me lembro que minha mãe ficou bastante tensa nesse momento, porque era uma coisa muito invasiva e muito tensa para uma criança passar. Daí, eu me recordo que conseguimos vencer essa batalha, mas até os dezoito anos, eu vivi muito com bombinha, com muita cortisona, muito remédio, muitas idas e vindas. E nessas fases, bastante alergia de pele, a ponto de me machucar, de ficar bem machucado. Aí quando eu cheguei aos dezoito anos, eu me recordo que a parte pulmonar parece que curou. Eu não sentia mais falta de ar, não sentia mais peso nenhum e foi uma fase boa, daí dos dezoito até trinta e tantos, trinta e cinco, trinta e seis. Trinta e tantos altos, a parte pulmonar ficou bastante adormecida. Talvez em uma época ou outra, eu sentia um peso, mudança de tempo. Mas, como eu já sabia os medicamentos que usava, eu ia lá, me automedicava e controlava. Mas daí nessa fase, dos talvez vinte e um, eu tenho forte a recordação que eu me coçava e minha camisa ficava parecendo que eu tinha levado uma metralhada. Então, eu me coçava tanto no trabalho, que eu chegava de camisa clara. Quando eu ia embora no final do dia, todas as manchas de sangue, tudo aparecendo nas camisas, na perna e tudo mais. Foi um momento bastante severo da dermatite atópica que eu vivi. E daí foi interessante, que foi uma época, justo a época que eu me mudei para região de Sorocaba. Porque como eu falei, eu sou do Vale do Paraíba e com vinte e um, vinte e dois anos eu me mudei para cá, que eu recebi uma proposta de trabalho aqui na Flex. E daí, eu continuava tendo essa alergia e um belo dia alguém me indicou um médico daqui da região, que é um médico muito bom, onde a gente começou um tratamento e a ter resultado. Mas daí desde então, sim, controlamos melhor, eu passei um período de perrengue, mas controlamos. Chegou um determinado momento que estava controlada. E de uns tempos para cá, ela vai e volta. A gente conseguiu, eu tive um período que eu fiquei me automedicando muito forte, só com cortisona. Acho que por volta de uns vinte e quatro meses aí, quase diariamente tomando cortisona.
P/1 - Sem orientação médica?
R - Sem orientação médica, porque aí estava a cortisona em excesso. Ela controla tanto a parte pulmonar e a parte da pele, mas ela vai trazendo outros problemas. Foi a hora que eu achei o doutor Martti Antila aqui e ele começou a me medicar, me controlar bastante e me colocou sob controle. Aí eu vivi um período ali bacana também, sem automedicação, mas bacana. Mas de um tempo para cá, voltou a dar uns picos e tal. Então, a gente está nesse vai e volta, buscando sempre o que fazer para controlar da melhor maneira.
P/1 - E quando você percebe esses picos, você relaciona a alguma coisa, que pode estar provocando?
R - Sim. Eu relaciono bastante com estresse, tanto pode ser o estresse do lado pessoal, como o estresse do trabalho. Acho que mais principalmente do trabalho. Uma coisa que eu consegui aprender foi que quando eu consigo controlar bastante essa ansiedade, essa tensão, eu consigo gerir melhor e acaba prejudicando pouco a minha pele. Eu estou descobrindo que eu tenho que arrumar uma outra maneira de tentar gerenciar as minhas preocupações, que não use minha pele como vazão para isso.
P/1 - Você diz que consegue controlar a ansiedade, mas a pele fica prejudicada. É isso? Eu entendi bem?
R - Não, o que eu estou tentando dizer é para tentar controlar que a pele não fique lesionada, tem que tentar controlar a ansiedade, é isso que eu quis dizer. E controlar a ansiedade que está sendo um problema, como fazer isso. Isso aí é a parte interessante do trabalho.
P/1 - Você diz que desde que você se lembra como gente, você tem a dermatite. Hora mais pulmonar, que é uma associada.
R - Isso.
P/1 - Você tinha alguma situação que você ficava bem desconfortável na convivência com as pessoas, ou te limitava de alguma forma?
R - Quando eu era mais jovem, eu ficava bastante incomodado. Mas, para ser sincero, eu acho que eu nunca fiquei incomodado. Lógico que eu via, é um negócio chato. Mas eu nunca me senti discriminado, mas também nunca valorizei mais do que era ter a pele danificada. As pessoas perguntavam, eu respondia. Eu nunca me senti mal de “ah, por que você está com a camiseta assim?”. Porque eu cocei. E “por que você coçou?”, “porque deu vontade, não consegui segurar”. Mas nunca fiquei incomodado. De um tempo para cá, eu comecei a ficar um pouco mais incomodado, porque eu falei assim “poxa, quarenta e dois anos de idade e continua com isso?”. Então, às vezes, colocar uma bermuda e sair com a perna toda machucada, aí começou a me incomodar um pouco. Mas fora isso, nunca tive grandes problemas. Até mesmo, existem pessoas que olham e falam “nossa, que bicho que te picou?”, daí eu falei “o bicho da minha unha, que é a vontade de coçar”.
