P/1 – Por favor, seu nome completo Ney?
R – Anézio Luiz de Souza, tudo com “z”.
P/1 – Local e a data do seu nascimento.
R – Trombudo Central, 20 de março de 1971. Santa Catarina.
P/1 – Conta um pouquinho da tua infância, da tua trajetória escolar.
R – Sou filho de agricultor...Continuar leitura
P/1 – Por favor, seu nome completo Ney?
R – Anézio Luiz de Souza, tudo com “z”.
P/1 – Local e a data do seu nascimento.
R – Trombudo Central, 20 de março de 1971. Santa Catarina.
P/1 – Conta um pouquinho da tua infância, da tua trajetória escolar.
R – Sou filho de agricultores, estudei em escola rural nos primeiros dois anos, após nós viemos para uma pequena cidade também do interior de Santa Catarina, chamada Pouso Redondo onde que eu completei todo o ciclo escolar até o ensino médio e a partir de 1990 que eu me encontro em Criciúma e desde então estamos desenvolvendo as atividades aqui no Bairro da Juventude. Minha formação acadêmica é na área de Educação Física, com uma especialização em Gestão Empresarial e Mestrado em Administração.
P/1 – Por que Educação Física?
R – É uma atividade que eu me identificava desde jovem. Fui atleta de vôlei amador e pratiquei sempre muito esporte e a partir disso, fiz Educação Física. Embora tenha atuado em Educação Física apenas durante o período de estudos da faculdade, após esse período passei a atuar na área de Educação.
P/1 – Por isso que você foi fazer Administração?
R – Meu mestrado é em Administração. Na faculdade, depois, sempre trabalhando com Educação, mas mais a parte de gestão da Educação não na operação, na linha de frente. Desde a época que eu trabalho no Bairro da Juventude, que eu comecei a faculdade, eu trabalhava no Bairro da Juventude com Educação Física, assim que encerrou o meu curso superior eu continuei trabalhando no Bairro da Juventude, mas já na função de coordenação. É indiretamente educação, mas a parte mais de gestão.
P/1 – E como que a responsabilidade social apareceu na tua vida?
R – Em virtude de a nossa organização trabalhar com empresas e comunidades de forma geral e a responsabilidade social estar muito ligada à ação das empresas junto com a nossa organização, tanto que o meu mestrado eu fiz nessa área, eu estudei muito a responsabilidade social. E a partir disso passou a ser pra nós um canal de ligação com as empresas. Uma das formas da responsabilidade social das empresas é atuar na área social e a nossa organização faz esse meio de campo entre a ação social das empresas no Bairro da Juventude. Acabei tendo um pouco de contato com isso e até hoje, a gente faz essa ação voltada muito para responsabilidade social das empresas no Bairro da Juventude.
P/1 – O Bairro da Juventude fica onde?
R – Fica na cidade de Criciúma, a 200 quilômetros de Florianópolis. Região sul de Santa Catarina. Uma cidade que tem, aproximadamente, 210 mil habitantes.
P/1 – Você mora ai? Como é que foi a sua ligação com o Bairro da Juventude?
R – Eu saio de minha cidade de origem para vir para Criciúma para fazer faculdade. Dois dias após eu estar em Criciúma eu dei inicio como estagiário no Bairro da Juventude. Atuei por aproximadamente dois anos como estagiário, depois passei a ser educador de Educação Física e desde então há 23 anos, vai fazer 24 anos em julho que eu desenvolvo as minhas atividades profissionais no Bairro da Juventude é uma historia de vida dentro da organização.
P/1 – E quais são as ações, como que começou o seu trabalho?
R – A organização tinha uma estrutura muito precária e enxuta na década de 90. A partir de uma movimentação da sociedade para apoio a esta organização eu fui me engajando junto com essas ações e automaticamente passei a conhecer todos os trabalhos desenvolvidos e as oportunidades também. Acho que foi o namoro e se tornou um casamento que dura 24 anos. Inicialmente como trabalhava na área de Educação Física, mas a partir dali passei a me envolver com as crianças no sentido de levar nas competições. Quando peguei a coordenação e um pouco de trabalho de família, nós começamos a inovar com alguns exemplos na área da escola que envolvia Educação e depois conheci a parte de gestão propriamente dita; uma coisa que me mexeu muito me toca essa parte de trabalhar com pessoas descobrindo as possibilidades e inventando soluções para o que não existe. Nesses 24 anos eu diria que a história é essa. São muitos desafios, desafios bons a serem vencidos por causa da causa, é uma instituição muito séria com 64 anos, faz 65 em setembro. Acho que é isso que é a grande paixão: poder trabalhar num trabalho que facilite você estar com pessoas que você pode fazer diferença positiva na vida delas.
P/1 – Eu não sei se a ligação cortou, mas o quê que a organização faz, exatamente? Qual que é o objetivo e o que é o publico alvo?
R – Nós atendemos crianças e adolescentes. Crianças a partir de quatro meses até adolescentes no período diurno através de educação infantil, ensino fundamental, contra turno escolar, educação profissional. São mil e quinhentos jovens e crianças atendidos diariamente dentro das nossas atividades. Um dia no Bairro significa: nós temos ônibus que apanham as crianças nos seus bairros de origem, bairros periféricos da cidade e municípios vizinhos, então, nós realizamos o transporte de buscar as crianças nas suas localidades; chegando aqui, essas crianças recebem café da manhã; a partir das oito horas elas vão para as suas atividades escolares, ou de contra turno, oficinas culturais, esportivas ou laboratórios educativos. A partir das dez horas, temos mais uma refeição, meio-dia, almoço. À tarde atividades como uma escola de período integral, temos os lanches no período da tarde e a partir das quatro e meia, nós começamos novamente através do nosso transporte a levar essas crianças para suas localidades.
P/1 – Ela tem o mesmo currículo do MEC?
R – Sim, nós temos uma escola aqui dentro que é a escola do município, que nós fizemos a gestão. O espaço é nosso e os professores são cedidos, mas a coordenação e todo o trabalho são nossos. Essa mesma criança que no período da manhã vai pra primeira série do ensino regular, à tarde é atendida no contra turno atividades culturais, esportivas ou sócio-educacionais. Temos também médico pediatra, temos dentista, serviço psicossocial com assistente social e psicóloga.
P/1 – E quantas crianças vocês atendem?
R – Mil e quinhentas crianças distribuídas nesses programas que citei. Ensino infantil, ensino fundamental e educação profissional. Na educação profissional são 450 jovens em sete cursos com uma empregabilidade desses jovens numa ordem de 80%.
P/1 – E essas crianças são obrigadas há ficar o dia inteiro?
R – Não são obrigadas. Elas permanecem em virtude da condição familiar e das suas localidades que são distantes. Os que vêm pra cá a condição é essa: permanecer período integral. Como os pais trabalham, eles não ficam sem ter onde ficar ou quem cuidar e eles acabam permanecendo conosco pelo período integral. A educação profissional é um pouco diferente, a educação profissional é meio período, o outro período eles participam em escolas de ensino médio, em escolas públicas estaduais ou municipais. Outro pré-requisito para fazer parte da nossa organização é que seja proveniente de escola pública.
P/1 – Entendi. E tem alguma parceria com estágio para eles?
R – Sim. Nossos jovens são encaminhados via lei da aprendizagem.
P/1 – E como que o programa Nutrir apareceu pra vocês, como é que foi essa parceria?
R – Nós temos uma parceria. A nossa organização tem parceria com muitas empresas, ela só está aberta e faz o trabalho que faz em virtude do apoio da sociedade. E um dos setores da sociedade que nos apoia fortemente é o empresarial. Conhecemos a Nestlé através de um projeto chamado “Superação”, que são cinco redes de supermercados da nossa cidade que acabam por mobilizar um produto mensalmente que é comercializado nas suas lojas em toda a sua rede de supermercados a um valor promocional e único. Este produto gera algum benefício econômico: percentual da sua renda é repassado para a organização. Um desses supermercados veio até a nossa organização e conheceu mais profundamente o nosso trabalho, e uma das empresas que foi convidada a conhecer nossa instituição foi a Nestlé. O superior de vendas veio e começou a conhecer o nosso trabalho agendou uma visita da Fundação Nestlé. Na época, o Helvio [Kanamaru] conheceu um pouco do trabalho e a gente chegou à possibilidade de parceria dentro do que nós destacamos, o mais viável e foi com Nestlé Nutrir Crianças Saudáveis que estamos desenvolvemos desde 2012.
P/1 – E como é que se desenvolveu?