P/1 - Quando você andava de skate, que era uma coisa forte ou praticava esporte, você lembra de alguma relação assim?
R - Nessa época, eu não me lembro de ter tido nenhuma dermatite na pele. Talvez, eu deva ter tido algum problema pulmonar, mais dificuldade da parte respiratória. Mas pele mesmo, eu não lembro.
P/1 - Como que você soube que você tinha dermatite? Como foi esse diagnóstico?
R - Quando eu comecei a ser consultado com um médico aqui. Aí ficou muito claro para mim. Até então, eu tratava como uma alergia. Eu tenho uma alergia, tenho talvez uma sarna. Talvez eu tenho não sei o quê. Mas daí quando eu comecei a me tratar aqui, com o médico de Sorocaba, começou a ficar muito bem claro. Ele começou a me educar bastante no que era, no que fazer, no que é, então aí ficou muito bem claro o que eu tinha.
P/1 - E qual foi a sua sensação, quando ele falou exatamente o que você tinha? Ou seja, aliviou? Você teve alguma outra impressão que era diferente do que você vinha levando com uma alergia?
R - Não, eu sou sincero em falar que eu não me recordo como foi o momento disso. Eu acho que foi natural, foi transparente. Você tem uma dermatite atópica, que é uma alergia, que é uma lesão na pele que vem assim e assado. Como eu já tinha isso, eu falei “beleza, ok. O que precisa fazer? Tem cura?”. Cura é uma palavra muito forte, mas eu acho que existe um controle, acho que a gente vai conseguir controlar bastante e você vai viver bem.
P/1 - E foi? Aconteceu? Depois que você começou a ir nele?
R - Sim, aconteceu. A gente conseguiu algumas coisas. Quando eu comecei a ir nele, eu posso dizer que a gente melhorou oitenta por cento. Aí a gente ficou estabilizado bastante num jeito, vamos dizer assim. Aí teve um outro momento que, mesmo em tratamento com ele, eu comecei a buscar ajuda de outros meios. Então, eu procurei, por exemplo, uma ajuda religiosa. Eu fui numa pessoa que era uma pastora, que recebe o espírito e ela ajudou bastante. Depois que eu fui nela, é interessante, porque aí eu atrelo não somente à cura espiritual, mas também como se trabalha com a cabeça da gente. E quais as formas que ela buscou para mostrar para mim que, de repente, essa doença poderia ser tratada. E foi interessante que também, nesse momento, que ela conseguiu melhorar - eu atrelo a ela esse acompanhamento, que nós melhoramos, de onde estava, melhoramos noventa e cinco por cento. Atrelo que teve uma melhoria espiritual, sim. E também, há uns dois anos atrás, teve um movimento de Flex Life aqui, voltado à gente buscar boas práticas, boas maneiras para nossa vida, uma vida mais saudável e tal. E foi interessante que eu conheci o fisioterapeuta que estava fazendo o acompanhamento da gente aqui na entrevista, para saber as dimensões e saber tudo mais do que eu estava buscando. Ele perguntou se eu tive alguma doença, eu falei que eu tenho dermatite atópica. E ele falou “cara, posso te indicar um médico?” E me indicou o mesmo médico que eu tenho hoje. Eu daí falei “eu já trato com ele”, daí ele falou “olha, você sabe que eu tenho uma filha assim e assado”. E a filha dele nasceu assim. E a filha dele foi também - fazendo um paralelo - foi muito grave, igual aconteceu comigo. E ele falou que desde neném, ela já tinha os machucados na pele e era muito duro para eles aquilo, a ponto que ele e a esposa dele pararam de trabalhar para buscar uma solução, uma cura para filha deles. E eles falaram que ele pesquisou no mundo inteiro e de uma entrevista de fisioterapia, se tornou uma consulta, porque ele foi me explicando que ele foi para o Japão, para China, que ele foi não sei aonde, onde ele chegou na Rússia. Na Rússia, tinha o relato do tratamento com o óleo de prímula, que o óleo de prímula ajudava tais coisas. Eles pegaram isso e começaram a dar para filha dele, daí para surpresa, foi a hora que como minha vó usa dizer “tirou com a mão a doença”. E a filha dele teve uma melhoria de cem por cento, usando o óleo de prímula. Isso porque ele passou anos pesquisando alimentação e tudo mais, medicamentos e tudo. Aí, eu comecei a tomar o óleo de prímula e eu senti também essa melhoria. Daí eu vim a descobrir qual era a base do óleo de prímula. Porque eu falei “tá bom, é um remédio natural, mas para que serve o óleo de prímula?”. Foi interessante, que nas pesquisas que eu fiz, conversando com parentes que são farmacêuticos, o óleo de prímula é muito empregado hoje para mulheres que estão na TPM. Eu entendo que o óleo de prímula acaba ajudando a controlar aquele momento da tensão ali. Então, eu atrelei que o óleo de prímula, na verdade, vai nivelando o seu nível de ansiedade, o seu nível de tensão. E deve funcionar, vamos grosseiramente dizer, como um calmante natural aí que ajusta essa parte. Então, eu sempre fui uma pessoa muito ativa, muito ansiosa. Comecei a trabalhar isso mentalmente e a trabalhar também com esse medicamento natural. Eu trabalhei em algumas frentes aí para isso.