R – Tínhamos uma necessidade nessa área de uma alimentação saudável para as crianças, de um conhecimento específico dessa área, uma estrutura para que nós pudéssemos a partir de um conhecimento de um programa pré-estabelecido melhorar a condição alimentar direcionada às crianças. Quando apareceu o projeto com infraestrutura e uma metodologia já pré-estabelecida nós buscamos alguns parceiros locais e a partir disso executamos o projeto com um grupo pequeno de crianças. Mas nós não imaginávamos que isso fosse virar uma mania da instituição. Nós nos preocupamos com a alimentação de forma geral na instituição. No primeiro momento o projeto atendeu esse grupo, mas nós vimos que o bem que ele fez para esse grupo, deveríamos ampliar para as outras crianças e hoje nós temos o Nutrir ampliado, porque a gente acaba tendo ações dirigidas tanto para as famílias, quanto para todo público interno da organização. Desde a aquisição de um forno onde ele produz alimentos sem uso de nenhum tipo de gordura. Nós assamos carne, fritamos ovos, tudo sem acrescentar gordura. Nós passamos a ter conhecimento que uma boa nutrição não é só para quem está doente, ela pode ser preventiva.
P/1 – E qual que foi o resultado para vocês?
R – Acho que a tomada de consciência de que além do resultado para esse grupo focal que hoje são 60 crianças que estão nessa faixa de sobrepeso, obesidade, baixo peso, que os números estão altamente positivos no sentido de melhoria da condição destas, que se encontravam ou com sobrepeso, obesidade, ou baixo peso, isso mais de 30% já foram tratados estão recuperados ou estão em tratamento, mas os índices de melhoria são fantásticos, mas isso é tratar o problema de quem está já afetado. O maior resultado foi esse: a consciência da organização de ter um programa nutricional para todos, um programa nutricional que venha a formar uma pessoa consciente, que se alimentar de uma maneira adequada, de consumir certo os alimentos de maneira regular o que pode trazer para o seu futuro.
P/1 – Tem algum caso marcante nessa parceria?
R – Nós fizemos alguns eventos para família e em um evento que nós fizemos em agosto do ano passado, servimos salada de frutas para mil e poucas crianças e seus familiares um evento que contou com aproximadamente três mil pessoas, e ao invés de nós servirmos guloseimas como nós servíamos antigamente, servimos salada de frutas para as pessoas. Isso causou espanto porque não é uma prática comum é muito mais simples você dar um sorvete, doce, agora servir salada de frutas muda o comportamento. Acreditamos que isso irá mudar a vida deles no sentido de uma mudança no consumo, o que não acontecia anteriormente.
P/1 – E vocês conseguiram mudar o cardápio também dessas refeições?
R – Sim. Outra parte muito importante a partir da nutricionista que acompanha diariamente a elaboração de todos os cardápios. Este forno que eu citei anteriormente veio a partir disso, uma necessidade já que se utilizava mais ou menos 50 litros de óleo de soja por semana, hoje não se usa cinco. Adquirimos um forno que processa os alimentos, assa os alimentos de maneira a não utilizar a gordura é um forno bem completo, excelente. Inclusive, vegetais são refogados nesse forno, fantástico. São coisas que antes nós não tínhamos e passamos a ter conhecimento. Antes era o que tinha, agora, passamos a investir mais na confecção desse cardápio.
P/1 – Esse forno também foi em parceria com o programa, ou não?
R – Não, ele foi uma aquisição da nossa instituição, mas existiu realmente pelo programa o que nós tivemos o aporte da Nestlé recentemente, o programa Esporte e Lazer, nesse projeto as crianças passam a ter uma alimentação também em virtude do esporte. E como a Nestlé é nossa parceira no Projeto Esporte e Lazer estamos mudando também um pouco o cardápio, no sentido de quem faz atividade esportiva em virtude de que temos o aporte. O Projeto Esporte e Lazer também traz consigo atividades nutricionais e alimentares e a Nestlé veio junto conosco, para que possamos implantar e oferecer, no Projeto Esporte e Lazer, uma alimentação equilibrada e de qualidade para os meninos que fazem atividades esportivas. Participam alunos no Projeto Esporte e Lazer, via lei de incentivo ao esporte em que a Nestlé também é nossa parceira desde 2013, essa é uma nova parceria. O Nutrir foi o grande começo agora no segundo momento, a Nestlé é a grande apoiadora junto com uma empresa local aqui do nosso Projeto de Esporte e Lazer para 400 crianças, com seis modalidades esportivas e dando também, uma alimentação diferenciada para esses jovens e crianças.
P/1 – Isso em 2013 ou 2014, que vai começar?
R – Desculpa 2014, estamos iniciando agora. O aporte da Nestlé foi em dezembro e a gente está executando o projeto agora em 2014.
P/1 – E tem um prazo? Como que vai ser o planejamento?
R – Eles planejaram um ano e meio de projeto, deverá se encerrar no meio de 2015.
P/1 – E vai ser todo na estrutura que vocês têm?
R – Toda a estrutura. A nossa organização possui um refeitório com capacidade para três mil pessoas. Uma equipe estruturada para servir essas mil e quinhentas refeições por período que eu te falei: café da manhã, lanche, almoço e jantar. Tem uma estrutura enorme, câmara fria, condicionamento do alimento, do preparo…
P/1 – E pro Esporte e Lazer também na mesma estrutura?
R – Mesma estrutura com quadras poliesportivas, campos e utilizamos também um ginásio ao lado que é de uma instituição que nos cede o espaço do ginásio para algumas das atividades esportivas. No projeto de Esporte, são seis modalidades esportivas: vôlei, futebol de futebol de campo, futebol de salão, tênis de mesa, tênis de campo, voleibol e judô. A Nestlé é uma das parceiras, o nome do projeto é Esporte e Lazer.
P/1 – Para finalizarmos, Nei, qual que foi o grande diferencial da entrada do programa pra vocês assim?
R – Eu poderia dizer que a gente teve outra concepção de Educação, a partir do momento que nós conhecemos o Nutrir. A nossa Educação era muito focado em números, na criança aprender a ler e escrever. A partir do momento que tivemos o contato com a Nutrir, passamos a ter uma dimensão diferente da Educação, mais completa, no sentido de que a pessoa se alimentar adequadamente é uma forma de educar também. E o Nutrir veio trazer essa consciência não só para aquele grupo inicial, mas para toda a organização. A gente trata hoje a questão nutricional com muita relevância dentro da organização em virtude de termos o conhecimento da importância dela na vida das pessoas. Inclusive os nossos profissionais que trabalham conosco assim como as pessoas que prestam serviço dentro da organização passaram a ter um olhar diferenciado em virtude de se ter uma boa nutrição, um bom conhecimento sobre alimentação, a partir do Nutrir.
P/1 – Essa idéia do esporte em parceria com a nutrição foi idéia de vocês ou veio do programa?
R – Foi um casamento. Juntar a Nestlé em um projeto de esporte, onde tínhamos essa deficiência na parte da alimentação e até mesmo financeira para adquirir os produtos, obvio que com esse aporte, a gente conseguiu melhorar alguma coisa que estava acontecendo de maneira razoável, e com a parceria ficamos com uma estrutura melhor com nuances especificas de 400 jovens que fazem atividade esportiva, acreditamos que com a parceria só temos a crescer e trabalhar de maneira séria e transparente. Acredito que o Nutrir foi no primeiro momento o projeto de esporte que veio coroar uma parceria que está sendo muito interessante pra nós.
P/1 – Tem fábrica da Nestlé ai?
R – Que eu saiba não, mas é muito forte aqui. Como havia dito das cinco maiores redes de supermercado do estado, três são de Criciúma. E esses empresários por estarem envolvidos no dia a dia da nossa organização, viabilizaram essa possibilidade de parceria. E quando a Fundação Nestlé nos visitou puderam também verificar um pouco da nossa realidade, como é que é feito no dia a dia, verificando a organização, sempre focavam nisso, se estamos oferecendo qualidade para o nosso público.
P/1 – Nei, muito obrigada. Parabéns pela sua historia, pelo seu trabalho. Antes de finalizar, vou lhe enviar por e-mail, uma ficha de cadastro e duas cessões de direito, uma para o Museu e outra para a Nestlé, para a gente poder usar o seu depoimento, ok? A gente faz um relatório de tudo, dessa memória, e ai pra gente conseguir usar o seu depoimento, precisa de uma cessão de direito.
R – Pode mandar, sem problemas
P/1 – Você tem que assinar, “escanear” e nos mandar por e-mail.
R – Certo. Espero que tenha atendido as suas necessidades
P/1 – Atendeu bastante! Muito obrigada.
R – Um abraço.
P/1 – Tchau.Recolher