P/1 - Você falou dessa pessoa que te ajudou muito espiritualmente. Dá para você falar um pouco, descrever um pouco por que caminho ela foi? É possível?
R - Posso, posso descrever.
P/1 - Como ela operou isso de uma forma tão competente?
R - O nome dela é Lia, ela é conhecida como a profetiza lá na cidade de Jacareí. E a minha mãe a conheceu de falar, da cidade falar. Não me recordo do motivo que levou a minha mãe lá. Minha mãe foi num culto lá e daí minha mãe viu ela executando, fazendo, profetizando momentos e ela fazendo livramentos no culto. E minha mãe começou a comentar, que ela era muito interessante, porque terminava o culto e ela falava que ela ia fazer os atos proféticos. E ela começava a falar em línguas e traduzia para o português. E que ela ia falando assim: “tem alguém na família, que o homem está enfrentando uma dificuldade assim”. Ela vai soltando algumas palavras chaves e ia pedindo para as pessoas irem no altar, que ela ia fazer a oração do livramento e tudo mais. Minha mãe começou a ver isso e teve momentos que minha mãe se encaixou no chamado de ir para o altar. E minha mãe foi se sentindo bem. Um dia, minha mãe falou “olha, vai ter o mutirão da oração. Você não quer ir lá? Não custa nada, por que você não vai lá? Mal, não vai fazer”. A priori, eu não vou mentir para você, eu me senti um pouco resistente e falei “poxa vida, não me soa um negócio legal”. Sei lá, talvez o meu lado católico deu uma travada aí, mas eu acabei cedendo, acabei indo. E foi interessante, porque quando ela estava lá na tenda e eu estava na sala de espera, ela falou “o próximo” e era eu. No momento que eu fui entrando, ela me olhou muito com a cara séria. Eu me lembro disso como se fosse hoje. Ela me olhou com a cara muito brava, muito séria e falou “o que você está fazendo aqui? O que você quer?”. Daí eu falei assim, “eu estou com uma alergia muito grave, uma dermatite atópica muito grave e eu queria pedir para você me ajudar a curar”. Aí eu fui tentar começar a mostrar para ela, porque eu estava bastante machucado naquele momento. Ela falou “não, não precisa levantar a camisa e a calça. Eu estou vendo as lesões”. Daí ela pediu para eu sentar e naquele momento ela começou a conversar comigo, a profetizar. Ela falou, daí, ela tem um amparo espiritual de um anjo ali com ela e esse anjo conversa muito com ela, naquele momento, é muito online o negócio, a presença muito forte ali. Daí ele começou a relatar que essa dermatite atópica veio num momento que a minha mãe ficou grávida de mim. Que uma outra mulher que gostava do meu pai botou olho gordo, porque essa mulher gostava tanto do meu pai, que ela falou assim “esse filho era para ser meu, não dela”. E acabou botando esse famoso olho gordo, essa inveja aí, na criança. E ela falou “eu vou te curar” e fez as orações, todas carregadas daqueles rituais que acabam derrubando você no chão. Bastante interessante, porque um homem de um metro e setenta e seis, de oitenta e poucos quilos, não é fácil de uma menina de um metro e meio, talvez sessenta quilos, derrubar. E o derrubar não é o derrubar de MMA, é um derrubar realmente da fé. Aquelas coisas que você vê, é um negócio interessante, foi uma passagem bastante bacana. E eu me lembro que foi muito marcante, porque depois de ter feito toda a oração, ela me recomendou algumas coisas. Ela pediu para eu tomar em xis dias banho de mamão, pegar o mamão e passar o mamão no corpo. Daí eu vim descobrir, por que o mamão? Porque o mamão é cicatrizante, então tudo tem uma lógica também. E ela pedia muito para eu orar no momento que eu estava tomando o banho de mamão, antes de tomar o banho normal. Ela pediu para eu fazer algumas orações muito concentrado, com muita lucidez do que eu estava falando para ter aquela conexão mesmo, para você escutar o que você estava falando. E foi muito interessante, porque na hora que ela terminou ali comigo, eu agradeci e eu fui levantar. Ela falou assim “mas você não quer falar mais nada?”. Daí eu falei assim “não, eu vim aqui por causa da minha alergia mesmo. Eu estou satisfeito de pedir essa ajuda”. Aí eu achei que o negócio é sério, porque ela falou assim, “mas eu tenho um recado do seu trabalho para você. Eu acho que você precisa escutar”. E daí eu falei “ok, então pode falar”. E foi bastante interessante, porque naquele momento eu participei de um processo seletivo na EMBRAER, na outra empresa lá do Vale do Paraíba e eu tinha declinado. E ela falou assim “olha, você acabou de participar de um processo seletivo, de uma grande empresa e você fez certo de não ter vindo para cá e ter ficado na sua empresa, porque o seu futuro está bem determinado lá”. E falando da sua empresa, ela começou a dizer nomes de pessoas, “o fulano, com sobrenome, o ciclano com sobrenome” e falou assim “essa pessoa, ela admira o seu trabalho. Essa pessoa, você deve ter um pouco de atenção. Essa pessoa, é seu amigo”. E chegou ao ponto de falar assim “sabe tal pessoa?”. Eu falei “qual delas?”, “a que senta três mesas depois da sua, no corredor tal”. Eu falei “sei quem é”, “essa pessoa você tem que ajudar, essa pessoa você tem que ficar de olho”. Então, foi um negócio muito marcante. Talvez existam charlatões ou não, mas a minha experiência foi bastante intensa com ela.
P/1 - Eu estou querendo saber mais. Quando você disse que ela te derrubou, como que sentia isso no corpo? Como que derrubou? Pegou você e pôs no chão?
R - Foi bastante interessante, porque na hora que ela está fazendo a oração em línguas, ela fica parada na sua frente, pede para você fechar o olho, coloca a mão na sua cabeça e ela fica ali orando em línguas. Ela tem duas outras assistentes, outras duas menininhas do tamanho dela, tão magrinhas quanto que ficam ali suportando. E, de repente, ela no meio da oração fala “sai, eu te livro. Sai daqui” e dá uma força. E, literalmente, você não tem o controle do seu corpo mais. E aí você realmente é arrebatado para trás e as meninas te seguram. Esse é o cair, então isso foi bastante interessante.
P/1 - E você percebeu uma melhora depois?
R - Sim, não só eu. Toda a família, porque realmente foi bastante visual a melhora que veio nisso daí.
P/1 - E nessa relação com essa experiência, depois. Você vai sempre lá, continua praticando?
R - Não, eu sou safado, vamos dizer assim. Eu sou aquele cara que gosta do bônus. Talvez, fazer o caminho é bastante comprometedor, vamos dizer assim. Primeiro, a primeira desculpa que eu tenho é que está longe. Ela está em Jacareí, eu estou em Itu. Então, a distância é grande. Eu não vou nela, não tenho frequência. A minha mãe participa dos cultos com uma certa frequência. Eu sou um malandro, daí eu peço sempre para minha mãe ir lá, rezar por mim. Sempre quando eu tenho um momento que eu estou achando que não está legal, numa conversa com a minha mãe eu peço “fala para Lia rezar por mim. Fala para Lia que eu estou com um problema assim”. Então, eu sempre estou, vamos dizer assim, usando a consultoria dela, eu acredito muito no que ela fala, no que ela direciona, porque eu acredito que ela tem uma conexão realmente verdadeira. Respeito muito ela, mas eu não tenho nenhum engajamento com ela.
P/1 - Quando eu pergunto, algumas coisas, é mais no sentido de entender como aconteceu depois. É para você relatar...
R - Sim.
P/1 - ...isso que você acabou de dizer, como é que depois você vai desenvolvendo essa história, entendeu? Sem nenhuma interpretação.
R - Sim. Não, e eu sou uma pessoa que acredito muito em Deus. Eu acredito que existe essa conexão, mas eu também acredito que os rótulos são desnecessários. Participar de uma igreja, ter o compromisso de ir, eu acho que ajuda pelo você manter a rotina. Mas eu tento sempre manter uma conexão minha com Ele, minha com o que eu acredito e sempre estar rezando, orando, pedindo, também colocando à disposição nas minhas orações.
P/1 - Eu queria saber agora, vamos voltar para o trabalho.
R - Está bom.
P/1 - Você fez o curso técnico. E qual foi o seu primeiro trabalho?
R - O meu primeiro trabalho, logo que eu saí do curso técnico, foi de estagiário na empresa Ericsson, lá em São José dos Campos. Então, eu terminei o curso técnico, daí teve as entrevistas e eu fui um dos candidatos escolhidos e eu fui um dos escolhidos. Daí eu comecei lá. Se eu não me engano, eu trabalhei um ano e pouquinho e venceu o meu contrato de estágio. Naquela época, no departamento que eu trabalhei, uma das pessoas que trabalhavam lá era um engenheiro daquela área e a gente teve um bom relacionamento, a gente teve uma boa conexão. Mas, acabou meu estágio e eu fui embora. Ele continuou e um ano depois, ele foi promovido internamente e nessa promoção, nesse início de um projeto novo que ele estava fazendo lá, ele recordou de mim, lembrou do meu trabalho e falou “acho que se encaixa ali”. E ele pediu para o pessoal entrar em contato comigo e eu voltei a trabalhar, depois de um ano, lá na Ericsson, nesse novo projeto. E a partir dali, engrenou, vamos dizer assim. Eu comecei como efetivo daí, como técnico. Quando eu comecei a trabalhar, tive condições de fazer a minha faculdade, na época. No meio do caminho, essa empresa atual que eu trabalho, a Flex, foi lá e comprou a operação da Ericsson. E naquele momento de incerteza, eu tive a chance de ser convidado a vir trabalhar aqui em Sorocaba. Daí, eu tomei a decisão naquele momento de me mudar para cá. Desde então, fiquei. Faz dezessete anos que eu estou aqui na empresa e, vamos dizer assim, os dois grandes trabalhos da minha vida.
P/1 - Você veio para cá, você já estava formado na faculdade?
R - Não. Estava no quarto ano da faculdade. Aí tive que transferir para cá, e daí anda um pouco para trás e daí faz mais. Vamos dizer assim que teve um ou dois anos a mais de engenharia para cursar, devido à transferência.
P/1 - E nessa profissão, nesse trabalho todo, como que você se realiza? Como que você se descreveria o seu trabalho para você, como pessoa?
R - Olha, Márcia, é uma pergunta bastante legal, porque quando eu comecei a trabalhar, eu acho que eu sou da geração, eu não sei de qual geração que eu sou: se sou da Y, dos baby boomers, sei lá. Mas eu aprendi que naquela época, o pessoal da minha idade ia trabalhar de quatro a cinco anos em uma determinada empresa e já ia mudar, porque a gente estava crescendo muito rápido. A gente queria conquistar o mundo muito rápido, então a gente não ia ser os carreiristas, como meu pai ou minha mãe talvez possam ter sido. Começar na mesma empresa e trabalhar vinte, vinte e cinco anos até aposentar. Eu tinha isso muito claro na minha cabeça. Então, o meu plano era trabalhar quatro, cinco anos na Ericsson e depois buscar uma nova empresa, sempre visando melhorar e crescer. Daí, quando estava no quarto, para o quinto ano na Ericsson, foi que veio a compra da operação e eu fui convidado para vir para cá. Como eu era jovem, eu falei “eu vou. Eu não tenho nenhuma responsabilidade, a hora de arriscar é agora. Eu vou, porque está dentro do meu plano. Vou, quatro, cinco anos, vou para lá, para uma nova empresa, vou aprender. E daqui a pouco eu vou mudar, vou sair daquela empresa. Daqui cinco anos eu saio, mais tardar cinco anos eu estou talvez de volta para cá, ou talvez para outro lugar”. Bastante desprendido nesse ponto e com muita vontade de cumprir o meu plano. A grata surpresa quando eu cheguei aqui, nessa empresa atual que eu estou, na Flex, foi que ela é uma empresa muito grande, muito dinâmica. E aí foi onde as coisas começaram a acontecer numa velocidade muito rápida na minha vida. Então, eu vim aqui em uma função. Depois de dois, três anos eu já mudei de função, crescendo. Passou mais dois, três anos e eu mudei de função, mudando de área. Mais dois, três anos, mudei de função. E fui crescendo muito. Daí, hoje em dia, quando eu reparo, eu estou na mesma empresa, quando eu falo, estou há dezessete anos nessa empresa, jogando contra o meu plano de não ser um carreirista. Mas, ao mesmo tempo, não sendo um carreirista. Porque, nesses dezessete anos, eu já passei em cinco, seis áreas diferentes, com diferentes responsabilidades e com crescimento muito claro acontecendo. Então, nessa história que eu estou agora.
P/1 - O que você hoje faz? Eu sei, já te perguntei para fazer nossa ficha, mas fala para gente.
R - Hoje, é bastante interessante. O que eu faço hoje, realmente, eu estou colhendo alguma coisa que eu plantei há uns seis, sete anos atrás. Por volta de seis, sete anos atrás, eu fui convidado para implementar uma nova concepção da área de serviços aqui da empresa, da Flex. O que é essa área de serviços? Era naquele momento fazer reparo de produtos, fazer armazenagem de outros produtos. Então, tudo que não é relacionado à manufatura, à montagem, transformação de um produto, era responsabilidade da área de serviços. Reparar, consertar, devolver no campo, buscar no campo. E a gente tinha algumas iniciativas aqui, que estavam espalhadas. Então, naquele momento, eu fui convidado a juntá-las e a montar um processo, uma plataforma, uma área. Para grande surpresa, o projeto funcionou bastante, funcionou bem. Só que naquele momento, eu fui descobrindo outras habilidades que eu tinha, principalmente a habilidade de conversar, de interagir, de me relacionar. O que aconteceu? Eu tinha muita facilidade de conversar e me relacionar com os clientes e entender as dificuldades dos processos deles e buscar soluções. E foi legal que, naquele momento, eu estava responsável pela operação e eu conseguia fazer um pouco de desenvolvimento de novos negócios. A gente conseguiu nesse momento trazer dois grandes novos negócios para a Flex, que foi a construção do prédio de Distribution Center, que é esse grandão que a gente vê aqui da rodovia; e foi a operação de serviços de reparo de telefones celulares. Então, naquele momento, eu atuei bastante com o time. Lógico, que não é só uma pessoa que brilha, tem toda uma equipe por trás, mas eu participei muito dos times que ajudaram a desenvolver esses negócios. Como meu chefe falou, “teve bastante suor seu ali”. Daí, naquele momento, eu recebi depois de quatro anos liderando a área de serviços de Sorocaba, trazendo resultados acima do esperado, eles me convidaram para ir para área de novos negócios. Desenvolvimento de novos negócios da área de serviços, onde eu atuei por dois, três anos nessa área, desenvolvendo. Aí, era mais relacionamento mesmo, buscando novos parceiros, novos clientes e desenvolvendo novas maneiras. Daí, a Flex é uma empresa que está muito presente no mercado e a gente acredita que o nosso diferencial é poder oferecer uma gama de serviços que você possa solucionar, trazer a sua necessidade e a gente possa, em um único local, servir você. Desde o começo da cadeia até o final da cadeia, passando por todas as etapas do processo, que seja comprar e manufaturar material, armazenar o produto, fazer a venda do produto, dar assistência técnica, dar retorno, fazer a reciclagem e fazer a reinserção desse material reciclado na cadeia novamente. E oferecer tudo isso seguindo todas as linhas de certificações, de responsabilidade social, de sustentabilidade. Então, a gente acredita muito nisso e a gente trabalha para isso. Nesse momento que a gente desenhou todo esse projeto, eu fui convidado a voltar para a área operacional de serviços, porém com o escopo um pouquinho diferente. Há seis anos atrás, eu comecei um embriãozinho em Sorocaba. E há dois anos atrás, eu fui convidado para participar da nova área de serviços do Brasil, da Flextronics no Brasil, onde a gente tem diferentes iniciativas, desde importação via o Panamá e distribuição para a América Latina; importação via corredor de Manaus e distribuição no Brasil; a nossa fábrica de reciclagem, coletar o material, o equipamento no campo, fazer uma triagem, dar a destinação correta para esse material. Se as partes desse material têm condições, a gente desmonta, processa, recicla e reinsere o material reciclado no fornecedor, que volta a dar peça para gente. Temos novos desafios, a gente está lançando o nosso portal de e-commerce, onde a gente vai vender para as assistências técnicas as peças, que a gente vai vender para os nossos funcionários os produtos. Então, eu voltei com um escopo um pouco maior e nesses últimos anos, é esse escopo que a gente está cobrindo aqui, no trabalho.
P/1 - E cada iniciativa, é criação de soluções?
R - Correto.
P/1 - Você vai criando novas...
R - Buscando novas maneiras de atender as necessidades dos clientes, exatamente.
P/1 - Então, é uma criação cotidiana.
R - Bastante. Todo dia, eu costumo dizer assim, eu tenho acho que são nove diferentes iniciativas, atividades. Então, não dá para ter dia sem emoção, porque sempre uma dá um calorzinho aí, todo dia.
P/1 - E agora voltando para vida mais pessoal. Você é casado? É?
R - Sim. Correto.
P/1 - E tem filhos?
R - Sim, eu tenho três filhos.
P/1 - Tudo homem, tudo mulher?
R - Não, são duas meninas e um menino. A primeira é a Ana Júlia, de onze anos. O segundo é o Gustavo, de sete anos. E a terceira é a Helena, de três anos.
P/1 - E o nome da sua esposa?
R - É Renata.
P/1 - Renata. Como é que você conheceu a Renata? Como foi?
R - A Renata, a história é bastante longa também. Nós nos conhecemos lá na Ericsson, ela trabalhava lá também. Então, nós nos conhecemos lá e começamos a nos relacionar a partir da Ericsson. Daí, a partir do momento que a Ericsson foi comprada pela Flex, eu fui um dos convidados para vir para cá, porém ela não foi. Daí, ela teve outros caminhos de trabalho e um dos caminhos de trabalho que ela teve foi em uma firma chamada Alstom, em Taubaté, que também foi indo e a Alstom tinha algumas atividades aqui para o lado do interior. Daí, naquele momento, a Alstom tinha convidado ela para vir para cá, porque ela demonstrava interesse, uma vez que eu já estava para cá. Porém, naquela época, nós éramos namorados. E a gente tomou uma decisão dela aceitar e a gente começar a morar junto. E foi bastante interessante, porque a partir do momento que a gente tinha definido a casa, tinha encontrado tudo, na semana que ela ia mudar, ela foi desligada da Alstom. Daí, eu me lembro que foi bastante marcante uma conversa que ela teve comigo, que ela falou assim “cara, acho que a gente vai ter que abortar, porque eu fui desligada, não vou ter condições, como que a gente vai fazer”. E eu falei “não, vem para cá e você procura um emprego aqui”. E, mais ou menos, foi assim que aconteceram as coisas, talvez não nessa dinâmica muito fácil, muito rápida de explicar. Mas foi mais ou menos isso que aconteceu. Tanto que quando ela veio e começou a trabalhar em uma empresa de Jundiaí, ali de Vinhedo propriamente dito, do Parque Industrial. E daí ela começou a trabalhar lá e ficou trabalhando. A partir desse momento, nós devemos ter morado uns dois, três anos juntos. E daí foi a hora que veio a Ana Júlia, que apareceu a Ana Júlia e a gente resolveu sair correndo, casar, fazer tudo mais para poder estar tudo coberto. Tentar seguir o máximo do protocolo necessário para tudo acontecer.
P/1 - E quando nasceu a Ana Júlia, qual foi sua sensação?
R - É...
P/1 - De ser pai?
R - Foi um, como posso dizer, aquele momento foi um momento bastante interessante, porque foi em um curto período de tempo, muitas coisas acontecendo. A notícia da gravidez, a notícia do “e aí? Vamos casar, não vamos casar? E como que vai ser? Como que nós vamos fazer?”. Eu me lembro que quando nós começamos a morar juntos, nós tínhamos uma televisão, um home theater, dois puffs, uma mesa de plástico com quatro cadeiras. E aí, acho que a minha mãe ajudou a gente dando um fogão, uma geladeira e nós compramos uma cama. Então, quando nós começamos a morar juntos, o nosso patrimônio era tudo isso. E foi bacana, porque foi um momento, de se lançar mesmo para o desconhecido. Porque poxa, ser pai, como que é. Foi bastante emocionante, eu diria assim. E foi bastante legal, porque primeiro quando eu e ela descobrimos que ela estava grávida, a gente descobriu, ela já estava com treze semanas de gestação da Ana Júlia. A gente estava bem antenado nas coisas. Mas foi no momento certo, foi em um momento muito bom, trouxe a gente mais junto, reforçou mais ainda a parceria que a gente decidiu para nossa vida. Trazer esse gostinho de formar uma família foi muito legal.
P/1 - Que gostinho é esse de formar uma família?
R - Olha, perguntas muito difíceis você faz, Márcia. Mas eu acho que, eu costumo dizer que é nessa hora que você começa a entender tudo o que sua mãe te disse lá atrás. As preocupações e o orgulho mesmo, de você olhar aquilo que está acontecendo naquele momento. Você começar a entender que aquela pessoinha é realmente um fruto, que é pedaço seu, que é pedaço dela, que você tem uma responsabilidade muito grande agora, pelo menos pelos próximos quinze a dezoito anos aí, para a formação dela, é aquele gosto do gelo na barriga, ao mesmo tempo do “não tem tempo para ter medo. Vamos embora, vamos em frente”. Então é isso aí que é o gostinho.
P/1 - Muito bom. Então, a gente já está indo para o final, você quer perguntar alguma coisa? Não? Deixa eu ver a hora, para gente não se perder.
R - Então eu posso tomar uma água?
P/1 - Claro.
R - Você quer parar?
R - Vamos fazer um corte rapidinho.
P/1 - Vamos cortar.
R - Está bom, vamos ver se eu consigo responder essa.
P/1 - Está gravando? É, você falou que tem momentos de pico da dermatite, outros nem tanto. E chamou a atenção que você não levou de uma forma com peso, eu entendi isso. Você “é isso, pronto. Vamos lá”. Mas mesmo assim, para você conviver com a dermatite, você foi aprendendo alguma coisa? Teve aprendizado nisso?
R - Olha, eu acho que sempre tem aprendizado, sim. O que eu observo muito? É o ambiente, com muita poeira. Deixa eu tentar voltar um pouquinho...
P/1 - Fique à vontade.
R - ...e responder da seguinte forma. Na verdade, a sua percepção muda, porque você começa a olhar várias coisas ao mesmo tempo, para você tentar gerenciar aquilo da melhor forma. Então, por exemplo, o ambiente. Limpeza, ter uma casa talvez de uma condição melhor, para gente que tem dermatite atópica, faz toda diferença. Cuidados com a roupa, então um sabão que usa. Eu já percebi todas essas coisas, como elas realmente influenciam e como elas vão acontecendo. Desde situações que você acaba enfrentando. E, principalmente, situações no trabalho, situações que você tenha um conflito e você, de repente, tenha uma ansiedade, não sabe lidar com isso. Ou um impasse, uma negociação. Então, são coisas que a gente nunca aprende, mas são coisas que influenciam muito na vida da pessoa com dermatite atópica. Já percebi que tem um pouco atrelado também com o tipo de alimentação. Então, às vezes, como que eu posso dar um exemplo aqui agora? Vou dar um exemplo grosseiro, talvez, mas beber muito vinho, por exemplo eu percebo que a pele acaba reclamando, sentindo um pouco. Eu vou tentando buscar o equilíbrio das coisas. No final do resumo da ópera, é buscar o equilíbrio das coisas. Alguma discussão dentro de casa, como que está a educação, uma coisa que você não concorda, as discussões de relacionamento normais, que existem, porque nem todo mundo concorda com tudo. Situações que você tem que saber gerenciar. Se você souber como controlar essa ansiedade de uma certa forma que não a valorize demais, eu acho que ajuda bastante. Eu aprendi a tentar olhar todos os ângulos, de todas as coisas, para que a gente tente sempre manter o equilíbrio no máximo de tudo. Uma coisa muito forte, eu conheço meu chefe. Eu sei que meu chefe não gosta de certas coisas. Então, para que que eu vou tentar fazer as coisas diferentes, do jeitinho que ele gosta? Que eu sei que vai trazer um reflexo para mim, que eu vou ficar tenso. Então, eu acho que isso ajuda bastante.
P/1 - Tem mais uma, surgiu uma pergunta.
R - Ok, deixa só eu terminar. Você falou uma coisa que é desafiador. Você está discutindo o relacionamento, tem uma situação, aí você vai buscando o equilíbrio, não é? É um exercício emocional.
R - Sim.
P/1 - Você consegue falar mais disso? Dar um exemplo, como que você exercita?
R - Eu não sei se eu entendi direito a pergunta, mas o que eu aprendi, acho que a grande mensagem nesse ponto do emocional, é não guardar. É falar, é conversar. Mesmo que o ponto tenha que ser bem pontuado e pontuado de forma clara, eu desenvolvi e aprendi que comigo que se eu não gosto de alguma coisa, eu não posso ficar com aquilo engasgado. Eu acho que a gente tem que chegar e ser franco, ser honesto, da forma correta, lógico. A gente não pode nunca ser grosseiro, acho que a gente tem que buscar principalmente tanto nos momentos pessoais de trabalho, que o calor do momento possa trazer alguma coisa, sempre buscar de uma forma bem clara, bem direta e, talvez, bem generosa, controlada, você passar o recado e falar “olha, eu não concordo com isso, por causa disso, daquilo e esse é meu ponto de vista. Eu acho que você está errado”. E também aprendi que, no calor do momento, às vezes é melhor ficar quieto. Daí, depois você buscar e falar “cara, eu gostaria novamente, sabe aquele assunto? Para mim não ficou bem resolvido, eu queria esclarecer com você, porque eu entendi que você entendeu dessa forma. E faz sentido isso? Porque se for isso, eu acho que você está errado, porque eu penso assim e dessa forma”. Então, eu acho que o grande lidar com o emocional, é você não ficar engasgado. Aí eu acho que é de pessoa para pessoa buscar a maneira, acho que é muito difícil dar uma receita.
P/1 - Não, isso não.
R - Você não tem uma receita. Mas eu acho que a pessoa tem que desenvolver como poder não guardar isso para você.
P/1 - Muito bom. Quer que eu faça agora?
R - Não, era essa daí.
P/1 - Ah, era? Então, agora a gente terminou. Mas aí eu queria saber se você tem alguma coisa para falar, para contar, que você quer deixar registrado na sua história?
R - Da minha história? Olha, a minha história é bastante interessante. Eu acho que ela não é uma história muito comum, mas também não é muito diferente de muitas coisas que acontecem pelo mundo aí. A última coisa que eu queria deixar bastante registrado aqui é o processo que eu vivo, esse processo de aprendizagem. Acho que é ser o eterno insatisfeito, do ponto de vista de sempre querer aprender mais e sempre buscar mais. E eu sou muito grato pela família que eu construí até esse momento. Eu acabei focando bastante na hora da família só no primeiro filho, mas eu tenho um orgulho muito grande do meu segundo filho, do Gustavo. E ele teve uma particularidade na gravidez. Porque no final da primeira gravidez, quando termina, tem que tomar uma vacina, que é do fator Rh, para controlar e depois tem que ter os controles na próxima gravidez. Por algum erro, a obstetra deixou passar e a gente acabou sofrendo um momento de tensão durante a gravidez dele, que ele podia ter má formação e toda aquela preocupação por trás dela não ter tomado a vacina. Então, foi um momento muito tenso ali, porque a gente teve que fazer acompanhamento de dois em dois dias, ultrassom, porque ele podia nascer anêmico. Então, foi um momento que também fortaleceu bastante a família, porque a gente conseguiu ficar bastante junto nessa. E da Helena, que foi uma grata surpresa quando ela veio, a terceira filha, que chegou chegando e arrebentando a boca do balão. Eu acho que eu gostaria só de mencionar isso, porque o quinteto que nós formamos é bem bacana e está bem afinado ali. É bastante relevante e nesses últimos tempos, a gente está em uma união muito forte.
P/1 - Muito bom. Mais alguma coisa? Então, a gente está terminando e eu só queria saber o que você achou da entrevista, participar desse momento, como foi, o que você achou?
R - Olha, é a primeira vez que eu faço um relato desse. Então eu estava um pouco nervoso, principalmente quando eu vi a aparelhagem chegando, porque eu imaginei que era alguma coisa mais simples. Eu não imaginava a grandiosidade da entrevista aqui, do processo, da tratativa que vocês dão para os assuntos e tudo mais. Eu acho que eu estava calmo, mas eu acho que eu estava bastante nervoso. Eu acho que eu consegui não demonstrar bastante, mas não sei, eu acho. Eu gostaria de dar o parabéns para vocês, vocês conduziram isso de uma forma que eu estou me sentindo muito confortável. Eu achei que eu ia ficar cansado de ficar na mesma posição, todo o tempo que nós combinamos. E de forma alguma, eu estava um pouco nervoso, porque eu não sabia as perguntas. E como eu te falei, meu cérebro quadradinho falou assim “como que você vai responder uma coisa que você não sabe o que vão perguntar?”. Então, falei assim “poxa”, pensei que eu ia começar a coçar aqui. Não, mas consegui lidar bem com isso e acho que conversando, falando, a condição de vocês foi bastante bacana aqui. Muito obrigado.
P/1 - E nós que agradecemos, viu. Parabéns pela sua história, foi ótimo. Obrigada mesmo.
R - Obrigado, obrigado a vocês e para equipe.
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